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em sintese, “a profunda economicidade do mundo organizado moderno [...] a obsessio pela eficécia, pelo desempenho, pela produtividade, pelo rendimento a curto prazo” (p. 22-24). O autor critica, portanto, a “concepgio instrumental, adaptativa, € mesmo manipuladora do ser humano” que predomina de um modo ‘goral nas priticas administrativas das organizagies. Afirma Chanlat (1996, p. 25): Contrariamente 3 idealizacio que aparece com frequéncia no mundo dos negécios, a organizagio aparece frequentemente como um lugar propicio ao sofrimento, & violencia fisica © psicolégica, ao tédio © ‘mesmo ao desespero nao apenas nos escaldes inferiores, mas também 1nos niveis intermedisrio e superior. [..] Em um mundo essencial- mente dominado pela racionalidade instrumental e por categorias, ‘econdmicas rigidamente estabelecidas, os homens e mulheres que povoam as organizagdes sio considerados, na maioria das vezes, apenas recurs, isto é, como quantidades materiais cujo rendimento deve ser satisfatério do mesmo modo que as ferramentas, os equi- pamentos ¢ a matéria-prima, Asociados ao universo das coisas, as pessoas empregadas nas organizagées transformam-se em objetos (Grifo do autor). Na avaliacio de Reed (1998, p. 68), a énfase sobre a racionalidade nos estudos organizacionais, ou seja, a crenga de que todos os problemas das organizagSes podem ser resolvidos mediante téenicas ¢ instrumentos de cileulo e engenharia, por um “‘elevou’ a teoria lado, ¢ a distribuigio das fungées e 0 planejamento, por outro, ¢ pritica da administragdo organizacional de uma arte intuitiva para um corpo de conhecimentos codificados e analisiveis”. © mesmo ponto de vista manifestam Clegg e Hardy (1998, p. 28): © conceito-chave & 0 da organizagio como um “sistema”, em. ‘que € funcionalmente eficaz atingir metas explicitas formalmente definidas por intermédio da tomada de decisio racional. A tarefa da administracio, conforme essa visio, & definir e atingir essas metas; a tarefa do pesquisador é coletar dados objetivos que indiquem como as fungées organizacionais se distribuem em torno da orientagio manutengio das metas. Independentemente do tipo de organizagio, seja ela privada ou pabliea, cooperativa ou sindical, o que predomina é a racionalidade econémica no ambiente da administracio. “O que prevalece é a perpétua busca de otimizagio dos meios. ‘Tudo deve ser calculado ¢ medido segundo os termos da rentabilidade, da ciéncia da produtividade”, observa Chanlat (1996, p. 25), que, em outra obra (1999, p. 67-68), expe assim sua visio sobre o universo da gestio: De modo geral, o mundo da gestio caracteriza-se por uma rejeigio apoiada em reflexio, O prazer de pensar por pensar ou a faculdade de julgar as decisées de modo nao convencional sio, frequentemente rejeitados em proveito de pensamentos preconcebidos refletindo as \dltimas ideias em moda; cultura reflexiva & arquivada na prateleira dos acessérios imtteis. © que é de ordem na pritica social torna-se natural ¢ no pode ser discutido, © costume transforma-se em ne~ cessidade © 0 conformismo reina por toda parte. Nese mesmo sentido, Rodrigues Cunha (2000, p. 13-14) julgam que os modelos te6ricos convencionais dos estudos organizacionais e de administragio de empresas so incapazes de lidar com a complexidade da realidad organizacional, por colocarem énfase nos “paradigmas técnico-racionais”, por serem geralmente “modelos importados” inadequados a0 estudo de organizagoes inseridas em contextos culturais diversos e por pretenderem ser universais ou aplicaveis a qualquer tipo de organizacio'’. Garcia e Bronzo (2000, p. 87) reconhecem que os discursos neste «2 npo do conhecimento tém vigs normativo e hegem@nico, porque es jo sujeitos a uma [.--racionalidade puramente instrumental, e que, por nio adotarem, outro tipo de racionalidade, como, por exemplo, a substantiva, “o receituério” jf nos é bastante conhecido: ajustes estruturais, corte de custos, gerenciamento da qualidade, competitividade, upgrading tecnolégico, qualificagio ¢ flexibilidade dos sistemas, entre outros (Grifo dos autores) Garcia ¢ Bronzo (2000) propdem uma reflexao epistemolégica ¢ metodolégica sobre as teorias da administragio ¢ dos estudos organizacionais, assentadas em uma concepe%o mecanicista do mundo © de ordem dos fenémenos, pois a teoria da administracio valeu-se essencialmente de uma ciéncia experimental baseada na razio © em critérios objetivos (racionalidade), processo esse subordinado aos paradigmas 16 Ets realidad, quando trnaposta a0 wnivero do expago rua, gealmente no comport tal seeps, um wer \qhen wprecnai da earn gustornseaba send reali de forma amp © sem maior delalharcto da clementon tndgetone exdgenos implicados ma gst rua ED cientificos do positivismo, do funcionalismo e do individualismo metodolégico. E desenvolvem a seguinte argumentagio: Fragmentagio ¢ descontinuidade parecem caracterizar bem a natureza rmultdisciplinartipica da Administracio, endo poruma questio filosé- fica, mas pritica, Os estudos nesse campo estio sujeitos a contibuigées metodolégicas e conceituais de reas diversas do conhecimento, bem ‘como de contestagies « eriticas ampliadas [..] as teorizagbes formu ladas no campo da Administragio refletiram uma forma particular de observagio dos fatos sociais na esfera da produgio ¢ do trabalho, ‘carregadas de valores e referéncias dominantes, com a subordinagio ‘da cigncia aos movimentos mais amplos do capital e dos interesses dominantes. Isso no representa propriamente uma surpresa, sobre~ tudo se nos conscientizarmos de quais foram os beneficios priticos dos estudos organizacionais, neste século, para desenvolvimento do ‘controle gerencial c das estratigas de manutengio das relagbes de poder nos circuitos internos de exploragio da forma de trabalho (p. 69-70) Clegg ¢ Hardy (1998, p. 37) ressaltam ser importante demonstrar a diversidade de abordagens existentes nos estudos organizacionais, com o objetivo de promover debates que resultem em processos de aprendizagem mais proficuos, evitando a ingenuidade de uns ¢ a exacerbacio de outros frente as diferentes perspectivas teéricas. Argumentam os autores: E na luta entre diferentes abordagens e com base na diversidade ra ambiguidade de significado que aprendemos; nio € pela recitagio de uma presumivel uniformidade, consenso ¢ unidade, submetidos a uma forma que exija aceitagio inquestionével (p. 37). Reed (1998, p. 66) constata que a teoria organizacional é “permeada de controvérsias te6ricas ¢ conflitos ideolégicos em torno da questio de como a ‘organizagio’ pode e deve ser”. As propostas analiticas presentes nos estudos organizacionais provocam nas ciéncias sociais quatro grandes debates, que, segundo © autor, se caracterizam como “espacos intelectuais contestados”; os fullcros desses debates sZo: priticas sociais versus esteutura; construtivismo versus positivismo; local’ micro versus global/macro; e individualismo versus coletivismo. Referindo-se as mudangas globais das ltimas décadas, Clegg e Hardy (1998, p. 28) salientam que existem “novos fendmenos, novas condigies, novas entidades

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