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TCHÉKHOV, Anton.

Um bom par de sapatos e um caderno de


anotações: como fazer uma reportagem1. São Paulo: Martins
Fontes, 2007. 159 p.

PRIMEIRA PARTE – PREPARATIVOS

PROJETOS
Mudar de ares
Viajar para vencer a preguiça, sem a expectativa de ter de escrever.
Não dar ouvidos aos críticos
Não é necessário prestar contas à crítica; seguir a própria consciência.
Conversar a respeito com os amigos
Esclarecer para si mesmo motivos e objetivos da pesquisa, trocando opiniões com
pessoas próximas.
Reagir à indiferença
Estudar coisas que ninguém estuda; ir ver pessoalmente injustiças que ninguém vê;
elogio da experiência e dos conhecimentos de primeira mão.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Ler e resumir
Procurar publicações e fazer fichas; pedir auxílio e livros emprestados; ler tudo, mas
deixar de lado textos que não mencionem dados de fato.
Escrever as partes compilativas
Escrever os trechos que não dependem de pesquisa de campo, utilizando leituras,
fichamentos e resumos; examinando mapas geográficos, descrever como um
território foi representado no decorrer do tempo.

1 Neste resumo, reuni apenas os passos indicados pelo autor na obra, como um guia para a
compreensão de uma metodologia da reportagem.
SEGUNDA PARTE – PESQUISA

REQUISITOS
Um bom par de sapatos
Não economizar nas botas
Caderno de anotações
Ter sempre uma caderneta onde anotar dados, observações, modos de dizer, e onde
transcrever declarações e eventuais entrevistas.
Disponibilidade para mudar de ideia
Estar preparado para rever opiniões baseadas em leituras e expectativas.

VIAJAR
Não desanimar
Não se deixar vencer pelas dificuldades iniciais e pelo medo do imprevisto.
Não planejar demais
Às vezes, deixar nas mãos do acaso pode revelar-se útil, principalmente se o lugar é
desconhecido.
Aceitar convites
Ir a almoços, observar a arrumação da mesa e a comida, ouvir as falas dos
convidados e participar da conversação.
Caminhar
Passear sozinho ou acompanhado, para refletir e ver as coisas com distanciamento
Olhar ao redor
Durante o percurso, observar com atenção.
Fazer excursões
Viajar a pé, acompanhado, seguindo percursos fora de mão.
Fazer-se acompanhar
Aceitar a ajuda de quem pode servir de mediador, principalmente quando faltam a
força ou a possibilidade de fazê-lo por si mesmo.
Desenvolver atividades práticas
Fazer alguma coisa como passatempo ou, se houver oportunidade, executar um
trabalho conhecido pode ajudar na observação.
Participar de festas
Observar preparativos, rituais e participantes; aprender a ambiência.
Assistir a um casamento
Observar as vestimentas, idades, rituais, conversar, papeis sociais; adivinhar
sentimentos.
Visitar os cemitérios
Observar túmulos e cruzes; anotar as inscrições; assistir a um enterro.
Mudar de lugar
Para vencer o cansaço da pesquisa, deslocar-se para outra parte.

OBSERVAR
Realizar vistorias
Visitar um lugar em hora apropriada para ver como normalmente funciona.
Prestar atenção aos boatos
Dar ouvido aos mexericos e verificar se procedem; explicar por que os falsos boatos
são tidos como verdadeiros.
Curiosidade pelos grafitos
Perguntar-se por que escrevem nos bancos e nas paredes.
Observar os sinais de diferença social
Formas de tratamento, tirar o chapéu, subdivisão de espaços, detalhes da roupa,
sinais físicos.
Reparar na toponímia
Prestar atenção no significado dos nomes de lugares e vias.
Observar os sinais do passado
Perguntar-se se o aspecto dos edifícios, a mobília das casas e as conversas das
pessoas mantêm a lembrança do passado, e de que modo.
Usar o olfato
Sentir os odores, explicar sua procedência, descrevê-los com palavras de uso comum,
estabelecer sua composição química.
Usar a audição
Perceber ruídos, sons e vozes de fundo.
Usar o tato
Tocar com as mãos.
Usar o paladar
Saborear a comida.

COLETAR DADOS
Consultar fontes escritas
Folhear relatórios, atas oficiais, listas, regulamentos e cartas particulares; deduzir os
costumes pelos vetos que os proíbem.
Guardar papeis, catálogos e folhetos
Quando possível, pegar e guardar cuidadosamente documentos escritos, folhetos e
propagandas.
Estudar o clima
Analisar tabelas metereológicas, coletar opiniões, relatar a própria experiência,
estabelecer comparações entre zonas diferentes; mostrar a influência do clima na
vegetação, nas colheitas e no humor.
Fazer um recenseamento
Na falta de fontes confiáveis, fazer um recenseamento é útil, não tanto pelos dados
estatísticos que pode oferecer, mas por permitir entrar nas casas e encontrar gente.
Preparar o questionário
Não pedir oralmente informações que podem ser encontradas em fontes escritas;
formular as questões de modo a evitar respostas imprecisas; diferenciar os
formulários por sexo.
Não fazer entrevistas, mas conversar
Conversar com quem se encontra na rua, com quem está trabalhando, ou na casa de
alguém tomando um chá.
Fazer perguntas
Pedir informações e explicações.
Levar em conta as crianças
Conversar com as crianças e observar suas brincadeiras para compreender, entre
outras coisas, o mundo dos adultos.
Numerar
Contar, medir, pesar.
Redigir inventários
Fazer listas de objetos e instrumentos.
TERCEIRA PARTE – ESCRITA

SUPERAR AS DIFICULDADES INICIAIS


Não protelar
Escrever enquanto as impressões estão vivas.
Entender a razão de não conseguir escrever
Não pontificar nem esconder a verdade.

DAR FORMA AO LIVRO


Incipit
Começar o livro pela chegada ao lugar da pesquisa e pelas impressões obtidas nos
primeiros momentos.
Relatar a viagem
Contar a viagem do início ao fim, e, durante o percurso, descrever lugares e
situações, não obrigatoriamente ligadas ao tema da pesquisa, mas deixando aflorar as
lembranças.
Estrutura em capítulos
Depois de narrar a viagem, tratar separadamente temas isolados, subdividindo-os
em novos capítulos.

OBJETIVIDADE
Indicar as fontes
Dizer de onde são extraídas as informações e precisar se o seu conhecimento é direto.
Usar as notas para: indicar a fonte das informações; remeter a estudos específicos
para quem quer se aprofundar; fornecer dados biográficos de uma personalidade;
reportar episódios ou detalhes que poderiam sobrecarregar o texto; expressar um
juízo crítico sobre uma publicação.
Verificar a confiabilidade
Entender como as fontes são produzidas.
Comparação
Confrontar as fontes mais variadas, recorrendo até à própria experiência.
Explicar as defasagens entre perguntas e respostas
As respostas mais interessantes às vezes podem ser falsas ou aproximativas, como
também a ausência de resposta.
Citar documentos
A título de exemplo, transcrever ou reproduzir uma informação.
Nada de panegíricos
Dizer as coisas como são, citando dados de fato, para permitir a qualquer um a
possibilidade de formar uma opinião e expressar um julgamento.
Expressar a própria opinião
Se algo não agrada, deve ser dito.

VERACIDADE
Fazer retratos
Descrever o aspecto de uma pessoa.
Descrever cenas
Rememorar uma situação, com personagens, ambiente e fundo.

INSERIR-SE NA CENA
Refletir sobre o que se está fazendo
Ter presente que quem faz a pesquisa é observa é por sua vez objeto de observação.
Revelar as próprias emoções
Ao se descrever um episódio do qual se tomou parte, descrever os sentimentos
experimentados.
Apresentar os dados do recenseamento
A importância de um recenseamento reside nas impressões importadas durante sua
execução; um bom modo de apresentar os resultados obtidos é contar como ele foi
realizado.
Citar histórias de vida
Ouvir e colher relatos autobiográficos e publicar um deles, para mostrar como são
narrados; mencionar as perguntas e descrever o contexto da narrativa e da conversa.
CONSELHOS DE ESCRITA
Pensar em um quadro
Imaginar estar pintando um quadro, com detalhes e cores.
Recorrer à ajuda de fotografias
Ao descrever um lugar, uma situação ou uma personagem, ter uma fotografia sob os
olhos.
Citar diálogos
Narrar uma conversa, usando o discurso direto.
Citar contos
Ao relatar histórias ouvidas de outros, deixar falar o narrador, ou alternar a própria
voz com a dele.
Confrontar passado e presente
Descrever um lugar, lembrando como era há algum tempo e como se transformou,
utilizando descrições de viajantes e reminiscências dos habitantes.
Comparar lugares desconhecidos a outros conhecidos
Fazer com que o leitor possa imaginar um lugar que não conhece.
Decidir se [sic] colocar nomes e sobrenomes
Indicar as pessoas pelo nome e sobrenome, mas em caso de dúvida colocar as
iniciais.

Escrever sumário dos capítulos


Pode ser útil iniciar cada capítulo com sumários detalhados dos assuntos.

ÚLTIMAS COISAS
Pensar onde publicar

Pensar como comemorar

Pensar na próxima viagem

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