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LUIZ DI BERNARDO
Engenheiro Civil. Doutor em Engenharia Civil da Escola de Engenharia de São Carlos – USP. Professor Titular do
Departamento de Hidráulica e Saneamento. Escola de Engenharia de São Carlos – USP
ALEXANDRE BOTARI
Engenheiro Civil. Doutorando em Engenharia Civil - Área de Concentração: Hidráulica e Saneamento.
Escola de Engenharia de São Carlos – USP
PALAVRAS-CHAVE: Gradiente de velocidade médio, KEYWORDS: Jartest, flocculation time, velocity gradient,
modelação matemática, tempo de floculação, velocidade de sedi- mathematical modelling, flocculation chambers in series.
mentação e floculação mecanizada em série.
INTRODUÇÃO floculação indicaram aos engenheiros a tanto dos resultados de laboratório, como
necessidade da realização de ensaios de da aplicação de metodologia apropriada
A realização de ensaios de laborató- laboratório, tais como aqueles feitos em para a elaboração do projeto.
rio e/ou construção de instalações piloto equipamentos de jarteste, visando obter Desta forma, o objetivo do presente
é importante para a obtenção de dados experimentais para projetos das trabalho é determinar o gradiente de ve-
parâmetros de projeto, principalmente em Estações de Tratamento de Água - ETAs. locidade médio e o tempo de floculação
estações de tratamento de água que utili- Os resultados obtidos em jarteste são, para a unidade de mistura completa de
zam coagulantes químicos, uma vez que na maioria dos casos, utilizados sem se escoamento contínuo com câmaras em
as condições ótimas de coagulação, considerar o fator de escala, que é crítico série, a partir dos resultados de ensaios
floculação, sedimentação e filtração estão quando se trabalha em reatores de mistu- em jarteste. Será aplicada a modelação
diretamente associadas com a qualidade ra completa, principalmente nas câmaras matemática para estimar o desempenho
da água a ser tratada. de floculação mecanizadas em série. Por- em escala real da unidade de floculação
As particularidades inerentes ao pro- tanto, obter o gradiente de velocidade utilizando cloreto férrico como coagulante
cesso de coagulação e à operação de médio e o tempo de floculação depende no mecanismo de varredura.
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Modelação matemática da rem simultaneamente, conduzindo a uma Na equação (4), KB é coeficiente de
floculação única condição de distribuição de tama- ruptura (s), n0 é o número de partículas por
nho de floco. Nessas condições, a cinética unidade de volume no tempo t = 0 (1/m3),
A floculação nas ETAs corresponde dos encontros deve levar em conta estes e o coeficiente kes, é igual a 4 para flocos com
à etapa em que são fornecidas condições dois fenômenos. d > η, e igual a 2, para flocos com d < η.
para facilitar o contato e a agregação de As duas ações básicas consideradas Considerando o fenômeno de agre-
partículas previamente coaguladas, visan- responsáveis pela desagregação, são: gação, tem-se:
do a formação de flocos com tamanho e Erosão superficial de partículas pri-
dn 4α
massa específica que favoreçam sua remo- márias presentes nos flocos: é provocada pelo =− Φ f nG med = − K ag Φ f nG med
ção por sedimentação, flotação ou filtra- arraste da água atuando por intermédio dt n
ção rápida. das forças de cisalhamento na superfície (5)
O desempenho da unidade de dos flocos, quando se tem escoamento Na equação (5), Kag é um coeficien-
floculação depende da eficiência da uni- turbulento; te empírico que depende das característi-
dade de mistura rápida, a qual é influen- Fragmentação de flocos: devido às cas químicas do sistema e físicas da mistu-
ciada pelos seguintes fatores: tipo de diferenças de pressão dinâmica em lados ra; é a fração volumétrica dos flocos e n é
coagulante, pH de coagulação, tempera- opostos dos flocos, ocorre sua deforma- o número de partículas por unidade
tura da água, concentração e idade da ção e posterior fragmentação. devolume(1/m3).
solução de coagulante, tempo e gradien- Segundo Di Bernardo (2002), a Fazendo-se, K A = K ag Φ f tem-se:
te de velocidade da mistura rápida, tipo e agregação e ruptura (desagregação) du-
dn1
geometria do equipamento de floculação rante a floculação, resulta na formação de = − K A n1Gmed (6)
dt
e qualidade da água bruta. um tamanho de floco estável definido 1
Onde n é o número de partículas
O desempenho das unidades de por:
por unidade de volume no tempo t (1/m3).
mistura rápida e de floculação influi na (1) Combinando as equações (4) e (6),
qualidade da água clarificada e conse- resulta a equação geral da floculação:
qüentemente, na duração da carreira de Na equação (1), dfes representa o ta-
filtração e qualidade da água filtrada. O manho do floco estável (cm), Kfes o coefi- dn1
= K B n 0 (Gmed ) kes − K A n1Gmed
estabelecimento do tempo e do gradien- ciente relacionado com a resistência do dt (7)
te de velocidade de projeto da unidade floco estável (cm.skfes) e kfes (coeficiente Fazendo k es = 2, Argaman e
de floculação depende, fundamental- adimensional), o coeficiente que depen- Kaufman (1970) aplicaram a equação (7)
mente, da qualidade da água bruta e da de do modo com que ocorre a ruptura do para uma unidade de floculação consti-
tecnologia de tratamento utilizada na floco e do tamanho dos turbilhões que tuída de m câmaras (reatores) de mistura
causam essa ruptura, ao passo que Gmed é
d fes = K fes (ETA,
G med conforme
) kfes Pádua (1994).
o gradiente médio de velocidade (s-1).
completa (Gf constante), em série, resul-
Nas ETAs, a floculação pode ser re- tando a seguinte equação:
alizada em unidades hidráulicas ou me- Quando ocorre erosão de flocos maiores
Td m−1 Td
canizadas, considerando-se que cada uma que h (micro escala de turbulência de
n1
m 1 + K B G 2f ∑ (1 + K AG f m ) i
m i =0
apresenta uma combinação de Gf (gradi- Kolmogorof – [cm]), tem-se kfes = 2 e, =
para flocos menores que h, resulta kfes = 1. n10 Td m
ente de velocidade médio de floculação) (1 + K AG f )
e Tf (tempo de floculação) no equipamen- Quando a ação predominante é a de frag- m
mentação, tem-se kfes = 0,5 para as duas (8)
to de jarteste ou de floteste que reproduz
aproximadamente essa operação em esca- condições de tamanho de flocos em rela- em que:
la real. Os parâmetros Gf e Tf dependem ção à h. Resultados de alguns experimen- n10: Número de partículas primárias por
de vários fatores, destacando-se o meca- tos com kfes = 1 indicam que o tamanho unidade de volume presente no início da
nismo de coagulação, tipo de coagulante, máximo do floco é inversamente propor- floculação (m-3)
qualidade da água bruta, uso de auxilia- cional a Gmed (Di Bernardo, 1993). n1m: Número de partículas primárias por
res, etc. Em geral, o valor de Gf varia de Os resultados de estudos intensivos unidade de volume presente na saída da
10 a 60 s-1, enquanto Tf pode resultar sobre a floculação sugeriram as seguintes m-ésima (m-3)
entre 10 e 40 min. relações entre dfes e Gmed para a obtenção Gf: Gradiente de velocidade médio na
O uso de modelação matemática do tamanho do floco estável, com o coe- floculação (s-1)
relativa à cinética dos encontros visa esti- ficiente Kfes englobando as ações de ero- m: Número de Câmaras
mar o desempenho da floculação, a partir são e de fragmentação. Td: Tempo de floculação total (s)
dos fenômenos de agregação e ruptura, KA: Coeficiente de agregação
d fes α (Gmed ) − ( 0, 65 a 0, 76 ) para dfes <<< η KB: Coeficiente de ruptura (s)
como será visto nos itens subseqüentes.
(2) Argaman et al (1970) apud Libânio
Agregação e ruptura (1995), apresentaram, também, um mode-
d fes α (Gmed ) − ( 0,8 a 1, 0) para dfes > η lo que contemplava a variação dos gradientes
Após a mistura rápida, faz-se a agi- (3) de velocidade nas diferentes câmaras de
tação lenta, com o objetivo de proporcio- floculação em série, conforme equação (9):
A taxa de produção de partículas
nar encontros e agregar as partículas me- Td
primárias devido à ruptura dos flocos, i −1 1 + K AG f
nores em maiores, denominados flocos. dn1/dt, pode ser expressa por: n1 m
Com o aumento do tamanho dos flocos, =
dn1 n1i n10 Td
as forças de cisalhamento podem causar 1 + i −1 K B G 2f
= K B n 0 (Gmed ) kes (4) n1 m
sua ruptura. A agregação e a ruptura ocor- dt (9)
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i −1
Em que n1 é a relação entre o nú- cidade de sedimentação correspondente significativa seja produzida), tem-se o valor
n1i muito baixa, diferente do que realmente de N0/N para cada valor de Gf, obtendo-
mero de partículas primárias (ou turbidez) acontece nas estações de tratamento de se os valores de KB/KA.
efluente e afluente de câmaras de água, nas quais se tem valores de veloci- Utilizando a equação (13) e com os
floculação em seqüência. dade de sedimentação nos decantadores valores de KB/KA para cada Gf (eq. 14),
Os valores dos coeficientes KA e KB da ordem de 1 a 5 cm/min. calcula-se e KA e KB. Constrói-se então,
deveriam ser obtidos com a realização de Assumindo o número de partículas uma curva na qual são plotados os valores
ensaios em instalações piloto de escoamen- primárias igual à turbidez remanescente, de KB em ordenadas e ln(Gf) em abscissas.
to contínuo. Tal fato dificultava a utiliza- Bratby et al (1977) integraram a equação Segundo Bratby (1981), o valor de KB
ção do modelo devido ao custo envolvi- (10), resultando: para qualquer valor de Gf é dado por uma
−1
do e também ao tempo relativamente lon- N0 ⎡ K B ⎛ K ⎞ − K AGfTf ⎤ equação do seguinte tipo:
go necessário à execução dos ensaios. As- =⎢ G f + ⎜⎜1 − B G f ⎟⎟e ⎥
N1 ⎣ K A ⎝ KA ⎠ ⎦ K B = k1b ln G f + k 2b (15)
sumindo que KA e KB permaneçam cons- (12)
tantes na equação (8), para câmaras de em que: em que:
mistura completa em série, tais coeficien- No: Turbidez inicial do sobrenadante (uT) k1b , k 2b : coeficientes adimensionais
tes, de acordo com Bratby et al (1977), N1: Turbidez final do sobrenadante após inerentes à água em estudo.
não deveriam, teoricamente, serem alte- tempo de sedimentação longo (uT) Considerando os aspectos relaciona-
rados se o número de câmaras tendesse dos aos coeficientes de agregação e de rup-
para o infinito, ou seja, para o escoamen- Determinação dos tura, Brito (1998) estudou dois métodos
to do tipo pistão ou reator estático. coeficientes de agregação para determinar KA e KB, a partir de da-
Segundo Bratby et al (1977), a equa- e ruptura no equipamento dos de turbidez e do número de partícu-
ção para descrever a cinética da floculação de jarteste las primarias remanescentes, consideran-
em reator estático é semelhante à equação do o efeito da velocidade de sedimenta-
(7), dada por: Para a determinação dos coeficien- ção. Os métodos utilizados foram: Equa-
dn1 tes de agregação e ruptura no equipamen- ção de Agregação e Ruptura – MEAR
= K B n10 (Gmed ) 2 − K A nt Gmed
1
(10) to jarteste, são realizados ensaios de coa- (modificação do método de Bratby,
dt
em que: gulação, floculação e sedimentação (tem- 1981) e Primeira Derivada Parcial em
n01: Número de partículas primárias por po de repouso maior ou igual a 2 h) para Relação ao Gradiente de Velocidade na
unidade de volume no tempo t = 0 (1/m3) condições otimizadas de mistura rápida, Floculação – MPDPG.
nt1: Número de partículas primárias por junto com diferentes tempos de agitação O método MEAR considera a rela-
unidade de volume no tempo t (1/m3) e de gradiente de velocidade de floculação, ção máxima de N0/N1 para cada valor de
dn1
e construídas figuras de No/N1 em fun- Gf, equivalente ao menor tempo de
:Variação de partículas por unidade ção do tempo de floculação, para cada floculação em que aquela eficiência máxi-
dt
de volume em relação ao tempo (1/sm3) gradiente de velocidade estudado ma é obtida. Neste método são utilizadas
Integrando-se a equação (10) e (Bratby et al, 1977). as equações (12) a (15), considerando-se
rearranjando os termos, obtém-se: Rearranjando a equação (12), ob- variação nos valores dos coeficientes KA e
−1
n10 ⎡ K B ⎛ K ⎞ − K AGfTf ⎤ tém-se: KB para diferentes velocidades de sedi-
=⎢ G f + ⎜⎜1 − B G f ⎟⎟e ⎥ mentação e de Gf como será visto poste-
nTf1 ⎣KA ⎝ KA ⎠ ⎦ (11) ⎡ ⎤
riormente.
⎢ ⎛ KB ⎞⎥
1 ⎢ ⎜⎜1 − G f ⎟⎟ ⎥
Na equação (11), nTf representa o 1 ⎢ ⎝ KA ⎠⎥ Escalonamento do
KA = ln gradiente de velocidade
número de partículas primárias após o
G f Tf ⎢ 1 KB ⎥
médio na floculação
tempo de floculação Tf. Os coeficientes ⎢N − Gf ⎥
KA e KB, determinados pelo uso das equa- ⎢ 0 KA ⎥
⎣⎢ N1 ⎦⎥
ções (10) e (11), podem ser usados em O escalonamento consiste na apli-
um sistema de diversas câmaras de mistu- cação de gradiente de velocidade médio
ra completa em série, com valores de Gf (13) maior nas primeiras câmaras de floculação,
menores que 100 s-1. Admitindo-se que não haja mais com o intuito de aumentar o número de
Bratby et al. (1977) estipularam agregação nem desagregação de partícu- contatos entre as partículas desestabilizadas,
que o tempo de sedimentação adotado las primárias dos flocos, após um período diminuindo-se o gradiente nas câmaras
no ensaio deveria ser relativamente lon- de sedimentação relativamente longo nos subseqüentes para evitar o rompimento
go, para que o sobrenadante apresentasse jarros do equipamento de jarteste, a equa- acentuado dos flocos formados.
somente partículas primárias e, também, ção (10) pode ser igualada a zero, resul- Alguns autores relatam a realização
para que fosse possível utilizar os valores tando (Bratby et al, 1977): do escalonamento do gradiente de velo-
da turbidez remanescente para relacioná- KB 1 cidade médio em ETAs de uma forma
los ao número de partículas primárias no = (14) intuitiva, porém, sem demonstrar mate-
KA N0
sobrenadante. Gf maticamente como chegaram aos valores
Pádua (1994) contestou esta N1 de Gf nas câmaras intermediárias. Esse
metodologia ao questionar a validade dos A partir da porção horizontal da método intuitivo pode conduzir a um
dados encontrados, pois com um tempo curva de melhor ajuste de todos os dados bom desempenho, inclusive melhora da
de sedimentação longo, tem-se uma velo- experimentais (os ensaios devem ser con- eficiência, comparando-se com unidades
duzidos até que uma porção horizontal que funcionam com Gf constante, no
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entanto, não é possível garantir que os Tabela 1 - Parâmetros ótimos de coagulação e floculação
gradientes adotados forneçam a melhor
eficiência da floculação. C o a g u la çã o
A fim de se chegar a resultados que Gradiente de velocidade médio (s-1) a Vs = 2,5 e 5,0, cm/min 400
forneçam o gradiente ótimo para cada
câmara da unidade de floculação, méto- Tempo de mistura (s) 15
dos para realização do escalonamento do
gradiente de velocidade médio foram Floculação
desenvolvidos por diferentes pesquisado- Gradiente de velocidade médio (s ) a Vs = 5,0 cm/min
-1
20, 30, 40, 50 e 60
res, sendo que Pádua (1994) propôs um
método que tem sido usado com sucesso. Gradiente de velocidade médio (s ) Vs = 2,5 cm/min
-1
20, 30, 40, 50 e 60
A partir dos resultados dos ensaios Tempo de floculação (min) 1 5 e 3 0 m in
de coagulação, floculação e sedimentação
em equipamento de jarteste, sob diferen-
tes valores de gradientes e tempos de agi-
tação, é possível determinar o gradiente
de velocidade médio nas unidades de
floculação de escoamento contínuo
(Pádua, 1994).
METODOLOGIA
Os dados experimentais utilizados
para o desenvolvimento da metodologia
proposta no presente trabalho foram ob-
tidos por Brito (1998), que estudou água
com as seguintes características: pH de
7,7 ± 0,2, turbidez de 27 ± 1 uT, cor Figura 1- Melhores resultados dos ensaios de otimização dos
aparente entre 200 e 220 uC, cor verda- parâmetros de floculação. Vs = 2,5cm/min
deira na faixa de 15 a 25 uC, alcalini-
dade de 23 ± 1 mg/L de CaCO 3 ;
Yj condutividade de 46 ± 0,5 µS/cm e du-
reza de 13 ± 1 mg/L de CaCO3.
Na Tabela 1, encontra-se o resumo
dos resultados, obtidos por Brito (1998),
dos parâmetros ótimos de coagulação e
floculação, usando cloreto férrico como
coagulante no mecanismo de varredura,
com dosagem de 25 mg/L, para velocida-
des de sedimentação de 2,5 e 5,0 cm/min.
Foi determinado o gradiente de ve-
locidade médio em unidades de flocu- Figura 2 - Melhores resultados dos ensaios de otimização dos
lação em série, aplicando a metodologia parâmetros de floculação. Vs = 5,0 cm/min
do escalonamento do gradiente, desen-
volvida por Pádua, (1994) para 2, 3, 4 e deve-se obter a maior eficiência (valores SSE
5 câmaras. de N0/N1) para um menor tempo de R2 = 1− (16)
Ressalta-se que, neste trabalho, op- SST
floculação através da construção de gráfi-
( )
n
SSE = ∑ Y j − Y j
2
tou-se por escolher a maior eficiência no cos de eficiência (N0/N1) versus Tempo (17)
menor tempo de floculação que, como se de floculação (Tf), obtidos experimen- j =1
pode observar nos gráficos das Figuras 1
e 2, encontram-se na faixa de 15 a 30
talmente nos ensaios de jarteste.
A regressão exponencial, recomen-
n
SST = ∑ Y j −
(Y )
j
2
(18)
minutos. dada por Bratby (1977) como regra ge- i= j n
ral, não traduz com fidedignidade a reali-
RESULTADOS E dade dos dados experimentais, o que pode Onde = ordenada do valor ex-
DISCUSSÃO ser comprovado pelo valor de R2 das re-
gressões (obtidas no software excel) das perimental, Y j ordenada do valor obti-
Determinação dos curvas mostradas nas Figuras 3 e 4. do na regressão (linha de tendência) e n é
coeficientes K e K O R2 é um indicador do grau de o total de dados experimentais.
A B
correspondência, ou coeficiente de deter- Quanto mais próximo de 1 for o
Para a obtenção dos valores de KA e minação, entre os valores estimados pela valor de R2 mais confiável será a regressão
KB para cada gradiente de velocidade regressão (linha de tendência) e os dados ou a linha de tendência de ajuste dos da-
médio e velocidade de sedimentação, reais, sendo definido por: dos experimentais.
Escalonamento do
gradiente de velocidade
médio para floculadores
com câmaras em série
Foram consideradas várias situações
Figura 4 - Regressão polinomial -1para a obtenção dos coeficientes de arranjo das unidades de floculação,
KA e KB. (Gf = 30 s e Vs = 5,0 cm/min) utilizando câmaras em série de 2 a 5 uni-
dades com gradiente de velocidade mé-
No presente trabalho, considera-se, Na obtenção dos coeficientes foram dio escalonado, conforme Tabelas 3 e 4.
portanto, que haja uma condição especí- considerados valores médios de KA e KB Tais valores de Gf foram obtidos aplican-
fica de agregação e ruptura para cada gra- para cada gradiente de velocidade médio do-se a metodologia proposta por Pádua,
diente de velocidade médio e para cada e velocidade de sedimentação (ao invés V.L (1994), para tempos de floculação
velocidade de sedimentação, o que, de de utilizar valores únicos, baseados em de 15 e 30 minutos.
fato, indica melhor aderência à curva de médias e em regressões exponenciais).
tendência dos dados experimentais Foram usados os maiores valores de efici- Tempo de floculação em
(Figura 4). ência (No/N1) presentes nos dados expe- unidades de escoamento
Como pode ser visto na Figura 4, a rimentais, conforme seta da Figura 4. contínuo
seta indica uma região de grande intensi- Optou-se por não utilizar a linearização
dade de dados experimentais que são de KB, pois pode haver muita discrepân- Um dos maiores problemas que os
desconsiderados na regressão exponencial cia entre os valores médios dos coeficien- engenheiros enfrentam nos projetos de
da Figura 3 (segundo o método de tes e os seus valores linearizados (Equação dimensionamento de estações de trata-
Bratby J.R., 1981). 15), conforme pode ser visto na ordem mento de água é a determinação do tem-
Embora não mostrados, em pratica- de grandeza de R2 da Figura 5. po de floculação em unidades de mistura
mente todos os gráficos construídos conten- No método MEAR, a equação (14) completa de escoamento contínuo com
do gradiente de velocidade médio versus tem- é resultante da equação (10) igualada a câmaras em série, pelo fato dos resultados
po de floculação utilizados neste trabalho, zero, ou seja, supõe-se que não haja mais obtidos nos ensaios de jarteste, não pode-
ocorreu a mesma região de dados indicados variação do número de partículas primá- rem ser transpostos diretamente para es-
pela seta (Figura 4), o que justifica a utiliza- rias em relação ao tempo de floculação tas unidades sem se considerar a influên-
ção da regressão polinomial para a obtenção (Tf). Matematicamente, tal fato equivale cia da mudança de escala.
de uma região de maior eficiência. dizer que a equação (14) fornece a curva No ensaio em equipamento de
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jarteste, tem-se a mesma modelação apli-
cada ao escoamento tipo pistão ideal, de
forma que os resultados obtidos neste
ensaio podem ser utilizados diretamente
para o projeto de unidades de floculação
do tipo chicanas. Entretanto, em unida-
des de mistura completa em série, de es-
coamento continuo, os valores obtidos
para o jarteste podem ser utilizados com
razoável aplicabilidade, considerando-se
a modelação matemática exposta neste
trabalho. Deve-se ressaltar o fato de que
este assunto ainda merece mais pesquisa e
desenvolvimento, sobretudo na questão
de se identificar um fator de escala obser-
vando-se diversos parâmetros como geo-
metria, características do escoamento etc.
Figura 5 - Gráfico de KB versus logaritmo natural de Gf para a regressão Para calcular o tempo de floculação
linear dos valores de KB, conforme preconizado por em unidades de mistura completa em sé-
Bratby J.R (1981) – Vs = 5,0 cm/min rie com escoamento continuo, foram ob-
tidos os valores de N0/N1 para os tempos
de floculação no jarteste de 15 e 30 min,
mostrados nas Tabelas 5 a 8.
Para quantificar a variação dos re-
sultados transpostos de ensaio em equi-
pamento de jarteste para reatores de mis-
tura completa em série de escoamento
continuo, foram consideradas várias situ-
ações em um arranjo de unidades de
floculação utilizando com 1 a 5 câmaras
em série, contemplando, tanto gradiente
de velocidade médio constante (equação 8)
como escalonado (equação 9), cujos re-
sultados são apresentados nas Tabelas 5 a
8. Foram consideradas duas velocidades
de sedimentação, fixadas a partir dos da-
dos experimentais.
Tabela 2 - Valores de K e K obtidos pelo método MEAR modificado para velocidades de 2,5 e 5,0
A B
cm/min e tempos de floculação em jarteste de 15 e 30 minutos
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Tabela 3 – Valores ótimos dos gradiente de velocidade médios Tabela 4 – Valores ótimos dos gradiente de velocidade médios
escalonados para 2,5 e 5,0 cm/min. (T = 15 min) escalonados para 2,5 e 5,0 cm/min. (T = 30 min)
f f
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Tabela 7 - Tempo de floculação para diferentes números de câmaras em série, com
gradiente de velocidade médio escalonado, velocidade de sedimentação
de 2,5 e 5,0 cm/min (T =15 min)
f
Pesquisadores como Bratby, J. R sempre forneça ganho na eficiência Como observado, é desaconselhável
(1981) afirmam que ao se realizar a (Di Bernardo et al., 2002), conforme se o uso de uma única câmara de floculação
floculação em câmaras de mistura com- atesta comparando-se as Tabelas 5 e 7 para no projeto de sistemas de floculação de
pleta em série, pode resultar maior efici- duas câmaras em serie (Vs = 5,0 cm/min e ETAs, devido ao elevado tempo de
ência global, caso o gradiente de veloci- Tf = 15 min) e nas Tabelas 6 e 8, também floculação decorrente.
dade médio de floculação decresça da para o mesmo número de câmaras (Vs = Na determinação dos valores de KA
primeira para a última câmara. Esta situ- 2,5 cm/min e Tf = 30 min). Porém, de e KB neste trabalho, foi necessário estabe-
ação foi observada nos resultados obtidos uma forma geral, o escalonamento tem condu- lecer uma condição entre a diferença de
neste trabalho. zido a significativas melhoras na eficiência glo- No/Nexperimental e No/Ncalculada que não ul-
A melhora na qualidade da água, bal dos sistemas de floculação das ETAs. trapassasse 5% da eficiência obtida expe-
quando a floculação é realizada com gra- Os resultados obtidos para as velo- rimentalmente (jarteste). É importante
diente de velocidade médio decrescente cidades de sedimentação analisadas são observar que variações nesta condição al-
ao longo do tempo de floculação, deve-se muito diferentes, por isso, para a realiza- teram consideravelmente os valores dos
ao fato de que, no início, necessita-se de ção de ensaios em reatores estáticos, deve- coeficientes de agregação e ruptura, mu-
agitação mais intensa para aumentar as se considerar os valores de velocidade de dando os tempos de floculação.
chances de contato entre as partículas sedimentação compatíveis com os utiliza-
desestabilizadas, para formar flocos, de- dos nas estações de tratamento de água. CONCLUSÕES E
vendo-se reduzir a agitação posteriormen- Comprovou-se que, além da velocidade RECOMENDAÇÕES
te para diminuir a quebra dos flocos for- de sedimentação, recomenda-se observar,
mados; nestas condições, o fenômeno de também, o tempo de floculação e sua res- As principais conclusões do traba-
ruptura do floco pode ser reduzido. pectiva eficiência, especialmente na etapa lho são as seguintes:
Entretanto, pode ocorrer, como já de estudos de concepção de projetos de a) O tempo de floculação foi, de
mencionado, que o escalonamento nem floculadores. forma geral, maior para reatores de mis-