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Humanitarian reason: a
moral history of the present. University of California Press, pp. 1-20.
FASSIN, Didier. 2012. Cap.6: Massacre of Innocents: Representing Childhood in the Age of
AIDS. In. Humanitarian reason: a moral history of the present. University of California Press,
pp. 161-180.
FASSIN, Didier. 1994. O domínio privado da saúde pública. Poder, política e AIDS no Congo.
In. Annales. Histoire, Sciences Sociales. Ano 44, N.4, pp. 745-775.
A epidemia da SIDA, que se inicia na África na década de 80 é o terreno eleito pelo
autor para entender o funcionamento do aparelho sanitário no Congo, o país estudado. A
doença da SIDA, portanto, é a mote que relaciona três termos onde o poder da biopolítica
(Foucault) é instaurado: saúde, sexo e política. Mesmo assim, observa-se também a reação da
sociedade frente a esse poder, o que nem sempre é considerado.
A questão paradoxal que o autor indaga no texto, é o porquê que no Congo, o país
onde há o maior número de casos de SIDA, e onde esta é objeto de políticas públicas, a
epidemia não é tratada como uma questão política (do espaço público)- não obstante o
contexto de democratização do país? Por que os discursos sociais e éticos são deixados para o
plano privado? E sendo assim, em que termos aparecem?
A SIDA como qualquer epidemia mobiliza medos e outras representações coletivas que
demandam por um sentido. Mas historicamente observa-se um enorme zelo para tratar do
assunto na mídia, o que de fato só ocorre na década de noventa. Nesse contexto também fica
saliente o fato da África ser o palco mundial do desenvolvimento da epidemia, o que dá
margem a “tentação” da explicação culturalista, que costuma enfocar sobretudo um
imaginário exotizante- as práticas rituais e sexuais africanas. Soma-se a isso um debate de tom
moralista, que de pronto desperta a reação a um possível racismo adormecido, desde o
período colonial. Esse tom moralista é aos poucos substituído na mídia pelo discurso técnico
sobre a doença. Nestes predomina o tom neutro, onde a ênfase recai na mera apresentação
das estatísticas e indicadores.
Esse modo como a AIDS aparece no espaço público é revelador de um aparelho sanitário
medicalizado, hierárquico, vertical e dependente de ajuda externa. Aqui lembramos do texto
de Minayo, pois o hiato da questão (se entendi direito) se traduz justamente por uma questão
de pesquisa qualitativa, ou seja, indagar na base, os fundamentos e respostas coletivas ao
problema. Mas o que acontece é que história da Aids no Congo de desenrola num grande
desencontro: onde as políticas publicas são implementadas num modelo standart
internacional que opera com pouca eficácia, e a mídia e o meio político se abstém de qualquer
debate moral.
A razão da abstenção do debate público sobre a AIDS é a noção de perigo (tanto no
plano privado quanto público) – que só existe quando enunciado -e a ameaça que isso traria à
esfera de poder – tanto do poder “negro” da feitiçaria; como o “branco” da administração
(seguindo a distinção de Marc Augè). O silêncio não é portanto uma ausência de saber, mas
uma recusa de dizer.n Esse apartamento da saúde em relação às questões sociais e políticas
Clima de instabilidade polítca
O silencio é porque a epidemia ilumina as relações de poder faz manifestas as tensões da
política pública, as