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colinérgica
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ÿS 100
50 L
=1 g. 10.1 Experimento de Dale mostrando que a acetilcolina (ACh) produz dois tipos de efeito sobre a pressão arterial
:e gato. A pressão arterial de um gato espinal foi registrada em um manómetro de mercúrio. HAACh provoca queda da pressão arterial por causa da
tísodilatação. 0 Uma dose maior também produz bradicardia.Tanto SI quanto 0 são efeitos muscarínicos. S3 Após administração de atropina
aiagonista muscarínico), a mesma dose de ACh não produz efeito. B Ainda sob a influência da atropina, uma dose muito maior de ACh provoca elevação
:í :-essão arterial (que resultada estimulação dos gânglios simpáticos), acompanhada de taquicardia, seguida de elevação secundária (resultante da
:oração de adrenalina pelas glândulas supra-renais). Esses efeitos resultam de sua ação sobre os receptores nicotínicos. (De Burn J H 1963Autonomic
rarmacology. Blackwell, Oxford.)
Localização sináptica Junção neuromuscular Gânglios autónomos: Muitas regiões do Muitas regiões do
principal esquelética: principalmente cérebro: pré e cérebro: pré e
principalmente pós-sináptica pós-sináptica pós-sináptica
pós-sináptica
Resposta da membrana Excitatória Excitatória Excitação pré e Excitação pré e O receptor (a.7)5
Aumentada Aumento da pós-sináptica. pós-sináptica. produz grande
permeabilidade a cátions permeabilidade Aumento da Aumentada entradade Ca2*,
(principalmente Na* e K+) a cátions permeabilidade a permeabilidade o que desencadeia
(principalmente cátions (principalmente ao Ca2+ a liberação do
Na+ e K+) Na+ e K+) transmissor
3Esta tabela mostra apenas os principais subtipos expressos nos tecidos de mamíferos. Vários outros subtipos são expressos em determinadas regiões do cérebro e também no sis¬
tema nervoso periférico e em tecidos não-neuronais. Para maior detalhamento, veja Capitulo 34 eas revisões de Lindstrom (2000), Cordero-Erausquin et al. (2000) e Dajas-Bailador
&Wonnacott (2004).
Os receptores M2 ("cardíacos") estão presentes no coração e receptores. Outros agonistas seletivos para os receptores M, (p.
também nas terminações pré-sinápticas de neurónios centrais e ex., a xanomelina) foram descobertos recentemente e estão em
periféricos. Exercem efeitos inibitórios, principalmente por meio desenvolvimento como possíveis tratamentos para a demência.
do aumento da condutância ao K+ e da inibição dos canais de cál¬ Há uma seletividade maior entre os antagonistas. Embora á
cio (Cap. 4). A ativação desses receptores é responsável pela ini¬ maioria dos antagonistas muscarínicos clássicos (p. ex., atropi¬
bição colinérgica do coração, bem como pela inibição pré-sináp- na e escopolamina) seja não-seletiva, a pirenzepina é seletiva
tica no SNC e na periferia (Cap. 9). Os receptores M2 também são para os receptores M] e a darifenacina, para os receptores M2. A
expressos juntamente com os receptores M3 no músculo liso das galamina, mais conhecida como um fármaco que provoca blo¬
vísceras e contribuem para o efeito estimulante da musculatura queio neuromuscular (p. 157), é também um antagonista seleti-
lisa, próprio dos agonistas muscarínicos em vários órgãos. vo, embora pouco potente, dos receptores M2. Recentemente
Os receptores M3 ("glandulares/do músculo liso") produzem descobriu-se que as toxinas presentes no veneno da serpente
principalmente efeitos excitatórios, ou seja, estimulação das mamba-verde são antagonistas altamente seletivos para oí
secreções glandulares (salivares, brônquicas, sudoríparas etc.) e receptores muscarínicos (Tabela 10.2), assim como vários com¬
contração do músculo liso das vísceras. Os receptores M3 tam¬ postos sintéticos com certo grau de seletividade (Eglen et ai.
bém atuam como mediadores do relaxamento da musculatura 1999, para maior detalhamento). Compostos recentemente apre -
lisa (principalmente vascular), que resulta da liberação de óxido vados para uso clínico são descritos mais adiante (p. 152).
nítrico das células endoteliais vizinhas (Cap. 17). Os receptores
M|, M2 e M3 tambcm estão presentes em locais específicos do
SNC (Cap. 34). Os receptores M4 e M5 estão em grande parte con¬ FISIOLOGIA DA TRANSMISSÃO
finados ao SNC, e seu papel funcional não está bem esclarecido,
embora camundongos desprovidos desses receptores mostrem
COLINÉRGICA
alterações comportamentais (Wess, 2004). A fisiologia da transmissão colinérgica é descrita em detalhes p -
A classificação farmacológica dos vários tipos de receptores Nicholls etal. (2001). A Figura 10.2 mostra as principais maneirai
vale-se da seletividade limitada de certos agonistas e antagonis¬ pelas quais os fármacos podem afetar a transmissão colinérgica.
tas que é capaz de os diferenciar. A maioria dos agonistas é com¬
posta de substâncias não-seletivas, porém dois compostos expe¬ T A acetilcoiina é sintetizada e armazenada em muitos tecidos d;- -
rimentais, o McNA343 e a oxotremorina, são seletivos para os providos de inervação colinérgica, como a placenta e a córne_
receptores M,; o carbacol é relativamente inativo sobre esses Apesar das especulações sobre possíveis funções reguladoras e.trc -
146
TRANSMISSAO COLINERGICA 10
Tabela 10.2 Subtipos de receptores muscarínicos4
Principais Gânglios autónomos Coração: átrios SNC: Glândulas exócrinas: SNC SNC: expressão
localizações Glândulas: gástricas, amplamente gástricas, salivares etc. muito localizada na
salivares etc. distribuídos Músculo liso: trato substância negra
Córtex cerebral gastrintestinal, olho, Glândulas salivares
vias aéreas, bexiga íris/músculo ciliar
Vasos sanguíneos:
endotélio SNC
Resposta celular T IP3, DAG lAMPc Tip3 iAMPc Inibição T IP3 Excitação
Despolarização Inibição Estimulação
Excitação (peps lento) -l condutância ao Ca2+ T [Ca2!
ícondutância ao K+ t condutância ao K+
Resposta funcional Excitação do SNC Inibição cardíaca Secreção gástrica, Aumento da Desconhecida
(Memória?) Inibição neural salivar locomoção
Secreção gástrica Efeitos muscarínicos Contração da musculatura
centrais (p. ex., tremor lisa gastrintestinal
e hipotermia) Acomodação ocular V
Vasodilatação
SNC, sistema nervoso central; DAG, diacilglicerol; peps, potencial excitatório pós-sináptico; IP3, trisfofato deinositol.
"Esta tabela mostra apenas os subtipos predominantes expressos em tecidos de mamíferos. Para maior detalhamento, veja Capitulo 34 e revisões de Caulfield & Birdsall (1998) e
Wess (2004).
cas (revisão de Wessle et al., 1998), o papel dessa acetilcolina não- tese da ACh parece ser o transporte da colina, cuja atividade é
neuronal é desconhecido. regulada pela velocidade com que a ACh é liberada. A coiineste-
rase está presente nas terminações nervosas pré-sinápticas, e a
ACh é continuamente hidrolisada e ressintetizada. A inibição da
SÍNTESE e uberaçao de acetilcolina colinesterase da terminação nervosa provoca um acúmulo de
O metabolismo da acetilcolina foi competentemente revisto por ACh "excedente" no citosol, que não fica disponível para libera¬
Parsons eial. (1993). AACh é sintetizada no interior da termina¬ ção pelos impulsos nervosos (embora possa sair da terminação
ção nervosa a partir da colina, que é levada para dentro da termi¬ através do transportador de colina). Contudo, a maior parte da
nação por um transportador específico (Cap. 9), semelhante ACh sintetizada é armazenada em vesículas sinápticas, onde sua
_quele que opera com muitos transmissores. A diferença é que concentração é muito alta (cerca de 100 mmol/L).A liberação das
:-sse carregador transporta o precursor, a colina, e não a ACh, por vesículas ocorre por exoeitose desencadeada pela entrada de
isso ele não é importante para o término da ação do transmissor. Ca2+ na terminação nervosa (Cap. 4).
Normalmente, a concentração de colina no sangue e nos líquidos As vesículas colinérgicas acumulam ACh ativamente por
:orporais é de aproximadamente 10 (imol/L, mas na imediata meio de um transportador específico (Usdin et al, 1995; Liu &
izinhança das terminações nervosas colinérgicas essa concen¬ Edwards, 1997), que pertence à família de transportadores de
tração aumenta provavelmente para cerca de 1 mmol/L, quando aminas descrita no Capítulo 9. O acúmulo de ACh está relacio¬
_ ACh liberada é hidrolisada, e mais de 50% dessa colina é nor- nado ao grande gradiente eletroquímico associado aos prótons
-.almente recapturada pelas terminações nervosas. Acolina livre que existe entre as organelas intracelulares e o citosol; esse acú¬
-entro da terminação nervosa é acetilada por uma enzima citosó- mulo é bloqueado de modo seletivo pelo fármaco experimental
l:;a. a colina acetiltransferase ( CAT), que transfere o grupo ace- vesamicol (Parsons et al., 1993). Após sua liberação, a ACh
: da acetil-coenzima A. A etapa limitante da velocidade de sín¬ difunde-se através da fenda sináptica e combina-se comos recep-
147
SEÇÃO 2 m MEDIADORES QUÍMICOS
AcCoA Colina
f Vesamicol 1
Receptor nicotínico _ - - ACh
pré-sináptico Transportador
i \
de ACh ÿ
de ACh ÿ I
r_ io que suficiente para dar início a um potencial de ação — BLOQUEIO POR DESPOLARIZAÇÃO
j£ "
:. a transmissão ainda ocorre quando o ppt é reduzido em
a S0%, e diz-se que apresenta uma larga margemde seguran¬ O bloqueio por despolarização ocorre nas sinapses colinérgicas
ça. n modo que flutuações na liberação do transmissor (p. ex., quando os receptores nicotínicos excitatórios são ativados de
®r_- :e uma estimulação repetitiva) não afetam a transmissão. modo persistente e resulta da diminuição da excitabilidade elétri-
ca da célula pós-sináptica. A Figura 10.4 ilustra esse processo. A
T A transmissão que ocorre na sinapse ganglionar é mais complexa aplicação de nicotina a um gânglio simpático causa a despolari¬
x que na junção neuromuscular. Embora o evento primário em zação da célula, que inicialmente leva à descarga de potenciais de
í~ tis seja o ppt ou o peps rápido produzidos pela ACh agindo sobre ação. Após alguns segundos, essa descarga cessa e a transmissão
s -íceptores nicotínicos, ele é seguido, no gânglio, por uma suces- é bloqueada. A perda de excitabilidade elétrica nesse momento é
sl ie respostas pós-sinápticas muito mais lentas, expostas a seguir: demonstrada pelo fato de que estímulos antidrômicos também
não são capazes de produzir um potencial de ação. A principal
Im potencial inibitório (hiperpolarizante) pós-sináptico lento
razão para a perda da excitabilidade elétrica durante um período
~:ps lento) que dura de 2 a 5 segundos. Esse fenómeno reflete
de despolarização mantida consiste no fato de que os canais de
:d ncipalmente aumento da condutância ao K+mediada porrecep-
res muscarínicos (M2), mas outros transmissores, como a dopa- sódio sensíveis à voltagem (Cap. 4) se tornam inativados (/. <?.,
r naeaadenosina, também contribuem; refratários) e não são mais capazes de se abrir em resposta a um
- .~"i peps lento, que dura cerca de 10 segundos. Esse fenómeno é estímulo despolarizante breve.
:~:duzido pela ACh agindo sobre receptores M,, que fecham os
,_naisde potássio; T Um segundo tipo de efeito também pode ser visto no experimento
- I~m peps lento tardio, que dura de 1a 2 minutos.Acredita-se que
riie fenómeno seja mediado por um co-transmissor peptídico,
mostrado na Figura 1 0.4. Depois de a nicotina ter agido por vários
minutos, a célula rcpolariza-separcialmente e sua excitabilidade elé¬
: pode ser a substância P em alguns gânglios e um peptídeo trica retorna, mas, apesar disso, a transmissão permanece bloqueada.
rnelhante ao hormônio liberador de gonadotrofinas em outros Esse tipo de bloqueio secundário, não-despolarizante, também ocor¬
Tap. 9). Como o peps lento, o peps lento tardio é produzido por renajunção neuromuscular, quando são utilizadasdoses repetidas do
- minuição da condutância ao K+. fármaco despolarizante suxametônio (ver adiante). O principal fator
149
SEÇÃO 2 m MEDIADORES QUÍMICOS
Transmissão colinérgica
50 mV
A síntese da acetilcolina (ACh) requer:
Controle
— colina, que penetra no neurônio com o auxílio de
transportadores;
72 (imol/LdeTC — a acetilação da colina, que utiliza a acetil-coenzima A
como fonte de grupos acetil e envolve a colina
acetil-transferase, uma enzima citosólica encontrada
30 min apenas em neurónios colinérgicos.
AACh é armazenada em concentrações elevadas no
interior de vesículas sinápticas, e sua entrada nessas
vesículas é feita por intermédio de transportadores.
A liberação de ACh ocorre por exocitose mediada por Ca2t.
Na junção neuromuscular, um impulso nervoso
20 ms 40 min pré-sináptico libera de 100 a 500 vesículas.
Na junção neuromuscular, a ACh age sobre receptores
nicotínicos promovendo abertura de canais de cátions. A
abertura desses canais produz uma rápida despolarização
(potencial de placa terminal), que normalmente dá início a
um potencial de ação na fibra muscular. A transmissão em
60 min outras sinapses colinérgicas "rápidas" (p. ex., ganglionaresÿ
é semelhante.
Nas sinapses colinérgicas "rápidas", a ACh é hidrolisada
dentro de aproximadamente 1 ms pela acetilcolinesterase;
Fig. 10.3 Transmissão colinérgica em uma célula por essa razão um potencial de ação pré-sináptico produz
ganglionar autónoma. Os registros foram obtidos de uma célula apenas um potencial de ação pós-sináptico.
ganglionar parassimpática de cobaia por meio de um microeletrodo A transmissão mediada por receptores muscarínicos é
intracelular. 0 artefato observado no inicio de cada traçado mostra o muito mais lenta, e as estruturas sinápticas nãoestão tão
momento da estimulação do nervo pré-ganglionar. Atubocurarina (TC), bem definidas. Em muitas situações, a ACh atua como um
um antagonista da acetilcolina, torna o peps menor. No registro C, ele só modulador em vez de agir como um transmissor direto.
consegue desencadear o potencial de ação e, em D, caiu abaixo do
limiar. Após o bloqueio completo, a estimulação antidrômica (não
Principais mecanismos do bloqueio farmacológico:
mostrada) ainda produzirá um potencial de ação (cf. bloqueio por inibição da captação da colina, inibição da liberação de
despolarização, Fig. 10.4). (De Blackman J G eí al. 1969 J Physiol 201: ACh, bloqueio dos receptores pós-sinápticos ou dos
723.) canais iónicos e despolarização pós-sináptica persistente.
Muscarínico Nicotinico
0 CH,
J©
H,cAÿÿn-ch3
Acetilcolina ÒHa +++ +++ +++ Nenhum
o ÇH3
A .nÿch3
Ah,
Carbacol Nenhum
ÇH, CH,
N-CH,
H,C
Metacolina CH, Nenhum
o ch3 9h3
H,N
>ch,
Betanecol Ah, Hipotonia da bexiga3
e do trato gastrintestinal
HO ch,
H,C n-ch3
«k
Muscarina Nenhum*1
CH,
H,C' tr"
Pilocarpina Glaucoma
n/ ÿn7
Oxotremorina Nenhum
"A
Córnea
Músculo Músculo
dilatador constritor Caminho percorrido
pelo humor aquoso
Canal de
Schlemm
Cristalino
Músculo
ciliar
"nolol, carteolol Antagonista p-adrenérgico Administrado em forma de colírio, mas ainda pode CapítuloH
causar efeitos colaterais sistémicos: bradicardia, broncoconstrição
. .rio. A pilocarpina é o fármaco mais eficaz, visto que, por ser esses efeitos são menos intensos que os provocados pelos fárma¬
amina terciária, é capaz de atravessar a membrana conjunti- cos mais antigos.
. É um composto estável cuja ação dura cerca de 1 dia.
- _almente, uma variedade de fármacos com diferentes meca- Efeitos dos antagonistas muscarínicos
- - nos de ação está disponível para o tratamento do glaucoma, e Todos os antagonistas muscarínicos produzem basicamente efei¬
-
r estão listados na Tabela 10.4. tos periféricos semelhantes, embora alguns mostrem certo grau
O betanecol é utilizado muito ocasionalmente para auxiliar no de seletividade, por exemplo, para o coração ou para o trato gas¬
aziamento da bexiga ou para estimular a motilidade gastrintes- trintestinal, o que reflete a heterogeneidade existente entre os
- - ii ( Tabela 10.3). Age principalmente sobre os receptores M3 e receptores muscarínicos da ACh (p. 145).
~ um efeito discreto sobre o coração. Em princípio, um agonis-
Os principais efeitos da atropina são apresentados a seguir:
-eletivo para os receptores M2 seria útil para o tratamento de Inibição de secreções. As glândulas salivares, lacrimais,
"jnias cardíacas, porém tal fármaco ainda não foi descoberto. brônquicas e sudoríparas são inibidas por doses muito baixas de
atropina, e essa inibição deixa a pele e a boca desconfortável men¬
te secas. A secreção gástrica é apenas discretamente reduzida. A
- \TAGONISTAS MUSCARÍNICOS depuração mucociliar que ocorre no interior dos brônquios é ini¬
antagonistas dos receptores muscarínicos (fármacos paras- bida, de modo que secreções residuais tendem a se acumular nos
i -latolíticos;Tabela 10.5) são antagonistas competitivos cujas pulmões. O ipratrópio não provoca esse efeito.
: raturas químicas geralmente contêm grupos éster e grupos Efeitos sobre afrequência cardíaca. A atropina causa taqui¬
ÿ
--:cos na mesma proporção encontrada na ACh, porém apre- cardia por meio do bloqueio dos receptores muscarínicos cardía¬
:- :am um grupo aromático volumoso no lugar do grupo acetil. cos. A taquicardia é moderada, até 80 a 90 batimentos/min em
í iois compostos de ocorrência natural, a atropina e a escopo- seres humanos. Isso ocorre porque não há efeito sobre o sistema
.--lina, são alcalóides encontrados em plantas solanáceas. A simpático, apenas inibição do tônus parassimpático existente. A
:: _dona (Atropa belladonna) contém principalmente atropina, taquicardia é mais pronunciada em indivíduosjovens, nos quais o
- - janto o estramônio, ou figueira-do-inferno (Datura strumo¬ tônus vagai durante o repouso é mais acentuado; com frequência
us : i, contém sobretudo escopolamina. Trata-se de compostos está ausente em idosos. Em doses muito baixas, a atropina causa
ic amónio quaternário suficientemente lipossolúveis para serem bradicardia paradoxal, possivelmente como consequência de
- .:'.mente absorvidos no intestino ou no saco conjuntival e, vale
,
uma ação central. A resposta do coração aos exercícios físicos não
.; .ucar, para atravessar a barreira hematoencefálica. O deriva- é afetada. A pressão arterial também não é afetada, porque a maio¬
auaternário da atropina, o metonitrato de atropina, tem ria dos vasos de resistência não possui inervação colinérgica.
periféricas muito similares àquelas produzidas pela atropi- Efeitos sobre o olho. A administração de atropina torna a
:_ — as, pelo fato de não penetrar no cérebro, não apresenta ações pupila dilatada (midríase) e não responsiva à luz. O relaxamento
. :- Tais. O ipratrópio, outro composto de amónio quaternário, é do músculo ciliar causa paralisia de acomodação (cicloplegia),
zado em inalações como broncodilatador. O ciclopentolato por esse motivo a visão para perto fica comprometida. A pressão
:ropicamida são aminas terciárias desenvolvidas para uso
.
intra-ocular pode subir; embora isso não seja importante para os
_imico e administradas na forma de colírio. A pirenzepina é indivíduos normais, pode ser problemático para os pacientes que
. - antagonista relativamente seletivo para os receptores M,.A sofrem de glaucoma de ângulo estreito.
ibutinina, a tolterodina e a darifenacina (seletivas para os Efeitos sobre o trato gastrintestinal. A atropina inibe a moti¬
- .rptores M3) são fármacos novos, que agem sobre a bexiga lidade gastrintestinal, mas essa inibição só ocorre com doses
- - indo a micção, utilizados no tratamento da incontinência uri- maiores do que as que desencadeiam os outros efeitos listados, e
-
a. Produzem os efeitos indesejados típicos dos antagonistas não é completa. Isso acontece porque os transmissores excitató-
:arínicos, como boca seca, constipação e visão turva, mas rios, com exceção da ACh, são importantes para o funcionamen-
153
10 SEÇÃO 2 W, MEDIADORES QUÍMICOS
iff
MjiÿM
- ÿ
Tabela 10.5 Antagonistas muscarínicos3
|P Composto
Atropina
Propriedades farmacológicas
Antagonista não-seletivo
Bem absorvido por via oral
Usos clínicos
Alcalóide da beladona
Principais efeitos colaterais:
Estimulantedo SNC Envenenamento por anticolinesterásicos retenção urinária, boca seca,
Bradicardia visão turva
Hipermotilidade gastrintestinal Adicicloverina (diciclomina) é similar
(antiespasmódico) e é empregada principalmente como
agente antiespasmódico
; ; Metonitrato de Similar à atropina, mas muito pouco Principalmente na hipermotilidade Derivadode amónio quaternário
atropina absorvido e não tem efeitos sobre o SNC gastrintestinal Fármacos similares englobam a
Ação bloqueadora ganglionar significativa metescopolamina e a propantelina
Ipratrópio Similar ao metonitrato de atropina Para asma e bronquite, por via inalatória Composto de amónio quaternário
Não inibe a depuração mucociliar 0 tiotrópio é similar v
dos brônquios
Pirenzepina Seletiva para receptores M, Úlcera péptica Menos efeitos colaterais que outros
Inibe a secreção gástrica por ação antagonistas muscarínicos
sobre células ganglionares Amplamente suplantada por outros
Pouco efeito sobre a musculatura lisa fármacos com ação antiúlcera
ou o SNC (Cap. 25)
aVeja as estruturas químicas em Hardman J G, Limbird LE, GilmanAG, Goodman-GilmanAeía/. 2001 Goodman and Gilman's pharmacological basis of therapeutics, 10th edn.
McGraw-Hill, New York.
to normal do plexo mioentérico (Cap. 9). A atropina é utilizada pequenas que ingerem bagas de beladona, a excitação e a irrita¬
em condições patológicas nas quais a motilidade gastrintestinal bilidade acentuadas provocam hiperatividade e elevação consi¬
está aumentada; nesses casos pode ser preferível o uso de agen¬ derável da temperatura corporal, que é intensificada pela perda
tes seletivos para receptores M3, que estão sendo desenvolvidos. da secreção de suor. Esses efeitos centrais são o resultado do blo¬
Apirenzepina, em virtude de sua seletividade para receptores M,, queio dos receptores muscarínicos do cérebro e são revertidos
inibe a secreção ácida do estômago em doses que não afetam por fármacos anticolinesterásicos como a fisostigmina, que é urr.
outros sistemas. eficaz antídoto para o envenenamento pela atropina. Em dose?
Efeitos sobre outros músculos lisos. A atropina provoca o baixas, a escopolamina causa sedação intensa, mas provoca efei¬
relaxamento da musculatura lisa da árvore brônquica e dos tratos tos similares em doses altas. Aescopolamina também tem um íítL
biliar e urinário. A broncoconstrição reflexa (p. ex., que ocorre efeito antiemético e é empregada no tratamento da cinetose. Os
durante a anestesia) é impedida pela atropina, ao passoque a bron¬ antagonistas muscarínicos também afetam o sistema extrapira-
coconstrição causada por mediadores locais, como a histamina e midal, reduzindo os movimentos involuntários e a rigidez de
os leucotrienos (p. ex., na asma; Cap. 23), não é afetada. O mús¬ pacientes com doença de Parkinson (Cap. 35) e neutralizando os
culo liso dos tratos biliar e urinário é apenas levemente afetado, efeitos colaterais extrapiramidais de muitos fármacos antipsicó-
provavelmente porque outros transmissores além da ACh (Cap. 6) ticos (Cap. 38).
sejam importantes nesses órgãos; contudo, a atropina e os fárma¬
cos semelhantes comumente precipitam o aparecimento da reten¬ Usos clínicos
ção urinária em homens idosos com hipertrofia prostática. Os principais usos dos antagonistas muscarínicos são mostrados nÿ
Efeitos sobre o SNC. A atropina produz principalmente efei¬ Tabela 10.5 e no quadro clínico (p. 156). Com exceçâo da pirenze-
tos excitatórios no SNC. Em doses baixas, causa leve inquieta- pina (seletiva para os receptores M,), os antagonistas muscarinic : ÿ
' ção; já doses mais altas provocam agitação e desorientação. No utilizados atualmente mostrampouca seletividade para os subtipc -
envenenamento pela atropina, que ocorre sobretudo em crianças Antagonistas seletivos para receptores M3, que podem ser úte:
154
TRANSMISSÃO COLINÉRGICA 0
. mo relaxantes da musculatura lisa, estão sendo desenvolvidos, pouca importância clínica. Esse bloqueio pode ocorrer por meio
-
-
iaté agora nenhum deles foi aprovado para uso clínico. de vários mecanismos:
-gonistas
Vcoíina Gânglios autónomos Estimulação seguida de bloqueio Ver Capítulo 43
SNC Estimulação Quanto aos efeitos sobre o SNC, consultar o Capítulo 43
:.:ametônio Junção neuromuscular Bloqueio por despolarização Empregado na clínica como relaxante muscular
- - -.agonistas
-•ÿametónio Gânglios autónomos Bloqueio da transmissão Sem uso clínico
"•-etafana Gânglios autónomos Bloqueio da transmissão Redução da pressão arterial em cirurgia (uso raro)
-axurônío Junção neuromuscular Bloqueio da transmissão Amplamente utilizados como relaxantes musculares
- ~a:úrio em anestesia
ri.rônio
155
SEÇÃO 2 m MEDIADORES QUÍMICOS
musculatura esquelética que ocorre durante o exercício físico é dos na placa terminal. A quantidade de ACh liberada por um
-
rmalmente acompanhada de vasoconstrição em outros locais (p. impulso nervoso normalmente excede em várias vezes o número
: na área esplâncnica) produzida pela atividade simpática. de moléculas necessário para desencadear um potencial de ação
~
jando essa adaptação não ocorre, a resistência periférica total cai na fibra muscular. Portanto, é necessário bloquear de 70% a 80%
. a pressão arterial também (hipotensão pós-exercício físico). dos receptores para que a transmissão seja de*fato interrompida.
Usos clínicos Quando isso acontece, ainda é possível registrar um ppt subli¬
nhar na fibra muscular (Fig. 10.6). Em cada fibra muscular, a
For causa dos inúmeros efeitos colaterais que produzem, os fár-
- ícos que bloqueiam os gânglios estão clinicamente obsoletos, transmissão é do tipo "tudo-ou-nada", de modo que diferentes
graus de bloqueio correspondem a porcentagens diferentes de
- m exceção da trimetafana, um fármaco de ação muito curta
._e pode ser administrado na forma de infusão intravenosa em
fibras musculares não responsivas. Nessa situação, quando a
. :-rtos tipos de procedimento anestésico. Ainclinação da mesa de
amplitude do ppt em todas as fibras está próxima do limiar (um
. "urgias propicia uma hipotensão controlada, que é utilizada pouco acima em algumas e um pouco abaixo em outras), peque¬
- _ra minimizar o sangramento durante certos tipos de cirurgia. A nas variações na quantidade do transmissor liberado, ou na velo¬
r.metafana também pode ser empregada para baixar a pressão cidade com que ele é destruído, terão um grande efeito sobre a
serial como procedimento de emergência. porcentagem de fibras que se contrai. Consequentemente, o grau
do bloqueio varia de acordo com diversas circunstâncias fisioló¬
gicas (p. ex., frequência da estimulação, temperatura e inibição
=ÁRMACOS BLOQUEADORES da colinesterase), que normalmente têm um efeito relativamente
NEUROMUSCULARES pequeno sobre a eficiência da transmissão.
Parece que alguns agentes bloqueadores não-despolarizantes
: wman (1990) fez uma boa revisão da farmacologia da função também bloqueiam auto-receptores pré-sinápticos, inibindo,
-
ruromuscular. Os fármacos capazes de bloquear a transmissão dessa forma, a liberação da ACh durante a estimulação repetitiva
;jromuscular agem ou na região pré-sináptica, inibindo a sínte-
do nervo motor (Prior et ai, 1995). Esse fato pode desempenhar
ou a liberação de ACh, ou na região pós-sináptica, que é o sítio
algum papel na produção da "fadiga tetânica" observada com o
.:ição de todos os fármacos clinicamente importantes (com
uso desses fármacos (p. 160).
i ceção da toxina botulínica; veja adiante).
Na prática clínica, o bloqueio neuromuscular é utilizado ape-
-
-
como um adjuvante da anestesia, quando a ventilação artifi-
; liestá disponível; não consiste em uma intervenção terapêuti-
- _ Todos os fármacos empregados atuam interferindo na ação
- -sináptica da ACh e podem ser divididos em duas categorias:
Fármacos que atuam sobre os gânglios
autónomos
-gentes bloqueadores não-despolarizantes (a maioria), que
-gem bloqueando os receptores da ACh (e, em alguns casos,
:loqueando também canais iónicos); Estimulantes ganglionares
ÿ
-gentes bloqueadores despolarizantes, que são agonistas dos Esses compostos englobam a nicotina, o
-eceptores da ACh. dimetilfenilpiperazínio (DMPP).
Tanto os gânglios simpáticos quanto os parassimpáticos
são estimulados, e por isso os efeitos são complexos e
- 35NTES BLOQUEADORES incluem taquicardia e aumento da pressão arterial; efeitos
-O-DESPOLARIZANTES variáveis sobre a motilidade e as secreções gastrintestinais;
856, em um experimento famoso Claude Bernard, mostrou aumento das secreções brônquica, salivar e sudorípara.
; . : : "curare" causa paralisia por bloqueio da transmissão neu- Há efeitos resultantes da estimulação de outras estruturas
- - -scular, e não por abolir a condução nervosa ou a contratili- neuronais, que incluem as terminações nervosas
i muscular. O curare é uma misturade alcalóides de ocorrên- sensitivas e noradrenérgicas.
: - - _iural encontrados em várias plantas daAmérica do Sul e uti- A estimulação dos gânglios pode ser seguida de bloqueio
i : -ios como veneno de flechas por índios sul-americanos. O por despolarização.
- ~ronente mais importante é a tubocurarina, cuja estrutura A nicotina também causa efeitos importantes sobre o siste¬
r jcidadaem 1935.Atualmente, a tubocurarina é muito pouco ma nervoso central.
.
- :idana medicina clínica, pois foi substituída por fármacos Não apresentam uso terapêutico, com exceção da
- r icos com melhores propriedades. Os mais importantes são
nicotina, utilizada como auxílio para o abandono do
:ancurônio, o vecurônio e o atracúrio (Tabela 10.7), que
tabagismo.
:":m principalmente quanto à duração de ação. A galamina
fca rrimeiro sucessor sintético útil da tubocurarina, mas foi
-ruída por compostos com menos efeitos colaterais. Todas Bloqueadores ganglionares
s substâncias são compostos de amónio quaternário, o que Esses compostos englobam o hexametônio, o trimetafano
; rica que elas são pouco absorvidas e em geral rapidamente
ÿ
Tubocurarina Lenta (> 5 min) Longa (1-2 h) Hipotensão (bloqueio ganglionar + Alcalóide vegetal.
liberação de histamina) Atualmente, seu uso é raro
Broncoconstrição (liberação 0 alcurônio é um derivado semi-sintético
de histamina) com propriedades similares, mas
com menos efeitos colaterais
Pancurônio Intermediária (2-3 min) Longa Taquicardia modesta Primeiro composto com base esteróide
Sem hipotensão Melhor perfil de efeitos colaterais que a
tubocurarina
Amplamente utilizado
O pipecurônioé similar
;A Normal
Potencial
Potencial
de ação
de ação
Aspectos farmacocinéticos
Dç -gentes bloqueadores neuromusculares são utilizados princi- 20
:-mente em anestesia para produzir relaxamento muscular. São
._ ministrados por via intravenosa e apresentam diferenças com
_,ãoà velocidade de início da ação e de recuperação (Fig. 10.7
t ~_bela 10.7).
A maioria dos agentes bloqueadores não-despolarizantes é 40
r iubolizada pelo fígado ou excretada de forma inalterada pela Tempo (min)
i_- - a. com exceção do atracúrio, que sofre hidrólise espontânea
!um
camundongo menor que 10"'2 g — que equivale a apenas (Chatonnet & Lockridge, 1989). Ambas são formadas por subu¬
alguns milhões de moléculas. Ela pertence a um grupo de exoto- nidades globulares catalíticas, que constituem as formas solú¬
xinas bacterianas potentes que inclui as toxinas tetânica e diftéri- veis encontradas no plasma (BuChE) e no líquido cefalorraqui-
ca. Essas toxinas possuem duas subunidades, uma das quais se diano (AChE). Em outros locais, as unidades catalíticas encon-
liga a um receptor de membrana e é responsável pela especifici¬ tram-se ligadas a proteínas semelhantes ao colágeno ou a glico-
dade celular. Por meio desse mecanismo, a toxina penetra na lipídeos, por meio dos quais se prendem, como um grupo de
célula, onde a outra subunidade produz o efeito tóxico balões, à membrana das células ou à membranabasal em vários
(Montecucco & Schiavo, 1995). A toxina botulínica contém sítios, que incluem as sinapses colinérgicas (e também, estra¬
vários componentes (A-G), que consistem em peptidases que cli¬ nhamente, a membrana dos eritrócitos, onde a função dessa
vam proteínas específicas envolvidas na exocitose (sinaptobre- enzima é desconhecida).
vinas, sintaxinas etc. — Cap. 9), produzindo, desse modo, um Nas sinapses colinérgicas, a AChE ligada age hidrolisando o
bloqueio de longa duração da função sináptica. Cada componen¬ transmissor liberado e encerra sua ação rapidamente. A AChE
te da toxina inativa uma proteína funcional diferente — um ata¬ solúvel também está presente nas terminações nervosas colinér¬
que notavelmente bem coordenado por uma simples bactéria gicas, onde parece ter um papel na regulação da concentração de
contra um componente vital da fisiologia dos mamíferos. ACh livre,e de onde pode ser secretada; a função daenzima secre-
Aintoxicação botulínica causa paralisia parassimpáticae moto¬ tada ainda não está clara. AAChE é bastante específica para a ACh
ra progressiva, com boca seca, visão turva e dificuldade para deglu¬ e para ésteres muito semelhantes a ela, como a metacolina. Certos
tir, seguidas de progressiva paralisia respiratória. O tratamento com neuropeptídeos, como a substância P (Cap. 16), são inativados
a antitoxina somente é eficaz quando administrado antes do apare¬ pela AChE, porém não se sabe se essa ação tem alguma importân¬
cimento dos sintomas, visto que, após a toxina ligar-se aos recepto¬ cia fisiológica. Em geral, há uma fraca correspondência entre a
res, sua ação não pode mais ser revertida. A mortalidade é elevada, distribuição das sinapses colinérgicas e a da AChE tanto no cére¬
e a recuperação leva várias semanas. Os anticolinesterásicos e os bro quanto na periferia, e é muito provável que a AChE desempe¬
fármacos que aumentam a liberação do transmissor (p. 163) são nhe outras funções, além de neutralizar a ACh, embora os detalhes
incapazes de restaurar a transmissão. Dentreos surtos mais impres¬ permaneçam obscuros (veja revisão de Soreq & Seidman, 200 1).
sionantes de intoxicação botulínica está o incidente ocorrido em A butirilcolinesterase (ou pseudocolinesterase) apresenta urna
Loch Maree, na Escócia,em 1922, quando os oito membros de um ampla distribuição, sendo encontrada em tecidos como fígado,
grupo de pescaria morreram após comerem um patê de pato no pele, cérebro e musculaturaUsa gastrintestinal, bem como no plas¬
almoço. Seus guias, que certamente consumiram menor quantida¬ ma, na sua forma solúvel. Não está particularmente associada às
de, sobreviveram. O dono da hospedaria suicidou-se. sinapses colinérgicas, e sua função fisiológica é incerta. Apresenta
A toxina botulínica, injetada localmente nos músculos, é uti¬ maior especificidade de substrato que a AChE. O substrato sintéti¬
lizada no tratamento de uma forma de espasmo palpebral persis¬ co butirilcolina é hidrolisado mais rapidamente do que a ACh, e o
tente e incapacitante (blefaroespasmo), bem como de outros mesmo ocorre com outros ésteres, como a procaína, o suxametô-
tipos de espasmo muscular local,como, por exemplo, na espasti- nio e a propanidida (um agente anestésico de ação curta; Cap. 36).
cidade (Tsui, 1996). O botox também está em voga como agente Aenzima plasmática tem papel importante na inativação dos fárma¬
eliminador de rugas, que removeas linhas de expressão por meio cos citados. Existem variantes genéticas da BuChE (Cap. 52), as
da paralisia dos músculos superficiais que enrugam a pele. As quais são parcialmente responsáveis pelas variações observadas na
injeções precisam ser repetidas a cada poucos meses a fim de que duração da ação desses fármacos. A duração muito curta da ação da
o efeito perdure. O fato de uma substância ser utilizada tanto em ACh administrada por via intravenosa (Fig. 10.1) é consequência
tratamento de beleza como em forma de arma biológica é um de sua rápida hidrólise no plasma. Normalmente, a AChE e a
estranho reflexo do mundo moderno. BuChE mantêm a ACh do plasma em um nível indetectavelmente
baixo, por essa razão a ACh (ao contrário da noradrenalina) é estri¬
ÿ A p-bungarotoxina é uma proteína presente no veneno de várias
tamente um neurotransmissor e não um hormônio.
serpentes da família das najas e tem ação semelhante à da toxina botu¬ Tanto a AChE quanto a BuChE pertencem à classe das serina
línica, embora seu componente ativo seja uma fosfolipase e não uma
hidrolases, que engloba muitas proteases, entre as quais a tripsi-
peptidase. Esses venenos também contêm a-bungarotoxina (p. 27),
na. O sítio ativo da AChE compreende duas regiões distintas: um
que bloqueia os receptores pós-sinápticos para a ACh, de modo que,
como se vê, esses animais cobrem todas as possibilidades no sentido sítio aniônico (resíduo de glutamato), que se liga à porção básica
de causar paralisia de suas vítimas. (colina) da ACh; e um sítio esterásico (histidina + serina). Como
ocorre com outras serina hidrolases, o grupo ácido (acetil) do
substrato é transferido para o grupo hidroxila da serina, e essa
FÁRMACOS QUE INTENSIFICAM A transferência produz (transitoriamente) uma moléculade enzima
acetilada e uma molécula de colina livre. A hidrólise espontânea
TRANSMISSÃO COLINÉRGICA do grupo acetil da serina ocorre rapidamente, e o número global
Os fármacos que intensificam a transmissão colinérgica atuam de moléculas recicladas (o turnover) de AChE é extremamente
inibindo a colinesterase (o grupo principal) ou aumentando a alto (mais de 10.000 moléculas de ACh hidrolisadas por segundo
liberação de ACh. Neste capítulo, enfocaremos as ações periféri¬ por um único sítio ativo).
cas dessas substâncias; os fármacos que afetam a transmissão
colinérgica do SNC, utilizados no tratamento da demência senil, FÁRMACOS QUE INIBEM A COLINESTERASE
são discutidos no Capítulo 35.
Os agentes anticolinesterásicos de ação periférica podem ser
divididos em três grupos principais de acordo com a natureza de
DISTRIBUIÇÃO E FUNÇÃO DA COLINESTERASE sua interação com o sítio ativo, que determina a duração de sua
Há dois tipos distintos de colinesterase, a acetilcolinesterase ação. A maioria deles inibe a AChE e a BuChE de modo aproxi¬
(AChE) e a butirilcolinesterase (BuChE), que possuem estrutu¬ madamente igual. Os anticolinesterásicos de ação central, desen¬
ras moleculares muito semelhantes, mas que diferem com rela¬ volvidos para o tratamento da demência, são discutidos no
ção à distribuição, à especificidade por substrato e às funções Capítulo 35.
TRANSMISSÃO COLINERGICA 10
Anticolinesterásicos de ação curta (eserina), uma amina terciária, que ocorre naturalmente na fava-
D único fármaco importante entre os anticolinesterásicos de ação de-calabar\
curta é o edrofônio (Tabela 10.8), um composto de amónio qua- Todos esses fármacos são carbamil-ésteres, em vez de acetil-
ernário que se liga apenas ao sítio aniônico da enzima. A ligação ésteres, e possuem grupos básicos que se ligam ao sítio aniônico.
:ònica formada é facilmente reversível, e a ação do fármaco é A transferência do grupo carbamil para o grup» hidroxila da seri¬
T.uito breve. E utilizado principalmente com finalidades diag¬ na do sítio esterásico ocorre da mesma forma que com a ACh,
nosticas, visto que a melhora da força muscular observada com o porém a enzima carbamilada sofre hidrólise muito mais lenta¬
_vO de um anticolinesterásico é característica da miastenia gra¬ mente (Fig. 10.9), levando minutos em vez de microssegundos.
is (p. 165), mas não ocorre quando a fraqueza muscular é resul- Os fármacos anticolinesterásicos são, portanto, hidrolisados,
:ante de outras causas.
Anticolinesterásicos de duração média 3Também conhecida como eserê ou fava-de-ordálio. Na Idade Média,
Os anticolinesterásicos de duração média (Tabela 10.8) englo- os extratos dessas favas eram utilizados para determinar a culpa ou
:j.m a neostigmina e a piridostigmina, que são compostos de inocência de um indivíduo acusado de crime ou heresia. A morte do
ÿmônio quaternário de importância clínica, e a fisostigmina indivíduo indicava que ele era culpado.
HO-
Edrofônio Curta JNM Utilizado principalmente no diagnóstico da miastenia gravis
Ação por demais curta para ter uso terapêutico
CH.
Neostigmina H,C- Média JNM Utilizada por via intravenosa para reverter o
-N-CH;
CH,
bloqueio neuromuscular competitivo
Utilizada por via oral no tratamento da miastenia gravis
Efeitos colaterais viscerais
CH,
H-
H,C
N-ÿN'
Fisostigmína ch, CH, Media Utilizada em forma de colírio no tratamento do glaucoma
3iridostigmina h3cÿ
N-CH, Média JNM Utilizada por via oral no tratamento da miastenia gravis
h,C Mais bem absorvida do que a neostigmina e tem
duração de ação mais prolongada
Diflos H.C'
H3C
V*°F Longa Organofosforado altamente tóxico, com ação
! muito prolongada
H,C Tem sido utilizado em forma de colírio em casos de glaucoma
163
If
OPr
I
HO-P-OPr
Neostigmina I
F Diflos
Enzima
fosforilada
Histidina Ausência de hidró¬
Sítio lise espontânea
aniônico
Sítio
catalítico Glutamato
Serina
Transferência do carbamil
para a -OH da serina Pralidoxima
COO-
Transferênciado
fosfato para -NOH
Carbamil-serina
hidrolisada Enzima
(lentamente) reativada
Fig. 10.9 Ação dos fármacos anticolinesterásicos. Anticolinesterásico reversível (neostigmina): a recuperação da atividade por meio da
hidrólise da enzima carbamilada requer vários minutos. Anticolinesterásico irreversível (diflos): a pralidoxima promove a reativação da enzima fosforilada.
mas a uma velocidade insignificante quando comparados com a semanas. Com outros fármacos, como o ecotiopato, ocorre unit
ACh, e a recuperação lenta da enzima carbamilada indica que a lenta hidrólise no decorrer de alguns dias, de modo que sua açãc
ação desses fármacos é bastante prolongada. não é estritamente irreversível. O diflos e o paration são substân¬
cias apoiares voláteis com alta lipossolubilidade rapidamente
Anticolinesterásicos irreversíveis absorvidas através das membranas mucosas e até mesmo através
Os anticolinesterásicos irreversíveis (Tabela 10.8) são compos¬ da pele íntegra e da cutícula dos insetos; o uso desses agentes
tos de fósforo pentavalente que contêm um grupo lábil, como o como arma química (gases tóxicos) ou como inseticidas baseia-
fluoreto (no diflos), ou um grupo orgânico (no paration e noeco- se nessa propriedade. A ausência de um grupo quaternário que
tiopato). Esse grupo é liberado, deixando fosforilado o grupo confira especificidade indica que a maioria desses fármacos bk -
hidroxila da serina da enzima (Fig. 10.9). A maior parte desses queia outras serina hidrolases (p. ex., tripsinae trombina), emb -
compostos organofosforados — e há muitos deles — foi desen¬ ra seus efeitos farmacológicos decorram principalmente da ini¬
volvida para ser utilizada como arma química, na forma de gases bição da colinesterase.
tóxicos, e como pesticida, mas também para uso clínico; intera¬
gem apenas com o sítio esterásico da enzima e não apresentam Efeitos dos fármacos anticolinesterásicos
um grupo catiônico. O ecotiopato é uma exceção, uma vez que Os inibidores da colinesterase afetam tanto as sinapses colinérg
possui um grupo com nitrogénio quaternário que também se liga cas periféricas quanto as centrais.
ao sítio aniônico. Além disso, alguns compostos organofosforados são capaz e
A enzima fosforilada inativa é geralmente muito estável. de produzir uma forma grave de neurotoxicidade.
Com fármacos como o diflos, não ocorre uma hidrólise apreciᬠEfeitos sobre as sinapses colinérgicas autonômicas. Esse
vel, e a recuperação da atividade enzimática depende de síntese efeitos refletem principalmente o aumento da atividade da AC r.
de novas moléculas da enzima, um processo que pode levar nas sinapses pós-ganglionares parassimpáticas (i. e., aumer.
164
TRANSMISSÃO COLINÉRGICA
aas secreções das glândulas salivares, lacrimais, brônquicas e de modo fatal, após ingestão de suco de fruta contaminado com
gastrintestinais; aumento da atividade peristáltica; broncocons- um inseticida organofosforado, e outros surtos semelhantes já
rição; bradicardia e hipotensão; constrição pupilar; fixação da foram registrados. O mecanismo dessa reação é apenas parcial¬
acomodação da visão para perto; queda da pressão intra-ocular). mente compreendido, mas parece resultar da inibição de uma
Doses grandes são capazes de estimular, e posteriormente blo¬ esterase específica para a mielina (e não da própria colinesterase).
quear, os gânglios autónomos, produzindo efeitos autónomos Os principais usos dos anticolinesterásicos estão resumidos
j omplexos. O bloqueio, quando ocorre, consiste emum bloqueio no quadro clínico.
x>r despolarização e está associado ao acúmulo de ACh no plas¬
ma e nos líquidos orgânicos. A neostigmina e a piridostigmina
:endem a afetar mais a transmissão neuromuscular que o sistema REATIVAÇÂO DA COLINESTERASE
_utônomo, ao passo que a fisostigmina e os organofosforados
A hidrólise espontânea da colinesterase fosforilada é extrema¬
mostram padrão oposto. O motivo não está claro, mas o uso tera¬
mente lenta, o que torna o envenenamento por organofosforados
pêutico tira proveito dessa seletividade parcial.
muito perigoso. Apralidoxima (Figs. 10.9 e 10.10) reativa a
A intoxicação aguda por anticolinesterásicos (p. ex., pelo enzima ao levar um grupo oxima a estreita proximidade do sítio
aontato com inseticidas ou com gases tóxicos utilizados em
esterásico fosforilado. Esse grupo tem forte ação nucleofílica,
ÿrmas químicas) causa bradicardia grave, hipotensão e dificulda¬
que atrai o grupo fosfato e o afasta do grupo hidroxila da serina
de para respirar. Quando ocorre também bloqueio neuromuscu¬ da enzima. A Figura 10.10 mostra a eficácia da pralidoxima na
lar despolarizante e efeitos centrais (veja adiante), o resultado
reativação da atividade da colinesterase plasmática de um indiví¬
pode ser fatal. duo que sofreu envenenamento. A principal desvantagem no
Efeitos sobre ajunção neuromuscular. Os agentes anticoli¬ emprego dessa substância como antídoto para o envenenamento
nesterásicos aumentam a força da contração de um músculo esti¬
por organofosforados consiste no fato de que, em poucas horas, a
mulado por meio de seu nervo motor, graças à descarga repetiti¬ enzima fosforilada sofre alteração química ("envelhecimento")
va na fibra muscular associada a um prolongamento do ppt.
Normalmente, a ACh é hidrolisada tão rapidamente que cada
r>tímulodá início a apenas um potencial de ação na fibra muscu¬
lar. Contudo, quando a AChE está inibida, surge uma curta série
Usos clínicos dos anticolinesterásicos
de potenciais de ação na fibra muscular e, como consequência,
uma tensão maior. Muito mais importante, porém, é o efeito pro¬ Reversão da ação de fármacos bloqueadores
duzido quando a transmissão é bloqueada por um agente blo¬ neuromusculares não-despolarizantes ao término de
queador competitivo, como a tubocurarina. Nesse caso, a adição uma cirurgia (neostigmina).
de um anticolinesterásico pode restaurar drasticamente a trans¬ Tratamento da miastenia gravis (neostigmina ou
missão. Quando um grande número de receptores é bloqueado, a piridostigmina).
maior parte das moléculas de ACh encontrará normalmente Como auxílio diagnóstico de miastenia gravis e para
moléculas de AChE e será destruída por elas antes de alcançar um diferenciar a fraqueza causada por superdosagem de um
receptor vago; a inibição da AChE dá às moléculas de ACh uma anticolinesterásico ("crise colinérgica") da fraqueza
chance maior de encontrar um receptor vago antes de serem des- observada na miastenia propriamente dita ("crise
:ruídas e, como consequência, aumenta o ppt de tal modo que ele miastênica"): edrofônio, um fármaco de ação curta
_:inge o limiar. Na miastenia gravis (veja adiante), a transmissão administrado por via intravenosa.
não ocorre porque há pouquíssimos receptores da ACh, e, nesse Na doença de Alzheimer (p. ex., donepezila; Cap. 35).
;aso, a inibição da colinesterase melhora a transmissão assim No glaucoma (colírio à base de ecotiopato).
:omo faz com o músculo curarizado.
Em grandes doses, como pode acontecer nas intoxicações, os
.-.ticolinesterásicos causam inicialmente espasmos musculares.
:~so ocorre porque a liberação espontânea de ACh pode dar ori¬
gem a ppts que alcançam o limiar de disparo. Posteriormente,
:'de surgir paralisia em decorrência de bloqueio por despolari- Organofosforado (sarin)
:ação, que está associado a um acúmulo de ACh no plasma e nos
líquidos teciduais. Pralidoxima
Efeitos sobre o SNC. Os compostos terciários, como a fisos-
:amina, e os organofosforados apoiares atravessam livremente a
- jreira
100
hematoencefálica e afetam o cérebro. O resultado é uma
: .citação inicial, que pode causar convulsões, seguida de depres¬
são, que pode causar perda da consciência e insuficiência respi-
-ca
_:ória. Esses efeitos centrais resultam principalmente da ativa- E
C/3
ã o de receptores muscarínicos da ACh e são antagonizados pela _C0
Q-
-iropina. O uso de anticolinesterásicos no tratamento da demên- LU
sz
. a senil é discutido no Capítulo 35. O
TO
Neurotoxicidade dos organofosforados. Muitos organofos-
: rados podem provocar um tipo grave de desmielinização dos
- :-rvos periféricos, que causa fraqueza e comprometimento sen- 30 60
- nal progressivos. Esse problema não é observado com os anti- < Tempo (min)
. : linesterásicos utilizados na clínica, mas ocorre ocasionalmente Fig. 10.10 Reativação da colinesterase (ChE)
- : envenenamento acidental por inseticidas. Em 193 1 , cerca de
plasmática em um voluntário por injeção intravenosa
1 .000 indivíduos nos Estados Unidos foram intoxicados, alguns de pralidoxima. (Redesenhado de Sim V M 1965 JAMA 192: 404.)
165
SEÇÃO 2 m MEDIADORES QUÍMICOS
mente falha, e a miastenia gravis é um dos pouquíssimos distúrbios cido como um agente bloqueador ganglionar, era capaz de reverter o
166
TRANSMISSAO COLINERGICA
bloqueio neuromuscular provocado pela tubocurarina. e demons- são consideravelmente mais potentes e seletivas emsuas ações do que
trou-se que isso ocorria porque esse agente aumentava a liberação do o tetraetilamônio. Esses fármacos não são seletivos para os nervos
transmissor desencadeada por estimulação nervosa. Posteriormente, colinérgicos, mas aumentam a liberação induzida de muitos trans¬
constatou-se que as aminopiridinas, que bloqueiam os canais de missores diferentes. Por essa razão, eles provocam efeitos indeseja¬
potássio (Cap. 4) e, consequentemente, prolongam o potencial de dos em demasia para serem úteis no tratamento de distúrbios neuro-
ação na terminação nervosa pré-sináptica, atuam de modo similar e musculares.
167