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GESTÃO DE REJEITOS DE MADEIRA NA CONSTRUÇÃO

CIVIL: Impactos no Empreendimento Way Pampulha


Andrew Motta Daher 1
Érika Silva Fabr2

RESUMO: A geração de rejeitos oriundos da construção civil promove severos impactos ao meio ambiente, quando depositados de maneira irregular, dado
que certas empresas não possuem ainda um programa de gestão eficiente destes materiais. Sendo a indústria que mais recorre aos recursos naturais, destaca-
-se pelo volume de resíduos gerados. O gerenciamento ineficaz destas “sobras”, não implica somente em danos e a degradação ambiental, ao passo que
se vê necessária à manutenção das áreas utilizadas como depósitos clandestinos. O presente trabalho propõe levantar o quantitativo de resíduos de madeira
consumidos ao longo da execução do Empreendimento Way Pampulha, o volume gerado destes resíduos, bem como ressaltar a importância e os benefícios
de um controle consciente destes materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente, Resíduos da Construção Civil, Reciclagem, Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO biental, tendo em vista a otimização deste processo.


Qualquer sociedade seriamente preocupada com a ques-
tão do desenvolvimento sustentável deve colocar o aperfeiçoa- LEGISLAÇÃO
mento da construção civil como prioridade (John, 2001, p. 34). O destaque entre os elementos legislativos se da à Resolu-
Sendo a construção civil a área que mais recorre aos recur- ção CONAMA nº 307, que leva em consideração as definições
sos naturais, logo, a indústria que mais fabrica resíduos durante da Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais), e prevê pena-
seu processo de desenvolvimento, provocando fortes impactos lidades às instituições que agem desacordo com a legislação.
ambientas, é necessário ter um maior cuidado em relação a É dever dos geradores1, gerenciarem de maneira eficaz estes
essa sobra encontrada nas obras. resíduos2 indicando procedimentos para triagem, acondiciona-
Vulgarmente designado como entulho, os resíduos prove- mento, transporte e destinação. A resolução também classifica
nientes da construção civil, seja ao longo do processo constru- estes resíduos, dividindo-os em quatro classes de A a D cujo
tivo, reformas ou demolições, acarretam séries de problemas critério é a disposição final do material.
ambientais quando simplesmente descartados em locais inapro- Composta por materiais como alvenaria, concreto e ar-
priados, locais estes, que em sua totalidade não têm capacida- gamassas, a classe A tem a tem fundamental importância no
de para receber o volume de resíduos diariamente depositados. aspecto sustentável, visto que existe a possibilidade de reapro-
Custos referentes ao gerenciamento da deposição clandes- veitamento pela atividade da construção civil destes resíduos,
tina, e ao não aproveitamento de grande parte dos “dejetos” são por meio da produção de agregados para argamassas, guias,
transferidos ao custo social, tendo como consequência pilhas aterros na própria obra ou então, pela disposição em aterros
de rejeitos que se tornam abrigo para vetores transmissores de licenciados.
doenças e a degradação da paisagem urbana. Dos resíduos que compõem a classe B temos as madeiras,
Muitos estudos já desenvolveram diversas formas do rea- plásticos, metais e papéis. Todos eles são passíveis de reinser-
proveitamento de grande parte de resíduos de obras, mas deve- ção no ciclo da construção civil, seja por forma de reaproveita-
mos analisar também a sobra da madeira, que é um dos recur- mento como fonte energia (no caso da madeira), ou até mesmo
sos naturais mais importantes do mundo. Uma boa quantidade por meio da reciclagem, tendo em vista os procedimentos espe-
da madeira é reaproveitada e retorna ao sistema construtivo. cíficos de tratamento de cada material.
Contudo, ainda encontra-se uma quantidade expressiva de ma- Infelizmente, pela inexistência de uma tecnologia acessível,
deira que sai da obra como entulho. no âmbito econômico, os resíduos oriundos do gesso, que com-
Portanto o mecanismo para administração de resíduos da põem a classe C, não são muito valorizados, haja visto a sua
construção civil deve colaborar para favorecer a qualidade am- dificuldade de recuperação. Estudos indicam que tais resíduos

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já são passíveis de reaproveitamento pela indústria de cimento endimento em alvenaria estrutural, destaca-se a confiabilidade,
como insumo. em que a qualidade e segurança da edificação são exigidas por
A classe D é destinada a resíduos perigosos, ou seja, re- normas e feitas mediante ensaios de compressão a cada lote
síduos com características inflamáveis, corrosivas, reativas ou de blocos. Destacam-se também os benefícios à sociedade e
toxicas, conforme NBR 10004. Destacam-se as tintas, óleos, sol- ao meio ambiente, haja dito que edifícios executados com este
ventes, entre outros. Dada a impossibilidade de reaproveitamen- tipo de alvenaria consomem menos madeiras, recurso natural
to destes materiais, a destinação desses resíduos deve atender utilizado em fôrmas para vigas e pilares.
as normas específicas. Estudos realizados por especialistas em construção com al-
venaria de renomadas universidades brasileiras, como a Politéc-
NORMAS nica da USP, Universidade Federal de São Carlos-SP, Federal
São as normas técnicas (NBRs) que indicam e estabele- do Rio Grande do Sul, entre outras, comprovam que a alvenaria
cem os critérios para a manutenção final destes materiais. As estrutural com blocos de concreto permite reduzir o custo das
seguintes normas técnicas tratam do procedimento correto para obras em até 30% (em torres de até quatro pavimentos) e 15%
gerenciamento, da deposição correta em áreas apropriadas, da (em torres com 20 pavimentos), com ganhos ambientais, por
classificação, e até mesmo do procedimento para implantação praticamente não gerar rejeitos de canteiro e quase não utilizar
de um sistema eficaz de manutenção dos resíduos. fôrmas e escoras de madeira (TAUIL, 2009).
NBR 10004:2004 Resíduos sólidos – Classificação. O consumo da madeira ao longo da execução do empreen-
NBR 13230:2008 Embalagens e acondicionamentos plás- dimento em questão está associado às fôrmas gastas na funda-
ticos recicláveis – Identificação e simbologia. ção dos dois edifícios, piscinas, guarita e pórtico sobre mesma,
NBR 15112:2004 Resíduos da construção civil e resíduos reservatório de água enterrado, escoramento, espaço gourmet
volumosos – Áreas de transbordo e triagem – Diretrizes para pro- e barracões para áreas de vivência (almoxarifado, engenharia,
jeto; implantação e operação. refeitório e vestiário).
NBR 15113:2004 Resíduos sólidos da construção civil e
resíduos inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação
e operação. Figura 1: A - Empreendimento Way Pampulha –
NBR 15114:2004 Resíduos sólidos da construção civil – Almoxarifado, Engenharia e Refeitório (Mar.2011)
Áreas de reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e
operação.
NBR 15115:2004 Agregados reciclados de resíduos sóli-
dos da construção civil - Execução de camadas de pavimenta-
ção – Procedimentos.
NBR 15116:2004 Agregados reciclados de resíduos sóli-
dos da construção civil - Utilização em pavimentação e preparo
de concreto sem função estrutural – Requisitos.

EMPREENDIMENTO WAY PAMPULHA.


Empreendimento constituído por duas torres de doze pa-
vimentos cada, de padrão econômico, executado em alvenaria
auto-portante, dotado de área de lazer, constituída por espaço
gourmet, quadra e piscinas, além de casa de gás e guarita para
entrada de pedestres e veículos. Como especificidade do em-
preendimento, citamos o escoramento em eucalipto utilizado,
dado o custo inferior ao escoramento metálico, à boa susten-
tação e possibilidade de reutilização ao longo da execução da
estrutura.
Dentre as diversas vantagens da execução de um empre-

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B - Empreendimento Way Pampulha – Refeitório (Mar.2011) Figura 3: A - Empreendimento Way Pampulha –
Casa para estoque de cimentos e baias para areia e brita (Jul.2011).

Figura 2: A - Empreendimento Way Pampulha –


Guarita (Jan.2011). B - Empreendimento Way Pampulha – Vestiário (Mar.2011)

B - Empreendimento Way Pampulha – Vestiário (Mar.2011)

Entre os diversos tipos de madeira utilizados pela indústria


civil, bem como no empreendimento analisado, destacam-se os
pontaletes, tábuas, sarrafos, madeiras de lei e compensados
resinados. Utilizadas em especial na fundação de edifícios, as
madeiras de lei, que se destacam devido s sua resistência à
umidade, muitas vezes não são removidas e reaproveitadas, vis-
to sua dificuldade de remoção após a concretagem dos blocos
e vigas de coroamento.
Segundo levantamento, obtido através de um programa
próprio utilizado pela empresa, programa este que torna possí-
vel obter valor pago em fôrmas e escoras adquiridas ao longo
dos meses de execução do empreendimento, além da destina-
ção das mesmas, foi obtido o valor em reais de R$ 95.985,71
gastos em madeiras até abril 2012, dos quais os valores de R$

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61.240,80 foram destinados à estrutura, R$ 6.740,40 em escora- Figura 5: A - Empreendimento Way Pampulha – Segurança:
mento em eucalipto e R$ 28.004,51 à segurança. Aparalixo (Mai.2011).

Figura 4: A - Empreendimento Way Pampulha –


Fundação Edifício Lagoa (Abr.2011).

B - Empreendimento Way Pampulha –


Reservatório Inferior (Maio.2012)

B - Empreendimento Way Pampulha –


Fundação Edifício Parque (Mar.2011)

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Figura 6: A - Empreendimento Way Pampulha – Diante do empreendimento em questão, embora a remo-
Estrutura Pórtico sobre Guarita(Jan.2012) ção das fôrmas dos elementos de fundação seja indispensável,
dado também a necessidade de execução do procedimento de
impermeabilização, tais resíduos não puderam ser reutilizados,
uma vez que o processo de remoção é ineficaz já que o meio
não permite que as peças saiam por inteiro.
Tendo em vista os impactos sociais, econômicos e ambien-
tais, elaborou-se um programa de gerência dos resíduos gera-
dos pela obra. Este programa consistido pelo treinamento dos
funcionários a fim da conscientização da importância da recicla-
gem, prevê também a elaboração de um sistema de coleta dos
materiais o qual a empresa de reciclagem Real Comércio3 dis-
ponibilizava à obra, bags4 para coleta de plásticos e caçambas
para coleta de madeira.
Estima-se que, por meio de caçambas, o volume de 110,00
m³ em resíduos de madeira tenham sido coletados ao longo de
sete meses de execução do empreendimento. Vale lembrar que
a coleta ocorre sem custos de transporte destes materiais, uma
vez que as empresas que promovem a conscientização da im-
portância da reciclagem não possuem fins lucrativos.
A vida útil das madeiras em geral, dentro do canteiro, de
obras é variável. Calcula-se que fôrmas para vigas, pilares e la-
jes possam ser reaproveitadas cerca de três vezes, desde que
haja o cuidado apropriado ao longo o processo de montagem
bem como na desfôrma.
O uso racional deve considerar aspectos como qualidade;
durabilidade; evitar desperdícios quer seja na sua fabricação,
B - Empreendimento Way Pampulha – quer na sua utilização. (MADEIRA..., 2009, p. 11).
Blocos de fundação da Central de Gás (Jan.2012)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reciclagem e reaproveitamento dos resíduos gerados pela
construção civil vêm se consolidando como uma prática de des-
taque, essencial para sustentabilidade, seja no intuído de reduzir
os impactos ao meio ambiente ou a fim de diminuir os custos.
Independente das características executivas de um empre-
endimento, assistido por um programa eficaz de gerenciamento,
é possível reduzir os impactos causados pela deposição inade-
quada dos rejeitos. A busca por novas tecnologias e melhoria
do processamento de resíduos é de fundamental importância.
Tomando como exemplo o empreendimento estudado, o
impacto ambiental que poderia ser causado pela deposição ir-
regular, resultaria em cerca de 30 a 40 toneladas de resíduos de
madeiras sem um fim consciente.

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ambientebrasil.com.br Acessado em 20 de março de 2012.
3
Pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por ati-
ANTAC, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Cons- vidades ou empreendimentos que gerem os resíduos nesta Resolução
truído. Disponível em: http://www.infohab.org.br/capa.aspx Acessado (Art. 2º II - CONAMA nº 307).
entre 04 e 27 de março de 2012.
4
Provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras
COELHO, E. Paulino. Reciclagem de entulho: uma opção de negócio de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de
potencialmente lucrativa e ambientalmente simpática. Areia e Brita, São terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos,
Paulo, n. 5, 2002. rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubula-
Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na cons- ções, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras,
trução civil. Disponível em: http://www.ambiente.sp.gov.br/municipio- caliça ou metralha; (Art. 2º I - CONAMA nº 307).
verdeazul/DiretivaHabitacaoSustentavel/DesenvSustentReciclagemRe-
siduosConstrCivil.pdf Acessado em 10 de março de 2012. 3
Real Comércio de Alumínios Ltda é uma empresa voltada para com-
pra e venda de sucata de alumínio além da coleta e destinação de outros
JOHN, V. M.. Reciclagem de entulho para produção de materiais de materiais recicláveis.
construção. Salvador: Edufba, 2001. p.26-43.
4
“Sacolas” para coletas de resíduos recicláveis com volume apro-
Resíduos da construção civil e reciclagem. Disponível em: http:// ximado de 1 m³
www.cepam.sp.gov.br/arquivos/encontros_tematicos/coleta_seletiva/
coleta_seletiva_reciclagem_residencial.pdf Acessado em 10 de março
de 2012.

SCHENINI, P. C.; BAGNATI, A. M. Z.; CARDOSO, A. C. F. Gestão de


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construção civil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CADASTRO TÉC-
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SINDUSCON – SP, Madeira, uso sustentável na construção civil,


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sociedade; 2009. Disponível em: http://www.portalvgv.com.br/site/alve-
naria-estrutural-vantagens-para-o-construtor-e-a-sociedade/ Acessado
em 30 de maio de 2012.

NOTAS DE RODAPÉ
1
Andrew Motta Daher: Graduando do curso de Engenharia Civil do
Centro Universitário Newton Paiva

2
Érika Silva Fabri: Coordenadora do Curso de Engenha-
ria Ambiental do Centro Universitário Newton Paiva, Enge-
nheira Ambiental, Engenheira de Segurança do Trabalho
Mestre em Ciências Naturais, Doutoranda do Programa de Pós-Gradu-

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