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Fluxo de caixa

Introdução
As empresas, para gerar vendas, necessitam de ativos fixos, independen-
temente de estarem ou não em um processo de crescimento. Quando uma
empresa encontra-se em fase de expansão, necessita de investimentos adi-
cionais em capital de giro, resultante do aumento em estoques e contas a
receber, e dependendo do grau de utilização de sua estrutura, de novas in-
versões em ativo fixo.

Novos investimentos precisam ser financiados, gerando novas obrigações


relativas aos recursos utilizados, sejam próprios ou de terceiros. Esse proces-
so pode resultar em problemas de fluxo de caixa, dependendo do custo e da
forma como os recursos são captados e empregados.

Deficits no fluxo de caixa, por outro lado, indicam que os recursos de finan-
ciamento utilizados para a manutenção da empresa foram obtidos em pata-
mares inadequados, em termos de prazos e taxas, gerando descasamentos
que podem comprometer, num primeiro momento, a liquidez da empresa
e, em se mantendo sem as devidas correções, problemas de solvência que
podem levar uma organização à falência.

Por esse motivo, a administração da liquidez, ou seja, da capacidade da


empresa em fazer frente aos compromissos assumidos, é uma das ativida-
des mais importantes do administrador financeiro. Para desempenhar essa
função, o profissional de finanças utiliza um dos principais instrumentos de
análise e controle financeiro: o fluxo de caixa.

Através da utilização do fluxo de caixa, o administrador pode empregar um


instrumento que lhe permite cumprir seu principal objetivo: a maximização
do retorno dos proprietários, sem, no entanto, comprometer a liquidez – redu-
zindo, dessa forma, o risco incorrido pelos investidores no capital da empresa.

O fluxo de caixa é um dos instrumentos mais importantes para a admi-


nistração eficaz do binômio rentabilidade versus liquidez, refletido nos níveis
das disponibilidades financeiras (nos demonstrativos contábeis contabiliza-
dos nas contas de caixa, bancos e aplicações financeiras de curto prazo), área
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considerada como a mais sensível e delicada dentre aquelas componentes


da chamada área financeira da empresa.

O fluxo de caixa tem por objetivo primordial a projeção das entradas e


das saídas dos recursos financeiros da empresa, em um determinado perío-
do de tempo. Lembrando sempre que os recursos que já entraram no caixa
da empresa, e aqueles que já foram utilizados para fazer frente a compromis-
sos assumidos, fazem parte do livro caixa e não do fluxo de caixa, ou seja, só
existe fluxo de caixa do futuro.

Um conceito importante, quando falamos em fluxo de caixa, diz respeito


à diferença entre os lançamentos realizados nesse importante instrumento
de gestão financeira da empresa e os lançamentos realizados nos livros con-
tábeis. Por ser uma projeção, somente os valores financeiros futuros impac-
tarão o fluxo de caixa, nas datas previstas e não na data em que ocorrem.

Essa diferença conceitual significa que uma venda a prazo realizada hoje,
irá gerar um lançamento nos demonstrativos contábeis na data de emissão
da nota fiscal de venda. No fluxo de caixa, o valor da venda será lançado na
data prevista de pagamento, já levando em consideração o eventual risco de
atraso de pagamento pelo cliente.

Analogamente, uma despesa realizada hoje será refletida nos demonstra-


tivos contábeis na data de emissão do documento que suporta o gasto (nota
fiscal etc.). No fluxo de caixa, esse valor será lançado na data prevista de pa-
gamento. Isso significa que podemos ter uma despesa lançada, por exemplo,
hoje nos demonstrativos contábeis e projetada para pagamento no fluxo de
caixa para daqui a sessenta dias (essa diferença de prazo reflete o prazo con-
cedido para pagamento).

O pleno entendimento desses conceitos é fundamental para que possa-


mos compreender os principais objetivos desse demonstrativo. Dentre eles,
destacamos:
 prognosticar as necessidades de captação de recursos;
 aplicar os excedentes de caixa nas alternativas mais rentáveis para a
empresa, sem comprometer a liquidez.

Outros objetivos igualmente importantes podem também ser considera-


dos na elaboração do fluxo de caixa. Dentre esses, listamos os seguintes:
 proporcionar o levantamento das necessidades de recursos financeiros,
para a realização das transações definidas no planejamento da empresa;
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Fluxo de caixa

 empregar da forma mais eficaz os recursos disponíveis, evitando que


fiquem sem remuneração (a remuneração líquida obtida tem que ser
necessariamente maior do que o custo de capital );

 planejar e controlar os recursos financeiros em termos das entradas e


saídas, através da análise e controle das atividades de planejamento
de vendas e despesas, índices de atividades, prazos médios e necessi-
dades de capital de giro;

 saldar as obrigações incorridas pela empresa tempestivamente, de for-


ma a aumentar cada vez mais a capacidade de contrair crédito;

 buscar o equilíbrio financeiro entre os fluxos de entradas e saídas de


recursos;

 analisar as fontes de crédito onerosas, de forma a minimizar o custo de


utilização das mesmas;

 prever desembolsos de caixa em volumes elevados, em épocas de en-


caixe baixo (questão fundamental para alguns segmentos, principal-
mente no final do ano);

 desenvolver controles eficazes dos saldos de caixa e de duplicatas a


receber, objetivando reduzir, idealmente eliminar, os valores vencidos
e não recebidos;

 coordenar os recursos de financiamento dos sócios e daqueles que


não têm participação no capital da empresa, a serem utilizados para
suprir as necessidades de investimento da empresa.

Uma questão fundamental com relação à projeção do fluxo de caixa, diz


respeito à atividade de acompanhamento. O acompanhamento diário e sis-
temático entre os valores projetados para as entradas e saídas de caixa e o
efetivamente realizado, além de permitir a análise da forma como uma em-
presa desenvolve sua política de captação e aplicação de recursos, permi-
te identificar o volume de variações ocorridas e, principalmente, as causas
dessas variações.

Através do processo de acompanhamento, a empresa tem condições de


permitir a todos os participantes do processo de elaboração do fluxo de caixa
– ou seja, todos os funcionários, já que todos os colaboradores afetam o superá-
vit ou deficit a partir das decisões tomadas no dia a dia, a aprender com os erros
e acertos, procurando evitar os erros e aumentar a quantidade de acertos.
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Visão da gestão financeira


Apesar de sua extrema importância na moderna gestão das empresas,
não é incomum encontrarmos a administração do fluxo de caixa realizada de
forma completamente dissociada das demais áreas da empresa – fato que
compromete de forma irremediável a qualidade do processo decisório.

Nas empresas em que esse fato ocorre, algumas características importan-


tes podem ser observadas. A primeira é que para o responsável pela gestão
financeira da empresa, esse instrumento é apenas o resultado das ações das
demais áreas da empresa, ficando sua função relegada a efetuar os paga-
mentos compromissados, nas condições de compra acertadas pelas demais
áreas, a receber e cobrar os clientes de acordo com os prazos de venda fir-
mados pela área de vendas e a buscar, junto às instituições financeiras, as
necessidades de recursos apontadas pelo fluxo.

Como resultado dessa característica, os responsáveis pela gestão finan-


ceira da empresa não se sentem responsáveis pelos superávits ou deficits
apontados no fluxo de caixa por não poderem, segundo essa visão, influir
nos fatores que irão afetar os resultados financeiros da empresa, limitando-
-se a efetuar pagamentos, cobrar clientes, aplicar eventuais sobras de caixa
no mercado ou captar recursos, quando necessários. Em outras palavras,
adotam uma postura de reagir ao invés de proagir.

Outra característica importante observada diz respeito ao entendimento


do fluxo de caixa como sendo o instrumento de trabalho apenas da área
financeira, e não da empresa como um todo, fato que elimina o necessá-
rio comprometimento das demais áreas, com relação à geração de recursos
para fazer frente aos compromissos assumidos, necessários à realização dos
objetivos da organização.

Felizmente, a manutenção de níveis de liquidez adequados aos objetivos


traçados pela alta gerência da empresa, refletidos através da administração
integrada do fluxo de caixa, fortemente proativa no sentido de atingir os re-
sultados planejados, vem se tornando uma regra para a grande maioria das
empresas, independentemente de seu tamanho e segmento de atuação.

Esse enfoque prima pela visão dos negócios totalmente integrados à


manutenção de patamares adequados de liquidez, procurando sistematica-
mente as melhores oportunidades de aplicação de recursos nas atividades
operacionais, voltadas aos objetivos primários da empresa, buscando, além
disso, atingir os seguintes objetivos:
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Fluxo de caixa

 quantificar as ações tomadas por todas as áreas e seu impacto nos re-
sultados financeiros e econômicos, evitando a busca pelo cumprimen-
to de interesses setoriais em detrimento das necessidades globais da
empresa;

 analisar as consequências financeiras de todas as decisões, sejam elas


operacionais ou estratégicas;

 definir uma política global de gestão da liquidez, com relação a itens que
afetam a performance das várias áreas da empresa, como, por exemplo,
as condições de venda e a política de cobrança e de compras;

 valorizar o fluxo de caixa como um dos instrumentos mais importan-


tes de gestão gerencial, difundindo a importância de sua correta uti-
lização e buscando comprometer a alta administração na valorização
desse conceito;

 estabelecer parâmetros de desempenho financeiro para a empresa,


como o resultado das métricas estabelecidas para as áreas, departa-
mentos e, para algumas empresas, para cada funcionário.

Etapas para a elaboração do fluxo de caixa


Analisadas essas importantes características observadas nas empresas, não
podemos nos esquecer, sob pena de comprometermos a qualidade da gestão
financeira para o processo de tomada de decisão, de que na elaboração do
fluxo de caixa, para qualquer tipo de empresa, existem três etapas distintas.

 Obtenção de informações quantitativas, e principalmente qualitativas,


necessárias à elaboração do fluxo.

 Escolha da Metodologia (forma de elaboração) do Fluxo de Caixa.

 Análise dos resultados obtidos (motivos que levaram à geração previs-


ta de superávits ou deficits).

Essas três etapas, embora andem em paralelo, são totalmente dependen-


tes uma das outras. Sem que tenhamos um tratamento sistêmico da infor-
mação, com relação à qualidade e confiabilidade, a segunda etapa estará
irremediavelmente comprometida, gerando um fluxo de caixa que será me-
ramente fruto da compilação de números, sem qualquer comprometimento
com a redução dos riscos futuros embutidos na projeção do fluxo.

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Da mesma forma, se a metodologia de elaboração não contemplar uma


forma de exposição dos resultados de fácil compreensão e entendimento
dos valores e itens componentes do fluxo de caixa – para todos os envol-
vidos no processo de elaboração –, a qualidade da análise ficará completa-
mente comprometida.

Por outro lado, se o responsável pelas decisões não tiver conhecimento


suficiente sobre as relações de causa e efeito, ou seja, dos fatores que estão
gerando os resultados positivos ou negativos, contidos no fluxo de caixa, não
estaremos elaborando o fluxo, mas sim meramente compilando números.

Isso significa que o gestor financeiro precisa ter o conhecimento neces-


sário para responder a duas questões básicas, geradas por situações que
podem ocorrer como resultantes do processo de elaboração do fluxo e pela
análise dos números:

 Quando o fluxo de caixa apresentar uma situação de superávit de caixa –


por que só isso?

 Quando o fluxo de caixa apresentar deficits de caixa – por que tudo isso?

A correta identificação dos motivos que levaram às duas perguntas ex-


postas acima e, consequentemente, a capacidade de responder a essas
questões de forma correta, a análise sistemática com relação à qualidade das
informações recebidas e a utilização de um modelo de elaboração de fluxo
de caixa, que torne o processo transparente para seus participantes, identifi-
ca que efetivamente estamos “elaborando” o fluxo de caixa.

Finalmente, não podemos nos esquecer de que a elaboração do fluxo de


caixa pressupõe uma análise periódica, detalhada e precisa do desempenho
real, ou seja, depois que aconteceu, de forma a verificar as causas – os “por-
quês” – das variações ocorridas entre os dados reais e os projetados, para não
só aprender com os erros ocorridos como também para procurar perpetuar
os acertos, refletindo esse aprendizado por meio de alterações nas previsões
elaboradas.

As três etapas mencionadas anteriormente são a seguir detalhadas.

1.ª Etapa: obtenção das informações


Tradicionalmente, quando se estuda fluxo de caixa, toda a importância
que o assunto com certeza merece fica condicionada, quase que exclusiva-
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Fluxo de caixa

mente, à análise do modelo de elaboração a ser utilizado. Questões relativas


à interligação automática, através do emprego de softwares, entre as contas
a pagar e a receber, compras e demais áreas que geram entradas e/ou saídas
de caixa, passam a ter um peso primordial no estudo das questões relativas
ao fluxo de caixa.

Embora sejam assuntos importantes, não podemos deixar de considerar


que, independentemente do modelo utilizado pela empresa, do mais sofis-
ticado, em termos de recursos computacionais empregados na sua elabora-
ção e interligação com as demais áreas, ao mais simples possível, a impor-
tância das informações demonstradas no fluxo de caixa é função direta da
qualidade dos dados recebidos das várias áreas supridoras de informação
para a elaboração do fluxo.

Isso significa que, se as informações obtidas das várias áreas da empresa


necessárias à preparação do fluxo de caixa não forem previamente analisa-
das, com relação à sua qualidade, poderemos estar meramente fazendo um
trabalho de compilação de números, e não de elaboração do fluxo de caixa.

Por esse motivo, antes de definirmos a forma como o fluxo de caixa será
elaborado se através da utilização de um programa feito em planilha eletrôni-
ca, ou de um programa interligado com as demais áreas da empresa, de forma
que sempre que uma mercadoria for adquirida uma provisão de pagamento
seja efetuada, ou quando houver a recepção física do material a informação
seja automaticamente lançada, é fundamental que a informação tenha a sua
qualidade analisada antes de ser lançada, automaticamente ou não, no fluxo
de caixa da empresa.

A sistematização e a análise constante, com relação à qualidade e prin-


cipalmente à confiabilidade das informações recebidas, pode fazer toda a
diferença entre a elaboração de um fluxo de caixa, que possa ser utilizado
pelos administradores como instrumento para proagir, ou um mero exercí-
cio burocrático sem qualquer valor.

Outro fator importante com relação à qualidade e confiabilidade das


informações, diz respeito à definição básica do fluxo de caixa, instrumento
utilizado para projetar necessidades futuras de recursos. Sabemos que toda
projeção está sujeita a riscos, por tratar-se de um horizonte de tempo não
conhecido. Sabemos também que a única forma de reduzir o risco é através
da informação. No entanto, de nada adianta agregar mais informação se a
quantidade não for função direta da qualidade.

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2.ª Etapa: escolha da metodologia de elaboração


O fluxo de caixa é considerado um dos principais instrumentos de análise
e avaliação de uma empresa, auxiliando a percepção sobre a movimentação
dos recursos em um determinado período. As decisões relacionadas às com-
pras, vendas, investimentos, aportes de capital pelos sócios, captação ou pa-
gamento de empréstimos, constituem um fluxo contínuo entre as atividades
supridoras e aquelas que necessitam de recursos para cumprirem seu papel
na estrutura da empresa.

A projeção do fluxo de caixa permite avaliar a capacidade de uma empresa


em gerar recursos para suprir o aumento das necessidades de capital de giro,
gerado pelo nível de atividades, rentabilizar o investimento realizado pelos
proprietários, efetuar pagamento de impostos e reembolsar os recursos apli-
cados pelos agentes que não têm participação no capital da empresa.

Na projeção do fluxo de caixa, indicamos não apenas o valor dos financia-


mentos dos sócios e dos terceiros (todos aqueles que não têm participação
no capital da empresa) de que a empresa necessitará para fazer frente às
suas atividades, mas também quando, onde e como ele será utilizado.

A projeção pode ser realizada dia a dia, mês a mês, trimestre a trimestre,
ano a ano. Normalmente, as empresas realizam projeções para os próximos
vinte a trinta dias úteis, detalhando todas as entradas e saídas de recursos a
cada dia. A cada dia ocorrido, um novo é projetado no futuro. Após esse pe-
ríodo, as projeções são efetuadas mês a mês, usualmente até o final do ano
em curso e a partir daí, ano a ano, por um período de tempo compatível com
o horizonte de planejamento estratégico utilizado.

Existem várias formas de apresentação e elaboração do fluxo de caixa. As


metodologias mais utilizadas na prática das empresas são os métodos direto
e indireto. A forma utilizada para a elaboração do fluxo de caixa pelo método
direto é apresentada a seguir:

Método direto
No método direto, o fluxo de caixa é construído a partir das informações
relativas a todas as saídas e a todas as entradas de caixa projetadas, assim
como os dados já de conhecimento da empresa – como, por exemplo, o
valor do aluguel ou de uma matéria-prima adquirida no passado.

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Fluxo de caixa

Nessa metodologia, normalmente as informações recebidas das várias


áreas da empresa são detalhadas por tipo de pagamento e respectivo venci-
mento em mapas auxiliares, ao mesmo tempo em que são sumarizadas por
categoria – como, por exemplo, fornecedores, salários, impostos, emprésti-
mos etc. A partir dos mapas auxiliares, são representadas no fluxo por cate-
goria e vencimento.

Mapas auxiliares também são utilizados para a projeção do recebimento


das vendas a prazo. Nesses mapas podemos encontrar não só a previsão de
pagamento de cada cliente, como também a correspondente expectativa,
quando for o caso, de atraso de pagamento dos valores ainda pendentes.

Para efeito de representação no fluxo, os valores a receber, relativos às


vendas a prazo, e os valores das vendas realizados a clientes que não efetuaram
o pagamento de seus débitos no vencimento, podem ou não ser sintetizados
em uma única linha, sob a denominação, por exemplo, de vendas a prazo.

Não é incomum, no entanto, encontrarmos empresas apresentando


no fluxo de caixa os recebimentos futuros relativos aos valores das vendas
a prazo, separados daqueles relativos a valores vencidos. Além disso, para
gerar mais informações qualitativas para análise, as vendas a vista projetadas
devem ser separadas das vendas a prazo, para efeito de apresentação.

Na elaboração do fluxo de caixa através dessa metodologia, os mapas


auxiliares, aos quais nos referimos anteriormente, servem para o fechamen-
to final do fluxo. A forma, consistência, periodicidade e a relevância desses
mapas, dependerão do tipo de empresa e de sua complexidade operacional.
Quanto mais complexo for o tipo de negócio a que a empresa se dedica, mais
mapas auxiliares serão necessários para o fechamento final do fluxo de caixa.

Apesar de ser a metodologia de elaboração de fluxo de caixa mais comu-


mente empregada, o método direto tem uma grande limitação. O emprego
dessa metodologia não permite ao administrador observar as variações que
podem estar ocorrendo nos saldos de vários itens importantes como, por
exemplo, as duplicatas a receber, os estoques e os valores a pagar (fornecedo-
res, financiamentos, impostos etc.), cujo acúmulo gradual poderá ser a causa
de um aumento ou redução substancial nas disponibilidades futuras de caixa.

Além disso, as variações ocorridas nos saldos das duplicatas a receber e de es-
toques, se não estiverem sendo adequadamente financiadas, aumentarão as ne-
cessidades de capital de giro, resultando em incrementos na utilização de recur-

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Finanças Corporativas

sos de fontes onerosas e aumentando as necessidades de novos recursos, para


fazer frente aos pagamentos principais e juros oriundos desses empréstimos.

A utilização de fontes de recursos inadequadas para o financiamento das ne-


cessidades de giro, tanto em termos de custo quanto em termos de prazo, pode
comprometer de forma irreversível a estrutura financeira da empresa, levando-a
a uma situação de iliquidez que pode evoluir para uma posição de insolvência.

Apresentamos a seguir, apenas a título ilustrativo, um exemplo de elabora-


ção de fluxo de caixa pelo método direto, lembrando que, por ser um exem-
plo, algumas contas indicadas podem não refletir adequadamente a realida-
de de todas as empresas. Por esse motivo, o exemplo ilustrativo a seguir deve
ser adaptado para refletir a realidade da empresa, antes de sua implantação.

FLUXO DE CAIXA Dia 1 Dia 2 ...... Dia 30


SALDO INICIAL
ENTRADAS:
+ Recebimento de Vendas a Vista
+ Recebimento de Vendas a Prazo
+ Resgate de Aplicações (valor principal) (1)
+ Juros de Aplicações (2)
= (A) TOTAL DE ENTRADAS
SAÍDAS:
+ Despesas com Vendas
+ Despesas de Pessoal
+ Aluguel
+ Compra de Matéria-Prima
+ Despesas Administrativas
+ Pagamento de Impostos
+ Pagamento de Empréstimos
+ Juros de Empréstimos
= (B) TOTAL DE SAÍDAS
(C) SUPERÁVIT / (DEFICIT) = (A) – (B)
+ (D) Empréstimos
– (E) Aplicação Financeira
= SALDO FINAL = (C) + (D) – (E)

(1) Resgate de aplicações financeiras realizadas


(2) Juros obtidos no resgate de aplicações financeiras
(D) Empréstimos contraídos no dia
(E) Aplicação total ou parcial no mercado financeiro, do superávit do dia.
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Fluxo de caixa

Exemplo:
A Sapatos Rio Belo abriu recentemente sua primeira sapataria, em uma
das ruas mais exclusivas do Rio. Apesar de os negócios estarem apresentan-
do resultados muito bons, os dois sócios desejam realizar uma programação
financeira para os próximos 3 meses, através do fluxo de caixa da empresa.

Consultando o mercado, obtiveram a informação de que as taxas nego-


ciadas pelos bancos para as operações de empréstimos estavam na média
de 3% ao mês, enquanto as taxas praticadas para as aplicações de recursos es-
tavam, também na média, em 1% ao mês. Os prazos de captação e aplicação
de recursos, no momento, estão limitados a um mês, ou seja, os valores terão
que ser resgatados ou pagos no mês subsequente à aplicação ou captação.

Na única loja da empresa, todas as vendas são feitas a vista. No entanto,


a Sapatos Rio Belo resolveu conceder um prazo de 30 dias para uma loja em
Salvador, que se interessou em distribuir seus sapatos e hoje é responsável
por 20% da receita.

A Sapatos Rio Belo tem conseguido negociar com seus fornecedores de


matéria-prima um prazo de 30 dias para pagamento. O valor do aluguel da loja é
de R$2.100 mensais e os sócios fazem uma retirada de R$20.000 cada um. Além
desses desembolsos, está previsto para o próximo mês o pagamento, em uma
única parcela, no valor de R$8.000, a título de renovação do contrato de aluguel.

A receita projetada para o mês em curso é de R$3.500.000. Para o próximo


trimestre, as vendas projetadas são de 90.000, 80.000 e 85.000 pares de sapa-
tos, enquanto as compras previstas são de 80.000 neste mês e 80.000, 75.000
e 75.000 pares nos meses subsequentes.

Atualmente, cada par de sapato custa R$40. Como política de venda, a


Sapatos Rio Belo utiliza uma margem de lucro, calculada sobre o preço de
compra (mark up), de 30%. Margem e preço de compra serão mantidos no
próximo trimestre.

Além dessas projeções, os sócios da Sapatos Rio Belo definiram como es-
tratégia de gestão do caixa, para o próximo trimestre, a manutenção de um
saldo mínimo de caixa de R$2.000. O saldo final de caixa projetado para o
final do mês em curso é de R$45.000, valor que será mantido em disponibili-
dade imediata, ou seja, não será aplicado no mercado.

Os pagamentos referentes a salários, luz, gás, telefone, impostos e demais gas-


tos, estão previstos em R$900.000, R$980.000 e R$1.050.000, respectivamente.
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Com base nas informações anteriores, elabore o fluxo de caixa da Sapatos


Rio Belo para o próximo trimestre.

Resolução:
1. Mapa Auxiliar:
Mapa auxiliar de projeção
Contas Mês atual Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4
Vendas 3.500.000,00 4.680.000,00 4.160.000,00 4.420.000,00
Recebimentos
Rio 2.800.000,00 3.744.000,00 3.328.000,00 3.536.000,00 0,00
Salvador 0,00 700.000,00 936.000,00 832.000,00 884.000,00
Compras 3.200.000,00 3.200.000,00 3.000.000,00 3.000.000,00
Pagamento de compras 3.200.000,00 3.200.000,00 3.000.000,00 3.000.000,00

2. Fluxo de Caixa:
Contas Mês 1 Mês 2 Mês 3
Saldo inicial 45.000,00 2.000,00 2.000,00
Entradas:
Vendas Rio 3.744.000,00 3.328.000,00 3.536.000,00
Vendas Salvador 700.000,00 936.000,00 832.000,00
Juros aplicação 0,00 3.369,00 3.821,69
Resgate aplicação 0,00 336.900,00 382.169,00
Total de entradas 4.444.000,00 4.604.269,00 4.753.990,69
Saídas
Pró-labore (40.000,00) (40.000,00) (40.000,00)
Aluguel (2.100,00) (2.100,00) (2.100,00)
Luvas (8.000,00) 0,00 0,00
Compras (3.200.000,00) (3.200.000,00) (3.000.000,00)
Outras despesas (900.000,00) (980.000,00) (1.050.000,00)
Total de saídas (4.150.100,00) (4.222.100,00) (4.092.100,00)
Superávit/(deficit) 338.900,00 384.169,00 663.890,69
(aplicação)/captação 336.900,00 382.169,00 661.890,69
SALDO FINAL 2.000,00 2.000,00 2.000,00

Método indireto
Esse demonstrativo é elaborado com base nos mesmos conceitos empre-
gados na elaboração do Demonstrativo de Origens e Aplicações de Recursos
(DOAR). Na realidade, é um instrumento financeiro que procura ampliar a

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Fluxo de caixa

utilidade da informação contábil, demonstrando a forma como os recursos


financeiros de curto e longo prazo foram empregados no processo de gestão
da empresa.

Apesar dos conceitos básicos empregados na elaboração do fluxo de


caixa pelo método indireto serem os mesmos da DOAR, ela apresenta as ori-
gens e as aplicações de recursos realizados em um determinado período, e
portanto não deve ser confundido com o fluxo de caixa. O demonstrativo de
origens e aplicações de recursos apresenta a forma como o capital de giro
aumentou ou diminuiu, a partir da utilização dos fundos que permitiram à
empresa realizar aplicações.

O fluxo de caixa, por outro lado, apresenta a projeção de entradas e saídas


de caixa efetivas, independentemente das datas em que ocorreram os fatos
geradores desses eventos.

Antes de apresentarmos a composição do fluxo de caixa pelo método


indireto, precisamos entender o que significa um balanço quando o analisa-
mos sob o ponto de vista da geração e aplicação de recursos.

A representação do balanço sob esse ponto de vista é a seguinte:

Ativo Passivo
Aplicações Fontes

A partir da percepção do ativo como aplicação de recursos gerados pelas


fontes passivas, precisamos lembrar que:

 O passivo representa a dívida da empresa, isto é, as obrigações com


sócios e terceiros. Isso significa que as fontes de recursos utilizadas são
originárias do passivo, sendo, portanto, representadas pelo lado direi-
to do balanço.
 Para realizarmos qualquer tipo de aplicação, precisamos primeiramen-
te obter uma fonte de recursos no passivo, ou seja, além de não existir
ativo sem um passivo, o passivo surge na empresa antes do ativo.

No ativo são representados todos os bens e direitos da empresa que estão


legalmente em seu nome, isto é, as aplicações realizadas com os recursos ob-
tidos no passivo.

Ativo Passivo
Bens
Obrigações
Direitos
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Finanças Corporativas

A análise dos aspectos mencionados anteriormente nos leva a concluir que:

 toda vez que uma conta do passivo aumenta, a empresa está gerando
uma fonte de recursos;
 toda vez que uma conta do ativo aumenta, a empresa está gerando
uma aplicação de recursos.

As fontes e aplicações de recursos não se limitam, no entanto, a essa de-


finição, uma vez que tanto as contas do ativo quanto as contas do passivo
podem diminuir de tamanho. Analisando todos esses efeitos, ou seja, au-
mentos e diminuições no ativo e passivo, podemos concluir que:

O autor.
Aumento de Aumentos de
ativo = ATIVO PASSIVO passivo =
APLICAÇÃO FONTE

APLICAÇÕES FONTES

Redução de Redução de
ativo = passivo =
FONTE APLICAÇÃO

Exemplos de Fontes e Aplicações:

 Fontes do Passivo:
obtenção de um novo financiamento,
aumento de capital,
aumento das compras de fornecedores;

 Fontes do Ativo:
venda de uma máquina,
recebimento de uma duplicata,
venda de estoque;

 Aplicações do Ativo:
compra de matéria-prima,
compra de uma nova máquina,
aplicação de recursos no mercado financeiro;

 Aplicações do Passivo:
pagamento de um financiamento,
pagamento de dividendos,
pagamento de débitos com fornecedores;
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Fluxo de caixa

Com base nos conceitos apresentados, podemos desenvolver o modelo


de fluxo de caixa pelo método indireto. Esse método é baseado na projeção
do resultado da empresa e nas variações dos elementos patrimoniais, obti-
dos respectivamente do balanço projetado e da demonstração de lucros e
perdas projetadas ou nos resultados já obtidos pela empresa, representados
por seus demonstrativos contábeis.

Existem vários modelos utilizados para o método indireto. Uma das


formas de elaboração, utilizando essa metodologia, é chamada de método
do lucro ajustado, desenvolvido por José Pereira da Silva (2005). Esse modelo
é reproduzido abaixo:

Recebimento de clientes
+ Vendas Brutas
+ Duplicatas a Receber (saldo inicial)
– Duplicatas a Receber ( saldo final)
= Total recebimento de clientes (A)

Pagamento a fornecedores/despesas
+ Custo dos Produtos Vendidos
– Estoques (saldo inicial)
+ Estoques (saldo final)
+ Fornecedores (saldo inicial)
– Fornecedores (saldo final)
+ Impostos sobre Vendas
+ Despesas Administrativas
+ Despesas de Vendas
+ Salários e Encargos (saldo inicial)
– Salários e Encargos (saldo final)
+ Obrigações Fiscais, exceto I. R. (saldo inicial)
– Obrigações Fiscais, exceto I. R. (saldo final)
+ Outros Passivos Operacionais (saldo inicial)
– Outros Passivos Operacionais (saldo final)
+ Pagamento de Imposto de Renda
= Total pagamento fornecedores e despesas (B)

= Fluxo de caixa operacional (A) – (B)

+ Aumento de Capital
– Compra de Imobilizado
+ Venda de Imobilizado
– Aquisição de Investimentos
+ Venda de Investimentos
+ Aumento no Financiamento de Longo Prazo
+/– Variação do Realizável de Longo Prazo
– Pagamento de Dividendos
27
Finanças Corporativas

= Caixa após decisões estratégicas (C)

– Tranferências de Empréstimos de L. P. para C. P.


– Pagamento de Despesas Financeiras
+ Receitas Financeiras
– Pagamento de Empréstimos de Curto Prazo
+ Baixas em Aplicações Financeiras
+ Novos Financiamentos de Curto Prazo

= Fluxo de caixa final (D)

Importante:
Como o modelo não apresenta o saldo inicial de caixa, o saldo apresen-
tado no item “Fluxo de Caixa Final” representa a movimentação de recursos
ocorrida no período.

Para utilizar essa metodologia para projeção do fluxo de caixa, basta


adaptar o modelo, incluindo o item saldo inicial.

(C) = Fluxo de Caixa Operacional


+ Aumento de Capital
– Compra de Imobilizado
+ Venda de Imobilizado
– Aquisição de Investimento
+ Venda de Investimento
+ Aumento do Financiamento a Longo Prazo
+/– Variação do Realizável a Longo Prazo
– Pagamento de Dividendos
= CAIXA APÓS DECISÕES ESTRATÉGICAS

(D) = Caixa Após Decisões Estratégicas


– Transferências de Empréstimos de L.P para C.P.
– Pagamento de Despesas Financeiras
+ Receitas Financeiras
– Pagamento de Empréstimos de Curto Prazo
+ Baixas de Aplicações Financeiras
+ Novos Financiamentos de Curto Prazo
= FLUXO DE CAIXA FINAL

Exemplo:
A Indústria de Móveis Colonial produz e comercializa, tanto no mercado
interno quanto no mercado externo, móveis em estilo colonial. No exercício

28
Fluxo de caixa

social referente ao ano passado, seus resultados ficaram muito aquém do


esperado, acendendo a luz vermelha na sala da presidência.

Preocupada com esses resultados, a diretoria da empresa decidiu, pela


primeira vez, iniciar um processo de planejamento financeiro, de forma a ve-
rificar os resultados de seus planos para o ano em curso.

Para tanto, desenvolveu algumas premissas com relação a algumas variá-


veis macroeconômicas, e também com relação a alguns fatores que poderiam
ser definidos por decisões internas, como preço de venda, por exemplo.

Com base nos resultados apresentados para o exercício anterior e nos de-
monstrativos projetados para o próximo exercício, determine a movimenta-
ção do caixa, utilizando o Método do Lucro Ajustado.

BALANÇO PATRIMONIAL
R$000’S
ATIVO REAL PROJETADO
Circulante
Caixa e Bancos 22.950 ?
Duplicatas a Receber 72.086 80.531
Estoques 138.470 267.875
233.506 373.406
Permanente
Investimentos 250.000 257.046
Imobilizado 874.897 874.897
Depreciação Acumulada (287.547) (302.858)
837.350 829.085
TOTAL DO ATIVO 1.070.856 1.202.491

PASSIVO REAL PROJETADO


Circulante 128.590 109.882
Fornecedores 74.247 204.515
Financiamentos 10.058 27.770
Obrigações Fiscais 9.450 4.134
Imposto de Renda 222.345 346.301
Exigível a Longo Prazo 187.320 187.320
Cias. Ligadas 187.320 187.320
Patrimônio Líquido 395.850 395.850
Capital 177.420 177.420
Reservas 87.921 95.600
Lucros/(Prejuízos) Acumulados 661.191 668.870
TOTAL DO PASSIVO 1.070.856 1.202.491

29
Finanças Corporativas

DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS
R$000’s
REAL PROJETADO
Receita de Vendas 550.890 676.250
Impostos sobre Vendas (101.160) (121.725)
Custo dos Produtos Vendidos (258.876) (319.744)
Lucro Bruto 190.854 234.781
Despesas Operacionais
Comerciais (67.935) (77.520)
Gerais e Administrativas (104.023) (94.430)
Depreciação e Amortização (4.790) (15.311)
Despesas Financeiras (47.920) (42.753)
Lucro Operacional (33.814) 4.767
Resultado de Equivalência Patrimonial 8.490 7.046
Lucro antes IR (25.324) 11.813
Provisão para IR 0 (4.134)
Lucro Líquido do Exercício (25.324) 7.679

Resolução:

Recebimento de clientes
+ Vendas Brutas 676.250
+ Duplicatas a Receber (saldo inicial) 72.086
– Duplicatas a Receber ( saldo final) (80.531)
= Total recebimento de clientes (A) 667.805

Pagamento a fornecedores/despesas
+ Custo dos Produtos Vendidos 319.744
– Estoques (saldo inicial) (138.470)
+ Estoques (saldo final) 267.875
+ Fornecedores (saldo inicial) 128.590
– Fornecedores (saldo final) (109.882)
+ Impostos sobre Vendas 121.725
+ Despesas Administrativas 94.430
+ Despesas de Vendas 77.520
+ Salários e Encargos (saldo inicial) 0
– Salários e Encargos (saldo final) 0
+ Obrigações Fiscais, exceto I. R. (saldo inicial) 10.058
– Obrigações Fiscais, exceto I. R. (saldo final) (27.770)
+ Outros Passivos Operacionais (saldo inicial) 0
– Outros Passivos Operacionais (saldo final) 0
+ Pagamento de Imposto de Renda 9.450
= Total pagamento fornecedores e despesas (B) 753.270

30
Fluxo de caixa

= Fluxo de caixa operacional (A) – (B) (85.465)

+ Aumento de Capital 0
– Compra de Imobilizado 0
+ Venda de Imobilizado 0
– Aquisição de Investimentos 0
+ Venda de Investimentos 0
+ Aumento no Financiamento de Longo Prazo 0
+/– Variação do Realizável de Longo Prazo 0
– Pagamento de Dividendos 0

= Caixa após decisões estratégicas (C) (85.465)

– Transferências de Empréstimos de L. P. para C. P. 0


– Pagamento de Despesas Financeiras (42.753)
+ Receitas Financeiras 0
– Pagamento de Empréstimos de Curto Prazo (74.247)
+ Baixas em Aplicações Financeiras 0
+ Novos Financiamentos de Curto Prazo 204.515

= Fluxo de caixa final (D) 2.050

+ Saldo inicial 22.950

= Saldo final de caixa 25.000

3.ª Etapa: análise dos resultados


Analisada a qualidade das informações recebidas das várias áreas da
empresa, passo fundamental para que os dados contidos no fluxo de caixa
sejam confiáveis, e com o fluxo preparado com base na utilização de uma
das metodologias de projeção dentre aquelas apresentadas, podemos ini-
ciar uma das etapas mais importantes no processo de “fazer” o fluxo de caixa:
a análise dos resultados obtidos.

Essa é a fase em que nosso conhecimento sobre as relações de causa e


efeito, dentro da estrutura financeira da empresa, é de fundamental impor-
tância. Isso significa, conforme já mencionamos, “o conhecimento necessário
para responder a duas questões básicas, geradas por situações que podem
ocorrer como resultantes do processo de elaboração do fluxo”:

 quando o fluxo de caixa apresentar uma situação de superávit de caixa –


por que só isso?

 quando o fluxo de caixa apresentar deficits de caixa – por que tudo isso?

31
Finanças Corporativas

Antes de começar a responder às perguntas anteriores, precisamos lem-


brar que uma empresa pode apresentar saldo negativo no fluxo de caixa
em um determinado momento, apesar de manter saldo positivo na geração
operacional de caixa (entradas menos saídas de caixa, oriundos da atividade
fim da empresa), fato este causado pelo pagamento de remuneração aos
proprietários.

O mesmo pode acontecer quando a empresa encontra-se em um proces-


so de montagem de uma nova fábrica, por exemplo, e se não se analisar essa
informação de forma adequada, poderemos chegar a conclusões completa-
mente equivocadas, com relação ao seu nível de liquidez.

Esses exemplos demonstram a importância de conhecermos profunda-


mente a origem das fontes e aplicações de recursos, para que possamos
saber se as relações entre as mesmas estão adequadas, em termos de casa-
mento, entre os prazos ativos e passivos, e de custo, entre as fontes passivas
e as aplicações ativas.

Sabemos que todos os recursos utilizados por uma empresa em seus


ativos (financeiramente definidos como as aplicações de recursos) têm sua
origem no passivo (representado sob o ponto de vista financeiro, como as
fontes de recursos), composto de fundos pertencentes a seus proprietários
e a terceiros. Isso significa que a totalidade das aplicações de recursos, aí
incluída o caixa, também contabilizada no ativo, pertence aos titulares das
fontes de recursos, compostos por fundos pertencentes aos proprietários e
a terceiros.

Sabemos também, exceto em situações pontuais, que a rentabilidade au-


ferida líquida de impostos nas aplicações financeiras, item pertencente ao
grupamento das disponibilidades financeiras da empresa, não é superior ao
custo dos recursos componentes das fontes, sejam recursos próprios ou de
terceiros.

Conceitos básicos como o entendimento de que o caixa é uma dívida para


com as fontes de recursos passivos e a rentabilidade líquida obtida com uma
aplicação financeira é inferior ao custo das fontes passivas, são fundamentais
para determinarmos em que situações a empresa deve ou não manter saldos
elevados de caixa.

Claro que, sob o ponto de vista da maximização de seus resultados, uma


empresa deveria idealmente manter um saldo de caixa nulo, buscando re-

32
Fluxo de caixa

cursos junto às fontes de recursos sempre que houvesse necessidade de efe-


tuar pagamentos, devolvendo esses recursos juntamente com sua respecti-
va remuneração, sempre que dele não mais necessitasse.

A manutenção de saldos positivos de caixa obriga as empresas a desen-


volverem políticas para que, ao mesmo tempo em que procuram manter um
determinado nível de liquidez como parte de sua estratégia global, possam
aumentar a rentabilidade dos recursos dos proprietários, podendo dessa
forma crescer de forma sustentada, ao mesmo tempo em que se mantêm
competitivas.

Claro está que quanto maior o saldo de caixa mantido pela empresa,
maior será o nível de liquidez imediato e menor o grau de rentabilidade
apresentado (se a empresa consegue rentabilizar seus recursos através de
aplicações financeiras a uma taxa superior à rentabilidade do negócio princi-
pal, seus proprietários deveriam fechá-la e aplicar esses recursos nessa alter-
nativa), sendo a recíproca também verdadeira, ou seja, quanto menor o nível
do caixa, menor a liquidez imediata e maior a rentabilidade (nesse caso, os
recursos das disponibilidades estariam aplicadas na atividade fim da empre-
sa). É importante frisar que em situações muito específicas essa regra pode
não prevalecer.

De qualquer forma, o nível final do caixa, além de ser função das entra-
das e saídas de recursos resultantes da atividade da empresa, também leva
em consideração o perfil de risco dos administradores da empresa. Empresas
com políticas operacionais mais conservadoras tendem a manter um nível
de caixa maior do que as empresas operacionalmente mais agressivas.

Outro aspecto muito importante, com relação ao nível de recursos man-


tido em disponibilidade imediata por uma empresa, é a função do nível de
relacionamento bancário mantido pela organização. Dependendo da quali-
dade dessa relação, será possível viabilizar as necessidades de captação de
recursos para fazer frente às necessidades de desembolsos, a aplicação das
sobras de recursos gerados pela diferença entre as entradas e saídas de caixa
e a utilização de serviços proporcionados pelas instituições como, por exem-
plo, a atividade de cobrança.

Além da qualidade de seus ativos e de sua administração, o desempenho


individual e do setor em que a empresa atua, o nível de endividamento de
recursos de terceiros, comparado com a utilização de recursos próprios (es-
trutura de capital), o histórico de resultados obtidos e de relacionamento

33
Finanças Corporativas

com seus credores, aspectos que serão analisados pelas instituições finan-
ceiras, é necessário que a empresa defina o tipo de necessidade (recursos e
serviços) que pretende captar e as instituições existentes no mercado que
podem atendê-la.

É fundamental, também, lembrar que existem fatores internos e exter-


nos que, em maior ou menor escala, irão impactar a gestão financeira da
empresa e que estarão refletidos no fluxo de caixa. Dentre esses elementos
destacamos alguns, começando pelos fatores internos.

Fatores Internos
 Expansão descontrolada das vendas, implicando um volume maior de
compras e custos operacionais.
 Aumento no prazo de vendas, concedido pela empresa como forma
de aumentar seu grau de competitividade ou aumentar sua participa-
ção no mercado.
 Compras em volume incompatíveis com as projeções de vendas.
 Diferenças acentuadas no giro das contas a pagar e a receber, em de-
corrência dos prazos médios de recebimento e pagamento.
 Ciclo de produção extremamente longo e incompatível com o prazo
médio concedido pelos fornecedores.
 Giro do estoque lento, significando o carregamento de produtos ob-
soletos ou de difícil venda, imobilizando recursos da empresa no es-
toque.
 Baixa ocupação do ativo fixo.
 Distribuição de lucros em volumes incompatíveis com a capacidade
de geração de caixa.
 Custos financeiros elevados, em decorrência da utilização de capital de
terceiros de forma excessiva, aumentando o nível de endividamento.
 Política salarial totalmente incompatível com o nível de receitas e de-
mais despesas operacionais.
 Aumento do nível de inadimplência.

Fatores Externos
 Redução nas vendas, causada por retração do mercado.

34
Fluxo de caixa

 Aumento da concorrência, em decorrência da entrada de novos con-


correntes no mercado.
 Alterações nas alíquotas de impostos sobre a venda interna e/ou sobre
a importação de produtos concorrentes.
 Aumento geral do nível de inadimplência, causada por fatores como,
por exemplo, o aumento das taxas de juros.

Como pudemos observar durante o estudo deste capítulo, fluxo de caixa


é um instrumento de fundamental importância para a gestão de qualquer
tipo de empresa, independentemente da caracterização de seu segmento
de atuação e de seu tamanho, qualquer que seja a métrica utilizada para essa
quantificação. É através da elaboração e, principalmente, da análise do fluxo
de caixa que a empresa poderá verificar a evolução da geração de caixa (dife-
rença entre as entradas e saídas de caixa operacionais projetadas), indicador
fundamental para analisar a solvabilidade de qualquer tipo de negócio.

Ampliando seus conhecimentos

Diz o banqueiro: “cuidado com o fluxo de caixa”


(BAILEY, JR; HERBERT, S., 1975)

Certa vez, numa noite escura, enquanto refletia fraco e cansado,


Sobre um grande volume de folclore contábil,
Buscando saídas para aproveitar alguma nova brecha fiscal,
Subitamente ouvi alguém bater à minha porta,
Somente isso, e nada mais.
De repente, senti um calafrio, e ouvi o caixa tilintar.
Enquanto entrava um aterrorizante banqueiro que jamais vira.
Seu rosto era verde como o dinheiro, e em seus olhos podia ver,
Cifrões que brilhavam enquanto ele anotava.
“Fluxo de Caixa”, disse o banqueiro, e nada mais.
Sempre pensara que era bom ter um lucro positivo.
Mas o banqueiro disse com voz ressoante: “Não.
Suas contas a receber estão altas, subindo cada vez mais para o céu;
Suas perdas crescem. O que importa é o Fluxo de Caixa”.
Ele repetiu: “Cuidado com o Fluxo de Caixa”.

35
Finanças Corporativas

Tentei então falar de nosso maravilhoso estoque,


O qual embora elevado, está repleto dos melhores produtos.
Mas o banqueiro viu seu crescimento, e com voz poderosa
Sacudiu seus braços e gritou: “Pare! Chega!
Pague os juros e não me embrome!”
A seguir, olhei para os itens não monetários que podia somar ad infinitum
Para compensar o caixa que não parava de sair,
Mas, para manter meu demonstrativo no azul, tinha contido a depreciação,
E meu banqueiro disse que eu tinha agido mal,
Tremeu e seus dentes começaram a ranger.
Quando lhe pedi um empréstimo, ele respondeu, com um gemido,
Que a taxa de juros seria só TR mais dezoito,
E para garantir minha pureza ele insistia em garantias:
Todos os meus ativos e mais o cabelo em minha cabeça.
Nada mais, uma taxa comum.
Embora meu resultado seja positivo, estou completamente prostrado,
Meu caixa só sai e meus clientes pagam devagar.
O crescimento do meu contas a receber é inacreditável:
O resultado é certo – problemas insolúveis!
E continuo a ouvir o banqueiro repetir baixinho,
“Cuidado com o Fluxo de Caixa”.

Atividades de aplicação
1. Marque com um X, dentre os itens abaixo, aqueles que representam os
objetivos para a elaboração do fluxo de caixa.

1. ( ) Prognosticar as necessidades de captação de recursos.

2. ( ) Aplicar os excedentes de caixa nas alternativas mais rentáveis


para a empresa, sem comprometer a liquidez.

3. ( ) Proporcionar o levantamento das necessidades de recursos


financeiros para a realização das transações definidas no planeja-
mento da empresa.

36
Fluxo de caixa

4. ( ) Empregar da forma mais eficaz os recursos disponíveis, evi-


tando que fiquem sem remuneração (a remuneração líquida obti-
da tem que ser necessariamente maior do que o custo de capital).

5. ( ) Planejar e controlar os recursos financeiros, em termos das


entradas e saídas, através da análise e controle das atividades de
planejamento de vendas e despesas, índices de atividades, prazos
médios e necessidades de capital de giro.

6. ( ) Estabelecer parâmetros de desempenho financeiro para a em-


presa, como o resultado das métricas estabelecidas para as áreas,
departamentos e, para algumas empresas, para cada funcionário.

7. ( ) Saldar as obrigações incorridas pela empresa tempestivamen-


te, de forma a aumentar cada vez mais a capacidade de contrair
crédito.

8. ( ) Buscar o equilíbrio financeiro entre os fluxos de entradas e


saídas de recursos.

9. ( ) Analisar as fontes de crédito onerosas, de forma a minimizar o


custo de utilização das mesmas.

10. ( ) Prever desembolsos de caixa em volumes elevados, em épo-


cas de encaixe baixo (questão fundamental para alguns segmen-
tos, principalmente no final do ano).

11. ( ) Desenvolver controles eficazes dos saldos de caixa e de dupli-


catas a receber, objetivando reduzir, idealmente eliminar, os valo-
res vencidos e não recebidos.

12. ( ) Coordenar os recursos de financiamento dos sócios e daque-


les que não têm participação no capital da empresa, a serem utili-
zados para suprir as necessidades de investimento da empresa.

2. Dos elementos abaixo, indique aqueles que não deveriam ser encon-
trados na gestão financeira das empresas.

1. ( ) Administração do fluxo de caixa realizado de forma completa-


mente dissociada das demais áreas da empresa.

2. ( ) Fluxo de caixa reflete unicamente o resultado das ações das


demais áreas da empresa.

37
Finanças Corporativas

3. ( ) O objetivo do fluxo de caixa é apenas efetuar os pagamentos,


receber e cobrar os clientes e buscar recursos financeiros, aponta-
dos pelo fluxo.

4. ( ) A quantificação de todas as ações, e respectivo impacto nos re-


sultados financeiros e econômicos, é de fundamental importância.

5. ( ) Análise das consequências financeiras de todas as decisões,


sejam elas operacionais ou estratégicas.

6. ( ) Fluxo de Caixa não precisa ser integrado nem proativo no sen-


tido de atingir os resultados planejados.

7. ( ) Fluxo de caixa é um instrumento apenas da área financeira, o


que elimina o comprometimento das demais áreas na geração de
recursos necessários à realização dos objetivos da organização.

3. Indique as alternativas que indicam como o moderno gestor financei-


ro deve atuar.

1. ( ) Deve limitar-se a efetuar pagamentos, cobrar clientes, aplicar


eventuais sobras de caixa e/ou captar recursos, quando necessários.

2. ( ) A manutenção de níveis de liquidez adequados aos objetivos


traçados pela alta gerência da empresa não é responsabilidade do
gestor financeiro.

3. ( ) Definir uma política global de gestão da liquidez, com rela-


ção a itens que afetam a performance das várias áreas da empresa
como, por exemplo, as condições de venda, a política de cobrança
e de compras.

4. ( ) Não é responsável pelos superávits ou deficits apontados no


fluxo de caixa.

5. ( ) Gestor financeiro deve apenas procurar as melhores oportu-


nidades de aplicação de recursos no mercado financeiro.

6. ( ) Deve ser reativo e não proativo.

7. ( ) Valorizar o fluxo de caixa como um dos instrumentos mais im-


portantes de gestão gerencial, difundindo a importância de sua
correta utilização e buscando comprometer a alta administração
na valorização desse conceito.

38
Fluxo de caixa

4. Descreva as etapas necessárias à elaboração do Fluxo de Caixa.

5. Das etapas descritas acima, qual delas é a mais importante? Por quê?

6. Quais são as duas perguntas fundamentais para as quais precisamos


deter profundo conhecimento, ao iniciar o processo de análise do Flu-
xo de Caixa?

7. Quais são, em sua opinião, as principais limitações do Método Direto?

8. Analise as informações abaixo, indicando se elas estão corretas ou não.


Justifique sua resposta.

a) Aumento de passivo significa captação de novos recursos, gerando


efeitos positivos nas entradas de caixa, na data em que ocorrem.

b) Aumento de ativo representa novas aplicações realizadas, signi-


ficando a necessidade de recursos do passivo para financiá-las e
gerando saídas de caixa na data de pagamento.

c) Redução de passivo significa a aplicação de recursos para o paga-


mento de fontes captadas no passado, gerando saídas de caixa na
data do pagamento.

d) Redução de ativo significa desinvestimento realizado no ativo, re-


presentando, na data do resgate da aplicação ativa, aumento na
entrada de caixa.

39

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