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Journal of Research in Special Educational Needs  Volume 16  Number s1  2016 955–958

doi: 10.1111/1471-3802.12239

~
ß AO:
RELATO DE CASO/PLANO DE INTERVENC
ESTUDANTE COM TDAH
Patrıcia de Carvalho Melo Silva1, Joana Darc Oliveira de Souza Sousa1 and Paula Thiane
Modesto Aquino Aquino1
1
Pedagoga e Psicopedagoga

~o.
Palavras-chave: TDAH, psicopedagogia, escola, famılia e inclusa

diagnostico e um cuidado historico clınico e desenvolvi-


O presente trabalho apresenta um relato de caso mental. A avaliacß~ao do TDAH inclui frequentemente, um
de um estudante com Transtorno de De  ficit de levantamento do funcionamento intelectual, acad^emico,
Atenc ~ o e Hiperatividade (TDAH) e o plano de inter-
ßa social e emocional.
venc ~ o psicopedago
ßa  gico, realizado na Clínica
Espacß o Psicopedago  gico e Consultoria, localizada
 importante salientar que os sintomas de desatencß~ao e/
E
no Centro da Cidade de Salvador- Bahia, no perí-
odo de 2010 ate  2014, com o objetivo de colabo- ou hiperatividade/impulsividade precisam ocorrer em
rar com a inclusa ~ o da crianc ß a na escola regular, varios ambientes da vida da criancßa, por exemplo: na
 m disso, apresentar estrate
ale  gias para trabalhar escola e na resid^encia, alem disso, deve manter-se cons-
com a crianc ß a com TDAH na escola, com base na tante ao longo do perıodo avaliado e que esteja presente
fundamentacß a ~ o teo rica que norteou o trabalho, desde cedo na vida do indivıduo, dos sete a doze anos,
para isso sustenta-se a parceria escola, família e causando problemas em pelo menos dois contextos diferen-
especialistas que e  de grande valia para a inclusa ~o tes e que n~ao sejam explicados por outro problema.
e permane ^ ncia do indivíduo na escola.
O diagnostico possibilita o planejamento de um trabalho
adequado para o problema que se apresenta por isso a
necessidade de um encaminhamento ao especialista o
mais cedo possıvel.
PLANO DE INTERVENC ~
ß AO: ESTUDANTE COM
TDAH Os sintomas s~ao descritos no DSM-IV, servem para fazer
O Transtorno de Deficit de Atencß~ao/Hiperatividade (TDAH) o diagnostico da pessoa com TDAH e devem ocorrer
e um transtorno neurobiologico, que aparece na inf^ancia e constantemente, s~ao eles: sintomas de desatencß~ao: presta
frequentemente acompanha o indivıduo por toda sua vida. pouca atencß~ao a detalhes e comete erros por falta de
atencß~ao, dificuldade de se concentrar, parece esta pres-
O TDAH e um transtorno mental v alido, encontrado tando atencß~ao em outras coisas em uma conversa, dificul-
universalmente em v arios paıses e que pode ser dife- dade em seguir as instrucß~oes ate o fim ou deixar tarefas e
renciado, em seus principais sintomas, da aus^encia de deveres sem terminar, dificuldade de se organizar para
defici^encia e de outros transtornos psiqui atricos. algo ou planejar com anteced^encia; relut^ancia ou antipatia
(Barkley, 2008, p.123) em relacß~ao a tarefas que exijam esforcßo mental por muito
tempo; perder objetos necessarios para realizar as tarefas
Atualmente o TDAH esta sendo estudado n~ao so por ou atividades do dia-a-dia; distrair-se com muita facili-
medicos especialistas, mas tambem por familiares e dade com coisas a sua volta ou mesmo com seus pr oprios
profissionais da educacß~ao. Ja existem em muitos lugares pensamentos; esquecer-se de coisas que deveria fazer no
associacß~
oes que fazem o trabalho de apoio e conscienti- dia-a-dia.
zacß~ao deste transtorno.
Sintomas de hiperatividade e Impulsividade: ficar me-
O diagn ostico da criancßa com TDAH devera ser multidis- xendo as m~aos e pes quando sentado ou se mexer muito
ciplinar. Para que seja correto e adequado o diagnostico na cadeira; dificuldade de permanecer sentado em
depende da avaliacß~ao medica, psicol ogica, psicope- situacß~oes em que isso e esperado; correr ou escalar coisas
dagogica e pedag ogica, isto e, da equipe multidisciplinar, em situacß~oes nas quais isto e inapropriado; dificuldade
cada um usando seus metodos e instrumentos como a para se manter em atividade de lazer; parecer ser eletrico
observacß~ao, questionarios, entrevistas estruturadas, testes e a mil por hora; falar demais; responde perguntas antes
de medicß~ao de resultados. O aspecto mais importante do de elas serem concluıdas; n~ao consegue aguardar a sua

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vez; interrompe os outros ou se mete nas conversas dos Para garantir a inclus~ao dos alunos com TDAH e
outros. necessario rever o currıculo escolar, pois a criancßa com
TDAH necessita de algumas modificacß~oes e adaptacß~ oes
Existem tr^es tipos de TDAH, a forma predominantemente curriculares que promover~ao seu desenvolvimento
desatenta, a predominantemente hiperativa / impulsiva ou escolar.
a combinada. Para ser predominantemente desatenta e
necessario apresentar pelo menos seis dos nove sintomas.  percebido como algo que se movimenta e, ao se
E
O mesmo pode ocorrer com a forma hiperativa. Ja a movimentar, muda de “cara”. Essas mudancßas pro-
forma combinada e preciso apresentar pelo menos seis duzem novos efeitos. Esses efeitos ajudam a construir
sintomas de cada um. os alunos e alunas e esta construcß~ao redunda-nos
diferentes convıvios dos diferentes grupos sociais.
O TDAH pode causar mais problemas na vida de algu- (Pavan, 2010, p.126)
mas pessoas e menos na vida de outras. As principais
pesquisas sobre a vida de pessoas com TDAH em com- O professor tambem deve criar novas estrategias para tra-
paracß~ao aos demais, mostram que elas completam menos balhar com essa demanda com o objetivo de melhorar a
anos de escolaridade; t^em maior incid^encia de uso de qualidade do processo ensino aprendizagem e, alem disso,
alcool e drogas; sofrem mais acidentes e, quando eles ter o cuidado de n~ao confundir o TDAH com outros com-
ocorrem tendem a ser graves; t^em maior ındice de desem- portamentos.
prego; t^em maior ındice de div
orcio; t^em mais frequente-
mente baixa autoestima; t^em menos habilidades sociais; Para lidar com uma criancßa com TDAH, antes de
t^em mais isolamento social; t^em maior incid^encia de ten- qualquer coisa, o professor precisa conhecer o trans-
tativa de homicıdio; tem maior incid^encia de varios pro- torno e saber diferencia-lo de “ma-educacß~ao”, “in-
blemas neuropsiquiatricos, em especial depress~ao e dol^encia” ou “preguicßa.” (Mattos, 2013, p120)
ansiedade s~ao os problemas emocionais que mais apare-
cem junto com o TDAH. Problemas comportamentais Dentro desse contexto, o papel do psicopedagogo se
tambem aparecem com muita frequ^encia, entre eles o destaca como apoio ao desenvolvimento do aluno, atraves
transtorno desafiante de oposicß~ao. Outros problemas que das intervencß~oes, acompanhamentos e orientacß~ oes a
podem aparecer no TDAH s~ao a enurese e os tiques. criancßa, escola e a famılia. O psicopedagogo alem de
conhecer o TDAH deve esta atento ao contexto social da
 muito importante a identificacß~ao de outros problemas
E criancßa, para orientar de forma adequada a famılia, a
associados, pois a sua presencßa vai modificar o trata- escola e outros profissionais em relacß~ao ao aluno, para
mento, a escolha da medicacß~ao, o encaminhamento para que todos consigam resultados mais efetivos.
terapia especıfica e o progn
ostico. A exist^encia de outros
transtornos e chamado de comorbidade.  importante entender que o objeto de estudo da psicope-
E
dagogia esta estruturado em volta do processo de apren-
A baixa autoestima, sonol^encia diurna, falta de paci^encia, dizagem humana, ela estuda o processo do aprender e
necessidade de ler mais de uma vez para fixar o que leu ensinar, levando sempre em conta a realidade do
dificuldade de levantar pela manh~a e se ativar para indivıduo. Alem disso, estuda toda complexidade do co-
comecßar o dia, adiamento cr^onico das coisas; mudancßa de nhecimento, buscando um equilıbrio entre o cognitivo,
interesse o tempo todo, intoler^ancia a situacß~ao monotona afetivo e social.
e repetitiva, busca frequente por coisas estimulantes ou
simplesmente diferentes, variacß~oes constantes de humor, Nessa perspectiva o EPPC tinha como objeto de estudo a
s~ao sintomas que Paulo Matos chama a atencß~ao, pois ape- aprendizagem. O trabalho realizado era clınico de
sar de n~ao estarem listados nos criterios tradicionais, s~ao orientacß~ao e intervencß~ao, contudo ele tambem envolvia
comuns nas pessoas com TDAH. busca teorica.

Geralmente os sintomas s~ao mais evidentes quando a O EPPC era composto por psicopedagogas que faziam
criancßa ingressa na escola, principalmente na alfabeti- parceria com profissionais de outras areas, alem disso,
zacß~ao, onde participa de atividades que exigem mais faziam acompanhamento as escolas e as famılias das
atencß~ao por um perıodo maior. A pessoa passa a ter ativi- criancßas, orientando todos os indivıduos envolvidos no
dades mais sentadas e atividades para casa. Essa quest~ao processo. Os atendimentos com criancßas eram realizados
da formalidade, da perman^encia num mesmo lugar por em turno oposto ao da escola regular e geralmente acon-
muito tempo e o excesso de tarefas longas se torna um teciam uma ou duas vezes na semana, dependendo da
grande desafio para o aluno com TDAH, por isso a disponibilidade da famılia e das demandas da criancßa ou
import^ancia do corpo docente conhecer o transtorno para adolescente, com o objetivo de colaborar com a inclus~ao
saber lidar com ele e encaminhar o mais rapido possıvel e perman^encia do aluno na escola. A decis~ao em relatar o
o aluno para uma avaliacß~ao com a equipe de especialistas referido estudo de caso surgiu da grande demanda de
para o diagn ostico e tratamento. criancßas com TDAH na clınica.

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A criancßa, L.S.V, iniciou o atendimento com dez anos de tentativas de conscientizar e sensibilizar a escola no tra-
idade, morava em um bairro periferico de Salvador e balho com a criancßa. A genitora desistiu da perman^encia
estudava em escola p ublica do bairro que morava. Ja da criancßa, pois, percebia que n~ao estava sendo realizada
estava sendo atendida em uma instituicß~ao que trabalha nenhuma acß~ao em prol da inclus~ao do mesmo e logo fez
com criancßas com transtornos e deficit intelectual. Alem a transfer^encia para uma escola municipal de Salvador/
das terapias a criancßa tambem fazia uso de medicamentos Bahia – Brasil.
contınuos para tratar o transtorno. A genitora levou
a criancßa para a psicopedagoga por indicacß~ao da Na escola, a criancßa ficava no fundo da sala e segundo a
fonoaudiologa. professora a mesma se distraıa bastante; n~ao participava
das aulas e as vezes apresentava agressividade com os
L.S.V chegou acompanhada da genitora para a primeira colegas. Diante dessa demanda a psicopedagoga realizou
sess~ao psicopedag
ogica em 2010, com dez anos, diagnos- alguns encontros com os outros especialistas que atendiam
ticado com Transtorno de Deficit de Atencß~ao e Hiperativi- a criancßa com a intencß~ao de discutirem estrategias
dade, com predomin^ancia da desatencß~ao. referentes ao desenvolvimento escolar, pessoal e social da
criancßa.
No primeiro momento a genitora apresentou ansiedade e
preocupacß~ao com o futuro do filho, pois n~ao percebia Logo apos a transfer^encia, a psicopedagoga fez uma visita
avancßos no desenvolvimento escolar, alem disso, a escola para levar informacß~oes importantes sobre o aluno,
criancßa tinha dificuldades em executar as atividades da alem disso, entregou um material sobre o TDAH com
vida diaria, a mesma relatava a dificuldade da criancßa dicas que facilitariam o trabalho com a criancßa com esse
para assimilar os conte udos por falta de atencß~ao e por transtorno.
n~ao conseguir ler textos longos, apresentava tambem difi-
culdade para realizar atividades de matematica que Para a famılia, foram dadas orientacß~oes sobre como lidar
exigisse tempo e atencß~ao. com a pessoa com TDAH como: gravar aulas e conte udos
dados em sala de aula, procurar conversar sempre com a
Diante das demandas apresentadas pela criancßa foram criancßa sobre como esta se sentindo; reforcßar o que ha de
estabelecidas sess~oes de atendimento semanais com 50 melhor na criancßa; estabelecer regras e limites dentro de
minutos de duracß~ao, com a realizacß~ao da avaliacß~ao, da casa; utilizar linguagem clara e direta, de prefer^encia
intervencß~ao e acompanhamento da mesma. falando de frente e olhando nos olhos; n~ao exigir mais do
que a criancßa pode dar, considerando suas possibilidades;
No primeiro ano de sess~ oes psicopedag ogicas L.S.V n~ao sobrecarregar a criancßa com excesso de atividades
apresentou timidez, desatencß~ao, insegurancßa e dificuldade extracurriculares; ter contato proximo com os professores
em acompanhar as atividades da escola. para acompanhar melhor o que esta acontecendo na
escola; todas as tarefas t^em que ser subdivididas em tare-
Em casa, a m~ae relatava que a criancßa estava sempre fas menores que possam ser realizadas mais facilmente e
desatenta, com dificuldade para estudar, fazer as ativi- em menor tempo; dividir o caderno das materias com
dades. Ficava sempre distraıda, com dificuldade de man- adesivos coloridos para facilitar o manuseio do mesmo;
ter atencß~ao. dar instrucß~oes diretas e claras, uma de cada vez, em um
nıvel que a criancßa possa corresponder; ensinar a criancßa
Nas sess~ ogicas a criancßa relatava fatos cur-
oes psicopedag a n~ao interromper as suas atividades: tentar finalizar tudo
tos, quando questionado, sem a preocupacß~ao temporal; aquilo que comecßa; estabelecer uma rotina diaria clara e
demonstrava preocupacß~ao com o que falava; sua fala era consistente: hora de almocßo, de jantar e dever de casa,
baixa demonstrando timidez e possuıa repert orio verbal por exemplo; colocar no quarto e em outros ambientes da
empobrecido; parecia n~ao entender quando lhe era diri- casa informacß~oes sobre a rotina da criancßa; deixar o
gida a palavra, demonstrando distracß~ao; mostrava insegu- ambiente do quarto organizado.
rancßa emocional diante da execucß~ao das atividades;
possuıa dificuldades de compreens~ao de texto longos; Foram dadas orientacß~oes para a escola com sugest~ oes
apresentava dificuldades na resolucß~ao de calculos importantes para facilitar a aprendizagem da criancßa,
matematicos, necessitando utilizar as m~aos ou objetos foram elas: posicionar a criancßa na frente da sala, trans-
concretos para auxiliar no desenvolvimento das ativi- formar textos longos em textos mais curtos sem perder a
dades; possuıa dificuldade na organizacß~ao espacßo-tempo- ess^encia do que se quer trabalhar, sempre lembrar a rotina
ral; dispersava com facilidade; precisava de muito tempo da sala, solicitar que o aluno registre as atividades e
para ler e entender textos longos; realizava atividades assuntos dados em sala, colocar como lembrete na agenda
simples, com textos curtos. as atividades de casa e n~ao deixar o aluno perto da janela
e porta para n~ao se distrair.
Na primeira escola acompanhada foi identificado o desin-
teresse da perman^encia do estudante, por parte do corpo Durante os quatro anos de atendimento, uma parceria foi
docente e da direcß~ao, mesmo com varias intervencß~oes e estabelecida entre a famılia, a escola, a psicopedagoga e

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os outros profissionais que atendiam a criancßa: fonoau-


di
ologo, neurologista e psic
ologo. Address for correspondence
Patricia de Carvalho Melo Silva
O maior entrave para o tratamento e acompanhamento Email: patypedagoga@yahoo.com.br
dos especialistas, principalmente a psicopedagoga, foi a
superprotecß~ao da genitora que muitas vezes impossibili-
tava a criancßa de realizar suas atividades e desenvolver
sua independ^encia. ^
REFERENCIAS
Ap os quatro anos de atendimento na clınica, orientacß~oes Barkley, Russell A. Transtorno de Deficit de Atencß~ ao/
a famılia, acompanhamento e orientacß~ oes a escola e Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2008.
parceria com os demais especialistas, percebeu-se um Mattos, P. No mundo da lua: perguntas e respostas sobre
avancßo significativo no desenvolvimento global da transtorno do deficit de atencß~ao com hiperatividade
criancßa, pois a mesma ja consegue estabelecer uma rotina em criancßas, adolescentes e adultos. Brasil- Revisada
diaria, executando as atividades de casa com mais e atualizada, 2013.
atencß~ao, demonstra bom rendimento nas avaliacß~oes esco- DSM-IV, Organizacß~ao Mundial de Saude. Classificacß~ao e
lares, consegue atraves de textos curtos e aulas gravadas transtorno mentais e de Comportamento da CID-10,
em audio, assimilar com mais facilidade o conteudo esco- Descricß~ao clinicas e diretrizes diagnosticas, Porto
lar e esta interagindo melhor com as pessoas, estabe- Alegre Editora Artes Medica, 1993.
lecendo uma conversa mais coerente. Pavan, Ruth. Revista Lusofona de Educacß~ao, 2010, 15,
pp. 125–135.
Atualmente a criancßa esta no primeiro ano do segundo Organizacß~ao Mundial de Saude (OMS). CID – 10.
grau e ja pensa em fazer um curso profissionalizante, foi Classificacß~ao estatıstica internacional de doencßas e
sugerida a perman^encia no atendimento com a equipe problemas relacionados a saude. 9 Ed. ver. S~ao
multidisciplinar. Paulo: EDUSP, 2013.

Conflict of Interest
N~ao ha conflito de interesses.

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