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Volume X – Atividade Física e Esportivas para Pessoas com Deficiência

Visual

VOLUME X

ATIVIDADE FÍSICA E
ESPORTIVAS PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL
a a
Prof . Dr . Eline Tereza Rozante Porto

Atividade Física Para Pessoas com Deficiência

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Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física

A PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL:


CORPO E MOVIMENTO

Com a presença, cada vez mais marcante, da pessoa com


deficiência em todos os setores e ambientes sociais, observamos que o
seu papel social tem se modificado. Mediante esse fato, várias mudanças
de pensamentos e atitudes em relação a elas vêm acontecendo e alguns
fatores, como os novos paradigmas científicos e culturais relacionados ao
ser humano e sua interação com o mundo, têm colaborado para isso.

As condições de vida às quais o ser humano está exposto,


atualmente, provocam-lhe muitas dúvidas e incertezas com relação às
atitudes adotadas para com seus semelhantes, numa dialética
desencadeada pelo desenvolvimento tecnológico e pelos modos de viver
apresentados pela sociedade, o que se reflete diretamente nas relações
humanas nos mais diversos ambientes.

Esses apontamentos estão diretamente relacionados às pessoas


com deficiências, indo de encontro à forma como a sociedade as vem
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tratando desde há muitos séculos, ou seja, com os conceitos e valores de


menor valia ou incompetência gerando preconceito e falta de aceitação
social. Isso é demonstrado fortemente pelo não respeito às diferenças
humanas e pela significativa falta de acessibilidade a que essas pessoas
estão expostas, no seu dia a dia, em todos os ambientes sociais - de
ordem formal, informal, institucional, familiar, comunitária e também no
ambiente de trabalho.

Sendo o ser humano um corpo em movimento, acreditamos na


possibilidade que ele tem de estabelecer um diálogo desafiador com o
mundo que o cerca. Tanto uma criança, como qualquer outro ser humano
com capacidade para se comunicar no mundo pela linguagem oral e / ou
corporal, podem tornar-se autônomos e desafiadores.

Nesse sentido, afirmamos que as atividades físicas e o esporte


contribuem significativamente com a possibilidade de as pessoas com
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deficiências visuais estarem no mundo e se comunicarem entre si e com


os outros, em todos os ambientes.

Conhecer o próprio corpo, suas capacidades e limitações, é


irrefutavelmente importante para que possamos nos integrar e interagir
com o mundo. Esta relação não ocorre se o ser humano não conhecer e
não tiver consciência do seu próprio corpo. Corpo este que se movimenta,
sente, fala, reclama, questiona, chora, sorri e se completa na relação com
o outro no mundo.

Às pessoas com deficiências visuais são atribuídas incapacidades


que inúmeras vezes as impedem de fazer e alcançar o mínimo necessário
para poderem se relacionar com o mundo. No entanto, o não oferecimento
de condições para desenvolverem suas habilidades de orientação e
mobilidade e, assim, adquirirem aptidão para ir e vir de e para onde
desejarem e necessitarem, é que lhes confere um estado de total
dependência e falta de autonomia. Portanto, a chance de descoberta e
conhecimento do corpo em movimento traz para essas pessoas inúmeras
possibilidades de se descobrirem para além das limitações que, em
muitos casos, a deficiência acarreta.

Devemos criar condições a essas pessoas de ampliarem as


próprias experiências, trazendo-lhes novas possibilidades de atividades
para os espaços de convivência onde se encontram. Mesmo que essas

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ações causem enfrentamentos e desentendimentos, conduzirão à
resolução e compreensão dos problemas surgidos. Haverá o
desencadeamento de soluções para tudo aquilo que lhes for sendo
apresentado, melhorando e ampliando as descobertas individuais e
coletivas que surgirem durante os momentos vividos.

Quando estabelecemos e criamos novas possibilidades para as


ações do ser humano, desafiamo-lo a se deparar com conflitos e
reflexões, a encontrar novas soluções e ações ante o novo que se
apresenta. Solicitamos-lhe novas combinações de estruturas motoras,
cognitivas, afetivas, sociais, culturais e tudo o mais que se lhe constitui, no
intuito de, respondendo a essas solicitações, alcançar o almejado.

Dessa forma, as atividades físicas e esportivas constituem uma


forma motivadora e instigante para a melhora da inserção social das
pessoas com deficiências visuais, promovendo-lhes uma considerável e

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visível melhora no desenvolvimento global, oportunizando-lhes o


conhecimento sobre si mesmas e sobre os outros, bem como
conquistando o reconhecimento social pelas capacidades e não pelas
limitações, como é o caso de muitos atletas do esporte paraolímpico.
Como diz o grande nadador, deficiente físico e medalhista da
Paraolimpíada de 2004, Clodoaldo Silva: “Através do meu exemplo, tento
mostrar que tudo é possível. Basta querer, acreditar e buscar as
oportunidades” (FERRAZ, 2005, p.25).

O ser humano, através da exploração do corpo em movimento,


cria oportunidades para propiciar o seu desenvolvimento e experimentar
novas vivências, enriquecendo o mundo individual e próprio, nos locais
onde vive, ao mesmo tempo em que tenta compreender esse corpo e
vivê-lo de modo intencional na busca da auto-superação.

Desse modo, explorar atividades físicas e esportivas para as


pessoas com deficiências visuais é possível, viável e necessário, pois
estas, como quaisquer outras, carecem de ser compreendidas, aceitas e
admiradas, para poderem se ver e se encontrar na dinâmica do seu
mundo vivido. (PORTO, 2005)

É uma ótima oportunidade mostrar e conscientizar essas


pessoas sobre os corpos em movimento, ou seja, o corpo próprio, o corpo
do outro e as relações estabelecidas entre todos. Movimentando-se,
através das mais diferentes e possíveis formas, elas podem descobrir e
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perceber suas capacidades e limitações, bem como as das outras


pessoas. Essa descoberta, de si e do outro, de forma alegre e prazerosa,
que as atividades físicas e esportivas proporcionam, possibilita a que as
próprias pessoas com deficiências visuais aceitem e respeitem as
diferenças existentes entre elas.

Porto (2001) salienta que o corpo recebe uma carga enorme de


responsabilidades e cobranças, no sentido do melhor aproveitamento das
suas habilidades e aptidões, porém os seus limites não são comentados
em nenhum momento, com o intuito de se preservarem sentimentos
negativos de incapacidade, inferioridade e menosprezo. Nesse sentido,
esquece-se de passar às pessoas que todo e qualquer ser humano
apresenta limitações e é diferente do outro, possuindo seu ritmo, seu
desejo, suas vontades e seu modo próprio de ser e estar presente no
mundo.

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Assim, acreditamos que as pessoas, de um modo geral,


adquirindo hábitos atitudinais de respeito e aceitação da diferença
pessoal e coletiva, apropriam-se de conceitos e valores mais humanos
nas suas relações com os outros, por todo o transcorrer da sua vida.
Portanto, ao trabalhar as atividades físicas e esportivas com pessoas
sem deficiências e com deficiências visuais, considerando que o corpo
é e está em constante movimento, conseguiremos criar e inovar
interfaces afetivas, sociais e culturais, que farão parte do cotidiano de
todos, desencadeando atitudes de mais valia para com o outro, a partir
das diferenças existentes entre todos.

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DEFICIÊNCIA VISUAL: CONCEITOS E


CARACTERÍSTICAS

Deficiência visual é um termo empregado para se referir à perda


visual que não pode ser corrigida com lentes por prescrição regular.
Compreende tanto a cegueira total, ou seja, a perda total da visão nos
dois olhos, quanto a baixa visão, que é uma irreversível e acentuada
diminuição da acuidade visual, que não se consegue corrigir pelos
recursos ópticos comuns (MOURA, PEDRO, 2006; WINNICK,2006;
MUNSTER, 2004).

Assim, a deficiência visual acarreta grande perda de informações


sobre o meio, prejudicando a interação social e possíveis oportunidades
de uma participação plena nos diversos aspectos da vida cotidiana
(ALVES e DUARTE, 2005).

Existem diversas classificações para a deficiência visual, que


variam conforme as limitações e os fins a que se destinam. Para Munster
& Almeida, (2005) estas surgem para que as desvantagens decorrentes
da visão funcional de cada indivíduo sejam minimizadas, pois, apesar de
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as pessoas com deficiência visual possuírem em comum o


comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e
anatômicas promovem modificações que resultam em níveis diferenciados
nas funções visuais, os quais interferem de forma diferenciada no
desempenho de cada indivíduo.

Existem classificações da deficiência visual para fins legais, para


efeito de elegibilidade em programas de assistência e obtenção de
recursos junto à previdência social; para fins clínicos, auxiliando no
diagnóstico, tratamento e acompanhamento de médico especializado;
para fins educacionais, relacionados aos recursos necessários para o
processo ensino-aprendizagem; e para fins esportivos, como critério de
divisão em diferentes categorias para as competições desportivas
(MUNSTER & ALMEIDA, 2005).

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A classificação da deficiência visual só tem sentido na medida


em que é usada considerando-se a individualidade do sujeito que a
possui, pois, dessa forma, o profissional de educação física, ao
considerar as características da pessoa com deficiência visual, poderá
intervir de forma mais adequada às necessidades de cada um, numa
perspectiva individual e coletiva.

Se as pessoas com deficiência visual apresentam algumas


características coincidentes, isso não quer dizer que todas elas se
expressem da mesma forma e com a mesma intensidade, mas que
muitas ocorrem com frequência nesse grupo de pessoas.

Algumas defasagens motoras que as pessoas com deficiência visual


podem apresentar:

- locomoção insegura: ao andar, arrastam os pés no chão,


dando passadas muito curtas e, muitas vezes, não conseguem se
locomover com tranquilidade e liberdade dos movimentos e a
mobilidade para a marcha é deficitária;

- controle e consciência corporal diminuída: apresentam pouco


conhecimento e controle do corpo e das possibilidades para se

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movimentar, na relação com o tempo e espaço, desde os movimentos
simples até os complexos;

- equilíbrio, agilidade, velocidade e coordenação motora global


(principalmente a grossa): essas capacidades físicas são as mais
comprometidas nessas pessoas, porém a resistência física, a
flexibilidade e o alongamento também podem se mostrar
comprometidos;

- postura: vários problemas de postura podem ser detectados,


principalmente a cifose e a escoliose, muitas vezes decorrentes do
mau posicionamento da cabeça;

- percepção espacial: a maioria das pessoas com deficiência


visual apresentam grandes defasagens no domínio dos conceitos
relativos ao espaço;

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- expressão corporal e facial: as expressões corporais para se


comunicar não são comum a essas pessoas, apresentando-se bem
reduzidas. Tal característica propicia, em muitos casos, a inibição, a
introspecção e o isolamento social;

- maneirismos: são movimentos repetitivos revelados por


essa clientela - coçar os olhos, balançar o corpo e outros;

Algumas defasagens afetivas, sociais e cognitivas bastante comuns


nesse grupo de pessoas:

- auto-confiança e autoestima: essas características se revelam,


na maioria das vezes, com potencial negativo;

- medo: é muito comum essas pessoas mostrarem-se medrosas isso


pode estar relacionado às situações e ambientes novos, às pessoas
desconhecidas, entre outros fatores;

- dependência: elas têm uma grande tendência a ser


dependentes das pessoas que estão ao seu redor, sendo necessário
um trabalho no sentido de que isso não ocorra;

- dificuldade de estabelecer relações do seu EU com as pessoas e o


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ambiente: costumam ser pessoas mais reservadas ao falar, sobre o que


falar e com quem falar, tendendo ao isolamento e desinteresse pela
interação social, devido às barreiras inseridas nos relacionamentos;

- não têm autoiniciativa para as ações motoras: precisam de


muitos estímulos, motivação e interesse, para se movimentarem;

- muitas vezes se revelam ansiosas e inseguras com as situações


e as outras pessoas;

- podem apresentar dificuldades na formação e utilização de


conceitos, num âmbito geral, e também em relação ao corpo em
movimento;

- defasagem cognitiva: é conjuntural e não, estrutural, no


desenvolvimento da pessoa com deficiência visual.

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Acreditamos que a maioria dessas defasagens sejam mais


comuns em pessoas com deficiência visual que não receberam e não
recebem estímulos positivos para descobrirem o corpo que se movimenta
e pode se movimentar, independentemente da limitação visual
apresentada. A superproteção também é outro fator limitante do
desenvolvimento motor, afetivo, social e cognitivo dessas pessoas.
Portanto, elas necessitam ser apresentadas a muitas possibilidades e
incentivos, para se movimentarem com segurança, confiança, liberdade,
naturalidade e vontade, diminuindo assim, cada vez mais, as defasagens
que podem aparecer.

Concordamos com Winnick (2004), quando afirma que cabe ao


profissional de educação física promover inúmeras experiências motoras,
com muita motivação e estímulo, com o intuito de levar essas pessoas a
se descobrirem e se conhecerem a partir das suas capacidades e
potencialidades, até então desconhecidas. Não devemos nos inibir, ao
pensar e elaborar propostas para essa clientela, o grau de dificuldade e
complexidade de cada tarefa a ser oferecida deve atender às
necessidades de cada aluno em particular, sem perder de vista,
entretanto, o grupo no qual ele está inserido.

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AS ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTIVAS

Pensando no professor de educação física ministrando aulas para


as pessoas com deficiência visual, não podemos deixar de tecer algumas
considerações significativas, as quais devem permear o trabalho a ser
desenvolvido com essa clientela.

1) Avaliação: ao ministrarmos as diferentes atividades físicas, é


fundamental que se realize uma avaliação detalhada dos alunos, dessa
forma teremos em mãos dados fundamentais para elaboração e
planejamento rigoroso do roteiro do nosso trabalho e, assim, para
alcançarmos qualidade e sucesso durante o processo.

Algumas informações básicas são necessárias a fim de obtermos


dados que possam subsidiar todas as ações a serem adotadas no
transcorrer das tarefas. Estes podem estar associados a: saber se é
cegueira ou baixa visão; se a perda visual é congênita ou adquirida e, se
adquirida, há quanto tempo; quais as condições físicas de saúde
apresentadas; se a pessoa faz acompanhamento com outro profissional,
de que tipo; quais os tipos de atividades de que gosta e não gosta; já
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participou de outro programa de atividades físicas e esportivas?; entre


outras que o profissional julgar importantes.

Essa anamnese propiciará informações significativas para o


professor elaborar sua proposta de trabalho com maior eficácia e
qualidade, oferecendo experiências as quais atendam às condições,
capacidades, desejos e expectativas dos alunos, estimulando-os e
motivando-os a querer cada dia mais se movimentar de maneiras
diferentes e desconhecidas.

2) Adaptações: devemos enfatizar que todo ser humano,


mesmo com muitas semelhanças, apresenta diferenças inúmeras e
diversificadas. Assim, há que se considerar, sempre, que todo e qualquer
grupo a receber intervenção é único e apresenta suas próprias
características.

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Rodrigues (2006, p.41) faz uma reflexão sobre o que é o processo de


adaptação, dizendo:

Adequar a exigência da tarefa ao nível de


desempenho do executante. Cada vez que se
altera a exigência e as condições de
desempenho de uma atividade, de forma que
um dado executante possa realizá-la ou
envolver-se num processo de aprendizagem
que está sendo adaptada. Tornar uma atividade
mais exigente em termos perceptivos, tomada
de decisão, desempenho motor ou elaboração
cognitiva é também adaptar.

Nesse processo, o mesmo autor salienta que o aluno, a tarefa e o


envolvimento de todos para a realização da atividade podem apresentar
variáveis diferentes, o que implica uma atuação minuciosa do profissional
quanto à identificação e intervenção de todos os dados, para poder decidir
sobre o grau de complexidade que melhor se ajusta ao nível de
desempenho e desenvolvimento do participante, com relação aos

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objetivos pretendidos.

Ao conseguirmos adequar essas considerações, os participantes


certamente alcançarão sucesso nas inúmeras tarefas propostas e isso
trará benefícios e melhoras significativas em muitas das defasagens
apresentadas pelas pessoas com deficiência visual.

3) Procedimentos de ensino: estes exigem conhecimento do


grupo e compreensão dos requisitos mínimos para a elaboração e
aplicação das atividades físicas e esportivas, a partir das capacidades e
limitações apresentadas. A metodologia a ser usada deve ser adequada
às características do grupo, se possível deve-se utilizar um método de
diálogo com os alunos, no sentido de se buscar a participação deles na
escolha de algumas propostas a serem desenvolvidas, bem como, para
avaliação dessas propostas. Dessa forma, o interesse, a motivação, a
autonomia, o poder de decisão, a criatividade, o potencial crítico, a

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segurança, a confiança, as relações com as pessoas serão despertadas e


solicitadas de todos os envolvidos, levando tanto os alunos quanto o
professor aos desafios constantes e à autossuperação nos aspectos
motores, afetivos, sociais e cognitivos. A observação minuciosa do
professor, com relação a esse item, se faz imprescindível e constante. Ele
deve estar aberto e flexível às mudanças, as quais podem acontecer em
qualquer momento. Concluindo, o planejamento, a organização e a
avaliação das tarefas deve contar com o envolvimento de todos os
participantes, para que os objetivos traçados sejam sempre alcançados.

Seabra Júnior (2008) nos apresenta inúmeras orientações relacionadas às


adaptações nos procedimentos de ensino para a clientela em questão,
dentre as quais destacamos:

- chamar sempre o aluno pelo nome;

- ao chegar e sair de perto dele, avisá-lo;

- cuidar para não superprotegê-lo, aos poucos introduzir


autonomia na realização das suas ações cotidianas, como ir ao banheiro,
beber água, tirar e colocar os sapatos e outros;

- sempre que alguém diferente chegar, comentar com ele;


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- ensinar regras, posições e estratégias das diferentes


modalidades esportivas, para poderem assistir a um jogo de modo
participativo;

- não restringir o uso dos verbos ver, olhar e enxergar;

- adequar o ambiente às condições dos alunos, evitar muito


estímulo sonoro que possa atrapalhar a compreensão das informações
dadas pelo professor ou pelos demais colegas;

- escolher locais bem iluminados, para estimular a visão residual


daqueles que são de baixa visão;

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- cuidar dos limites dos espaços das quadras, salas e outros


ambientes, primando sempre para a segurança de todos e evitando
acidentes;

- a comunicação oral é fundamental e deve ser muito detalhada,


porém sem exageros, para não confundir a elaboração dos pensamentos
dos alunos; entre outros.

4) Recursos materiais: são os equipamentos utilizados para a


execução das atividades físicas e esportivas, podem ser utilizados, desde
a aprendizagem dos movimentos mais simples, até os mais complexos,
como o treinamento de uma modalidade esportiva específica. Muitos
desses equipamentos são especiais e próprios para um melhor
desempenho das pessoas com deficiência visual, como por exemplo, as
bolas com guiso usadas nos esportes. Seabra Júnior (2008) mostra
algumas práticas que devem ser utilizadas, sempre que possível:

- usar sons e marcadores sonoros para indicar todos os tipos de


orientações espaciais;

- usar cores contrastantes, brilhantes e fortes para estimular os


alunos com baixa visão;

- envolver bolas com saco plástico ou papel celofane e fita crepe,

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para produzirem som ao rolar;

- utilizar a mesma nomenclatura técnica nas aulas, para o aluno


não se confundir ao executar uma tarefa;

- substituir informações visuais por táteis e / ou auditivas;

- proporcionar aos alunos experiências diversas com materiais


bem diferenciados com relação a peso, tamanho, estrutura, textura, cor,
entre outros.

As atividades físicas que as pessoas com deficiência visual


podem praticar são, basicamente, as mesmas que qualquer outra pessoa
pratica. Com respeito aos conteúdos próprios da educação física - o jogo,
a ginástica, a dança e as lutas - elas poderão vivenciar todos aqueles que
puderem receber adaptações na sua aplicação e execução. Dependendo
do local, do tipo de trabalho a ser desenvolvido e da clientela a ser
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atendida, as propostas voltadas ao lazer são necessárias, bem aceitas e


bem aproveitadas pelos alunos.

Os esportes reconhecidos pelas Confederações Internacionais e


mais praticados pelas pessoas com deficiência visual são: golball,
natação, atletismo, futebol de salão, iatismo, judô, ciclismo, hipismo. Isso
não significa que elas não possam experimentar outras modalidades
esportivas; por exemplo, os esportes na natureza têm sido muito
trabalhados e estudados, como nos mostra Munster (2004). Portanto, o
professor, a partir do momento que conhece sua clientela e pensa numa
modalidade esportiva que ainda não foi trabalhada, desejando criar
condições para que isso aconteça, pode fazê-lo, desde que busque e
utilize o máximo de conhecimentos e informações, para alcançar suas
metas com segurança e qualidade.

A seguir, mostramos um exemplo de atividade desenvolvida com


um grupo de 8 pessoas com deficiência visual adquirida, adultos, e com
muitas defasagens motoras, sociais e afetivas:

Objetivo da aula: locomover-se de diferentes formas, explorar o


espaço seguindo os sinais sonoros emitidos pelos colegas. Usar a
criatividade e a cooperação.

Materiais: um arco grande e objetos que emitem som.


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Procedimentos: 1) os alunos são orientados a se deslocar pelo


espaço demarcado (tatame), ao ouvirem um sinal sonoro definido
previamente. Devem se locomover, de um modo diferente do andar, e se
deslocar pelo espaço à vontade, procurando ser bem originais; 2) segue-
se a mesma proposta, mas cada aluno deve descrever seu movimento
para os outros realizarem; 3) forma-se uma roda, com todos os
participantes de mãos dadas, e um arco entre duas pessoas deve ser
passado pelo corpo de todas as outras da roda, sem se soltarem as mãos.

Avaliação/observação: na atividade 1, alguns engatinharam, outro


saltitava na ponta dos pés, outro levantava o joelho, mas alguns alunos
resistiram em trocar de movimento, o que levou o professor a intervir,
mostrando algumas possibilidades para a realização da tarefa. No
momento da descrição dos movimentos da atividade 2, alguns alunos
demonstraram muita facilidade e outros um pouco de dificuldade, mas
todos foram capazes de descrever um movimento para os colegas
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realizarem. Quando necessário, o professor auxiliava o aluno na


descrição, para que todos alcançassem o sucesso. Na roda, atividade 3,
muitas perguntas surgiram no início, como fazer, um deles duvidou que
era possível a execução, mas com o início da atividade, foi sendo
explicado que o arco deveria passar pelo corpo. Construíram uma forma
própria de passar o arco e, com o passar do tempo, foram ficando cada
vez mais rápidos e ágeis e todos conseguiram realizar com sucesso e
prazer a tarefa proposta (PORTO et al, 2007).

Podemos observar, por esse breve exemplo, que foi trabalhada


uma atividade muito explorada para pessoas sem deficiência e a
intervenção do professor foi acontecendo, à medida que os alunos foram
demonstrando necessidade. Um dos pontos a ressaltar é o diálogo
possível de ser construído entre todos os envolvidos, pois, à proporção
que o professor vai propiciando ao aluno, nas aulas, a oportunidade de
participar, criando, opinando e questionando, este percebe e sente que
tem um papel muito importante nos encontros, para que a aula se torne
um momento agradável, que lhe permita adquirir muitos e novos
conhecimentos.

A pessoa com deficiência visual deve sempre receber apoio e


muitas oportunidades para participar das inúmeras possibilidades de
movimento que existem, com isso poderá surpreender-se consigo própria
e com os outros, numa relação natural com o ambiente no qual estiver

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inserida. Em muitos casos, causará espanto e surpresa aos outros, pelo
fato de suas capacidades e potencialidades serem desconhecidas por
muitos que acreditam que as pessoas que não enxergam apresentam
apenas limitações e desvantagens.

Como nos alerta Rodrigues (2006, p. 45) sobre o processo de


adaptação a atividades por pessoas com deficiência, se estas forem
adequadamente desenvolvidos, a população em questão terá chance de
ser participativa em todos os ambientes sociais, “porque a sua diferença
poderá deixar de ser algo de inédito e “a parte”, para passar a ser um dos
valores da sempre presente, sedutora e criativa diversidade humana.”

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Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física

Referências

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