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https://gestaoescolar.org.br/conteudo/74/avaliacao-na-
educacao-infantil
Educação infantil
Avaliação na Educação
Infantil
O processo precisa considerar o percurso trilhado pelos
pequenos, sem julgamentos, notas ou rótulos e fornecer
elementos para a equipe repensar as práticas
Karina Padial
Os riscos de avaliar mal não param por aí. Ao dizer que uma criança não se
comporta como deveria, pode-se deixar de ver os avanços que ela já alcançou. Ao
pensar, por exemplo, que ela está adquirindo a habilidade de se equilibrar
apenas se for bem em um teste realizado com cordas, pode-se ignorar o fato de
que ela consegue subir e descer do trepa-trepa sem nenhum problema. Além
disso, instrumentos classificatórios favorecem que o professor direcione seus
esforços, buscando que a turma seja treinada para obter sucesso em uma ação
específica, o que é um grave problema.
"A criança não pode se sentir integrada a uma escola que lhe proporciona uma
situação constante de prova, de teste, onde a tensão se mantém e onde ela e sua
família são prejulgadas e responsabilizadas pelo fracasso", alerta Jussara
Hoffmann, mestre em avaliação educacional pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), no livro Avaliação e Educação Infantil - Um Olhar Sensível e
Reflexivo sobre a Criança (152 págs., Ed. Mediação, tel. 51/3330-8105, 42 reais).
Concepção e planejamento
Formação
Instrumentos
Socialização das informações
Concepção e planejamento
Diretrizes revelam a análise que se deseja fazer
Escuta das crianças No CMEI Yeda Barradas Carneiro, em Salvador, a turma também ajuda na
escolha das produções
No CMEI Yeda Barradas Carneiro, em Salvador, que tem turmas até 5 anos, a
diretora Lininalva Queiroz afirma que a avaliação realizada revela os princípios
educacionais da instituição. "Para manter o foco no desenvolvimento da criança,
precisamos respeitar a individualidade dela e a escutar, tanto ao buscar sua fala
como, principalmente, observando atentamente suas expressões, manifestações
e aprendizagens", diz. Catarina de Souza Moro, pesquisadora da Universidade
Federal do Paraná (UFPR) e integrante do grupo de estudos do MEC sobre
avaliação da Educação Infantil, considera essa escuta fundamental. É possível
conversar com os pequenos, perguntar sobre determinadas atividades, saber o
que eles mais gostaram e pedir a ajuda deles no momento de organizar o
portfólio de produções. "Experiências nesse sentido já nos mostraram que eles
conseguem fazer uma apreciação crítica sobre as próprias produções. Eles falam
coisas como ‘antes eu não sabia escrever meu nome’ ou ‘olha como eu desenho
bem melhor hoje’", diz. Além de permitir que eles expressem algumas opiniões
sobre suas experiências, essa situação dá pistas sobre como eles veem suas
aprendizagens.
Formação
Clareza sobre como e por que olhar para a turma
Nas EMEIs Maria José Guido, Jardim Morumbi e Rio Comprido, todas em São José
dos Campos, a 90 quilômetros de São Paulo, que formam o núcleo Região 10, a
coordenadora pedagógica Elisângela Siqueira elaborou, junto com os professores,
indicadores para os diferentes eixos da Educação Infantil. Eles orientam as
observações e os registros e são retomados, frequentemente, a fim de que sejam
analisados e aprimorados. Em encontros sobre o tema, a coordenadora discutiu
diversos tipos de documentação, como o relatório de adaptação, o portfólio de
imagens e os pareceres. Pouco antes do fim do semestre, quando a equipe
deveria produzi-los, ela retomou o assunto, mais focada na forma como eles
seriam apresentados aos pais.
Como se vê, a formação não termina quando a ação é iniciada. Pelo contrário, ela
fornece elementos para que o gestor atue no sentido de aperfeiçoar as práticas e
o próprio processo avaliativo. "Quando os registros são compartilhados com a
coordenação, ela pode identificar elementos da atuação docente que precisam de
intervenções e que se transformam em novos objetos de estudo", afirma a
pesquisadora Catarina. Por essa razão, Elisângela faz questão de ler todos os
relatórios individuais e coletivos produzidos pelos 22 docentes e escrever
devolutivas sobre eles. No final do ano passado, por exemplo, ela percebeu que
os professores não estavam se aprofundando no eixo de Música. Por isso, o
período letivo já começou com formações sobre o tema.
Instrumentos
Muito mais que meros formulários
Vídeo: //www.youtube.com/embed/KjsDGkW2nRU
A observação pode ser realizada de duas maneiras. Em uma delas, o olhar fica
livre para notar o que está acontecendo naquele momento e a outra é mediada
por uma pauta que, portanto, pressupõe uma antecipação e um planejamento.
No Espaço da Vila, em São Paulo, as perguntas que orientam a análise das turmas
até 3 anos são elaboradas coletivamente pela coordenação e a equipe docente
(veja alguns modelos utilizados por lá). Durante uma situação de desafios
motores, por exemplo, os professores ficam atentos a aspectos como se o bebê
engatinha, mantém-se de pé com apoio e desloca-se apoiado na parede.
O vídeo, por sua vez, traz a ação com todas as variáveis que interferiram no
desenvolvimento da atividade e permite que aquele momento seja visto várias
vezes, captando percepções sobre os pequenos que não foram possíveis na
observação direta. E a foto ajuda a refletir sobre a organização do espaço e sobre
detalhes, como os gestos durante uma pintura ou desenho. Lembre que quando
as imagens forem selecionadas para compor o relatório final, elas precisam estar
acompanhadas da data em que a situação foi registrada e de um comentário (se
não há o que falar, reflita se ela é realmente necessária).
Para Marlene, do Mieib, esse processo precisa ter polifonia, ou seja, múltiplas
vozes. "O olhar sobre a meninada é enriquecido quando, além do professor,
outros adultos que acompanham suas aprendizagens são ouvidos", diz. Na
Creche-Escola Paulo Rosas, em Recife, que atende crianças até 4 anos, duas vezes
por semestre, os docentes e os auxiliares se reúnem para discutir o
desenvolvimento de cada menino e menina. Em muitos desses encontros,
participam outros funcionários, como a cozinheira que é envolvida na conversa
sobre alimentação e a equipe de limpeza que contribui na discussão sobre o
desfralde. "A troca de informações, que resulta em uma avaliação coletiva, amplia
a reflexão sobre nossas ações", afirma a coordenadora pedagógica Marcela de
Cássia Melo Figueiredo.
Vídeo: //www.youtube.com/embed/IL9scHaLFqM
Os pais também devem ter acesso ao relatório. Ali, eles conseguem visualizar o
caminho trilhado pelo filho e os avanços que ele vem obtendo. Além disso, esse
material colabora para prestar contas sobre o que foi realizado. Na Creche-Escola
Paulo Rosas, em Recife, é durante a reunião de pais que a troca acontece. "Não
fazemos apenas uma entrega, é um momento de conversa e discussão", ressalta
Marcela. Primeiro, o professor atende individualmente às famílias e, com base no
relato, fala sobre os desafios propostos, os avanços e as habilidades que foram
conquistadas. Depois, os responsáveis participam de uma apresentação coletiva,
em que os docentes contam sobre as experiências do grupo. Para isso, muitas
vezes, eles apresentam vídeos.
Outra estratégia possível é enviar o parecer para casa, permitindo que os pais
façam a leitura antes do encontro. Dessa maneira, eles chegam para a conversa já
com dúvidas e apontamentos. Independentemente da forma como o
compartilhamento é feito, deve-se reservar um espaço para a fala ou a escrita dos
responsáveis.
O fato de o relatório ser um objeto de apreciação coletiva tem de ser lembrado
durante a construção dele. Leninha Ruiz, formadora na área de Educação Infantil
e blogueira de GESTÃO ESCOLAR, sugere que se mantenha o foco nas conquistas
de cada um. De acordo com ela, não se deve comparar as aprendizagens como se
todos fossem iguais, porque os ritmos são distintos. Além disso, é preciso cuidado
na hora de escolher as palavras e transmitir as ideias para que o material não soe
pejorativo nem estigmatize alguém.
Além dos pais, o coordenador também precisa realizar uma leitura atenciosa do
relatório e preparar uma devolutiva individual para os professores. Nesse
momento, vale refletir sobre questões como: "Os objetivos norteadores do
desenvolvimento da criança estão presentes?", "Evidencia-se a participação dela
nas atividades?", "Privilegia-se o percurso trilhado?", "Percebe-se suas ações
individuais?" Assim, a ação avaliativa não fica estática e colabora para continuar
alimentando o ciclo de reflexão nessa etapa do ensino.