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ARTIGO ARTICLE
O trabalho em serviços de saúde mental no contexto
da reforma psiquiátrica: um desafio técnico, político e ético

Working in mental health services in the context of Brazilian


psychiatric reform: a technical, political and ethical challenge

José Jackson Coelho Sampaio1


José Maria Ximenes Guimarães1
Cleide Carneiro2
Carlos Garcia Filho1

Abstract This paper deals with mental health Resumo O presente artigo aborda o trabalho em
taken within the context of Brazilian Psychiat- saúde mental, situando-o no contexto da Refor-
ric Reform and profiling the transformations in ma Psiquiátrica, demarcando as transformações
the organization of work processes. This has oc- ocorridas na organização dos processos de traba-
curred as a result of the advances with respect to lho, em decorrência dos avanços referentes à im-
the implementation of the services that replaced plantação dos serviços substitutivos ao modelo
the classic psychiatric model and the reconfigu- psiquiátrico clássico e à reconfiguração do objeto
ration of the scope of intervention and practices. de intervenção e das práticas. Nesta perspectiva,
From this standpoint, the paper seeks to pinpoint busca-se evidenciar as contradições e problemas
the contradictions and problems related to this desse processo e seu impacto na organização dos
process and its impact on the organization of work processos de trabalhos, na gestão dos serviços e na
processes on the management of services and on saúde do trabalhador. Por fim, apontam-se estra-
worker health. Lastly, strategies are prepared for tégias de enfretamento da problemática evidencia-
the purpose of tackling the problem, chief among da, entre as quais destacam-se: a ressignificação
which are the following: the redefinition of spac- dos espaços, das práticas e das relações entre os
es, practices, and the relationships among the dif- diferentes sujeitos – gestores, trabalhadores e usuá-
ferent actors, namely managers, workers, and us- rios; adoção de mecanismos de cogestão; e, super-
ers; the adoption of co-management mechanisms; visão clínico-institucional.
and clinical-institutional supervision. Palavras-chave Saúde mental, Reforma dos ser-
Keywords Mental health, Healthcare reform, viços de saúde, Serviços de saúde mental, Gestão
Mental health services, Health personnel man- de pessoal em saúde
1
Grupo de Pesquisa Vida e agement
Trabalho, Centro de
Ciências da Saúde,
Universidade Estadual do
Ceará (UECE). Av.
Paranjana 1.700, Itaperi.
60740-000 Fortaleza CE.
sampaiojackson@gmail.com
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Laboratório de
Humanização da Atenção e
da Gestão em Saúde,
Universidade Estadual do
Ceará (LHUAS, UECE)
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Sampaio JJC et al.

Introdução der a duvidar com competência e a respeitar sa-


beres diversos; b) Vantagens teóricas, por meio
A investigação acadêmica sobre o trabalho em da formulação e aplicação de novas soluções,
saúde mental, concebido hoje na experiência bra- reelaborando conceitos (reabilitação, saúde men-
sileira como psicossocial, territorial, interdiscipli- tal, doença mental, sofrimento psicológico, ati-
nar e constituinte do campo da saúde coletiva, vidade, trabalho, linguagem), funções (ambula-
tem, obviamente, desenvolvimento temporal pou- tório, emergência, hospital, assistência social, mo-
co maior que uma década. Consequentemente dos de expressão, modos de reapropriação) e
têm-se pequena magnitude, certa fragmentação e dispositivos de cuidado (triagem, acolhimento,
um adensamento teórico em construção na área. terapeuta emergente, terapia comunitária, visita
Buscando apoio em elementos desenvolvidos domiciliar, grupo de queixa difusa); e c) Vanta-
pelas propostas psicoterapêuticas de dinâmica de gens organizacionais por meio do equacionamen-
grupo e pelo método dialético, percebe-se que o to cuidadoso de tamanho, composição e aper-
psicossocial é imposição da natureza do objeto- feiçoamento da equipe, estrutura de funciona-
problema, o processo saúde/doença, e em recor- mento e processo de trabalho.
te mais específico, o processo saúde/doença men- O trabalho em equipe, em saúde mental, no
tal. A dimensão territorial é consequência da serviço público, diante da demanda da popula-
magnitude e da diversidade dos espaços de atua- ção, exige atitudes para o enfrentamento de pro-
ção, representados por populações portadoras blemática tridimensional: entre os profissionais,
de histórias singulares e de potências contraditó- oriundos de várias formações; entre a equipe e
rias de produção de significados, portanto de os gestores, portadores de tecnologias de gestão
experiências e de formas vivas de expressão des- produzidas em outros processos de trabalho; e,
tas experiências. Observa-se o interdisciplinar entre a equipe e os usuários, estes entendidos não
como consequência da complexidade do conhe- como consumidores ou agraciados, mas como
cimento, que impede cada trabalhador de saber cidadãos. Para tal, são necessárias três ordens de
tudo, mas instrumentaliza as saídas dos impas- atitudes/valores: a) Competência – o desenvol-
ses e das fragmentações por meio de um corpo vimento de habilidades técnicas, relacionais, co-
coletivo de trabalho, isto é, da equipe multipro- municacionais e políticas, para a prática efetiva e
fissional, atuando sob lógica integrada. qualificada da gestão e do cuidado, em campo
Não há garantia de que o trabalho em equi- atravessado de história e subjetividade; b) Hu-
pe, para os objetivos técnicos específicos da clíni- mildade - o reconhecimento de que desvios, ca-
ca psicossocial, seja mais eficaz que o trabalho rências materiais, marginalidades, anormalida-
individual. Porém, tudo leva a crer em pelo me- des, imoralidades e sofrimentos não devem ser
nos três grandes ordens de vantagens: a) Ideoló- reduzidos ao fenômeno doença, portanto não
gica - o trabalho em equipe impede a hegemonia são passíveis de tratamento; c) Democracia - o
de um dos vários saberes que buscam dar conta reconhecimento da necessidade de desburocrati-
do processo saúde/doença mental, portanto a zar e des-hierarquizar, desarmando enviesamen-
prática onipotente e acrítica; b) Teórica - o traba- tos dados pelas relações de poder para uma atu-
lho em equipe expõe as teorias à competição, ação menos competitiva, valorizando os saberes
obrigando-as a aperfeiçoarem seus instrumen- da população, compartilhando responsabilida-
tos, a interconterem-se e a interfertilizarem-se; e, des, inclusive assumindo a transparência na pres-
c) Organizacional - devido à complexidade cres- tação de contas, no estabelecimento de critérios,
cente do conhecimento, não é mais possível, a nas decisões, práticas e resultados.
qualquer trabalhador isolado, dar conta da to- Pode-se otimizar a primeira atitude/valor, a
talidade de um problema, daí a equipe tornar-se competência, pela formação permanente em ser-
imposição histórica, não escolha. viço, enfatizando o domínio das técnicas tera-
Na prática concreta do trabalho no campo pêuticas e o desenvolvimento das habilidades
das políticas públicas de atenção à saúde mental, associadas ao protagonismo e à produção de
derivadas da aplicação das propostas do Movi- grupalidade, construindo saber no serviço. Um
mento Brasileiro de Reforma Psiquiátrica-MBRP, dispositivo estratégico, por exemplo, deve ser a
busca-se otimizar: a) Vantagens ideológicas, por supervisão clínico-institucional, posto na inter-
meio do questionamento frequente das condu- face entre a formação, a grupalidade e o acolhi-
tas baseadas na tradição e na rotina, pois nada mento das demandas afetivas da equipe, por sua
mais ideológico que o senso comum, o espontâ- vez, desafiada pelas contradições interpessoais,
neo, o naturalizado, “o sempre foi assim”, e apren- intercorporativas, interteóricas, sobretudo pelo
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enfrentamento das tensões proporcionadas pe- b) determinações políticas - agem sobre equi-
las demandas dos usuários. pe/clientela e resultam do modo como o Estado
A atitude/valor humildade deve ser expressa se organiza, a favor da lógica econômica domi-
pelo suporte a um acordo e garantia de segurança nante ou de modo compensatório, provocando
para as decisões estabelecidas desde o primeiro alguma redistribuição, impermeável às deman-
contato, disparador de acolhimento às necessi- das sociais ou se deixando mover por elas, equi-
dades e dúvidas do demandante, mas que não librando ou não suas funções de legitimação2;
assume todo sofrimento psicológico como sinto- c) determinações culturais - agem sobre a
ma ou pródromo de doença mental. Neste tópi- equipe e a clientela e resultam do modo como o
co, é necessário enfatizar o desenvolvimento da conhecimento é produzido, é distribuído e sedi-
capacidade de dizer sim - sim ao saber das famí- menta-se na sociedade, armando representações
lias, ao saber das religiões, aos saberes populares, e preconceitos, articulando a diversidade de clas-
e todos partilham da possibilidade da verdade e ses e as absorções/recriações coletivas da ciência,
estruturam a identidade real da nossa população. do senso comum, da filosofia e das religiões3;
A democracia pode ser otimizada pela hori- d) determinações administrativas - o modo
zontalização das hierarquias e pela redução da como as determinações econômicas e políticas
divisão taylorista do trabalho. Entre os mem- agem diretamente sobre a equipe, por meio da
bros da equipe de formação superior reconhece- organização do processo de trabalho. A partir
se a existência de uma importante, porém limita- da consolidação de interesses econômicos e polí-
da especificidade, fora dela, qualquer técnico pode ticos, satisfeitos ou contrariados pela prática da
ser o coordenador do projeto terapêutico de cada equipe, podemos observar tanto diferenciais de
cliente, dependendo da natureza do nível mais recursos materiais e de prestígio disponíveis,
imediato de determinação do caso e do estabele- quanto à natureza mais ou menos protegida dos
cimento de vínculo afetivo. Entre os membros regimes de contratação dos trabalhadores;
da equipe de formação média, admite-se o rodí- e) determinações corporativas e teóricas - o
zio de funções, o treinamento comum e a inclu- modo como as determinações econômicas e cul-
são de todos, do auxiliar de enfermagem ao mo- turais agem diretamente sobre a equipe, por meio
torista, na categoria auxiliar de saúde mental. A da divisão social do trabalho. As formações soci-
prestação de contas se dá por meio do prontuá- ais capitalistas, após o taylorismo/fordismo, en-
rio, lugar de registro de toda a equipe e, como gendram competição dos diferentes grupos de
determina o habeas data constitucional, propri- função em busca da competência técnica objetiva
edade do usuário; da participação de usuários e dos diferenciais de salário e prestígio. Os dife-
nas reuniões da equipe; de representação da equi- renciais de saber tornam-se diferenciais profissio-
pe nas reuniões dos conselhos integrantes dos nais e logo em seguida diferenciais de poder;
dispositivos de controle do poder público pela f) determinações interpessoais - a formação
sociedade; e da produção intelectual tornada histórica dos indivíduos, nas situações de aliena-
pública, em eventos e em periódicos. ção universalizada e sob a égide da mercadoria,
A ação da equipe e de cada um de seus mem- leva à competição de todos com todos, a trans-
bros subordina-se à vasta rede de determina- formação dos indivíduos em valores de troca, ao
ções, hierarquizadas de modo diferente a cada impedimento da solidariedade e do humanismo.
momento histórico-social: Sujeitos-coisa interagem instrumentalmente com
a) determinações econômicas - agem sobre a sujeitos-coisa e todos buscam escapar do mun-
equipe e a população e resultam do modo como do sem coração e refugiarem-se em afetividades
a sociedade promove suas condições de existên- exacerbadas4;
cia, isto é, trabalha, produz e distribui riqueza. g) determinações do objeto - o sujeito que
Aqui temos a questão, por parte do serviço, da cuida e o objeto do cuidado tendem a se espelhar
falta ou abundância de recursos, e, por parte da e a se confundir. Trata-se no outro a ameaça que
clientela, a natureza mais abstrata ou concreta o próprio sujeito vivencia de perda da identida-
das carências. Na ordem econômica capitalista de, de estranhamento entre significantes e signi-
geram-se as lógicas da mercadoria, onde cuida- ficados, de angústia da dissolução e do vazio. Os
dos e carinhos, competências e éticas, tornam-se rituais protetores do hospício e a desqualificação
valores de troca, passíveis de serem representa- do outro como igual a mim constituem táticas
dos por dinheiro, e da alienação, onde as conse- bem mais simples5.
quências podem até serem antagônicas às inten- No campo da saúde mental coletiva, aplican-
ções que produziram os atos1; do a lógica da atenção psicossocial territorial,
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Sampaio JJC et al.

busca-se dar conta desta multiplicidade não car- não houve qualquer iniciativa formal de assis-
tesiana de determinações que se apresentam, na tência. Nestes 283 anos, o lugar do louco era a
maioria das vezes, de forma mascarada, umas rua, a prisão e os movimentos messiânicos.
com a face das outras, em reuniões de equipe, Período II - De 1887 até 1962, quando houve
estudos de caso, supervisão clínico-institucional, a inauguração do Hospital de Saúde Mental de
seminários teóricos e esforço sistemático de pes- Messejana-HSMM, instituição pública, de res-
quisa. No presente estudo, discute-se o trabalho ponsabilidade do governo estadual. Entre este
em saúde mental, contextualizado no cenário de hospital e o Asilo de Alienados havia ocorrido,
uma década do MBRP, enfatizando os proble- em 1936, a instalação de um hospital privado, a
mas emergentes, com destaque para a tensa tran- Casa de Saúde São Gerardo. Em 76 anos, para
sição entre antigos e novos modelos, antigas e dar conta, sucessivamente, das concepções de
novas sociabilidades. cuidado associadas à alienação, à psicopatia e à
psicose, foram implantados três instituições de
pequeno porte, uma filantrópica, uma privada e
Saúde Mental e Trabalho uma pública, e muito tardias em relação aos
no Cenário da Política de Saúde Mental modelos ocidentais de origem.
e da Gestão do Cuidado em Saúde Período III - De 1963 até 1991, ocasião em
que se inaugura o primeiro Centro de Atenção
O cenário histórico dos problemas a serem en- Psicossocial-CAPS, na cidade de Iguatu, situada
frentados é observado a partir da perspectiva do no sertão central. Estes 29 anos são complexos e
Ceará, um estado brasileiro com território de 149 contraditórios. A Ditadura Militar brasileira de-
mil km2, no qual habitam oito milhões e meio de sencadeou um processo de criação de hospitais
pessoas, que gera um Produto Interno Bruto na privados e o Ceará inaugurou um Manicômio
ordem de 60 bilhões de dólares anuais e tem por Judiciário e seis hospitais psiquiátricos privados,
capital a cidade de Fortaleza. O território que conveniados com a Previdência Pública. Influên-
atualmente representa o Ceará foi ocupado pe- cias norte-americanas, derivadas da Mental He-
los europeus, em 1603, mais de 100 anos depois alth Law, geraram experiências ambulatoriais e
do início da colonização brasileira. O estado é treinamento em Psiquiatria de médicos genera-
produto colonial português tardio e se situa, listas, via Programa Integrado de Saúde Mental-
quase totalmente, no semiárido equatorial, com PISAM. Paralelamente a estes dois processos,
população concentrada na região metropolitana desenvolveu-se, no Ceará, uma linha autônoma
da capital6. do MBRP que vai resultar numa grande experi-
O Ceará apresentou dinâmica própria de de- ência de reforma do HSMM, na criação do CAPS
senvolvimento, como a direção do processo de de Iguatu e no início da tramitação da Lei Esta-
ocupação, do interior para o mar, contrariando dual de Reforma Psiquiátrica, a segunda do Bra-
o padrão brasileiro; a ausência de matérias pri- sil, apresentada à Assembleia Legislativa Estadu-
mas coloniais; a pequena dimensão do escravis- al e aprovada nove anos antes da lei brasileira.
mo, uma vez que a pecuária e a agricultura algo- Período IV – De 1992 a 2011, são 20 anos que
doeira baseavam-se no arrendamento de mão acompanham a implantação do Sistema Único
de obra livre; a ocupação econômica tardia, deri- de Saúde-SUS, iniciado em 1986, com grande pio-
vada da forte resistência indígena; além de irrup- neirismo local. O Ceará antecipa as experiências
ções de secas inclementes, de movimentos messi- brasileiras do Programa de Agentes Comunitári-
ânicos e de pronunciamentos separatistas, até os os de Saúde (PACS), do Programa de Saúde da
espasmos da industrialização retardatária e trun- Família (PSF), do Planejamento Estratégico com
cada de hoje. Estas características determinaram Programação Pactuada Integrada (PPI) e da cria-
e caracterizaram o quadro político e sociossani- ção das macro e microrregiões de saúde. Este pe-
tário do estado6. ríodo pode ser discriminado em três fases:
Na perspectiva da história da assistência psi- 1ª fase - de 1992 a 1996, momento de aprova-
quiátrica convém destacar quatro períodos sig- ção da Lei Estadual e criação de projetos pionei-
nificativos: ros, bem sucedidos, que foram os CAPS de Igua-
Período I - De 1603, início do processo colo- tu, Canindé, Quixadá, Cascavel e Aracati, cida-
nial, até 1886, quando foi inaugurado o Asilo des situadas entre 60 e 400 km de distância da
Alienados São Vicente de Paula, da Santa Casa capital. O município de Quixadá estabeleceu um
de Misericórdia, instituição filantrópica associa- modelo de CAPS que supervisiona ações de saú-
da à Igreja Católica. Antes de sua inauguração de mental na atenção primária, atua como reta-
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guarda para internações em leitos psiquiátricos formação profissional, embora ofereçam as prin-
de hospital geral regional, promove habilitação cipais tecnologias disponíveis, não se mostraram
psicossocial com apoio das políticas de inclusão suficientes para os desafios. Daí a necessidade,
social do município, oferece tratamento ambu- cotidiana, de novos saberes e práticas serem cons-
latorial com técnicas terapêuticas diversificadas e truídos pelos trabalhadores, mediante a inven-
se qualifica como modelo de atenção para muni- ção e a incorporação de novas formas de lidar
cípios de médio porte. com a demanda.
2ª fase - de 1997 a 2000, quando o modelo de A análise preliminar dos diferentes cenários de
CAPS é adotado por mais sete municípios, o go- cuidado, no campo da saúde mental, permite de-
verno estadual decide implantar um CAPS em fender que a assistência produzida e as condições
cada uma das 21 microrregiões de saúde, o go- de trabalho são realidades nas quais objetivos téc-
verno municipal de Fortaleza decide implantar nicos estão articulados aos objetivos político-ins-
um CAPS em cada Secretaria Executiva Regional titucionais, sob os quais a técnica se organiza para
da cidade (n=6) e o I Encontro Estadual de CAPS produzir cuidados. Esses modos de organização
é promovido pela Universidade Estadual do Ce- refletem interesses, práticas administrativas e com-
ará (UECE). A capital, Fortaleza, não avança e promissos, além da disponibilidade de meios de
desqualifica os indicadores gerais do estado, pois trabalho, de instalações e de formas de interagir
implantou apenas um CAPS. com a clientela. Tudo isso conformará os padrões
3ª fase - de 2001 a 2011, quando, sob impacto do desempenho profissional para o conjunto dos
da morte de um cliente, na cidade de Sobral, fato trabalhadores de saúde. Como consequência des-
que levou o Brasil a uma condenação na Corte ses processos podem ser gerados e identificados
Interamericana de Direitos Humanos, o governo os jogos de interesses interteóricos e intercorpora-
municipal fecha o hospital psiquiátrico, de natu- tivos, os conflitos, as contradições, as possibilida-
reza asilar, existente na cidade, cria uma rede de des de construção compartilhadas, bem como seu
serviços de saúde mental orientada pelos princí- impacto na organização do processo de trabalho e
pios da Reforma Psiquiátrica, ganha vários prê- na saúde mental do trabalhador.
mios nacionais de qualidade da atenção e se or-
ganiza para oferecer modelo a cidades de médio
a grande porte. Apenas neste momento a capital O Processo de Trabalho no Campo
cearense concretamente adere à implantação de da Atenção Psicossocial Territorial
uma rede comunitária de cuidados e o governo
estadual, em consequência da aprovação da Lei Na rede de atenção à saúde mental, a complexi-
No 10.216, autoriza repasse de recursos federais, dade do objeto, o sujeito que sofre e não foi de-
induz real crescimento da rede de CAPS pelas sapropriado de seu contexto social, redireciona a
microrregiões cearenses de saúde. lógica de organização dos serviços e dos proces-
Atualmente, sob gestão municipal, existem no sos de trabalho, os quais são impelidos à adoção
Ceará quatro residências terapêuticas, das quais crítica de uma ética e uma estética do cuidado,
uma em Fortaleza; 116 CAPS, entre estes: cinco pautada no respeito às singularidades, na aten-
CAPS para a infância (CAPS i), dos quais dois ção integral e na reapropriação das relações com
em Fortaleza; 15 CAPS para álcool e outras dro- a cidade e a cidadania.
gas (CAPS ad), dos quais seis em Fortaleza; três Considerando a mudança de paradigma na
CAPS III (funcionamento 24 horas), nenhum em organização dos serviços e das práticas como
Fortaleza; 28 CAPS II, dos quais seis em Fortale- conquista do MBRP, a partir do qual se desenca-
za; e 65 CAPS I, nenhum em Fortaleza. deou a estruturação da rede de serviços substitu-
Para dar conta da prática de trabalho nesse tivos ao modelo psiquiátrico clássico, pode-se
novo cenário o principal recurso de intervenção afirmar que o palco de atuação dos trabalhado-
é o trabalhador, amparado por sua formação, res se desloca da lógica hospitalocêntrica para
seu protagonismo, suas habilidades técnicas e uma estrutura de serviços de base territorial, cu-
relacionais. Esse reconhecimento deriva do fato jas práticas estão direcionadas à habilitação so-
de que, no campo da saúde mental, não predo- cial. Tem-se como fio condutor das ações o deli-
mina o uso denso das tecnologias de apoio diag- neamento de linhas de cuidado fundamentadas
nóstico e de tratamento presentes nas demais na defesa dos direitos dos usuários, a partir do
especialidades da saúde, baseadas em dispositi- estímulo ao desenvolvimento de uma consciên-
vos biomédicos7,8. Reconhece-se também que os cia cidadã, do acolhimento, do vínculo, da auto-
saberes e as habilidades adquiridas durante a nomia e da responsabilização.
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Nesse processo ocorre a aquisição de novos pelos usuários, buscando integrar o homem em
saberes e modos de agir em saúde, tendo em vis- suas diversas dimensões: biológica, existencial,
ta à adequação dos trabalhadores aos novos ser- cultural, socioeconômica, ético-política, filosófi-
viços e à rede. Ocorreu também uma inversão na ca e religiosa. Segundo as normas do Ministério
lógica de organização do processo de trabalho, da Saúde11, os CAPS devem ter uma equipe mí-
antes pautada pela rigidez hierárquica, pela ativi- nima, cujos critérios de inclusão das categorias
dade individualizada e pela separação trabalha- profissionais são: a população adstrita, a com-
dor/produto, trabalhador/significado e objeto do plexidade e o projeto terapêutico do serviço.
trabalho. Passa-se, agora, ao desenvolvimento Emerge, portanto, a dimensão de trabalho em
do trabalho em equipe, em dinâmica interdisci- equipe fundamentada na interdisciplinaridade,
plinar e mais horizontal, na qual se prima pela rompendo a fragmentação dos saberes e a hie-
construção coletiva dos processos de trabalho. rarquização das relações.
Visualiza-se, portanto, a incorporação de No âmbito da clínica na atenção psicossocial,
novas tecnologias, inscritas no campo relacio- observa-se a construção de uma clínica do cole-
nal, as tecnologias leves9, como ferramentas im- tivo, sem prejuízo das ações de caráter individu-
prescindíveis à operacionalidade dos processos al. Em resposta aos desafios de respeitar a singu-
de trabalho em saúde mental, implicando a cons- laridade dos sujeitos e de atender as suas necessi-
trução de novo modo de operar as relações dos dades, as equipes têm implantado uma lógica de
trabalhadores entre si e destes com os gestores e organização do trabalho a partir do acolhimen-
usuários dos serviços. Assim, percebe-se que, to, da construção de projetos terapêuticos sin-
como qualquer trabalho vivo em ato, o processo gulares com a definição de técnicos de referência
de trabalho em saúde mental, em todas as fases e discussão coletiva de casos clínicos de maior
de sua realização, está sempre sujeito aos desíg- complexidade12. Destaca-se a inserção dos usuá-
nios do trabalhador em seu espaço autônomo, rios em grupos terapêuticos e ocupacionais, em
particular, de concretização da prática. Desta for- conformidade com suas necessidades e desejos,
ma não é passível de total controle como nos inclusive com a perspectiva de inserção no mer-
modos de produção fabril/taylorista. cado de trabalho.
A oposição ao modelo manicomial e ao psi- No âmbito da gestão, tem-se buscado alter-
quiátrico clássico imprimiu significativas modi- nativas frente ao desafio de desenvolver linhas de
ficações nas relações de poder entre usuários e cuidado, mediante a construção e a consolida-
trabalhadores. Enquanto nos asilos e nos hospi- ção de redes de atenção à saúde mental, com sis-
tais psiquiátricos tradicionais a relação é marca- tema de referência e contrarreferência. Alguns dis-
da pela hierarquia rígida, pela cisão entre sujeito positivos têm possibilitado esse processo, entre eles
e objeto do conhecimento, pelo uso da violência o matriciamento em saúde mental na atenção pri-
institucionalizada e pelo controle nos serviços mária e o acompanhamento e o monitoramento
substitutivos, as relações devem ser construídas das internações hospitalares pelas equipes dos
a partir de lógica diversa. Aqui, o trabalhador CAPS.
passa a ser um facilitador nas negociações dos Diante dos avanços, desafios, conflitos e con-
projetos dos usuários, mediando propostas tan- tradições desses processos, apresentam-se à ges-
to do lado destes como do lado da sociedade10. tão do trabalho demandas que necessitam serem
No âmbito das instituições psiquiátricas clás- equacionadas, particularmente aquelas percebi-
sicas, apesar da atuação de diversas categorias das pelo coletivo de trabalhadores.
profissionais compondo equipes multiprofissi-
onais, a organização do trabalho fundamenta-
va-se no modelo médico-hegemônico. Os traba- Contradições e problemas que emergem
lhadores atuavam de modo subordinado ao sa- no cotidiano dos trabalhadores
ber e à prescrição médica, inexistindo equilíbrio na atenção psicossocial
entre os saberes cuja articulação é demandada
pela complexidade do objeto, transformados em Os desdobramentos da Reforma Psiquiátrica,
reféns do saber e do poder da Psiquiatria. presentes no caso do município de Fortaleza,
Na construção da atenção psicossocial ocor- particularmente no referente à implantação dos
rem modificações nos modos de organizar os CAPS, oferecem um ângulo privilegiado para re-
processos de trabalho e de produzir suas ações. fletirmos acerca dos avanços e dos efeitos adver-
Tal situação impôs a urgência de ampliação das sos desse processo nas equipes de trabalhadores,
equipes de saúde mental numa perspectiva de no contexto de implantação, organização e ges-
atender as necessidades de saúde apresentadas tão dos dispositivos.
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Em estudos anteriores, desenvolvidos por ção individual e coletiva, por parte dos trabalha-
autores do presente artigo7,13-15, foi constatado dores, de prazer e sofrimento, o que configura
que apesar do investimento ideológico, político e uma dinâmica muito particular de saúde mental
técnico dos trabalhadores na construção dos ser- destes atores.
viços substitutivos, da priorização desses equi- Nesta perspectiva, identifica-se que esses
pamentos na agenda política, diversos proble- modos de estruturação e gestão dos serviços, de
mas têm emergido no cotidiano das suas equi- organização dos processos de trabalho, impac-
pes. A própria implantação dessa rede de servi- tam na satisfação da equipe de saúde mental. Essa
ços não constituiu prioridade nos orçamentos problemática tem o potencial de ocasionar insa-
públicos, com reflexos na estrutura das institui- tisfação no trabalho e sofrimento psíquico no
ções e nas condições de trabalho da equipe. coletivo de trabalhadores. Aliás, a insatisfação
Os trabalhadores têm referido que as condi- constitui uma expressão de sofrimento. Nesse
ções de trabalho são insatisfatórias, do ponto de sentido, Ferreira e Mendes16 defendem que o pra-
vista das instalações físicas, com espaços peque- zer-sofrimento é uma vivência subjetiva do pró-
nos e/ou inadequados para o desenvolvimento prio trabalhador, mas que pode ser comparti-
das atividades, da escassez de materiais e equipa- lhada coletivamente e influenciada pelo traba-
mentos, da carência de profissionais ocasionan- lho. Pensar o sofrimento como vivência, a qual
do a formação de equipes pequenas e a sobre- pode ser compartilhada, significa inseri-lo na di-
carga de trabalho, dos baixos salários e dos vín- mensão política, uma vez que envolve a presença
culos empregatícios precarizados, com insuficiên- do outro no campo da existência do sujeito.
cia de formação continuada em serviço13,14. No caso dos CAPS de Fortaleza, o sofrimen-
Durante o processo contínuo de supervisão to psíquico tem se manifestado como: decepção
de dois CAPS Gerais, em Fortaleza, por um ano7, com o serviço e com o trabalho desenvolvido;
foram identificados problemas relacionados à angústia; sentimentos de culpa por não alcançar
organização da demanda em articulação com a os resultados esperados, mesmo que não depen-
rede geral de atenção à saúde, à organização do da somente de sua atuação. Evidencia-se, ainda,
acolhimento a clientela, à agenda de ofertas de danos à saúde física, expressos nas queixas de
cuidados de saúde em acordo com a disponibili- estresse e dores decorrentes do trabalho13,14.
dade do serviço, à definição de fluxos de cuida- Entretanto, a dinâmica prazer-sofrimento no
dos à saúde e de indicadores de desempenho, à trabalho em saúde mental não constitui uma es-
avaliação permanente dos projetos terapêuticos pecificidade dos CAPS de Fortaleza. Achados se-
dos clientes segundo o plano terapêutico do ser- melhantes foram encontrados em estudo reali-
viço, com definição e comprometimento de um zado no Rio de Janeiro17, onde emergiram pro-
técnico de referência. blemas como a sobrecarga de trabalho, a tensão
No funcionamento dos CAPS, os trabalha- existente na transição dos modelos assistenciais,
dores sinalizaram a existência de dissonâncias a precarização/valorização do trabalho, refletin-
entre as diretrizes da política de saúde mental e a do no sofrimento dos trabalhadores.
operacionalidade dos serviços. Nesse plano, con- A responsabilização do trabalhador com o
sidera-se que diversos problemas têm limitado a cuidado e a especificidade do lidar com o proces-
resolutividade dos serviços: a ausência de uma so saúde-doença mental também tem impacta-
rede de saúde mental estruturada e devidamente do na dinâmica prazer-sofrimento no trabalho.
articulada com as demais redes assistenciais, cujo De um lado, os aspectos relacionais estabeleci-
desdobramento é a dificuldade de contenção de dos entre os diferentes atores nos CAPS, os re-
crises e consequente não redução significativa das sultados positivos alcançados junto aos usuári-
reinternações psiquiátricas; conflitos entre as di- os, a possibilidade de inovar e construir projetos
mensões da autonomia do sujeito e a tutela pelo capazes de implementar e de consolidar o mode-
serviço e o assistencialismo das políticas de As- lo de atenção psicossocial são fontes de prazer.
sistência Social; conflito entre o modelo de for- Por outro lado, a sobrecarga de trabalho, as par-
mação e a atuação na atenção psicossocial; difi- ticularidades da função de terapeuta de referên-
culdade na gestão do território; a dificuldade te- cia e os casos clínicos de difícil manejo podem se
órica e prática na gestão dos projetos terapêuti- constituir fonte de sofrimento14,17,18.
cos individuais e coletivos; e terapêutica domi- Essa complexa problemática, seu impacto na
nantemente centrada na erradicação de sintomas satisfação do trabalhador e sua relação com a
mediante a prescrição massificada de drogas. dinâmica prazer-sofrimento no trabalho, impõe
A sinergia destes elementos conduz, na tensa à gestão o desafio de adotar estratégias de enfre-
situação da transição de modelos, a uma percep- tamento objetivando a solução ou minoração
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Sampaio JJC et al.

desses problemas, com vistas à melhoria da quali- ca. Conforme proposto por Rollo19, essas estra-
dade de vida no trabalho, o que em última instân- tégias podem ser desenvolvidas em três âmbitos:
cia, impacta na qualidade dos serviços prestados. 1. individual do trabalhador - acompanhamen-
to individual em programas de atenção biopsi-
cossocial, com equipe interdisciplinar. Enfim, es-
Considerações Finais truturação da atenção à saúde do trabalhador
na instituição; 2. coletivo da equipe - estabelecer
A atuação da equipe de saúde mental nos servi- as metas e os objetivos da equipe de forma par-
ços substitutivos tem sido marcada por avanços ticipativa, com processo avaliativo regular, mais
na construção do modelo de atenção psicossoci- autonomia para a reorganização do processo de
al, porém marcada pela emergência de contradi- trabalho, entre outras estratégias; e, 3. institui-
ções e ampla problemática intrínseca ao proces- ção/rede/organização - descentralização e demo-
so de implantação desses equipamentos, com cratização do poder, mediante o empoderamen-
repercussão na configuração dos processos de to dos trabalhadores, reconhecimento e celebra-
trabalho, nas relações estabelecidas entre os dife- ção de resultados, criação de programas e pro-
rentes atores, na satisfação e na dinâmica prazer/ cessos de educação permanente.
sofrimento dos trabalhadores. Esforços nessa perspectiva vêm sendo adota-
Os discursos dos trabalhadores de saúde dos no Brasil, por meio da implantação da Polí-
mental, contendo queixas referentes aos baixos tica Nacional de Humanização da Gestão e da
salários, aos entraves burocráticos para a reali- Atenção em Saúde-PNH, cujas diretrizes apon-
zação de projetos inovadores, às precárias con- tam para o cuidado sensível aos usuários dos
dições de trabalho, à falta de espaços para refle- serviços de saúde, ressignificação dos espaços de
xão das práticas, muitas vezes não revelados nos atuação dos trabalhadores e das relações no
documentos oficiais dos gestores, expressam a âmbito organizacional19.
falta de investimentos financeiros, com vista à Procura-se, portanto, a valorização do tra-
consolidação e à qualificação da atenção. balho, mediante a ressignificação das estruturas,
Considerando a dimensão da responsabili- dos processos e das relações, com transforma-
dade/comprometimento dos trabalhadores, par- ções das formas de sociabilidade que envolvam
ticularmente dos terapeutas de referência, com o trabalhadores, gestores e usuários em sua expe-
cuidado prestado aos usuários, chama-se aten- riência cotidiana de produção, organização e con-
ção para o fato de que o profissional não deve dução dos serviços de saúde, enfim mudanças
assumir a responsabilidade pela totalidade exis- nos modelos de gestão.7
tencial, sucessos, insucessos e modos de andar a Para tal, aposta-se na democratização e na
vida do usuário no território, sob o risco de so- horizontalização da relações de comando, expres-
brecarga e de sofrimento pelos possíveis fracas- sas na possibilidade de participação dos diferen-
sos, inerentes à condição humana, que este ve- tes atores nos processos decisórios, potencializa-
nha a ter em sua vivência na cidade. da pela implementação de instâncias colegiadas e
A tarefa deve ser compartilhada com a equipe, rodas de equipe; no estímulo e respeito à auto-
e mais que isso, respeitar a autonomia do usuário nomia dos sujeitos e coletivos no contexto insti-
de modo que ele seja corresponsável pelo projeto tucional, o que possibilita ampliar seu potencial
terapêutico. Isto implica em consciência dos limi- de compreensão e de intervenção no mundo do
tes, tanto da capacidade de intervenção de cada trabalho e, ao mesmo tempo, permitindo a cor-
trabalhador, quanto da dimensão econômico- responsabilização e o aumento da satisfação no
operacional do processo de reforma psiquiátrica. trabalho7.
Por outro lado, enseja desenvolvimento de A supervisão clínico-institucional apresenta-
habilidades. É preciso que as equipes busquem se como dispositivo potente para qualificar o
aprofundar e aperfeiçoar procedimentos que per- cuidado na atenção psicossocial, a organização
mitam o ordenamento da demanda, a qualifica- dos processos de trabalhos e a promoção da re-
ção do processo de trabalho e, apesar das limita- flexão sobre os processos de gestão. Ela tem o
ções estruturais, primar pela resolutividade dos potencial de promover a reflexão crítica entre os
serviços. Definir, de forma clara, como deve ser a trabalhadores e minimizar o risco de reprodu-
articulação com a rede de atenção, o relaciona- ção das práticas psiquiátricas clássicas.
mento com a Justiça e com as políticas de assis- Enfim, constitui tarefa especial da supervisão
tência, tanto quanto com as de emprego e renda. clínico-institucional, por exemplo, devolver para
Torna-se evidente a necessidade de adoção de a equipe, discriminando as várias determinações
estratégias de enfrentamento dessa problemáti- que estejam atuando numa crise ou numa supe-
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Ciência & Saúde Coletiva, 16(12):4685-4694, 2011


ração de crise, seja do usuário, do grupo social
adstrito ou da própria equipe. Vive-se uma obra
aberta, em progresso, sensível a mudar a cada
alteração do perfil sócio-econômico-político-de-
mográfico-cultural da cidade, da oferta de cui-
dados e da demanda dos usuários.

Colaboradores Referências

JJC Sampaio, JMX Guimarães, C Carneiro e C 1. Bottomore T. Dicionário do pensamento marxista.


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Apresentado em 08/09/2011
Aprovado em 30/09/2011
Versão final apresentada em 05/10/2011

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