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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Fotografia: “Patrimônio e memória de Grandes Rios”

Simone Vanzo Lopes1


Angelita Marques Visalli2

Resumo: Com intuito de sensibilizar e tornar o ensino de História mais significativo utilizou a
fotografia como fonte histórica, permitindo a investigação do lugar onde vivemos a importância da
dimensão local, o respeito pelo patrimônio e os lugares que retratam a memória que testemunha o
passado e sua função a partir do valor histórico-social dos espaços e saberes a serem preservados e
valorizados para sustentabilidade da história local. Propondo aos educadores para serem promotores
da Educação Patrimonial e servirem de instrumentos que garantam o direito, a memória e a cidadania
envolvendo a comunidade escolar, levando-a a apropriar-se e a usufruir dos patrimônios e dos
espaços de memória com mais consciência, realizamos nossa intervenção pedagógica.

Palavras chave: Fotografia; Educação patrimonial; História local.

Abstract: In order to raise awareness and to make the most significant teaching history, we use
photography as a historical source, allowing investigation of the places where we live, to the local
level, the respect for heritage and the places that show the memory that the last witness and function
from a socio-historical value of space and knowledge to be preserved and valued for sustainability of
local history. Proposing to the teachers as promoters of heritage education and serve as a tool that
guarantees the right to memory and citizenship, involving the school community, leading to appropriate
and enjoy the heritage and memory spaces with more awareness, we do our pedagogical intervention.

Keywords: Photography; Heritage education; Local history.

1 INTRODUÇÃO

A formação Continuada de Professores desenvolvida pela SEED-PR por meio


do Programa de Desenvolvimento Educacional (posteriormente PDE) e o
acompanhamento da orientadora, Professora Drª Angelita Marques Visalli
subsidiaram teórico-metodologicamente o desenvolvimento e estruturação do
Projeto de Intervenção Pedagógica, desde a elaboração, implementação e Produção
Didático-pedagógica. O artigo apresentado ao PDE é parte integrante das atividades
de formação continuada da Rede Estadual de Educação do Paraná, vinculada ao
Evento de Extensão promovido pelo Departamento de História e Laboratório de
Estudos dos Domínios da Imagem (LEDI) da Universidade Estadual de Londrina e
1
Autora e Professora PDE - Licenciada em História pela Universidade do Oeste Paulista - Faculdade
de Ciências, Letras e Educação de Presidente Prudente - (FACLEPP). Licenciada em Geografia
pela Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jandaia do Sul (FAFIJAN). Pós
Graduada em Geografia Física e Meio Ambiente pela Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Jandaia do Sul (FAFIJAN). Pós-Graduada em Educação Especial: atendimento às
necessidades especiais pela Faculdades Integradas do Vale do Ivaí (UNIVALE).
2
Orientadora - Doutora em História Social pela USP (Universidade Estadual de São Paulo) -
Professora Associada do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
visalli@uel.br
em parceria com Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss. A proposta foi
desenvolvida no Colégio Estadual Comendador Geremias Lunardelli, município de
Grandes Rios, no período de Fevereiro a Junho de 2014. O tema proposto versou
sobre Fotografia: “Patrimônio e memória de Grandes Rios” e o objeto de estudo
focou em história e memória.
A implementação da proposta de intervenção pedagógica foi desenvolvida em
seis encontros por meio de grupos de estudos, oficinas e aulas expositivas, com a
fundamentação pautada nos conceitos de Educação Patrimonial, memória e
fotografia, debates e leituras de textos, além de ações práticas como: elaboração de
atividades, organização de roteiros, elaboração de teatros de fantoches, exposição
de fotografias e objetos antigos, estudo do meio, pesquisas e entrevistas.
O intuito de inserir a Educação Patrimonial no currículo foi tornar o ensino de
História mais significativo para os educadores e educandos, visando reforçar a ideia
de que é preciso difundir o acesso ao (re)conhecimento da comunidade, aos bens e
manifestações que constituem a cultura local, com características peculiares, assim
como a conscientização sobre a importância de manter e preservar o passado do
grupo, bem como os patrimônios históricos, naturais e culturais. Sob esta óptica, o
foco não se restringe apenas ao sentimento de preservação, mas também de
cidadania.
Propusemos também a elaboração de um material que auxiliasse a inserção
da educação patrimonial em sala de aula. A proposta de trabalho aconteceu de
maneira interdisciplinar para garantir ''um novo olhar" na compreensão dos conceitos
trabalhados, desde o desenvolvimento de habilidades investigativas, perpassando
pelo emprego da criatividade e compreensão da diversidade até chegar ao
reconhecimento da pluralidade cultural.

2 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL, FOTOGRAFIA COMO FONTE HISTÓRICA E


MEMÓRIA

Maria de Lourdes Parreiras Horta (2006, p. 13) esclarece a importância da


Educação Patrimonial como promotora do desenvolvimento de uma visão crítica
sobre o Patrimônio cultural.

A Educação Patrimonial baseia-se em princípios e metodologias que visam


sensibilizar e instrumentalizar os indivíduos de uma comunidade, no
universo escolar e fora dele, crianças e adultos para o reconhecimento, a
compreensão e a valorização do seu patrimônio cultural. Nesse sentido a
Educação Patrimonial objetiva a capacitação de uma comunidade para a
descoberta e identificação de seus valores, de sua identidade cultural, de
seus modos de fazer e de viver, de pensar e de agir, a partir de suas
experiências e do seu cotidiano.

Nesse sentido, a Educação Patrimonial deve ser entendida como um conjunto


organizado de procedimentos e ações, cujo principal objetivo seja valorizar as
comunidades e toda produção cultural, tornando um processo de auto educação e
sensibilização que visa eliminar a “miopia cultural”, despertando sentimentos e
conhecimentos adormecidos, que fortalecerão o senso de pertencimento e
compreensão dos indivíduos como elementos de um grupo. E, desse modo,
sensibilizando a sociedade para uma mudança de atitude e aprimoramento da vida
em sociedade (e esta propiciará a apreciação e consequentemente a apropriação e
a proteção dessa diversidade cultural), adquirindo a compreensão da condição
individual e coletiva.
O Patrimônio em nosso cotidiano surge como bem de valor seja de valor
monetário, afetivo e simbólico; relaciona-se também à herança familiar ou social.
Segundo Trevisan a utilização do termo como “herança social” surgiu na França
após a Revolução Francesa em função do forte sentimento nacionalista e do papel
que o Estado assume ao responsabilizar-se pela proteção das antiguidades
nacionais que possuíam significado histórico para a nação. Deste modo, o conjunto
de bens móveis ou imóveis entendidos como herança de um povo, foi destacado
como Patrimônio Histórico (TREVISAN; MAGALHÃES, 2012, p. 34).
A preocupação com o patrimônio Histórico no Brasil iniciou no século XX,
após uma crise de identidade, marcada pelo processo de urbanização e ascensão
das elites industriais na região sudeste. O Estado Novo (1937-1945) tornava-se um
marco da modernidade brasileira que visava reatualizar os elementos tradicionais,
para legitimar a república, tendo como principal ator o Estado no papel de produtor e
definidor de memórias (CHAUÍ, 1992 apud TREVISAN; MAGALHÃES, 2012, p. 38).
Foi na criação do serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) que o
Estado reforçou os vínculos com o modernismo objetivando seus interesses na
definição de uma identidade nacional a partir da identificação, defesa, restauração e
conservação de monumentos e obras de arte que valorizassem a cultura nacional.
Analisamos que a consagração e a consolidação do patrimônio nacional pelos
modernistas do SPHAN durante esta fase foram elementos importantes para o
processo de formação do Estado e construção da nação, materializando-o através
de monumentos apresentados como documentos da memória nacional que se
passava a construir.
Foi no Período Militar (1964-1985) que através da educação e da cultura,
difundiu-se a importância do Patrimônio na valorização do desenvolvimento nacional
e a criação do ‘‘Conselho de Defesa do Patrimônio”, vinculado ao Turismo e a
proteção arquitetônica (FENELON, 1992 apud TREVISAN; MAGALHÃES, 2012, p.
39).
A partir dessa época, os estados criaram seus próprios órgãos de proteção do
patrimônio, ampliando as características daquilo que deveria ser considerado
fundamental para a formação da identidade de um povo e que deveria, assim, ser
preservado. Foi a partir dessa época que a noção de patrimônio se ampliou, sendo
reconhecida e valorizada pelos órgãos governamentais em todas as esferas e pela
comunidade local.
A ideia de patrimônio histórico, arquitetônico e artístico, foi substituída pela
noção de paisagem cultural brasileira. Nessa conceituação, o patrimônio cultural é
visto como formado por:

[...] bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em


conjunto, portadores de referência à identidade, à nação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem
as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações
científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico [...]
(INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL,
2009, p. 17).

Cabe destacar que a Constituição Brasileira de 1988, estabeleceu, em seu


Artigo 215, a parceria entre o Estado e a sociedade para defender nosso patrimônio
cultural e, no Artigo 216, a composição desse patrimônio por bens materiais e
imateriais relacionados à memória dos diferentes grupos que conformam a
sociedade brasileira.

Art. 216 - Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II- os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988).

O Patrimônio cultural é constituído pelos bens intangíveis (crenças, costumes,


saberes, ideias, danças, cantigas, cantorias, tradição oral, entre diversas
manifestações que constituem as identidades e as memórias coletivas) e pelos bens
tangíveis (móvel e imóvel). Os bens móveis são representados por elementos
relacionados à arte, à religião, ao trabalho, aos livros e aos documentos, aos
achados arqueológicos, às coleções e aos acervos museológicos, e às diversas
fontes documentais e de arquivos. Os bens móveis são os monumentos, os templos
religiosos, os bens individuais, os núcleos urbanos, as edificações, os sítios
arqueológicos, históricos e paisagísticos (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 2009).
O Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional - IPHAN, em torno do
patrimônio Cultural Material, protegidos com base em legislações específicas são
classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: Arqueológico;
Paisagístico e Etnográfico; Histórico; Belas Artes e Artes Aplicadas.
No que faz referência ao Patrimônio Cultural Imaterial, o IPHAN parte do
conceito da Unesco (2013), que define as práticas, representações, expressões,
conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns
casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante. Entretanto, para que ocorra
o conhecimento, apropriação e preservação dos patrimônios de forma consciente,
faz-se necessário que tenham as noções fundamentais da importância do patrimônio
para a manutenção da identidade das comunidades (TREVISAN; MAGALHÃES,
2012, p. 9).
O Patrimônio imaterial está agrupado, no IPHAN, em:

Livro de Registro dos Saberes: conhecimentos e modos de fazer enraizados


no cotidiano das comunidades;
Livro de Registro de Celebrações: rituais e festas que marcam vivência
coletiva, religiosidade, entretenimento e outras práticas da vida social;
Livro de Registro das Formas de Expressão: manifestações artísticas em
geral: literárias, musical, plásticas, cênicas e lúdicas;
Livro de Registro dos Lugares: mercados, feiras, santuários, praças onde
são concentradas ou reproduzidas práticas culturais coletivas (INSTITUTO
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 2009).

Observando tais concepções, afirmamos que a Educação Patrimonial tornou-


se uma alternativa de alfabetização cultural onde dialoga com as possibilidades e
situações de aprendizagem mediadoras na construção das identidades e memórias
coletivas e a sensibilização sobre a importância do reconhecimento, da valorização e
da conservação do patrimônio em questão. O processo de valorização do patrimônio
cultural e da memória são indutores do desenvolvimento e reflexão sobre o
desenvolvimento local, levando em consideração a história dos indivíduos que a
representam e dos lugares de memória. Portanto, a Educação Patrimonial é
fundamental no modelo de desenvolvimento local sustentável, considerando que só
se valoriza o que conhecemos e estabelecemos relação de pertencimento, para
então obter o real reconhecimento, tornando identidade para uns, memória ou
lembranças para outros.
A partir de um trabalho integrado com os professores das escolas de nosso
município, entendemos que a Educação Patrimonial seja uma possibilidade para o
desenvolvimento de propostas interdisciplinares e ações pedagógicas voltadas para
construção do conceito de patrimônio cultural, bem como um novo olhar para o meio
em que estamos inseridos, abordando as origens e tudo que possa caracterizá-lo,
tornando-o um importante instrumento de promoção e vivência da cidadania. Por
meio de esse "novo olhar” e essa re “significação". O intuito é desenvolver
sentimentos e ações na responsabilidade, na busca da valorização, da preservação
e da defesa das memórias patrimoniais como um todo.
A aplicação da metodologia da Educação Patrimonial esta baseada em quatro
etapas: observação, registro, exploração e apropriação (HORTA, 1999, p. 11).
Observação: refere-se ao que está sendo visto. A priori devem-se fazer
perguntas ao objeto que está sendo analisado para que se obtenha o máximo de
informações a seu respeito.
Registro: neste momento, os indivíduos demonstram, de forma escrita, oral ou
através de desenhos, o que de mais significativo descobriram a respeito do objeto
analisado.
Exploração: consiste na análise do problema, levantamento de hipóteses,
discussão dentro do grande grupo, pesquisa em outras fontes, dúvidas e opiniões de
cada um sobre o objeto.
Apropriação: é o significado que ficou para cada pessoa do grupo a respeito
do objeto, ou seja, o que cada um aprendeu sobre a pauta estudada.
No entanto, por essas etapas é possível promover propostas de
aprendizagem. Assim, criar uma relação expressiva para a comunidade e seus
patrimônios, de modo que preservá-los passa a ser um compromisso de todos os
indivíduos da comunidade.
A proposta de utilizar novos instrumentos metodológicos capazes de
promover o processo de ensino-aprendizagem nos estudos da história local e da
educação patrimonial intensificou a importância de diversificar as possibilidades do
uso das fotografias como documentos históricos e de construir proposta de ensino
identificada com as expectativas e cultura do aluno, tornando-os sujeitos ativos e
pesquisadores da sua história e das questões locais. Por meio da fotografia é
possível resgatar informações socioculturais e sentimentais, possibilitando a leitura e
o diálogo que estabelece na imagem registrada.
Segundo Alberto Gawryszewski (2011, p. 67) "a fotografia constitui importante
ferramenta nas mãos dos historiadores, uma vez que está impregnada de valores e
ideias sobre aparência, padrões de beleza, saúde, valorização do ofício entre
outros”.
Sendo assim, utilizar a fotografia como instrumento pedagógico nos permite
resgatar, interpretar e refletir os valores ideológicos, sociais e políticos que
estruturam a sociedade, na qual compreendemos a realidade vivenciada pela
humanidade, analisando erros e acertos que influenciam na construção da história.
Nesse sentido, o trabalho com fotografias tem como objetivo apresentar novas
possibilidades de leituras, analisarem questões que articulem as imagens ao
cotidiano da sociedade nos aspectos sociais e culturais, apontar relações
específicas de permanências e mudanças presentes nas imagens e levar à reflexão
sobre o tempo histórico, fazer a sua relação com outros documentos, possibilitando
uma abordagem mais ampla do contexto analisado, bem como, a comparação com
outros contextos históricos.
Nessa análise, uma fotografia deve ser vista como recorte e representação do
real, não como real em si, levando em consideração o contexto em que ela foi
produzida, as intenções de quem a produziu, o tipo de publicação em que ela
circulou os leitores a quem se destinou (PARANÁ, 2008, p. 38).
No entanto, assim como outras fontes, no momento de trabalhar com a
imagem fotográfica, o professor precisa ter a clareza de que a fotografia é uma
representação a partir do real, é necessário que seja interpretada para que seja
possível realizar sua leitura, buscando ir além da simples do que é retratado, estar
atento a intencionalidade que a imagem traz, explicita ou não, deve ser
compreendida a partir do processo de construção da representação em que se
originou seja ela "jornalística, antropológica, etnográfica, social, arquitetônica ou
urbana." Esse caráter interdisciplinar do registro fotográfico dialoga com diversas
disciplinas, possibilitando utilizarmos metodologias diferenciadas, de acordo com os
princípios de cada área.
Outro ponto a ser ressaltado em relação ao uso de fotografias é a
averiguação de algum tipo de manipulação técnica e as intenções do autor ao
realizar tal alteração, isto é que mensagem quer transmitir a partir daquela imagem.
Cabe a nós professores mediar esse conceito, notar as implicações que
fizeram tais modificações, alterando sua fidelidade, apesar da opinião dos alunos
acerca da manipulação da opinião pública.
As fontes fotográficas podem ser trabalhadas, ainda, com a descrição de seus
elementos e análise/interpretação das atividades que representa com lugares
pessoas e personalidades representadas (a maneira de se vestir, gestos, sua
expressões). (PARANÁ, 2008, p. 38-40).
A partir dessa análise, a fotografia pode ser um poderoso aliado, tanto no seu
caráter ilustrativo, como por trabalhar com referenciais próximos ao aluno por ser um
elemento presente em suas vidas, representados nos registros fotográficos de
diversos períodos de suas vidas, muitas vezes contido nos álbuns de família.
Segundo novíssimo Aulete, dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa
(GEIGER, 2011, p. 914). Memória: "[...] é a capacidade de reter e recordar
impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente, resultado de experiências já
vividas; lembrança, reminiscência [...]”,
No mesmo dicionário, encontramos para memórias: "[...] pode ser uma
narrativa que alguém faz, em obras literárias com base no depoimento de uma
pessoa mais velha, a partir de acontecimentos históricos dos quais participou ou foi
testemunha, ou que estão fundamentados em sua vida particular" (GEIGER, 2011, p.
914).
Em memória fotográfica: "[...] é a capacidade ou aptidão de lembrar com
detalhes algo que viu, se leu, se ouviu e posteriormente lembrar com exatidão coisas
que percebidas visualmente" (GEIGER, 2011, p. 914).
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (2009,
p. 11) conceitua memória como: conhecimento ou consciência sobre situações,
eventos, ações, sensações passadas, lembranças, reminiscências, vestígios. A
memória permite a construção da identidade individual e coletiva, desenvolvida em
um espaço, e um lugar, estando sujeita a modificações e alterações por ser um
elemento vivo, contemplando ressentimentos, seleções, supervalorizações,
lembranças vagas, esquecimentos e deformações. Também é seletiva, pois
guardamos o que nos interessa - aquilo que aparentemente nos é necessário e
descartamos o que supomos não precisarmos.
Compreendemos que todos participam dessa trama entre memória coletiva e
memória individual e que a definição de nossa identidade, assim como a de um
grupo, é feita por meio da memória coletiva. Assim, a memória é influenciada por
fatores como afetividade, desejo, censuras, lugares, entre outros.
Muitas vezes quando recorremos à memória para nos lembrar de lugares ou
espaços, nos apoiamos às lembranças que tínhamos dos acontecimentos ocorridos
nesses locais, representando-os em nossa memória.
O historiador francês Pierre Nora (1993) aborda os elementos e
espaços/lugares de memória como:

Os espaços entendidos como referenciais histórico-coletivos no qual se


identifica a comunidade ou o grupo social: nossas vontades de relembrar, de
memorar, o que a singularidade representa por serem espaços-lugares, são
o que remete para o processo de estruturação de nossa identidade coletiva
(NORA apud NEVES, 2007, p. 1).

A estes espaços atribuímos às recordações ou relembramos outras, como


registros que fazem parte da nossa formação individual ou coletiva. Para Pierre
Nora, o lugar de memória tem três concepções são lugares materiais onde a
memória social se ancora e pode ser apreendida pelos sentidos; são lugares
funcionais porque tem ou adquiriram a função de alicerçar memórias coletivas e são
lugares simbólicos, onde essa memória coletiva – vale dizer, essa identidade - se
expressa e se revela. São, portanto, lugares carregados de uma vontade de
memória (NORA apud NEVES, 2007, p. 1). Os lugares de memória podem ser
divididos em três grupos: Lugares topográficos: arquivos, bibliotecas, museus, isto é,
lugares criados para preservar documentos históricos e as heranças do nosso
passado histórico e cultural. Lugares simbólicos: onde se realizam comemorações,
peregrinações, aniversários importantes, isto é, locais emblemáticos para a
comunidade: onde tiveram, lugares de certos acontecimentos que foram apropriados
pela comunidade como importantes para a sua história comum, e daí essenciais
para a afirmação da sua identidade coletiva. Lugares funcionais: manuais,
autobiografias, associações e instituições, que têm como fim preservar e divulgar
acontecimentos, monumentos, personalidades, fazendo parte da memória coletiva e
são tidos como elementos identitários de um povo. (NORA apud NEVES, 2007, p. 2).
Relacionar a memória e o patrimônio à prática pedagógica propicia a leitura
do mundo pelos sujeitos escolares a partir da observação da paisagem da cidade e
dos locais onde vivemos, buscando decifrá-la por meio das imagens, bem como do
patrimônio material e imaterial em que estão imersos. Patrimônio este que muitas
vezes não é percebido, não é valorizado, nem preservado, porque não são (re)
conhecidos. (PAULA, 2011). Nesse sentido, o indivíduo carrega em si a lembrança,
mas estão sempre envolvidos com a sociedade, seus grupos e instituições que
estão inseridos. É no contexto destas relações que construímos as nossas
lembranças. Esta memória coletiva tem a função de colaborar para o sentimento de
pertinência a um grupo do passado comum, garantindo o sentimento de identidade
do indivíduo.

3 GRUPO DE TRABALHO EM REDE – GTR

Algumas atividades são previstas no Plano Integrado de Formação


Continuada do Programa como o Grupo de Trabalho em Rede, posteriormente GTR.
Sendo um momento de socialização e integração entre o professor tutor e os
participantes, através das atividades e relatos de experiências discutidas nos fóruns
e diários. Nessa etapa, houve a participação de um grupo de trabalho de quatorze
professores da rede pública, atuantes na área de história do ensino fundamental e
médio, que contribuíram diretamente com o projeto trabalhado de forma prática e
dinâmica, utilizando uma metodologia que buscou subsidiar teoricamente a
implementação das Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do
Estado do Paraná na disciplina de História, no que atende a Lei n°.13.381/01, a qual
torna obrigatória, no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual, o
trabalho com os conteúdos de História do Paraná e conseguintemente história de
sua localidade.
De acordo com Paraná (2008, p. 45) “[...] as temáticas da História local,
História e Cultura Afro-Brasileira, da História do Paraná e da História da Cultura
Indígenas, constituintes da história desse país, mas até bem pouco tempo, negados
como conteúdos de ensino”.
Esta abordagem metodológica de estudar a História local, não desvaloriza
ensino de História, ao contrário permite o aprofundamento do conhecimento histórico
e o entendimento do sujeito comum como construtor. Vale ressaltar então a
importância do ensino desta disciplina, na valorização, na preservação da memória e
do patrimônio histórico e cultural, ao socializar os conhecimentos historicamente
construídos e possibilitar às futuras gerações a construção de novos conhecimentos.
O estudo local constitui-se como uma possibilidade teórico-metodológica para
desenvolver no aluno as habilidades de pesquisa, síntese, compreensão e
construção do conhecimento sobre determinada realidade mais próxima, onde o
ponto de partida é resgatar o passado e sentir-se parte integrante dessa história,
buscando possibilidades e diversas fontes de estudo e pesquisa, utilizando a
fotografia como fonte na busca do reconhecimento dos patrimônios e das memórias
favorecendo a construção do conhecimento.
Iniciamos o nosso GTR por meio de fórum de apresentação onde tivemos a
oportunidade de nos conhecer, identificar o nome, a área de formação, o colégio, a
cidade e o núcleo e onde cada um atuava.
Na primeira temática houve a apresentação do Projeto, das referências
teóricas, em que o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola esteve respaldado.
No primeiro Diário os participantes refletiram sobre a contribuição do Projeto
de Intervenção Pedagógica para a escola, demonstraram ter conhecimentos
bibliográficos de autores renomados na temática e produziram um texto sobre a
viabilidade dessa implementação em suas escolas.
Na segunda Temática, foi apresentada a Produção Didático-Pedagógica,
elaborada enquanto estratégia metodológica do Projeto de Intervenção Pedagógica
na Escola, para que fosse analisada e discutida.
No segundo fórum o objetivo da atividade proposta foi à socialização da
Produção Didático-pedagógica, havendo a troca de experiências e conhecimentos
dos fundamentos teóricos e metodológicos relacionados à Produção Didático-
pedagógica.
O segundo diário os participantes redigiram um texto fazendo uma reflexão
sobre a relevância das atividades e sugestões apresentadas na Produção Didático-
pedagógica para a realidade da escola pública e a que eles atuam.
Na terceira Temática - Momento importante para socializar a aplicabilidade
das ações de Implementação do Projeto de Intervenção na Escola.
Em todas as etapas pudemos contar com subsídios riquíssimos que
contribuíram para nossa proposta.

4 A IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA

A Implementação pedagógica foi desenvolvida por meio de uma formação


continuada para professores e acadêmicos e teve com intuito tornar o ensino de
História mais significativo para os que integraram o grupo de estudos e
consequentemente aos educandos, permitindo uma investigação de diversos
lugares de memória que testemunhassem o presente e o passado, além de sua
função a partir do valor histórico-social a serem preservados/ reconstruídos ou
revitalizados para sustentabilidade dos saberes, como forma de respeitar,
reconhecer e valorizar a história local.
A questão norteadora para o desenvolvimento do projeto de intervenção
pedagógica aconteceu a partir das seguintes questões abertas:
Como conscientizar educadores, educandos e comunidade da importância da
preservação da memória do patrimônio histórico e cultural de sua cidade?
Quais os interesses acerca da preservação dos patrimônios? Os cidadãos
participam dessa defesa?
Estamos realmente preocupados com a história local? Com seus patrimônios?
A proposta a priori, foi promover uma investigação com relação à
aplicabilidade da Educação Patrimonial nas aulas de História na Educação Básica,
fomentando discussões sobre suas práticas no contexto escolar e objetivando levar
os educadores e educandos a conhecer a história de Grandes Rios no Paraná, sob
os olhares dos patrimônios pertencentes a esta localidade por meio da fotografia. A
Educação Patrimonial norteou a intervenção pedagógica, resultou numa reflexão
sobre os patrimônios históricos e culturais, tendo a memória local como objeto de
estudo e as fotografias como fontes. Por meio desse, os educadores poderão ser os
principais implementadores, pois levarão aos educandos e à comunidade as noções
básicas de Educação Patrimonial e memorial da história local, fazendo-os usufruir
dos patrimônios e espaços de memória existentes com maior responsabilidade no
tocante à preservação. Assim, serão agentes promotores da Educação Patrimonial
com os instrumentos que garantam o direito e o resgate da memória e da cidadania.
A primeira ação versou na divulgação do Projeto no Colégio Estadual
Comendador Geremias Lunardelli, durante a semana pedagógica, em que estavam
presentes: a Direção, Equipe Pedagógica, Professores e Funcionários.
Na segunda ação, divulgamos aos professores o curso de formação
continuada nas escolas municipais e estaduais de todo município enviando convites
por meio de redes sociais aos professores e estagiários da área de humanas,
procurando estabelecer o dia da semana e horário para realização dos nossos
encontros. Então, realizamos as inscrição para compor o grupo de estudos. As
maiores dificuldades encontradas na implementação foram exatamente na formação
do grupo de estudos, pela incompatibilidade de horário dos professores. A solução
encontrada pautou em realizar os encontros às segundas-feiras e aos sábados com
duração de quatro horas.
O primeiro encontro da implementação aconteceu no sábado, no dia cinco de
abril e contou com a parceria do Museu Histórico de Londrina - PE Carlos Weiss, em
que os estagiários desenvolveram duas oficinas: "a memória em sala através da
história oral e fotografia documental" cuja abordagem envolveu conceitos como
História da fotografia, as técnicas da fotografia, o uso da fotografia como documento
histórico, a análise histórica da fotografia (observação e comparação), a
intencionalidade do registro, primeiro/segundo plano, técnicas básicas de tomada
fotográfica e a utilização das câmeras fotográficas. Na oficina de entrevista foram
abordados conteúdos pertinentes como: memórias (a memória em sala de aula
através da história oral). A relação do historiador com suas fontes, por meio da
história oral. Exercícios de simulação de entrevistas, como se portar diante de uma
entrevista, conscientizando a importância do depoimento, no momento da
transcrição e do registro manter a autenticidade e a fidelidade do mesmo com
devidas autorizações de publicação.
No segundo encontro, a data ficou a critério dos participantes (segunda feira
ou sábado), de acordo com a disponibilidade de cada um. Iniciamos o primeiro
encontro com uma apresentação dos alunos do ensino médio com uma paródia
musical produzida na semana do aniversário da cidade, atividade esta desenvolvida
nas aulas de história, retratando a importância de cuidar da cidade. Em seguida
apresentamos em "Power point", fragmentos da poesia de Carlos Drumonnd de
Andrade (2013) "A Câmera viajante".

Que pode a câmara fotográfica?


Não pode nada.
Conta só o que viu.
Não pode mudar o que viu.
Não tem responsabilidade no que viu.
A câmara, entretanto,
Ajuda a ver e rever, a multi-ver
O real nu, cru, triste, sujo.
Desvenda, espalha, universaliza.
A imagem que ela captou e distribui.
Obriga a sentir,
A criticamente, julgar,
A querer bem ou a protestar,
A desejar mudança (...)
Este livro-câmara é anseio de salvar
O que ainda pode ser salvo,
O que precisa ser salvo
Sem esperar pelo ano 2 mil.

Propusemos uma análise à poesia com o objetivo de apresentar


possibilidades de leitura de imagens, traçando paralelos ou relacionando texto e
ilustrações, discutindo a importância do trabalho do fotógrafo (profissional autônomo,
fotógrafo de imprensa, fotógrafo oficial ou mero amador) e as realidades
representadas na elaboração e no objetivo que exprimem o contexto de produção,
revelando narrativas que habilitam e rememoram o futuro através da construção da
sociedade, nas mais diversas representações e formas de ser (eternizada nas
imagens fotográficas de cenas do dia a dia, corpos, paisagens, movimentos sociais,
momentos históricos, vida religiosa, cultural, social, política e econômica). É o
momento em que se torna possível a análise desses aspectos, além da percepção
da atuação dos indivíduos e de suas concepções nas diversas realidades e
contextos sociais. O ângulo, as cores, a luz, a intenção do fotógrafo, a legendas e
títulos, entre outros aspectos também podem ser contemplados. Com efeito,
destacamos a importância da câmera fotográfica como instrumento de gerar
documentos pedagógicos de conscientização e preservação da memória social.
Evidenciamos as problematizações possíveis num documento visual como:
tema ou assunto, a procedência de uma imagem, a finalidade e a intencionalidade,
simbolismo, ideologia(s), a estrutura técnico-formal e manipulação da imagem.
Como fechamento desse tema, discutimos a perspectiva da construção da
memória coletiva na era digital, onde fotografar tornou-se mais fácil, pois os muitos
equipamentos disponíveis (câmeras profissionais ou amadoras, celulares,
“smartphones”, “iphones”, “tablets”, “webcams” etc), permitem ver o resultado em
tempo real. No entanto, percebemos que são feitas muitas fotografias, mas na
edição a maioria são deletadas, deixando de ser um documento. Nessa perspectiva,
propusemos o seguinte questionamento: Qual a função da câmera fotográfica e qual
sua importância? Quais momentos de suas vidas costumam registrar? Qual a
importância da fotografia como fonte histórica? As respostas foram distintas: sobre a
câmera fotográfica todos foram unânimes em responder que é um instrumento que
registra, armazena e projeta imagens. A respeito dos registros fotográficos convergiu
que constituem parte importante da memória das famílias, em que são registrados
os momentos da vivência familiar presente nos álbuns de família e porta retratos
(reuniões familiares, datas comemorativas, viagens e passeios, eventos esportivos,
ritos de passagens religiosos como batismo, primeira eucaristia, crisma, casamento
e até mesmo a morte), além de eventos e projetos desenvolvidos pelas escolas
(festas comemorativas, formaturas, mostra pedagógica cultural e jogos escolares).
Nessas ocasiões, torna-se possível interpretar e analisar a época, as semelhanças e
diferenças, permanências e mudanças, lugares frequentados e consequentemente
lugares de memória, além dos eventos e festividade que participaram. Já nos
"álbuns de família" é possível encontrar padrões como rituais de passagem e
festividades comuns, parentesco, padrões de moda e beleza, relações trabalho e
poder, classe social, estilo de vida, espaços de vivências e de cultura. Como fonte
histórica responderam que é um instrumento significativo que fornece aos
professores importantes recursos pedagógicos de conscientização sobre a realidade
na qual vivemos, uma forma de perceber os erros e os avanços do passado como
um importante papel na construção da memória coletiva. O uso da fotografia é um
subsídio importante na tarefa de promover a aprendizagem dos alunos, na
realização de atividades de comparação das fotografias antigas com as atuais, onde
nos permite estudar a história de lugares e pessoas. Outra proposta metodológica é
a interpretação de fotografias publicadas em jornais e revistas analisando os
aspectos que constituem as imagens públicas, como: representações sociais,
histórica e cultural. Em síntese, nessas imagens está contidos o contexto social,
político, religioso da época em que foram elaborados, proporcionando a identificação
e a compreensão das culturas material e imaterial.
No terceiro encontro, com objetivo de promover um novo olhar sobre o
patrimônio cultural local, nacional e global. Iniciamos identificando as marcas da
humanidade classificadas em: bens ambientais naturais (que existem independentes
da ação humana); bens ambientais culturais (que decorrem da ação do ser humana);
bens sociais (que resultam da dinâmica de interação com a natureza e de sua
transformação); bens culturais (que representam as expressões da produção
humana). O que constitui o patrimônio cultural de uma comunidade é representado
pelo povo, pela nação, e tudo que possibilita as pessoas conhecerem a si mesmas
ou tomarem consciência de seu lugar no mundo (saberes, fazeres, tradições, modo
de pensar e valores que orientam suas práticas sociais). Toda essa representação
está presente nos espaços de convivência, nas construções, nos bens móveis, nos
modos de trabalho e de lazer, nas manifestações artísticas, na literatura, nas
práticas religiosas, entre outros, na qual são construídas ao longo do tempo e
condicionadas por diferentes contextos históricos, compondo assim as identidades
coletivas.
Para contextualizar os conceitos referentes à Educação Patrimonial aplicamos
como referência os conceitos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), que classifica o patrimônio cultural segundo a definição da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Explanamos os conceitos de "patrimônio”: patrimônio cultural (material e
imaterial); produtos culturais (constituídos pelos bens naturais, bens tangíveis e
intangíveis), patrimônio ambiental e urbano, indivíduo, identidade, comunidade,
sociedade, humanidade, tempo, memória, cultura, história, conservação,
restauração, patrimonização, tombamento e revitalização. Ilustrados com imagens e
fotografias, a fim de proporcionar um diálogo a respeito do tema com as imagens,
buscando as noções já elaboradas pelos participantes para que pudéssemos discutir
e aprimorar cada conceito internalizado.
Neste sentido, referimo-nos a uma proposta interdisciplinar dentro da
Educação Patrimonial, dialogando com diversas áreas de conhecimento, permitindo
várias leituras e possibilidades de trabalho num momento de troca de experiências
entre os participantes da formação. As propostas dessa temática foram: explorar
fotografias com a construção de um painel, organizar roda de conversa
desenvolvendo a história oral e entrevistas, explorar com objetos de memória
promovendo um memorial da cidade ou das famílias, da escola, entre outros,
propiciarem atividades de campo explorando os espaços de memória, organizar um
museu da escola ou da cidade, explorar os saberes redigindo um livro das receitas
preferidas das famílias da turma e os remédios e chás caseiros, trabalhar com as
formas de expressão nas manifestações: literárias (como história contadas e
histórias de medo), musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, trabalhar com as práticas
da vida social como: celebrações, cerimônias, festas e rituais praticados pela
comunidade, entre outras.
Ao término dessa apresentação fomos ao laboratório de informática para
pesquisarmos as imagens dos patrimônios materiais e imateriais do Brasil e do
Paraná.
Como fechamento desse encontro propusemos como tarefa extraclasse a
produção de um texto possível de ser aplicada em sala de aula por meio de um
teatro de fantoches, a fim de elucidar a proposta de Educação Patrimonial a partir do
texto '' a Cidade do primo Mauro'' de Carlos Rangel, para se apropriar desses
conceitos de forma lúdica. Os textos produzidos tiveram como títulos: Revitalizando
a maquete do município; Memórias do Country Clube de Grandes Rios; Patrimônio
Histórico - memórias no conto "negócio de ocasião" - Patrimônios da cultura
imaterial; Cuidar de que é nosso - Patrimônio natural; Educação fiscal e Potencial
turístico de Grandes Rios. Então, no encontro posterior pedimos para os
participantes trazerem objetos pessoais que remetem a memória individual ou
coletiva da família.
No quarto encontro apresentamos os conceitos de memória (memória
individual e coletiva), identidade social, elementos de memória e os lugares de
memória como: lugares topográficos, funcionais e simbólicos.
Nessa perspectiva o estudo dos "lugares de memória" permitiu percebermos
os diferentes usos que os meios sociais e políticos fazem da memória. Todos esses
lugares e elementos remetem-nos à memória da infância, nossas relações familiares
e comunitárias que motivam a transmissão de todos os conhecimentos
historicamente vivenciados, permitindo que as memórias sejam preservadas e que
os cidadãos envolvidos sejam valorizados e reconhecidos.
Pautados nos elementos de memórias presentes nas formas de expressão,
nos modos de criar, fazer e viver, nas criações artísticas e nas celebrações voltadas
para a valorização e o reconhecimento das manifestações artístico-culturais.
Constatamos que esses elementos potencializam a identidade coletiva de um povo e
contribuem para manutenção da transmissão de conhecimentos tradicionais relativos
às celebrações religiosas, a culinária, os saberes, as festas que marcam a vivência
social, que são reinventadas ou transmitidas de geração em geração. Entretanto,
falar de nossas experiências, lembrarem as histórias e dos lugares de memória é
falar de pessoas e lugares em que se viveu relembrar imagens, emoções, sabores,
sentimentos, valores, desejos e esperanças, enfim, é falar de tudo aquilo que está
preservado na memória e na experiência vivida.
No decorrer da apresentação dos conceitos fomos elencando os lugares de
memórias e os elementos que nos faz rememorar, presentes nas casas de nossos
familiares, nas praças, nos templos religiosos, nas casas comercias de arquitetura
de madeira nomeadas como venda e armazéns, nos sítios onde vivemos nossa
infância, nos bosques e pomares com cheiro das frutas da estação, nos banhos de
verão e nas pescarias em rios e córregos que cercam nossa cidade, na pista de laço
e rodeios, nas escolas de madeira da zona rurais, no grupo escolar da cidade.

Figura 1 - Imagens ilustrativas

1. Escola Isolada Grandes Rios - 1945


2. Grupo Escolar Ribeirão Bonito - 1960
3. Grupo Escolar Júlia Wanderley Petrich -1955
4. Colégio Estadual Comendador Geremias Lunardelli -1957.
5. Escola Rural Monteiro Lobato, bairro Rio do Peixe - 1970.
Fonte: Acervo do Colégio Estadual Comendador Geremias Lunardelli.
Propomos uma atividade de estudo do meio, onde foi possível caminhar pela
cidade para visualizar e fotografar os patrimônios materiais e imateriais do espaço
urbano, contemplando e percebendo os lugares de memória da comunidade,
presentes nos patrimônios tangíveis tais como: edificações, monumentos,
estabelecimentos comerciais, públicos e educacionais, moradias, praças, entre
outros; e intangíveis: as cerimônias e festas religiosas, danças, músicas, lendas,
contos, histórias, brincadeiras, modos de ser e fazer de um povo, celebrações,
formas de expressões, lugares e espaços onde se reproduzem práticas culturais
coletivas.
Em seguida propusemos a leitura do texto: "Como construir a cidade que
queremos" de Daniela Tolfo, com intuito de fomentar nos participantes um
sentimento de pertencimento e cuidado com espaços urbanos. Nesse texto fica
explícito o que compete ao poder executivo e legislativo previsto no artigo "30" da
Constituição Federal do Brasil que determina as atribuições municipais. O que
compete aos conselhos municipais, às conferências e ao Orçamento Participativo.
Realizamos um momento de discussão a respeito da situação da conservação e
utilização desses espaços e a continuidade das práticas culturais além de quem
remete o dever de cuidar, preservar, restaurar ou dar continuidade das práticas
culturais de saber/ fazer da cultura do povo.
Concluímos que a dinâmica da sociedade promove mudanças no espaço,
expressada na paisagem socialmente produzida e marcada pela cultura material,
imaterial e natural. Essas marcas culturais são comum a toda sociedade criando
uma identidade. Portanto, é considerado patrimônio cultural, histórico, artístico ou
arquitetônico, porque representam valor para sociedade e por isso é necessários
serem preservados e transmitidos para gerações futuras. Entretanto para que tudo
isso se efetive, é fundamental que a gestão pública se abra a participação dos
cidadãos nas decisões políticas.
Nesse sentido, o que mais se discutiu versou sobre as demolições realizadas
no espaço urbano como: o Calçadão, Quiosque do Café da Boca, o parque infantil
da Praça Maria Ignácio, o Clube do Grêmio Estudantil e o Monjolo da Praça Olímpio
Nogueira Monteiro, hoje são lugares que ficaram apenas na memória. Analisando as
fotografias e os depoimentos das pessoas da comunidade concluímos que o
Calçadão foi um espaço de convivência para crianças, jovens e adultos; na qual
promovia encontros noturnos, bailes, festas e comemorações cívicas e para as
crianças, assim como o parque que foram um local destinado ao lazer e
divertimento; o Clube construído pelo Grêmio Estudantil, local de convivência social,
eram realizadas festas, bailes e formaturas. Mesmo destino teve o Monjolo,
monumento construído na Praça Olímpio Nogueira Monteiro em homenagem aos
imigrantes europeus, de onde se originam muitas famílias que desbravaram esta
cidade. Também as escolas de madeira, foram desativadas pela nuclearização do
ensino, preservaram apenas três, hoje é espaço destinado a celebrações religiosas.
Ainda nesse tema abordamos as memórias que contemplam a vida do aluno
e os lugares e elementos de memória de nossa cidade, mesmo que esta não possua
nenhum centro de resgate histórico, nem edificações tombadas, manifestações,
hábitos e tradições populares registradas. Assim sendo, após nos depararmos com
tais problemas, tornou-se necessário propor alternativas metodológicas viáveis para
despertar o interesse pelo patrimônio e o resgate da memória histórica da cidade.
Através desses meios o objetivo pautou em levar os alunos a perceberem que são
também construtores da história, da memória de sua comunidade local. Do mesmo
modo compreenderem suas realidades, agindo nos seus meios como sujeitos ativos
do processo histórico.
A proposta de trabalho versou em resgatar a memória familiar dos alunos, dos
espaços e elementos de memória, através de pesquisas de campo, estudo do meio
dos antigos, espaços de memória nos bairros, ruas e avenidas, entrevistas, resgate
de fotografias históricas e construção de um mural, além de procurar investigar
objetos pertencentes à comunidade para organização de um memorial da cidade ou
das famílias, assim resgatarem histórias contadas, brincadeiras e canções
organizados nos espaços de memória. O intuito também foi trabalhar com as
práticas da vida social como: celebrações, cerimônias, festas e rituais praticados
pela comunidade, entre outras.
Como fechamento dessa temática realizamos uma atividade abordando a
cultura material, por meio do reconhecimento de objetos de memória, registrando as
informações num quadro com os dados coletados a partir de um inquérito de
investigação com as seguintes perguntas: Qual o aspecto físico? Onde e como foi
feito? Qual valor tinha e tem o objeto?
No quinto encontro foi apresentado o resultado da atividade proposta com o
estudo do meio. Observando as imagens fotografadas e a realidade de alguns
espaços de nossa cidade, identificamos os patrimônios tangíveis e constatamos que
há vários espaços de memória que podem ser explorados, onde professores e
alunos podem juntos produzir conhecimento. No entanto, esses espaços precisam
ser revitalizados como: a balsa de travessia do Rio Ivaí, considerada a última balsa
do Vale do Ivaí, interditada por falta de conservação e incentivo. Como bens imóveis
temos como exemplo: o clube e a praça do distrito do Ribeirão Bonito com os bens
móveis como: bancos com o nome dos fundadores do local e maquinários
(relacionado ao trabalho para desbravar o espaço natural); a Praça Maria Ignácio,
encontra-se sem arborização e paisagismo à custa da retirada das exuberantes
árvores e flores que fizeram parte da memória de nossa infância; os campos várzea
e estádio de futebol que foram espaços de convivência, hoje pouco frequentado pela
população; a maquete do relevo do município, que teve grande importância para
educação de nosso município e da região do Vale do Ivaí. (Foi um recurso
pedagógico para aulas de geografia física e econômica, assim como espaço de
turismo); a Cascata e o "playground" da Praça Marli Elizabeth do Nascimento; a
Praça Olímpio Nogueira Monteiro, (contava com um monumento: o busto de bronze
(construída em homenagem ao Interventor do município o senhor Olímpio Nogueira
Monteiro e o monjolo em homenagem aos imigrantes italianos); a Rotatória da
Camponesa (construída em homenagem a contribuição histórica e social das
mulheres de nossa cidade) No entanto a realidade é a depreciação e falta de
restauro desses lugares, alguns até sujeitos a demolição.
No que se refere aos patrimônios intangíveis discutimos as práticas e
tradições locais que desapareceram e as que permanecem. Constatamos que nas
celebrações e cerimônias, ou seja, os rituais e festas que marcaram a vivência da
religiosidade, nas quais a comunidade se reunia para festejar e rememorar a
presença do sagrado sofreu algumas mudanças na participação da comunidade. Um
bom exemplo é a festa de Corpus Christi, que produzia apenas um espaço pequeno
para pintura do tapete (após nossa formação os professores organizaram junto com
a catequese para fazer todo o percurso em torno da igreja); na realização do ritual
de procissão na festa de Domingo de Ramos, a comunidade está perdendo a
tradição de fazer os trançados de folhas de palmeiras; na crença dos santos juninos
e oração do terço (onde se erguia os mastros de São João, Santo Antônio e São
Pedro) essa tradição permanece em poucas áreas rurais. A quadrilha junina (que
envolvia toda a comunidade escolar), hoje é promovida apenas pela escola da
APAE. A tradição é vivenciada nas escolas em festas internas com características
diferentes. Hoje substituídas pelas Festa do Peão de Rodeio. Com relação aos
rituais que envolvem a morte, percebemos as mudanças de comportamento nos
funerais como: modo de acompanhar o funeral antes era caminhando e fazendo
orações, hoje as pessoas acompanham de carro, no costume de vestir-se de preto e
guardar o luto. As festas e rituais que não permaneceram contemplam: a festas de
Folia de Reis, o ritual recomendação aos mortos e a festa do café com leite, que
enaltecia a colheita e a pecuária, fortes no município.
No que se refere aos saberes: percebemos a mudança no modo de fazer o
churrasco nas festas do padroeiro (antes era preparado no espeto de bambu). No
entanto, esta tradição permanece nas festas da Diaconia São Luiz Gonzaga na
localidade do Macuco.
Nas formas de expressão relacionamos também a música, que perdura com o
ritmo sertanejo e sertanejo universitário como estilo musical. No entanto, poucos
apreciam o sertanejo de raiz. Desapareceram as serenatas, as canções populares,
os bailes dançantes organizados por grupos de jovens em residências ou no clube
do Grêmio estudantil, nos terreiros de secar café ou no calçadão, as matinês
carnavalescas organizadas para as crianças, as rodas de viola. Nas manifestações
literárias: as lendas, os contos, histórias e os momentos literários ainda permanecem
enquanto conteúdo escolar e as brincadeiras aos poucos vêm sendo substituídas
pela tecnologia. Contávamos também com o projeto de dança "Tibau" (nome do
grupo), que nasceu da junção das escolas estaduais do município, onde se
apresentavam em muitos festivais de dança em outras cidades e no FERA. Por falta
de apoio e incentivo técnico/financeiro se desintegrou, hoje permanece em projetos
de dança individuais e peculiares de cada escola. Também tínhamos o grupo de
capoeira que pelos mesmos motivos, não continuou. Projetos que poderiam se
consolidar e ampliar a inserção da cultura em todas as instituições de ensino do
município.
Figura 2 -Imagens ilustrativas

1. Grupo de dança TIBAU, 2001. (fonte: acervo do Col. Est. Com. Geremias Lunardelli)
2. Projeto de Capoeira, 2005. (fonte: acervo do Col. Est. Com. Geremias Lunardelli)
3. Artesanato de fibra de bananeira, 2010. (fonte: Emater de Grandes Rios).
4. Festa de Santo Reis, 1985. (fonte: acervo do Col. Est. Com. Geremias Lunardelli)
Fonte: Acervo do Colégio Estadual Comendador Geremias Lunardelli.

No que se refere aos saberes: o artesanato ainda é muito presente. Na


culinária algumas famílias preservam o uso do fogão a lenha, (apesar da
modernidade do fogão a gás e das panelas elétricas) e o modo de fazer a
macarronada com frango caipira da vovó, o bolo de milho verde cozido na chapa do
fogão a lenha, as bolachas, os biscoitos de polvilho, as broas de fubá assadas sobre
folhas de bananeiras, as compotas de frutas, os remédios e chás caseiros.

Receita de frango caipira


Ingredientes:
1 frango caipira de 2 quilos, limpo e cortado em pedaços pequenos;
5 colheres de gordura suína ou óleo;
5 dentes de alho amassados;
1 cebola grande picadinha;
2 colheres (sopa) de colorau;
2 colheres (chá) de açafrão;
1 colher de sal;
2 pimentas “dedo de moça” picadinha;
1 xícara de cheiro verde picadinho (cebolinha e salsinha).
Modo de fazer:
Numa panela de ferro aqueça o óleo, refogue o alho, o colorau e o açafrão,
acrescente o frango, o sal e a cebola deixem refogando até dourar. Vá
acrescentando água aos poucos, deixando cozinhar e com caldo cremoso.
Após o cozimento acrescente a pimenta e o cheiro verde, mexa e sirva com
macarrão cozido, polenta de fubá ou arroz branco (receita de família).
Numa perspectiva de trabalhar com elementos e lugares de memória, foi
proposto uma atividade de trabalho de campo na casa do aluno como lugar de
memória, visando especificamente valorizar a formação da identidade e o
entendimento do aluno como sujeito histórico e social. A recuperação da auto-
estima, tendo como ponto de partida suas características pessoais, fatos marcantes,
experiências adquiridas, seus gostos e saberes, todos despertados através das
lembranças das fotografias utilizadas.
Nessa perspectiva metodológica, pela investigação da história de vida
refizemos os caminhos do historiador, manuseando fontes diversas como
documentos pessoais, fotografias e objetos de memória. Nesse momento, foi
proposto colocar em prática as metodologias da oficina de história oral em atividades
de entrevista de pessoas da família ou da comunidade que poderiam contribuir para
memória de nossa cidade. Nesta atividade, propusemos escolher uma pessoa da
família ou um morador antigo da localidade para ser entrevistado, a fim de
desvendar um pouco da história e da memória social da comunidade. Para tal
atividade precisamos estabelecer algumas etapas: definição da pessoa a ser
entrevistada; elaboração de um roteiro das entrevistas (com as perguntas pré
estabelecidas e explicação da finalidade da atividade). Foram elaboradas também
algumas questões que contemplaram dados pessoais como idade, naturalidade,
nacionalidade, local de moradia, atividade profissional, escolaridade, há quantos
anos reside na cidade, além de outros dados como: possuir algum objeto antigo ou
fotografia que lembrasse algum fato importante na cidade, onde e como ocorreu este
fato, o que tais fotografias ou objetos traziam como lembrança, origem da cidade,
mudanças e permanências, modos de viver da sociedade, atividades econômicas
que eram desenvolvidas. Essas questões foram importantes para formar o perfil dos
entrevistados, o que auxiliou na elaboração da síntese da atividade.
Nessa metodologia foi importante elucidar os conceitos aplicados na oficina
realizada pelo Museu Histórico de Londrina que contempla: modo de manusear o
gravador de áudio e vídeo; formas de conduta perante a uma entrevista; anotações
mais relevantes como: expressões faciais e corporais, pausas e até mesmo a
representação do silêncios. Percebemos também como transcrever uma entrevista e
posteriormente elaborar o texto, mantendo a autenticidade e as devidas
autorizações de publicação.
Para finalizar essa atividade organizamos uma roda de conversa com os
grupos, afim de que todos partilhassem as experiências e os conhecimentos
adquiridos relacionados ao modo de viver no passado, as transformações físicas da
comunidade, as origens da comunidade, os antigos lugares de trabalhos, profissões
que desapareceram, eventos e acontecimentos marcantes, entre outros. Essa
atividade permitiu ao aluno o entendimento da importância da família para a
formação da identidade individual, a constituição daquilo que somos além de
favorecer o respeito à tradição, as experiências e as histórias familiares. Devemos
salientar também a participação e o envolvimento da população na atividade,
construindo, descobrindo, relembrando, se mobilizando para a construção do
conhecimento da história local.
Partindo dos conceitos e métodos apresentados, foi o momento de
elaborarmos propostas de trabalhos possíveis de serem desenvolvidos acerca dos
espaços de memórias. Propusemos a formação de equipes (com seis integrantes)
para execução, utilizando como metodologia de pesquisa, aquisição e construção de
conhecimentos e registro. No entanto, foi discutida a necessidade de buscar
subsídios que permitam fazer a leitura da cidade, levando a compreensão das
diversidades existentes, as modificações feitas pela sociedade na paisagem, as
formas de manifestações sociocultural compartilhadas como ação ou objeto que se
refere à identidade de nossa cidade, possibilitando o aluno à compreensão do
universo sociocultural da trajetória histórico-temporal em que está inserido.
Propusemos como estudo do meio os lugares de memória de nossa cidade. Nessas
atividades, tratamos de aproximar os patrimônios locais da realidade dos educandos,
numa perspectiva interdisciplinar, envolvendo artes, geografia, história, língua
portuguesa, sociologia, história e matemática, nas quais os educadores pudessem
perceber outras possibilidades de trabalho a partir da realidade do aluno, tornando
assim, o ensino mais significativo e consequentemente procurando despertar um
sentimento de pertencimento e interesse pelos espaços que ocupam. As propostas
sugeridas como lugares de memória foram: a casa do aluno; as ruas, avenidas ou
bairros, as praças, os templos religiosos, as escolas e os cemitérios, estes também
vistos como patrimônios. O último acima referenciado foi à escolha. Organizamos
como estudo do meio o cemitério de nossa cidade, pesquisando as personalidades
escolhidas e quais profissões exerceram na sociedade. Relacionamos nomes,
respectivas datas de nascimento e falecimento de cada professor (a) sepultado (a)
no cemitério Municipal Cristo Redentor. A escolha das personalidades se deu pelo
motivo dessas pessoas fazerem parte da memória da educação (não citamos nomes
em respeito aos familiares). No entanto, percebemos que a maioria escolhida ficou
representada por mulheres que exerceram importante papel na sociedade,
contribuindo para educação em nosso município. Exploramos as fotografias e seus
respectivos significados, flores, ornamentos, jazidos, epitáfios, objetos entre outros.
Discutimos as possibilidades de estudo dos cemitérios em diversas disciplinas como
formas geométricas e cálculos dos jazidos, temporalidade, divisão de trabalho,
relação de poder, relação de cultura, espaço natural e geográfico, ritos de
passagem, celebrações, os textos dos epitáfios, significados das imagens e
ornamentos entre outros.
Figura 3 - Imagens ilustrativas

1. Entrada do Cemitério Municipal Cristo Redentor.


2. Anjos simbolizam os mensageiros de Deus e a infância.
3. Flores, que ficaram popularizadas após 1800, simbolizam a fragilidade, singeleza e
beleza.
4. Cruz, símbolo do Cristianismo (paixão e morte de Cristo), última morada dos
mortos.
Fonte: Da autora.

No sexto encontro, propusemos um momento de socialização de


conhecimentos com a apresentação dos trabalhos de estudo do meio.
A partir do debate conceitual (em torno dos lugares como Patrimônio Cultural
e de memória), enfatizamos os espaços onde se concentram e se reproduzem
práticas culturais coletivas, como os templos religiosos, as praças, estabelecimentos
educacionais, entre outros. Pudemos investigar os lugares que os alunos frequentam
com seus familiares, procedendo à busca de informações e produção de roteiros em
mapas do município, possibilitando o reconhecimento da diversidade religiosa (que o
grupo produziu das igrejas evangélicas, das igrejas e capelas católicas do nosso
município). Outro roteiro contemplou os estabelecimentos de ensino, os campos de
várzeas, estádios e ginásios de esporte. Nestes, percebemos a socialização e
interação, assim, entendemos que tais lugares são um importante fator identitário
para os alunos, pais e comunidade.
Figura 4 - Roteiro das instituições educacionais do município

Fonte: Imagem fornecida pela Prefeitura Municipal de Grandes Rios.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica


do Estado do Paraná (PARANÁ, 2007), na disciplina de História, que aponta em
seus Conteúdos Estruturantes a importância de se trabalhar problemáticas
contemporâneas que representem as necessidades sociais, reais e a temática da
História local percebemos a importância de realizar nossa intervenção. Partindo da
ideia de tornar o ensino de História mais significativo para os educandos, por meio
da investigação dos lugares onde vivem, ressaltando a comunidade como ponto de
partida, procuramos demonstrar a importância da dimensão local, no tocante ao
resgate das “memórias” historicamente construídas. No entanto, nossa proposta teve
por objetivo difundir e oportunizar um momento de sensibilização, reflexão e
ressignificação do patrimônio histórico e cultural e dos espaços que nos remete
memória, a partir de uma proposta de trabalho vinculado à Educação Patrimonial por
meio de um grupo de estudos.
Esse processo educativo também teve como intuito levar aos cursistas o
conhecimento teórico–prático, sobre Educação Patrimonial, memória e história local
em que estão inseridos e, a partir de suas experiências, poderão atuar, enquanto
professores, não apenas transmitindo os fatos históricos, mas principalmente, se
identificando como pertencentes àqueles elementos ou grupos formadores da
história local.
Após a formação continuada e o contato com museu "Pe Carlos Weiss" por
meio de visitas e participação nas oficinas de fotografia e memória, percebeu-se que
a temática em “Educação Patrimonial e Memória” foram motivadoras para alguns
professores e alunos desenvolverem trabalhos na "Mostra Pedagógica e Científica"
do Colégio Estadual Comendador Geremias Lunardelli no mês de Agosto. Foi um
momento de pesquisas e apresentações dentro desta temática, na qual alunos e
visitantes puderam ver os patrimônios e as memórias da cidade com um “novo
olhar”, ou seja, um lugar repleto de histórias e pessoas comuns.
Os resultados obtidos com essa formação continuada são considerados
positivos, pois conseguimos atingir uma parte significativa da comunidade do
município, formada por professores das escolas municipais e estaduais, alunos,
acadêmicos e funcionários. Os participantes terão como responsabilidade a função
de “disseminadores” da Educação Patrimonial.
A proposta foi um momento de sensibilização, troca de experiências, de
reflexão acerca da necessidade de inserir no plano de trabalho docente a temática
de Educação Patrimonial e o resgate da memória nas disciplinas de História, Arte e
Língua Portuguesa, numa proposta diversificada e interdisciplinar. Procuramos
versar sobre as possibilidades do uso da fotografia como documentos históricos em
sala de aula e construir uma proposta de ensino identificada com as expectativas e a
cultura dos alunos, levando-os à pesquisa, por meio de uma metodologia que motive
o ensino da história local e regional e desperte a comunidade para a importância de
se preservar a memória social. Também pretendemos que haja o fortalecimento
dessa temática com a necessidade da preservação e valorização dos patrimônios de
nossa cidade, vinculados as heranças culturais, concretizando a vivência
relacionada à cidadania, num processo de inclusão social.
A fim de buscar resultados, foram apresentadas iniciativas de propostas
pedagógicas inovadoras e efetivas para desenvolver o aprendizado e
conscientização com relação ao cuidado com o patrimônio e espaços de memória
onde prevaleceu a prática da cidadania e diálogos enriquecedores entre as
gerações. Essa perspectiva culmina em um processo de apropriação e valorização
de herança cultural. As reflexões apresentadas nesta formação visaram mostrar para
a comunidade escolar o valor de preservarmos os patrimônios e a memória local sob
uma perspectiva metodológica focada na História oral para obtenção de informações
que levem à pesquisa e consequentemente recaiam no ensino da história local. Seja
para o registro de memórias, para a reconstituição de acontecimentos e experiências
(individuais ou coletivas), essa metodologia é vista como oportunidade de
compreender o coletivo, a partir de experiências e versões peculiares. Por meio da
realização de entrevistas com pessoas que vivenciaram ou testemunharam
determinados acontecimentos que fizeram parte da construção social esse trabalho
tornou-se ainda mais relevante.
Ao conhecer a história local, os alunos não estudam a disciplina apenas como
um acumulado de datas e fatos. As aulas fazem parte de um processo de formação
de sujeitos mais conscientes e críticos, preparados para a experiência, para prática
da cidadania e para memória social, tornando o ensino de história mais significativo
para os alunos.
A experiência com a aplicação dessa proposta pedagógica mostrou-nos que é
possível colocar em prática uma metodologia de ensino que envolva o aluno na
construção do conhecimento.
No entanto, todas as afirmações acima supracitadas, mostram que a
educação patrimonial, a todo o momento, tem "sinais" de intervenção, cujos
propósitos precisam ser compartilhados com todos que fazem parte do processo.
Toda formação nesse sentido, significa reconhecer nas ações dos participantes
determinados interesses, daí a necessidade de se rever constantemente esse
desafio como base direcionadora as futuras pesquisas nesse sentido.

REFERÊNCIAS

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