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TRANSFORMAÇÃO – PARTE 2
Você estaria disposto a deixar sua família para ir defrontar-se com o perigo
absoluto e fulminante numa missão ordenada pelo Senhor?
Naasom A. Sousa
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Transformação - Naasom A. Sousa
TRANSFORMAÇÃO
Naasom A. Sousa
PARTE 2
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Transformação - Naasom A. Sousa
Parte Dois
REENCONTROS
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Transformação - Naasom A. Sousa
Capítulo 18
M ais uma vez estavam diante da placa que indicava os nomes das
ruas Treze e Clintel; a mesma esquina onde todo aquele pesadelo
havia se dado início. Carlos olhou ao redor e observou os prédios
escuros e a rua deserta, mais uma vez não haveria testemunhas para o
que iria acontecer dali a alguns minutos. Olhou para Alan e notou seus
olhos castanhos voltados para baixo como se houvesse uma edição do
jornal do dia jogado no chão. Aquilo era estranho. Aquela não era hora
para entrar em transe e pensar em coisas banais.
Visualizou o relógio e contou as horas: 24h e 20mim. Devem estar a
caminho, pensou Carlos. Talvez o fim esteja a caminho.
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milhões. O que quero dizer é que a fita cairá em mãos erradas… — ele
pensou rápido — ou seria nas mãos certas? Bem, o importante é que
vocês estarão no fundo do abismo.
— Isso é muito engenhoso — murmurou Lucas.
— Cara, será que não conseguem compreender?! — exclamou
Carlos. — Tudo o que eu quero é dar o fora desta cidade miserável com
a mulher que amo, droga! Isso é pedir de mais? Vocês já fizeram o que
queriam. Acabaram com os dois tiras e a culpa caiu em cima de mim! O
que querem agora?
Carlos fixou a expressão indistinta do rosto de Lucas e sentiu um
imenso impulso de cortá-lo em pedacinhos. Ele não dava a mínima para
o que sentia e nem para o que acabara de falar.
Desgraçado!
Voltou-se rapidamente para Alan. O que estaria se passando em
seu pensamento? Estaria esperando algum sinal de Lucas para mostrar
seu verdadeiro caráter? Não esperaria até que isso viesse acontecer.
— Muito bem, vamos logo acabar com isso — falou Carlos. —
Quero vê-la agora.
Lucas hesitou por um momento, até que disse com voz grave:
— Primeiro quero saber da fita. Ela está com você?
— Pode ter certeza que sim.
— Mostre.
Carlos permaneceu imóvel por alguns segundos, perguntando-se se
aquilo seria algo prudente a se fazer. Mas então se conscientizou de que
nada do que estava acontecendo ali o era. Meteu lentamente a mão no
bolso do paletó e tirou a fita k7, pondo à vista de Lucas.
— Agora a garota — esbravejou o homem algemado.
Lucas fez um sinal com a cabeça para um de seus homens atrás de
si, que se dirigiu até a traseira do carro em que viera e abriu o porta-
malas. Carlos pôde ver o homem retirar a moça de dentro do veículo e
lamentou. Ela se encontrava com um capuz preto cobrindo-lhe o rosto e
os pulsos presos, amarrados para trás. Podia-se ouvir seus gemidos e
concluiu que também estava amordaçada e, além disso — o pior de tudo
— estava visivelmente conturbada e assustada.
O coração do noivo fugitivo palpitava descompassado. Era
horrivelmente doloroso e angustiante vê-la naquele estado, sendo
transportada como uma carga qualquer, amarrada — ou melhor —
aprisionada sem ter culpa alguma. Carlos cerrava os punhos diante do
sofrimento que se acumulava dentro do seu ser.
O homem caminhou com Nicole até ladear Lucas, e este ordenou:
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Alan fitou Carlos ao seu lado, com a cabeça baixa e olhos fechados.
Não se mexia, não dava mais atenção ao que estava se passando ao seu
redor; ao perigo que corria; o campo de batalha em que estava metido.
Nada mais importava; de nada mais a vida adiantava. O amanhã já não
existia sem Nicole.
— Carlos! — chamava Alan. — Carlos, vamos sair daqui!
Seus ouvidos já não escutavam coisa alguma, sua boca já não
respondia nem falava nada. Sua vida havia se acabado no momento em
que viu a de sua amada acabada. Nicole estava morta e ele queria partir
com ela.
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Capítulo 19
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— Melina… Melina… Melina…
O nome saía dos lábios de Alan quase incompreensível. O som era
áspero e parecia ser pronunciado com algum esforço.
Carlos pôs a mão sobre o ferimento.
— Droga, temos que sair daqui e estancar esse sangue! — apontou a
arma na direção de Lucas e tornou a atirar. Voltou o olhar para Alan. —
Vai ter que suportar a dor mais um pouco, pastor. Agüenta aí.
Segurou Alan pelo tronco do corpo e com cuidado — mas nem
tanto assim — colocou-o sobre o ombro e correu para o lado oposto dos
traficantes.
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Capítulo 20
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— Perdoe-me, mas não posso. Tenho que voltar para casa e ver
como Leonardo está. Tina fez um jantar e… bem, meu filho contava com
minha presença. Acho que ele ficou bem desapontado.
— Então temo que tenho culpa no cartório, já que a sua ausência lá
foi causada pela sua presença aqui.
— Ah, não, por favor. Não se culpe por isso. Eu quis vir e, se fiz
isso, é porque tinha necessidade de ficar com você.
— Mesmo? Não está falando isso apenas para me deixar tranqüila?
— Claro que não.
Um leve sorriso despontou nos lábios de Sandra, então sumiu
subitamente.
— Tem certeza mesmo que não quer ficar?
Axel tocou o rosto liso e macio da mulher.
— Você sabe que queria ficar e sabe também que não posso.
Realmente eu preciso ir.
Ela tornou a baixar a cabeça.
— Eu compreendo — disse.
O agente se levantou e começou a se vestir, enquanto Sandra ficava
a observá-lo deitada na cama. Ao acabar de amarrar os cadarços dos
sapatos, ele voltou o olhar para ela e indagou:
— Quando voltaremos a nos ver?
Sandra olhou para cima, dando a impressão de que estava
pensando concentradamente no assunto. Os dois riram.
— Não se preocupe — falou ela —, eu mando um recado pelo seu
pager assim que eu tiver um tempo livre novamente.
— Tudo bem — concordou ele sorrindo. — Me acompanha até a
porta?
— Claro.
Sandra ergue-se da cama e tomou o braço de Axel, encaminhando-o
à porta.
— Promete que vai pensar em mim? — perguntou a advogada.
Axel pegou a delicada mão e beijou-a.
— Mesmo que eu quisesse, não poderia tirar você da minha mente.
Tchau.
Beijaram-se e Axel se afastou. Olhou para trás e viu Sandra
fechando a porta. Ele suspirou fundo e percebeu que um súbito alívio o
invadiu. A dor de cabeça diminuira… ou desaparecera? Mas o estranho
era que a náusea havia sumido. Por quê? A verdade era que vinha se
sentindo um tanto sufocado nos últimos minutos, enquanto estava com
Sandra. Ele parou ao lado do carro e perguntou-se o que estaria
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mãos de Deus, confiar nEle, deixar que Ele faça segundo o Seu querer.
Sei que isso não é nada fácil para alguém que ama e quer seu amor
sempre perto, mas isso somente será capaz de acontecer se Deus assim o
permitir. Então ore e ore, minha querida irmã, e tenha fé, pois o nosso
Deus é misericordioso e nos ama como nenhum outro.
Houve um momento de hesitação por parte de Melina, mas quando
ela voltou a falar, seu tom de voz parecia bem mais racional e
controlado.
— Tudo bem, pastor, queira me desculpar, por favor. Estou muito
aflita com tudo o que anda acontecendo. Pensamos que somos forte na
fé, mas, quando algo acontece de verdade, vemos que temos muito mais
a aprender, vemos que nossa fé não é forte o bastante para suportar as
grandes tribulações da vida.
O pastor Nilton Cross com um leve sorriso suavizou a situação e
confortou sua ovelha:
— Estamos todos sujeitos a passar por isso, minha irmã — disse ele
—, o nosso Senhor Jesus disse que no mundo teremos aflições, mas que
tenhamos bom ânimo, pois Ele venceu o mundo e por isso, estando nós
ligados a Ele, podemos vencer também.
Então, Nilton pôde ouvir um suspiro vindo de Melina.
— Mais uma vez, você tem a razão, pastor Cross — admitiu ela.
— A palavra de Deus tem razão, Melina — corrigiu o pastor.
— Sim.
Dando o assunto por resolvido, Nilton mudou de área para dar
uma água com açúcar para sua ovelha e fazer com que seu coração se
recompusesse. Perguntou:
— Como está os pequeninos Jaime, Jair e Jéssica?
— Estão bem —respondeu Melina com a voz rouca. — Perguntam
constantemente pelo pai, perguntam quando voltará… principalmente
Jéssica. Ela sente muita a falta de Alan. Ele sempre ora com ela quando
vai dormir… Agora ela está em minha cama. Não conseguiu dormir sem
ter sido beijada por ele… Eu não sei mais o que falar para os três. Estou
com medo que esteja pecando quando digo que Alan está fazendo uma
viagem.
Nilton tornou buscar palavras de conforto.
— Não se preocupe com isso, Melina. O Senhor sabe que você está
fazendo isso para protegê-los.
— É, no fundo é exatamente isso que estou fazendo.
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— Então? Bem… quanto a Alan, ore por ele e tenho certeza de que
tudo estará maravilhosamente bem, pois ele estará nas mãos protetoras
do Deus altíssimo.
Melina falou com ar audivelmente aliviado:
— Obrigada, pastor, já me sinto muito melhor.
— De nada, minha filha — disse Nilton. — Que Jesus a abençoe.
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Capítulo 21
A sala estava escura quando Axel abriu a porta e entrou em sua casa.
Andou por entre os móveis e cruzou o recinto sem problemas, pois
sabia a ordem dos objetos espalhados pelo aposento. Dirigiu-se pelo
corredor e parou em frente ao quarto de Leonardo. Entreabriu a porta e
olhou para o seu filho, que dormia tranqüila e profundamente bem. Axel
sorriu satisfeito como qualquer pai coruja. Fechou a porta. Caminhou
novamente e foi até seu próprio quarto, girou a maçaneta da porta,
abriu-a e entrou no aposento iluminado apenas por um pequeno abajur.
A primeira coisa que viu foi Tina deitada na cama, coberta por um
grosso cobertor — sozinha. Ele chegou-se perto da cama e limitou-se a
observar sua esposa. Como posso… Fechou os olhos por um breve
momento e vagarosamente sentou-se na cama, certificando-se de que
não faria o menor ruído que pudesse acordar Tina. Começou a
desabotoar a camisa e logo após se encarregou de retirar os sapatos de
couro preto dos pés.
— Como foi a noite na central? — perguntou Tina, pegando Axel de
surpresa.
Ele se virou rapidamente para ela com expressão assustada.
— Oh, querida… está acordada a essa hora? — esticou o braço e
tocou-a no ombro, então, voltou a concentrar-se nos cadarços dos
sapatos. — Hoje foi uma noite de muito trabalho, cansativo. — devolveu
o olhar a ela novamente. — Olhe, eu… queria me desculpar por faltar no
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compromisso dessa noite. É por causa disso que mais cedo ou mais tarde
irei acabar largando esse emprego.
Tina permaneceu em silêncio; Axel prosseguiu:
— Como Leonardo passou a noite? Ele está bem?
Ela hesitou durante um suspiro demorado. Então, sentou-se na
cama e segurou os joelhos.
— Agora ele está bem, mas ficou muito decepcionado com a sua
ausência. Na maior parte da noite ficou em silêncio, e nas vezes em que
falou, foi para perguntar se você não estaria preparando uma surpresa
para nós e se a qualquer momento romperia a porta para jantar conosco
a passarmos a noite como uma família.
Axel olhou para o cobertor e fixou a seguir o rosto moreno de Tina.
— Mais uma vez peço desculpas, querida. Reconheço que estou
faltando com minhas obrigações como marido e pai, mas prometo que
daqui para frente vai ser diferente, você pode confiar em mim.
Os lábios de Tina ficaram selados, enquanto seus olhos fitavam o
marido com traços céticos. Confiança? Poderia existir naquele momento
entre eles essa palavra? Podia ela voltar a confiar nele? Perguntava-se
Tina dubiamente.
De repente, o telefone tocou e Axel prontamente esticou a mão para
atender. Colou o fone no rosto e ouviu a voz chamar pelo seu nome na
linha. Era o policial Levi, da central.
— Desculpe-me acordá-lo a essa hora, Axel, mas aconteceu algo.
— Tudo bem, Levi. O que aconteceu?
— Uma coisa muito estranha, e advinha onde?
— Não tenho a menor idéia — respondeu Axel; Levi já esperava por
isso e disse:
— Tudo aconteceu no mesmo local onde mataram Pablo e pegaram
Caio, Clintel com a Treze. Este está se tornando o endereço das festas da
noite, hein?
— Onde você está agora?
— Estou aqui na central, mas eu e alguns outros caras da divisão
estamos indo para lá nesse instante.
— Certo, então nos encontramos lá. Até logo.
Axel desligou e olhou para Tina que já o fitava. Ele respirou fundo e
balbuciou:
— Houve algo de errado no mesmo lugar onde Pablo foi… morto —
pensou em não ter contado para Tina sobre o que na verdade tinha se
passado com o amigo —, e… tenho que ir. Mas eu…
Tina interrompeu-o bruscamente:
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—Jesus te ama, Carlos… Ele morreu por você… Deu a própria vida
por você…
Carlos retirou os olhos da pista e fixou-os em Alan que havia
voltado a si novamente. Sua atonia parecia cada vez pior e era visível a
dificuldade que sentia para falar.
— Pare de falar um pouco... Olha aqui, pastor, se você não parar de
falar, quem irá morrer será você. Não fale nada, sim? Já estamos perto
do lugar que me indicou — notou a respiração de Alan arquejante, que
ainda insistia em tentar falar algo mais. — Mas será possível! Será que
nem com uma bala no corpo você não pára de falar essas coisas?
Alan tossiu e engoliu seco.
— São coisas que você precisa saber… precisa entender… porque…
conscientizando-se disso… você será… feliz. Só assim… você conseguirá
ser feliz… Carlos.
Carlos mordeu os lábios e voltou o olhar para a estrada. Ser feliz?
Será que aquelas palavra ainda tinham algum significado para ele?
Poderiam elas ainda se encaixarem em sua vida? Indagava-se. Não sabia
ao certo o que pensar sobre aquilo, mas de uma coisa sabia muito bem:
seria impossível ter a felicidade ao seu lado sem Nicole e com aquela
cidade inteira à sua procura, julgando-o por um crime que não havia
cometido.
Alan tossiu outra vez e atraiu a atenção de Carlos, falando algo
inteligível aos ouvidos.
— Pastor, pela última vez, não tente falar nada. Mas que droga!
Você é surdo ou o quê?
Não adiantou nada Carlos tentar impedi-lo de se pronunciar. Alan
gemia e suspirava ao encontro de forças preciosas para que pudesse
reproduzir o som necessário para que saísse de sua boca algumas poucas
palavras que Carlos viesse a compreender.
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— Não fale nada! Não fale nada! — ordenava Carlos, para o bem de
Alan.
— Eu… Eu… — tentava o servo do Senhor.
— Pastor, pare!
Alan tossiu e continuou:
— Eu… sei, Carlos…
Carlos esbravejou:
— Que droga de teimosia! Cale de uma vez essa boca!
Alan puxou todo ar que pôde para dentro de seus pulmões e soltou-
o com frases entrecortadas em tom fraco, mas compreensível.
— Eu sei, Carlos… Eu sei o que contém na fita… Sei… sei o grande
segredo que… está guardado nela.
Carlos fitou-o atônito.
Como ele poderia saber?
— O quê… do que você está falando, pastor? Responda! — Carlos
se pegou sacudindo Alan de um lado para o outro. Agora ele queria
respostas. — Como pode saber disso? Como…
Mas percebeu que estava falando para si mesmo, pois Alan já havia
tornado a desmaiar com a cabeça caída para o lado.
Carlos voltou-se para a pista escura, mas seu pensamento
permaneceu em Alan e no que poderia ele mais saber a respeito do que
não lhe havia revelado.
Tudo era estranho demais para o seu gosto.
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Senhor, prepara-me cada dia mais para fazer tudo de acordo com Teus
planos na minha vida. Não me deixe a mercê do vento, mas guia-me
seguramente pelos caminhos da vida, ó Deus meu, até que Tu venhas…
A oração era contrita e emocionada. No pé de sua cama, ela orava
com o fervor do Espírito Santo em sua vida ao Senhor Deus Todo
Poderoso. Clamava pela intercessão de Jesus em sua vida, pela
misericórdia do Senhor em todos os momentos, para que Suas bênçãos
caíssem sobre seu esposo e também para que livrasse seu lar dos
malfeitores do bairro e do inimigo. O momento era glorioso e confortante
até que foram ouvidas frenéticas batidas na porta. A oração foi
interrompida.
Ela ergueu a cabeça e olhou em direção da porta do seu Quarto que
dava para a sala e conseqüentemente para a porta de entrada que se
encontrava trancada. Pôs-se de pé e precipitou-se para fora do seu
aposentou. Foi então que sentiu uma mão forte apertar-lhe o braço e
puxar-lhe de volta para trás.
— O que foi, Fábio? — perguntou ela para seu marido, que
segundos atrás dormia deitado sobre a cama.
Fábio fitava-a com expressão cautelosa.
— Espere, pode ser algum ladrão. Eu vou com você. — num pulo
ficou de pé, e ambos saíram do quarto, seguindo para a porta da sala.
As batidas pareciam mais fortes e impacientes. Fábio conduziu sua
esposa por entre os móveis espalhados pelo grande cômodo, até que
ouviram uma grave voz do outro lado da porta envernizada.
— Abram essa porta! Abram! Um homem está morrendo aqui!!
Fábio não se comoveu. Sabia muito bem dos truques que os
bandidos da redondeza aplicavam para surrupiar as casas. Piscou para
Vitória, sua mulher, e mansamente levou o rosto ao olho mágico.
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Capítulo 22
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— Ninguém vai tirá-lo deste lugar. Ele está correndo perigo de vida
lá fora, mais ainda do que corre aqui dentro. Ele mandou trazê-lo para
cá e é aqui que irá ficar.
Andrey olhou para ele e então para a sua arma.
— Podemos saber o seu nome, senhor?
Carlos hesitou.
— Carlos Lacerda.
Andrey balançou a cabeça.
— Sr. Lacerda… pode nos dizer o que aconteceu com Alan? Como
isso…
— Você pode curá-lo ou não? — cortou Carlos.
— Por que você o trouxe para cá? — adiantou-se Andrey.
A voz de Carlos soou áspera quando respondeu:
— Ele me deu o endereço daqui e pediu para que eu o trouxesse.
Andrey especulou:
— Se você o trouxe para cá, é porque você se importa com ele, não é
mesmo? — não deu tempo para que o outro homem argumentasse. —
Então, sendo assim, faça o favor de baixar essa arma, porque do jeito
como está, só está tornando as coisas mais tensas. O que nós queremos é
o mesmo que você: salvar a vida dele.
Carlos ficou em silêncio. Fitou os três, um por um, tentando
encontrar alguma coisa que revelasse uma ameaça, mas não encontrou
um resquício sequer. Voltou os olhos para a arma e então, aos poucos,
foi baixando-a até que a pôs de volta na cintura.
— Vai ser difícil tirar o projétil sem os instrumentos adequados,
mas temos que fazer isso de um jeito ou de outro e aqui. Só receio que a
bala possa correr e causar uma hemorragia interna. — Andrey informou.
Seus olhou se encontraram com os de Fábio e Vitória e falou a eles: —
Temos que orar para que ele suporte a operação, pois… no estado
delicado em que ele se encontra, qualquer coisa pode contribuir para sua
morte.
— Então vamos orar já — disse Vitória.
— Faríamos isso de qualquer jeito, não faríamos? — concordou
Fábio.
Os três se agruparam do lado da cama em linha, todos de frente
para Alan e deram-se as mãos num ato de aliança. Andrey olhou na
direção de Carlos e este entendeu prontamente que aquilo significava
um convite para uma “participação especial”. Carlos abanou a cabeça
negativamente. Andrey entendeu e demonstrou isso quando fechou os
olhos, esquecendo de tudo à sua volta.
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Ele estaria blefando? De que modo poderia ter descoberto o que contém na
fita? A confusão povoando a cabeça de Carlos o fez suspirar fortemente,
e foi nesse momento que a porta do quarto foi aberta. Ele ergueu a vista
e deparou-se com o jovem médico. Em seu rosto, um semblante cansado.
— E então? — perguntou Carlos, tão rapidamente que chegou a se
admirar.
Andrey olhou para ele e para Vitória que se aproximava e disse:
— Fiz o que estava ao alcance das mãos humanas. Fábio está
descansando. Tirei o sangue dele, que é compatível com o de Alan, e que
agora Alan está recebendo. Retirei a bala, mas… Bem, agora está por
conta do Senhor Deus.
Esse papo novamente, pensou Carlos. Só espero que esse médico de meia-
tigela não seja tão biruta quanto parece e tenha feito um bom trabalho. Quero
saber com certeza o que o pastor sabe de verdade.
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— Assim está certo. Bem… voltando à sua pergunta, não sei lhe
dizer muito sobre o estado dele. Nem Andrey pode dizer muita coisa
agora, porque Alan está em observação por enquanto. Até agora não
apresentou nenhuma melhoria concreta e fica difícil constatar qualquer
coisa sem aparelhos médicos adequados.
Com expressão invariável Carlos anuiu:
— Eu não entendo coisa alguma de medicina, mas posso
compreender. Eu queria… — ele hesitou.
— Sim? — ajudou-o Vitória.
— A arma era apenas para garantir que ele fosse atendido, eu…
Mais uma vez, ela assentiu com a cabeça.
— Não precisa dizer nada. Agradecemos que o tenha trazido o mais
rápido possível. Ahn… quer um pouco de café?
Carlos passou os dedos entre os cabelos e sentiu algo em sua
barriga grunhir e dizer sim em seu lugar.
Vitória sorriu.
— Não precisa dizer mais nada. Eu volto logo.
Os olhos de Carlos perseguiram-na até ela desaparecer ao passar
pela porta da cozinha, e então se depararam com Andrey vindo em sua
direção pelo estreito corredor que ligava o quarto com a sala onde se
encontrava.
Sem nenhuma palavra o jovem médico sentou-se ao seu lado.
— Por favor,… Carlos… me fale o que aconteceu com Alan, como
aconteceu e quando aconteceu. Precisamos saber. Somos muito amigos
dele e precisamos dessa informação para ver se conseguimos fazer algo
mais por ele.
Carlos levou as mãos ao rosto e declarou:
— Pelo que vi, realmente se importam com ele. Mas não posso falar
nada a esse respeito agora. Acho que o melhor é ele mesmo explicar para
vocês.
Vitória voltou à sala com uma bandeja com três xícaras contendo
um quente e aromoso café. Entregou uma nas mãos de Andrey e outra
nas de Carlos. Após isso, se encaminhou pelo corredor até o quarto em
que Alan estava, então, Carlos pôde ver rapidamente, quando a porta do
quarto foi aberta por ela, que Fábio estava sentado numa cadeira e de
olhos fechados ao lado da cama — a mesma em que Alan se encontrava
deitado com um curativo sobre o ferimento e com um soro ligado ao seu
braço direito. A porta foi fechada e a atenção de Carlos foi chamada por
Andrey.
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planejava ele. Foi então que o telefone tocou, trazendo-o de volta de seu
mundo de sangue e punição.
Ele atendeu:
— Quem é?
A voz de um dos seus criados anunciou primeiro quem estava na
linha e depois perguntou se estaria disposto a receber a ligação, sempre
num tom de inferioridade.
— Pode passar — disse Vip.
Três segundos depois, o contato estava falando ao telefone.
— E então, como foi tudo? — perguntou o poderoso chefão. —
correu conforme o combinado?
Obteve uma resposta positiva que o fez suspirar como se estivesse
sido salvo de um grande problema.
— Que bom que completou todo o trabalho de acordo com o que
planejamos. Essa é uma excelente notícia para mim.
Ouviu uma piada não muito engraçada.
— Isso mesmo, meu caro. Amanhecerá quinhentos mil mais rico…
Pode ter plena certeza disso.
Escutou uma gargalhada contente do outro lado da linha e uma
despedida agradecida.
— Boa noite. Aguarde mais trabalhos.
Desligou e voltou a sombriedade dos seus pensamentos.
Pelo menos, até agora seu plano estava correndo perfeitamente
bem. Logo estaria completamente fora do alcance dos tiras e de quem
quer que fosse. Estaria acima da lei e de todos naquela cidade de nada.
Ele seria o deus daquela cidade e logo-logo estenderia o seu império por
todo o país e logo seria conhecido em todo o mundo.
Mas, para que isso acontecesse, teria que eliminar todos os riscos,
perigos e barreiras que existiam ou teimavam em existir para tentar
atrapalhá-lo e derrubá-lo. A maior dessas barreiras tinha nome e estava
solto pela cidade. Vivo, desaparecido, e portanto, longe de seu alcance.
— Fuja e se esconda o quanto puder, Carlos, pois logo não terá mais
buracos para se entocar. Você cairá nas minhas garras e será o seu fim e
de todos os que com você estiverem.
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“Do Deserto ao Oásis” é uma novela que foi inspirada nas tantas
dificuldades e tribulações que enfrentamos no dia-a-dia e que muitas
vezes pensamos que vamos perecer. Porém, por mais que pensemos que
estamos desamparados pelo Criador, Ele sempre tem um jeito de
provar-nos o contrário.
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