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Inocente ou bandido? Recatada ou vadia?

A
difusão de estereótipos no imaginário social
a partir do jornalismo

Michelli Possmozer
Jornalista e Mestre em Ciências
Sociais
Matérias que já fiz
VIOLÊNCIA GÊNERO
Alguns elementos, como salto alto,
Palavras como bandido e menor fazem parte
sensualidade e descontrole emocional,
do vocabulário de grande parte dos
dependendo do contexto, denotam
jornalistas que trabalha na editoria de Polícia.
inferioridade em relação ao homem.
➔ Na teoria
➔ Na teoria
Recomenda-se o uso do termo
Trata-se de uma descrição de aspectos
acusado
do feminino.
➔ Na prática
➔ Na prática
Usa-se acusado nos casos em que a
Reportagens que reforçam o
pessoal a qual se refere pertence a
machismo no imaginário social.
uma classe social mais alta

➔ Discurso predominante ➔ Discurso predominante


Prisão é vista como solução para o A mulher como sexo frágil.
problema da violência
Como ocorre a difusão de
estereótipos por meio dos
veículos de comunicação?
Sexo frágil
Dualidade
Esse retrato da figura
A mídia divide a sociedade feminina a faz parecer
em dois tipos de pessoas: incompetente, além do
cidadãos de bem e o seu destaque para os atributos
oposto. físicos (corpo, maquiagem)
coloca a mulher como
Abordagem a partir de
objeto.
uma ótica singular e
simplista que traz reflexos Abordagem que reforça
significativos no imaginário preconceitos.
social.
A neutralidade da imprensa #sqn
Isso não é machismo #sqn
Isso não é machismo #sqn
Isso não é
machismo
#sqn
Isso não é misoginia #sqn
Isso não é
misoginia
#sqn
Isso não é machismo #sqn
Isso não é machismo #sqn
Isso não é machismo #sqn
Isso não é
machismo
#sqn
Isso não é
preconceito
#sqn
Quais os efeitos da produção
CULTURA DO
ESTUPRO

desses discursos na
A construção de notícias
que, direta ou
indiretamente,

sociedade?
culpabilizam a vítima
reforçam a cultura do
estupro já vigente em
vez de combatê-la.
Publicação do dono de um
Matéria publicada em 13 de outubro de 2017, na Carta restaurante de Santos (SP)
Capital. sobre o Dia Internacional da
Mulher.
Pode-se fazer uma
análise crítica sobre a
forma como a mídia trata
a criminalidade a partir
do episódio
Engenharia Reversa,
da terceira temporada de
Black Mirror.
DEFINIÇÃO
Engenharia reversa é o processo de
descobrir os princípios tecnológicos e
o funcionamento de um dispositivo,
objeto ou sistema por meio da análise
de sua estrutura, função e operação.

De modo objetivo, a engenharia


reversa consiste em, por exemplo,
desmontar uma máquina para
descobrir como ela funciona.
O QUE FAREMOS
Desvendar os princípios norteadores do
discurso midiático acerca da criminalidade e,
assim, compreender como ocorre a produção
de significados sobre o universo do crime e a
consequente interpretação desse contexto
pela sociedade em geral.

Compreender como essa produção de


significados resulta na manipulação de uma
realidade, manipulação que contribui para a
manutenção do status quo e da violência.
1º: VOCABULÁRIO
Bandido/ traficante/ infrator/ menor/
criminoso: notícias sobre jovens ou
adultos de origem pobre ou de regiões
de periferia, geralmente negros e que
estão associados a uma carreira
criminosa.

Acusado/ jovem/ estudante/


empresário: notícias sobre pessoas de
classe média, reconhecidas como
parte do grupo dos “cidadãos de bem”,
mas que cometeram um delito
criminoso em função de um erro ou
desvio de conduta.
2º:ENCARCERAMENTO
COMO SOLUÇÃO
O discurso equivocado e
recorrentemente adotado de que “a
polícia prende e a justiça solta”, o que
reduz e empobrece a análise sobre o
crime e suas causas, bem como as
políticas necessárias no âmbito da
segurança pública.
3º: DESTAQUE PARA O
ANTECEDENTES
O destaque para os antecedentes da
vítima a fim de provar se é inocente ou
não (com antecedentes criminais). No
primeiro caso, o discurso é de justiça e
celeridade nas investigações; no
segundo, não há espaço no jornal, o que
reforça a visão de uma morte
autorizada, um sujeito matável, logo,
crime que não merece ser investigado.
4º: COBERTURA COMO
ENTRETENIMENTO
São os chamados crimes de
repercussão, tratados por vários dias,
semanas e até meses corridos pela
imprensa. A cada suíte, é revelado um
fato novo do crime, de modo que os
leitores ou espectadores acompanham a
notícia como se estivessem
acompanhando uma novela.
5º: SELETIVIDADE
PELA CLASSE SOCIAL
A mídia prioriza crimes ocorridos em
bairros nobres, com vítimas que ocupam
posições de prestígio social e não dá
importância para os crimes ocorridos na
periferia e com vítimas sem notoriedade.
Há rejeição à cobertura de casos tidos
como “chiqueirada”, como são
vulgarmente chamados nas redações.
6º: ABORDAGEM
LIMITADA DA
VIOLÊNCIA
O entendimento de que violência constitui
somente os atos violentos, tais como
homicídios, assaltos, latrocínio, como se
esses delitos representassem a maioria
das ocorrências. Essa representação
midiática da violência acaba encobrindo o
fato de que a violência está para além das
práticas criminais, na medida em que esta
pode estar entranhada na própria estrutura
social.
7º: O CRIME EM SUA
SINGULARIDADE
Neste caso, a imprensa aborda
apenas o fato objetivo em si, sem
apresentar os precursores da
violência e suas verdadeiras causas.
Não há uma análise ampla, mas sim
reducionista.
8º: EXALTAÇÃO À
MORTE DE SUJEITOS
MATÁVEIS
Policiais que matam agentes de práticas
ilícitas durante confrontos ou durante a
ocorrência de um crime com a justificativa
de defesa da sociedade são reconhecidos
como heróis.
9º: ABORDAGEM
EQUIVOCADA SOBRE
DIREITOS HUMANOS
Neste caso, o discurso midiático
distorce a concepção de que direitos
fundamentais estendem-se a todos
os cidadãos, pois excluem desse
todo agentes de práticas ilícitas com
determinados atributos.
10º: MANIPULAÇÃO DE
UM DISCURSO PARA A
VENDA DE UMA IDEIA
Trechos de entrevistas são destacados e
títulos construídos com frases fora de seu
contexto a fim de se vender a ideia que o
veículo de comunicação deseja que a
sociedade compre.
SERÁ?
MEDO
Ao acompanhar notícias
policiais sem a devida

Quais os efeitos da produção reflexão, a pessoa pode


adquirir uma cultura do
medo e algumas

desses discursos na doenças da pós-


modernidade, como
síndrome do pânico..

sociedade?
CULTURA DE ÓDIO
No dia 03 de
outubro de 2017,
este cartaz foi
colado em muros do
bairro Jardim
Camburi. O fato foi
noticiado pela mídia
local..
OUTROS EFEITOS

➔ APOIO ao armamento da
população como estratégia de
defesa

➔ ADESÃO a discursos
xenofóbicos e racistas

➔ CLAMOR em favor do retorno


da intervenção militar
Quais as semelhanças entre o episódio
Engenharia Reversa e o contexto da
criminalidade brasileira sob a ótica midiática?

Veículos de comunicação têm


incutido no imaginário social INIMIGO

de que há uma parcela de Hoje o grande


inimigo social

seres que não devem ser pintado pela mídia


está representado
nas figuras do
considerados humanos. traficante e do
adolescente em
conflito com a lei.
Livro publicado no início do
século XX já utilizava a metáfora
do inseto
PARA
REPRESENTAR A
IDEIA DE
EXCLUSÃO
SOCIAL
SEMELHANÇAS
➔ DIÁLOGO IMPOSSÍVEL
Os excluídos não têm voz, não
conseguem estabelecer diálogos com a
sociedade

➔ SEM DIREITO À DEFESA


Órgãos e representantes de Direitos
Humanos são ridicularizados

➔ EXTERMÍNIO
Negros e pobres continuam entre as
maiores vítimas de homicídio doloso no
Brasil
Afinal, há uma saída para o
jornalismo? Iniciativas de
mídias
alternativas e
independentes
apontam que sim.
Obrigada!
michellispo@gmail.com

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