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DIREITO CIVIL – Direito das Coisas – Introdução Síntese 01

Prof. André Mendes

SINTESE DA MATÉRIA

 “Quem sabe o que é o Direito sabe o que tem que resolver em cada questão jurídica”
 “Não lhe basta (ao direito) uma pretensão normativa, é preciso que se lhe dê uma efetividade
social” (Rudolf von Ihering)
 “Quem se contenta em ler lei é um louco, um criminoso que o código esqueceu de enquadrar.”
(Pontes de Miranda)
Para lembrar:
DIREITO CIVIL
Etimologicamente, Direito Civil vem do latim cives (cidadão) e se dirige à regulamentação das relações
sociais travadas entre as pessoas, desde o nascimento (e mesmo antes dele, especialmente na atualidade, por
conta das descobertas científicas e do avanço da tecnologia) até à morte (e, inclusive depois dela).
 Direito Civil é o direito comum, que rege as relações entre os particulares. É o Direito da vida do homem.
Desde atos simples e banais, como dar esmola, até situações jurídicas mais complexas, como o casamento ou
a compra e venda de um imóvel, o Direito Civil está presente. Não se limita ao que consta do Código Civil,
mas abrange toda a legislação civil e regula direitos e obrigações na ordem privada, inclusive a Constituição
Federal.
O princípio constitucional da solidariedade e a função social da propriedade
 Quando o preâmbulo da Constituição Federal ostenta a efetivação de valores de uma “sociedade
pluralista, fraterna e sem preconceitos” não dirige a sua supremacia apenas para os obstáculos
criados pelo Estado a uma vida solidária, mas também à sociedade, que não raramente atua de forma
opressiva, aniquilando o direito de pessoas a uma existência digna. Portanto o princípio da
solidariedade atuará em diversos campos, dentre os quais na função social da propriedade (art.
1.228, §§ 1º e 2º, CC), tendo sempre como norte a dignidade da pessoa humana, princípio
fundamental da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CF).
Nesse contexto, compreender a propriedade a partir da legalidade constitucional, especialmente da
regra dos art. 5º e 170 da CF, significa afirmar a existência de novo conteúdo, forjado na função
social. Ou seja, só é possível existir propriedade privada se atendida a função social. Assim, a
função social não é apenas um limite do direito de propriedade, mas integra o próprio conteúdo desse
direito.
 Contraponto: De outro lado, em um Estado que se pretenda republicano, cumpre à doutrina
civilista a função de resistir ao apelo simplista da demonização do capital e da propriedade e da
canonização da miséria como virtude. Incumbe ao civilista esclarecer que o contrato e a
propriedade particular se referem à essência da democracia: a intangibilidade da liberdade
individual e do exercício do âmbito de autodeterminação, a todos indistintamente assegurada pelo
princípio da dignidade da pessoa humana. Ao contrário do privilégio, a propriedade privada não é
uma afronta à solidariedade. A exclusão social vivenciada no Brasil não resulta da existência da
propriedade, mas da insuficiência e da fragilidade das instituições que guarneçam com rigor as
titularidades vigentes e sejam capazes de estender a condição de proprietários àqueles que estão
atavicamente alheios à segurança jurídica promovida pelo sistema de titularidades.
#Para pensar:
A via da institucionalização de uma sociedade de proprietários é um dos caminhos mais nobres de
tutela à dignidade da pessoa humana, afinal, o indivíduo será edificado em sua autonomia como
cidadão e não como vassalo de um Estado assistencialista.
DIREITO CIVIL – Direito das Coisas – Introdução Síntese 01
Prof. André Mendes

 DIREITO DAS COISAS (Livro III


 Posse
 Direitos de vizinhança
 Direitos reais
 Propriedade
 Direitos reais sobre coisas alheias
 Direitos reais de garantia
 Direitos reais de fruição
Conceito de direito das coisas
O direito das coisas regula o poder do homem sobre certos bens suscetíveis de valor e os modos de
sua utilização econômica.
- O direito das coisas não pode ser compreendido como sinônimo de direitos reais, já que, além de
abranger os direitos reais propriamente ditos, contém capítulos destinados ao estudo da posse (que
tem natureza jurídica controversa) e dos direitos de vizinhaça (classificados como espécie de
obrigação propter rem ou mista ou ambulatória)

O que são os direitos reais?


 Nas Ordenações Filipinas já existia a expressão direitos reais e se referia aos direitos,
faculdades e possessões pertencentes ao summo imperante. Real tinha o sentido dicionarizado
de relativo ao rei ou realeza.
 Já no ordenamento jurídico brasileiro, direito real nunca se definiu pela titularidade. No nosso
ordenamento, o vocábulo real deriva de res, rei, que significa coisa.
 Pela concepção clássica, o direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular
sobre a coisa, com exclusividade e contra todos (erga omnes).

 Normalmente a doutrina identifica os elementos dos direitos reais comparando-os com


os direitos obrigacionais.

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES X DIREITO DAS COISAS

O Direito pode ser dividido em dois grandes ramos: o ramo dos DIREITOS NÃO
PATRIMONIAIS (que tratam dos direitos da personalidade, direito à vida, à liberdade, à honra, etc.) e o
ramo dos DIREITOS PATRIMONIAIS (que tratam dos direitos que envolvem valores econômicos).
Por sua vez, o ramo dos direitos patrimoniais pode ser dividido em DIREITO DAS
OBRIGAÇÕES e DIREITO DAS COISAS. Todavia, apesar de integrarem o mesmo ramo, o direito das
obrigações e o direito das coisas não podem ser confundidos, porque o primeiro trata de DIREITOS
PESSOAIS e o segundo trata dos DIREITOS REAIS. As relações de direito real caracterizam-se pelo
verbo TER (poder sobre bens).
DIREITO PESSOAL é o direito do credor contra o devedor, tendo por objeto uma determinada
prestação. Forma-se uma relação de crédito e débito entre as pessoas. São chamados de direitos
relativos. As relações de direito pessoal caracterizam-se pelo verbo AGIR (demandar
comportamentos alheios). Jus ad rem (direito a uma coisa)
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DIREITO REAL é o poder direto e imediato do titular sobre a coisa, com exclusividade e
contra todos. Cria um vínculo entre a pessoa e a coisa (direito de propriedade), e este vínculo dá ao
titular uma exclusividade em relação ao bem (erga omnes = oponível contra todos). São chamados
de direitos absolutos. Jus in re (direito à coisa).

 Há, ainda, outras diferenças entre os Direitos Pessoais e os Direitos Reais:


a) Quanto à formação
 Direitos Reais: têm origem na Lei, não podem ser criados em um contrato entre duas
pessoas, por este motivo, são limitados. Seguem o princípio do numerus clausus (número
limitado), rol taxativo.
 Direitos Pessoais: não resultam da Lei, nascem de contratos entre pessoas. Há 16
contratos nominados pela lei, entretanto, é possível a criação de contratos inominados,
bastando que as partes sejam capazes e o objeto seja lícito para exsurgir um direito
pessoal. Segue o princípio do numerus apertus (número aberto)
b) Quanto ao objeto
 Direito das Coisas: o objeto é sempre um bem corpóreo. A coisa responde (direito de
sequela)
 Direito Pessoal: o objeto é a prestação. Sempre que duas pessoas celebram um contrato
uma delas torna-se devedora de uma obrigação em relação à credora. Os bens do devedor
respondem (princípio da responsabilidade patrimonial.
c) Quanto aos sujeitos
 Direito Pessoal: os sujeitos são o credor e o devedor (sujeito ativo e sujeito passivo).
Efeitos inter partes.
 Direitos Reais: costuma-se dizer que o Direito Real somente possui o sujeito ativo visto
que este é ligado à coisa (de um lado o titular e do outro lado a coisa). A explicação,
entretanto, é didática. Nos direitos reais, em princípio, o sujeito passivo é indeterminado
porque todas as pessoas do universo devem abster-se de molestar o titular (são direitos
oponíveis erga omnes). No instante que alguém violar o direito do titular o sujeito passivo
se define.
d) Quanto à duração
 Direitos Pessoais: são transitórios, visto que nascem, duram um certo tempo e se
extinguem (pelo cumprimento, pela compensação, pela prescrição, pela novação etc.).
Instituto típico = contrato
 Direitos Reais: são perpétuos, significa dizer que não se extinguem pelo não uso,
entretanto, extinguem-se pelas causas expressas em lei (p.ex.: desapropriação, usucapião
em favor de terceiros, perecimento da coisa, renúncia etc.). Caráter permanente. Instituto
típico = propriedade
OBS.: Quanto à prescrição
Os antigos prazos de 20 anos para ações pessoais e de 15 anos para ações reais, com o
advento do Novo Código Civil, ficaram adstritos ao máximo de 10 anos.
O Prazo máximo de prescrição, tanto de direito pessoal como de direito real é de 10 anos,
salvo se a lei estipular prazo menor (art. 205)
A ação que protege os direitos pessoais é chamada de “Ação Pessoal”
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As ações reais são as que protegem os direitos reais.

Assim, os direitos reais têm os seguintes princípios/características:


a) Absolutismo
b) Sequela / aderência
c) Preferência
d) Taxatividade
e) Publicidade / visibilidade
f) Tipicidade
g) Perpetuidade
h) Exclusividade

Figuras Hibridas ou intermediárias


Entre um direito real e um obrigacional existe uma grande variedade de figuras hibridas.
Por exemplo: A lei diz que, se dois prédios são vizinhos, ambos os proprietários tem obrigação de
concorrer para construção do muro comum.
- Questão: trata-se de direito real ou de uma obrigação?
 Obrigação propter rem = em razão/consequência da coisa. Elas seguem a coisa. Recaem sobre
uma pessoa por força de determinado direito real. São também chamadas de obrigações ambulatórias
= ex.: as obrigações decorrentes do direito de vizinhança;
 Ônus reais = São obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo gravames ou
direitos oponíveis erga omnes = renda constituída sobre imóveis (arts. 803 a 813, CC);
 Obrigações com eficácia real = são as que, sem perder seu caráter de pessoal, transmitem-se e são
oponíveis a terceiro que adquira direito sobre a coisa. ex.: direito decorrente do registro do contrato
de locação (art. 576, CC).

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