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SERAFIM - ASSESSORIA & CONSULTORIA JURÍDICA

MARCELO SERAFIM DE SOUZA - OAB/ES 18.472

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA


SERRA/ES

Bem-aventurados os que
observam a justiça...
(Salmos 106:3)

PROCESSO Nº. 0016648-53.2016.8.08.0048


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO
ACUSADO: VALDINEI BATISTA VIEIRA

Alegações Finais

Rua José Alexandre Buaiz, nº 300 Vitória/ES (27) 99778-6930 / 3224-4950


Salas 1215/1216, Ed. Work Center Enseada do Suá marceloserafim.adv@gmail.com
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MM. JUIZ,
O acusado acima epigrafado, devidamente qualificado nos autos em
comento, por seu advogado signatário, vem com devido respeito e acatamento perante Vossa
Excelência, apresentar em tempo hábil suas Alegações Finais, aduzindo em síntese o seguinte:

BREVE RELATO DOS FATOS


O Ilustre Representante do Ministério Público ofereceu denúncia em
desfavor do ora acusado, argumentando que a mesma teria infringido o artigo 121, § 2º, incisos
I e IV, e artigo 121, § 2º, incisos I e IV, c/c artigo 14, inciso II, (4x), na forma do artigo 70, 2ª parte,
todos do Código Penal Pátrio, por “supostamente” desferir disparos de arma de fogo contra as
vítimas dos autos, em via pública, sito a Rua Turmalina, nº 0, próximo a Distribuidora Ladeiras,
do Bairro José de Anchieta, nesta mm. Comarca, no dia 31 de julho de 2016, por volta das 20:00h.

Ocorreu normalmente a audiência de instrução e julgamento, fora


realizada as Alegações Finais pelo douto representante do Ministério Público, às fls. 351/5 dos
autos epigrafados, pugnando que seja o réu PRONUNCIADO, por “suposta” infração ao artigo
121, § 2º, incisos I e IV (em relação à vítima Alex Nascimento Soares), e artigo 121, § 2º, incisos
I e IV, c/c artigo 14, inciso II, (4x), na forma do artigo 70, 2ª parte (em relação às vítimas Gleiciane,
Cleibe, Bruno e Erick), todos do Código Penal Pátrio.

MM. Juiz estes são os fatos e esta é a conduta apontada como


criminosa pelo douto Representante do Ministério Público.

DO DIREITO
Conforme dito acima, o Ilustre Promotor, em suas respeitáveis
Alegações Finais, pugna para que seja o acusado condenado nos moldes da denúncia.

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Perdoe-nos Excelência, mas não nos podemos furtar, por obrigação


de nossa consciência, pelo respeito à vida e à dignidade do ser humano, pela nobreza que deve
reger o julgamento do caso em questão, de dizer que há um sério erro em tudo isso.

Parece-nos, que a Autoridade policial obrou com certa falta de zelo,


talvez tenha optado por uma linha mais cômoda de investigação, ou, mais óbvia aos olhos da
sociedade, não se dignando a apurar quem de fato contribuiu/participou para/o crime dos
autos.

Cumpre então ressaltar que, os REAIS FATOS se passaram de forma


díspar a descrita na exordial, senão, vejamos:

DO AGOURENTO, NEFASTO, FUNESTO, CONTRADITÓRIO,


INFAUSTO, OMINOSO E DANOSO DEPOIMENTO DAS TESTEMUNHAS DOS AUTOS.

DEPOIMENTO “IRMÃO DA VÍTIMA ALEX” ORLANDO NASCIMENTO


SOARES, FLS. 38/9
Que o declarante olhou e viu um indivíduo efetuando disparos...
...Que ouviu comentários de populares do bairro que os autores
retiraram as toucas ninjas logo após o crime e que os autores seriam DINEI e LEIDINALDO, mas
o declarante não pode afirmar com certeza porque o declarante não viu os rostos dos autores.
(sem grifos no original)

DEPOIMENTO “TESTEMUNHA SIGILOSA” FLS. 41


Que o declarante informa que soube por populares logo depois do
crime, que o atirador, era uma pessoa conhecida como “DINEI”, pois soube que ele, logo em
seguida ao crime, retirou o capuz e foi reconhecido por vários populares...

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DEPOIMENTO “TESTEMUNHA SIGILOSA” FLS. 42/3


Que o autor dos disparos era DINEI... Que o declarante informa que o
atirador estava utilizando capuz, mas, com uma fresta, bem aberta
onde estava descoberto, os olhos e o nariz... deu até pra ver o
cavanhaque que ele costuma usar...

DEPOIMENTO “LUZINETE VIEIRA” FLS. 91


Que ouviu dizer que DINEI, foi quem efetuou os tiros...

DEPOIMENTO “VÍTIMA CLEIBE VIEIRA DOS SANTOS” FLS. 102/3


Que no outro dia, vários populares, disseram que o autor do crime foi
a pessoa de DINEI...

DEPOIMENTO “MIQUÉIAS MENDES DE JESUS MIRANDA” FLS. 146/7


...que ouviu comentários de populares, e pelos noticiários de TV, que
o autor do crime foi VALDINEI; Que ouviu dizer que o próprio informante, estava envolvido
nesse crime...

Com a referida análise, observando que para elucidar uma ação


penal é necessário indícios de autoria e materialidade devidamente comprovados, é nítido o
emaranhado de indicação do nome do denunciado, sem qualquer arcabouço probatório que o
sustente.

Sendo assim, ao contrário da materialidade que restou comprovada


por meio de Laudo de Exame Cadavérico, a autoria se diverge e muito se acompanhada pelos
depoimentos com base no “eu ouvi dizer”, que, insta frisar, é de assaz sabença, são provas de

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cunho duvidoso que podem interferir em até condenar pessoa que não teve participação com o
fato típico.

DA AUSÊNCIA DE PROVAS
Ora, bem como se pode averiguar, a presente ação penal trata-se de
apuração de crime descrito no artigo 121, § 2º, incisos I e IV do Código Penal Brasileiro. Sendo
que, conforme afirmado alhures, a suposta participação do denunciado na prática delituosa lhe
imputada, encontra-se supedaneada no “eu ouvi dizer”.

Ora, Exa., estamos diante de um cristalino “ACHISMO”, que conforme


afirmado alhures, tem sido pacificamente rechaçado nos julgados de nossos Tribunais.

Nesta toada, vislumbra-se que não há indícios plausíveis em desfavor


do denunciado. Sobreleva-se importante mencionar que, o direito penal brasileiro adota o
princípio do “in dúbio pro reo”, ou seja, na dúvida, interpreta-se a favor do acusado, pois a
garantia de liberdade deve prevalecer sobre a pretensão punitiva do Estado. Tal princípio é
visível no art. 386, VII, do Código Penal:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a
causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
(...)
VII – não existir prova suficiente para a
condenação.

Cumpre ressaltar que, conforme alhures afirmado, não há nos autos,


subsídios ou respaldo fático e probatório suficientes, para se afirmar com absoluta certeza (que
o direito penal, enquanto ciência jurídica, requer), a participação dolosa do denunciado nos
fatos encartados no IP 372/16, nem tampouco na denúncia ministerial.

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O que deságua indubitavelmente na absolvição do denunciado, como


ora se requer.

Vale aqui ressaltar que não se pode condenar alguém por um crime
que NÃO cometeu usando como prova definitiva as palavras dos policiais que fizeram à prisão,
e supostas conjecturas e ilações fantasiosas, trazidas por testemunhas sem crédito algum,
constantes do Caderno Processual.

Não podemos nos deixar levar pela linha de investigação mais


cômoda ou mais fácil, e sim pela correta e justa, pois não podemos deixar que uma pessoa seja
condenada pelo simples fato de apenas ilações levianas e infundadas constantes em alguns
depoimentos dos autos, conforme afirmado alhures.

Sobre propalado tema (prova testemunhal) assim tem se posicionado


o Tribunal de Justiça Mineiro:
APELAÇÃO - LEI Nº 9.437/97 - PROVA TESTEMUNHAL NÃO RATIFICADA
EM JUÍZO - AUTORIA NÃO COMPROVADA. É indispensável a
comprovação da autoria de infração criminal para a condenação na
esfera penal. A palavra do vendedor de arma de fogo, perante a
autoridade policial não ratificada em Juízo e sem nenhuma outra prova,
ainda que indiciária, não pode prevalecer diante da negativa
peremptória do apontado adquirente; para que se considere a
ocorrência de crime e a consequente condenação. Apelação a que se dá
provimento. Súmula: "Rejeitaram preliminar e deram provimento1."

1
TJMG. Processo: 2.0000.00.326349-8/000(1) Des. Rel. TIBAGY SALLES. Data do acordão: 10/04/2001. Data da publicação:
12/05/2001
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Excelência é cristalino nos autos que o ora acusado nada tem a ver
com a suposta empreitada criminosa que lhe imputam nos Autos da presente Ação Penal.

AD ARGUMENTANDUM TANCTUN
Em que pese as Jurisprudências em tela tratarem de falta de provas e
indícios de autoria para a condenação e não para a absolvição sumária no Juízo Sumariante,
veja-se que se não há indícios de autoria (requisito exigido para a pronúncia) não se pode
condenar, nem tampouco pronunciar alguém, ainda que com supedâneo no capenga princípio
da in dúbio pro societate.

Encontra-se, portanto, ausente a prova testemunhal capaz de


fundamentar uma sentença condenatória contra o acusado, haja vista que não há definição
testemunhal que aponte qual a autoria da conduta praticada, não havendo que se falar em
suposição ou presunção de participação de prática delituosa.

Assim, são requisitos da Pronúncia, os indícios da autoria e a


existência do crime doloso contra a vida, consoante o Artigo 413 do Código de Processo Penal.

A impronúncia, por outro lado, está prevista no atual art. 414 do


Código de Processo Penal, que assim determina:
"Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência
de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz,
fundamentadamente, impronunciará o acusado".

No caso sub judice, a autoria do delito contra o acusado não está


patente. Aliás, é de bom alvitre mencionar que, em nosso sistema acusatório vigora o princípio

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expresso na máxima latina Actori incumbit probatio, o qual traduz o encargo de provar o fato
aquele que o alegou.

Neste sentido, leciona o Mestre Fernando Costa Tourinho:


Se o Promotor denuncia B por haver praticado lesão corporal em L,
cumpre ao órgão da acusação carrear para os autos os elementos
de prova necessários para convencer o julgador de que B produziu lesão
corporal em L2.

A propósito, cumpre trazer a lume a lição do insigne Professor Júlio


Mirabete:
No Processo Penal condenatório, oferecida a denúncia ou queixa cabe ao
acusador a prova do fato típico (incluindo dolo e culpa) e da autoria, bem
como das circunstâncias que causam o aumento da pena3.

Com efeito, é de se reconhecer que o conjunto probatório colhido não


autoriza a pronúncia do acusado, haja vista não haver provas ou indícios suficientes de sua
autoria no crime.

Aliás, é evidente a estratégia do Órgão Acusatório à


um preço altíssimo para a defesa, mesmo sob pena de se violar as garantias da ampla defesa e
do contraditório, quando insiste em inserir na cena do crime dos autos, o acusado como
partícipe deste, quando os fatos ocorridos naquele dia, conforme fartamente acimas exposto, e
constam dos autos, se deram de forma diversa da capitaneada na Denúncia Ministerial.

2
TOURINHO, Fernando Costa. Processo Penal. Vol. III, Pág. 236.
3
MIRABETE, Júlio. Código de Processo Penal Interpretado. 10ª Ed. pág. 475
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Neste sentido, a importante lição de Nucci sobre o desvio de


finalidade do inquérito policial no Júri:
Na realidade, o inquérito deveria ser uma garantia ao acusado de que não
será processado sem haver elementos mínimos para tanto, devidamente
demonstrados pelas provas coletadas. Atualmente, entretanto, sofreu um
abalo na sua finalidade precípua. Tornou-se um instrumento que, apesar
de formar um conjunto probatório pré-processual, sustentáculo da
denúncia ou da queixa, também tem oferecido ao Órgão Acusatório,
principalmente, elementos produzidos fora do contexto das garantias da
ampla defesa e do contraditório, a serem utilizados, em juízo. Este tem
sido o seu desvio de finalidade4.

DOS PEDIDOS
Pelo exposto, pede-se e requer-se

1. Ante todos os itens compendiados ao longo da presente, que o ora denunciado, seja
IMPRONUNCIADO da acusação que lhe é atribuída na peça vestibular acusatória, por
todo o supra exposto, bem como por se apresentar como medida de salutar justiça.

2. A ABSOLVIÇÃO sumária do denunciado com supedâneo no artigo 397, IV c/c art. 386, VII
ambos do Código de Processo Penal das acusações que lhe foram imputadas, por
ausência de prova suficiente para condenação. Devendo o denunciado ser colocado
imediatamente em liberdade.

3. Em não sendo este o douto entendimento de V. Exa., porém, se acaso ainda restarem
dúvidas a este juízo, que se valha do instituto do IN DÚBIO PRO RÉU, para que o

4
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008, p. 54
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denunciado seja posto em liberdade. Sendo assim, em liberdade possa este aguardar a
douta decisão final a ser dada por este mm. Juízo, ou ao final pelo nobre Conselho de
Jurados, no caso de o denunciado vir a ser pronunciado, o que esta defesa não acredita.

4. Por fim, ainda na hipótese de condenação, possibilidade na qual, frise-se, não crê a
defesa, requer que seja deferido ao réu o direito de recorrer em liberdade.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Vitória/ ES, 11 de janeiro de 2018.

__________________________
MARCELO SERAFIM DE SOUZA
ADVOGADO - OAB/ES 18.472

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