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TERCEIRA SECRETARIA
Assessoria Legislativa - ASSEL
Unidade de Saúde, Educação, Cultura e Des. Científico e Tecnológico - USE
NOTA TÉCNICA
18/08/2015
Esta Assessoria foi requisitada, pelo Gabinete do Deputado Joe Vale a elaborar
minuta de Projeto de Lei para estabelecer a Política Distrital de Ciência e Tecnologia,
conforme Solicitação de Serviço nº 952/2011.
Todavia, por uma questão de prudência, sugerimos, nesta Nota Técnica,
encaminhamento diverso da imediata elaboração da referida minuta de proposição.
A razão para isso funda-se no entendimento de que a definição de uma política
pública abrangente de toda uma área da vida social e da ação estatal – por natureza,
multidisciplinar e multiprofissional, com efeitos duradouros e extensivos sobre o
conjunto do território e da população do Distrito Federal, não deve ser obra de um
gabinete parlamentar e muito menos de uma assessoria legislativa, mas deve ser
construída com a mais ampla participação dos diversos segmentos e atores sociais
envolvidos ou potencialmente afetados por essa política.
Essa política, na medida em que visa a orientar a ação governamental para a
promoção do desenvolvimento socioeconômico do Distrito Federal, deve observar, a
teor do art. 165 da LODF:
I – as demandas da sociedade civil e os planos e políticas econômicas e sociais de
instituições não governamentais que condicionem o planejamento governamental;
II – as diretrizes estabelecidas no plano diretor de ordenamento territorial e nos
planos de desenvolvimento locais, bem como ações de integração com a região do
entorno do Distrito Federal;
III – os planos e as políticas do Governo Federal;
IV – os planos regionais que afetem o Distrito Federal;
V – a singular condição de Brasília como Capital Federal;
VI – a compatibilização do ordenamento de ocupação e uso do solo com a concepção
urbanística do Plano Piloto e das cidades-satélites e com a contenção da
especulação, da concentração fundiária e imobiliária e da expansão desordenada da
área urbana;
VII – a condição de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade;
VIII – a concepção do Distrito Federal que pressupõe limitada extensão territorial
como espaço modelar;
IX – a superação da disparidade sociocultural e econômica existente entre as Regiões
Administrativas;
X – a concepção do Distrito Federal como polo científico, tecnológico e cultural;
XI – a defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, em harmonia com a
implantação e a expansão das atividades econômicas, urbanas e rurais;
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Ver, a propósito, o esclarecedor estudo do Consultor Legislativo do Senado Federal, João Trindade
Cavalcante Filho, “Limites da Iniciativa Parlamentar sobre Políticas Públicas. Uma proposta de releitura
do art. 61, § 1º, II, e, da Constituição Federal”, em http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-
legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td-122-limites-da-iniciativa-parlamentar-sobre-
politicas-publicas-uma-proposta-de-releitura-do-art.-61-ss-1o-ii-e-da-constituicao-federal.
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E não se trata apenas da adequação formal do que por ventura vier a constar
em uma política de ciência e tecnologia para o Distrito Federal com o que está previsto
para o conjunto da estratégia de desenvolvimento distrital, mas sim da própria feição
que essa área deve assumir à luz das diretivas estratégicas emanadas desse
planejamento global para o DF.
No programa de governo do atual Chefe do Poder Executivo, a área de ciência
e tecnologia é tratada da seguinte maneira:
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
O Distrito Federal é a unidade da federação com o maior índice de escolaridade do
país. Porém, tal potencial ainda não se traduz em um destaque equivalente na
geração de produtos e serviços baseados em inovação, de maior valor agregado e
que gerem emprego e renda qualificados. A falta de investimentos e estímulos em
todo o ciclo de desenvolvimento da inovação faz com que muitos talentos de Brasília
tenham de procurar outros centros, e até mesmo outros países, para exercitar o seu
potencial empreendedor. A recente aprovação pela Câmara Legislativa do Distrito
Federal de Emenda à Lei Orgânica que aumenta gradualmente os investimentos na
FAPDF até o patamar de 2% da receita corrente líquida do Distrito Federal
representa uma enorme oportunidade para Brasília. É preciso criar as estruturas e
desatar os entraves burocráticos, de forma a aproveitar ao máximo esse valioso
recurso para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação em Brasília.
Desde a criação de Brasília, a dinâmica econômica do Distrito Federal tem sido
baseada nos empregos e contratações realizados pela administração pública. Fora
da atividade pública, destaca-se na atividade econômica o peso do comércio e da
prestação de serviços. Para gerar maior dinamicidade econômica, com
competitividade para exportação e geração de empregos qualificados, é fundamental
que se incorporem no sistema produtivo de Brasília novas tecnologias produtivas e
de gestão.
A ciência, a tecnologia e a inovação devem ser incorporadas à estratégia de
desenvolvimento de Brasília. Essa área precisa assumir posição de destaque,
servindo como instrumento orientador de políticas públicas de promoção do
desenvolvimento, de geração de emprego e renda e de melhoria dos serviços
públicos, especialmente da educação, da saúde e da segurança pública. Com isso,
haverá oportunidades de agregar valor à produção econômica e, em consequência,
de qualificar o desenvolvimento de Brasília, inovando em processos, práticas e
produtos.
OBJETIVOS
o Garantir a efetiva aplicação dos recursos destinados à Ciência, Tecnologia e
Inovação, evitando cortes nos repasses.
o Reestruturar a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF),
melhorando a infraestrutura, ampliando e qualificando o quadro de pessoal.
o Estimular as inovações locais no setor produtivo por meio de um programa de
encomendas tecnológicas de Brasília, investindo também em tecnologias sociais que
aumentem a qualidade de vida da população.
o Transformar Brasília em uma área destacada pela grande capacidade de inovação e
alta concentração de empresas de tecnologia e centros de ensino tecnológico.
o Promover acesso ao crédito, em especial para micro e pequenas empresas, e
estimular a inovação e o empreendedorismo tecnológico, a fim de viabilizar
investimentos de empresas intensivas em conhecimento, com ênfase em
empreendimentos sustentáveis.
o Instalar infraestrutura de comunicação de alta velocidade que permita a prestação
de serviços públicos por meio digital e o acesso à Internet para órgãos do governo,
entidades comunitárias e para a população.
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Já o art. 195 da LODF, cuja redação original mandava destinar à FAPDF uma
dotação mínima de 2% da receita orçamentária do DF, teve sua redação alterada pela
Emenda à Lei Orgânica-ELO nº 54/2009, que reduziu essa dotação para 0,5% da
Receita Corrente Líquida-RCL do DF, e viu sua redação ser novamente alterada pela
ELO nº 69/2013, passando essa dotação mínima a 2% da RCL, como se vê a seguir:
Art. 195. O Poder Público instituirá e manterá Fundação de Apoio à Pesquisa –
FAPDF, atribuindo-lhe dotação mínima de dois por cento da receita corrente líquida
do Distrito Federal, que lhe será transferida mensalmente, em duodécimos, como
renda de sua privativa administração, para aplicação no desenvolvimento científico
e tecnológico. (Artigo com a redação da Emenda à Lei Orgânica nº 69, de 2013.) 2.
Todavia, o art. 2º da ELO nº 69/2013, prevê que
o aumento no percentual promovido por esta Emenda à Lei Orgânica
deve ser implementado gradativamente, acrescendo-se ao percentual
de cinco décimos por cento:
I – um décimo de ponto percentual no exercício financeiro de 2014;
II – dois décimos de ponto percentual ao ano, a partir do exercício
financeiro de 2015, até atingir o percentual fixado por esta Emenda à
Lei Orgânica.
Quer dizer, o mandamento da LODF é para que a dotação orçamentária
mínima destinada à FAPDF corresponda, neste ano de 2015, a 0,8% da RCL, e no ano
que vem (2016), a 1% dessa receita. E atinja nos anos subsequentes o montante
correspondente a 1,2% (2017), 1,4% (2018), 1,6% (2019), 1,8% (2020), até alcançar,
finalmente, os 2% da RCL, em 2021.
Ainda como diretrizes e parâmetros a serem observados na elaboração da
política distrital de ciência e tecnologia, têm-se os seguintes dispositivos da LODF:
Art. 196. O Poder Público apoiará e estimulará instituições e empresas que
propiciem investimentos em pesquisa e tecnologia, bem como estimulará a
integração das atividades de produção, serviços, pesquisa e ensino, na forma da lei.
Parágrafo único. A lei definirá benefícios a empresas que propiciem pesquisas
tecnológicas e desenvolvimento experimental no âmbito da medicina preventiva e
terapêutica e produzam equipamentos especializados destinados ao portador de
deficiência.
Art. 197. O Distrito Federal criará, junto a cada polo industrial ou em setores da
economia, núcleos de apoio tecnológico e gerencial, que estimularão:
I – a modernização das empresas;
II – a melhoria da qualidade dos produtos;
III – o aumento da produtividade;
IV – o aumento do poder competitivo;
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Texto original: Art. 195. O Poder Público instituirá e manterá Fundação de Apoio a Pesquisa –
FAPDF, atribuindo-lhe dotação mínima de dois por cento da receita orçamentária do Distrito Federal,
que lhe será transferida mensalmente, em duodécimos, como renda de sua privativa administração,
para aplicação no desenvolvimento científico e tecnológico.
Texto alterado: Art. 195. O Poder Público instituirá e manterá Fundação de Apoio à Pesquisa –
FAPDF, atribuindo-lhe dotação mínima de 0,5% (cinco décimos por cento) da receita corrente líquida
do Distrito Federal, que lhe será transferida mensalmente, em duodécimos, como renda de sua privativa
administração, para aplicação no desenvolvimento científico e tecnológico. (Artigo com a redação da
Emenda à Lei Orgânica nº 54, de 2009.)
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Com respeito a isso, observa-se que a CLDF requereu, em 22/04/2015, informações à Secretaria de
Estado de Ciência Tecnologia e Inovação a respeito da existência e/ou aplicação de plano de gestão
estratégica, mediante a aprovação do Requerimento nº 359/2015, de autoria do Deputado Joe Valle,
não se tendo notícia nesta Assessoria do atendimento ao mesmo.
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Inspetoria de Controle Externo.
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5/2011, que deu origem à ELO nº 69, de 7/11/2013, que consagra a situação atual de
destinação mínima de 2% da receita corrente líquida do Distrito Federal para a FAPDF,
com o aumento anual gradativo mencionado, até atingir esse percentual.
Pudemos verificar que o próprio Deputado solicitante requereu, juntamente
com o Deputado Wasny de Roure, a realização de Audiência Pública para debater o
tema da Ciência e Tecnologia (Requerimento nº 1.825/2012), sessão esta realizada
em 17/10/2012, contando com a participação de representantes da Secretaria de
Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do DF-SECT, da Fundação de Apoio à
Pesquisa do Distrito Federal-FAPDF, da Universidade de Brasília-UnB, da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, da Embrapa Hortaliças e da Rede Pró-
Centro-Oeste de Pesquisa e Inovação.
Nessa Audiência Pública, denominada “em defesa da ciência e da tecnologia
no DF”, os dois pontos principais em discussão foram a redução de recursos financeiros
para a área, especialmente para a FAPDF, com o consequente cancelamento de editais
e a paralização de projetos de pesquisa, e o desvio de finalidade na aplicação desses
recursos, muitas vezes orientados a ações como inclusão digital e bolsas de
graduandos em faculdades privadas, em detrimento do financiamento aos projetos de
pesquisa científica no DF.
Finalmente, em 14/10/2014, foi registrada na Casa a Frente Parlamentar da
Ciência, Tecnologia e Inovação, fruto da aprovação do Requerimento nº 3.372/2014,
de autoria do Deputado Joe Valle. Tal requerimento incorporou Carta Aberta da
comunidade científica à CLDF que propugna por ações em vinte e um temas
prioritários: 1. Elaboração de Plano de Estado do DF para CT&I (20 anos); 2.
Reformulação e renovação do CONCITI (Conselho Distrital de Ciência e Tecnologia);
3. Autonomia para a FAPDF; 4. Especificação orçamentária para a FAPDF; 5.
Implantação da Universidade Distrital; 6. Definição de plano de gestão, modernização
e desburocratização para instituições públicas de CT&I no GDF; 7. Modernização dos
marcos regulatórios e arranjos jurídicos; 8. Estabelecimento de política integrada para
a implantação de parques tecnológicos; 9. Desenvolvimento de política de atração do
setor produtivo industrial de base tecnológica; 10. Estabelecimento de políticas para o
desenvolvimento, fomento e utilização de tecnologias sociais; 11. Utilização de
princípios e conhecimentos da CT&I nos órgãos do GDF; 12. Criação de um orçamento
próprio para CT&I formado por emendas parlamentares da bancada Distrital e Federal;
13. Implantação de política integrada para o fomento e incentivo ao
empreendedorismo em CT&I; 14. Implantação de política de atração do setor
produtivo das microempresas de base tecnológica; 15. Apoio e fomento para a difusão,
informação e comunicação dos assuntos de CT&I; 16. Estabelecimento de política para
a internacionalização das atividades de CT&I; 17. Ampliação da relação com o Governo
Federal para políticas de CT&I; 18. Implantação do estudo de conteúdos de CT&I no
ensino fundamental e médio; 19. Implantação de políticas de desenvolvimento de
mão-de-obra para o longo prazo; 20. Apoio na realização de eventos para a
popularização da CT&I e 21. Estabelecimento de políticas de apoio e fomento para
tecnologias sustentáveis5.
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http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=8959#
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Duas fontes úteis para a identificação de outras entidades potencialmente importantes para participar
desse debate são a Rede Inovação (http://www.rededeinovacao.org.br/parceiros/ICTs.aspx) e o
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (http://www.mcti.gov.br/entidades-vinculadas1).
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Por conta da conveniência de impulsionar parcerias público-privadas.
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Conforme o Processo nº 1.066/02, do TCDF, anteriormente referido (ver DODF nº 107, de 5/6/2003,
Seção 1, p. 39).
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