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ÉTICA I

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Ética I – Prof. Juan Antonio Acha e Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva

Meu nome é Juan Antonio Acha. Sou graduado em


Licenciatura em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano
e realizo Pós-graduação na área de Gestão e Filosofia.
Atuo como docente em Antropologia Filosófica. Sempre
fui preocupado com o valor da vida e da vida humana em
especial, por isso tenho presente as palavras de Sócrates,
referidas por Platão na Apologia de Sócrates: "Uma
vida que não é examinada não vale a pena ser vivida".

e-mail: juan@claretiano.edu.br

Meu nome é Pe. Sérgio Ibanor Piva. Sou Doutor em Ciências


da Educação pela Università Pontificia Salesiana (Roma/1966),
especialista em Perfezionamento Didattico in Psicologia
pela Universidade Salesiana (Roma/1963), em Psicologia da
Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Barão
de Mauá (Ribeirão Preto/1972) e em Logoterapia aplicada à
Educação pela Sociedade Brasileira de Logoterapia (1993).
Atuo, dentre outras atribuições, como Reitor do Centro
Universitário Claretiano e Orador Sacro, com mais de 10.000
homilias proferidas.

e-mail: reitor@claretiano.edu.br

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Juan Antonio Acha
Sérgio Ibanor Piva

ÉTICA I
Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2013 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

170 A16e

Acha, Juan Antonio


Ética I / Juan Antonio Acha, Sérgio Ibanor Piva – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
92 p.

ISBN: 978-85-67425-57-3

1. Visão geral dos fundamentos da Ética, bem como das bases conceituais e de suas
diferenças ligada à moral. 2. Influência do cristianismo no pensamento medieval
ocidental. I. Piva, Sérgio Ibanor. II. Ética I.

CDD 170

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Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
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Raphael Fantacini de Oliveira
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO....................................................................... 8
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 20

Unidade 1 – FILOSOFIA MORAL – LEGADO GREGO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 21
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 21
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 22
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 23
5 ÉTICA NO ÂMBITO DA FILOSOFIA MORAL...................................................... 24
6 FILÓSOFOS GREGOS, ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA CIÊNCIA DO CARÁTER
E DOS COSTUMES.............................................................................................. 26
7 PLATÃO, OS DIÁLOGOS SOCRÁTICOS: A VIRTUDE COMO SABEDORIA......... 27
8 O FIM ÚLTIMO: A FELICIDADE.......................................................................... 31
9 OS SOFISTAS, DEFENSORES DO "NÓMOS"...................................................... 36
10 ESTOICOS E A LEI NATURAL, PERÍODO HELENISTA......................................... 37
11 T EXTOS COMPLEMENTAR................................................................................. 46
12 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 47
13 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 49
14 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 49
15 R EFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 50

Unidade 2 – A FINALIDADE DA ÉTICA E A ESSÊNCIA DA MORAL


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 53
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 54
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 54
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 55
5 MORAL............................................................................................................... 58
6 ÉTICA NORMATIVA E O FENÔMENO MORAL.................................................. 66
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 68
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 69
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 70
10 R EFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 71

Unidade 3 – ÉTICA MEDIEVAL, EMBASAMENTO CRISTÃO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 73
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 74
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 74
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 75
5 INFLUÊNCIA JUDEO-CRITÃ NA ÉTICA DA IDADE MÉDIA................................ 76
6 PESSOA HUMANA............................................................................................. 79
7 O FUNDAMENTO DA VIDA ÉTICA É A DIGNIDADE DA PESSOA..................... 80
8 AGOSTINHO DE HIPONA................................................................................... 81
9 TOMÁS DE AQUINO: ÉTICA DA LEI NATURAL................................................. 84
10 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 88
11 CONSIDERAÇÃO FINAL..................................................................................... 89
12 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 90
13 R EFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 91

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Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Visão geral dos fundamentos da Ética, bem como das bases conceituais e de
suas diferenças ligadas à moral. Influência do Cristianismo no pensamento me-
dieval ocidental.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
O presente Material Didático Mediacional aspira introduzir o
estudante de EaD no estudo dos problemas fundamentais da Ética
no âmbito da Filosofia. A Ética é uma parte da Filosofia que estuda
a vida moral dos homens. Centra-se no comportamento da pessoa.
Os temas que integram este material são: desenvolvimento
histórico da Filosofia, moral dos gregos antigos até a Idade Média,
doutrinas éticas fundamentais, importância da moral, estudo da
Ética como essência da moral e relação da Ética com a moral.
Quanto ao corpo conceitual da Ética, apresentaremos uma
completa explicação na Unidade 2. O conhecimento factual e a cla-
8 © Ética I

reza conceitual são imprescindíveis na hora de realizar um juízo de


orientação ética. O conhecimento é fundamental para poder atuar
com liberdade. Se o leitor analisar em profundidade o maior diá-
logo ético da antiguidade, o Críton, perceberá que Sócrates morre
combatendo a ignorância e alertando para a necessidade de ana-
lisar racionalmente as teorias éticas normativas existentes no seio
da sociedade grega antiga (PLATÃO, 1999).

2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO

Abordagem Geral

Prof. Juan Antonio Acha

Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu-


dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará
em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma
breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões
no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral
visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do
qual você possa construir um referencial teórico com base sólida
– científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profis-
são, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social. Vamos começar nossa análise pela apresentação das
ideias e dos princípios básicos que fundamentam este CRC.
Neste CRC, a Ética é considerada como a parte da Filosofia
que trata da reflexão sobre a moral, propiciando as condições para
explicar racionalmente a conduta moral humana. Durante o estu-
do das três unidades que a compõem, você perceberá que a Ética,
desde suas origens na Grécia Antiga, é uma disciplina normativa,
ou seja, é um saber que pretende elucidar as bases racionais da
vida moral, que diferencia o que é do que deve ser. A Filosofia mo-
ral expõe uma reflexão exaustiva sobre as diferentes morais.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

A moral é uma construção social mais do que uma ação de


orientação normativa própria do indivíduo; podemos dizer que a
moralidade está determinada por uma exigência exterior. É o ins-
trumento de que se vale a sociedade para organizar as ações indi-
viduais. Tem correspondência com a lei, com as convenções sociais
e com a História.
Segundo Frankena (1969, p. 21), a moralidade surge como
um conjunto de objetivos culturalmente definidos e como um
conjunto de regras a governar a consecução de tais objetivos, que
permanecem mais ou menos exteriores ao indivíduo e que a ele se
impõem ou nele se inculcam como hábitos.
É característico dos sistemas morais oferecerem uma razão
que justifique os preceitos, comandos, normas de conduta, proi-
bições etc. A nossa história ocidental está repleta de testemunhos
sobre nossa inclinação para justificar racionalmente os atos morais.
A vida na sociedade ocidental, no que diz respeito à moral, é uma
vida meditada; somos críticos das regras e valores da sociedade,
como o fez Sócrates na Apologia (PLATÃO, 1999). Por outro lado,
nenhuma prática pode prescindir de uma teoria que nos oriente
sobre a conduta a adotar ante cada situação. Assim entendida, a
moral é um sistema de conteúdos que organiza uma determinada
forma de vida.
Sabemos que, ao longo da História, surgiram diferentes con-
cepções morais. São objeto de estudo deste compêndio de Filoso-
fia as Filosofias Antiga e Medieval. Nesse período que se estende
por 2.000 anos, a Ética centrou-se no "ser" e a moralidade esteve
atrelada ao homem. Os filósofos da Grécia Antiga conceberam a
moral como a busca da felicidade (ou, como eles a definiram: da
vida boa e da prática do bem), idealizando um meio de atingi-la.
As bases para alcançar esse objetivo eram a correta deliberação
racional, que permitia traçar as estratégias que conduziriam de
forma segura para o que consideravam o fim da existência huma-
na: a felicidade. Esse legado chegou à Idade Média, uma época im-
pregnada de religiosidade, em que os critérios de bem e mal estão

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10 © Ética I

vinculados à fé e à esperança de vida após a morte. Nesse período,


o comportamento ético não foi moldado tão só por doutrinas ide-
ais, mas, também por modelos pessoais.
No âmbito de abrangência da Ética como Filosofia moral está
a pessoa humana, considerada a partir de seu "ser" e sua conduta
virtuosa ou viciosa.
A proposta pedagógica que orienta este CRC está em concor-
dância com Projeto Educativo Claretiano. Este propõe educar para
a liberdade, para que o educando possa atuar como pessoa, ou
seja, de forma livre, por entender que só assim poderá contribuir
para a perfeição de seu humanismo que repercutirá na comunida-
de onde atua e na global, onde está situado. A educação é aquele
caminho a que o homem deve recorrer para que sua liberdade seja
possível. Sem o conhecimento do que significa cada coisa, ficamos
confinados a um universo limitado.
A liberdade, acompanhada de responsabilidade, possibilita-
rá a você tornar-se um ser ético. É importante salientarmos que
liberdade não é falta de controle para fazer isto ou aquilo; a liber-
dade é a capacidade do ser racional de ter condições de pensar an-
tes de atuar e atuar pensando em cada ato que executa de forma
consciente. Por ser livre, o ser humano pode atuar de diferentes
maneiras, mas por ser um ser racional deve agir de forma ética. A
partir dessa perspectiva, a Ética, como disciplina filosófica, propi-
ciará a você condições para escolher de forma racional como agir
diante determinadas circunstâncias, bem como propiciar os meios
para avaliar um determinado ato moral como sendo ou não etica-
mente correto.
A Ética não pode ser vista dissociada da realidade sócio-
-histórica-cultural, ainda que nesse primeiro período do desenvol-
vimento da Ética, que vai desde os gregos clássicos até a Idade
Moderna, encontremos teorias abstratas como a de Platão ou de
influência religiosa como ocorreu na Idade Média com o advento
do Cristianismo.
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no CRC Ética I. Veja, a seguir, a
definição dos principais conceitos:
1) Amor: virtude central na maioria das tradições éticas,
denotando uma atitude para com o outro que envolve
tanto afeto como um compromisso sério em relação ao
próximo.
2) Amoral: termo que reúne o prefixo "a" ("acéfalo, priva-
ção") e a palavra "moral" (o termo se refere aos campos
da conduta humana). Tem a ver com os princípios que
orientam a conduta do homem. Ser amoral significa não
possuir um código moral.
3) Antinomismo: literalmente significa "contra a lei". Ter-
mo teológico-cristão nos primórdios da Igreja, afirma
que a graça, por meio da fé, aboliu a lei, e que, portanto,
o cristão não está sujeito à lei.
4) Autonomia: literalmente "lei de si mesmo". Exercício
independente da vontade no sentido de obrar indepen-
dentemente.
5) Bem comum: ideia baseada em que o padrão normativo
para a justiça é o bem das pessoas como um todo.
6) Bem viver: como um princípio ético, o "bem viver" é fun-
damento da moralidade e processo para tomar determi-
nações éticas.
7) Caráter: as várias dimensões de personalidade que dis-
tinguem um indivíduo de outro.
8) Cinismo: escola de pensamento ético que afirma que
todo comportamento humano é motivado pelo desejo
egoísta, e que a bondade é a mais alta realização da vida.
Para esses pensadores, a virtude está em alcançar a total
independência do material. O cínico mais famoso é Dió-
genes de Sínope.
9) Compaixão: atitude ou emoção altruísta, leva a atos de-
sinteressados.

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12 © Ética I

10) Consciência: processo interior da responsabilidade mo-


ral e da capacidade inata para discernir o bem e o mal.
11) Costume: padrão habitual de comportamento caracte-
rístico de um grupo social específico.
12) Deontologia: é a ciência que estabelece normas direto-
ras das atividades profissionais sob o signo de retidão
moral ou honestidade, estabelecendo o bem a fazer e o
mal a evitar no exercício da profissão. É uma disciplina
normativa, mas também descritiva e empírica, que tem
como finalidade a determinação dos deveres que devem
ser cumpridos em determinadas circunstâncias sociais.
13) Deontologismo de regra: uma teoria do raciocínio moral
na Ética deontológica que declara que a correção ou im-
propriedade de um ato moral é determinado com base
na obediência a um conjunto de regras ou princípios mo-
rais.
14) Determinismo: termo ligado ao conceito de "livre-arbí-
trio". O contrário na prática de arbitrar livremente. Com
relação à Ética, afirma que as formas de comportamento
são consequência inevitáveis de causas anteriores.
15) Empatia: capacidade de partilhar sentimentos de ou-
tros.
16) Equidade: princípio de justiça que afirma que todas as
pessoas devem ter equitativa partilha.
17) Eros: termo empregado para definir forma de amor
como a presente no Banquete de Platão. Após o período
marcado pelo surgimento do Novo Testamento foi usado
para definir paixão carnal e irracional.
18) Estoico: nome grego que designa o pórtico ogival de
Atenas, usado para diferenciar os filósofos da escola de
Zenão de Cítio.
19) Ética: "ética", do grego "ethika", de "ethos", "comporta-
mento, costume". Filosofia moral que envolve o estudo
ou modo como devem viver os homens. Está subdividida
segundo a forma de estudo em: Ética analítica, cristã, da
libertação, da população, da reforma, da situação deon-
tológica, dialética, do Antigo Testamento, do fazer, do
Novo Testamento, do ser, do trabalho, empírica, evan-
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

gélica, existencialista, feminista, geral, hindu, industrial,


institucional, islâmica, judaica, maniqueísta, médica,
medieval, normativa, patrística, pessoal, profissional,
psicológica, tomista etc.
20) Ética cristã: parte de um conjunto de verdades revela-
das a respeito de Deus, das relações do homem com seu
Criador e do modo de vida prático que o homem deve
seguir para obter a salvação.
21) Ética estoica: tem a ver com o direito romano e a moral
cristã; o mais importante é a exaltação da natureza que
é animada pela divindade. Para Zenão, a virtude consiste
em viver em harmonia com a natureza. A lei natural apa-
rece acima dos costumes e das leis dos povos.
22) Ética dos bens ou dos fins: doutrina ética iniciada pela
filósofo grego Aristóteles. Ao contrário do empirismo re-
lativista, essa doutrina admite a existência de um valor
absoluto, que é o bem supremo.
23) Ética empírica: iniciada pelos sofistas, a Ética empírica
tem sido defendida pelos relativistas e materialistas de
todos os tempos. Seu fundamento é a experiência. Seu
ponto de vista é de que as normas do comportamento
ético derivam da própria atividade livre do homem.
24) Ética normativa: tem relação com a formação e elabo-
ração das normas sociais e não com seu seguimento ou
execução.
25) Eudaimonia: de "eu" que significa "bem disposto" e
"daimon", "com um poder divino". "Eudaimon" é o ad-
jetivo para feliz.
26) Eudemonismo: teoria ética que afirma que a felicidade é
o bem supremo e a base para a moral.
27) Felicidade: como termo ético, está relacionado às ideias
do bem-viver.
28) Hedonismo: abordagem de reflexão ética que declara o
prazer como valor mais alto a ser alcançado.
29) Instintos: força oposta à racional.
30) Juízos morais universais: são afirmações consideradas
aplicáveis a qualquer situação e lugar.

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14 © Ética I

31) Lei Natural: lei fundada na própria natureza, que supõe


um ordenamento de uma razão superior. A Lei natural
é uma norma para o comportamento ético, considera-
da inerente a todos os seres humanos por ser ocorrente
com a essência que os causa.
32) Mal: privação ou ausência do bem. Aquilo oposto ao
bem, que a ele resiste e o mina.
33) Moral: conjunto de normas estabelecidas e de caráter
normativo que regem a convivência social. Sofre pro-
gressos na medida em que se amplia seu campo de atu-
ação.
34) Moral, moralidade, moralizar: do latim "mos" significa
"costume", ou "uso". Envolve o que se deve acreditar
como correto e bom.
35) Norma: termo ético que designa uma lei ou princípio
que governa, direciona algum aspeto da conduta moral.
36) Pitágoras: filósofo matemático que, no século 6 a.C., de-
senvolveu umas das primeiras reflexões filosóficas de or-
dem moral a partir dos ensinamentos da religião orfista;
propunha que a natureza intelectual é superior à sensu-
al e recomendava a disciplina mental. Sócrates, Platão e
Aristóteles são seguidores dessa Filosofia Moral.
37) Prazer: termo utilizado dentro da reflexão filosófica rela-
cionado ao agradável, ao gozo.
38) Princípio: em Ética, designa um preceito geral. Os prin-
cípios morais são equiparados a regras, os categóricos, a
deveres inerentes.
39) Princípio ontológico: está na linha do ser, no que é bem
no sentido natural.
40) Prudência: virtude que está relacionada à sabedoria. É
uma das Virtudes Cardinais.
41) Sabedoria: reconhecida como virtude, associada à capa-
cidade de viver bem no sentido moral. Também designa
a capacidade de fazer juízos corretos.
42) Sofistas: nunca gostaram da criação de sistemas morais
com bases religiosas tidos como absolutos. Protágoras
ensinava que o juízo humano é subjetivo. Górgias, como
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

crítica, colocava que os seres humanos não têm a capa-


cidade para conhecer e muito menos comunicar esse co-
nhecimento moral. Telêmaco acreditava na força como
produtora da moral.
43) Temperança: esse termo denota virtude no pensamento
ético grego, está associado a moderação e autocontrole.
44) Utilitarismo: teoria relacionada à Ética Teleológica volta-
da para o princípio de utilidade.
45) Virtude: disposição para realizar atos moralmente cor-
retos. Tendência para agir corretamente. Também consi-
derada qualidade que torna a pessoa sábia.
46) Virtudes Cardinais: compreendem a prudência, justiça,
temperança e coragem. Tomás de Aquino herda as qua-
tro virtudes gregas e acrescenta as três virtudes teológi-
cas: fé, esperança e amor

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações
entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em es-
quemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhe-
cimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos peda-
gógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.

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16 © Ética I

Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem


escolar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que
estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa,
apenas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é
preciso, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se
configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é
importante considerar as entradas de conhecimento e organizar
bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e
os novos conceitos devem ser potencialmente significativos para o
aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes
estruturas cognitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é
você o principal agente da construção do próprio conhecimento,
por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações
internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por
objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando
o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou
seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou
de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de
mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.
br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>.
Acesso em: 11 mar. 2010).
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

As diferenças teorias éticas Primeira fase: Antiguidade


Aselaboradas
começam a ser clássica; período greco-
no século 5 a.C. romano; Idade Média.

Teorias éticas são teorias filosóficas que respondem: Por que


utilizar essa moral concreta? As soluções estarão em concordância
com os problemas de cada época.

As filosofias moral ou ética não Doutrinas morais,


organizam de modo direto a orientações imediatas para a
vida cotidiana, seu objetivo é vida moral. O que devo fazer
refletir sobre a moral. diante tal situação?

• As concepções morais são formadas por normas de condutas, comandos,


proibições e permissões. Todos adoramos uma determinada concepção moral.
• A concepção moral dominante no período que vai desde a Grécia clássica até
a Idade Média esteve centrada no ser humano.

• Para os filósofos gregos a moral era a meta para viver feliz.


• A racionalidade moral permitia-lhes alcançar a máxima felicidade.

• A orientação moral da Idade Média incorpora elementos procedentes dos


filósofos gregos e latinos juntos com elementos judeu-cristãos.

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Ética I.

Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar en-
tre os principais conceitos deste CRC e descobrir o caminho para
construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Da análise do
esquema precedente, surge que a Ética se ocupa da moralidade.
Existe uma pluralidade de enfoques em Filosofia Moral que permi-
tem falar em Ética. Esta disciplina trata do início da reflexão ética
que coincide com o período da Filosofia grega, denominado pe-
ríodo socrático, que se estende até a Idade Média. Essa reflexão
está comprometida com a razão prática, e visa ao bem de todas as
pessoas. Como ser racional, o homem é capaz de decidir sua con-
duta de acordo com a moral vigente (mores, costume, norma) ou
de atuar de acordo com a sua reflexão (ethos, Ética).

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18 © Ética I

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de


aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio
conhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las à prática do ensino de Filosofia, pode ser uma forma
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução
de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se prepa-
rando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa
é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e
adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gaba-
rito correspondente às questões de múltipla escolha, que lhe per-
mitirá conferir as suas respostas.

As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-


ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entende-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as
bibliografias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos do CRC, pois relacionar aquilo que está no campo visual
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.

Claretiano - Centro Universitário


20 © Ética I

Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie


seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este CRC, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para
ajudar você.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANKENA, W. K. Ética. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
STANLEY, J. G.; SMITH, J. T. Dicionário de Ética. São Paulo: Vida, 2005.
PLATÃO. Diálogos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os Pensadores).
EAD
Filosofia moral – legado
grego

1
1. OBJETIVOS
• Entender os fundamentos da Ética.
• Perceber quais são os objetos material e formal da Ética.
• Apreender as doutrinas éticas fundamentais que se de-
senvolveram em diferentes épocas do pensamento oci-
dental: ética grega, greco-romana, ética cristã medieval.

2. CONTEÚDOS
• A Ética como a parte da Filosofia que se dedica à reflexão
sobre as questões morais.
• A tradição socrática e platônica, o conhecimento do bem
como provocador da ação justa.
• A Ética sofista, mera convenção social.
• Aristóteles, ética e virtudes. Fim último da vida ética.
22 © Ética I

• A felicidade como eudaimonia.


• O estoicismo, a existência de uma ordem universal supe-
rior.
• Lei natural.
• As virtudes cardinais, princípios orientadores.
• Análise da proposta de fuga de Sócrates, apresentada por
Platão no diálogo Críton.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Para iniciar o estudo desta unidade, você deve conside-
rar que a Ética é uma reflexão sobre os sistemas morais,
que são variados, já que os conteúdos morais variam de
sociedade para sociedade e de época para época, en-
quanto a reflexão ética, segundo os pensadores socráti-
cos, não deveria ser assim.
2) Durante a leitura dos conteúdos desta unidade, leve em
conta que as teorias éticas gregas, concebidas entre o
século 5 e o século 6 a.C., estão condicionadas pela ne-
cessidade de auxiliar a participação dos cidadãos na vida
política da cidade. Observe também que o início da re-
flexão teve como articulistas Sócrates e os sofistas, e que
eles deixaram de lado o estudo exaustivo da physis para
se aprofundar nas questões da polis. São centrais nesse
período:
a) Ética socrática: baseada no caráter eterno de valores
como Bem, Virtude, Justiça, Saber.
b) Ética platônica: alicerçada no Bem, valor supremo
não conveniado.
c) Ética aristotélica: fundamentada no princípio de fe-
licidade a ser atingido pelos membros da sociedade.
d) Ética sofista: defensora do relativismo dos valores e
da predominância da vontade do mais forte.

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© U1 - Filosofia moral – legado grego 23

3) Com o advento do império de Alexandre Magno, o mapa


político e social da Grécia Antiga muda drasticamente, e
a relação do homem com a polis deixa de ser fundamen-
tal para reger o comportamento moral. Surge uma ética
mais individualista:
a) A Ética epicurista, de Epicuro e Lucrécio.
b) A Ética hedonista de Aristipo de Cirene, baseada no
prazer. O verdadeiro sábio é aquele que sabe apre-
ciar os prazeres mais sutis e elevados. Seu objetivo é
sentir-se dono e não objeto do prazer.
c) A Ética dos cínicos de Diógenes, preocupados com a
harmonia do sábio com a natureza.
d) A Ética de Pirro, Sexto Empírio etc., denominada cép-
tica.
e) A Ética estoica de Zenão, Sêneca e Marco Aurélio, que
se preocupa com a relação do homem com a natu-
reza. O ideal do homem estoico está em conseguir
alcançar o estado de ataraxia. Isto é, alcançar o do-
mínio para ser imperturbável ante as dores, paixões e
problemas existenciais.
4) Para ponderar sobre outra óptica os conceitos desen-
volvidos nesta primeira unidade, sugerimos que leia o
artigo de Mariá Brochado, intitulado Prolegômenos à
Ética Ocidental, que foi publicado na revista do Tribunal
de Contas do Estado de Minas Gerais, disponível em:
<http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/
Materia/637.pdf>.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Os conteúdos desta primeira unidade auxiliarão você, aluno,
a entender mais claramente as questões filosóficas acerca da Éti-
ca. Para isso, partiremos da proposta grega clássica sobre o com-
portamento ético, levando em consideração que a preocupação
por estabelecer o que está bem e o que está mal apõe códigos e
normas morais e é tão antiga como a humanidade.

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24 © Ética I

O fundamento que inspira a Ética grega é a busca de uma


compreensão racional dos princípios que regem a conduta hu-
mana. Sócrates, segundo Platão (1999), levantou a seguinte tese:
como deve viver um homem para alcançar a eudaimonia? Sócra-
tes, nesse primeiro período do pensamento, levanta questões éti-
cas fundamentais que são discutidas na Filosofia da atualidade.
O tema da Ética grega gira em torno das seguintes questões:
da concordância com a ideia de "Bem em si mesmo" (proposta pla-
tônica); da compreensão dos termos eudaimonia e aretê (presen-
tes na Ética a Nicômaco, de Aristóteles), que chegam até a Ética do
estoicismo antigo. Encontramos o cimo da Ética grega na relação
do indivíduo com a polis, ou seja, ele está no desenvolvimento do
ethos no enfrentamento do cidadão com as exigências da socieda-
de organizada da qual faz parte.
Além dos pensadores mencionados, devemos destacar a
participação dos sofistas no ato de relacionar a Ética à ação hu-
mana. Mesmo assim, sua proposta difere da socrática, pois estes
trouxeram à reflexão a norma (nómos) como a única ordem válida
para construir a organização social e política.
Da leitura dos escritos gregos sobre Ética surge a pergunta:
a lei, quer política, quer moral, é consequência de uma necessida-
de natural, produto de uma vontade ou razão ordenadora, ou do
nómos?
Da leitura das diferentes propostas éticas da Grécia Antiga,
surge a interrogação: qual seria a melhor lei para uma cidade: a
que surge da ordem da Natureza (do ser) ou aquela que deriva das
convenções humanas?

5. ÉTICA NO ÂMBITO DA FILOSOFIA MORAL


Podemos dizer que o interesse por regular, mediante normas
preestabelecidas, as ações dos seres humanos é tão antigo como
a humanidade; formam parte de todas as sociedades e culturas as
prescrições, proibições, códigos e normas que definem sua moral.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 25

Por isso, a Filosofia Moral ou Ética tem como objetivo escla-


recer os juízos morais, e serve, em última instância, de orientação
moral.
Vamos supor que precisemos realizar um juízo ético sobre o
problema do aborto envolvendo fetos anencéfalos (que nascem
sem o cérebro) ou referir-nos ao problema da corrupção. O correto
é analisar essas questões à luz de argumentos racionais e com
conhecimento do tema, para estabelecer se a concepção moral
que valida a questão mostra boas razões ou não. Da reflexão filo-
sófica sobre o tema surgirá uma orientação que pode concordar
ou discordar com a posição moral em questão.
A Filosofia Moral compreende tanto a Ética como a moral.
Ética tem relação com o "bem"; moral com o "justo", que impulsio-
na o conjunto de regras que fixam condições de convivência.
Como alerta, segundo Cortina e Martínez (2005, p. 10-11),
para compreender melhor que tipo de saberes constituem a Ética,
devemos lembrar-nos da distinção aristotélica entre saberes:
1) O "saber teorético" é aquele cuja finalidade é o próprio
saber, a verdade, e cujos objetos são seres que existem
independentemente da vontade e da ação dos homens.
Está composto de três grandes ciências teoréticas: a Físi-
ca, a Matemática e a Teologia ou Filosofia primeira, pos-
teriormente Metafísica.
2) O "saber teórico" (mas não teorético, pois seu princí-
pio ou causa é o homem como agente) é aquele que se
constitui a partir da finalidade de conhecer a realidade.
Para as Ciências Teóricas, seu objeto de conhecimento
depende da vontade e da ação humanas.
3) O "saber prático", que é o que mais nos interessa nes-
te momento, é aquele que pretende dirigir a atuação
humana, o fazer humano. Para Aristóteles, a sabedoria
prática está relacionada à capacidade de justificar as
normas e valores que ajudam a ordenar a vida em socie-
dade, que ajudam a viver de forma ordenada, sem con-
flitos. O saber prático possibilita viver de forma digna,

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26 © Ética I

a viver uma boa vida. Vejamos o que dizem Cortina e


Martínez (2005, p. 11) sobre esse saber:
Na classificação aristotélica, os saberes práticos eram agrupados
sob o rótulo "filosofia prática", rótulo que abarca não só a Ética (sa-
ber prático destinado a orientar a tomada de decisões prudentes
que nos leva a conseguir uma vida boa), mas também a Economia
(saber prático encarregado da boa administração dos bens da casa
e da cidade) e a Política (saber prático que tem por objeto o bom
governo da pólis).

Os saberes práticos são aqueles que servem para orientar a


vida de forma boa e justa, que nos auxiliam na hora de agir, contri-
buindo para adotar a atitude mais correta ante cada situação par-
ticular. Estes são normativos, nos mostram como conduzir a vida
de forma justa.
Ainda segundo Cortina e Martínez (2005, p. 10-11), Aristóte-
les agrupou os saberes práticos dentro da denominação "Filosofia
Prática". A Ética é concebida por Aristóteles como um saber orien-
tador para alcançar a felicidade e a vida boa, assim, está dentro do
âmbito da Filosofia Prática.

6. FILÓSOFOS GREGOS, ELEMENTOS FUNDAMEN-


TAIS DA CIÊNCIA DO CARÁTER E DOS COSTUMES
Comparato (2006, p. 471-473) explica que os gregos desco-
briram que a razão está desdobrada em duas capacidades.
Uma tem a ver com o caráter objetivo, corresponde à capaci-
dade do ser humano de enxergar as essências por trás das formas
individuais, e possibilita agir de acordo com esse conhecimento.
Chamaram-na de razão especulativa; por meio da análise da coisa
apreendida se chega à verdade.
A segunda fase da razão tem relação com o agir e o fazer se-
gundo a arte (belo) e a técnica (o útil). Uma das mais importantes
dimensões da razão é sua capacidade ética, com ela organizamos
nosso comportamento no mundo, ela serve para indicar a linha
reta.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 27

Sócrates foi o primeiro pensador a colocar que no âmbito


da Ética se encontram as noções de felicidade, de virtudes e de
caráter.

7. PLATÃO, OS DIÁLOGOS SOCRÁTICOS: A VIRTUDE


COMO SABEDORIA
Para a tradição socrática e platônica, só o conhecimento do
bem poderia dirigir a ação justa.
Antes de Sócrates, não existia na Grécia uma reflexão orga-
nizada sobre o "homem moral" a não ser a posição relativista dos
sofistas. Ele inicia a reflexão sobre a Ética, e por isso é chamado
"Pai da Ética". Contudo, devemos apontar o fato de que, nos perío-
dos anteriores, sempre houve uma definição perfeita do que era o
bem comum e o bem individual.
Para os sofistas, a Ética é mera convenção social ou pactos
entre os homens; Sócrates os refuta e também critica os tradicio-
nalistas: os primeiros por não reconhecer a realidade objetiva dos
valores éticos, e os segundos por não se aprofundar no caráter
permanente desses valores.
Com exceção de uns poucos fragmentos de Heráclito e Xenófanes,
encontramos entre os sofistas e e Sócrates (século V a.C.) as pri-
meiras reflexões filosóficas sobre questões morais. Com relação
aos sofistas, sabe-se que consideram a si mesmos mestres da virtu-
de, concretamente a "virtude política" ou excelência da gestão dos
assuntos públicos. Mas ao mesmo tempo suas doutrinas filosóficas
defendem – ao que parece – posições individualistas e relativistas
que de fato conduzem ao ceticismo ante a própria noção da virtu-
de política. Eles alardeiam saber como educar os jovens para que
cheguem a ser "bons cidadãos" e ao mesmo tempo negam a possi-
bilidade de alcançar critérios seguros para saber em que consiste a
boa cidadania (CORTINA; MARTÍNEZ, 2005, p. 53).

Sócrates defende a necessidade de estabelecer critérios ra-


cionais para diferenciar a verdadeira virtude da virtude aparente
defendida pelos sofistas. Essa doutrina que equipara sabedoria e
virtude é denominada "Intelectualismo ético" e está apoiada no

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28 © Ética I

pressuposto de que os conceitos morais não são produto de con-


venções nem de pactos, porque estão referidos às realidades uni-
versais, às ideias. A bondade em si, a prudência em si, o que é justo
em si mesmo, como todos os outros valores morais, existem por
si próprios. O homem, por intermédio da razão, os pode definir
objetivamente e, uma vez conhecidos, os pode levar para a vida
prática. A moral baseada nesses princípios universais (ideias) deve
presidir a vida individual, tanto a do cidadão, como a da Polis.
A Ética socrática é profundamente racionalista. Para esse
pensador, só o reto conhecimento das coisas leva ao homem a vi-
ver bem. Seu grande legado está relacionado a esse saber com
uma ordem que emana da natureza das coisas, da essência delas.
Tanto para Platão como para Sócrates, só o conhecimento
do que é virtude pode tornar o homem virtuoso. Platão afirma
que só o "sábio" é virtuoso, porque unicamente conhecendo o que
é virtude, ou seja, conhecendo a ideia de virtude é possível ser
virtuoso. Hoje essa afirmação seria no mínimo ingênua, mas de-
vemos considerá-la no contexto do Mundo das Ideias na Filosofia
platônica para entender esse raciocínio. Sugerimos a releitura do
Mito ou Alegoria da caverna (PLATÃO, 2006, livro VII, p. 267) para
entender melhor o "sábio", que é aquele que está em contato com
o Mundo das Ideias. Na Ética, como na Antropologia platônica, de-
vemos pensar em um bem absoluto, um Bem com "B" maiúsculo.
Em Fédon, Platão coloca em evidência seu dualismo antro-
pológico, evidenciando que o corpo dificulta o acesso às virtudes
e ao verdadeiro conhecimento. Nesse ponto discrepa de seu discí-
pulo Aristóteles.
Logo no período socrático, Platão começa a trabalhar sua
teoria das formas ou das ideias, colocando a forma do Bem
agathós como a forma metafísica suprema. Platão (1999, p. 149)
diz que "a alma quando está em si mesma e analisa as coisas por si
mesmas, sem se valer do corpo, encaminha-se para o que é puro,
eterno, imortal, imutável [...]". Dando continuidade ao pensamen-
to:
© U1 - Filosofia moral – legado grego 29

Há algum sentido corporal por meio do qual chegaste a apreciar


as coisas de que te falo como a nobreza, a sanidade, a força, em
resumo, a essência de todas as coisas, isto é, aquilo que são nelas
mesmas?
Não, o conseguirá claramente quem examine as coisas apenas com
o pensamento, sem pretender aumentar sua meditação com a
vista, nem sustentar seu raciocínio por nenhum outro sentido cor-
poral; aquele que se servir do pensamento sem nenhuma mistura
procurará encontrar a essência pura e verdadeira sem o auxílio dos
olhos ou ouvidos e, por assim dizê-lo, completamente isolado do
corpo (PLATÃO, 1999, p. 127).

É muito clara a distinção metafísica entre corpo e alma: o


corpo é visto como um cárcere da alma, e o prazer e os sentidos
são extremamente desvalorizados.
Os filósofos, ao verem sua alma presa ao corpo são obrigados a
apreciar as coisas por intermédio do corpo, como se fosse através
de uma cerca ou prisão. Ao sentirem que a força dessa ligação cor-
poral consiste em paixões que fazem com que a alma acorrentada
ajude a apertar seus ferros [...]. Consolam-se e a advertem para não
utilizar os sentidos mais do que exige a necessidade, aconselhando-
-a recolher-se e encerrar-se em si mesma, a não crer em nenhum
testemunho que não seja o seu próprio (PLATÃO, 1999, p. 149).

A felicidade, eudaimonia
Eudaimonia é um termo formado por o prefixo "eu" que
significa "bem disposto" e "daimon", "com um poder divino";
"eudaimon" é o adjetivo para "feliz". No pensamento grego anti-
go, ser feliz significa poder usufruir os dons divinos. Para Platão, a
felicidade é produto da sabedoria. O sábio que acede ao mundo
das ideias é então eudaímon: feliz. Contrariamente a esse pensa-
mento, para Aristóteles a felicidade é uma atividade acessível ao
ser virtuoso que respeita os valores morais.
Esse tema foi comentado por Platão nas obra A República,
(2006, 354a) e As Leis (1991, livro 5) e citado por Aristóteles em
Ética a Nicômaco (2002, livro 1).
A proposta platônica também é diferente da defendida pelo
estoicismo; para os seguidores dessa doutrina, a felicidade resulta

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30 © Ética I

da vida harmoniosa, mas não é um fim (telos), e sim um estado


concomitante. Porém, tanto para Platão como para Aristóteles, a
felicidade é o fim da ação humana.

A virtude, aretê

Figura 1 A escola de Atenas (1509-1510), quadro de Rafael, que mostra Platão ao centro.

Em A República (PLATÃO, 2006), Platão, ao reportar-se ás


qualidades da cidade, enumera as quatro virtudes principais: a
sabedoria (sophia), a coragem ou fortaleza de ânimo (andreia), a
temperança (sophrosyne) e a justiça (dikaiosyne). Posteriormente
essas virtudes foram chamadas de cardeais, ou seja, fundamen-
tais. Platão alerta: não basta conhecer a virtude, devemos também
fazer algo voluntariamente para conservar-nos virtuosos.
A República não é simplesmente uma utopia, nem simples-
mente uma obra de Filosofia Política; envolve um projeto
ético-político-educativo. Está baseada num princípio ético: para
que exista uma sociedade justa, esta deve estar governada por
pessoas justas e receber uma educação específica.
Para concluir esse tema, é oportuno citar as palavras de Cor-
tina e Martínez (2005, p. 57):
© U1 - Filosofia moral – legado grego 31

Talvez o que mais chame a atenção da teoria ética de Platão seja


sua insistência na noção de um bem absoluto e objetivo – o Bem
com maiúscula – que, em sua qualidade de Idéia Suprema no mun-
do das Ideias, constitui a razão última de tudo o que existe e de
toda possibilidade de conhecimento. [...]
Platão afirma que só os que têm a capacidade e a constância ade-
quadas chegarão a se encontrar frente a frente com o Bem em si.
[...] Quanto às demais pessoas, que por falta de capacidades natu-
rais não chegarem à contemplação da Idéia de Bem, encontrarão o
tipo de felicidade que lhes corresponde atendendo às capacidades
que têm, sempre e quando, é claro, desempenharem cabalmente
as virtudes próprias de sua função social.

8. O FIM ÚLTIMO: A FELICIDADE


Aristóteles expõe suas reflexões éticas na obra Ética a Nicô-
maco (ARISTÓTELES, 2002). Também escreveu outras duas obras
sobre este tema: a Ética a Eudemo, que reflete elementos de seu
período de juventude, e a Grande Moral ou magna moralia, na
qual aparecem de forma resumida as ideias centrais da Ética a Ni-
cômaco, a obra Política, que para Aristóteles é um desdobramento
da Ética.
Aristóteles inicia a Ética a Nicômaco afirmando que toda
ação humana se realiza visando um fim; o fim que impulsiona a
ação coincide com o bem, se identifica com o bem. Ainda assim,
alerta o pensador, muitas das ações que o indivíduo executa são
"instrumentos" para possibilitar a realização do fim. Por exemplo,
o fato de submeter-se aos cuidados da Medicina preventiva tende
a evitar futuras intervenções mais complexas e perigosas, possi-
bilitando um fim que não é o imediato. Alimentar-nos de forma
racional sem cometer excessos para ter boa saúde também visa
a um fim não imediato. A correta alimentação é um instrumento,
como a Medicina preventiva, para ter boa saúde, que é o fim últi-
mo da ação.
Aqui surge a pergunta: existe algum fim que não seja um ins-
trumento para alcançar outro bem mais cobiçado? Aristóteles diz

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32 © Ética I

nessa obra que a felicidade é o bem último. A felicidade é aquele


estado a que todos aspiraram por natureza. A felicidade é um con-
ceito que está identificado com a boa vida. O problema é que não
são todos os homens que concebem de forma clara o que é a ver-
dadeira felicidade, muitos, procurando a felicidade, se entregam
ao prazer, procuram acumular riquezas materiais, cargos de reco-
nhecimento, honras, enquanto a verdadeira felicidade é viver de
forma virtuosa, sem cometer excessos. Quanto maior for o núme-
ro de virtudes que o indivíduo pratica, mais virtuoso ele será, e a
prática consciente da virtude está diretamente ligada à felicidade.
A felicidade é então o maior dos bens, é um bem em si (ARISTÓTE-
LES, 2002, livro 1, 1).
Ninguém pode buscar a felicidade pela felicidade; a felici-
dade não é uma coisa que pode ser adquirida. Muitos imaginam
que, adentrando no mundo dos prazeres, das posses materiais, do
poder, podem "comprar" a felicidade, mas esta é um bem absolu-
to, é considerada um bem em si mesmo. Só podemos alcançar a
felicidade como consequência de uma vida reta e virtuosa.
No livro 2 da Metafísica (2006), Aristóteles descreve o que
entende por virtude e vício. O homem deve repetir as boas ações,
aquelas consagradas como boas. Praticando boas ações e descar-
tando as erradas, adquire-se um hábito, que, para Aristóteles, é a
Virtude. Por sua vez, se a minha conduta não é a correta e mesmo
assim persisto nela, estarei adquirindo um vício. Virtudes e vícios
têm relação com a conduta escolhida. Todo bom hábito deve ter
como farol o termo médio, que se encontra entre os extremos. Al-
guns vícios são produto do excesso, outros, da privação; a virtude
escolhe o termo médio. Assim, a virtude é o termo médio, mas
a perfeição que a determina é o Bem. Contudo, não existe uma
norma rígida sobre como se comportar perante determinado fato.
Continuamente devemos, racionalmente, tomar decisões corre-
tas. Mesmo que exista essa necessidade de avaliar continuamente
nossas decisões, não podemos nem pensar que Aristóteles aceite
a relatividade da virtude. Acontece que o que é termo médio para
uns pode ser extremo para outros e vice-versa.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 33

Ora, realmente parece haver diversas finalidades visadas por nos-


sas ações; entretanto, ao elegermos algumas delas, por exemplo, a
riqueza, ou flautas e instrumentos em geral – como um meio para
algo mais, fica claro que nem todas são finalidades completas, ao
passo que o bem, mas excelente (o bem supremo) parece algo
completo. Conseqüentemente, se houver alguma coisa que, por
si só, seja a finalidade completa, essa coisa – ou se houver várias
finalidades completas, aquela entre elas que for a mais completa
será o em que é o objeto da nossa investigação. Ao nos referirmos
a graus do completo, queremos dizer que uma coisa buscada como
uma finalidade em si mesma é mais completa do que uma busca-
da como um meio para alguma coisa mais e que uma coisa jamais
eleita como um meio para qualquer coisa mais é mais completa do
que as coisas eleitas tanto como finalidade em si mesmas quanto
meios para aquela coisa; em conformidade com isso, chamamos
de absolutamente completa uma coisa sempre eleita como uma
finalidade e nunca como um meio.
Ora, a felicidade, acima de tudo o mais, parece ser absolutamente
completa nesse sentido uma vez que sempre optamos por ela mes-
ma [...]. Mas ninguém opta pela felicidade pela honra, pelo prazer
etc. [...] (ARISTÓTELES, 2002, p. 15-16).

Virtudes éticas e dianoéticas


Para explicar as virtudes, Aristóteles (2002) parte da análise
da ação humana.
Aristóteles, com relação às ações humanas, determina que
existem três aspectos principais presentes nelas: a volição, a
deliberação e a decisão.
Sobre a primeira, a vontade, Aristóteles afirma que está
orientada para o bem. Portanto, a preocupação não é sobre o que
queremos, e sim sobre que caminhos escolhemos para alcançar
o bem, que já está determinado na própria natureza humana. O
segundo aspeto sim é fundamental: a deliberação, como e o quê
fazer; este inspira o terceiro, a decisão.
Mas como a felicidade é uma certa atividade da alma em conformi-
dade com a virtude perfeita, é mister examinar natureza da virtude
por isto provavelmente nos ajudará em nossa investigação da na-
tureza da felicidade. Acresça-se que aprece que o verdadeiro esta-
dista é alguém que realizou um estudo especial da virtude, visto ser
sua meta tornar os cidadãos indivíduos virtuosos e respeitadores
da lei.

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34 © Ética I

A virtude que temos que considerar é a virtude humana, visto que


o bem e a felicidade que nos dispomos a buscar foram o bem hu-
mano e a felicidade humana. Mas a felicidade humana significa, a
nosso ver, excelência da alma, não excelência do corpo; em coerên-
cia com isso definimos a felicidade como uma atividade da alma
[...].
Ora, a virtude também é diferenciada em consonância com a divi-
são da alma (vegetativa, apetitiva e racional). Algumas formas de
virtude são chamadas de virtudes intelectuais, e outras virtudes
morais. A sabedoria, o entendimento e a prudência são virtudes
intelectuais; a generosidade e a temperança são virtudes morais.
Ao descrever o caráter moral de alguém não falamos que se trata
de alguém sábio ou capaz de entendimento, mas que é uma pessoa
moderada ou sóbria. Mas o homem sábio também é louvado por
sua disposição e chamamos virtudes às disposições dignas de lou-
vor (ARISTÓTELES, 2002, p. 60-63).

Aristóteles continua explicando que as virtudes éticas são


resultado de nossos costumes e hábitos e são dirigidas a dominar
a alma sensitiva. Durante toda nossa existência, vamos desenvol-
vendo um ethos. Para as virtudes éticas, vale a teoria do justo-
-meio; por exemplo, entre a vaidade (que é um excesso) e a extre-
ma modéstia (que evidencia falta de autoestima) está o respeito
próprio, que coincide como o justo-meio, que é uma virtude.
As principais virtudes são: fortaleza, temperança e justiça.
As virtudes dianoéticas, relacionadas às funções da alma
racional, formam parte do intelecto (nous) e do pensamento
(noésis). Seu desenvolvimento depende da boa educação.
As principais virtudes dianoéticas são: sabedoria e prudên-
cia. Segundo Aristóteles (2002, livro 10-6, p. 274, 275):
A felicidade não pode ser uma disposição do caráter, porque se o
fosse poderia ser possuída por um individuo que passasse a totali-
dade de sua vida adormecido vivendo a vida de um vegetal, ou por
alguém que estivesse mergulhando no mais profundo infortúnio.
[...] Fica claro que a felicidade deve ser considerada uma atividade
desejável em si mesma e não entre aquelas desejáveis a título de
meios para alguma coisa. Mas a felicidade consiste na atividade de
acordo com a virtude.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 35

Continuando o raciocínio, vejamos um extrato da obra de


Ana Leonor Santos (2008, p. 39-43), o qual explica a função da
educação responsável pela formação do êthos:
[...] Do (êthos) animal ao humano
A ética deve importar particularmente a alguns seres humanos –
aqueles que não estão sob protecção imediata dos deuses. Mas
este conjunto de seres a que a ética diz respeito é intersectado por
um outro, respeitante aos animais, aos quais Aristóteles aplica o
termo êthos.
[...]
No homem: diferentemente do que acontece com os animais,
não há um êthos da espécie humana; no nosso caso, a singulari-
dade manifesta-se também nas diferenças individuais de carácter
– justificadas pela ausência de regulação natural da faculdade de-
siderativa (regulação vigente no mundo animal) –, para cuja for-
mação contribuem os hábitos adquiridos através da educação. [...]
Assim sendo, e apesar de algumas diferenças individuais devidas
à natureza – já que nem todos são igualmente receptivos à edu-
cação –, existe uma dimensão de indeterminação que vai adqui-
rindo forma graças à educação e que é, porventura, responsável
pela formação do êthos numa dimensão que não estritamente
psicológica, ao mesmo tempo, e pelo mesmo motivo, responsável
pela imputabilidade das noções de bem e de mal ao ser humano,
juntamente com a posse da razão e a ausência de auto-suficiência.
Pela posse da razão percebe-se que o homem não é um simples
animal; pela ausência de auto-suficiência ele afasta-se dos deuses.
A sua situação é intermédia: entre um e outros encontra-se o único
ser vivo que percebe o bem e o mal, o justo e o injusto, distinções
cujo conhecimento lhe é indispensável na medida em que nem o
seu carácter está determinado pela natureza nem o seu compor-
tamento é padronizado. Deve, pois, escolher o comportamento a
adoptar, após um período de deliberação, durante o qual se supõe
que a percepção ética acima referida exerça influência, caso tenha
sido correctamente adquirida, formando um carácter temperado.

O ideal grego consistia na beatitude da contemplação. O ro-


mano, porém, era o oposto do grego, caracterizando-se pelo espí-
rito prático.

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36 © Ética I

9. OS SOFISTAS, DEFENSORES DO "NÓMOS"


Segundo Guthrie (1995, p. 62-69), no século 5 a.C., como
consequência das teorias físicas da evolução da vida desde a ma-
téria inanimada, surgiram teorias que se opuseram às alinhadas à
perfeição da "Raça dourada" de Hesíodo. Essas teorias evolutivas
relatam que, no começo os homens viviam como os animais, não
tinham ideia de organização social nem econômica, morriam em
grande número de frio, de fome e de ataque de feras. As necessi-
dades lhes impuseram a precisão da comunicação racional, apren-
der a falar simbolicamente e a armazenar alimentos para períodos
de escassez como o inverno e épocas de seca. Isso marcou o co-
meço da vida civilizada em comunidade, para isso foi fundamental
observar o respeito pelos direitos do outro. Esses relatos de corte
racionalista referido à evolução humana estão em forte oposição
às teorias religiosas baseadas na idade da perfeição de Hesíodo ou
da Idade do Amor de Empédocles.
Os seguidores das teorias evolucionistas estavam a favor de
que o "nómos" fosse considerado o meio para elevar a vida huma-
na a uma vida civilizada. Um dos grandes defensores dessa teo-
ria do progresso é Protágoras; na lista de suas obras encontramos
uma que se destaca nesse sentido, Sobre o estado original do ho-
mem. Esse pensador sofista defende que o avanço moral depende
da experiência e da educação. Por tanto, discorda de Sócrates ao
defender que a "aretê" (ou "conteúdo moral") é uma habilidade
adquirida respeitando as leis.
Para Protágoras, então, autodomínio e senso de justiça são virtudes
necessárias à sociedade, que por sua vez é necessária para a sobre-
vivência humana; e nomoi são as linhas-mestras fixadas pelo Esta-
do para ensinar aos cidadãos os limites dentro dos quais podem se
movimentar-se sem violá-las (GUTHRIE, 1995, p. 69).

Segundo Guthrie (1995, p. 57), o termo "nomo", "norma es-


crita", para os pensadores do século 5 a.C. é alguma coisa em que
se acredita, que se pratica e se aceita por certa. Assim é aceito que
povos diferentes tenham diferentes nomis.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 37

Segundo Heráclito, as leis humanas são sustentadas pelas


leis divinas (nómos-physis); para os sofistas elas dependem de cos-
tumes e hábitos.

10. ESTOICOS E A LEI NATURAL, PERÍODO HELENISTA


Enquanto a Grécia viveu seu momento de maior esplendor
cultural no século 5 a.C., no período helenista reinou a confusão
política e moral. Esses tempos foram marcados por inúmeras guer-
ras, ruíram as cidades de Atenas, Esparta e Tebas, enquanto isso,
viram surgir novas cidades de cultura grega, entre elas Alexandria
e Antioquia.
Na Filosofia, podemos destacar diferentes escolas:
a) Os cínicos (400 a.C.), que cultivavam a ideia de que ser
feliz dependia de se liberar das coisas transitórias. Para
esses pensadores, a felicidade é um bem que pode ser
alcançado por todos, pois ela não consiste em luxúria,
poder político ou boa saúde, e sim em se libertar disso
tudo.
b) Os estoicos, cujo fundador é Zenão, e os epicuristas, es-
cola fundada por Epicuro. Ambos os grupos acreditavam
que a Ética e as questões morais eram mais importantes
do que as questões teóricas. Baseavam sua Filosofia em
um individualismo moral. Os estoicos, em geral, prega-
vam uma vida austera, mas os epicuristas defendiam o
prazer (hedoné), só que o prazer que procede do exer-
cício do lógos. No campo da moral proclamavam viver
conforme a natureza, sendo a natureza o lógos, ou seja,
deveria se viver em concordância com a razão.
c) O neoplatonismo, que conserva traços do movimento
inspirado pelos pré-socráticos, Demócrito e Heráclito de
Éfeso.
Os estoicos acreditavam no destino e na resignação ante o
irremediável. Como diz Comparato (2006, p. 109): "É inegável que
o pensamento estoico insere-se na linha histórica das filosofias de
Pacificação da alma".

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38 © Ética I

O estoicismo representa a reunião de um grande número de


pensadores. Os primeiros foram Zenão de Cítio (322-264 a.C.) e
Crísipo (232-204 a.C.). Cuidado para não confundir Zenão de Cito
com Zenão de Eleia, conhecido por seus paradoxos! Infelizmente
não existe nenhuma obra completa desses pensadores; abundam
citações e comentários de seguidores ou detratores, mas faltam
os textos originais. Para todos os estoicos, era muito importante a
exaltação da ordem da natureza.
Ainda segundo Comparato (2006), os estoicos defendem
que existe uma ordem universal superior. Por isso é possível dizer
que, para os estoicos, natureza (physis) e razão (logos) se confun-
dem. A natureza possui um princípio racional que é responsável
por organizar as estruturas do mundo, a vida, em todos seis níveis,
inclusive a humana e a verdade ética. Motivado por esta ideia, Ze-
não divide a Filosofia em: Lógica, Física e Ética. Para ele a virtude
consiste em viver em concordância com a natureza.
Cortina e Martínez (2005, p. 61-63) falam que sob a denomi-
nação de estoicos agrupam-se as doutrinas filosóficas de um amplo
conjunto de autores gregos e romanos que viveram nos séculos III
a.C. e II d.C. Eles julgaram necessário indagar em que consiste a or-
dem do universo para determinar qual devia ser o comportamento
correto dos seres humano. Acreditam que deve haver uma Razão
primeira comum, que será ao mesmo tempo a Lei que rege o uni-
verso. Essa razão cósmica, esse logos, é providente, ou seja, cuida
de tudo o que existe. O sábio é o que consegue conquistar os bens
internos e desprezar os externos, chegando a ser, nas palavras de
Sêneca, "artífice de sua própria vida". Já aparece aqui, ainda que
de forma rudimentar a concepção de liberdade como autonomia,
que será desenvolvida posteriormente por Santo Agostinho.

Natureza como lei


Está presente em diversas culturas da Antiguidade Clássica
a concepção de que existem leis universais ou um direito que é
comum a todos.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 39

Aristóteles (2005) escreve na obra Retórica que existem leis


particulares dos povos e leis comuns ao gênero humano. As últi-
mas são conforme à natureza, pois existe algo que todos, de certo
modo, percebemos ser.
Aristóteles (2005, p. 114) cita a afirmação de Antígona de
que tais leis "não são de hoje nem de ontem, senão que sempre
existiram".
"Natureza", para Burgos (2007), deriva da palavra latina "na-
tura", tradução do temo grego "physis", substantivo que tem por
raiz "nascer, crescer, produzir, reproduzir etc.". Mas, para o grego
antigo, "natura", "natureza", "physis" é tudo o que existe, é o con-
junto da infinidade de coisas que existem, mas também o senti-
do por que surge e vive cada um em particular. A natureza assim
entendida sugere perfeição, beleza, espontaneidade, harmonia;
é perpassada por leis que são independentes do homem. Burgos
(2007, p. 22) nos diz que "[...] o homem só pode aceder a elas por
intermédio da razão".
Ainda segundo Burgos (2007), é de Aristóteles a definição
que diz que também é natureza o elemento primeiro, imutável, a
essência que faz com que as coisas tenham um princípio ativo que
lhes empurra para a perfeição do ser. Burgos (2007, p. 31) escre-
ve: "O conceito de natureza ultrapassa o mundo físico e alcança o
metafísico; por essa perspectiva, natureza é a essência enquanto
princípio de operação" (tradução nossa). Natureza inclui a nature-
za humana, abarca a dimensão de alma física e também de alma
intelectual, inclui a dimensão humana de liberdade. Platão, na Re-
pública (2006, 486a), explica que existe uma natureza filosófica,
physis philósophos, que é inata.
Segundo Comparato (2006), a Ética estoica difundida por Cí-
cero e trazida para Roma por Panécio se destaca pelos seguintes
princípios:
a) A lei natural está acima dos costumes e das leis dos povos, ela
não depende da vontade popular;

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40 © Ética I

b) Viver em harmonia com a natureza;


c) Saber conformar seu próprio interesse com o interesse da co-
letividade, observando o bem comum e as leis que emanam da
ordem natural;
d) Respeitar ao próximo pelo fato de ser pessoa humana de acor-
do com a lei natural implica em não atentar contra os direitos
alheios;
e) Só o respeito pela lei natural resguarda as virtudes (amor à pá-
tria, piedade, vontade de fazer o bem etc.);
f) O termo Lex toma em Cícero o sentido geral e abstrato de
princípio, tal como a palavra "nómos" na filosofia grega. A lei
se define como "a razão fundamental, ínsita na natureza, que
ordena o que se deve fazer e proíbe o contrário". A lei verda-
deira é, portanto, a expressão da razão e da justiça. Segue-se
que um mandamento injusto, ainda que revestido de aparência
legal, não é lei, senão corrupção dela; assim como uma receita
médica que induz a morte do paciente não é uma verdadeira
receita em essência. Um mandamento pernicioso, votado pelo
povo, é tão pouco uma lei quanto aquele promulgado por uma
assembléia de bandidos (CÍCERO apud COMPARATO, 2006, p.
112-113).

Para viver em harmonia com a natureza, o ser humano, que


é um, não pode ser dividido em alma e corpo como substâncias
diferentes desde o ponto de vista hierárquico como supusera Pla-
tão; deve controlar as paixões (a dor, o medo, o desejo sexual, o
prazer pelo prazer). Para alcançar o estágio de sábio, o ser humano
deve controlar sua conduta sendo indiferente, apático aos fatos
exteriores sobre os quais não tem poder nenhum (morte, dores
pelo corpo, beleza ou feiura de seus traços, riqueza material ou
pobreza, condição social etc.). Para os helênicos, viver em concor-
dância com a natureza consiste, em última instância, em viver em
harmonia consigo mesmo, afirma Comparato (2006, p. 110).
Para os Estoicos o sistema físico, o lógico e ético encontram-
-se unificados pela noção de logos. A Física estoica enxerga o mun-
do como um ser vivo totalmente racional, governado por uma es-
pécie de Providência racional (pronoia).
© U1 - Filosofia moral – legado grego 41

A phýsis se apresenta aos olhos estoicos como algo sagra-


do, evocando a soma daquilo que é permanente e essencial nos
fenômenos naturais, não no sentido de um Deus criador como o
do cristianismo, e sim como princípio de racionalidade que se en-
contra em todas as coisas, em especial no homem, que contém
em si o logoi spermatikoi, ou seja, a capacidade de racionalidade
equivalente.
Cícero (2012) sustenta que a beleza e a complexidade do
mundo, onde tudo está em equilíbrio e se ajusta perfeitamente,
são provas ontológicas da existência de uma inteligência superior
que tudo governa e ordena. Não foram átomos acidentais os for-
jadores do mundo como pensaram os epicuristas. Viver de acordo
com a natureza significa respeitar o princípio que opera nela.

Estoicismo e o Estado Universal


Para os estoicos, não existem atos maus em si mesmos; o
mal moral sintetiza a ausência da reta ordem na vontade humana.
Nenhuma ação é por si boa ou má, também não pode ser con-
siderado bom ou ruim o que não é nem virtude nem vício, já que
nos é indiferente. Os estoicos aderem às virtudes cardinais propos-
tas por Platão: Prudência, Temperança, Fortaleza e Justiça, e pres-
taram uma grande atenção a problemas da conduta para alcançar
o fim da vida humana, que é a felicidade. Para isso, ensinam que
devemos ser virtuosos (viver de acordo com a lei da natureza). En-
tendem que tudo no universo é regido pela lei natural, e o homem
racional deve se adaptar a sua própria natureza-essencial e viver
de acordo com as leis do universo.
Os estoicos usaram a alegoria de um cachorro amarrado a
uma carroça para ilustrar nossa realidade: quando ela se movi-
menta, o cão deve ir atrás dela, mas isso pode ser feito de duas
maneiras: aceitando o fato ou ir sem aceitá-lo, sendo arrastado
pelo pescoço. Tudo o que acontece depende da natureza orde-
nada por Deus. A morte é inevitável e estamos destinados a ela,
como a maior ou menor fama, riqueza, pobreza, dor ou alegria,
tudo faz parte do nosso destino.

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42 © Ética I

Eles, os estoicos, são deterministas, nada acontece fora da


ordem da natureza. Tudo tem um significado e uma razão. Para
ser feliz, o homem deve aceitar sua finidade e seu destino, deve
conformar-se com a sua condição de transitoriedade e fragilidade;
a vida humana é passageira se comparada aos milhões de anos do
universo. O sábio estoico é aquele que não nega a sua transitorie-
dade e se acredita eterno, não nega a sua fragilidade e se pensa
invulnerável, já que o engano implica sofrimento. A máxima estoi-
ca diz: para evitar o sofrimento, devemos aceitar o nosso destino.
Assim, o termo "estoicismo" ficou associado à resistência ao
infortúnio e à fortaleza ante a nossa sensibilidade. No entanto, o
pensamento estoico vai muito além disso: sustentará o amor como
fundamento do direito verdadeiro e exporá as bases para ideali-
zar uma sociedade de todos os homens, uma sociedade universal
unida pelo princípio da fraternidade. Ensinará que não deve haver
cidades-estados governadas por diferentes sistemas jurídicos, to-
das devem observar ou ter como base o princípio da igualdade
de todos os homens que emerge da Lei Natural. Assim, delineiam
as bases do Estado Universal, no qual as pessoas convivem juntas
em harmonia guiadas pela luz da razão. Iniciam-se desse modo os
alicerces do edifício dos Direitos Humanos.
Os estoicos explicam a história que envolve o desenvol-
vimento da sociedade da seguinte forma: no começo da história
humana, as pessoas conviviam sem divisão de classes ou naciona-
lidades. No primeiro estágio social, denominado Idade de Ouro,
não era aceito qualquer tipo de discriminação ou dominação de
um sobre seus semelhantes, uma vez que todos participavam da
propriedade comum dos bens conseguidos. A humanidade era
formada por uma comunidade de homens livres e iguais, que foi
terminando quando se instalou a troca, a ganância e o egoísmo.
Assim, o Direito Natural perfeito e absoluto teve de ser
substituído por outro, relativo, que levasse em conta a natureza
imperfeita do homem e observasse as condições reais da realidade
© U1 - Filosofia moral – legado grego 43

social. Para corresponder ao princípio do Direito Natural, deveria


se evitar a discriminação por sexo, raça, condição socioeconômica,
promovendo a liberdade e igualdade de todos os homens.
Essa concepção de Direito Natural defendida pelos estoicos
teve uma grande influência sobre o ulterior desenvolvimento do
Direito; está presente no pensamento dos Padres da Igreja, influen-
ciou as instituições jurídicas do Direito Romano que foi legado para
os povos do Ocidente, primeiramente, para logo se universalizar.

Figura 2 O império romano antigo.

Para Comparato (2006, p. 111-112), Cícero, por exemplo, ex-


plicou que o Direito Civil é simplesmente a manifestação huma-
na da Lei Natural. O verdadeiro Direito não pode ser diferente em
Atenas e Roma por ser de aplicação universal, imutável, eterna e
obrigatória para todos os povos. Observemos o que diz Comparato
(2006, p. 116-117):
A partir do final da Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.),
inicia-se o chamado período helenístico da história jurídica roma-
na, em que os jurisconsultos passam a aplicar o método dialético
grego na análise do Direito.
A dialética foi introduzida em Roma pelos estóicos, notadamente
por Panécio.

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44 © Ética I

O método dialético consistia, antes de tudo, na classificação dos


dados da realidade empírica pelo duplo processo de distinção
(diairesis, differentia) e do relacionamento (synthesis), o qual con-
duzia ao estabelecimento de gêneros e espécies (distinctio, divisio),
ou seja, à formulação de conceitos.
[...] Uma vez formulados os conceitos, o segundo passo da análi-
se dialética consistia em descobrir os princípios ou explicações ra-
cionais da realidade. Uma breve narração das coisas (brevis rerum
narration).
Mas a contribuição dos estóicos para a criação da ciência jurídica
não se limita à introdução do método da análise dialética da reali-
dade jurídica. Eles trouxeram também para Roma uma visão ética
do mundo, expressa em um sistema de princípios.
Por exemplo, há uma correspondência, essências entre as virtudes
cardinais e as tendências fundamentais da natureza humana. A jus-
tiça, segundo Panécio, corresponde com tendência do indivíduo a
viver em harmonia com a humanidade. A prudência, à tendência
natural à descoberta da verdade e ao cumprimento dos valores
morais. Por sua vez, a virtude da moderação, ou razoabilidade,
que ele denominara sophrossyne, está ligada à tendência natural
do respeito à dignidade própria e à dos outros homens (Aidôs). A
qual conduz à beleza moral (kálon) que os romanos traduziram por
decorum ou honestum, em oposição à seca utilidade. Na verdade,
nada pode existir de útil na vida que não seja, ao mesmo tempo,
justo e honesto.

O jurisconsulto Celso, segundo Comparato (2006, p. 448),


define o Direito como o Bom e Equitativo. Declara que os princí-
pios jurídicos fundamentais são três:
a) Viver de modo honesto.
b) Não lesar ninguém.
c) Atribuir a cada um o que lhe corresponde.
Esses princípios formam a base do Direito Comum a todos os
povos, e surgem do princípio do Direito Natural. Por serem supe-
riores aos do Direito convencionado, regem todas as ações éticas.
Não podemos encerrar o tema dos estóicos sem deixarmos
de tratar de outro grande filósofo cuja importância para a Ética
será tão grande que sua corrente ética receberá o seu nome. Refe-
rimo-nos ao filósofo Epicuro, que tem uma reputação até um pou-
© U1 - Filosofia moral – legado grego 45

co injusta por parte de alguns filósofos cristãos, pois o consideram


estimulador da autoindulgência e da supremacia da alegria. Talvez
porque nos jardins (comunidade dos discípulos de Epicuro) reina-
va a alegria por sobre as outras práticas educativas, a vida simples
guiada pelo sensível desconsiderando a imortalidade da alma no
sentido platônico. No que respeita à moral, esse pensador defende
a Regra de Ouro: é impossível viver uma vida prazerosa sem viver
sabiamente e é impossível viver bem e com prudência (evitando a
dor, o perigo, a doença etc.) sem se viver uma vida agradável. Em
realidade, buscava mais a extinção do sofrimento do que propria-
mente o prazer.
O mérito de Epicuro está em ter compreendido que havia alguma
coisa que reclamava um grande número de espíritos e em ter-lhes
dado satisfação de uma forma admirável. Muitos homens, com
efeito, preocupam-se acima de tudo em ser felizes; a felicidade é
o último termo das suas aspirações; mas, como são inteligentes,
não podem recusar o terem em conta as exigências do seu espíri-
to; não poderiam ser completamente felizes se não dessem uma
razão plausível da sua regra de procedimento; sentem a necessi-
dade de conceber uma explicação do espetáculo que apresentam
os seres e os fenômenos do mundo, mas não apresentam muitas
dificuldades, não são muito exigentes em matéria de explicação;
contentam-se de boa vontade com a primeira teoria que lhes pro-
põem, que julgam compreender e que aceitam com confiança; não
se dão ao trabalho de a complicar, de a aprofundar; se as suas dou-
trinas apresentam algumas contradições, não dão por isso ou não
se inquietam com a sua resolução. O epicurismo trazia-lhes preci-
samente aquilo que eles pediam: "Ó aberta e simples e direta via",
diz Cícero (JOYAU, in Os Pensadores, 1985).

A Lei moral, inspirada no Direito Natural impresso por Deus


no homem, deve ser aplicada na vida cotidiana. O homem deve
controlar as paixões (amor, admiração, ódio, tristeza, alegria e de-
sejo) e encaminhar-se para uma vida justa. Segundo Agostinho
(2000), como o homem possui uma vontade livre, é responsável
ante Deus e ante si mesmo por sua vida.
Esse e outros temas serão estudaremos na Unidade 3.

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46 © Ética I

11. TEXTOS COMPLEMENTAR


Sócrates, o patrono da Filosofia Moral, nos últimos dias de
sua vida deixa, como está retratado na obra Críton de Platão, um
grande ensinamento sobre o que é bom, virtuoso, justo e sobre
como atuar corretamente ante as desavenças, injustiças etc.

Figura 3 A morte de Sócrates (1787), quadro de Jacques-Louis David.

Segundo Platão (2012), Sócrates está na prisão de Atenas es-


perando a hora de sua execução. Analisando a proposta de fuga
apresentada por Críton, Sócrates conclui que nunca devemos agir
de forma moralmente errada. Para fundamentar sua posição, utili-
za três argumentos por meio dos quais mostra que nessas circuns-
tâncias é errado fugir:
1) Nunca devemos lesar ninguém, e muito menos o Estado
e seu conjunto de leis.
2) Se Sócrates fugisse, estaria desonrando o acordo de acei-
tar as leis do Estado, faltando às promessas realizadas.
3) A sociedade e Estado em que vivemos são nossos pais e
mestres e é errado desobedecer ao pai e ao mestre.
Sócrates defende os seguintes princípios: nunca se deve agir
injustamente, nunca se deve fazer mal aos outros, nem mesmo
como paga do mal que nos é feito. Se ele se transformasse num
© U1 - Filosofia moral – legado grego 47

fora da lei, nenhum bem estaria fazendo a si mesmo, a seus amigos


e familiares.
Em Críton, Platão exemplifica a Filosofia Moral argumentando
sobre a forma como deve ser justificada uma importante decisão
prática. Sócrates podia ter fugido da prisão e saído de Atenas, ou
pedido clemência aceitando o que os políticos argumentavam con-
tra ele, mas não quis, preferiu cumprir com as leis da cidade. Prefe-
riu terminar sua vida salvando sua integridade moral.

Leia os Diálogos Platônicos, especialmente o Críton ou o Dever,


disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
cv000015.pdf>.

12. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, sobre a proposta grega clássica e sobre o com-
portamento ético.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Aristóteles, no livro 2 da Metafísica (2006), descreve o que entende por vir-
tude e vício. Esclarece que virtudes e vícios têm relação com a conduta es-
colhida, e afirma: o hábito sempre deve ter como farol o termo médio, que
se encontra entre os extremos. Responda:

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48 © Ética I

a) Como Aristóteles explica o que é virtude?


b) Vício é o contrário de virtude?
2) Como se denominam os seguidores das teorias evolucionistas que estão a
favor do nómos? E como estes entendem a Ética? Justifique sua resposta.

3) O que você entende por "Intelectualismo ético"?

4) Os estoicos julgaram necessário indagar em que consiste a ordem do uni-


verso para determinar qual devia ser o comportamento correto dos seres
humanos. Acreditam que deve haver uma Razão primeira comum. Disserte
sobre a proposta ética dos estoicos, referenciando-a do Direito Natural.

5) O estoicismo representa a reunião de um grande número de pensadores.


Mencione os principais e comente sua proposta ética.

6) Uma das primeiras preocupações da Ética é idealizar uma teoria normativa


que venha auxiliar-nos a resolver problemas sobre o que é certo e sobre
como devemos agir. Sócrates, no diálogo Críton e na Apologia, justifica seus
juízos normativos: "Não devo tentar fugir da prisão, o conhecimento é um
bem, é sempre mal lesar outrem".

7) Se fugisse, Sócrates evitaria ser morto injustamente, mas, para isso, iria de-
sobedecer a lei, nomos, que como cidadão jurou respeitar. Ainda que a lei
seja injusta deve ser acatada? Do ponto de vista ético, isto é correto? Assi-
nale qual das seguintes alternativas não é compatível com as teorias éticas
socrática e platônica:
a) Para a tradição socrática e platônica, só o conhecimento do bem poderia
dirigir a ação justa.
b) Sócrates defende a necessidade de se estabelecer critérios racionais
para diferenciar a verdadeira virtude da virtude aparente, defendida pe-
los sofistas. Essa doutrina que equipara sabedoria e virtude é denomina-
da "Intelectualismo ético".
c) Platão afirma que só o sábio é virtuoso, porque unicamente conhece o
que é virtude, ou seja, conhecendo a Ideia de virtude é possível ser vir-
tuoso.
d) Tanto para Platão como para Aristóteles a felicidade é o fim da ação hu-
mana.
e) Na República (2006), Platão, ao reportar sobre as qualidades da cidade,
enumera as quatro virtudes principais: o individualismo, a vontade ou
ânimo, o amor e a medida justa. Posteriormente essas virtudes foram
chamadas de cardeais.

Gabarito
7) e.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 49

13. CONSIDERAÇÕES
A moral sempre esteve presente em todas as sociedades e
culturas na forma de regulamento do comportamento social, o que
supõe que sempre existiu uma reflexão filosófica sobre ela, e tam-
bém porque é próprio da natureza humana esclarecer os critérios
que levam a ter uma boa vida. No entanto, foi com Sócrates que a
Ética se organiza a partir de princípios teóricos racionais. Fervente
opositor do relativismo sofista, defendeu a existência de normas
e valores morais absolutos e imutáveis. Esse pensador ateniense
afirmava que, para alcançar a felicidade, devemos ser virtuosos e,
para alcançar a virtude, dependemos do conhecimento.
Assim, o termo grego eudaimonia se relaciona com aretê,
entendido como virtude. As virtudes no trinômio Sócrates, Platão
e principalmente Aristóteles cobraram sentido enquanto caminho
para alcançar a felicidade. As reflexões socráticas sobre a Filoso-
fia Moral possibilitaram o surgimento de muitas propostas éticas.
Platão considerava que a felicidade era o fim da ação humana, e o
bem, o fim da Ética. Aristóteles definiu a felicidade também como
fim que concorda com o atributo humano da razão. E os estoicos
aderiram às virtudes cardinais, propostas por Platão, e centraram
sua reflexão nos problemas da conduta para alcançar o fim da vida
humana, que é a felicidade.

14. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 A escola de Atenas (1509-1510), quadro de Rafael, que mostra Platão ao centro.
Disponível em: <http://jornaldefilosofia-diriodeaula.blogspot.com.br/2012/01/os-
sofista.html>. Acesso em: 24 abr. 2013.
Figura 2 O império romano antigo. Disponível em: <http://profellingtonalexandre.
blogspot.com.br/2012/09/historia-de-roma-antiga-e-o-imperio.html>. Acesso em: 24
abr. 2013.
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