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Fichamento- estética da fotografia perda e permanência

A fotografia, portanto, tende a representar os fenômenos externos de maneira perspectivista.


Ora, Erwin Panofsky demonstrou que a perspectiva não é um meio neutro que permite restituir
a realidade, toda a realidade. Ela não se reduz a um simples problema técnico e matemático,
mas implica uma filosofia particular do espaço e da relação entre sujeito e o mundo. Com relação
a essa falta de neutralidade da perspectiva, a fotografia não pode ser neutra: ela revela um
ponto de vista particular sobre o mundo. Aliás, é isso que constitui sua força e sua riqueza. De
modo geral, o amador e o homem de bem ocultam essa estruturação, o que está na origem de
certas mitologias da fotografia, como a do “isto existiu”.

Soulages (2010, pag 87)

A máquina fotográfica não é um olho, e menos ainda um par de olhos. Ela não sofre as
transformações ópticas, químicas e nervosas que atingem o olho e fazem com que sua visão
esteja incessantemente e movimento e em mutação. Ela é atingida da mesma maneira pela luz,
pelos contrastes e pelos fatores temporais da percepção. Não é habitada permanentemente
pela atenção e pela busca visual. Em resumo, uma foto nunca é um olhar que teria sido
congelado. Além disso, o espectador não olha uma foto como olha o mundo. Aliás, é o que
constitui o interesse de uma foto: ela permite aprender não a ver, mas a receber de maneira
diferente uma imagem visual. Diante de uma foto, o espectador obedece a uma outra estrutura
de expectativas quanto à representação, ao reconhecimento, à rememoração, à emoção, ao
imaginário, ao desejo, à morte, etc. Finalmente, o dispositivo fotográfico e a imagem fotográfica
condicionam também as diferenças entre a recepção de uma foto e dos fenômenos visuais do
mundo: o tamanho dos objetos vistos não é o mesmo, a relação com o concreto e abstrato
muda, os vínculos com o tempo e a duração são totalmente diferentes; o movimento
desaparece; as cores são transformadas e até substituídas pelo preto e branco; os quatro outros
sentidos não mais acompanham a visão da mesma maneira: o cheiro, o som, o gosto e a
tatilidade de uma foto não são os dos fenômenos. Vê-se então de um outro modo e outra coisa.

Soulages (2010, pag 87 e 88)

A fotografia não pode ser a reprodução do real, que é sempre infinitamente complexo e
diferente. Quando é classificada como “realista”, é sempre em função de uma certa ideia do
realismo e de uma dada situação histórica.

Soulages (2010, pag 88)

“A fotografia fala, ao mesmo tempo, do fotografado e de como ele é fotografado. Mas quando
tenho uma fotografia sua, não é você que eu vejo, é uma fotografia. É uma transformação, e é
isso que me interessa.”

Soulanges comentando sobre os questionamentos de Garry Winogrand acerca da fotografia.

Soulages (2010, pag 89)


Fazer uma introdução com a história de minha avó e sobre minha história com a fotografia

Pontuar na minha introdução que eu vou trazer um ponto de vista filosófico e não semiológico,

Pg 90 (ver paragráfo sobre o cerne do problema)

A fotografia não é, pois, a reprodução de algo que é, mas a de uma imagem]: essa diferença é
fundamental, e nós a encontraremos na abordagem filosófica. Dessa forma, segundo Schaeffer,
“a impressão fotográfica é o registro de um traço visível, extraído de um real polimorfo, e não a
apresentação ‘natural’ originária”.

Soulages (2010, pag 92)

“Toda imagem fotográfica é, a um só tempo, signo informacional (índice icônico) e obra de arte
(boa ou má), ou seja, é simultaneamente, o registro do ‘real’ e uma figuração”. Toda a força da
fotografia está na sua ambivalência, nessa lógica do “ao mesmo tempo”. É o que explica, em
parte, a passagem do sem-arte para a arte.

Soulages (2010, pag 92 e 93)

Também a fotografia não pode deixar de encontrar o argumento. A fotografia mais interessante-
pois é a mais rica- é aquela que leva a sério e dessa forma interroga-se sobre a existência, sobre
o ser e sobre ela mesma. Os problemas – o que é a existência? O que é o ser? – tem pois, como
correlatos, os problemas: o que é o objeto a ser fotografado? O que é uma foto? O que é a
fotografia? Trata-se da teoria do conhecimento, da estética e da existência. A fotografia convoca
a filosofia.

Soulages (2010, pag 93 e 94)

Nosso objetivo é duplo: demonstrar que o real não pode ser apresentado como tal pela
fotografia e que essa impossibilidade e essa falta constituem o valor da fotografia

Pagina 94

Representar não é assemelhar-se. Isso é verdadeiro também para a fotografia: a foto representa
o objeto a ser fotografado, mas não se assemelha a ele. A confusão entre representação e
semelhança está na origem de muitos erros teóricos referentes à fotografia. Não esquecemos
que mapa geológico da França, por exemplo, representa a geologia da França, mas não se
assemelha a ela.

Soulages (2010, pag 100)

O artista não fica no plano das aparências. Sabe que são apenas aparências e não a realidade tal
e qual; o realismo é, portanto, impossível. O artista, diante da infinidade de fenômenos
possíveis, pode criar seu mundo, que, na verdade, não existe mais, mas é tão fantástico como o
dos fenômenos em qualquer escala que nos situemos. É por essa razão que ele não torna visíveis
os fenômenos já visíveis, ele torna visível o ainda não visto: não é essa também a funão da
fotografia?

Soulages (2010, pag 104 )

Fotografar para Rabot, é questionar seu ponto de vista. Ele consegue fazer isso confrontando-
se com a matéria da fotografia.

Pagina 119

Ao se confrontar com o objeto a ser fotografado, a fotografia, por um lado faz a experiência de
seus limites e de seus poderes – o objeto transcendental é impossível, o objeto fotográfico deve
ser trabalhado -, e, por outro lado, a experiência do enigma do real. Ela aparece, pois, como uma
interrogação. A fotografia sem arte acredita realizar, às vezes, essa impossível apreensão, a
fotografia como arte a explica, A tomada de consciência dessa impossibilidade é a condição de
possibilidade de obras fotográficas, à medida que a crença na apreensão fotográfica do real é
afastada.

(Soulanges, 2010, pag 121)

Toda fotografia pode ser considerada sob o ângulo do documento ou sob o ângulo da obra de
arte. Não se trata de duas espécies de foto. É o olhar de quem a considera que decide. Jean-
Claude Lemagny, Enrichir, conserver comminiquer

Há uma postura do sujeito que, diante de uma foto, a recebe num horizonte de expectativa que
é da esfera da documentação ou da arte; a expectativa, como sabemos, pode ser frustrada tanto
em relação à arte quanto em relação à documentação e não desembocar na declaração: “ Isto
é uma obra” ou “Aquilo é um documento”

(Soulages, 2010, pag 159)

No entanto, os fatos estão aí: fotos tiradas isoladamente e até conjuntos inteiros de fotos são
transferidos da esfera do sem-arte para a da arte- classificamos como “sem-arte”aquilo que não
é feito com uma intenção, um projeto, uma vontade, uma pretensão artísticos: a maior parte
das fotos pertence primeiramente à esfera do sem-arte.

(Soulages, 2010, pag 159)

“O que conta na imagem não é o pobre conteúdo, mas a louca energia captada prestes a eclodir”
escreve Deleuze.
A transformação em obra no campo da fotografia é consequência de uma libertação- como se
dá no parto- de energia e de uma libertação de forças cativas; o trabalho- no sentido em que é
empregado para o parto e não mais simplesmente no sentido hegeliano- com o negativo
pertence verdadeiramente à esfera de uma maiêutica energética e estética. A aesthesis total é
então rainha e mãe. A obra de arte pode nascer para quem se dispõe a recebe-la.

RUMO A UMA ESTÉTICA DO IMAGINÁRIO

O conhecimento da arte fotográfica obriga-nos a pensar quanto à fotografia o que Blanchot


pensava quanto à arte em geral: “A obra não traz certeza nem clareza; é por isso que a
imaginação criadora do receptor pode sonhar diante de uma foto.

Soulages (2010, pag 202)

A fotografia fala ao mesmo tempo do fotografado e do modo como é fotografado. [...] O que me
interessa é quando a forma e o conteúdo estão em equilíbrio.

Garry Winogrand

Só pela arte podemos sair de nós mesmos, saber o que vê outrem de seu universo que não é o
nosso, cujas paisagens nos seriam tão estranhas como as porventura existentes na Lua. Graças
à arte, em vez de contemplar um só mundo, o nosso, vemo-lo multiplicar-se, e dispomos de
tantos mundos quantos artistas originais existem, mais diversos entre si do que a os que rolam
no infinito, e que, muitos séculos após a extinção do núcleo de onde emanam chame-se este
Rembrandt ou Vermeer, ainda nos enviam sues raios. (citação de Proust, pag. 207)

Arbus pertence a seu século, por sua vida, por sua abordagem do mundo e por sua técnica
artística. Não se pode deixar de pensar na vida dessa fotógrafa diante do absurdo e da loucura
desvendados e indicados por suas fotos. Aliás, um fotógrafo sempre se fotografa a si mesmo
quando fotografa o outro. Essa condição de uma impossibilidade da objetividade da fotografia
é a condição da possibilidade da fotografia como arte. Sem cair no subjetivismo, nem em uma
concepção da arte compreendida como simples reflexo ou expressão do artista, podemos,
entretanto, afirmar que as fotos de Arbus a designam para nós, retomando a fórmula de Hussel,
(aspas) em carne e osso, lutando entre vida e morte, portanto, como um ser que sofre, chamado
e atraído pela morte. Com menos de 50 anos, em 1971, Arbus suicida-se.

página 215- ver a forma que o livro analisa metodologicamente as obras


CAPITULO 9

Neste capítulo, as relações entre a fotografia e as outras artes são abordadas a partir do
problema da cocriação: por que e como a fotografia pode realizar uma cocriação com uma outra
arte? Quais são os pressupostos, as dificuldades e as implicações, de tal procedimento?

(propor uma comparação entre fotografia e performance na introdução do capitulo 2)

Similitude

Superioridade

Diferença

Inversão

Mudando de lugar, a foto pode mudar de natureza e mudar a natureza do novo lugar:
metamorfose da arte.

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