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Não erraria totalmente se dissesse que vivemos a Era da Raiva. Tentando verificar a
aprovação social das manifestações da Raiva, quatro estudos examinaram a consideração
social que o sistema atribui para as pessoas “raivosas”. Esses estudos mostram que o povo
atribui mais status às pessoas que expressam Raiva do que às pessoas que expressam
tristeza ou mágoa. No primeiro estudo, os participantes aprovaram mais o presidente Clinton
quando o viram expressar Raiva sobre o escandalo de Monica Lewinsky do que quando o
viram expressar tristeza ou mágoa.
Este efeito Raiva-tristeza foi confirmado num segundo estudo que envolveu um político
desconhecido. O terceiro estudo mostrou que, em uma empresa, conferir alguma distinção
esteve correlacionado com as avaliações de uns companheiros sobre a Raivamanifestada
pelos outros, objetos da distinção.
No estudo final, os participantes atribuíram um salário mais elevado posição, bem como um
status mais elevado a um candidato ao emprego que se mostrasse mais irritado que triste.
Além disso, os estudos de número 2 e 4 mostraram que as expressões de Raivacriam a
impressão que a pessoa raivosa é mais competente (Tiedens, 2001).
Ódio
A força do ódio é muito grande. Grandes grupamentos humanos podem se irmanarem através
do ódio (à um inimigo comum) ou se destruírem (numa relação do tipo perseguido-
perseguidor). De qualquer forma, o ódio tem uma predileção especial para se nutrir das
diferenças entre o outro e o eu e, de acordo com observações clínicas, onde se cruza com o
ódio há, inelutavelmente, um excesso de sofrimento físico e psíquico. O sofrimento e o ódio
são tão próximos e íntimos que cada um acaba se tornando a causa do outro.
"Amar ao próximo tem sido dito como a lei suprema, mas qual poder fez isso assim? Sobre que
autoridade racional o evangelho do amor se abriga?” Mais uma; “Por que eu não deveria odiar
os meus inimigos - se o meu amor por eles não tem lugar em sua misericórdia? Não somos
todos nos animais predatórios por instinto? Se os homens pararem de depredar os outros, eles
poderão continuar a existir?” E, finalmente, “odeie seus inimigos na totalidade do seu coração
e, se um homem lhe da uma bofetada, de-lhe outra!; atinja-o dilacerando e desmembrando-o,
pois autopreservação e a lei suprema!”
Como vimos, esses (poucos) postulados parecem mais terem sido tirados da fisiologia humana
que de uma doutrina satânica. Preferível seria dizermos “da fisiopatologia humana”. Mas, se as
pessoas têm certa dificuldade em entenderem o aspecto patológico desses sentimentos e
atitudes do ser humano, quer por agnosticismo, quer por recionalismo, então vamos encontrar
na medicina psicossomática e psiquiátrica os elementos necessários para se estabelecer
algum tipo de associação ente o sofrimento (físico e psíquico) e os sentimentos, emoções,
pulsões e impulsos primitivos.
Isso significa que a Raiva e o Ódio não seriam contra-indicados ao ser humano apenas devido
ao seu aspecto moral ou ético mas, sobretudo, devido ao seu aspecto médico.
A Raiva e o Coração
A Raiva de fato mata ou, pelo menos, aumenta significativamente os riscos de ter algum
problema sério de saúde, onde se inclui desde uma simples crise alérgica, uma grave úlcera
digestiva, até um fulminante ataque cardíaco.
Janice Williams acompanhou por seis anos 13.000 homens e mulheres com idade entre 45 e
64 anos e, tomando o comportamento como base, descobriu que as pessoas que se irritam
intensamente, e com freqüência, têm três vezes mais probabilidades de sofrer um infarto do
que aquelas que encaram as adversidades com mais serenidade (Williams, 2000).
Isso ocorre porque, a cada episódio de Raiva, o organismo libera uma carga extra de
adrenalina no sangue (veja o que acontece nas Suprarenais durante o Estresse). O aumento
da concentração de adrenalina aumenta o número de batimentos cardíacos e,
simultaneamente, torna mais estreitos os vasos sanguíneos, o que aumenta a pressão arterial.
A repetição desses episódios pode gerar dois problemas em geral associados ao infarto;
alteração do ritmo cardíaco (arritmia), aumento da pressão arterial e uma súbita dilatação das
placas de gordura que, porventura, estejam nas artérias.
A ansiedade e a Raiva são perigosas à saúde. Um recente artigo de Suinn oferece uma
revisão seletiva da pesquisa nessa área e ilustra como a ansiedade e a Raivaaumentam a
vulnerabilidade às doenças, comprometem o sistema imune, aumentam níveis de gordura no
sangue, exacerbam a dor, e aumentam o risco da morte por doença cardiovascular. Os
mecanismos possíveis para tais efeitos foram identificados por , incluindo o papel da resposta
cardiovascular a essas emoções no agravamento da saúde (Suinn, 2001).
As pessoas cuja personalidade se classifica como Pavio Curto têm muito mais chances de
sofrer do coração. Parar de fumar, fazer exercícios regularmente e ter uma alimentação
saudável já é difícil, hoje em dia, dominar a Raiva, é mais difícil ainda. Mas é possível, graças
à Deus.
Raiva e Ódio
O Ódio é mais profundo que a Raiva. Enquanto a Raiva seria predominantemente uma
emoção, o Ódio seria, predominantemente, um sentimento. Paradoxalmente podemos dizer
que o ódio é um afeto tão primitivo quanto o amor. Tanto quanto o amor, o ódio nasce de
representações e desejos conscientes e inconscientes, os quais refletem mais ou menos o
narcisismo fisiológico que nos faz pensar sermos muito especiais.
Assim como acontece com o amor, só odiamos aquilo que nos é muito importante. Não há
necessidade de ser-nos muito importantes as coisas pelas quais experimentamosRaiva,
entretanto, para odiar é preciso valorizar o objeto odiado.
A teoria do Sujeito-Objeto, diadaticamente coloca a idéia de que existem apenas duas coisas
em nossa existência, eu, o sujeito e o não-eu, o objeto. E tudo o que sentimos, desde nosso
nascimento, são emoções e sentimentos em resposta ao objeto. Para que essa teoria possa ter
utilidade é imprescindível entendermos como objeto tudo aquilo que não é o sujeito, mais
precisamente, tudo aquilo que não é minha pessoa.
De qualquer forma, o mundo objectual (do não-eu) só pode ter o valor que o sujeito atribui.
Para o sujeito nutrir sentimentos de ódio, é indispensável que atribua ao objeto de seu ódio um
valor suficiente para fazê-lo reagir com esse tipo de sentimento. Obviamente, se ignorar o valor
do objeto não poderá odiá-lo.
Em termos práticos podemos dizer que a Raiva, como uma emoção, não implica em mágoa,
mas em estresse, e o ódio, como sentimento, implica numa mágoa crônica,
numa angústia e frustração. Nenhum dos dois é bom para a saúde; enquanto a Raiva, através
de seu aspecto agudo e estressante proporciona uma revolução orgânica bastante importante
e suficiente para causar um transtorno físico agudo, do tipo infarte ou derrame (AVC),
o ódio consome o equilíbrio interno cronicamente e é mais compatível com o câncer, com
arteriosclerose, com a diabetes, hipertensão crônica.
Na escola esse grupo tinha, em média, notas piores que o Grupo da Não Raiva, se sentiam
mais oprimidos e usavam maconha mais freqüentemente. O mais interessante, entretanto, é
que os resultados dessa análise revelaram ser a Depresão o preditor mais significativo para o
desenvolvimento do traço da Raiva (Silver, 2000).
Outra investigação avaliou se as pessoas que haviam perpetrado algum tipo de violência,
poderiam ser diferenciadas de pessoas não violentas através de medidas da Raiva e da
distorção cognitiva. Vê-se, como já se suspeita pelo bom senso, que as pessoas violentas
tiveram níveis bem mais elevados de Raiva dirigida ao exterior do que os participantes não
violentos.
Quando algum teste mostrava não haver diferença entre níveis da Raiva entre os participantes
violentos e não violentos, além do ato agressivo, os resultados sugeriam que os indivíduos
mais violentos têm dificuldade em controlar sentimentos de irritabilidade e, por isso, muito mais
facilidade em expressar a Raiva. Nenhuma diferença significativa surgou com relação à
racionalidade e intelectualidade dos dois grupos (Dye,2000).
para referir:
Ballone GJ -Raiva e Ódio - Emoções Negativas in. PsiqWeb, Internet - disponível
emhttp://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2006
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