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REAL DO BALÃO DE AR
QUENTE
Texto Produzido por:
(À frente dos espectadores estão sentados D. João V, D. Maria Ana de Áustria e o Cardeal Conti. De
pé, ao lado da rainha está D. Teresa de Bourbon. Do público entra Diogo de Mendonça Corte Real e
anuncia Bartolomeu Gusmão)
Diogo – Eu diria a Vossa Majestade que nada tendes a perder em ouvi-lo para além
do vosso precioso tempo.
(entra Bartolomeu Gusmão com pergaminhos debaixo dos braços. Faz uma vénia ao Rei)
D. João V – Estás a ouvir isto Diogo? Ah ah ah Que pensa disto Vossa Eminência?
Cardeal Conti – Que nunca com tanta ousadia alguma vez um Homem desafiou as
Leis que Deus impôs.
Diogo – Não querendo de forma alguma ousar contra a vontade de Vossa Majestade,
recordo-lhe que nada terá a perder em ouvir o que Bartolomeu lhe deseja
apresentar…
Bartolomeu – Todos vão reconhecer o sucesso e poderei fazer aparelhos maiores, mais
perfeitos, para transportar pessoas e cargas.
Bartolomeu – Pois bem! O instrumento que aqui vos apresento baseia-se no princípio simples
de que o ar quente se eleva no espaço, sobrepondo-se ao ar frio – teoria minha, baseada no
princípio de Arquimedes.
Bartolomeu – Certo dia, perante uma fogueira, observei que algumas cascas de fruta se
elevavam acima das chamas.
Cardeal Conti – Por Deus, Majestade, o que este homem diz nunca foi ainda observado na
natureza do Criador.
Diogo – Bem! Deveríeis dar mais crédito a Bartolomeu. Segundo consta na corte, o padre
João Baptista escreveu certa vez que a este homem bastava abrir um livro de folha que ele nunca
tinha lido. Punha-se a ler duas ou quatro páginas uma só vez e as tornava a repetir fielmente.
D. Maria Ana de Áustria – Peço a sua compreensão Cardeal Conti, Sua Majestade ordenou
que Bartolomeu prosseguisse.
A retenção de ar quente num balão permite não só que o próprio ar se eleve mas também a
subida de peso adjacente.
Cardeal Conti – Mas é nesse pequeno balão que imagina transportar gente, munições, e
víveres e ainda assim descobrir as regiões vizinhas dos pólos do mundo, percorrendo 200 ou
mais léguas por dia?
(Risada Geral)
Bartolomeu – Como deve calcular, Eminência, trata-se apenas de uma experiencia, poderei
fazer aparelhos maiores e mais perfeitos e desta forma sim, fazer do aeróstato o instrumento
de ar que sonhei.
(Procede-se á demonstração e quando o balão se eleva gera-se um burburinho e espanto geral. O rei
aplaude e seguem-se os restantes á excepção do Cardeal que mostra desagrado)
Bartolomeu – Como vedes majestade, com o aperfeiçoamento deste aeróstato poderei trazer
ao reino um instrumento que muito lhe será útil, mas para conseguir tal intento venho pedir
a V. Majestade que me conceda o privilegio de que nenhuma pessoa neste reino possa usar
o meu invento.
D. João V – (dirigindo-se a Diogo) Meu caro Diogo Corte Real, faça redigir este privilégio.
Cardeal Conti – Criou o Senhor Deus os pássaros para voar, não os homens. Com estes
inventos demoníacos veremos que lugar lhe reserva a Santa Igreja.
D. Teresa de Bourbon – Como já se vem a provar, nem só pelas leis de Deus se rege o mundo.
O próprio mundo seria ainda hoje desconhecido não fora o sonho, a bravura e a ciência dos
nossos avós.
D. Maria Ana de Áustria – (dirigindo-se ao Cardeal Conti) A D. Teresa de Bourbon tem toda a
razão. Permita-me recordar-lhe Eminência, que foi o sonho, a bravura e a ciência dos nossos
avós que permitiu fazer chegar a doutrina da Santa Igreja aos novos mundos do mundo. O
próprio Bartolomeu, nascido em terras de Vera Cruz só é hoje Padre da Santa Igreja porque
a verdadeira doutrina lhe chegou na proa das caravelas da Armada de Cabral.
Diogo – “Lisboa, 19 de Abril de 1709: “Eu El-Rei, faço saber que o P. Bartolomeu
Lourenço me representou por sua petição, que ele tinha descoberto um instrumento
para se andar pelo ar, da mesma sorte que pela terra e pelo mar mas com muito mais
brevidade, fazendo-se muitas vezes duzentas e mais léguas de caminho por dia; no
qual instrumento se poderiam levar os avisos de mais importância aos exércitos e a
terras mui remotas... Saber-se-hão as verdadeiras longitudes de todo mundo, que por
estarem erradas nos mapas causavam muitos naufrágios.
E visto o que alegou, hei por bem fazer-lhe mercê ao suplicante de lhe conceder o
privilegio de que pondo por obra o invento de que trata, nenhuma pessoa, de qualidade que
for, possa usar dele em nenhum tempo neste reino e suas conquistas, com qualquer pretexto,
sem licença do suplicante ou de seus herdeiros, sob pena de perdimento de todos os seus bens
ametade para ele suplicante, e a outra ametade para quem os acusar: e só o suplicante poderá
usar do dito invento, como pede na sua petição”.