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A R T I G O TÉ C N I C O

USO DE MODELAÇÃO MATEMÁTICA PARA PROJETO DE CÂMARAS


MECANIZADAS DE FLOCULAÇÃO EM SÉRIE EM ESTAÇÕES DE
TRATAMENTO DE ÁGUA

THE USE OF MATHEMATICAL MODELING TO THE DESIGN OF CONTINOUS


FLOW COMPLETELY MIXED CHAMBERS IN SERIES FOR FLOCCULATION IN
WATER TREATMENT PLANTS

LUIZ DI BERNARDO
Engenheiro Civil. Doutor em Engenharia Civil da Escola de Engenharia de São Carlos – USP. Professor Titular do
Departamento de Hidráulica e Saneamento. Escola de Engenharia de São Carlos – USP

ALEXANDRE BOTARI
Engenheiro Civil. Doutorando em Engenharia Civil - Área de Concentração: Hidráulica e Saneamento.
Escola de Engenharia de São Carlos – USP

LYDA PATRICIA SABOGAL-PAZ


Engenheira Sanitária. Doutoranda em Engenharia Civil - Área de Concentração: Hidráulica e Saneamento.
Escola de Engenharia de São Carlos – USP

Recebido: 14/06/04 Aceito: 17/11/04


RESUMO ABSTRACT
A metodologia encontrada na literatura para a otimização do The existing methodology in the literature to optimize the velocity
gradiente de velocidade médio em reatores de mistura completa, gradients in continuous flow completely mixed reactors using batch
com câmaras em série de escoamento contínuo, a partir de ensai- test data (static reactors) is based on mathematical models that
os em reator estático tipo jarteste, baseia-se em modelos matemá- describe the flocculation kinetics. Since this methodology has been
ticos que descrevem a cinética dos encontros entre partículas shown to be inconsistent, as observed by several researchers, this work
durante a floculação. Considerando-se que a aplicabilidade des- was carried out in order to propose a rational methodology to optimize
ta metodologia tem-se revelado inconsistente, como observado the static reactors experimental data to obtain the design parameters
por diversos autores, este trabalho propõe uma metodologia raci- of mechanized flocculation systems for water treatment plants.
onal para utilizar e otimizar os dados experimentais obtidos em
reatores estáticos e, utilizando modelos matemáticos, obter da-
dos para o projeto de floculadores mecanizados em série em
estações de tratamento de água.

PALAVRAS-CHAVE: Gradiente de velocidade médio, KEYWORDS: Jartest, flocculation time, velocity gradient,
modelação matemática, tempo de floculação, velocidade de sedi- mathematical modelling, flocculation chambers in series.
mentação e floculação mecanizada em série.
INTRODUÇÃO floculação indicaram aos engenheiros a tanto dos resultados de laboratório, como
necessidade da realização de ensaios de da aplicação de metodologia apropriada
A realização de ensaios de laborató- laboratório, tais como aqueles feitos em para a elaboração do projeto.
rio e/ou construção de instalações piloto equipamentos de jarteste, visando obter Desta forma, o objetivo do presente
é importante para a obtenção de dados experimentais para projetos das trabalho é determinar o gradiente de ve-
parâmetros de projeto, principalmente em Estações de Tratamento de Água - ETAs. locidade médio e o tempo de floculação
estações de tratamento de água que utili- Os resultados obtidos em jarteste são, para a unidade de mistura completa de
zam coagulantes químicos, uma vez que na maioria dos casos, utilizados sem se escoamento contínuo com câmaras em
as condições ótimas de coagulação, considerar o fator de escala, que é crítico série, a partir dos resultados de ensaios
floculação, sedimentação e filtração estão quando se trabalha em reatores de mistu- em jarteste. Será aplicada a modelação
diretamente associadas com a qualidade ra completa, principalmente nas câmaras matemática para estimar o desempenho
da água a ser tratada. de floculação mecanizadas em série. Por- em escala real da unidade de floculação
As particularidades inerentes ao pro- tanto, obter o gradiente de velocidade utilizando cloreto férrico como coagulante
cesso de coagulação e à operação de médio e o tempo de floculação depende no mecanismo de varredura.

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Modelação matemática aplicada ao projeto de câmaras mecanizadas de floculação

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Modelação matemática da rem simultaneamente, conduzindo a uma Na equação (4), KB é coeficiente de
floculação única condição de distribuição de tama- ruptura (s), n0 é o número de partículas por
nho de floco. Nessas condições, a cinética unidade de volume no tempo t = 0 (1/m3),
A floculação nas ETAs corresponde dos encontros deve levar em conta estes e o coeficiente kes, é igual a 4 para flocos com
à etapa em que são fornecidas condições dois fenômenos. d > η, e igual a 2, para flocos com d < η.
para facilitar o contato e a agregação de As duas ações básicas consideradas Considerando o fenômeno de agre-
partículas previamente coaguladas, visan- responsáveis pela desagregação, são: gação, tem-se:
do a formação de flocos com tamanho e Erosão superficial de partículas pri-
dn 4α
massa específica que favoreçam sua remo- márias presentes nos flocos: é provocada pelo =− Φ f nG med = − K ag Φ f nG med
ção por sedimentação, flotação ou filtra- arraste da água atuando por intermédio dt n
ção rápida. das forças de cisalhamento na superfície (5)
O desempenho da unidade de dos flocos, quando se tem escoamento Na equação (5), Kag é um coeficien-
floculação depende da eficiência da uni- turbulento; te empírico que depende das característi-
dade de mistura rápida, a qual é influen- Fragmentação de flocos: devido às cas químicas do sistema e físicas da mistu-
ciada pelos seguintes fatores: tipo de diferenças de pressão dinâmica em lados ra; é a fração volumétrica dos flocos e n é
coagulante, pH de coagulação, tempera- opostos dos flocos, ocorre sua deforma- o número de partículas por unidade
tura da água, concentração e idade da ção e posterior fragmentação. devolume(1/m3).
solução de coagulante, tempo e gradien- Segundo Di Bernardo (2002), a Fazendo-se, K A = K ag Φ f tem-se:
te de velocidade da mistura rápida, tipo e agregação e ruptura (desagregação) du-
dn1
geometria do equipamento de floculação rante a floculação, resulta na formação de = − K A n1Gmed (6)
dt
e qualidade da água bruta. um tamanho de floco estável definido 1
Onde n é o número de partículas
O desempenho das unidades de por:
por unidade de volume no tempo t (1/m3).
mistura rápida e de floculação influi na (1) Combinando as equações (4) e (6),
qualidade da água clarificada e conse- resulta a equação geral da floculação:
qüentemente, na duração da carreira de Na equação (1), dfes representa o ta-
filtração e qualidade da água filtrada. O manho do floco estável (cm), Kfes o coefi- dn1
= K B n 0 (Gmed ) kes − K A n1Gmed
estabelecimento do tempo e do gradien- ciente relacionado com a resistência do dt (7)
te de velocidade de projeto da unidade floco estável (cm.skfes) e kfes (coeficiente Fazendo k es = 2, Argaman e
de floculação depende, fundamental- adimensional), o coeficiente que depen- Kaufman (1970) aplicaram a equação (7)
mente, da qualidade da água bruta e da de do modo com que ocorre a ruptura do para uma unidade de floculação consti-
tecnologia de tratamento utilizada na floco e do tamanho dos turbilhões que tuída de m câmaras (reatores) de mistura
causam essa ruptura, ao passo que Gmed é
d fes = K fes (ETA,
G med conforme
) kfes Pádua (1994).
o gradiente médio de velocidade (s-1).
completa (Gf constante), em série, resul-
Nas ETAs, a floculação pode ser re- tando a seguinte equação:
alizada em unidades hidráulicas ou me- Quando ocorre erosão de flocos maiores
Td m−1 Td
canizadas, considerando-se que cada uma que h (micro escala de turbulência de
n1
m 1 + K B G 2f ∑ (1 + K AG f m ) i
m i =0
apresenta uma combinação de Gf (gradi- Kolmogorof – [cm]), tem-se kfes = 2 e, =
para flocos menores que h, resulta kfes = 1. n10 Td m
ente de velocidade médio de floculação) (1 + K AG f )
e Tf (tempo de floculação) no equipamen- Quando a ação predominante é a de frag- m
mentação, tem-se kfes = 0,5 para as duas (8)
to de jarteste ou de floteste que reproduz
aproximadamente essa operação em esca- condições de tamanho de flocos em rela- em que:
la real. Os parâmetros Gf e Tf dependem ção à h. Resultados de alguns experimen- n10: Número de partículas primárias por
de vários fatores, destacando-se o meca- tos com kfes = 1 indicam que o tamanho unidade de volume presente no início da
nismo de coagulação, tipo de coagulante, máximo do floco é inversamente propor- floculação (m-3)
qualidade da água bruta, uso de auxilia- cional a Gmed (Di Bernardo, 1993). n1m: Número de partículas primárias por
res, etc. Em geral, o valor de Gf varia de Os resultados de estudos intensivos unidade de volume presente na saída da
10 a 60 s-1, enquanto Tf pode resultar sobre a floculação sugeriram as seguintes m-ésima (m-3)
entre 10 e 40 min. relações entre dfes e Gmed para a obtenção Gf: Gradiente de velocidade médio na
O uso de modelação matemática do tamanho do floco estável, com o coe- floculação (s-1)
relativa à cinética dos encontros visa esti- ficiente Kfes englobando as ações de ero- m: Número de Câmaras
mar o desempenho da floculação, a partir são e de fragmentação. Td: Tempo de floculação total (s)
dos fenômenos de agregação e ruptura, KA: Coeficiente de agregação
d fes α (Gmed ) − ( 0, 65 a 0, 76 ) para dfes <<< η KB: Coeficiente de ruptura (s)
como será visto nos itens subseqüentes.
(2) Argaman et al (1970) apud Libânio
Agregação e ruptura (1995), apresentaram, também, um mode-
d fes α (Gmed ) − ( 0,8 a 1, 0) para dfes > η lo que contemplava a variação dos gradientes
Após a mistura rápida, faz-se a agi- (3) de velocidade nas diferentes câmaras de
tação lenta, com o objetivo de proporcio- floculação em série, conforme equação (9):
A taxa de produção de partículas
nar encontros e agregar as partículas me- Td
primárias devido à ruptura dos flocos, i −1 1 + K AG f
nores em maiores, denominados flocos. dn1/dt, pode ser expressa por: n1 m
Com o aumento do tamanho dos flocos, =
dn1 n1i n10 Td
as forças de cisalhamento podem causar 1 + i −1 K B G 2f
= K B n 0 (Gmed ) kes (4) n1 m
sua ruptura. A agregação e a ruptura ocor- dt (9)

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i −1
Em que n1 é a relação entre o nú- cidade de sedimentação correspondente significativa seja produzida), tem-se o valor
n1i muito baixa, diferente do que realmente de N0/N para cada valor de Gf, obtendo-
mero de partículas primárias (ou turbidez) acontece nas estações de tratamento de se os valores de KB/KA.
efluente e afluente de câmaras de água, nas quais se tem valores de veloci- Utilizando a equação (13) e com os
floculação em seqüência. dade de sedimentação nos decantadores valores de KB/KA para cada Gf (eq. 14),
Os valores dos coeficientes KA e KB da ordem de 1 a 5 cm/min. calcula-se e KA e KB. Constrói-se então,
deveriam ser obtidos com a realização de Assumindo o número de partículas uma curva na qual são plotados os valores
ensaios em instalações piloto de escoamen- primárias igual à turbidez remanescente, de KB em ordenadas e ln(Gf) em abscissas.
to contínuo. Tal fato dificultava a utiliza- Bratby et al (1977) integraram a equação Segundo Bratby (1981), o valor de KB
ção do modelo devido ao custo envolvi- (10), resultando: para qualquer valor de Gf é dado por uma
−1
do e também ao tempo relativamente lon- N0 ⎡ K B ⎛ K ⎞ − K AGfTf ⎤ equação do seguinte tipo:
go necessário à execução dos ensaios. As- =⎢ G f + ⎜⎜1 − B G f ⎟⎟e ⎥
N1 ⎣ K A ⎝ KA ⎠ ⎦ K B = k1b ln G f + k 2b (15)
sumindo que KA e KB permaneçam cons- (12)
tantes na equação (8), para câmaras de em que: em que:
mistura completa em série, tais coeficien- No: Turbidez inicial do sobrenadante (uT) k1b , k 2b : coeficientes adimensionais
tes, de acordo com Bratby et al (1977), N1: Turbidez final do sobrenadante após inerentes à água em estudo.
não deveriam, teoricamente, serem alte- tempo de sedimentação longo (uT) Considerando os aspectos relaciona-
rados se o número de câmaras tendesse dos aos coeficientes de agregação e de rup-
para o infinito, ou seja, para o escoamen- Determinação dos tura, Brito (1998) estudou dois métodos
to do tipo pistão ou reator estático. coeficientes de agregação para determinar KA e KB, a partir de da-
Segundo Bratby et al (1977), a equa- e ruptura no equipamento dos de turbidez e do número de partícu-
ção para descrever a cinética da floculação de jarteste las primarias remanescentes, consideran-
em reator estático é semelhante à equação do o efeito da velocidade de sedimenta-
(7), dada por: Para a determinação dos coeficien- ção. Os métodos utilizados foram: Equa-
dn1 tes de agregação e ruptura no equipamen- ção de Agregação e Ruptura – MEAR
= K B n10 (Gmed ) 2 − K A nt Gmed
1
(10) to jarteste, são realizados ensaios de coa- (modificação do método de Bratby,
dt
em que: gulação, floculação e sedimentação (tem- 1981) e Primeira Derivada Parcial em
n01: Número de partículas primárias por po de repouso maior ou igual a 2 h) para Relação ao Gradiente de Velocidade na
unidade de volume no tempo t = 0 (1/m3) condições otimizadas de mistura rápida, Floculação – MPDPG.
nt1: Número de partículas primárias por junto com diferentes tempos de agitação O método MEAR considera a rela-
unidade de volume no tempo t (1/m3) e de gradiente de velocidade de floculação, ção máxima de N0/N1 para cada valor de
dn1
e construídas figuras de No/N1 em fun- Gf, equivalente ao menor tempo de
:Variação de partículas por unidade ção do tempo de floculação, para cada floculação em que aquela eficiência máxi-
dt
de volume em relação ao tempo (1/sm3) gradiente de velocidade estudado ma é obtida. Neste método são utilizadas
Integrando-se a equação (10) e (Bratby et al, 1977). as equações (12) a (15), considerando-se
rearranjando os termos, obtém-se: Rearranjando a equação (12), ob- variação nos valores dos coeficientes KA e
−1
n10 ⎡ K B ⎛ K ⎞ − K AGfTf ⎤ tém-se: KB para diferentes velocidades de sedi-
=⎢ G f + ⎜⎜1 − B G f ⎟⎟e ⎥ mentação e de Gf como será visto poste-
nTf1 ⎣KA ⎝ KA ⎠ ⎦ (11) ⎡ ⎤
riormente.
⎢ ⎛ KB ⎞⎥
1 ⎢ ⎜⎜1 − G f ⎟⎟ ⎥
Na equação (11), nTf representa o 1 ⎢ ⎝ KA ⎠⎥ Escalonamento do
KA = ln gradiente de velocidade
número de partículas primárias após o
G f Tf ⎢ 1 KB ⎥
médio na floculação
tempo de floculação Tf. Os coeficientes ⎢N − Gf ⎥
KA e KB, determinados pelo uso das equa- ⎢ 0 KA ⎥
⎣⎢ N1 ⎦⎥
ções (10) e (11), podem ser usados em O escalonamento consiste na apli-
um sistema de diversas câmaras de mistu- cação de gradiente de velocidade médio
ra completa em série, com valores de Gf (13) maior nas primeiras câmaras de floculação,
menores que 100 s-1. Admitindo-se que não haja mais com o intuito de aumentar o número de
Bratby et al. (1977) estipularam agregação nem desagregação de partícu- contatos entre as partículas desestabilizadas,
que o tempo de sedimentação adotado las primárias dos flocos, após um período diminuindo-se o gradiente nas câmaras
no ensaio deveria ser relativamente lon- de sedimentação relativamente longo nos subseqüentes para evitar o rompimento
go, para que o sobrenadante apresentasse jarros do equipamento de jarteste, a equa- acentuado dos flocos formados.
somente partículas primárias e, também, ção (10) pode ser igualada a zero, resul- Alguns autores relatam a realização
para que fosse possível utilizar os valores tando (Bratby et al, 1977): do escalonamento do gradiente de velo-
da turbidez remanescente para relacioná- KB 1 cidade médio em ETAs de uma forma
los ao número de partículas primárias no = (14) intuitiva, porém, sem demonstrar mate-
KA N0
sobrenadante. Gf maticamente como chegaram aos valores
Pádua (1994) contestou esta N1 de Gf nas câmaras intermediárias. Esse
metodologia ao questionar a validade dos A partir da porção horizontal da método intuitivo pode conduzir a um
dados encontrados, pois com um tempo curva de melhor ajuste de todos os dados bom desempenho, inclusive melhora da
de sedimentação longo, tem-se uma velo- experimentais (os ensaios devem ser con- eficiência, comparando-se com unidades
duzidos até que uma porção horizontal que funcionam com Gf constante, no

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entanto, não é possível garantir que os Tabela 1 - Parâmetros ótimos de coagulação e floculação
gradientes adotados forneçam a melhor
eficiência da floculação. C o a g u la çã o
A fim de se chegar a resultados que Gradiente de velocidade médio (s-1) a Vs = 2,5 e 5,0, cm/min 400
forneçam o gradiente ótimo para cada
câmara da unidade de floculação, méto- Tempo de mistura (s) 15
dos para realização do escalonamento do
gradiente de velocidade médio foram Floculação
desenvolvidos por diferentes pesquisado- Gradiente de velocidade médio (s ) a Vs = 5,0 cm/min
-1
20, 30, 40, 50 e 60
res, sendo que Pádua (1994) propôs um
método que tem sido usado com sucesso. Gradiente de velocidade médio (s ) Vs = 2,5 cm/min
-1
20, 30, 40, 50 e 60
A partir dos resultados dos ensaios Tempo de floculação (min) 1 5 e 3 0 m in
de coagulação, floculação e sedimentação
em equipamento de jarteste, sob diferen-
tes valores de gradientes e tempos de agi-
tação, é possível determinar o gradiente
de velocidade médio nas unidades de
floculação de escoamento contínuo
(Pádua, 1994).

METODOLOGIA
Os dados experimentais utilizados
para o desenvolvimento da metodologia
proposta no presente trabalho foram ob-
tidos por Brito (1998), que estudou água
com as seguintes características: pH de
7,7 ± 0,2, turbidez de 27 ± 1 uT, cor Figura 1- Melhores resultados dos ensaios de otimização dos
aparente entre 200 e 220 uC, cor verda- parâmetros de floculação. Vs = 2,5cm/min
deira na faixa de 15 a 25 uC, alcalini-
dade de 23 ± 1 mg/L de CaCO 3 ;
Yj condutividade de 46 ± 0,5 µS/cm e du-
reza de 13 ± 1 mg/L de CaCO3.
Na Tabela 1, encontra-se o resumo
dos resultados, obtidos por Brito (1998),
dos parâmetros ótimos de coagulação e
floculação, usando cloreto férrico como
coagulante no mecanismo de varredura,
com dosagem de 25 mg/L, para velocida-
des de sedimentação de 2,5 e 5,0 cm/min.
Foi determinado o gradiente de ve-
locidade médio em unidades de flocu- Figura 2 - Melhores resultados dos ensaios de otimização dos
lação em série, aplicando a metodologia parâmetros de floculação. Vs = 5,0 cm/min
do escalonamento do gradiente, desen-
volvida por Pádua, (1994) para 2, 3, 4 e deve-se obter a maior eficiência (valores SSE
5 câmaras. de N0/N1) para um menor tempo de R2 = 1− (16)
Ressalta-se que, neste trabalho, op- SST
floculação através da construção de gráfi-
( )
n
SSE = ∑ Y j − Y j
2
tou-se por escolher a maior eficiência no cos de eficiência (N0/N1) versus Tempo (17)
menor tempo de floculação que, como se de floculação (Tf), obtidos experimen- j =1
pode observar nos gráficos das Figuras 1
e 2, encontram-se na faixa de 15 a 30
talmente nos ensaios de jarteste.
A regressão exponencial, recomen-
n
SST = ∑ Y j −
(Y )
j
2

(18)
minutos. dada por Bratby (1977) como regra ge- i= j n
ral, não traduz com fidedignidade a reali-
RESULTADOS E dade dos dados experimentais, o que pode Onde = ordenada do valor ex-
DISCUSSÃO ser comprovado pelo valor de R2 das re-
gressões (obtidas no software excel) das perimental, Y j ordenada do valor obti-
Determinação dos curvas mostradas nas Figuras 3 e 4. do na regressão (linha de tendência) e n é
coeficientes K e K O R2 é um indicador do grau de o total de dados experimentais.
A B
correspondência, ou coeficiente de deter- Quanto mais próximo de 1 for o
Para a obtenção dos valores de KA e minação, entre os valores estimados pela valor de R2 mais confiável será a regressão
KB para cada gradiente de velocidade regressão (linha de tendência) e os dados ou a linha de tendência de ajuste dos da-
médio e velocidade de sedimentação, reais, sendo definido por: dos experimentais.

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tangente ao ponto máximo da curva en-
tre os dados experimentais, o que, de fato,
pode não ser verdade, como observado
por Libânio, (1995). Diversos trabalhos
experimentais têm confirmado nítida re-
dução da eficiência com o contínuo au-
mento do período de floculação (Di
Bernardo, 2002); assim, determinar KA e
KB a partir da assintoticidade da eficiên-
cia com o tempo de floculação pode levar
a resultados discrepantes e não raro, com
baixas eficiências – (Libânio, 1995).
Para a obtenção dos valores de KA e
KB mostrados na Tabela 2, implementou-
se uma pequena rotina, em Excel, que
objetiva a convergência entre as equações
Figura 3 - Regressão exponencial para a obtenção dos coeficientes KA e KB, (12) e (14) através de método iterativo,
conforme preconizada pelo método de Bratby et al disponibilizado pela ferramenta Solver do
-1
(1977) - (Gf = 30 s e Vs = 5,0 cm/min) programa Microsoft Excel (Figura 6). A
convergência obedeceu a limites de
minimização da diferença entre os valo-
res de No/N1 das Equações (12) e (14).
Atribuiu-se um valor inicial de KA entre
10-8 e 10-20 e, por meio do programa sol-
ver, obtiveram-se os valores de KA e KB.
Deve-se ressaltar que o método consiste
em uma aproximação tangencial entre a
função exponencial da equação (12) e
equação (14), conforme mostra o exem-
plo da Figura 6 (Di Bernardo et al, 2003).

Escalonamento do
gradiente de velocidade
médio para floculadores
com câmaras em série
Foram consideradas várias situações
Figura 4 - Regressão polinomial -1para a obtenção dos coeficientes de arranjo das unidades de floculação,
KA e KB. (Gf = 30 s e Vs = 5,0 cm/min) utilizando câmaras em série de 2 a 5 uni-
dades com gradiente de velocidade mé-
No presente trabalho, considera-se, Na obtenção dos coeficientes foram dio escalonado, conforme Tabelas 3 e 4.
portanto, que haja uma condição especí- considerados valores médios de KA e KB Tais valores de Gf foram obtidos aplican-
fica de agregação e ruptura para cada gra- para cada gradiente de velocidade médio do-se a metodologia proposta por Pádua,
diente de velocidade médio e para cada e velocidade de sedimentação (ao invés V.L (1994), para tempos de floculação
velocidade de sedimentação, o que, de de utilizar valores únicos, baseados em de 15 e 30 minutos.
fato, indica melhor aderência à curva de médias e em regressões exponenciais).
tendência dos dados experimentais Foram usados os maiores valores de efici- Tempo de floculação em
(Figura 4). ência (No/N1) presentes nos dados expe- unidades de escoamento
Como pode ser visto na Figura 4, a rimentais, conforme seta da Figura 4. contínuo
seta indica uma região de grande intensi- Optou-se por não utilizar a linearização
dade de dados experimentais que são de KB, pois pode haver muita discrepân- Um dos maiores problemas que os
desconsiderados na regressão exponencial cia entre os valores médios dos coeficien- engenheiros enfrentam nos projetos de
da Figura 3 (segundo o método de tes e os seus valores linearizados (Equação dimensionamento de estações de trata-
Bratby J.R., 1981). 15), conforme pode ser visto na ordem mento de água é a determinação do tem-
Embora não mostrados, em pratica- de grandeza de R2 da Figura 5. po de floculação em unidades de mistura
mente todos os gráficos construídos conten- No método MEAR, a equação (14) completa de escoamento contínuo com
do gradiente de velocidade médio versus tem- é resultante da equação (10) igualada a câmaras em série, pelo fato dos resultados
po de floculação utilizados neste trabalho, zero, ou seja, supõe-se que não haja mais obtidos nos ensaios de jarteste, não pode-
ocorreu a mesma região de dados indicados variação do número de partículas primá- rem ser transpostos diretamente para es-
pela seta (Figura 4), o que justifica a utiliza- rias em relação ao tempo de floculação tas unidades sem se considerar a influên-
ção da regressão polinomial para a obtenção (Tf). Matematicamente, tal fato equivale cia da mudança de escala.
de uma região de maior eficiência. dizer que a equação (14) fornece a curva No ensaio em equipamento de

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jarteste, tem-se a mesma modelação apli-
cada ao escoamento tipo pistão ideal, de
forma que os resultados obtidos neste
ensaio podem ser utilizados diretamente
para o projeto de unidades de floculação
do tipo chicanas. Entretanto, em unida-
des de mistura completa em série, de es-
coamento continuo, os valores obtidos
para o jarteste podem ser utilizados com
razoável aplicabilidade, considerando-se
a modelação matemática exposta neste
trabalho. Deve-se ressaltar o fato de que
este assunto ainda merece mais pesquisa e
desenvolvimento, sobretudo na questão
de se identificar um fator de escala obser-
vando-se diversos parâmetros como geo-
metria, características do escoamento etc.
Figura 5 - Gráfico de KB versus logaritmo natural de Gf para a regressão Para calcular o tempo de floculação
linear dos valores de KB, conforme preconizado por em unidades de mistura completa em sé-
Bratby J.R (1981) – Vs = 5,0 cm/min rie com escoamento continuo, foram ob-
tidos os valores de N0/N1 para os tempos
de floculação no jarteste de 15 e 30 min,
mostrados nas Tabelas 5 a 8.
Para quantificar a variação dos re-
sultados transpostos de ensaio em equi-
pamento de jarteste para reatores de mis-
tura completa em série de escoamento
continuo, foram consideradas várias situ-
ações em um arranjo de unidades de
floculação utilizando com 1 a 5 câmaras
em série, contemplando, tanto gradiente
de velocidade médio constante (equação 8)
como escalonado (equação 9), cujos re-
sultados são apresentados nas Tabelas 5 a
8. Foram consideradas duas velocidades
de sedimentação, fixadas a partir dos da-
dos experimentais.

Figura 6 - Exemplo de convergência no cálculo dos valores de KA e KB

Tabela 2 - Valores de K e K obtidos pelo método MEAR modificado para velocidades de 2,5 e 5,0
A B
cm/min e tempos de floculação em jarteste de 15 e 30 minutos

G Vs = 2,5 cm/min Vs = 5,0 cm/min


[s-1]
KA KB 15 min 30 min KA KB 15 min 30 min
N0N1 N0/N1 N0/N1 N0/N1
20 1,83E-04 1,83E-07 17,69 46,81 1,90E-04 4,23E-07 13,25 22,00
30 9,40E-05 1,91E-07 7,39 14,93 1,09E-04 6,40E-07 4,55 5,60
40 6,97E-05 2,33E-07 4,90 7,17 5,88E-05 6,31E-07 2,01 2,29
50 7,93E-05 2,42E-07 5,66 6,52 2,85E-05 3,56E-07 1,37 1,53
60 3,68E-05 2,30E-07 2,17 2,59 3,18E-05 3,85E-07 1,29 1,36

Eng. sanit. ambient. 87 Vol.10 - Nº 1 - jan/mar 2005, 82-90


Di Bernardo, L.; Botary, A; Sabogal-Paz, L. P.

A R T I G O TÉ C N I C O
Tabela 3 – Valores ótimos dos gradiente de velocidade médios Tabela 4 – Valores ótimos dos gradiente de velocidade médios
escalonados para 2,5 e 5,0 cm/min. (T = 15 min) escalonados para 2,5 e 5,0 cm/min. (T = 30 min)
f f

Número de Câmaras Gradientes (s-1) Número de Câmaras Gradientes (s-1)


Vs = 2,5 cm/min Vs = 5 cm/min Vs = 2,5 cm/min Vs = 5 cm/min
1 30 20 1 30 20
2 40/30 30/20 2 30/20 20/20
3 60/30/20 40/20/20 3 30/20/20 30/20/20
4 60/30/30/20 50/30/20/20 4 40/30/20/20 30/20/20/20
5 50/40/20/20/20 50/30/20/20/20 5 50/30/20/20/20 40/20/20/20/20

Tabela 5 - Tempo de floculação para diferentes números de câmaras em série,


com gradiente de velocidade médio constante, velocidade de sedimentação
de 2,5 e 5,0 cm/min (T =15 min)
f
Número Tempo total de [N0/N1] Tempo total de [N0/N1]
de câmaras [m] floculação para floculação para
Vs = 2,5 cm/min, Vs = 5 cm/min,
f = 30 s-1[min] Gf = 20 s-1 [min]
1 68,8 17,69 130,3 13,25
2 30,2 7,39 39,8 4,55
3 23,6 4,90 28,0 2,01
4 20,9 5,66 23,7 1,37
5 19,5 2,17 21,5 1,29

Tabela 6 - Tempo de floculação para diferentes números de câmaras em série, com


gradiente de velocidade médio constante, velocidade de sedimentação
de 2,5 e 5,0 cm/min (T =30 min)
f

Número Tempo total de [N0/N1] Tempo total de [N0/N1]


de câmaras [m] floculação para floculação para
Vs = 2,5 cm/min, Vs = 5 cm/min,
f = 20 s-1[min] Gf = 20 s-1 [min]
1 3276,6 46,81 4141,9 22,00
2 235,5 14,93 260,79 5,60
3 108,9 7,17 115,8 2,29
4 76,2 6,52 79,6 1,53
5 62,2 2,59 64,3 1,36

Eng. sanit. ambient. 88 Vol.10 - Nº 1 - jan/mar 2005, 82-90


Modelação matemática aplicada ao projeto de câmaras mecanizadas de floculação

A R T I G O TÉ C N I C O
Tabela 7 - Tempo de floculação para diferentes números de câmaras em série, com
gradiente de velocidade médio escalonado, velocidade de sedimentação
de 2,5 e 5,0 cm/min (T =15 min)
f

Tempo total de Tempo total de


Número
flo c u la çã o p a r a flo c u la çã o p a r a
de câm aras [m ] [ N 0/ N 1] [ N 0/ N 1]
V s = 2 ,5 c m / m in , V s = 5 c m / m in ,
[ m in ] [ m in ]
1 6 8 ,8 1 7 ,6 9 1 3 0 ,3 1 3 ,2 5
2 3 4 ,9 2 7 ,3 9 6 1 ,4 9 4 ,5 5
3 2 2 ,6 1 4 ,9 0 3 5 ,9 5 2 ,0 1
4 1 9 ,0 9 5 ,6 6 3 2 ,1 4 1 ,3 7
5 1 3 ,2 2 2 ,1 7 2 2 ,9 5 1 ,2 9

Tabela 8 - Tempo de floculação para diferentes números de câmaras em série, com


gradiente de velocidade médio escalonado, velocidade de sedimentação
de 2,5 e 5,0 cm/min (T =30 min)
f

Tempo total de Tempo total de


Número
flo c u la çã o p a r a flo c u la çã o p a r a
de câm aras [m ] [ N 0/ N 1] [ N 0/ N 1]
V s = 2 ,5 c m / m in , V s = 5 c m / m in ,
[ m in ] [ m in ]
1 3 2 7 6 ,6 4 6 ,8 1 4 1 4 1 ,9 2 2 ,0 0
2 4 3 3 ,3 8 1 4 ,9 3 2 6 0 ,7 9 5 ,6 0
3 5 1 ,5 2 7 ,1 7 4 0 ,7 9 2 ,2 9
4 4 3 ,7 5 6 ,5 2 2 8 ,0 6 1 ,5 3
**5 3 5 ,3 7 2 ,5 9 2 6 ,7 2 1 ,3 6

Pesquisadores como Bratby, J. R sempre forneça ganho na eficiência Como observado, é desaconselhável
(1981) afirmam que ao se realizar a (Di Bernardo et al., 2002), conforme se o uso de uma única câmara de floculação
floculação em câmaras de mistura com- atesta comparando-se as Tabelas 5 e 7 para no projeto de sistemas de floculação de
pleta em série, pode resultar maior efici- duas câmaras em serie (Vs = 5,0 cm/min e ETAs, devido ao elevado tempo de
ência global, caso o gradiente de veloci- Tf = 15 min) e nas Tabelas 6 e 8, também floculação decorrente.
dade médio de floculação decresça da para o mesmo número de câmaras (Vs = Na determinação dos valores de KA
primeira para a última câmara. Esta situ- 2,5 cm/min e Tf = 30 min). Porém, de e KB neste trabalho, foi necessário estabe-
ação foi observada nos resultados obtidos uma forma geral, o escalonamento tem condu- lecer uma condição entre a diferença de
neste trabalho. zido a significativas melhoras na eficiência glo- No/Nexperimental e No/Ncalculada que não ul-
A melhora na qualidade da água, bal dos sistemas de floculação das ETAs. trapassasse 5% da eficiência obtida expe-
quando a floculação é realizada com gra- Os resultados obtidos para as velo- rimentalmente (jarteste). É importante
diente de velocidade médio decrescente cidades de sedimentação analisadas são observar que variações nesta condição al-
ao longo do tempo de floculação, deve-se muito diferentes, por isso, para a realiza- teram consideravelmente os valores dos
ao fato de que, no início, necessita-se de ção de ensaios em reatores estáticos, deve- coeficientes de agregação e ruptura, mu-
agitação mais intensa para aumentar as se considerar os valores de velocidade de dando os tempos de floculação.
chances de contato entre as partículas sedimentação compatíveis com os utiliza-
desestabilizadas, para formar flocos, de- dos nas estações de tratamento de água. CONCLUSÕES E
vendo-se reduzir a agitação posteriormen- Comprovou-se que, além da velocidade RECOMENDAÇÕES
te para diminuir a quebra dos flocos for- de sedimentação, recomenda-se observar,
mados; nestas condições, o fenômeno de também, o tempo de floculação e sua res- As principais conclusões do traba-
ruptura do floco pode ser reduzido. pectiva eficiência, especialmente na etapa lho são as seguintes:
Entretanto, pode ocorrer, como já de estudos de concepção de projetos de a) O tempo de floculação foi, de
mencionado, que o escalonamento nem floculadores. forma geral, maior para reatores de mis-

Eng. sanit. ambient. 89 Vol.10 - Nº 1 - jan/mar 2005, 82-90


Di Bernardo, L.; Botary, A; Sabogal-Paz, L. P.
A R T I G O TÉ C N I C O
tura completa com gradiente de veloci- ao longo da unidade de floculação com Gradientes de Velocidade Constante e Variável.
escoamento contínuo são função da qua- São Carlos. Tese (Doutorado) – Escola de En-
dade médio constante, que aquele obti- genharia de São Carlos, Universidade de São
do com gradiente de velocidade escalo- lidade da água bruta, de modo que, o Paulo, 136p, 1995.
nado. Isso se deve, provavelmente, ao fato aumento da eficiência da floculação pode
PÁDUA, V. L. Metodologia para determinação
de que, nestas condições, o fenômeno de ou não ser significativa, dependendo da dos gradientes de velocidade médios em unidades
ruptura de flocos nas últimas câmaras seja água estudada. Em geral, a qualidade da de floculação de mistura completa com câmaras
maior e, consequentemente, acarreta di- água de mananciais superficiais muda em série e escoamento contínuo a partir de ensaios
minuição da eficiência, que se traduz pelo consideravelmente em diferentes épocas em reatores estáticos. São Carlos. Dissertação
(Mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos,
aumento do tempo de floculação; do ano, de forma que raramente são en- Universidade de São Paulo, 74p. 1994.
b) O tempo de floculação próximo contradas as condições em que se obtive-
ao obtido no jarteste aconteceu quando ram os dados utilizados nos modelos ma-
se trabalhou com 5 câmaras em série para temáticos de floculação. Deve-se, portan-
gradiente de velocidade médio constante e to, ressaltar o fato de que os dados deveri- Endereço para correspondência:
praticamente igual para gradiente de velo- am advir de amostras a serem coletadas
cidade médio escalonado. Isto mostra que, durante um período de pelo menos um Luiz Di Bernardo
aumentando-se o número de câmaras de ano, o que presumidamente contempla- Escola de Engenharia de São
floculação em série, o sistema trabalha mais ria, ao menos, as principais variações cli- Carlos – USP
próximo ao escoamento tipo pistão. máticas anuais (possível padrão sazonal). Departamento de Hidráulica e
c) O tempo de detenção nas unida- Saneamento
des de floculação com escoamento contí- AGRADECIMENTOS Av. Trabalhador São-Carlense, 400
nuo e câmaras com gradiente de veloci- 13566-590 São Carlos - SP - Brasil
dade médio escalonado ou constante, Os autores agradecem a colabora- Tel: (16) 3273-95 28
parece diminuir com o aumento do nú- ção dos seguintes pós-graduandos do E-mail: bernardo@sc.usp.brbrrrr
mero de câmaras e tendem ao valor dos Departamento de Hidráulica e Sanea-
reatores estáticos. mento da EESC-USP: Cristiano Luchesi
d) Os modelos matemáticos que ex- Niciura, Denise Conceição de Góis San-
pressam a eficiência da floculação dificil- tos, Francisco Gláucio Cavalcante de Sou-
mente podem ter seu uso generalizado za, Mario César Cunha e Pedro Ivo de
para projeto e operação de estações de tra- Almeida Santos.
tamento de água, pois foram desenvolvi-
dos considerando-se número e concen- REFERÊNCIAS
tração de partículas primárias, caracterís-
ticas específicas do escoamento e interações ARGAMAN, Y.; KAUFMAN, W. J. Turbulence
and Flocculation. JEED-ASCE. v. 96 (5A2).
hipotéticas entre espécies do coagulante p.223-241. April 1970.
e partículas e entre partículas desesta-
bilizadas. Também, os modelos conside- BRATBY, J. R.; MILLER, M. W.; MARAIS,
G. V. R. Design of Flocculation Systems from
ram partículas primárias remanescentes, Batch Test Data. Water S.A. v. 3 n. 4. p. 173 –
as quais, às vezes, por serem muito pe- 178. Oct. 1977
quenas, necessitam de tempos de sedi- BRATBY, J. R. Interpreting Laboratory Results
mentação extremamente elevados, o que for the Design of Rapid Mixing and Flocculation
não acontece nas estações de tratamento. Systems. AWWA Journal. v. 73 p: 318 – 325.
No entanto, os modelos existentes e a Jun. 1981.
metodologia apresentada permitem que BRITO, S.A. Influência da Velocidade de Sedi-
a unidade de floculação de uma ETA seja mentação na Determinação dos Coeficientes de Agre-
projetada de forma racional, evitando-se gação e Ruptura Durante a Floculação. Dissertação
(mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
a adoção de parâmetros que na maioria Universidade de São Paulo, 189p. 1998.
das vezes levam ao fracasso dessa opera-
ção e, como conseqüência, prejudicando DI BERNARDO, L. Métodos e técnicas de tra-
tamento de água. v. 1. São Carlos. Ed. ABES,
o funcionamento das unidades de clarifi- 481p. 1993.
cação e filtração.
DI BERNARDO, L., DI BERNARDO, A.,
As principais recomendações do tra- CENTURIONE P. L. F. Ensaios de Tratabilidade
balho em questão são: de Água e dos Resíduos Gerados em Estações de
a) Como existe uma diferença Tratamento de Água. São Carlos. Ed. RiMa,
marcada entre os resultados obtidos no 248p. 2002.
reator estático (jarteste) e nos reatores de DI BERNARDO, L., et al. Parâmetros de Pro-
escoamento continuo, não se deve utili- jeto de Unidades de Floculação de Estações de
zar diretamente o tempo de floculação Tratamento de Água a partir de Ensaios em Equi-
pamentos de Jarteste. In: 22° CONGRESSO
obtido no ensaio de jarteste, sem consi- BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁ-
derar o escoamento do sistema e o núme- RIA E AMBIENTAL, Joinvile. Anais em CD-
ro de unidades em série; Rom ABES, 2003.
b) Os benefícios decorrentes da va- LIBÂNIO, M. Avaliação da Floculação em Re-
riação do gradiente de velocidade médio atores Estáticos e de Escoamento Contínuo com

Eng. sanit. ambient. 90 Vol.10 - Nº 1 - jan/mar 2005, 82-90

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