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TERRA ROXA e outras terras

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LVO

inNDRINA.AGOSTO PE 1975"ANoZ -NUMERO

ELES SÃO 400 M/L NA REGIÃO.ELES SÃO OS BÓIAS-FRIAS, página §

f
O ÍNDIO DEVE MORRER.págma
sta é uma revista do interior.
Da terra roxa^da zona rural.Mas
que,conforme a segmento do seu
tituloinão i ide ser xenófoba,
e que aspira a uma abertura total
a outras terr , jxo Brasil e ao
exterior. Como Mario de Andrade,
em 1926, se rebeln sumariamente
contra fatos ou procedimentos
que negam a formação,a origem,o
passado e abraçam as iyrftações
estrangeiras.Assim, o nosso .critério
máximo de valorização é o
"brasileirÍ8mo",bem como a falha
mais rigorosamente censurada é
a imitação estrangeira.

OFICIAL DO DCE
Rua Anionina 1777- Londrina-Paraná

TIRAGEM:200Ò EXEMPLARES Nenhum direito reservado

Gestão Levanta Sacode a POEIRA e Dá a Volta por Cima


A • ]|
ESENTAÇÁO
No Início,"Terra Roxa e outras terras" foi um Jornal crj_
ado pelos modernistas em São Paulo no ano de 1926, com
seis edições. Em novembro de 1972,foi apenas "Terra Roxa",
um Jornal de estudantes publicado pelo DCE da Fuel.Teve se
te edições.
Hoje,na terceira gestão,"Terra Roma e outras terras" res
surge,quase 50 anos depois,na forma de revista,com um^espT
rito semelhante ao dos modernistas de 26,conforme_vocês po
derão ler no fac-símile da Ia. página da lá. edlção,pub1I-
cada em 20 de Janeiro de 1926, e que evoluiu através _da
participação de Mário de Andrade em defesa da valorização
das coisas brasileiras.
A revista surge na região quando a cultura sistematizada
começa a dar os primeiros passos.Torna-se,então,imprescin-
dível uma revista de estudos e artigos que aprofundem a a-
nâlise dos problemas regionais e também de outras terras ,
pois não podemos nos restringir a uma visão locailsta e^xe
nófoba da nossa rea1Idade.Face ã quase completa inexistên-
cia de estudos sobre o Norte do Paraná,estes assumiram a -
qui um papel primordial. Pouco de nós compreendemos a ori-
gem,as implicações, o mecanismo econõmico-soc1 a 1 da região.
"1 E ê dentro desta complexa estrutura que vamos tentar atuar
I no futuro,como prof i ss lonai s .Vamos contribuir inconsciente^
mente para o agravamento dos problemas ou vamos procurar
'entende-1 os para poder part 1 c 1 par, Junto com as outras cama-
das da população para uma solução que beneficie a maioria?
Neste primeiro número da revista,e oitavo do título, pu-
blicamos um estudo do bói a-f r I a ,elaborado pelo Grupo de Es^
tudos de Imprensa Estudantil do DCE, e que pretende desper_
tar a atenção dos colegas e professores para o problema
que, pela sua 1mportincla,merece maior aprofundamento e ou-
tras abordagens.
"Terra Roxa e outras terras" é uma revista aberta, no
sentido de que será democrâtica.Uma revista em busca de
leitores e, como não possuímos a equipe dos modernistas de
26, também em busca de colaboradores.
0 artigo "Essa gente presta",vai de exemplo de como os
assuntos da terra roxa podem ser tratados com profundidade,
sem erudição.
0 artigo "0 iVidioiaqueie que deve morrer" ,escr I to por
bispos e missionários braslleiros,vai como outro exemplo
de como os temas "de outras terras" podem ter igual trata-
mento.
G.E . I .E .
MOt-MOMEMN ■ IJüI i
mmWU 2® DE Hmm 1926

terra roxa
larros P
e outras terras
Antônio d« Alcônura Machado • Secrclãrio e a
inoiíype Mergentl».^ e ímpreitf* na "Typ. PíUII.U", de JOSB NAPOLI * CIA. _ Rua A««embléa, 56-58 — S. 1
11 ilU

ARREISEINTAÇÃO
! .

iífreo» qu« atte Jornal^ ao nawj^r, «ia prova de uma


cqpage^i (íígna do Anhanguéra: dostin^se a um público
que não exltte. seu ograma ó Isso 1 mesmo: ser feito
para o homem qu^ |é.
A notsa teira fOKa, mercê de^tua fertilidade complexa
e exagerada, lem «do éí fux tudo que á o sonho de uma Ima-
cS^â0 ífJ?1^1 açuc!ir' ca^ *wha-céus, trens elé-
ctrioos, lança^perfcmes^ «tírectôj-lií», políticos, omnlbu^ e
até literatos* tMrfc Menos aH nesse baoco de jardim inglês,
ou nessa ppfV*na de varanda de be)ngM<r3 ou nesse club*
^Me!.M rede.«f ^nda, ou4 nesíe^infnan da Paulista, a
enUdade rara ejk^timável ^ue é^lwmem que lê. Poli
ÍXSL eWe 52?^ ima9Jnário. Oir peto menos ainda in*
cognlto comovi, #61 erp viajem de neereio, qu* decWlnSr
t^SSi.^* |O0ar n0 mvnd0 ô
-^RÂROXAI eloS
Entre n^s, «fenômeno é singular: não é o leitor á
prqçura de um loimil, mas o jornal á procura de um kjtor.
Ensinemos êtaelfeíUir a lêr. Sem cartilha. Sem bolos, àem
premío de fim ds ano,
Trea desejos levam o homem çivilisado á leitura: o de
se instruir, o de^ divertir, o de faíer bonito dfante de pa-
rentes, amigos auiconhecldos. TERRA ROXA fornecefá lei
Uira para esses tr«s fln». Quem o lêr, com aquela rassldui«-
mde que sempí»e coínove as administrações jorfialíslicas,
fípderá facilmente ap^jider, distrair se e^ cdmo se diz no
nosso admirável léomaltalo-páubrasll, bancar o intelectual.
Ao ente hlp^tétice e incei^o, ifara, quem compomos
este qulnrenárioí oíerecemos, cqmo numa bandeja caipira,
o>repasto variado, é sucufento que convém a um apetite
virgem: cróntca M&rÁvf*, crónloa artística, crônica files<S-
flca, crônica mUB^al 4» teatral, ensaios de crítica, ensaios
de história, cre» íes de poetas, novelas, romances, todos
os gêneros, mert^ esperemos em Deus, êsso gênero páu
Ca^wyaiwfljw^ificás^ de que fus^m» com» da p>st»
Os trabalhos public ados obedecerão a uma ífhha geráí
chamada do espírito moderno, que não sabemos bem o que
seja, mas que est* patentemente delineada pelas suas ox-
clufeões.
Camarada leitor: muito praxer e muita honra em deé-
oobrli-o.
"AOS HOMENS DE TRABALHO NO CAMPO CONSIDERAM UMA TURBA AMORFA.QUE ,
VAI DESAPARECER,BANDOS DE SERTANEJAS,DE JAGUNÇOS,CA IPIRAS.MATUTOS
TABARÉUS,CABOCLOS,SEM A MENOR VALIA.E NAO LHES OCORRE,REPI TO,QUE
ESSAS GENTES É QUE,COM OS EX-ESCRAVOS NELAS HOJE INCORPORADOS,CRI
ARAM COM TODAS AS FALHAS,A FORTUNA,A RIQUEZA EXISTENTE NO PArs»."''
- Silvio Romero em "O Brasil Social",1907.

bolas-irias:
PRESTA

'yéHÚáR
IGNORAR O BOlA-FRIA É IMPOSSÍVEL.O NOSSO SERTANEJO NAO ESTA MAIS
ESCONDIDO NO MEIO DO S CAFEZAIS;ELE ESTA CIRCULANDO DIARIAMENTE P£
LAS RUAS E ESTRADAS, NUM INCANSÁVEL ÊXODO DAS CIDADES PARA 0 CAMPO
E VICE-VERSA.MAS REC ONHECER A EXISTÊNCIA DO BÕIA-FRIA NAo S I GN I rj_
CA^/CONHECÉ-LO.ASSIM, QUASE TODAS AS REFERÊNCI AS FEITAS A ELE SAO í
EM TOM DE DESPREZO,M ENOSPREZO,ÕDIO E,QUANDO MU I TO,COMPAIXAO.
RARAMENTE É IDENTIFI CADO COMO TRABALHADOR E PRODUTOR DE RIQUEZA.

«k» caingangues aos bóias-frias


^_ as s a ram- se ma i s de trê s secu- ocupou a terra roxa paranaense.
Pios desd e os pr i mi t i vos c a i n - Mas a expulsão cpn t i^nuqu : der rufa-
gangue s que vivi am Waímat as do £ da a mata saía o peão;plantado o
tual N or te do Pa ranã quand o aqui café,o formador ; ar rançado o cafle,
chegar am os jesu T tas,a té a s cçnte vêm saindo o porcen te i ro, o colcino
rjas de mi 1 hares de bói a s-fr i as e até o sitiante^Sai o homem,en-
que pa decem nas fave 1 as e vilas tram o boi e o trator. Mas este
de ma i s de cem c idades da reg i ao. nio faz tudo sozinho.Se a utiliza
Raposo Tav ares extermi nou ou es - çio intensa da máquina na nossa a
cravi z ou os índi os. Os po sse i ros gricultura- num transplante "mecã
encont rados pe 1 a s companhi as e sje nico^da mecanizáçio realizada em
nhores de t erras foram di z i mados outros países èm situações diver-
ou exp u 1 sos . A p art i r de 1 930 uma sas- contribuiu para exilar o la-
massa de br asile i ros e e.st range i- vrador da zona rural,por outro ;l£
ros em busc a de um pedaço de chio do,nio dispensou totalmente seus
essa gente não presfa"(A,varoPano%:afa-"975ro'a° ■""■"' )

braços.Para aumentar a produtlvlda


de da decadente agr I eu 1 tura , gastají
do o mínimo e lucrando o maxímoT
foi preciso negar ao trabalhador
todos os direitos trabalhistas e
humanos,joqando homens,ve1hos,mu -
lheres e crianças nas periferias
das cidades e nas carrocerias dos
cami nhões . //
Quem ainda vem para o Paraná es-
perando encontrar o E1dorado,depa-
ra com um ambiente adverso. E se
nio continuar viagem rumo ao Mato
Grosso,Amazônia e Paraguai,com cer
teza terá o mesmo destino errante,
miserável e marginal do novo assa-
lariado agrícoIa:tornar-se,"previ-
so r lamente", bóia-fria,numa s i tua-
çio ambígua que para muitos já du-
ra mais de dez anos^epe 1 i dos pela
terra e ao mesmo tempo imprescindí
veis a ela.Vivendo nas cidades sem
desfrutar dos seus confortos . Traba
lhando na roça sem contar com suas
poucas rega 1ias .Desprezados por to
dos e,no entanto, sio aqueles que
plantam o que comemos.//

uma mutação degenerada


ou
"ai que saudades que eu tenho
do tempo do colonato..."
Saudosos da fase áurea do café,
nio sio poucos os que hoje exal
tam a figura do co1ono,traba1hador
que se viu transformado em bóia-
fria.Fala-se da harmonia entio rej_
nante nas fazendas, da fartura de
que desfrutariam os lavradores qu^
com seu trabalho árduo,diseip1ina-
do e eficiente conseguiriam chegar
a pequenos proprietários e até mes
mo grandesrLunarde11i seria o exem
pio.Terá o co1ono,entio,sido víti-
ma de uma mutaçio,perdendo todo o
seu va 1 or , vi rando pregu i coso , rebe_[_
de,ignorante,ou um coitado,só por-
que agora nio mora na fazenda,come
comida fria e viaja feito gado?
'/ Quem sabe o contato diário com i n -
seticidas e a poeira gue tomam na
cara pelas estradas nao tenham pe-
é uma cambada
de vagabundos^ (Un aò lornal Panorama-1975
Iversitárío do tiorte do ParanãX
'

netrad o nas suas ce lula s, provocan volta quando as circunstancias im-


do uma mu ta çio g enê ti ca degenera tf- pedem. E passam a ma 1 d i zer o bôia-
va , ai teran cfo o car ater do lavra- fr i a, que é o colono expulso da fa
dor? A comp rovaç ão dest a_ hí pótese zenda. por lhe terem oferecido
cabe a os ge ne t i c fst as. Nós p refer_[_ condições de morte e não de vida.
III t ■
mos te n ta r a exp Ifc açio . hlst õr i ca . um boia-frla
0 co 1 on o es t á p ratl camen te ex-
t i n to na ag r i eu I tur a do Nort e , ido: produz
Paraná • 0 a nse i o de mu ? tos f azen- mais que 30 cotonott
de i ros de v oi ta r a ant i ga re 1 açio algrado serem vistos como margj_
do co 1 ona to ê se me hant e ao dos se nais e não como trabalhadores,
nhores de escravos após a abolI - os bôias-frias constituem o maior
^jâol sofrendo os prejuTzos resul - contingente de trabalhadores agrí-
tanTes da perda de seus escravos e colas do Norte do Paraná- calcula-
obrigados a reorganizar a fazenda, se que já tenham ultrapassado os
a fim de adaptá-la ao trabalho se- 400 mil (50^ da mão de obra do no£
mi-livre do parceiro (do qual o co te do Estado).Em São Paulo eles to
lono foi uma evoluçio), passaram a ta 1 i zam 25% de'toda a força ^mpj-e-
exaltar o escravo, antes sempre ta g"ãda em at i vTdádes Fura i s , sendo
xado de preguiçoso e rebe 1 de , trans^ também conhecidos pelos nomes_ d£
ferindo esses atributos aos colo - preciativos de "birol os","pilões",
nos imigrantes, que não se subme - "paus-de-arara","avulsos" e outros,
tiam às duras condições aqui vigen Vy* Ém todo o Brasil os lavradores
tes . Entio, era comum ouvir da bo- que vivem nas cidades - os rurba-
ca dos escravocratas: "os carcama- nos - estão na casa do milhão.E se
nos nio chegam aos pés dos negros'.' a estes somarmos os bôias-frias do
Mas. com o passar do tempor ' a^. campo (os peões, volantes e sit1a£
vantagens do trabalho "livre" fo- tes pobres que trabalham fora em
ram aos poucos se evidenciando e, cer.tas épocas - todos trabalhado-
entio, passou-se a dizer; "um tra- res temporários) encontraremos 5
balhador livre produz mais que 30 milhões de famílias. Elas se esp£
escravos, lham por todo o paTs,des1ocando -
Hoje, quando a lenta e contra- se diária òu per 1odIcamente,a pé
''ditõria - mas inevitável - evolu - ou ^de cami nhao, pa ra as d i s f"arrtes
çio da agricultura exige nova alte lavouras do café, do a 1godão,cana-
raçio na organização da fazenda,OJJ de-açúcar, para o desmatamento, e
ve-se novamente o clamor daqueles plantio de capim, sem saber onde
que são refratários a qualquer mu- ■estarão no dia de amanha. Snio, por_
dança. Quando o bô i a-f r i a , ta 1 tantoj criações típicas^las regi -
qual o parceiro do século passado, ões bras11 eiras onde o desenvolvi-
recusa-se a receber o mesmo ofere- mentõ~da agriculturif atingiu a me-
cido ao "pé-de-ferro" (empregado canização e cuja economia se asser^
que ainda mora na fazenda) e resol ta num produto geralmente de ex-
ve "queimar sola" (voltar para sua portação .
casa a pé) o colono, tal qual o ejs Por conseguinte, sob o ponto
cravo, é lembrado com saudade. E a de vis^ta da economia, o bõla^?ria
quele que antes era qualificado de nao põefe ser considerado, de forma
capiau e mal agradecido, tem o de£ alguma um marginal. Os produtos a-
tino dos grandes homens: morto, a- gricolas de exportação ainda são
brem-se-lhe as portas negadas effl fundamenta i s e hoje mais do que
vida. E exaltado quando já está nunca para a economia brasllel
praticamente extinto. Querem a sua ra Se quem planta e colhe esses

7
produtos é, sobretudo, o bóia-fria,
sem organização, sem segurança . Os
como poderá ele estar â margem co-
mínimos direitos, já adquiridos
mo produtor? Como consumidor, sim,
ele está à margem: sobrevive com por outras categorias profissio-
menos de um salário mínimo. nais, lhes sao negados; ass i s tên-
cia me d í c ^~p r é vTlíeTrc ia social, fé
/^ Quanto ã produtividade, ê pos-
sível fazer entre o colono e o bó- rias, descanso remunerado, contra-
to de t rabaIho , etc .
ia-fria a mesma comparação feita
0_unico e maior bem que pos-
entre o eácravo e o trabalhador li
s u e m -"q ü e já c o meçam a valor í z a r -
vre? Talvez a diferença nao_seja
é a liberdade de trabalhar onde
na mesma proporção - de um para
quiserem, sem nenhum vínculo de de
trinta - mas sabe-se que a produti
pendência a prendê-los a um pã»
vidade no sul do país, que é onde-
trão. Apesar de invejarem a roci-- •
se concentra o maior número de as-
nha do "pê-de-ferro", começam a re
salariados, principalmente bóias -
frias, ê 500 por cento maior do conhecê-la uma faca de dois gumesT
em troca do direito de plantar pa-
que no nordeste, onde se mantêm as
ra si, o colono fica preso ao pa-
relações de produção mais atrasa-
trão, submetendo-se a situações a-
das, ao passo que os salários pa-
viltantes, raramente vendo a cor
gos no sul são apenas 90 por cento
ma i s altos do que os do nordeste // do dinheiro» Ainda hoje os traba-
lhadores não-remunerados no campo,
em todo o Paraná, chegam a ^OOmi 1 .//
da enxada e oa roca Mas a cada dia essa cifra diminui,
e dezenas de famílias vão inchando
para a favela as cidades do Norte do Estado.
e a marginalização [I ^ Tendo que enfrentar tantos o\>%_
táculos, perigos e rudezas para po
g^e, enquanto na roça, eles são derem sobreviver, ê de se admirar-
^*fundamentaís para a economia , a resistência dos bôias-frlas ao
9l/a"do regressam"aos seus barracos atrativo da mendicância, da crimi-
a noite, transformam-se em marqf - na 1 idade JB—-da. ^prost i tui çã^. E, no
nais para a sociedade. São analfa- entanto. são chamados de vaqabun-
betos, desnutridos, mortos-vivos dos...

8
bóia-fria é palavrâo,,vxtra'do de um
poema)

f f meu patrão brigou comigo


me chamou de bóia-fria
não bati na cara deie
para não perder o dia..-" "

mssim começa a modinha cantada


^*nos programas sertanejos das
rádios e repetida pelos próprios
bóias-frias durante o trabalho.Es^
ta ê uma das formas subliminares
de promover a sua auto-desva1ori-
zaçio.Tenta-se convenci-los de su
a "inferioridade" pela repetição
insistente de que sio incapazes,
que nio prestam,que não podem ter
vez.E para isso contribui não ape
nas ^a atitude de desprezo como""
também a de compaixão.Ao dizermos^ e únicos brasileiros, a a 1 ma e o
"coitados dos bóias-frias" ou "e- braço do povo".Assim como a"turba
les são uns pobres coitados,aban- amorfa" não desapareceu, não desa
donados pela sorte", e que preci- pareceram até hoje as literatices
sam da nossa caridade,estamos, na daqueles p.ara quem o desprezo pe-
realidade, alimentando uma falsa lo sertanejo é quase uma segunda
caridade, que se nutre da situa- natureza-.
ção injusta e i nf er i or i zan te ào // Por outro lado, temos grandes.e.
"assistido", colocado na posição' xemplos de valorização do homem
de incapaz de reagir e superar su do campo.Euc1ides da Cunha já cha
a a tua 1 cond i ção . ~ mava a atenção para "as massas a-
a herança do bota .fria é a esperança
1 bandonadas do interior,que só apa
recém no cenário nacional nos mo"1
J^carga pejorativa do nome "bói£ mentos de crise e transformaçãot
fria" atribui a este trabalhador revolucionária,revelando aspectos
algo além da pecha de preguiçoso trágicos da nossa formação".Coube
e ignorante que vem perseguindo, aoautor de "Os Sertóes" acordar
como um pecado original, o nosso a inteligência brasi1eira,voltada
sertanejo, a partir do índio,quan durante k séculos para a Europa ,
do este recusou ser escravizado. culpando-a por haver acentuado o
c
Bóia-fria é sinônimo também de i- .£-11raste entre o nosso modo de
mundo, instável, enfim é um pala- viver e o daqueles rudes patrfcT1"
vrão . os,mais estrangeiros nesta terra
sy SJJ_v^Lx> _Roniero_ j á assinalava que do que os imigrantes da Europa.
os maiores obstáculos para a com- Porque não no-los separa um mar
se
preensão realista do valor do ho- PJram~no-loLtrês séculos ... "
Do
mem do campo são "as literatices bóia"-f riã" aindlT nòs separam
dos escritores e políticos que quase três séculosrele evoluiu do
julgam, eles, esses desfrutadores medievalismo do século XVI euro -
de empregos púb1icos,posições e peu -representado aqui,com as de-
prof i ssões liberais, os genuínos vidas modifÍcaçóes,pelo colonato-
nas carrocerias dos caminhões
para o início da revoluçio indus- sas por outras bandas , mas bola
trial^no século XVI II .Naque1 a epo fria aqui anda mais perdido do
ca o êxodo rural começou a ganhar que cego no melo de tiroteio"
intensidade na Europa, com o atra Folha de Londr1 na,25.7.7^.
tivo exercido pelas manufaturas e y Multas outras influências veiji
melhores condições de vida nas ei sofrendo o bóia-fria.No Norte do
dades.A peculiaridade da terra ro Paraná,ta1 vez mais do que em qual
xa paranaense é agravante:aqui aT quer lugar do Brasil,vêm se mistiJ
indústrias rareiam, as cidades rando pessoas vindas de todo o
crescem pelo menos cinco vezes ma país e de quase todo o mundo, num
is que as européias de entio, e a caldeirão soeia 1,racia 1 e cultu -
agricultura depende basicamente ra1 peculiar.Ao mesmo tempo que \\
do~1mercado externo, sendo que am- sua ebulição vem produzindo, em
bos padecem dé^ uma crise Tnsolú - termos materiais, das maiores ri
vei.Assim, o nosso migrante não quezas nacionaIs,tem sido um cal
vai engrossar as fileiras do pro- do de cultura fertrlísslmo para
le tariad_o_urbanOj_com o ocorreu a- os mais dramáticos problemas so-
lem-mar, mas sim do proletariado ciais,cujo produto mais típico e
rural de rTõyõ tTp o. recente é o bó1 a-frI a.Tão típico
x. Entretanto, apesar de evolufdo, que já é usado no resto do Brasil
o bóia-fria herdou muitos dos pro para identificar o Norte do Para-
blemas, misérias e qualidades dos ná, ao lado do símbolo tradlcio -
seus antepassados sertanejos. nal da terra roxa e no lugar do
Herdou a esperança do reti rante ca fé .
de Graciliano Ramos e do jagunço
de Guimarães Rosa,que,em "Grande
SertãorVeredas" sonhava:"Ah ,este
Norte em remanência:progresso for
te, fartura para todos, a alegria
naciona1 1 . ..A gente tem que sair
do sertãol Mas só se sai do
sertão é tomando conta dele a den_
tro..."
E, em 1975, o bóia-fria não pe_r
deu a espe rança: "eu acho que dev_i_
a ponhar uma lei mandando o?
fazendeiros que não deixassem
plantar tudo, dividir a terra de-
les com os outros^Pegava uma fairn
lia, tem dez pessoas? toma ^ ai
queires de terra.Tem 8?Toma 3 alr
queíres de terra" - extraído do
jornal Panorama de 8.3.75.
'Z Herdou também as contradições
de Macuna'ma,de Mario de Andrade,
que vai do campo para a cidade"" e
3es ta de novo para o campo, anfr^
b
í o. sem raízes e ainda IsolaJo:
"aqui é cada um por st e Deus con
tra".Assim Macunaíma foi recebido
na cidade. E assim o bóia-fria.en
contra a cidade hoje:
"Eu não sei como estão as col -

10
eles perseguem um (irfuro melhor

é a alma
• o JBaaça
lru»a-pâ©

Ia periferia de Londrina coexl£ Fruta-pãotÔ fruta-pão


tem,lado a lado, o campus uni- quem 0 que mais furta o pão?
versitário e o maior bairro de 0 bóia-fria ou o patrão?
bólas-frlas, o Novo Bandeirantes. Mas que pergunta obaeena,
Sio duas culturas diferentes e". extravagante,enjoada,
duas épocas de uma mesma cultura. "bóia-fria" nem existe
No campus vive-se a vida das cj[ ê uma palavra inventada...
dàdes, mais perto de Sio Paulo^ -Mas tem gente que jã viu,
que das vilas que o cercam.Nas vj_ "bóia-fria",diz que tem jeito
Ias os bôlas-frlas vivem a vida de homem
do campo, mais próximos dos jagun usa ehapelão de palha
^os de Canudos e do Contestado correntes nos pés
que dos estudantes com quem cru - e vive cavalgando as rodovias
zam nas estradas da Cidade Uníve£ montado num aabo de enxada...
s i tiri a. -Tem outras gentes que juram
Onde estar»© os "genuínos e unj^ que "bóia-fria" ê mulher
cos brasileiros, a alma e o braço oom duas brasas nos olhos
do povo7,, No Campus ou na VI la?^ os cabelos encharcados de sangue
Para responder a essa indagaçio dando de mamar a uma criança
é necessário que nos dispamos de que uiva em vez de chorar...
toda a arrogância, sem procurar -Qual o que,isso é lenda,
escapar de uma realidade que pos- e invenção, "bóia-fria"não existe
sa nos ofender e cujo reconheci - é uma palavra inventada...
mento pode até mesmo nos ameaçar. -Não existe? ,
// Se partirmos do princípio de üêlEntão quem colhe o café
que a crlaçio cultural é obra de da Fazenda S.José?
homens seletos, de uma elite prj_ o algodão,o milho e o feijão
vilegiada, de donos da verdade e das propriedades rurais
do saber, para guem todos os que de seu doutor Benedito
estão de fora sao "essa gente","u doutor Milton e doutor Brás?
ma cambada","uns coitados",cuja Quem capina? Quem arrua?
presença e participação na cultu" e carrega o café colhido
ra e na história é sintoma de sua pra secar no terreirão?
deterioração,a resposta será uma. E rastela e amontoa
Se,pelo contrário,partirmos do e mais uma vez carrega
princípio de que a^cultura letra o café e põe na tulha?
da,sistematIzada,não sobrevive e -Fruta-pão,ô fruta-pão
ê estéril sem a participação do quem ê que mais furta o pão?
povo, aonde deve ser buscada a 0 bóia-fria ou o patrão?
Inspiração para a literatura, o -Mas que pergunta enjoada
objetivo da ciência, a llnha^ do extravagante,obscena,
pensamento, a diretriz da ação, a "bóia-fria" nem existe
resposta será outra._ ê uma palavra inventada...
Conciliar as duas épocas e as -Começa na madrugada

i
duas culturas é a tarefa que se e acaba no por do sol.
Impõe.Os bólas-frlas, como seres MARIA LEOPOLDINA RESENDE
s
humanos, são históricos, evoluem. do um futuro melhor, despercebi -
Ao descobrirem seu valor, sua fo£ dos e desprezados por uma multi -
ça, seus reais anseios , estario a dio de cegos que passam por eles
um passo de sua redençio .Assim,t£ nos caminhos, bebem o café colhi-
rio ainda em vida o destino que do por eles, quase lhe esbarram
os colonos só tiveram depois de nas ruas:
extintos- serem va1orizados.Mas , "No outro dia, na Avenida Para-
no caso dos bõias-frias,va1oriza- ná, eu vi a figura que mais mexeu
dos pelo que eles têm de humano,e comigo nesta cidade.
nio de bestas de carga.AT, entio, Um bóia-fria,
seu nome, inventado para humilhá- vermelho de terra,sandá1ias de
lo,perderá seu atual significado. borracha, enxada ao ombro, sg me-
A história já se encarregou de xendo entre o povo passante.Só
transformar o caráter pejorativo conseguia enxergar a ele,única fi
do nome "tiradentes" no símbolo gura destacada, na calçada cheia.
do herói naciona1 , apontando quem A enxada nas costas era levada co
foram aqueles que o chamaram de mo uma arma, leve e eficiente;eF¥
"bandido","inconfidente" (sem fi- admirável a destreza, a leveza co
delidade), e o enviaram ã forca. mo ele se mexia entre as pessoas,
A história destruiu o "título" imundo, tostado de sol e também
que lhe atribuíram e reconheceu , pardacento, esguio,1igeiro.E1e
finalmente, o valor da sua atitu- mais deslizava que andava na cal-
de . çada e ao atravessar a rua, teve
Nio está longe o tempo do reco- um íntimo conhecimento,quase fami
nhecimento do bóia-fria.Apesar de liar, do trânsito - nio esbarrava
tênues,já notam-se alguns sinto - em nada.Nem nas pessoas,nem nos
mas.Em Arapongas,estudantes cria- veículos.Era rápido,calmo e,ape-
ram um jornal que tem o seu nome. sar de andrajoso,compôs to,ereto,
Jornalistas têm testemunhado com inteiriço.A partir dessa cena,pa-
fidelidade a sua vida.Poetas e e£ receu-me que nio tinha mais nada
critores tentam retratar o seu a ver na vida urbana de Londrina".
drama . Po 1 í t i cos lembram-se de mer\_ Quem escreveu esta cena foi
cioná-los nos pa r 1 amen tos . C i en t i s_ Joio Antonio,escritor,e um dos
tas sociais procuram ententer a poucos que têm olho, numa terra
sua situaçio.Educadores,médicos , de cegos.
advogados,economistas e outros
preocupam-se ante a ineficiência Artigo escrito pelo GEIE- Grupo
de sua açio e compaixão para solu^ ie Estudos de Imprensa Estudan-
cionar o problema dos bóias-frias. til, do DCE da FUEL3a partir de
E estes, montados nas carrocerias debates3pesquisas nos jornais
dos caminhões,continuam perseguin locais e livros ("Grande Sertão:
Veredas" e "Os Sertões").

12
O HMDIO

AQUELE QUE DEVE MORRER

(documento de urgência
de bispos e missionários)
Ji antes de \(>k2,a I greja , a traves do Papa Urbano , reconhec i a que o
índio tem a 1 ma.É gente.Apesar disto e dos esforços de alguns homens ,
o indigena continua nio sendo considerado.como tal.Tem suas terras In
vadidas pelos brancos,a lém^dej1 ver a extinção de sua raça em consequen
cia das mais variadas violências.
Tal como o bóia-fria, nio é considerado gente.E sinônimo de margi -
na 1 ,vagabundo, gentinha.

13
NO VIOESIMO dUlHTO ANIVEBSAmo DA DECLARACÍO umvFIKli
0 o D s F, Dos
E EL í"N«" í^!
SSA M,ss
0 n ^fn ; "" ^COXK" íi
^..«rw^ ^O Ç PELO CHOQUE DA REALIDADE QUE lin«:

FE D U C
?í:í3 ?:S,6íNAS"«S ;I!AS?L"
S B E A
»«-"-?AE?opNEsíçNjis-0„Err
M. , ■ . . 2
5 DÊ DEZEMBRO DE 1973
Dom Max mo Blennes,Bispo de Câcercs,MT
Dom Mel Io Campos,Bispo de Viana,NA
Dom ?
Dom Peíír?,í;rí ?? d%fve"«r,Blspo de Marabá,PA
Pedro Casaldallga,Bispo de São Fêllx,MT
Dom Temas Balduíno,BIspo de Golas,60
Dom Agostinho José SartorI,BIspo de Palmas,PR
Frei
Gomes Leitao,MIsslonârlo de Marabá,PA
0 10 a , M,Ss4onir,0 de
F^rní;? " i ?' Diamantino,MT
Frei Domingos Mala LeIte,MIsslonârlo de Conceição
do
P.^.- * .
,. Araguaia,PA
Padrl LIITAM ^""^'«'"íonirío de São Fêlíx,MT
Padre Leonlldo BrustolIn,Mlsslonârlo de Palmai,PR
Padre Tomas LIsboa,MIsslonârlo de Dlamantlno^MT

Qs Bispos da região Extremo Oes


*^te declararam a 12.11.71:" As"3 mação dos Bispos e dos cientistas cf
acima citados e para verificar
slstlmos em todo o pafs â Invasão
que não hâ apenas ameaças mas
e gradativo esbulho das terras
reais vUlações dos direitos das
dos índios. Praticamente não são
reconhecidos os seus direitos hu- populações Indígenas,apresentamos
algumas notícias publicadas em
manos, o que os leva paulatlnamen
Jornais e revistas somente nos Gl
te a morte cultural e também bio-
tlmos dois anos, a partir do Iní"1"
lógica, como Jâ sucedeu a multas
tribos brasllelras"(l). cio da construção das estradas na
AmazonI a.
0 documento firmado por 80 ho-
mens de ciência em Curitiba dizia: "Respondendo às críticas dos Ir
"Os que assinam o presente, liga- mãos VI lias Boas ã construção dã
dos ao problema do índio por ra- BR-80, disse o presidente da Fu-
nal,General Bandeira de Mello que
zões de atividade profissional ou
a estrada não vai criar problema
por vlnculação de sentido puramen para os índIos"(3).
te humanístlco, sentem-se no de-
ver de dlrlglr-se, de público, âs Não criar problemas para os ín-
autoridades do país e a própria dios significa não violar o seu
consciência nacional, com o propô direito ã terra, não levar eles â
sito de despertar o Interesse e a morte pelas enfermidades e pelos
atenção para as ameaças que se re confUtos violentos,não oa díspar
sar,não destruir enfim sua cultur
novam contra os direitos mais ele ra,
mentares das populações Indígenas
brasllelras"(2) . Entretanto um antropólogo,asses
der do próprio presldence da Fu"
Para avaliar o alcance da afir-
J»aj ,afl rmou; "Todos sabem que uma
em outras áreas,como afirmou o
estrada, cortando reservas indí-
genas,ê um veículo que traz enor- professor Eduardo Galvão do Museu
l,
mes problemas para os índios e Goeldi de Belém, ao prever ch£
consequentemente para a FunafíM. quês entre as populações indíge-
Referindo-se â BR-80 assim fa- nas e o elemento colonizador na
lou o sertanista Orlando Villas rodovia perimetral Norte"(7).
Boas:"Não tem levado para a re- Nessa perimetral, além das mor-
giio senio cachaça, prostituição, tes violentas,há ainda, como em
aventureiros e depredadores da n£ todos os casos de contato dos in-
dios com as frentes de penetraçio,
tureza"(5).
a morte causada pelas enfermida^
No princípio deste ano, os jor-
nais noticiavam:"0s três funcio - des:"!^ índios Waimiris-Atroari ,
nários da Funai do subposto de A- vítimas da gripe fogo" (8) .
lalau (Roraima) foram assassina - A respeito da situação dos ín-
dos por vingança pelos indios WaJ_ dios de Roraima, dizia um jornal
mlris-Atroaris que,em junho de de Manaus:"0 índio foi e continua
1972 haviam sido desrespeitados sendo sempre a vítima indefesa.
por mateiros contratados para a- Suas terras são invadidas,suas r£
poiar os trabalhadores da estrada servas roubadas, suas mulheres ul-
Manaus-Caracaraí"(6)._ trajadas. A polícia de Boa Vista
A mesma coisa poderá acontecer sabe disso...a Funai também o sa-

Eles perdem suas terras,


e ganham cachaça,prósti-
tuicão,doenças e mortes.

15
"Quanto e que as companhias (agro-pecuárias) pagaram
ao Pai do Céu de vocês para ele dar as terras dos Índios?"

indio Tupirapé.
be...sõ nós nio sabemos porque o diretrizes da Funai para l9722vo^
índio deve continuar a ser exter- tou a ressaltar que o índio não
Tninado sob o olhar tutelar da Fu- pode deter o desenvolvimento"(15) .
nai . .."(9) . A simples construção de uma es-
A BR-80 que dividiu a tribo Tu- trada em área indígena constitui
karramie provocou toda uma reação uma violação do direito que os Í£
em cadela."Como conseqüência da- dios têm sobre suas terras.No dj_
quela reação em cadê 1 a , outros pro^ zer de quem é autoridade no assu£
blemas virão e,quando forem cons- to,Gonzalo Rúb i o , Di re tor do lnstj_
ta tados , mu i tos índios ja terão tuto Indigenista 1nteramericano:
morrido"(10).lsto,infelÍ2mente,jâ "A ação dos aventureiros e explo-
radores de ontem, contra os Indí-
está acontecendo:"4 mortos, 20 genas,se somam hoje os elementos
doentes em perigo de vida e 70 \n novos,as estradas e as forças prc)
ternados são o resultado do surto gresso- os quais,mesmo sem Inten-
de sarampo que atingiu os Índios ção de produzir danos,atrapa 1ham
Tukarramãe, numa das mais graves inegavelmente a vida dos grupos,
crises de doenças do Parque Nacio que ainda res tam" ( 1 6) .Ta 1 assertj_
nal do Xingu,agora cortado pela va encontra eloqüente comprovação
rodovia BR-80"(1 1) . no que disse o engenheiro Cláudio
Essa ca 1amidade,porém,se justi- Pontes, da Empresa industrial e
fica dentro da visão do sistema Técnica,uma das que vio construir
"pois o Parque Nacional do Xingu a Perimetral Norte:"Em momento a_l_
não pode impedir o progresso do qum o trabalho será interrompido,
país",como afirmou o presidente mesmo que surjam problemas com IJI
da Funai,Genera 1 Bandeira de Me 1- dios"(l7).
Io.(12).A resposta a isto já foi Os conflitos surgem inevitavel-
dada antecipadamente pelo poeta: mente : "Traba 1 hadores e engenhei -
"... chame-1he progresso quem do ros da COTERRA - companhia de te£
extermínio secular se ufana:eu,mo raplenagem que constrói a BR-80 -
desto cantor do povo extinto cho- foram recebidos.a bala,quando te£
rarei nos vastíssimos sepulcros taram se aproximar da aldeia dos
que vão do mar aos Andes e do Pr£ índios Tuk.a r ramãe . . . " ( 1 8)
ta ao largo e doce mar das Amazo- "Um ultimato,um furto e um tiro
nas"(l3) . telo,com a agravante da tensão na
Tal violação dos direitos dos área,provaram, há duas semanas,
índios não constitui problema pa- que os índios do Xingu não acei -
ra a Fanai que,na opinião do Depu tam ainda a estrada"(19) .
tado Jeronimo Santana , "perdeu o Resumindo:1^ Transamazônica e
sentido da mensagem do Marechal outras estradas em construção no
Rondon-morrer se for preciso, ma- Norte do país estão formando o
tar nunca-e hoje em dia,para de - cerco em volta de 80 mil índios
fender seus interesses,o que o 5£ brasileiros, condenando-os â ex -
gão leva menos em conta ê o pró - tinção"(20).
prio índio"(li») . Aliás a Amazônia é tida como
A linguagem do General Bandeira terra de ninguém e o triste exem-
de Mello parece menos a do presi- plo de desrespeito aos direitos
dente do órgão criado para defen- de seus legítimos ocupantes lamen^
der os direitos dos índios,que o tavelmente vem de ei ma:"Quando se
eco das palavras dos latifundiá - quer fazer alguma coisa na Amazô-
rios da Amazônia:"Referindo-se às nia,não se deve pedir licença:fa£
se",afirma o Coronel Carlos Aloí- quisa nessa área.A situação não é
seo Weber (21) . boa em nenhum dos postos que co-
Que outros órgãos do governo, » nhecemos,mas é sempre pior quando
responsáveis pelos bens materiais os indígenas estão em contato com '
da Amazônia, sejam omissos,jâ é iin os brancos"(25).
tolerável pois constitui,na .ex- "Bêbados,maltrapi1hos e famin -
pressão do General Olímpio Mourão tos,escondi dos no mato ou vagando
Fllho:"um absurdo o que se faz a- pelas estradas a esmolar,os pou -
tualmente na Amazônia.Acabaremos cos milhares de Índios das reser-
transformando a selva num deserto" vas do Rio Grande do Sul,passam
(22).Ultrapassa,portanto,o absur- quase ignorados durante os últi -
do que o órgão nato para a defesa mos meses de farto noticiário a-
dos direitos dos índios seja "o^ cerca de seus Irmãosde raça"(26)
grande ausente nos sertões amazô- "0 engenheiro Moisés Westpbblen,
nicos",como teve oportunidade de professor universitário e grande
confirmar,em sua segunda viagem estudioso do problema indígena a-
ao Norte,o General Frederico Ron- flrmou:"0 governo gaúcho sempre
participou da expoliação da terra
don(23).
A Imagem que temos da Amazônia, dos Índios e a Funal é uma morta-
essa vastidão plena de mistérios viva.O que estãokfazendo com os
e de desafios, que oferece tanto Índios no Rio Grande do Sul é um
espaço para o mito da "conquista" genocídio,porque eles não podem
pode facilmente atenuar ou enco - viver sem terra"(27).
brlr a responsabilidade da FUMAI. Seguindo o roteiro da miséria e
Se,porém,passarmos para o extremo da fome do índio b ras i 1 e i ro , encon^
sul do país,encontramos melancólj_ tramo-los também em S.Paulo onde
cos depoimentos como este de Car- "passam o dia mendigando,dormindo
los de Araújo Moreira Neto:"Em re sob as pontes e bebendo a cachaça
lação ao problema que vem sendo que podem comprar ou que os mora-
especificamente díscutido,Isto é, dores de outros barracos lhes of£
a situação atual dos índios Kaln- recém.Vestem-se de farrapos e pe-
gang do Rio Grande do Sul,princi- rambulam pelos bairros próximos,
palmente no que se refere às su - de Santo Amaro(28).
cesslvas Invasões de Nonoãi por No Mato Grosso,os Xavantes es -
intrusos.a posição da Funal e de tão "em pé de guerra e dispostos
outros setores oficiais lnteress£ a reagir a qualquer invasão de^
dos,é característicamente cautelo suas reservas"(23).Os Tapirapés
sa e dilatorla o que leva ao fo£ foram recentemente ameaçados de
talecimento do "status-quo".Neste serem retirados de suas terras pe
sentido não há diferença entre a Ia Funal, que desejava "transferT
ação da Funal e a do SPI,ambos iji los para a Ilha do Banana 1 •, ceden-
capazes de uma modificação signi- do ãs pressões da Companhia Colo-
ficativa no sistema geral de expo nlzadora Taplraguaia(30).
Ilação e aviltamento a que esteve "Os Índios Galera e Sararé do
(e está) submeti do"(2M . grupo Nhambiquara,que a Funal es-
Ainda a propósito dos índios do tá transferindo para uma reserva
sul,podemos citar a opinião de ou^ 1ndigena,encontram-se em estado
tro antropólogo»o professor Sil > de saúde tão precário que,há pou-
vlo Coelho dos Santos,dlretor do cos meses,um surto de gripe,deco_r
Museu de Antropologia da UnlversJ[ rente do contato com os brancos ,
dade Federal de Santa Catarina: dizimou toda a população tribal
"...conheço a situação dos índios na faixa dos 15 anos"(3l).A trans
nos Estados do Paraná,Santa Cata- ferência dos índios Nambikuara se
rina e Rio Grande do Sul, pois de prende ã necessidade de ceder
senvolvl extenso projeto de pes - suas terras a poderosos grupos e'

17
"Nos/índios^omds como a plantação:
Quando mudada de lugar, se não morre, índio Pataxo'
pelo menos se ressente multo."
crianças que morrem antes de com-
conômlcos.
Notícias provenientes de Cuiabá pletar um ano de Idade,assim vi -
dio conta de que os Kaiabi foram vem os Índios Qu1rIrIs,tr1bo em
solicitar armas à Funai "para en- decadência atua 1 mente,loca 1Izada
frentar alguns fazendeiros da lo- na Vila de Mlrandelo a 293 kms de
calidade de Porto dos Gaúchos que Salvador"(35) •
Continuam Invadindo suas terras Os Índios Pataxós,como alias to
dos os outros,nos planos oficiais,
(32).
Em Goiás informa-se que "250 iji valem até menos que a flora e a
dlo;s, Xerentes tentam assumir ,. o fauna:"A proteção deles deveria u
controle do município de Tocatlnj_ dilr-se ou mesmo sobrepor-se a de-
as,tendo Já saqueado algumas fa fesa da flora e da fauna do lugar"
kendas.Os Índios reclamam a pro - (36). E se sua transferência for
prledade das terras em que vivem" concretizada,"decretará" o fim do
último direito que a tribo ainda
(33) . tem de viver na terra onde nasceu"
A respeito dos Índios Karajá da
Ilha do Bananal.Estado de Gojâs, (37).0 protesto dos índios Pata,-
lemos depoimentos como e8te:"\/e - xós é patético:"Nôs,índios, somo»
Jam.os civilizados construíram a- como a plantação que,quando muda-
qui os seus hotéis para assistir da de lugar,se não morre pelo me-
a decadência de outra civilização. nos se ressente muito.Nio aceita-
Ê uma barbárie".A barbárie a que mos sair daqui porque muitos anos
se refere o oficial da FAB e o e£ antes de existir o parque,a gente
petáculo visto da varanda do ho- já estava nestaterra que,boa ou
tel Kennedy naquela I1ha:"0s índj_ ruim,é nossa e é onde nasceram,se
os carajás voltando bêbados da cj_ crlaram,morreram e estão enterra-
dade matogrossense de S.Felix. Os dos nossos pais e avos"(38K
Índios atravessam o rio soltando No Pará,"os Indlps (Gaviões) a-
,
longos uivos dentro da nolte"(3 «). cabaram sendo removidos para ou-
Ainda sobre os Karajâs:chegou-nos tra área pela Funai. Mas esta -
ao conhecimento uma carta de LucJ[ vam tão transtornados que as mu-
ara,no dia do Indlo,(19.^.73),as- lheres chegaram a praticar abor -
sinada por 125 moradores daquele tos para que não nascessem crian-
lugarejo e endereçada ao Diretor ças,pois os bebês ,segundo elas,dj_
do Parque Indígena do Araguaia,1- flcultavam a locomoção da tribo .
Iha do Bananal .Entre outras coU- E a tribo estava sempre mudando
.sas,dizla:"Pedlmos em favor deles de lugar, fugindo dos brancos"(39)
(índios Karajás em Luciara)uma ur_ Um grupo deles "maltrapilho e fa-
gente Intervençio da FunaI .Alguns minto,chegou a Fortaleza para pe-
gravemente doentes (tuberculose)e dir ajuda" e na sua linguagem sim
todos absolutamente abandonados , pies fizeram a denúncia contra a
precisam de uma assistincla exce£ Funai porque ela é dirigida por
cional e permanente". um homem civilizado e homem civl-
1
Na Bahia,nio obstante o reduzi- 1 I zado engana índio"( »0) .
do número de índios lã existentes 0 mesmo drama do índio pode ser
encontramos a mesma vlolaçio dos presenciado no Nordeste onde "Xu-
seus direi tos,com todas as conse- curus",Fulniôs,Pankararus e Hamu-
qüências que daí der Ivam:"Homens és . . .sobrevi vem apesar de confinai
entregues ã beb1 da,mulheres tran£ dos em parcelas de seus antigos
formadas em empregadas domésticas. territórios e "perambulam" de um

18
lado para outro,sempre escorraça- trama contra o Parque Indígena do
dos"(/»l). Xi ngu, pat roc 1 nada pela Funai e de_
"Em Rondônia,a ocupação afeta fendida pelo General Ismarth de
índio e eco 1ogía"(42) .Surgem mor- Araújo,super 1ntendente do órgão,
tes de parte a parte e os respon- sob pretexto de 1ntegração:"índio
sáveis são "os gr i 1 ei ros ,gar impej_ 1ntegrado,segundo os boletins do
ros e seringueiros,que invadem as órgão,é aquele que ée converte em
terras dos Índios" éo que se vê o mão de obra".Para os sertanistas,
brigado a reconhecer o próprio é um mal.Essa política caracteri-
presidente da Funai(^B).Mas a ver zou-se pela opressão"(If7) .0 pro -
dadeira responsabilidade recai so blema de fundo continua o mesmo,
bre a Funai porque "tem dado^per- em que pese a explicação posterior
missão a empresas de mineração p£ do superintendente que persiste
ra explorarem minério na área in- em defender a "1ntegração",mesmo
dígena",como foi afirmado na Cirna que a qualifique de "lenta e har-
ra dos Deputados em Brás T 1 i a (M) . moniosa" (48) .
Nesta rápida amostragem da situ Para encerrar esse levantamento
ação dos Índios,ficou bem c^aro de dados,passemos a palavra a um
que "o Índio brasileiro está sen- dos mais sensíveis poetas atuais:
do extermi nado.Com o avanço da cj_ "Homens esquecidos do arco-e-fle-
vilização branca tem havido cho - xa/deixam-se consumir em nome/ da
quês e sempre o Índio brasileiro integração que desintegra/a raiz
leva a pior.Esse extermínio não do ser e do vi ver./"Vocês têm o -
se faz através de armas mais podje brigação de usar ca 1ça/camisa;pa-
rosas,mas também por causas biolo letó^sapato e lenço/enquanto no
gicas introduzidas pelos brancos , Leblon nos despedimos/de toda a
como afirmou o professor Newton convenção e viva a natureza".../
Freire Mala,Diretor do Departameji Noel, tu o disseste:/a civiliza -
to de Genética da Universidade do ção que sacrifica povos e cultu -
Paraná(^5)• ras ahtiquíssimas/é uma farsa amo
Não obstante a criação do novo
órgão para atender às populações
indígenas,a situação destas contj_
nua a mesma senão pior que a des-
crita pelo Grupo de Trabalho cons^
tituído por decreto pres1denc1aj ,
em maio de 1968:"Em que pese à
forte legislação que,desde o pe -
ríodo colonial procura amparar o
nosso 1nd1 o,cont1 nua o desrespei-
to pelo sllvícola.As dificuldades
para o cumprimento dessas leis e
a morosidade do rito processual^
nos casos de invasão ou posse,são
incentivos para a continuação da
espoliação de suas terras.Sempre
de maneira 11egftima,por fraude
ou violência,foram as terras ti-
radas a seu dono .E , não_raro,para
"legltlmar"o esbulho,há a acober-
tá-lo um decreto,uma lei ou um a-
to administrativo qua1 quer (^ô) .F£
nal.SPI, mesma coisa', exclamava
um chefe Karajá...
"Os VI lias Boas protestam"faz a
manchete da notícia da verdadeira

19
»jste sucinto e incompleto levan confessava o sértanista Antônio Co
^™tamento das nossas populações" trim Neto(51) .
indigenas já teria sentido para Cumpre reconhecer que tem sido
nos se,com e1e,conseguíssemos a- farto o noticiário dos jornais so
lertar a consciência de todos os bre os indios,mas esbarra na indi-
brasi1eiros,correspondendo ao ape ferença do nosso povo que tem uma
Io do General Antônio Coutinho,De" visão er rônea , supe r f i c i a 1 e tendejn
legado da Funai:"Se a igreja não ciosa a respeito das populações ir^
botar a boca no mundo,os Índios., digenas.Para a maioria,© indio não
vãoser sempre massacrados"(50) . passa de um selvagem ou de uma fi-
Sinajs de um despertar da gura de museu.
consciência se vislumbram ao^ in Para alertar e melhor interpre -
'di osmas , diante da sombria rea 1 i da" tar essa problemática que,queira -
de,não conseguem vencer uma "enor- mos ou não,é também nossa,apresen-
me sensação de remorso",porque "no tamos algumas pistas para a análi-
fundo,no fundo,o que a gente faz ê se das causas que produzem essa
um crime",como me 1anco1icamente morte lenta das populações indige-
nas .

J»S populações indigenas são \/\t\_ "Aparentemente a Funai é


**mas de todas as injustiças. A instituição muito dinâmica,à qual
própria política indigenista,por o país deveria inestimáveis servi
ser ma[s política do que indigenis^ ços.Rara^é a semana em que a im ~
ta,está merecendo as mais severas prensa nao registra declaração de
criticas,a ponto de ser considera- seu presidente sobre os projetos
da "carente de qualquer mérito e da entidade e as complexas tare
um amontoado de contradições"(52). fas realizadas por seus funcioná-
"A reformulação urgente dos mé- rios . í nfe 1 i zmen te essa imagem idí
1ica da Fundação Nacional do In ~
todos adotados pela Funai é a uni
dio não passa de um mito"(55).
ca maneira de evitar que os Ín-
Dos altos escalões ã simples e-
dios brasileiros sejam destruídos
pela civi 1 ização",afi r mo*u o s e r t a quipes de a tração,ressalvando uns
n i s ta Cotr i m (53). poucos e heróicos sertanistas, o
que caracteriza a Funai é o des -
Antes dos próprios métodos,há
preparo para a missão que foi cha
algo bem mais profundo a ser re -
formu1ado:"A única solução para mada a desempenhar.E1 a se trans ~
formou numa enorme máquina buro -
o problema dos Índios brasileiros
crática centralizada em Brasília
será a total reformulação da a-
e"cuja8 opções são alheias ao bem
tual política adotada pela Funai,
estar da comunidade indígena" se-
disse o General Frederico Rondon ii
gundo ressaltou o Dr.Amaury Sa
(5^4) .
O Dr.Sadock era o único dos al- outro esquema menta1,dentro de £
tos funcionários da Funai que en- ma realidade diferente e com ou-
tendia de índio,mas teve que se tros obje ti vos .
demitir,dadas as irregularidades "Declarações atribuídas a ai -
existentes no õrgio que, na opi - tos dirigentes da Fundação Nacio
niio do General Bandeira de Mello nal do Indio...vieram aumentar a
"atingem a quase todos os setores distancia que separa os que têm
da Funai,envolvendo inclusive a interesse no indio sob o ponto
nossa prestaçio de contas" (57). de vista teórico mas que não po-
É impossível reformular uma au- dem nem devem deixar de olha -Io
têntica política indigenista sem também como ser humano"(58).A re
á redeflniçio de princípios e con_ formulação da política indigenis^
celtos e sem situã-la no conjunto ta urge mais atê porquese tor -
da política nacional.Nem mesmo o nou uma "política contrária aos
conteúdo antropo 1ógico ^e certas princípios que ela defendia quan^
palavras como "aculturaçio" e "i£ do foi criada"(59).
tegraçio" tem sido respeitado no A doença que se manifesta em
Jogo de prestidlgltaçio de cer - um órgão só poderá ser convenier^
tos conferenc1stas que a Funai temente diagnosticada se o exame
tem enviado ao estrangeiro, na se estender ao corpo inteiro.Se-
sua preocupação com a "boa ima - rá que não teremos mais elemen -
gem".A própria Convenção n?107 tos e mais esclarecedores se es-
da Organização Internacional do tendermos nosso exame â política
Trabalho ê utilizada dentro de g1obaI? .

a política do «modelo brasileiro»

f^s dirigentes políticos brasl- to e conomico de uma pequena mino


Oleiros,no afã do "desenvolvi- ria. Este enriquecimento da mino-
mento",promovem os interesses e- ria será fruto da concentração
conomlcos de grupos Internado - plan ejada da riqueza nacional
nais e de uma minoria de brasi - que, em termos mais simples,é o
leiros a eles Integrada.Só podem roub o do resultado do trabalho e
fazer e de fato só fazem uma po- do s ofrimento da quase totalida-
lítica economieista,sobrepondo o de d a população que progressiva-
produto aos produtores,a renda ment e se i rá empobrecendo (60).
nacional â capacidade aquisitiva Es sa opção equ i vocamen te deseji
da população,o lucro ao trabalho volv mentista tem.como conseque£
a afirmação da grandeza nacional cia a crescente margina 1ização
ã vida dos brasileiros^ preten- do p ovo brasileIro,seja operário,
são de hegemonia sobre a América sub- operar Io, seja pequeno proprJ_
Latlna ao crescimento harmônico etár Io da cidade ou do campo,se-
do Contlnente.Jâ está mais do jaa rrendatârlo,posse!ro,meIeIro,
que provado e disto as nossas a_u peão ,sub-empregado ou desemprega
torldades não fazem segredo, que do.M ais grave ainda é que se ab-
foi aceito o caminho do "capita- prof unda a dependência do país
lismo Integrado e dependente" pai em r elação a outros países mais
ra o nosso "progresso" .Mais pro- rico s e fortes , 1 mped I ndo uma ejK
vado ainda está que o "modelo perl êncla de desenvolvimento na-
brasileiro" visa um "desenvolvi- clon al,definido e assumido elos
mento" que é só um enrIquecImen- próp rios brasI1eIros.

21
Em funçio dessa opção "desen - ritório onde vivem apenas índios
volvimentista" assim caracteriza começa a receber co1onos,maderei-
da ê que se constituem os orga - ros e grupos exploradores de mine
nismos admi n i s t rat i vos ,como a Fu^ rios,as autoridades resolvem o i-
nai.Muito a propósito vêm as re- nevitâvel conflito entre indios e
centes palavras do etnôlogo Car- brancos-quando ainda restam in-
los Moreira Neto,do Conselho Na- dios- transfer i ndo o grupo indíge-
cional de Pesquisas:"0 Brasil na para outro local mais afastado
passa por uma febre desenvolvi - da civilização e ãs vezes jâ povo
mentista que pode estar influen- ados por tribos inimigas das que
ciando ma 1eficamente a Funai"(6l) chegam"(62) .Nisto se reflete o fe
Todos os setores da administra nômeno geral:o que importa não se
çio devem colaborar para alcan - rã promover algo mas, " i n tegra r " a
çar os mesmos objetivos.Por tanto população que puder ser integrada
todos estão dependendo das dire- ao sistema adotado,servindo ao"mo
tivas econômicas e a elas devem de Io bras ile i ro" .
servir.Tendo estas uma linha an- Todos percebem que^com uma mentia
ti-nacional e antipopu!ar , ê ne - lidade e programa assim desenvolvj_
cessãrio que estes órgãos admi - mentistas qq,e tem presente "somen-
nistrativos amorteçam e contró - te orendimento econômico,caminhar£
lem as tensões sociais que apare mos fatalmente para a extinção to-
çam.No nosso caso "quando o ter- tal das populações indígenas, por

22
mais belas sejam as nossas inten - que o deserto de homens permanece.
ções, estatutos e leis"(63).0 ex- Derrubam-se as matas não só para a_
diretor do SPI e experiente indige brlr estradas mas também para In -
nista.Gama Malcher afirmou que "a troduzlr o bol.Garante-se que só^
política definida como de "prote - com a pata do boi a Amazônia será
ção ao indio",na realidade trans - conquistada...Em nome disso,expu1 *
forma o silvicola em justificativa sam-se os índios de suas reservas,
para a existência de um aparato bjj mutila-se fortemente nosso equilí-
rocrãtico que relega os interesses brio ecolõgico",dlz severamente
dos indígenas a um segundo plano £ Cláudio Vi 1 Ias Boas(68) .
fim de atender prioritariamente as Se para isso é necessário abrir
pressões e interesses de lattfundj[_ grandes rodovl as , sej am abertas mes^
ãrios"(6i4) .Com energia,© deputado mo que os "males sejam grandes",se:
Jerônimo Santana denuncia:"A Funal gundo Orlando Vlllas Boas que a
se transformou num órgão de que os propósito da BR-80 frlsa:"Estrada
grupos se valem para explorar os política e não de interlorlzação"
recursos naturais das reservas on- (69).Se é necessário expulsar os
de os índios vivem.Hoje o indio ê posseiros ali radicados hâ anos;
o que menos importa.0 indio é uma que,depois dos Índios,foram os únj_
coisa e a política posta em práti- cos defensores daquelas riquezas ,
ca pela Funai o prova"(65)."As pa- sejam expulsos a qualquer custo_ ,
lavras "progresso" e "desenvolvi - conforme a vigorosa denúncia ate
mento" servem de escudo para a dejs hoje 1rrejpondlda do Prelado de
truição do ambiente natural brasi- São Fellx do Araguala (70) .Se n£
leiro e para o extermínio dos ind_i_ cessar Io ma tar,mata-se . ,, .J
genas" ê a conclusão a que chega a E se ali encontra rem. os índlos?£
equipe do "0 Estado de S. Paulo" les não podem Impedir a marcha do
que fez uma alentada pesquisa so - "desenvolvimento" e devem ser "In-
bre o indígena no Brasil (66). tegrados", "acul tu rados" para cola-
Para o povo pobre do Brasil o fu borar no crescimento naclonaK" 0
turo que o sistema oferece ê uma des-envo 1 v l mento da Amazônia não p£
margina 1ização cada dia maior. Pa- ra por causa dos índios" é o títu-
ra os Índios, o futuro oferecido ê lo das declarações do Ministro Co^
a morte.0 insuspeito "Osservatore ta Cavalcanti que exclama patética
delia Demenica" do Vaticano comen- mente:"E por que eles hão de ficar
ta:"esse progresso (do Brasil) no sempre 1nd i os"?(71) .
entanto tem um preço ecológico: a Se os índios ali estão mas não
extinção dos indios"(67). produzem segundo os critérios do
0a política global de desenvolv_i_ capitalismo Integrado e dependente,
mento econômico do governo faz pajr se não possuem propriedade legal
te a "ocupação da Amazônia" (e do da terra,se não são proprletá
território nacional) mesmo que se- rios de empresas agríco1 as , então
ja feita por companhias estrangei- devem dar lugar aos novos "ban -
ras ou multinacionais que ali en - delrantes",devem retirar-se des-
contram grandes oportunidades de tas terras que nunca lhes perten_
investimentos altamente lucrativos ceram e que só agora a "civiliz£
na exploração de minérios e de ma- ção" dâ ou vende aqueles que vão
deiras ou na organização de "empre desenvolver o país'. Podem estes
sas agro-oecuãrias". últimos explorar (ou roubar) no£
Se para isso é necessário conti- sas riquezas naturais que vão au
nuar, os métodos importados e tradj^ méntar as riquezas dos países rj_
cionais de depredação da natureza, cos...deles é o direito a apro -
não 1mporta."Dlz-se que é preciso prlação daquelas terras.Se os iin
abrir estradas para povoar,fixar o dlos assim provocados e expolla-
homem na Amazônla .Agora que as es- dos do seu direito reconhecido
tradas estão abertas verlflca-se teoricamente e do seu modo natu-

23
Se apresentamos aqui a atual po
ral de viver.morrerem, pois que lítica indígenísta como a causa
morramlSe reagirem,sejam enfren- mais próxima da sítuaçio em que
tados como se fossem eles os in- vivem (ou morrem) nossos índios ,
vasores dessas terras! 0 Marechal temos clara consciência de que ""a
Rondon.em trágica profecia,jâ em causa real e verdadeira está na
1916 dizÍa:"Mais tarde ou mais própria formulação global da polí
cedo,conforme lhes soprar o ven- tica do "modelo brasí1eiro".E se
to dos interesses pessoais,esses dizemos que é necessário modifi -
proprietários-coram Deum soboles car profundamente a política da
(ante a face de Deus)-expe1irio Funai,afirmamos que isto somente
dali os índios que,por uma inver será possível com uma modifícaçio
sio monstruosa dos fatos,da* ra "- radical de toda a política brasi-
zio e da moral,serio considerados leira.Sem esta modificação global
e tratados como se fossem eles os nao poderá a Funai ou outro orga-
intrusos,sa1teadores e ladrões" nismo passar dos limites de um as
(72). s i s tenc í a 1 í smo barato e farisaict)
Fazendo eco ã profecia do Mare- aos condenados à morte,para camu-
chal Rondon,diz o Xavante Juruna: flar o inconfessado apoio aos
"...a terra ê a única riqueza que grandes proprietários e explorado
o índio tem na vida.Sem ela,ele res das riquezas nacionais . Neste
vira um bicho,um cachorro que es- contexto,o decantado Estatuto do
tá sempre triste . . .E1 es (os Kra - índio não passará de uma publici-
nhacacores)precísam saber que o dade oportunista ou uma homenagem
branco quer sempre enganar para póstuma.
ficar com as terras"(73).Não fal- De nada adiantaria reformular a
ta razão aos Irmios Vi lias Boas Funai se a psicose desenvolvi men-
quando c1 amam:"Nossos Índios es - ti sta ,mot i vada por exclusivos cri
tio mor rendo,desaparecendo numa terios econômicos e por um falso
paisagem em que o boi e o capim prestígio naclona 1,continuasse a
vio expulsando definitivamente o dominar a política global do pa.ís.
homem.Agora,diante do processo de Seria o mesmo que reformar um dos
ocupaçio da Amazônia,vemos o in - vagões,não modificando o trilho -
dio ao largo do desenvolvimento sistema que está estragadoro de -
como mera paisagem"(74). sastre é inevitável'.

24
da,aceita a tese de que as cultu-
Depois desta sumária análise
ras primitivas são quistos ao de-
das causas da situação das_po-
senvolvimento nacional,Já estou
pulações indigenas, a conclusão _i_
cansado de ser coveiro de Índio :
'mediatista seria que não existe
transformei-me em administrador
solução para o prob1 ema.Sertanis-
de cemitérios indigenas"(79).
tas/funeionários e missionários ,
Muitos missionários fariam suas
que atraem novos rjrupos de Índios
as enérgicas palavras do missioná^
sentem-se angustiados pela cons -
rio jesuita , Padre Tomas de Aquino
ciência de que o resultado de seu
Lisboa no Simpósio sobre o futuro
trabalho foi apenas atrasar (oua_
dos indios Cinta-Larga,em março
celerar?) em alguns anos a extin-
deste ano:"0 Parque Ãrlpuanã será
ção de tais grupos .
cortado como o foi o Parque do
"Ê com tristeza,diz Apoena de
Xingu.0 trabalho já está iniciado.
Meireles, que tentamos atraí-los,
Eu,como responsável pela atração
sabendo-se que um futuro sem pers_
desse grupo Cinta-Larga,não estou
pectivas os águarda"(75)•
mais animado a faze-la,a não ser
Esta mesma nostalgia se encon.-
que as regras do jogo sejam obed£
tra em declarações de outros co -
ei das:respeitar os Indios,inter.-
nhecidos sertanistas.Or1 ando Vi1-
romper os trabalhos da estrada fi-
Ias Boas,em setembro deste ano_,
te que se consiga falar com os \t\_
voltando de uma frente de atração
dios para orientá-los nos seus f£
"parecia preocupado com o destino
turos contatos com os brancos.
dos indios,que chama de tragédia"
Pois é melhor que o índio morra
(76).Mas já em f ever e í r o, a s s i m de_
lutando pelo que é seu do que vi-
sabafava:"E quantos de nós, por
ver marginalizado e mendigando o
força de miseráveis e desgraçadas
que sempre foi dele"(80).
circunstâncias os estamos traindo
naquele exato momento do aperto Será q.ue os Indios constituiri-
de mão,do abraço,do sorrir,do ges_ am "um povo com os dias contados"
to enfim de afeição.Desgraçados (8l),ou como afirma Cláudio Vil -
que somos,é a ve rdade " ( 77 ) . Seu ir_ Ias Boas, "os indios não terão
mão Cláudio comenta com meIancolJ_ propriamente um destino?" (82).Ou
a:"Levamo-1hes (aos indios) nos - ainda , na me 1hor das hIpóteses,se-
sas doenças ; into 1erancia e muitas gundo o falecido Francisco Meire-
vezes o extermínio c r i m i noso , as s u_ les "o índio só tem um destino: a
m i do , proc 1 amado-" ( 73) . marginalização?"(83).
No mesmo tom,falava Antônio Co- Não obstante esta trágica pers-
trim Neto:"Não pretendo contribu- pectiva ou exatamente por isso, é
ir para o enriquecimento de gru - preciso salvar os povos indígenas,
pos econômicos ã custa da extin - ameaçados de desaparecer . E1 es
ção das culturas primitivas.(.. .) mais do que patrimônio-arquívo da
A política indigenista desenvolvj_ humanidade,são humanidade viva.

25
êr

26
4(
Estou cansado de ser covéiro de índios"
ANTÔNIO COTRIN NETO sertanista

Eis por que se justifica que so Se o grau de consciência da hu-


manidade correspondesse ao volume
mente pessoas ou entidades cons
cientes,competentes e desinteres- das 1nformações,já não se tolera-
ria mais tal situação inígua.É
sadas sejam mobilizadas para equ£ com os olhos fitos no veredito da
cionar este problema. história,tradução do julgamento
Não i possível que se continue de Deus,que o Brasil deve solucio
a dizer,em alto e bom tom^OsJn- nar o problema do indígena,não co
dios estão cansados de serem indj_ mo questão de segurança nacional
os.Eles querem beneficiar-se com e economia,mas como imperativo da
os programas do Governo" (81») . Se dignidade humana e da honra do p£
já é estranho que assim fale o mj_ vo bra s1 1e i ro .
nistro Mario Andreazza,mais es- Somente assim seria legitimo
tranho é que o General Frederico que uma política indigenista bra-
Rondon afirme que se "deve promo- sileira se apoiasse num documento
ver a integração total mediante a 1nternaci onal (90) .
absorção da mao de obra indígena" Evidentemente o problema indí-
(85) e o General Bandeira de Mel- gena brasileiro não se equaciona
lo,diretor da Funai,proclame que e menos ainda se resolve_ se nao
a "assistência ao Índio deve ser for situado em sua dimensão inte£
a mais comp1eta possíve1 mas nao nacional. Mas também é evidente
pode obstruir o desenvolvimento que não encontrará solução adequa_
da Amazônia"(86) .Nesse contexto, da, separado de seu contexto nacj_
não é de estranhar a fanfarronice onal, levando em conta que os Ín-
% do Deputado Gastão Muller:Se os dios constituem apenas alguns mi-
fazendeiros quisessem,poderiam lhares dentro da esmagadora maio-
ter partido para uma luta armada ria de milhões de brasileiros maj^
e seria muito fácil vencer os in- glnalizados. Todos hão de concor-
dios"(87) . dar que "em nome de uma política
Afirmações como estas,orquestr£ de integração, que não Integrou
das por tantos fatos lamentáveis, nem mesmo os civilizados, nao se
confirmam as denúncias de genocí- pode violentar uma cultura que,em
dio... bora pr 1 mi 11 va ,* tem garantido a
Em que pese as reiteradas afir- subsistência secular desses povos.
mações do Ministro do Interior de A sociedade civilizada sôterã o
que o "problema dos Índios e um direito de falar em integração do
problema do Brasil^SS) e "os ou- índio no dia em que,em seu meio, ,
tros países não tem o menor conhe .não houver ninguém morrendo de fc>
cimento do problema do Índio bra-
sil e i ro" (89) , t ra ta-se de um pro -
.'me"(9l) .
blema da humanidade,ta1 vez melhor "Há séculos - afirmam os l_r
conhecido,em suas causas e motiva^ mãos Vlllas Boas sobre osindios-
ções,nos países onde existe 1ibe£ sobrevivem graças ã caça,ã pesca_
e a uma rudimentar agrI eu 1 tura . Sã
dade de informações e de debate.A
o felizes com suas crenças e seus
final são milhões de seres huma
nos nas Américas e alguns milha rituais be1íssimos.Por que então
res no Brasil,que há quatro sécu- destruir essa cultura secular?Ape
nas para impor nosso sistema de
los vêm sofrendo as maiores injus^
vida aos IndI os?CIv11Izar para
tiças por parte de uma "raça" que
se pretende superior.
«£ PRECISO RESPEITAR O INDÍGENA
COM SUAS CRENÇAS E SEU ÜIÓDÒ DE VIDA»

PADRES CATÓLICOS

que? Destruir a organização tri -


Exigindo que só pessoas devida^
fba 1 existente e depois deixar os
mente qualificadas e com uma prá-
■índios marginalizados na nossa so
cledade?"(92) . jtlca conseqüente. Interfiram na
'solução do problema I nd I gena , pen^
Sempre na perspectiva de uma
samos na formação adequada que de
mudança profunda da política glo-
vem ter os mlssIonãrios,pols seu
jba 1 do atual modelo bras i 1 e i ro , i m
trabalho de_,eyangel i zaçãosempre
por-se-ia ainda a.organização de
um grupo diversificado do qual 'va\ atingir o coração,o núcleo
participassem Índios, antropõlo J central das culturas i nd i gena.s .To
gos è outros'c t ent i st as,ser tan i s- car no coração sem a ciência e
tas e missionãrios , para promover a perícia de uma equipe de cardi
ío autêntico diálogo i n tercu 1 tura 1 ologistas seria causar fatalmen"
e a harmônica convivência e cola- te a morte àquele a quem deseja-
boração dos nossos diferentes po- mos fazer o bem.
vos . Gravíssima responsabilidade é
Deyemojí reconhecer que freque£ a do charlatão em medicina e mal
temente faltou esta visão e cons'- or ainda no camp^ da aculturação
ciência sócIo-polTtica às entida- onde se pode causar a morte não
des cristãs,preocupadas mais em apenas a um que outro indivíduo,
"prestar assistência" aos Indròs. mas a um povo todo e à sua cultu
Em conseqüência, sob equívocos ra. ""
pretextos de uma caridade aliena- Além disto, para que este trai
da, não raro traíram sua missão e balho seja efIc1ente,torna-se ne
vangêlica de defendê-los tenazmen cessaria uma espécie de as.sepsí^
te da morte física e cultural ou" não no sentido de total ISolamen
de respeitar sua liberdade e dig- to, mas no sentido de preparar "
nidade de pessoa humana. as populações envolventes. Com e
"Os próprios padres católicos- feito, para os índios, todos oT
é afirmado em recente artigo da "brancos" ou "civilizados" repre
imprensa-apõs mais de AOO anos de sentam de certo modo o "cristla-"
catequese,viram-se obrigados a mu 'nismo" de que os missionários se
dar de tat1ca.pois se continuas - reclamam e portanto também a men
sem nomesmo propósito de Anchie- sagem que estes querem transmi -
ta e Nóbrega (sic) o que iriam tir. Faz-se pois necessário que
conseguir não seria mais do que a medidas análogas sejam tomadas
desagregação,margina 11zação,des - em relação aos evange1lzadores
truição e morte do que resta dos dessas populações envolventes.
grupos indígenas bras i 1 e I ros . E ejs Ensina o mlssionárIo-antropó-
sa mudança de tática foi justamen logo Adalberto Holanda Pere I ra :
te no sentido de respeitar o indi "0 indlo é apenas diferente de
gena com suas crenças e seu modo nós e com o direito de continuar
de vida,valorIzar a sua cultura £ a sua vida ao lado da nossa.Den-
o Invés de procurar Impor a cultu tro da maior simetria entre os
k» dos cUI I lzados"(93) . sistemas de l nteração,transmita-
A visão de uma nova política mos ao Indlo os traços culturais
indlgenlsta deveria ser posslblll que ele deseja receber e recebe-
tada e favorecida pela transforrna mos dele os que nos possa trans-
ção das missões religiosas. mltlr"(92t) .
Iesmo percebendo sinais pos i tj_ res" de,pretensa "civilização
;
vos,como sejam uma nova ment£ , crista".
lidade missionária, a criação do Diante de outra pergunta: o.
CIMI, encontros ecumênicos,não que seria a nossa Igreja,se con-
estamos sat!sfeitos com o nosso tasse positivamente com o indio?
trabalho e não podemos esquecer Talvez a atitude de muitos Í£#
a d ramaticidade da situação, de£ mãos de fé seria igualmente de
crita na lancinante "Carta dos embaraço.Se olhássemos positiva-
Caciques de Votouro"(R.G.S.),da mente para os valores vividos pe
qual vamos reproduzir um pequeno los Índios criticarem nossos va-
trecho,segundo cópia do original; lores , f i car ia evidente um incômo
"Queria ver os senhores de ou do j u1gamento.
tra origemJnão sendo o indio.Que_ Tanto para a sociedade brasi-
ria ver o português cassar a "0£< leira quanto para a Igreja,o mes,
aa passada sem ninguém por ele e' mo aconteceria se perguntássemos
outro lado de origem italiana o que seria o Brasil ou nossa I-
sem ter aquilo que traz o ensi- greja,se contássemos posItivame£
no:suas mãos presa^ seus olhos ae_ te com os valores do povo margi-
go para o ensino,seus ouvido eur nalizado das cidades ou dos cam-
s do para ouvir as enduaação,sem pos . . .
direito sociedade nenhuma, sem di^ Por 1sso , convidando a todos
reito a um palmo de terra3sem dt para assumirem conosco este com-
reito educar os filhos.. ,0^ nosso promisso,nós nos propomos,em prj_
plano de todos nossos irmãos de meiro lugar,a continuar uma esp£
terra mundial nós acreditamos ' rançosa luta pelos direitos dos""
que somos iguais que nosaos ir- povos indigenas.Mesmo que todos
mãos ycorre sangue dos pés a cabe os fatos nos incitem ao desânimo
ça,carne humana,iguais como quaT ou ao desespero,fazemos nossa a
quer um de 'nóa"(9S). .vontade dos nossos irmãos Índios'
Aí está uma interpelação que de viver e de lutar pela preser-
suscita uma indispensável pergu£ vação de sua cultura.Não traba -
ta,em sentido contrário:0 que se 1hamos por uma causa perdida,por
ria o Brasil,se contasse positi- que se trata de uma causa profun
vamente com o indio?Ê bem possí- damente humana,pe1 a qual vale a'
vel que muitas autoridades e br£ pena ate morrer,se preciso for.
slleiros de mentalidade capita - Seria trair a nossa missão, se
lista e imperialista tremam dian^ nos resignássemos a ser minis-
te desta pergunta,o que mostra tros de um Batimo "in articulo
que,consciente ou inconsciente - morti s" .
mente,apoiam a extinção dessas
Em segundo lugar,não aceitare
populações que constituem, por ;mos ser instrumentos do sistema""
seus valores positivos, uma con- Icapitalista bras i I e i ro . Nada fare-
testação viva do sistema capita-
mos em colaboração com aqueles
lista assim como dos tais "valo-
que visatr. "a t ra I r " , "pac í f l car" e
"acalmar" os índios para favore-
cerem o avanço dos latifundiári-
os e dos exploradores de minéri-
os ou outras riquezas.Ao contrá-
rio,tal procedimento será objeto
de nossa denúncia corajosa ao l£
do dos próprios Índios.Com eles,
nio aceitaremos um tipo de "inte
gração" que venha apenas trans -
formá-los em mio de obra barata,
avolumando ainda mais as classes
marginalizadas que,no func[ona -
mento do sistema de produção,en-
riquecem somente aos que já são
ricos.Menos ainda,por ser mais
humilhante e criminoso,colabora-
remos com um trabalho que vise
transformar o indio em um ser hu^
mano necessitado de tutela,pois
ele não é um menor nem um inválj_
do,e sua maioridade de indivíduo
ou de povo, ga ran t i da pela prôpr_i_
a lei na Natureza e por Deus,Se-
nhor das consciências e fiador
dos direitos humanos,não pode f\_
car condicionada a critérios de
uma suposta "integração".
Em terceiro lugar,o objetivo
do nosso trabalho não será "c i v_^
lizar" os indios.Estamos convenw
cidos,como o grande precursor
Bartolomeu de Las Casas que "muj_
tas lições eles nos podem dar
não só para a vida monástica mas
também para a vida econômica ou
política e poderiam até ensinar-
nos os bons costumes"(96) . Seria
trair o Evange1ho,reduzí-1 o a
instrumento de uma sociedade que
"se desumaniza - como diz da ci-
dade Cláudio Villas Boas - tor -
nando o relacionamento entre as
pessoas cada vez mais difícil,ca
da vez mais distante.Tenho pres-
sa em voltar ao Xingu,uma pressa
agôníca,existencia] . Lá , creio
que poderei entendê-los melhor.
Em sintesernão estando no proce£
so de afogamento,compreenderei
melhor o que se está afogando"(9
7) .
Por outrvo 1 ado , Compromet i dos
com os povos indigenas,afirmamos:
Há entre eles valores vitais
que os constituem como povos e
consequentemente,os fazem sujei- berto Pereira - nem possui o ee*
tos de direitos que não podem ttmulo econômico no sentido _ de
ser espezinhados."Como ser huma- adquirir prestígio ou elevação
no - proclama Apoena - nio pode do "s tatus" social.Não conh'ece
(o índio) ficar sempre sendo a competição econômica e nem atitu
vítima das decisões muitas vezes des de ambição .Vive jo sistema cq_
arbitrárias dos que pretendem d_i^ munitãrio de produção e consumo,
rigir-lhes o destino" (98) .A úni- com divisão de trabalho segundo
ca atitude válida será respeitá- o sexo". (101) .
los como povos e,num diálogo re- SÇ - A organização social tem
al e positivo,progredirmos jun - como única finalidade garantir a
tos como humanIdade.Qua1 quer ti- sobrevivência e os direitos de
po de intervenção que vise ensi- todos,não os privilégios de ai -
nar-lhes costumes e padrões de guns.O comunitário prevalece 8j>-
nossa cultura será ou dominação bre o individual.To da expressão
direta ou caridade farisaica. Só cultural visa celebrar e aprofun_
um diálogo assentado no reconhe- dar este senso de comunidade.Eis
cimento de seus valores e d i rej_ a fonte da paz e da harmonia de
tos será autêntico e positivo p_a que tem saudades os sertanistas:
ra os dois 1ados. "nossos irmãos da selva - diz
Sem assumir a visão idílica Cláudio Villas Boas - sem possui
de Rousseau,sentimos a urgente rem toda esta sofisticação teano_
necessidade de reconhecer e pu-
lógica,são plenos e felizes,vi -
blicar certos valores que são rna
vendo uma vida equilibrada e har_
is humanos e,assim, mais evangé-
moniosa (102).Francisco Meireles
sonha-."Intimamente gostaria que
licos do que os nossos "civiliza^
dos" e constituem uma verdadeira
eles pudessem ser mantidos em su_
J as aldeias e que nós,civilizados,
contestação â nossa sociedade:
19 - Os povos indigenas}em ge_ ao invés de incutir-lhes nossos
padrões culturais,aprendêssemos
vai, têm um sistema de uso da com os indios que ^sempre vivem ^
terva^haseado no social,não no
em harmonia não só no grupo tri-
■particular, em profunda consonân-
cia com todo o ensinamento bibli^ bal mas com a própria natureza.
(203).
ao,não só no Antigo mas no Novo 49-0 processo de educação
Testamento,sobre a posse -e o uso caracteriza-se pelo exercício da
da terra (99$.Corta-se assim pe- liberdade. "Aprendem a ser livres
la raiz a possibilidade de domi- desde a infância - diz Luiz Sal-
nação de uns sobre os outros ã gado Ribeiro - pois um pai nunca
base da exploração particular de obriga o filho a fazer o que. ele
meios de produção.Nota Antônio não quer.Um pai nunca bate no fi_
Cotrim Neto que "com a chegada lho,por maior que tenha sido- a
do branco, estabelece-se o concei_ sua travessura". (...) "0 indio é
to de propriedade particular,sur_
gindo os conflitos na aldeia"(lO acima de tudo um hom em livre.Não
depende de ninguém p ara o susten
2Q - Toda a produção, fruto do to de sua família - eie mesmo ca_
trabalho ou do aproveitamento ça e pesca enquanto sua mulher
das riquezas da natureza e por - cuida da pequena lav oura de sub-
tanto toda a economia é baseada sistência - e isso l he dá oondi-
nas necessidades dó povo,não no ções de não dever fa vor ou obri-
lucro ."Produz-se para viver e não gação a ninguém.Nem a seu pai,
se explora o trabalho para lu nem ao chefe da trib o" - (104).
arçLr."0 indio não se preocupa 59 - A organizaçã o do poder
com acumular bens de qualquer na não é despótica masc ompartilhada.
tureza - ensina o jesuita Adal - "Assim o chefe não ê aquele qup

31
manda}mas sim o sãbio que aaonse
.lha o que deve ser feito...Se os
indijos seguem ou não seus conse-
lhos,o problema não é do chefe.E
le apenas é um líder que aconse-
lharão um patrão que determina
o que tem de ser feito.Mesmo no
caso de uma guerra,o chefe nunca
poderá determinar que todos os
homens participem da luta"(105).
Isto significa que, entre eles,a
autoridade é realmente um servi-
ço a comunidade,não dominação.
Claro que nestas condições não
há lugar para instituições de po
- liciamento e coerção.
69 - As populações indígenas
vivem em harmonia com a natureza
e seus fenômenos,em contraposiçã
o a nossa "integraçãocom as difê
rentes poluições, destroços de u
ma natureza arrazada e substitui
da pelo habitat em que vivemos:~
"Os indios, ao contrário dos
brancos, sempre conviveram em O chefe;
peje feita harmonia com a natureza, não é aquele
não havendo casos de tribos que que manda, mas sim
tenham destruído a fauna ou a o sélpio que aconselha
flora de qualquer região por e o que deve ser feito...
Ias habitada.Esta e a posição di"
antropólogos e especialistas em Se os índios seguem
indigenismo"(106). ou nao
79 - A descoberta, evolução e os seus conselhos
vivência do sexo entram no ritmo o problema não é do chefe
Ele apenas e um líder que aconselha
normal da vida do indio,num cli- não um patrão
ma de respeito,sem as caracteres que determina o que tem
ticas de tabu ou de ídolo que si"
manifestam em nossa sociedade e de ser fe/to"»
tanto a condicionam. (O Estado de São Paulo)'
Essa enumeração de valores ni,
o pretende ser exaustiva nem e ^
les se realizam uniformemente,
mesmo porque cada grupo indigena
constitui um povo, com suas ca -
racterísticas pecu1iares,cuja ex
pressão maior ê a língua.Não ig"
noramos que também no homem indí
gena há sinais da sombra do peca"
do que,sob formas diferentes dõ
egoismo comum,embaraçam a plena
realização e autêntica integra -
ção desses valores humanos.
Mas esses valores existem e
devem ser respeitados ,e promovi-
dos.0 trabalho à ser feito será
decidido com os indios e nunca
"Um pai nunca obriga o filho a fazer o que ale não quer.
Um pai nunca bate num filho, por maior gue tenha ado a sua travessara?'
Luiz Salgado Ribeiro.

'mír,~viver e r«ye'».t.jos 'egítlmò*


para os índios.EJes mesmo desen- valores desses povos^em que sé •
volverão seus valores e suas téc exprime a milenar ação de Deus
nicas e decidirão o que aceitam
S de nossa cultura e com Isso rea-
lizarão seu caminho original,co-
em sua vlda.Els o que seria
pratIca correta"da continàidade
da Encarnação de Cristo.
uma

laborando com o verdadeiro desejn Ele mesmo o fez, antes de I njj


volvimento Integral do Brasil e ciar sua atividade pública de
da Humanidade. profecla,"despojando-se de sua
Neste ano em que celebramos o divindade" (Fl 1 .2, 7) ,para situar^
25? aniversário da Declaração se nos limites de um chão humano
dos Direitos Humanos,se cotejás- onde,homem,aprendeu com os ho
semos esses direitos com a nossa mens, a linguagem do diálogo e o
realidade civilizada e com a re£ gesto da comunhão,faz abrir os
lidade Indigena,ta1 vez tivésse- caminhos de uma real libertação.
mos a surpresa de descobrir que ê preciso o despojamento da
os índios mais os vivem e respej^ cultura para entender o indlo,
tam do que as najões que afiança nosso Irmão.Se a comunhão com o
ram sua formulação. próximo,o amor,é o núcleo da mer[
Se tivéssemos a corajosa hum- sagem evangélica, antes de qual-
mildade de aprender com os Indl? quer proclamação verbal,deve ser,
os,talvez fossemos levados a ti atitude de vida.Só através de um
transformar nossa mentalidade Ini processo de encarnação no selo
dtvtdualtsta e as corresponden- dos povos Indl genas ,assumi ndo su^
tes estruturas econôml cas , pol rtj_ a cultura,seu estilo de viver e
cas,sociais e religiosas para de pensar,poderá ser demonstrada
que,em algum lugar da dominação de modo convincente,a transcèn -
de uns sobre os outros,pudesse'»* dência do Evangelho tão afirmada
mos construir o mundo solidário teoricamente e tão negada na prá
da colaboração. tlca,pelas {■posições de um rígT
Se como Igreja ou como pesso- do lega 11smo.
as que se pretendem cristãs con- Transmitir o Evangelho é Ins-
tinuarmos nos apresentando aos taurar um processo de revelação
índios com belas palavras con - libertadora e, antes de tudo,vi-
tradltadas por nossas Iniciatl - vê-lo no seu d Inaralsno.Hui tos a-1
vas capItaIIstas,permanente e m£ pelos da presença e da ação.do
Is profundo será o escândalo pa- senhor,sementes do Evangelho,hâ
ra esses povos.Bem o mostra a ■ de receber o evangel I zador' qoe
pergunta de um índio Tupirapé ao real e lealmente se encarne no
mlssionârIo:"Quanto é que as Com mundo dos I ndlos.SentIr e decl -
panhlas (agro-pecuárIas)pagaram frar tais apelos será condição
ao Pai do Céu de vocês para ele preliminar da missão. Juntamente
dar as terras dos Índios"? com os índios,é preciso Identlf^
íO c r i s t a o " s 5 será slfilTl u h I - car.na vida deles,os rastros de
Versaí' da salvação e revelador um Deus solícito que percorre e
do amor do Pai do Céu,em toda orienta os caminhos de todos os
parte,e em particular,para os po homens,ontem como hoje,para a ;
vos Indígenas,se for uma presen- plenitude dos tempos que é Jeass
ça respeitosa e paciente e espe- Cristo,o Homem Novo,cuja ressur-
rançosa que possa perceber,assu- reição radicaliza na história o
CHEGOU
O MOMENTO DE ANUNCIAR:
AQUELE
QUE DEVERIA MORRER
É AQUELE
QUE DEVE VIVER

não'trazer soluções.As soluções


pioneiro da transformaçio da Hu-
só serão encontradas na realida-
man i dade .
' A Ressurreição do Senhor que- de onde nos precede a ação do E^
pírito.Não haverá so1ução,enquan
bra os limites do tempo e do es-
paço,abrindo os horizontes de u- to não mudarmos nossos critérios
e continuarmos desenvolvendo u-
ma Nova Humanidade, enquanto au-
ma açio Inconsciente e irrespon-
tentica os valores pelos quais o
sável,por falta de uma visão lú-
Cristo morreu,os valores da Ver-
dade,da Justiça, da Liberdade.e cida. A luz da fé não anula nem
atenua,nem substitui,mas antes £
do Amor,essenciais para se cons-
truir uma sociedadehumana fra centua,aclara e exige uma anali-
terna,sacramento,anúncio e reve- se objetiva e portanto global da
lação de que Deus ê o Pai Nosso. nossa rea 1 i dade .
A Ressurreição do Senhor nao Neste esforço de assumir nos-
permite que sua mensagem fique sa existência em todas as suas
dimensões,sentimo-nos solidários
sepultada nos quadros de uma cuj_
com tudo o que existe no mundo ,
tura,mesmo que essa cultura se
especialmente na América Latina,
intitule "cristã".
em favor da libertação do homem
A Ressurreição do Senhor não
e dos povos,em particular dos po
permite que seus arautos fiquem
vos indígenas.
reduzidos a pioneiros de um sis- Enfim,sentimo-nos ligados a
tema desumano, apaziguadores de
toda luta pela configuração de u
conflitos a serviço dos podero -
ma solidária experiência nacion-
sos,a anestesistas de povos cha-
nal,o que não significa um nacio
mados primitivos ou selvagens pa
nalismo estatalista nem tolera
ra mortíferos transplantes cult£
qualquer internaciona1ismo impe-
ra i s .
A Ressurreição do Senhor,pro- r i a 1 Ls ta . «j — '
'' Vivemos sob o signo da mor-
va de seu poder soberano,não ê te ressurreição do Senhor . Nossas
compatível com qualquer atitude populações indígenas,ao longo do
de desânimo ou desa1ento,porque
tempo,já pagaram a morte o seu
é a demonstração da lógica divi-
doloroso tributo.
na que, na execução do Reino, se
Chegou o momento de anunciar,
arma da força dos fracos e da sa na esperança,que aquele que deve
bedoria dos incultos.
A esta altura,hão de acusar - ria morrer, é aquele que deve vj_
nos de ter levantado problemas e ver .
—-o dia 21 de dezembro p.p. po- parágrafo anterior" isto é,"a
IMdiam-se ler nos jornais man - prática de caça,pesca ou coleta
chetes como esta do Estado de_S. de frutos,assim como de ativida-
des agropecuárias ou extrativa".
Pau Io:"Médici veta participação
Da justificação,destacamos a
religiosa junto aos indios" ou,
seguinte frase:". . . cria esse pr£
no Jornal do Brasil,"Estatuto
ceito obstáculos ainda ao cumpr_i_
dos índios é Sancionado com Ve -
tos",esc 1 a recendo loqo na segun- mento dos objetivos cardeais do
Estatuto,que consistem precisa -
da alTnea:"0s vetos se referem ã
mente na rápida ç salutar inte'-
participação de missões religio-
sas ou científicas na assistênc_i_ gração do indio na civilização
a ãs comunidades indígenas e a (Jornal do Brasi 1 ,21/12/73) .
Quando da aprovação da emenda
realização de contatos comindi-
do Senado sobre as missões reli-
os".
giosas e científicas,eis o nue
Foi vetado o. Parágrafo Onico
dizia o P.Vicente César, presl -
do Art.2? a&sim formulado:"É re-
dente do Conselho Indigenista
conhecido ãs missões religiosas
Missionário,no dia 23 de novem -
e científicas o direito de pres-
bro p.p.:"0s missionários defen-
tar ao indio ,/e ãs comunidades in
dem os indios há séculos e um di
dígenas serviços de natureza as-
reito secularmente respeitado na_
sistência 1 , respe i tadas a legisla_
o pode ser transformado súbita -
ção em vigor e a orientação do
mente num simples consentimento
órgão federal competente".
de acao,sem desprimor para nossa
Na justificação do veto.e ale-
Historia" ( 0 Estado de S.Paulo).
gado que "pela prõpria natureza
Seria supérfluo qualquer comen^
da assistência ou tutela a ser tário,a esta altura,sobre esses
prestada ao indigena.cumpre se
vetos que apenas vêm ilustrar tu
preserve a unidade de ação e co£
do o que já foi exposto:a redu -
trole sobre as áreas ocupadas De_
çáo dos indios â condição de po-
los silvícolas. A outorga a entj_
bres tutelados,o comportamento
dades privadas do direito de pa£
do governo que trata não somente
ticipar dessa tarefa criará,não
as suas terras,mas suas próprias
obstante os seus altos propósi -
pessoas como objeto de apropria-
tos,grave embaraço ao exercício
ção e toda a iniqüidade da tal
da competência assistencial que
integração de que tanto se fala.
é incumbida ã Nação".
Se os missionários podem invo-
Logicamente foi também vetado
car um direito que lhes é confe-
o artigo 6^ e seu parágrafo,nos
rido pelo Evange 1 ho , portanto pe-
quais se autoriza e disciplina a
lo próprio Deus,em termos de um
prestação de serviços aos indios,
imprescritível manda to,podem os
sem fins 1ucrativos,por entida -
cientistas invocar a outorga de
des re 1 i g i osas , c i en t í f i ca s ou fj_
lantrópicas. -.- seu direito da própria humanida-
' Foi igualmente vetado o Pará- de a cujo serviço se colocam.
grafo Segundo do Art.l8:"E veda- Este adendo , imposto pelo cará-
do a terceiros contratar com in- ter recente dos fatos,pretende
dios a prática por estes de quaj_ simplesmente servir como confir-
quer das atividades previstas no mação de todo este docume n to
I-JUCA PIRAMA
(ADENDO N'2)
HHOtlvos alheios â vontade dos dios estão sempre levando a pior,
^^■autores fizeram com que este nossa luta em defesa de seus in-
documento só venha ã luz da pu - teresses chega a assumir caract£
blicidade três meses após a data risticas,de quando em quando, de
para o qual fo| preparado. Nas a- tarefa Insuportável.Sinceramente,
tuais circunstâncias em que vive não sei por que é que existe tar^
mo s,não será difícil ao "Te i to r .i ta I nsensibi1idade,tanto egoísmo
dentificar o tipo de obstáculos"" e tanta podridão entre os que se
que sua publlcaçio encontrou .Pou^ dizem,alto e bom som,como defen-
pamos-1he,por isso,o relato de sores dos IndIos"(\/oz do Paraná,
toda essa penosa história que já 14/1/74) .
vale por um tributo pago à defe- Novos pronunciamentos foram ou
sa dos nossos Índios. vidos nas Câmaras,como o do depju
tado Juarez Bernardes,criticando
As notícias divulgadas pelos
as atividades da FUNAI e classi-
mais sérios jornais do pafs.após
ficando-as como "um desastre so-
a data em que deveria ter vindo
cial" (Jornal_do Brás I1,13/3/74) .
a público este documentofconfir-
As declarações de Rangel Reis,
mam a análise da situação em que
atual ministro do Interior, an -
se encontram os índios e as crí-
tes da posse,não deixaram de cho
ticas ã FUNAI . "A I nda há pouco,os
car a todos que se Interessam pie
jornais estampavam o triste doc_u
Io problema dos índios."Novo Mi-
mento fotográfico de índios Kre-
nistro quer fim das reservas in-
en-akarores mendigando na rota
dígenas" deu manchete de jornal
Cuiabá-Santarem.Os atritos entre
tribos e colonos que lhes cobi - (Jornal do B ras i 1 , 9/3/74) e mere
Çam as terras são fatos comuns.I ceram destaque na Ia.página suas
gualmente rotineiras são as notT opiniões sobre a "absorção dos
cias de a 1coolIsmo,próstitu Ição, índios brasileiros na sociedade
tuberculose e outras doenças cor^ civil e o abandono - tão rápido
traídas por tribos que o homem quanto possível - da idéia de rie
civilizado pretende resgatar à servas indígenas,pois "o proble-
vida primitiva"(Jornal do Brasil ma do índio será tratado dentro
de \2/^i"7,*) . da nova ótica,sem romantIsmos"..
Os Kreen-akarores,menos de um ( JB , id). Igua1 mente,deve-se par -
ano depois de a t ra ídos , f oram I nj_ tir para uma política realista e'
ciados em aberrações,por um fun- honesta".(0 G1obo,9/3/74).0 novo
cionário da FUNAI."0 presidente presidente da FUNAI tentou um
da FUNAI,genera1 Bandeira de Me- "arranjo" para encobrir a nota
lo,mandou instaurar inquérito p£ dissonante de tal declaração,di-
ra apurar as responsabilidades zendo que "as declarações recen-
do sertanista(...) acusado de prá tes do Ministro do Interior do
tica homossexua1ista,envolvendo novo governo,Sr.Range 1 Rèis,fo -
índios Kreen-akarores (0 Popular ram mal interpretadas"(Jornal do
de Goiin^a.S/l/?1*. Brasi 1 ,12/3/74K
A propósito desse lamentável Mas a confusão continua pois
fato,o missionário jesuíta Anto- enquanto o Ministro diz que se
rvlo lasi Jun i or , comentava : "Os In deve partir "para uma política

36
realista e hone sta ,o presl dente 1973.
da FUNAI , genera 1 Is marth de Araú 18- O Estado de S.Paulo - 16/11/
jo.diz:'^ ave rã con t i nu i dade na 1971.
po1't i ca i nd!ge nf st a oficia ti 19- Jornal do Brasil - 28-29/11/
(Jornal d o Brás IM 2/3/71») . 1971.
0 ma i s acerta do s er i a diz er 20- O Estado de S.Paulo - 12/3/
com o Pre s i dent e do Cl Ml :"A po!_[. 1971.
t i ca da F UNA! ê vac Ilante"( 0 Es- 21- Realidade - Outubro de 1971.
tado de S .Paulo .13/ B/M) -El a de- 22- Realidade - Outubro de 1971.
ve irão sabor da p o 1't i ca d e*s e£ 23- O Estado de S.Paulo - 5/11/
vo1v i men t i s ta d o pa T s,pa ra a 1973.
qua1 o In d i o ê vi s t o como u m es - 2 4- Carlos de Araújo Moreira Ne-
torvo ao progre sso nacional .En - to in "La Situación dei Indí
tre tan to "a que s tão do i nd i o -co gena en América Del Sur" -
mo af i rma o an t ropõ logo Rob er to Montevideo - üruguay - 1972-
da Mata,D i retor de Ant ropol ogia pâg.404.
do Museu Nac i on ál - deve se r co- 25- O Estado de S.Paulo - 9/5/71
locada de ou t ra man e i ra,ou sej a: 26- Veja - 28/2/1973.
como o de senvo1 v i me nto bras i 1 e i - 27- O Estado de S.Paulo - 28/3/
ro poderá benef icia r os gru pos 1972.
tribais q ue v i v em e m ter r i t õr i o 28- O Estado de S.Paulo - 19/4/
nac ional? "(0 Gl obo, 17/3/7 »)
1 1971.
29- Jornal do Brasil - 8/7/1972.
30- O Estado de S. Paulo - 4/4/
1972.
NOTAS 31- O Estado de S.Paulo -31/5/
1972.
32- Jornal do Brasil - 25/10/
4 1973.
33- O Estado de S.Paulo -3/9/71.
1 - Comunicado mensal da CNBB,n9 34- O Estado de S.Paulo -31/3/
231 - Dezembro,1971 e I/Os -\ 1972.
servatore Romano - Ed.Em Por 35- O Estado de S.Paulo - 1/1971
tuguês,30/1/72. 36- Jornal do Brasil - 24/12/72.
2 - O Estado de S. Paulo - 15/6/ 37- O Estado de S. Paulo - 27/2/
1971. 1972.
3 - O Estado de S. Paulo - 38- Jornal do Brasil - 20-21/2/
4 - O Estado de S. Paulo - 31/3/ 1972.
1973. 39- O Estado de S.Paulo - 25/5/
5 - Jornal do Brasil - 16/11/73. 1972.
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mento de Bispos do Centro-O- 1973.
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lho, Genebra. .
91-0 Popular - Goiânia - 22/11
i
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64- O Estado de S.Paulo - 5/11/ 92-0 Estado de S.Paulo - 7/11/
1972. 1972.
65- O Estado de S.Paulo - 19/1/ 93-0 Popular - Goiânia - 22/11
1972. 1973.
66- O Estado de S.Paulo - 8/11/ 94 - Adalberto Holanda Pereira -
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67- O Estado de S.Paulo - 10/8/ Essa Onça - Universidade Fe
1972. deral do Mato Grosso - § 12
68- Jornal do Brasil - 21/4/73. (1973).
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ro,página 13.
70- Casaídâliga,Pedro - ym *' 96 - Marianne Mahn-Lot - "Barthe
greja contra o latifúndio na lémy de Las Casas" - I/Evan
Amazônia" - 1971. ,„.-.__ gile et La Force - Ed.Du
71- jornal do Brasil - 18/9/73 Cerf,Paris,1964 - pág.102.
72- O Estado de S.Paulo - 10/8/ 97 -"0 Estado de S.Paulo - 29/4/
1973.
73- O Estado de S.Paulo -22/// 98-0 Estado de S.Paulo ^ 26/6/
1973. „«/*/ 1973.
74- O Estado de S.Paulo - 29/4/ 99 - Dom Franzoni - "La Terra è
1973. di Dio".

38
100- O Estado de S.Paulo - 20/8/
.1972. _
101- Adalberto Holanda Pereira -
"Questões de Aculturação"in
Essa Onça - Universidade Fe
deral do Mato Grosso - 1971
§18.
102- O Estado de S.Paulo - 29/4/
1973.

i 103- O Estado de S.Paulo - 26/6/


1973.
104- A Voz do Paraná - 3-9/9 e
1 6/10/1973.
105- O Estado de S.Paulo -5/3/72
106" O Estado de S.Paulo.

^mOram imigrantes italianos fixados no Estado •


I ^Fde São Paulo que, involuntariamente^introduzi^
ram em nossa lingua a denominação errada para
os mais férteis solos brasileiros:terra roxa.
Trabalhando nos àafezais3vieram a conhecer as
vantagens deste tipo de 8olo3óhamando-o ^de "ter_
ra rossa",isto és terra vermelha.Coube ã'nossa
gente do campo transformar a expressão em "ter-
Pa rvxa".Na verdade,sua cor ê avermelhada}oom
variações de tonalidade (vermelho c^laro,verme-
lho escuro).Éesultam de decomposição de rochas
vulcânicasyd-ustinguindo-se em dois tipos :a ter-
•ra roxa legítima,mais fértil e a terra roxa
misturada,na qual os neenitos também estão pre-'
sentes.

39

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