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A Nicarágua é um das nações mais pobres da América Latina. O país sofreu muito com a ditadura
da família Somoza que se manteve no poder entre 1936 e 1979, primeiro com Anastásio Somoza
que governou de 1936 a 1956, depois Luis Somoza (filho) de 1967 a 1972 e finalmente Anastásio
Somoza (irmão de Luis) de 1972 a 1979.
Em 1979 ocorre a Revolução da Nicarágua (que inspirou toda a América Latina) e a Frente
Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) assume o poder, elegendo Daniel Ortega como
presidente do país. Mas, em 1990, os sandinistas perdem as eleições para Violeta Chamorro, o
que deu início a uma série de governos liberais.
Porém, em novembro de 2006 a FSLN vence as eleições e Daniel Ortega volta ao poder para
iniciar um governo com discurso de esquerda, mas com práticas corruptas e autoritárias, que
lembram os métodos da ditadura Somoza. Depois da crise econômica global de 2009, a
economia nicaraguense voltou a crescer e apresentou crescimento anual do Produto Interno
Bruto (PIB) entre 4 e 6% ao ano, entre 2010 e 2017, conforme mostra o gráfico abaixo.
O relatório do FMI divulgado em abril do ano passado (WEO2018) estimava que o PIB da
Nicarágua iria continuar crescendo acima de 4% ao ano. Porém, a realidade mudou e o PIB
nicaraguense apresentou uma queda de 4% em 2018 e deve cair 5% em 2019, segundo o novo
relatório do FMI (WEO2019).
4
%
-2
-4
-6
1994
2009
2020
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2021
2022
A renda per capita da Nicarágua que estava abaixo de US$ 3 mil (só acima da renda do Haiti)
subiu nos anos 2000 e chegou a US$ 5,3 mil em 2017. Contudo, ao invés de subir para a casa de
US$ 6 mil como previu o relatório WEO2018 do FMI, a renda per capita caiu em 2018 e deve
ficar abaixo de US$ 5 mil nos próximos anos, de acordo com os dados do relatório WEO2019,
conforme mostra o gráfico abaixo.
6,000
Renda per capita (US$ ppp)
5,000
4,000
3,000
2,000
1,000
0
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022
O que mudou foi o agravamento das condições de vida da população e o surgimento de uma
“nova revolução” que está em curso na Nicarágua, quando o povo se mobiliza contra a FSLN e,
especialmente, contra o governo de Daniel Ortega e sua esposa (e vice-presidente).
Entre os mortos estava a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, vítima de
disparos efetuados por um grupo paramilitares no sul de Manágua. As manifestações ocorridas
nas jornadas de junho de 2013 no Brasil foram fichinha perto do que acontece na Nicarágua a
partir de abril de 2018.
O ex-revolucionário sandinista agora é alvo da ira popular. Mas Daniel Ortega tem também
outras manchas no currículo. O documentário “Exiliada”, conta a história de Zoilamérica Narváez
Murillo, abusada pelo padrasto durante 12 anos, desde que tinha 11 (hoje tem 52). A mãe de
Zoilamérica é Rosario Murillo e o padrasto é Daniel Ortega. Segundo denúncias da enteada do
presidente da Nicarágua apresentada em 1998, quando já estava com 31 anos, ele abusava dela
nos closets de quartos de hotéis em que se hospedava durante as assembleias gerais da ONU
em Nova York. Tudo isto com apoio de Rosario Murillo, que abandonou a filha à própria sorte,
favorecendo o companheiro e seu projeto de poder.
O fato é que o governo da Nicarágua está em franco confronto com o povo do país. O escritor
Eric Nepomuceno, que participou e apoiou a Revolução Sandinista desde o início, hoje tem uma
visão extremamente crítica à Dinastia Ortega e à atuação do presidente. Em artigo no sítio Carta
Maior ele diz: “Um traidor é e sempre será um traidor. Mas há traidores de pior categoria. José
Daniel Ortega Saavedra pertence, com méritos, a essa espécie”.
Referência:
Eric Nepomuceno. Daniel Ortega: uma história de traição, Carta Maior, 13/06/2018
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Daniel-Ortega-uma-historia-de-
traicao/4/40589