Professor Sérgio Vasconcelos
Ciências da Natureza e
suas Tecnologias
BIOLOGIA
OS MICRÓBIOS E A OBESIDADE
Hóspedes do corpo humano podem estar envolvidos
em distúrbios do peso
O corpo humano hospeda uma imensa quantidade de
microrganismos, em especial nos intestinos. Esses nossos
‘companheiros’ podem participar de diferentes processos biológicos
e são normalmente benéficos, mas também podem provocar doenças
ou colaborar em seu surgimento. Estudos recentes indicaram que
mais uma doença pode ser associada a alterações nas populações
de microrganismos que carregamos conosco: a obesidade.
A importância da participação dos micróbios na vida humana já é
reconhecida há muitos anos. Na indústria, micróbios são utilizados com
frequência na fabricação de alimentos, na degradação de contaminantes
ambientais e em outros processos. Além disso, muitos consideram os
microrganismos vilões da saúde humana, por estarem envolvidos em
grande variedade de processos patológicos. Entretanto, avanços na
pesquisa científica continuam a desvendar inúmeras atividades benéficas
desses minúsculos seres para a saúde humana.
Nosso corpo é habitado por uma população de microrganismos
extremamente variada e muito complexa, incluindo bactérias, vírus e
protozoários. Para dar uma ideia da dimensão da presença desses
seres no organismo humano, é estimado que o número de micróbios que
colonizam o corpo de uma pessoa é 100 vezes maior que o número de
estrelas em todo o universo! Isso significa que, se somarmos os micróbios
presentes em todos os seres humanos, chegaremos a 600 sextilhões (ou
seja, o número 6 seguido de 23 zeros).
Embora os microrganismos estejam distribuídos por todo o corpo,
ocorrem em maiores concentrações no trato gastrointestinal. Em nossos
intestinos, há 10 vezes mais bactérias do que o número total de células
humanas em todo o corpo. Além disso, considerando o número total de
genes microbianos ‘hospedados’ em nossos intestinos, temos 100 vezes
mais genes bacterianos do que humanos em nosso organismo. Em outras
palavras, o conjunto de genes existentes dentro do espaço delimitado por
nossa pele é apenas 1% humano e 99% microbiano!
nº 04
Associação com doenças
Os microrganismos do intestino são fundamentais para a saúde
humana. Eles são essenciais para a absorção dos alimentos, a maturação
do nosso sistema imunológico, a proteção contra doenças, a produção de
vitaminas e outros processos. A importância desses seres microscópicos
para a manutenção de nossa saúde é exemplificada pelo grande número
de doenças causadas não pelos micróbios em si, mas pelo desequilíbrio
das populações microbianas benéficas que habitam nosso corpo. É bem
estabelecido atualmente, por exemplo, que alterações na composição
dos micróbios intestinais estão associadas à síndrome do intestino
irritável. Além disso, micróbios intestinais já foram associados a doenças
tão diversas como asma, diabetes e até autismo, embora alguns desses
resultados ainda estejam em debate.
Recentemente, mais um item foi adicionado a essa lista de doenças:
a obesidade. Essa doença – que só começou a ser considerada um sério
problema de saúde pública na década de 1990, quando a Organização
Mundial de Saúde (OMS) fez o primeiro levantamento global sobre o tema
– era associada aos hábitos alimentares ou, mais recentemente, a fatores
genéticos (ver ‘O que é obesidade’). Agora, uma nova causa potencial foi
proposta: alterações nas populações intestinais de microrganismos.
“A obesidade gera alterações
significativas nas populações
microbianas intestinais.”
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade
Washington, em Saint Louis (Estados Unidos), acompanharam o
desenvolvimento de camundongos criados em condições assépticas, que
não tinham micróbios em seus organismos, e de camundongos criados
normalmente e expostos aos micróbios de suas mães e do ambiente, e
comprovaram que os ‘esterilizados’, embora comessem mais ração do
que os ‘colonizados’, mantinham peso menor que estes. Isso poderia
decorrer do fato de que os micróbios intestinais auxiliam na absorção de
nutrientes. De fato, estudos do mesmo grupo de pesquisa demonstraram
que a obesidade, em camundongos e em humanos, gera alterações
significativas nas populações microbianas dos intestinos. Além disso,
os cientistas transferiram as populações que se desenvolveram em
camundongos obesos para outros, magros, e após esse procedimento os
últimos tiveram aumento significativo no peso.
Novas formas de combate
Em 2005, a OMS estimou que, em todo o mundo, cerca de 1,6 bilhão
de pessoas estavam acima do peso e que, desse total, 20 milhões eram
crianças com menos de cinco anos. Esses números são alarmantes:
o primeiro representa cerca de 25% da população mundial. Segundo
estimativas da OMS, o número de pessoas acima do peso em 2015
ultrapassará 2,3 bilhões.
 Ciências da Natureza e
suas Tecnologias
A epidemia de obesidade que atualmente assola a humanidade tem
uma causa facilmente identificada nas mudanças que ocorreram em
nossos hábitos alimentares nas últimas décadas. O aumento do consumo
de alimentos processados e com altos teores de gordura e açúcares
contribuiu, sem dúvida, para esse fenômeno. Entretanto, pesquisas
avançadas, como as mencionadas no texto, indicam que podem existir
outros mecanismos menos óbvios que levem a um aumento na taxa de
obesidade mundial.
A melhoria das condições sanitárias da população mundial,
aliada ao emprego indiscriminado de desinfetantes e antibióticos, vem
provocando uma grande mudança na maneira como os seres humanos
interagem com seus micróbios. É crucial que a sociedade, armada com
o conhecimento gerado por pesquisas como as descritas no texto, se
mantenha alerta para desenvolver novas maneiras de combater essas
anomalias do novo milênio. A manipulação de nossos micróbios poderá,
no futuro, servir para prevenir ou curar tanto a epidemia de obesidade
que se espalha no mundo atual, em especial nos países desenvolvidos,
quanto a desnutrição que aflige nações mais pobres.
O que é obesidade
Sobrepeso e obesidade são definidos pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) como “acúmulo de gordura anormal ou
excessivo, que apresenta riscos à saúde”. Uma medida simples
de obesidade é o Índice de Massa Corporal (IMC), no qual o
peso de um indivíduo (em quilos) é dividido pelo quadrado de sua
altura (em metros). Considera-se que indivíduos com IMC de 30
ou mais são obesos e que aqueles com IMC entre 25 e 29 têm
sobrepeso. Tanto o sobrepeso quanto a obesidade, segundo a
OMS, “são fatores de risco importantes para diversas enfermidades
crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer”.
A obesidade é apontada hoje como uma doença epidêmica.
ANTUNES, Luís C. M. Ciência Hoje.
Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, um alimento só pode
ser considerado “zero trans” quando contiver quantidade menor ou igual
a 0,2 g desse nutriente, não sendo recomendado consumir mais que
2 g de gordura trans por dia. O quadro abaixo representa um rótulo de
um biscoito comercialmente vendido que atende às especificações do
porcentual de gorduras trans, exigidas pela nova legislação brasileira.
Informação nutricional
Porção de 30 g (2 biscoitos)
Quantidade por porção
Carboidratos 19 g
Gorduras totais 7,3 g
Gordura saturada 3,4 g
Gordura trans 0,5 g
As informações apresentadas permitem concluir que o consumo
diário excessivo do biscoito poderia provocar alteração de:
A) triglicéride, reduzindo sua concentração plasmática.
B) triacilglicerol, diminuindo sua síntese no tecido adiposo.
C) LDL-colesterol, aumentando sua concentração plasmática.
D) HDL-colesterol, elevando sua concentração plasmática.
E) colesterol, reduzindo sua concentração plasmática.
03. Lipoproteínas são proteínas transportadoras de lipídios na
corrente sanguínea. O esquema adiante representa a captação
hepática e o controle da produção dessas lipoproteínas que
podem ser: de baixa densidade (LDL), de muito baixa densidade
(VLDL), de densidade intermediária (IDL) e ainda a de alta
densidade (HDL), que não está representada no desenho. Com
base na figura e em seus conhecimentos, assinale a afirmativa
incorreta.

Exercícios

01. Acredita-se que 75% das mortes no mundo são causadas por
doenças crônicas, como diabetes, câncer e complicações
cardíacas (Diet, nutrition and the prevention of cronic diseases).
A comida, sobretudo a industrializada, tem sido apontada
como a principal causa dessas enfermidades. A molécula de
colesterol, considerada prejudicial em grandes quantidades, e
as moléculas constituintes dos lipídios considerados “bons”
para a saúde, são, respectivamente:
A) colesterol HDL; ácidos graxos insaturados.
B) colesterol HDL; ácidos graxos saturados.
C) colesterol HDL; ácidos graxos poli-insaturados. A) Altos níveis plasmáticos de LDL favorecem a redução dos riscos
D) colesterol LDL; ácidos graxos saturados. de enfarto do miocárdio.
E) colesterol LDL; ácidos graxos linoleico e oleico. B) Em uma dieta rica em colesterol, o fígado fica repleto de
colesterol, o que reprime os níveis de produção de receptores de
02. Leia as informações a seguir. LDL.
A ingestão de gordura trans promove um aumento mais C) A deficiência do receptor, por origem genética ou dietética, eleva
significativo na razão: lipoproteína de baixa densidade/lipoproteína de os níveis plasmáticos de LDL.
alta densidade (LDL/HDL), do que a ingestão de gordura saturada. D) Em uma dieta normal, a VLDL é secretada pelo fígado e
Aued-Pimentel, S. et al. Revista do Instituto Adolfo Lutz,
convertida em IDL nos capilares dos tecidos periféricos.
62 (2):131-137, 2003. [Adaptado].

2 FB NO ENEM
 Ciências da Natureza
Linguagens, Códigos e
Suas
suas Tecnologias
04. (C3, H10, ECOLOGIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS) A agricultura,
apesar de ser uma atividade humana importantíssima para a
sobrevivência de nossa espécie, vem provocando, juntamente Anotações
com o desmatamento, um aumento das taxas de erosão.
Grande parte dos solos cultiváveis do planeta já foi destruída
pela erosão, principalmente após a II Guerra Mundial. Além
dos problemas causados à própria atividade agrícola, a erosão
provoca grandes danos ambientais, como o assoreamento de
várzeas, açudes, riachos e rios.

Uma das práticas utilizadas para minimizar a erosão consiste em:

A) substituir a mão de obra humana por máquinas pesadas.
B) usar intensivamente produtos químicos no controle das ervas
daninhas, para permitir, assim, que o solo absorva rapidamente
a água, impedindo o deslocamento superficial da água.
C) fazer o cultivo das plantas em curva de nível e usar culturas de
cobertura, o que protegerá o solo da ação erosiva das chuvas.
D) fazer o plantio em épocas sem chuva.
E) eliminar a vegetação de áreas com declividade acentuada para
permitir a drenagem da água.

05. (C4, H14, ECOLOGIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS) O filme

Os pássaros de Alfred Hitchcock, considerado o mestre dos
filmes de suspense, baseou-se em um fato real ocorrido na
cidade costeira de Santa Cruz (Califórnia), em 1961. As aves
marinhas, ao se alimentarem de moluscos, passaram a exibir um
comportamento atípico devido à ação de toxinas. No fato real,
os dinoflagelados tóxicos eram os verdadeiros responsáveis
pelas alterações observadas nos pássaros, que ficavam cegos
devido à ação neurotóxica dessas substâncias.

Sobre esse acontecimento, afirma-se que:

A) pássaros não comem moluscos, nem moluscos ingerem ou
armazenam dinoflagelados, o que torna a narrativa irreal.
B) muitas algas e flagelados marinhos produzem toxinas, mas
essas substâncias jamais poderiam percorrer a cadeia alimentar
e chegar aos pássaros.
C) dinoflagelados não possuem substâncias tóxicas, o que é
comprovado cientificamente.
D) o consumo de dinoflagelados tóxicos, armazenados em
moluscos filtradores, ocasiona alterações no comportamento e
até a morte de peixes, aves e mamíferos.
E) moluscos filtradores não estão disponíveis em regiões costeiras
do oceano Pacífico, onde se passa o filme.

FB no Enem – Nº 03 – Professor: Fernando Collet

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B D E D C

OSG.: 68447/13 - 14/02/13

Dig.: HERCILIA / Rev.: AM

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