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Auxiliadora Padilha e Verônica Araújo

POLÍTICAS EDUCACIONAIS,
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
DA ESCOLA BÁSICA
460«
1. Educação e Sociedade

Introdução

Nesta unidade iremos discutir sobre o conceito de Educação e a sua


relação com a sociedade atual. Entretanto, antes de seguir a leitura,
pense sobre o que você considera por „educação‟. Pelo que você já
estudou até agora em seu curso de Licenciatura em Letras, você já
deve ter algum conceito em elaboração. Vamos, portanto, discuti-lo e
procurar entender como a educação tem sido ressignificada ao longo
do processo histórico.

1.1 Conceito(s) de Educação

Você acredita que a educação pode acontecer em qualquer lugar? Pois


é, a escola não é o único lugar onde ela ocorre. Ela se manifesta em
diversos espaços sociais e de diferentes formas. Podemos dizer que o
modelo ou proposta de educação de um povo está diretamente
relacionada com a forma como este povo se organiza em sociedade. Já
deu para você perceber isso, principalmente na disciplina de
Fundamentos da Educação, quando você estudou a Filosofia e História
da Educação e as Teorias Sociológicas da Educação.

Nesse sentido, agora vamos conhecer alguns conceitos de Educação,


tratados por estudiosos da área e que contribuirão para que formemos
nosso próprio conceito. É importante que o professor tenha seu

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conceito formado e que ele conheça diferentes compreensões, pois
estas concepções diversas irão ampliar sua visão do fenômeno
Educação.

Considerado como um dos pais da Sociologia moderna, Émile Durkheim


afirma que o homem só se tornou Humano, diferente dos outros
animais porque é um ser sociável, capaz de aprender hábitos e
costumes para viver em sociedade. A este processo Durkheim chamou
de socialização.

Para ele, é uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos
como queremos, pois precisamos nos conformar com costumes sociais
que não podemos desrespeitar. Segundo o autor, para que haja
educação é preciso haver uma geração de adultos que exerça uma
ação sob uma geração de crianças e jovens. A natureza específica
dessa ação é, ao mesmo tempo, una e múltipla. Múltipla porque varia
de acordo com as classes sociais e os lugares onde vivemos. Segundo
Durkheim, a educação da cidade não é a mesma do campo, nem a do
operário é igual a do burguês. Mas sua natureza também é una, pois
repousa sobre uma base comum que são os costumes de um povo e
que são indispensáveis a toda a sociedade.

Assim, para Durkheim,

“Educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as


gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida
social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança,
certo número de estados físicos, intelectuais e morais,

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reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio
especial a que a criança, particularmente se destine”.

Já para Bernard Charlot (2000), a educação

“É o processo por meio do qual um membro da espécie humana,


inacabado, desprovido dos instintos e das capacidades que lhe
permitiriam sobreviver rapidamente sozinho se apropria, graças
à mediação dos adultos, de um patrimônio humano de saberes,
práticas, formas subjetivas, obras. Essa apropriação lhe permite
se tornar, ao mesmo tempo e no mesmo movimento, um ser
humano, membro de uma sociedade e de uma comunidade, e
um indivíduo singular, absolutamente original. A educação é,
assim, um triplo processo de humanização, de socialização e de
singularização. Esse triplo processo é possível apenas mediante
a apropriação de um patrimônio humano. Isso quer dizer que a
educação é cultura, em três sentidos que não podem ser
dissociados”.

Compreendemos, portanto, a partir desse conceito, que a Educação é a


apropriação da cultura. Dessa forma, o meio social, a família, a escola
e demais instituições, assim como a Mídia também, são responsáveis
pela construção da forma como somos e agimos no mundo e como nos
apropriamos das normas, regras, formas de comportamento, atitudes,
valores, princípios e tudo o que representa a cultura na sociedade.
Somos o conjunto de tudo isso, no sentido da socialização, da
humanização e da singularização. Somos um pouco de tudo o que
aprendemos, mas também somos únicos!

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Segundo Libâneo (1994) a educação ”é um fenômeno social e
universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e
funcionamento de todas as sociedades” (p. 16). Assim, a educação
sofre alterações de acordo com as transformações que ocorrem na
sociedade e nos indivíduos. Com certeza, valores educacionais que
nossos avós tinham há algum tempo atrás, são diferentes dos que
temos atualmente.

Nos três conceitos de Educação acima discutidos, vemos que a ação


dos mais velhos (ou mais experientes) é um aspecto comum aos três
autores citados. Observamos, também, que a educação de que falam
os autores não é apenas a educação escolar, conhecida como educação
regular. No próximo item vamos discutir as características e funções do
processo educacional na sociedade.

1.2 Características e Funções do


processo educacional na sociedade

Tomaremos Libâneo (1994) como principal referência para essa


discussão. Apesar de ser uma referência antiga, sua classificação ainda
é considerada atual no meio educacional. Segundo ele, a educação é
uma prática educativa. Isso significa dizer que cada sociedade é
responsável pela educação dos seus cidadãos, auxiliando no
desenvolvimento de suas capacidades, preparando-os para
participarem da sociedade em todas as suas instâncias sociais.

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A educação pode ocorrer no sentido amplo, no meio social, ou seja, os
indivíduos são expostos à processos formativos nos espaços sociais
gerais em que se socializa. Já no sentido estrito a educação acontece
nas instituições específicas, “escolares ou não, com finalidades
explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente,
deliberada, planificada, embora sem separar-se daqueles processos
formativos gerais” (LIBÂNEO, 1994, p. 17).

Podemos também caracterizar a educação como não-intencional e


intencional. A educação não-intencional diz respeito à educação
informal decorrente das influências do meio social e do meio ambiente
sobre os indivíduos. São situações e experiências que, embora não
sejam organizadas, planejadas, mas exercem influência na formação
dos sujeitos. A educação intencional ocorre quando há intenção e
objetivos definidos de forma consciente, com métodos, técnicas e
lugares definidos e planejados antecipadamente. A educação
intencional pode ocorrer através da educação não formal “quando se
trata de atividade educativa estruturada fora do sistema escolar
convencional”, como meios de comunicação de massa, por exemplo
(LIBÂNEO, 1994, P. 18), e também da educação formal “que se realiza
nas escolas ou outras agências de instrução e educação” (p. 18), como
escolas, igrejas, sindicatos, etc.

A educação escolarizada, pública ou privada, faz parte do Sistema


Nacional de Educação e nós iremos conhecer, mais detalhadamente,
seus níveis e modalidades na próxima unidade.

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Os conteúdos e objetivos da educação formal escolar são definidos por
especialistas das diversas áreas do conhecimento, influenciados pelos
interesses e necessidades sociais, políticas e ideológicas. Por isso
Libâneo (1994) diz que a “educação é socialmente determinada” (...)
“por valores, normas e particularidades da estrutura social a que [a
educação] está subordinada” (p. 19).

“É importante, pois, compreender que esses valores e


ideologias estão presentes nos currículos, materiais didáticos
(como livros didáticos) e práticas docentes. Portanto, é preciso
ter clareza de como nossas práticas influenciam a formação de
crianças e jovens que já são cidadãos efetivos e precisam
compreender cada vez melhor seu contexto e sua realidade
para serem cidadãos plenos de direitos e de deveres.

Assim, vê-se que a responsabilidade social da escola e dos


professores é muito grande, pois cabe-lhes escolher qual
concepção de vida e sociedade deve ser trazida à consideração
dos alunos e quais conteúdos e métodos lhes propiciam o
domínio dos conhecimentos e a capacidade de raciocínio
necessários à compreensão da realidade social e à atividade
prática na profissão, na política, nos movimentos sociais”.
(LIBÂNEO, op cit, p. 22)

Como vimos no item anterior (conceitos de Educação), nos três


conceitos apresentados (Durkheim, Libâneo e Charllot), temos algo em
comum, que é a necessidade da ação de uma geração sobre outra para
ajudar o aprendiz em seu processo de humanização, ou socialização,
ou singularização ou, por fim, Educação. Atualmente esses processos

466«
não estão restritos a ação de um ser „mais velho‟, mas sim, de alguém
„mais experiente‟. Aprendemos com as crianças, com os jovens e com
os mais velhos, na medida em que estes possuem mais experiência ou
conhecimentos que não possuímos em alguma área do conhecimento.
Podemos aprender com as crianças a sermos mais curiosos, com os
jovens aprendemos as maravilhas das tecnologias e com os mais
velhos a maturidade e a sabedoria acumulada. Podemos aprender em
qualquer contexto e em qualquer situação, basta abrirmo-nos para
novas experiências e para o mistério da aprendizagem.

Nossa sociedade, marcada pelas tecnologias, mas também pela falta


de valores e ideologias está cada vez mais necessitada de que
fiquemos abertos às aprendizagens e saibamos o verdadeiro valor do
saber, assim como o real papel social da escola e dos professores.

1.3 Relação entre educação e


Sociedade: repercussões para os
Ensinos Fundamental e Médio

Como vimos, Educação e Sociedade se influenciam. Elas são, cada


uma, determinante e determinada pela outra. Não existe uma
sociedade que não tenha um processo de instrução ou educação. Nem
mesmo nas civilizações mais antigas. Até mesmo os animais ensinam
seus filhotes as regras e normas de convivência entre sua espécie e no
ambiente em que vivem. Portanto, não podemos deixar nossas
crianças e jovens à deriva. A Constituição determina que é dever do

»467
Estado e obrigação da família prover a Educação de suas crianças e
jovens. Nesse sentido, a Educação Formal é responsável pela
instrumentalização dos cidadãos para viverem conscientes e plenos
nesta sociedade.

Diante de tantas mudanças e acontecimentos na sociedade atual, é


preciso olhar para o Ensino dessas crianças e jovens considerando esse
contexto sempre em veloz transformação. Mas, em que sociedade
vivemos?

Para alguns vivemos na „sociedade da informação‟. Entretanto, para


Asmann (apud BONILLA, 2005), a informação é apenas um aspecto da
sociedade e, portanto, não pode ser considerada em separado ou como
mais importante que os demais aspectos que caracterizam nossa
sociedade atual. Já para Castells (apud BONILLA, 2005) a informação
não é diferencial nenhum nesta sociedade, pois ela sempre existiu e
sempre foi importante, em todas as sociedades e civilizações.

Também denominam a sociedade atual como a „sociedade tecnológica‟.


Mas, também a tecnologia não é um diferencial exclusivo dessa
sociedade. Sempre existiu e foi importante em todas as sociedades.
Para Kenski (2003), passamos por „eras tecnológicas‟, onde existiam
tecnologias predominantes nos diversos períodos.

Portanto, nomear a sociedade atual não é tarefa fácil. É preciso


compreender que ela é um fenômeno complexo e marcado por diversos
aspectos que devem ser considerados em sua definição, como aspectos
políticos, sociais, econômicos, etc.

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Assim, é nessa sociedade complexa e em constante transformação que
devemos entender como a Educação de nossas crianças e jovens
ocorre. Ensinar na „nova era‟ é uma tarefa árdua, que exige
criatividade, compromisso, competência e desejo de construir algo
novo com os outros.

“No trabalho de educação e de escolarização, é indispensável


gostar de pessoas. Claro que não basta gostar das pessoas,
embora isso seja fundamental. Mas, em gostando, ter um
profundo respeito por elas, a tal ponto que esse respeito seja
impulsionador das opções políticas, epistemológicas e
metodológicas e contribua para o exercício crítico da profissão”.
(SANTIAGO, 2006, p. 114).

Dessa forma, é preciso conhecer os perfis das pessoas com que o


professor e professora irão trabalhar, seja em sala de aula, seja em
outros espaços educativos e formativos que um profissional de Letras
possa atuar. No caso desta disciplina, estamos procurando conhecer
as pessoas com as quais trabalharemos na Educação Básica e quais as
repercussões de como a sociedade se organiza para a formação dessas
pessoas.

Para compreendermos o verdadeiro papel do professor/professora do


Ensino Fundamental e Médio, a partir do contexto social em que
vivemos e das características dos nossos alunos e alunas, precisamos
saber que, por muito tempo, a Educação no Brasil foi apenas para um
grupo privilegiado e que, portanto, a maioria da população não tinha
acesso a nenhum tipo de educação. Com a idéia da universalização da
educação, a quantidade de escolas aumentou, o número de matrículas

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também, e, para muitos, dessa forma, a educação oferecida passou a
ser de péssima qualidade. Claro que é preciso considerar os aspectos
estruturais e físicos que foram preciso ser ampliados e que,
geralmente, devido a questões financeiras sempre é mais complicado.
Isso, sem contar o aspecto de Recursos Humanos, ou seja, a
quantidade de professores e outros profissionais necessários para um
bom funcionamento da escola.

Além disso, outra questão é importante para se discutir o Sistema de


Ensino Fundamental e Médio: o currículo proposto. Que conteúdos são
adequados e necessários para a formação de nossos jovens? Para que
sociedade estamos formando essas crianças e adolescentes? Esses
conteúdos devem dar conta de uma formação que os prepare para a
vida social em que vivem. Nesse sentido, é importante que os
professores estejam preocupados com suas escolhas metodológica,
curriculares, ideológicas e políticas, pois elas, com certeza, influenciam
sua forma de ser professor/professora e, por conseguinte, influenciam
a formação que proporcionam para seus alunos.

2. Ensinos Fundamental e Médio

Nesta unidade iremos discutir o conceito, estrutura e funcionamento


dos níveis de Ensinos Fundamental e Médio no país, no contexto da
sociedade brasileira.

470«
Introdução

A Escola, tal como a conhecemos hoje, é uma invenção do século 19.


Ou seja, a forma como alunos, professores e instituições se organizam
atualmente não é tão antiga como geralmente imaginamos. Segundo
Lourenço Filho (2002) a escola surgiu apenas com o objetivo de
instrução pública e não como obra mais ampla e profunda de direção
social (p. 36). É preciso lembrar, que neste século (19), a
industrialização estava em expansão e, portanto, era necessário que os
operários tivessem um mínimo de instrução para lidar com máquinas e
equipamentos e não mais simplesmente com animais e agricultura.

Mas essa expansão industrial também permitiu que as pessoas


tivessem acesso a mais conhecimentos que nunca tinham tido antes,
embora esse conhecimento tivesse o caráter massificado, impondo-se
ao povo uma consciência comum (LOURENÇO FILHO, 2002), através
de uma educação fornecida de forma gratuita (e não obrigatória) pelo
Estado.

Entretanto, aos poucos a Educação vai se tornando pauta de


discussões internacionais e seu oferecimento gratuito, obrigatório e de
qualidade é cada vez mais requisito para que uma nação seja
considerada mais ou menos desenvolvida. Portanto, não apenas
internamente, surgindo do anseio da própria população, mas também
através de organismos internacionais, o Estado amplia sua
preocupação com a universalização da educação dos seus cidadãos.

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É dever do Estado, portanto, a organização da Educação de um país,
definindo sua estrutura, formas de oferecimento e currículo. Estes
aspectos estão contemplados no Sistema de Educação Nacional e, no
que se refere ao Sistema Brasileiro, a Educação é composta de:

I. Educação Básica: Educação Infantil, Educação Fundamental e


Ensino Médio;

II. Educação Superior.

Mais adiante discutiremos mais profundamente como é regido a


Educação no Brasil. Por ora, vamos nos deter na compreensão dos
Ensinos Fundamental e Médio, que são os níveis de ensino que serão
atendidos pelos graduados em Licenciatura em Letras. Antes de
começar é preciso esclarecer que os diversos níveis de ensino não
devem ser compreendidos isoladamente. Cada um deles faz parte de
um percurso geral que é a formação escolar dos sujeitos e todos
devem ter direito e oportunidade de concluir todo o processo de
educação, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior.

Assim, vamos compreender qual a finalidade da Educação Infantil


antes de nos debruçarmos mais detalhadamente sobre os Ensinos
Fundamental e Médio.

A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica e tem por


finalidade o desenvolvimento integral da criança, considerando os
aspectos emocionais, afetivos, psicológicos, cognitivos e físicos.
Segundo a Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho de
Educação Básica n. 03/2005, em seu artigo 2º, a Educação Infantil é

472«
organizada da seguinte forma: Creche: 0 a 3 anos de idade e Pré-
escola: 4 e 5 anos de idade. Até 2006 a Educação Infantil também
incluía a Alfabetização, que atendia os alunos na idade dos seis anos.
Entretanto, após a Lei 11.274/2006, os alunos nessa idade já são
incluídos no 1º ano do Ensino Fundamental.

2.1 Conceitos de Ensino


Fundamental e Médio

Ensino Fundamental

Como a própria denominação indica, esta etapa do sistema de ensino é


considerada o nível de fundamento, ou seja, é nesse nível de ensino
que os alunos irão entrar em contato com os saberes sistematizados
em sua sociedade, contato este em caráter mais formal e abrangente
do que o nível anterior (Educação Infantil). O Ensino Fundamental tem
por objetivo a formação básica dos cidadãos.

Isso significa que no Ensino Fundamental o aluno deve receber uma


base comum nacional e uma parte diversificada de conteúdos e
também ser preparado para prosseguir seus estudos nos próximos
níveis; esse nível de ensino é considerado propedêutico, ou seja, ele
por si só não habilita o indivíduo ao exercício de nenhuma atividade
profissional, mas é o nível de ensino obrigatório de ser cursado para
que se tenha acesso aos níveis imediatos e superiores.

No que tange à formação dos professores para atuar no Ensino


Fundamental, os primeiros cinco anos são responsabilidade dos

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Licenciados em Pedagogia e os últimos quatro anos de
responsabilidade dos Licenciados nas áreas específicas como Letras
(Português, Línguas Estrangeiras), Física, Química, Ciências Biológicas,
Geografia, História, Filosofia, Sociologia, etc.

Ensino Médio

Este é o nível de ensino que sucede o Ensino Fundamental. Ele tem a


abrangência de 03 anos, sendo destinado a jovens na faixa etária dos
15 aos 17 anos. Anteriormente chamado de Segundo Grau, a partir de
1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a última
etapa da Educação Básica passa a ser chamada de Ensino Médio.

O Ensino Médio refere-se à etapa final da Educação Básica. Esse nível


de ensino tem como finalidade a consolidação e o aprofundamento dos
conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental e a preparação
básica para o trabalho e para a cidadania (Art. 35º da LDB n.
9.394/96). Além disso, oferece o conhecimento básico para que o
estudante possa ingressar no Ensino Superior.

De acordo com a LDB n. 9.394/96 o Ensino Profissional Técnico pode


substituir o Ensino Médio propedêutico. Essa formação técnica pode
acontecer, de acordo com a LDB:

I - articulada com o Ensino Médio;

II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha


concluído o Ensino Médio (Artigo 36-B, da seção 4-A).

474«
Os cursos técnicos em nível médio também possuem validade para
prosseguimento dos estudos de nível superior.

2.2 Da organização dos Ensinos


Fundamental e Médio no Brasil

Você lembra-se de quando você fez o Ensino Fundamental e Médio?


Você cursou séries e estas séries eram divididas em disciplinas, não
era? Atualmente já ouvimos falar em ciclos e componentes
curriculares. Pois é, a educação formal, para que possa ocorrer, deve
ser organizada em níveis e modalidades diferenciados, em que
conteúdos, grades curriculares, metodologias e avaliação tenham sido
pensados e trabalhados de acordo com as especificidades do grupo de
alunos a que cada nível de ensino se destina.

É necessário haver uma sistematização e organização do currículo de


ensino em caráter nacional, ou seja, o que se estuda no Norte do país,
em termos de conhecimentos básicos, também deve ser o que se
estuda no Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, para que assim o
ensino seja oferecido de modo uniforme ao longo do país, para que as
disparidades e diferenças sejam minimizadas. Mas também é
importante que os currículos considerem conhecimentos específicos das
regiões de cada país, afinal, temos um país de dimensões continentais
e, além disso, com uma cultura muito rica e múltipla.

»475
Na organização do ensino nacional, as etapas (ou níveis) do ensino são
as seguintes: Educação Básica (esta se divide em Educação Infantil +
Ensino Fundamental + Ensino Médio), Ensino Profissionalizante ou
Técnico (este pode ser opcional ou realizado junto com o Ensino Médio)
e Ensino Superior (este corresponde à Graduação e Pós-Graduação
(Especialização, Mestrado e Doutorado). Em nossa discussão,
enfocaremos especificamente a organização dos Ensinos Fundamental
e Médio no país.

Existem algumas regras comuns para os dois níveis de Ensino, como


por exemplo, no que se refere à definição da carga horária mínima
anual.

“I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas,


distribuídas em um mínimo de duzentos dias letivos de trabalho
escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando
houver”.
(Inciso I, Artigo 24 da LDB n. 9.394/96)

Como já vimos, em relação ao currículo, as instituições de ensino


devem atender a uma base nacional comum, que deve ser
complementada com conteúdos específicos de cada região, chamada
de „parte diversificada‟ do currículo. Este conteúdo específico busca
atender às diversidades culturais regionais e locais de cada sociedade,
cultura, economia e clientela (§ 1º, Artigo 26). No que tange ao
conteúdo comum, a LDB refere-se ao estudo da língua portuguesa e da
matemática, ao conhecimento do mundo físico e natural e da realidade
social e política, especialmente do Brasil. Além disso, o ensino da Arte
e a Educação Física são componentes curriculares obrigatórios.

476«
Organização do Ensino Fundamental

A atual duração do Ensino Fundamental é de 9 anos, mas, desde que


este nível foi organizado, o Ensino Fundamental já teve várias durações
obrigatórias:

L.D.B n.º 4.024/61 – estabeleceu 4 anos obrigatórios;

Acordo de Punta Del Este e Santiago (1970) – estabeleceu


8 anos obrigatórios;

L.D.B 9.394/96- Sinalizou um ensino obrigatório de 9 anos


de duração, a iniciar-se aos 6 anos de idade; mas, na
prática, continuou vigorando o Ensino Fundamental
obrigatório de 8 anos;

Lei n.º 10.172/2001 (Plano Nacional de Educação) –


Tornou o Ensino Fundamental de 9 anos uma meta a ser
cumprida pelo governo;

Lei 11.274/2006 – instituiu o Ensino Fundamental de 9


anos de duração com a inclusão de crianças de 6 anos de
idade.

»477
Segundo dados da Wikipédia,

“O Ensino fundamental é uma das etapas da educação básica no


Brasil. Tem duração de nove anos, sendo a matrícula
obrigatória para todas as crianças com idade entre seis e 14
anos. A obrigatoriedade da matrícula nessa faixa etária implica
na responsabilidade conjunta: dos pais ou responsáveis, pela
matrícula dos filhos; do Estado pela garantia de vagas nas
escolas públicas; da sociedade, por fazer valer a própria
obrigatoriedade. Regulamentado por meio da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, em 1996, sua origem remonta ao Ensino de
Primeiro Grau, que promoveu a fusão dos antigos curso
primário (com quatro a cinco anos de duração), e do curso
ginasial, com quatro anos de duração, este último considerado,
até 1971, ensino secundário.

A duração obrigatória do Ensino Fundamental foi ampliada de


oito para nove anos pelo Projeto de Lei nº 3.675/04, passando
a abranger a Classe de Alfabetização (fase anterior à 1ª série,
com matrícula obrigatória aos seis anos) que, até então, não
fazia parte do ciclo obrigatório (a alfabetização na rede pública
e em parte da rede particular era realizada normalmente na 1ª
série). Lei posterior (11.114/05) ainda deu prazo até 2010 para
estados e municípios se adaptarem”.
(Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensino_fundamental>)

A partir dessa reforma, a distribuição das etapas desse nível de ensino


ficou organizada desta forma:

478«
Alfabetização = 1º ano

1ª série = 2° ano

2ª série = 3° ano

3ª série = 4° ano

4ª série = 5° ano

5ª série = 6° ano

6ª série = 7° ano

7ª série = 8° ano

8ª série = 9° ano

É bom lembrar que o Ensino Fundamental pode ser organizado em


séries, períodos semestrais ou ciclos, em progressão continuada.
Quanto à modalidade do Ensino Fundamental, a LDB n. 9.394/96
determina que este deve ser oferecido presencialmente, sendo o
ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou
em situações emergenciais (§ 4º, Artigo 32).

Em relação ao oferecimento desse ensino no setor público, as esferas


do governo responsáveis pelo oferecimento do Ensino Fundamental são
os municípios (1ª ao 5ª anos) e Estados (6ª ao 9º anos). Caso seja
necessário ou possível uma esfera do governo pode responder por
níveis que não estão estabelecidos prioritariamente para sua
responsabilidade. Contudo, uma esfera de governo só pode estender
sua ação para níveis que não são de sua responsabilidade se já estiver
cumprindo com as responsabilidades educacionais das quais é
incumbida.

»479
Cabe aqui ressaltar que, prioritariamente é dever dos pais ou
responsáveis matricularem seus filhos e assegurarem o acesso dos
mesmos a educação, caso não, podem ser processados judicialmente
pela ausência das crianças nas escolas. Porém, ainda observamos
casos em que pais e responsáveis são negligentes nesse aspecto, ou
seja, em que crianças e jovens, por motivos diversos (abandono,
descaso, trabalho infantil, etc.) estão afastadas da escola.

Organização do Ensino Médio

O Ensino Médio, diferentemente do Ensino Fundamental, possui uma


dimensão formativa mais ampla, uma vez que é organizado de forma
a permitir uma vinculação mais direta do indivíduo com a vida em sua
sociedade, no sentido de oferecer uma formação que possibilite atuar
no mercado de trabalho e enquanto cidadão.

O Ensino Médio no país, da mesma forma que o Ensino Fundamental,


já possuiu o formatações e durações diferentes; as últimas foram:

L.D.B 4.024/61 – Organização do ensino médio em dois


ciclos: ginasial - 4 anos e o colegial - 3 anos (mínimo),
totalizando um mínimo de 7anos;

Lei 5.692/71 – Determinou 3 anos de duração, em caráter


profissionalizante;

480«
Lei 7.044/82 – O Ensino Médio voltou a ter 3 anos de
duração, em caráter propedêutico;

L.D.B 9.394/96- Sinalizou um ensino obrigatório de 9 anos


de duração, a iniciar-se aos 6 anos de idade; mas, na
prática, continuou vigorando o ensino fundamental
obrigatório de 8 anos;

Lei n.º 10.172/2001 (Plano Nacional de Educação) – repete


as disposições da L.D.B 9.394/96 em relação a duração (3
anos).

Em termos de organização disciplinar e de conteúdos,

“A LDB deixa cada sistema livre a constituir os conteúdos Do


Ensino Médio. Tradicionalmente, na maior parte dos sistemas
de ensino, o Ensino Médio é composto pelo ensino de Português
junto com Literatura Brasileira e Portuguesa, de uma língua
estrangeira moderna (tradicionalmente o Inglês ou o Francês e,
mais recentemente, o Castelhano), das ciências naturais (Física,
Química e Biologia), da Matemática, das ciências humanas
(História e Geografia primariamente, Sociologia, Psicologia e
Filosofia secundariamente), de Artes, de Informática e de
Educação Física”.
(Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensino_secund%C3%

A1rio>)

»481
Os Estados são os responsáveis pela organização e oferecimento deste
nível de ensino; mas, ao longo do país, ainda há escolas de Ensino
Médio organizadas e mantidas por governos municipais.

Concluído o Ensino Médio o estudante poderá se candidatar a uma


vaga no Ensino Superior. Este nível de ensino foi, por muito tempo,
restrito às elites da nossa sociedade. Atualmente o seu acesso ainda é
para poucos privilegiados, mas a crescente demanda vem exigindo
ampliação das vagas e discussão sobre os meios de acesso. Sua
principal função é estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
espírito científico e do pensamento reflexivo (Inciso I, Artigo 43 da LDB
n. 9.394/96) e possui os seguintes cursos e programas: Sequenciais,
Graduação e Pós-Graduação (Especialização, Aperfeiçoamento,
Mestrado e Doutorado).

3. O papel das políticas públicas na


definição dos rumos educacionais

Introdução

Na definição dos rumos da educação brasileira, há uma série de


normatizações a serem seguidas. É, principalmente, a partir desses
documentos que as ações no Sistema Nacional de Ensino são
efetivadas. Nesta unidade vamos estudar as principais leis que regem a
organização e funcionamento da educação no país, focando seus

482«
princípios e direcionamentos principalmente em relação aos Ensinos
Fundamental e Médio: A Constituição Federal, A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional e o Plano Nacional de Educação.

Nas unidades anteriores você já ouviu falar em algumas das leis e


documentos que trataremos aqui, portanto, constatará como elas são
importantes para a organização do ensino no nosso país.

3.1 Constituição Federal Brasileira

Você sabe o que é uma Constituição? Uma constituição é, de acordo


com o Houaiss,

“o conjunto das leis fundamentais que rege a vida de uma


nação, geralmente elaborado e votado por um congresso de
representantes do povo, e que regula as relações entre
governantes e governados, traçando limites entre os poderes e
declarando os direitos e garantias individuais(...) é a lei
máxima, à qual todas as outras leis devem ajustar-se”.
(2001, p.813)

Assim, uma Constituição ou Carta Magna é a lei maior de um país. É


ela, quer seja outorgada ou promulgada, o documento que estabelece
os princípios com base nos quais as demais leis deverão se pautar para
serem elaboradas.

»483
Em termos legais, uma Constituição é válida até que uma nova entre
em vigor, mas não é papel do texto constitucional estabelecer
detalhamentos ou especificidades na organização dos diversos setores
ou serviços regidos pelo poder público. Dessa forma, é somente em
legislação específica – no caso da educação, numa Lei de Diretrizes e
Bases – que as normas que regerão a organização e funcionamento da
educação no país serão estabelecidas, recebendo um detalhamento
maior.

Por esse aspecto, a definição do texto constitucional do capítulo


referente à Educação foi marcada pelo embate entre diversas
entidades civis, representantes dos interesses do setor privado e do
setor público, as quais pretendiam assegurar que os princípios
constitucionais contemplassem pontos como a definição de atribuições
do poder público, a destinação de recursos e a questão do ensino
religioso, pontos que na época eram os mais conflitantes a serem
resolvidos. Por isso, de acordo com Gadotti, “na primeira fase de
elaboração da nova Constituição, houve um processo de intervenção
das entidades civis, as quais foram convidadas a colocar e debater
suas propostas” (2001, p.128).

Após vários embates e discussões, o texto final da Constituição entrou


em vigor em 1988. De acordo com a Constituição, no seu Capítulo II,
sobre os Direitos Sociais, a Educação é um „direito social‟, assim como
a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos
desamparados (Capítulo II, artigo 6º). A educação também é um dos
itens considerados para a definição do salário mínimo nacional,
segundo o documento constitucional, juntamente com moradia,

484«
alimentação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social (Capítulo II, artigo 7º, § IV).

No que se refere aos princípios para organização da Educação brasileira


a Constituição Federal estabelece em seu capítulo III, intitulado “Da
Educação, da Cultura e do Desporto”, principalmente que “a educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho” (Art. 205). Este capítulo abrange,
incluindo este artigo citado, um total de 10 artigos. Note-se que o
Estado divide com a família o dever de proporcionar educação para
seus entes.

Na seção I, intitulada da Educação, os artigos 205 ao 214 procuram


normatizar, entre outros aspectos:

A responsabilidade pelo oferecimento da Educação – artigo 205;

Formas de se ministrar a Educação – artigo 206;

Dever dos estados, dos municípios e da federação com relação a


Educação – artigos 208 e 211;

Financiamento da Educação – artigos 212 e 213.

»485
No que se refere aos Ensinos Fundamental e Médio, é a partir do artigo
208 que encontramos uma especificação maior do texto constitucional
em relação a esse nível, uma vez que é nesse artigo que se estabelece
a questão do dever do Estado – compreendido aqui como o poder
público de uma forma geral – em relação à Educação:

“Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado


mediante a garantia de:

I – Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os


que a ele não tiveram acesso na idade própria;

II – Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao


Ensino Médio”.

Se observarmos as legislações anteriores, até então o Ensino


Fundamental, de acordo com Gadotti (2001), não era assegurado
àqueles que estivessem fora da faixa etária, e, a partir do texto
constitucional, esse direito teve a limitação de acesso por idade
eliminada. Ou seja, a Educação de Jovens e Adultos, até a Constituição
Federal de 1988, era oferecida apenas para os anos iniciais do Ensino
Fundamental. Com a nova Constituição, esse direito também foi
ampliado para os anos finais do Ensino Fundamental. Contudo, o
Ensino Superior ainda não consta como uma obrigatoriedade do Estado
para os seus cidadãos.

486«
Outro aspecto contemplado pelo texto constitucional é a definição de
conteúdos mínimos para o Ensino Fundamental, de forma que se
assegure um caráter mais uniforme a esse nível, combatendo dessa
forma as disparidades regionais em termos de ensino e aprendizagem.
Assim, ficou definido o seguinte:

“Art. 210 – serão fixados conteúdos mínimos para o Ensino


Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum
e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e
regionais.

§ 1º - o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá


disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental;

§ 2º - o Ensino Fundamental regular será ministrado em língua


portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem”.

A manutenção do ensino religioso foi considerada por algumas


entidades na época como um retrocesso, uma vez que, em outros
países o ensino público era laico, ou seja, sem vinculações a discussões
religiosas nas grades curriculares.

Já a questão do ensino bilíngue para comunidades indígenas foi


avaliada como um ganho constitucional em relação ao respeito e
preservação da cultura de origem dessas comunidades.

»487
Ainda em relação ao Ensino Fundamental, o artigo 211, § 2º,
estabelece o seguinte:

“[...] os municípios atuarão prioritariamente no Ensino


Fundamental e Pré-Escolar, devendo aplicar no mínimo vinte e
cinco por cento da receita resultante de imposto, compreendida
a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino”.

Finalizando, no artigo 212, §5º, está estabelecido que “o Ensino


Fundamental público terá como fonte adicional de financiamento a
contribuição social do salário-educação, recolhida, na forma da lei,
pelas empresas, que dela poderão deduzir a aplicação realizada no
ensino fundamental de seus empregados e dependentes.

A definição de recursos era um aspecto importante a ser contemplado


em lei, uma vez que, sem investimentos significativos, seria difícil
oferecer um ensino público de qualidade. Esses recursos estão
garantidos pela Constituição de 1988 e são definidos percentuais
mínimos de aplicação pela União (18% de sua receita resultante de
impostos) e Estados, Distrito Federal e Municípios (25% de sua receita
resultante de impostos).

A Constituição Federal de 1988 é até hoje apontada como uma das


mais democráticas do mundo. Mesmo que todas as Cartas
Constitucionais brasileiras, desde Constituição Imperial de 1824,

488«
tenham dispensado algum tratamento ao tema Educação, a
Constituição atual proporcionou definições e princípios até então não
estabelecidos em nenhuma das leis brasileiras anteriores.

Ressaltamos que no texto da Constituição Federal de 1988, a União


divide não apenas com Estados e Municípios a responsabilidade pela
Educação Nacional, mas também a sociedade é chamada para assumir
esse desafio. Portanto, é preciso estar alerta para defender e
proporcionar uma educação de qualidade e para todos!

3.2 Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional Nº 9.394/96

3.2.1 Disposições gerais,


organização e atribuições do
governo em relação à Educação
Básica

Até agora você já ouviu falar muito em Lei de Diretrizes e Bases (LDB).
Mas o que significa essa lei para a Educação de um país? Uma lei de
diretrizes e bases tem como finalidade especificar o funcionamento do
setor a que se refere em seus detalhamentos, procurando abranger
todos os aspectos e situações que se enquadrem em relação ao que ela
normatiza. Na verdade, se além da União, dos Estados e dos

»489
Municípios, a sociedade também é responsável pela Educação, então
todos deveriam conhecer essa lei e não apenas quem está diretamente
ligado ao oferecimento da educação regular, como professores e
gestores.

De acordo com a Constituição Federal brasileira, é de competência


privada da União legislar sobre a LDB. E qual seu objetivo então?
Segundo Saviani (2000)

“Com efeito, se por diretrizes e bases se entendem fins e meios,


ao serem estes definidos em termos nacionais, pretende-se não
apenas indicar os rumos para onde se quer caminhar, mas
organizar a forma, isto é, os meios através dos quais os fins
serão atingidos. E a organização intencional dos meios com
vistas a se atingir os fins educacionais preconizados em âmbito
nacional”.
(SAVIANI, 2000, pp. 206-207)

Na elaboração de uma lei de diretrizes e bases, é preciso se levar em


consideração o fato de que o seu texto deve ser desenvolvido a partir
dos princípios e normas apresentados na última Constituição Federal
em vigor. Isso quer dizer que se exige um cuidado para não se gerar
contradições entre essas leis, visto que, na ocorrência desses casos, o
que vale é o que foi definido na lei maior, no caso, a Constituição
Federal.

No caso brasileiro, até o presente momento tivemos duas Leis de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

490«
A LDB n. 4.024/61;

A LDB n. 9.394/96, a qual vem vigorando até hoje.

No que se refere aos Ensinos Fundamental e Médio, em seu título II –


Da Educação e do Dever de Educar, a LDB 9.394/96 estabelece o
seguinte:

“Art.4º - O dever do Estado com educação escolar pública será


efetivado mediante a garantia de:

I – Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para


os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

II – Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade a o


ensino médio;

VIII – atendimento ao educando, no ensino fundamental


público, por meio de programas suplementares de material
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde”.

O texto da LDB reforça o que já estava posto no texto da Constituição


Federal de 1988, ou seja, o oferecimento do Ensino Fundamental
enquanto nível obrigatório e gratuito. Porém, o oferecimento do Ensino
Médio enquanto nível a se tornar obrigatório e gratuito

»491
„progressivamente‟ foi considerado um retrocesso na lei, uma vez que
permaneceu a mesma indefinição já concretizada na Constituição
Federal de 1988.

Em contrapartida, considerando a questão da precariedade econômica


de boa parte da população, a lei prevê a questão de programas
suplementares para que os alunos tenham melhores condições de
acesso e permanência na escola. Sabemos bem que gastos com
materiais didáticos, alimentação e transporte seriam fatores de
exclusão de boa parte do corpo discente se o governo não oferecesse
esses tipos de atendimento à população.

Ainda no mesmo título, sendo agora em seu artigo 5º, a LDB 9.394/96
dispõe o seguinte:

“O acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo,


podendo, qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação
comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra
legalmente constituída e a, ainda, o Ministério Público, acionar
o Poder Público para exigi-lo”.

Mais adiante, ainda no mesmo artigo, temos o seguinte parágrafo:

“§ 4º - comprovada a negligência da autoridade competente


para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela
ser imputada por crime de responsabilidade”.

492«
Essas determinações representam um grande avanço em termos de
legislação, uma vez que se oferece à sociedade civil não só
mecanismos de cobrança legal do poder público em relação ao
oferecimento do ensino no país, mas também mecanismos de
penalização dos responsáveis legais em casos de negligência.

Em seu título IV – Da Organização da Educação Nacional, são


esclarecidos os papéis dos diferentes níveis do governo em relação ao
oferecimento e organização da educação brasileira em seus diferentes
níveis e modalidades. Fica posto que os governos organizarão, em
regime de colaboração, seus sistemas de ensino (art. 8º), cabendo a
União exercer a função normativa, redistributiva e supletiva em relação
às demais instância educacionais (art. 8º, §1º), prestar assistência
técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 9º,
III), estabelecer, em colaboração com os Estados, Municípios e Distrito
Federal as competências e diretrizes para a Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Médio (art. 9º, IV).

No artigo 10º, do mesmo título, são estabelecidas as incumbências


educacionais do Estado, seguidas pelas dos Municípios (art. 11º); o
título segue informando as incumbências educacionais dos
estabelecimentos de ensino (art. 12º) e dos docentes (art.13º) e as
instituições que fazem parte do Sistema Federal de Ensino (art. 16º),
Estados e Distrito Federal (art. 17º) e Municípios (art. 18º).

Porém, o título mais diretamente ligado às nossas discussões é o Título


V – Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino,
especificamente o seu segundo capítulo – Da Educação básica.

»493
No artigo 24º, no que se refere à Organização dos Ensinos
Fundamental e Médio, é estabelecida a carga horária mínima anual de
800 horas a serem distribuídas num período letivo de 200 dias; esta
modificação da carga horária letiva, na visão de Saviani (1999),
representou uma mudança positiva, no sentido que,“considerando-se
que o tempo de permanência na escola é, por vezes, decisivo para o
sucesso das crianças, em especial aquelas das famílias de baixa renda,
essa ampliação resulta um avanço diante da situação vigente” (p.210)

Além desses elementos, o artigo aborda também formas de


classificação dos alunos, critérios de verificação de rendimento escolar
dentre outros, elementos cuja definição é necessária para se assegurar
os patamares de qualidade pretendidos para estes níveis.

Em termos de definição de currículos, o art. 26º estabelece que

“os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma


base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema
de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da clientela”.

Essa determinação na LDB veio para permitir que a as peculiaridades


de cada região e localidade fossem incluídas nas discussões realizadas
nas escolas, de forma que a diversidade e pluralidade que marcam o
nosso país pudessem ser contempladas em suas especificidades sem

494«
prejuízo ao andamento letivo das escolas nas diferentes localidades do
país.

Nos parágrafos seguintes fica estabelecido que “os currículos devem


abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade
social e política, especialmente do Brasil” (art. 26º, §1º); a
obrigatoriedade dos ensinos de arte (art. 26º, §2º) e da educação
física (art. 26º, §3º), além do ensino da História do Brasil levando em
conta as diversas contribuições que a constituem (art. 26º, §4º), e, por
fim, a questão da obrigatoriedade de inclusão de uma língua
estrangeira moderna na parte diversificada do currículo (art. 26º, §5º).

Todas essas disposições procuram dar uma maior organicidade e


efetividade a Educação Básica no país, tornando mais claras as
medidas que deverão ser tomadas para que esses níveis de ensino
sejam reorganizados face às necessidades formativas vigentes em
nosso momento atual.

3.2.2 Ensinos Fundamental e


Médio: disposições específicas na
LDB 9.394/96

É no Título V – Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino,


capítulo II – Da Educação Básica, Seção III – Do Ensino Fundamental e

»495
Seção IV – Do Ensino Médio que são apresentados os artigos
referentes às organizações do Ensino Fundamental e Médio no país.

Ensino Fundamental

Na Seção II – Do Ensino Fundamental – os principais artigos que nos


interessam são os Artigos 32 ao 34.

Ao longo destes artigos são indicadas várias normas, preceitos e


objetivos referentes à organização e funcionamento do Ensino
Fundamental no país, entre eles:

Duração mínima de oito anos;

Obrigatoriedade e gratuidade na escola pública;

Tem por objetivo a formação básica do cidadão;

Pode ser desdobrado em ciclos;

Ensino bilíngue para as comunidades indígenas;

Possibilidade de uso do ensino a distância como


complementação da aprendizagem;

Ensino religioso de matrícula facultativa;

Aumento progressivo da jornada escola de quatro horas


para tempo integral.

É importante compreender que a ampliação da duração mínima do


Ensino Fundamental para oito anos (e posteriormente para 09 anos)
“possibilita a organização contínua do conhecimento, dentro de um

496«
bloco articulado e organicamente construído, o que representada um
ganho significativo” (BRZEZINSKI, 2001, p. 92).

Da mesma forma, a possibilidade de aumento da jornada escolar para


tempo integral, quando efetivada (e prevista na LDB n. 9.394/96), será
uma medida importante para um maior acesso dos estudantes à
informação, e uma possibilidade de um atendimento escolar mais
consistente, ao longo do qual a criança e/ou jovem possa, através de
sua permanência maior na escola, aprofundar os conhecimentos
obtidos. Entretanto, devemos considerar que a LDB deixa a critério dos
sistemas de ensino a definição dessa jornada integral.

Ensino Médio

O Ensino Médio está regulamentado na LDB a partir da Seção IV – Do


Ensino Médio – artigos 35 e 36.

Estes artigos apresentam as finalidades (art.35) e diretrizes


curriculares (art. 36) do Ensino Médio, que podem ser resumidas da
seguinte forma:

Consolidação e aprofundamento dos conhecimentos obtidos no


ensino fundamental;

Preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando;

Aprimoramento do educando como pessoa humana (formação


ética e desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico);

»497
Compreensão dos fundamentos científicos tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática;

Adoção de metodologias e avaliação que estimulem a iniciativa


do estudante;

Inclusão de uma língua estrangeira moderna;

Organização dos conteúdos e metodologias de forma que ao


final do ensino médio o educando demonstre domínio dos
princípios científicos que presidem a produção moderna e
conhecimento das formas contemporâneas de linguagem e
domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia
necessários ao exercício da cidadania;

Preparo do educando para o exercício de profissões técnicas.

Na análise do que foi disposto nesses artigos em relação à organização


do ensino médio, podemos dizer que

“No atual texto da lei, o ensino médio objetiva preservar o


caráter unitário, partindo da proposta de educação geral. Este
nível de ensino desempenha a função de contribuir para que os
jovens consolidem e aprofundem conhecimentos anteriormente
adquiridos, visando uma maior compreensão do significado da
ciência, das artes, das letras e de outras manifestações
culturais. Outro papel também que lhe cabe é possibilitar que
esses jovens possam ter acesso à educação profissionalizante,
aprofundando sua compreensão sobre os fundamentos
científicos e tecnológicos, conhecendo o movimento do mundo
do trabalho e as características dos processos produtivos”.
(BRZENZINSKI, 2001, p. 94)

498«
A LDB 9.394/96 assegurou várias das conquistas desses níveis de
ensino presentes na Constituição Federal de 1988, além de oferecer
uma maior clareza das atribuições de cada uma das esferas do governo
em relação à educação básica, bem como dos princípios, objetivos e
organização das modalidades de ensino aqui enfocadas.

3.3 Plano Nacional de Educação

O Plano Nacional de Educação (PNE) foi uma lei cuja elaboração já


estava indicada na Constituição Federal de 1988 (art. 214) e na LDB
9.394/96 (art. 87, §1º). No processo de elaboração e aprovação deste
plano

“foram realizadas inúmeras reuniões, debates, seminários, com


ampla participação de diferentes setores da sociedade,
incluindo parlamentares, secretários de educação, além da
intensa participação da comunidade escolar em todos os seus
níveis, assim como a participação da comunidade científica.O
texto final foi elaborado por comissão indicada pelo II
Congresso Nacional de Educação onde participaram mais de
cinco mil congressistas e cujo espaço esteve sempre aberto à
participação das autoridades educacionais em todos os níveis”.
(Disponível em: <http://www.assessoriadopt.org/planed.htm>)

»499
O PNE foi aprovado e entrou em vigor sob a denominação de Lei n.
10.172 de 09 de janeiro de 2001. Entre outras determinações, estava
estabelecido o período de vigência de 10 anos após a sua aprovação, a
partir da qual os estados, Distrito Federal e Municípios deverão
elaborar seus próprios planos decenais.

Ficou também determinado que a execução do Plano Nacional De


Educação seria acompanhada pelo poder Legislativo, por intermédio
das Comissões de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos
Deputados e da Comissão de Educação do Senado Federal.

O PNE tem como objetivos:

Elevação global do nível de escolaridade da população;

Melhora da qualidade do ensino em todos os níveis;

Redução das desigualdades sociais e regionais no tocant e


ao acesso e a permanência com sucesso na educação
pública e democratização da gestão do ensino público nos
estabelecimentos oficiais.

O PNE apresenta as seguintes diretrizes:

Garantia de Ensino Fundamental obrigatório de oito anos a


todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu

500«
ingresso e permanência na escola e a conclusão desse
ensino;

Garantia de Ensino Fundamental a todos os que a ele não


tiverem acesso na idade própria ou não o concluíram;

Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino;

Valorização dos profissionais da educação;

Desenvolvimento de sistemas de avaliação em todos os


níveis e modalidades de ensino.

O PNE também define as diretrizes e metas para cada nível e


modalidade de ensino, assim, de acordo com o texto de Brandão
(2006), apresentamos aqui as diretrizes do PNE para o Ensino
Fundamental e o Ensino Médio:

Objetivos e metas para o Ensino Fundamental

1) Universalização do atendimento de toda a clientela do Ensino


Fundamental no prazo de cinco anos a contar da data de
aprovação do PNE, garantindo o acesso e a permanência de
todas as crianças na escola, estabelecendo, em regiões em que
se demonstrar necesário, programas específicos, com a
colaboração da União, dos Estados e dos Municípios;

»501
2) Ampliação da duração do Ensino Fundamental obrigatório para
nove anos, com início aos 06 anos de idade;

3) Regularização do fluxo escolar, reduzindo em cinco anos, 50%


das taxas de repetência e evasão por meio de programas de
aceleração da aprendizagem e recuperação paralela ao longo
do curso, garantindo efetiva aprendizagem;

4) Elaboração em um ano dos padrões mínimos nacionais de


infraestrutura para o Ensino Fundamental, compatíveis com o
tamanho dos estabelecimentos e com as realidades regionais;

5) Autorização (a partir do 2º ano da vigência do PNE) da


construção e funcionamento somente de escolas que atendam
aos requisitos de infra-estrutura definidos no PNE;

6) Assegurar que, em cinco anos, todas as escolas atendam os


itens de “1” a “4” e, em dez anos, a totalidade dos itens;

7) Estabelecimento, em todos os sistemas de ensino e com o


apoio da União e da comunidade escolar, de programas para
equipar todas as escolas gradualmente, com os equipamentos
discriminados nos itens de “5” a “6”;

8) Assegurar que, em três anos, todas as escolas tenham


formulado seus projetos pedagógicos, com observância das
Diretrizes Curriculares para o ensino Fundamental e dos
Parâmetros Curriculares Nacionais;

502«
9) Promoção da participação da comunidade na gestão das
escolas, universalizando, em dois anos, a instituição dos
conselhos escolares ou órgãos equivalentes;

10) Integrar os recursos do Poder Público destinados à política


social, em ações conjuntas da União, dos Estados e Municípios,
para garantir, entre outras metas, a Renda Mínima Associada a
Ações Sócio-educativas para as famílias com carência
econômica comprovada;

11) Manter e consolidar o programa de avaliação do livro didático


criado pelo Ministério de Educação, estabelecendo entre seus
critérios a adequada abordagem das questões de gênero e
etnia e a eliminação de textos discriminatórios ou que
reproduzam estereótipos acerca do papel da mulher, do negro
e do índio;

12) Elevar de quatro para cinco o número de livros didáticos


oferecidos aos alunos das quatro séries iniciais o ensino
fundamental, de forma a cobrir as áreas que compõem as
Diretrizes Curriculares do ensino fundamental e os Parâmetros
Curriculares Nacionais;

13) Ampliar progressivamente a oferta de livros didáticos a todos


os alunos das quatro séries finais do ensino fundamental, com

»503
prioridade para as regiões nas quais o acesso dos alunos ao
material escrito seja particularmente deficiente;

14) Prover de literatura, textos científicos, obras básicas de


referência e livros didático-pedagógicos de apoio ao professor
as escolas do ensino fundamental;

15) Transformar progressivamente as escolas unidocentes em


escolas de mais de um professor, levando em consideração as
realidades e as necessidades pedagógicas e de aprendizagem
dos alunos;

16) Associar as classes isoladas unidocentes remanescentes a


escolas de pelo menos, quatro séries completas;

17) Prover de transporte escolar as zonas rurais, quando


necessário, com colaboração financeira da União, Estados e
Municípios, de forma a garantir a escolarização dos alunos e o
acesso à escola por parte do professor;

18) Garantir, com a colaboração da União Estados e municípios, o


provimento da alimentação escolar e o equilíbrio necessário,
garantindo os níveis calóricos-protéicos por faixa etária;

19) Assegurar, dentro de três anos, que a carga horária semanal


dos cursos diurnos compreenda, pelo menos, 20 horas
semanais de efetivo trabalho escolar;

504«
20) Eliminar a existência, nas escolas, de mais de dois turnos
diurnos e um turno noturno, sem prejuízo do atendimento da
demanda;

21) Ampliar progressivamente a jornada escolar visando expandir a


escola de tempo integral, que abranja um período de pelo
menos sete horas diárias, com previsão de professores e
funcionários em número suficiente;

22) Prover, nas escolas de tempo integral, preferencialmente para


as crianças das famílias de menor renda, no mínimo duas
refeições, apoio às tarefas escolares, a prática de esportes e
atividades artísticas, nos moldes do Programa de Renda Mínima
Associado a Ações Sócio-educativas;

23) Estabelecer, em dois anos, a reorganização curricular dos


cursos noturnos, de forma a adequá-los às características da
clientela e promover a eliminação gradual da necessidade de
sua oferta;

24) Articular as atuais funções de supervisão e inspeção no sistema


de avaliação;

25) Prever formas mais flexíveis de organização escolar para a


zona rural, bem como a adequada formação profissional dos

»505
professores, considerando a especificidade do alunado e as
exigências do meio;

26) Assegurar a elevação progressiva do nível de desempenho dos


alunos mediante a implantação, em todos os sistemas de
ensino, de um programa de monitoramento que utilize os
indicadores do Sistema Nacional de Avaliação da educação
básica e dos sistemas de avaliação dos Estados e Municípios
que venham a ser desenvolvidos.

27) Estimular os Municípios a proceder um mapeamento, por meio


de censo educacional, das crianças fora da escola, por bairro
ou distrito de residência e/ou locais de trabalho dos pais,
visando localizar a demanda e universalizar a oferta de ensino
obrigatório;

28) A educação ambiental, tratada como tema transversal, será


desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e
permanente em conformidade com a Lei n.° 9.795/99;

29) Apoiar e incentivar as organizações estudantis, como espaço de


participação e exercício da cidadania;

30) Observar as metas estabelecidas nos capítulos referentes à


educação a distância, formação de professores, educação
indígena, educação especial e financiamento e gestão, na
medida em que estão relacionadas às previstas neste capítulo.

506«
Objetivos e Metas para o Ensino Médio

1) Formular e implementar, progressivamente, uma política de


gestão de infra-estrutura física na educação básica
pública(...);

2) Implantar e consolidar, no prazo de cinco anos, a nova


concepção curricular elaborada pelo Conselho Nacional de
Educação;

3) Melhorar o aproveitamento dos alunos do Ensino Médio (...);

4) Reduzir, em 5% ao ano, a repetência e a evasão, de forma a


diminuir para quatro anos o tempo médio para conclusão
deste nível;

5) Assegurar, em cinco anos, a posse de diploma de nível


superior a todos os professores do Ensino Médio, oferecendo
inclusive, oportunidades de formação nesse nível de ensino
àqueles que não a possuem;

6) Elaborar, no prazo de um ano, padrões mínimos nacionais de


infra-estrutura para o Ensino Médio, compatíveis com as
realidades regionais(...);

7) Não autorizar o funcionamento de novas escolas fora dos


padrões de “1” a “6”;

»507
8) Adaptar, em cinco anos, as escolas existentes de forma a
atender aos padrões mínimos estabelecidos;

9) Assegurar que, em cinco anos, todas as escolas estejam


equipadas, pelo menos, com biblioteca, telefone e reprodutor
de textos;

10) Assegurar que, em cinco anos, pelo menos 50% e, em 10


anos, a totalidade das escolas disponham de equipamento de
informáticas para modernização da administração e para apoio
à melhoria do ensino e da aprendizagem;

11) Adotar medidas para a universalização progressiva das redes


de comunicação, para melhoria do ensino e da aprendizagem;

12) Adotar medidas para a universalização progressiva de todos os


padrões mínimos durante a década, incentivando a criação de
instalações próprias para esse nível de ensino;

13) Criar mecanismos, como conselhos ou equivalentes, para


incentivar a participação da comunidade na gestão,
manutenção e melhoria das condições de funcionamento das
escolas;

14) Assegurar a autonomia das escolas, tanto no que diz respeito


ao projeto pedagógico como em termos de gerência de
recursos mínimos para a manutenção do cotidiano escolar;

508«
15) Adotar medidas para ampliar a oferta diurna e manter a oferta
noturna, suficiente para garantir o atendimento dos alunos
que trabalham;

16) Proceder, em dois anos, a uma revisão da organização


didático-pedagógica e administrativa do ensino noturno, de
forma a adequá-lo às necessidades do aluno-trabalhador, sem
prejuízo da qualidade do ensino;

17) Estabelecer, em um ano, programa emergencial para


formação de professores, especialmente nas áreas de Ciências
e Matemática;

18) Apoiar e incentivar as organizações estudantis como espaço de


participação e exercício da cidadania;

19) A educação ambiental, tratada como tema transversal, será


desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua
e permanente em conformidade com a lei n.° 9.795/99;

20) Observar, no que diz respeito ao Ensino Médio, as metas


estabelecidas nos capítulos referentes à formação de
professores, financiamento e gestão e ensino a distância.

Podemos observar que o Plano Nacional de Educação estabeleceu


vários objetivos e Metas em relação aos Ensinos Fundamental e Médio;

»509
da época em que entrou em vigor até hoje, podemos observar que
alguns desses objetivos (universalização e ampliação do atendimento
no Ensino Fundamental, valorização do magistério, mudanças na
infraestrutura das escolas, participação das comunidades na gestão
escolar, funcionamento das escolas em horário integral,
asseguramento da autonomia das escolas, etc.), estão se tornando ou
já se tornaram realidade nesses oito anos de vigência do PNE.

Porém, da mesma forma, vários desses objetivos ainda não se


concretizaram, ou seja, prestes a expirar o prazo de validade do PNE,
observamos que muito do que se pensou e propôs para a organização
da educação brasileira ainda não se tornou realidade.

É necessária uma ação mais efetiva do governo, em suas diferentes


esferas, além da cobrança e participação dos diversos segmentos da
sociedade civil, para que as leis sejam realmente cumpridas; sem
mecanismos que assegurem a real efetivação do que está posto no
papel, muito se perde em termos de melhoras na qualidade da
educação brasileira.

510«
4. Cenário atual dos Ensinos
Fundamental e Médio

Introdução

Estamos chegando às temáticas finais da nossa disciplina. Nesta


unidade discutiremos o cenário atual dos Ensinos Fundamental e
Médio. Trataremos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, seus
princípios, objetivos e propostas para o Ensino da Língua Portuguesa.
Além disso, também discutiremos sobre o Ensino Profissional de Nível
Técnico e a proposta atual de Ensino Médio Inovador.

Estes temas são muito importantes para que nós, professores,


possamos compreender melhor as propostas atuais para nossa área e
nível de ensino.

A LDBEN 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)


em 20/12/2009 completará 13 anos em vigor. Desde que foi
implementada até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram no
cenário educacional brasileiro, e, estas mudanças também enfocaram
os Ensinos Fundamental e Médio, resultando na proposição de
legislações complementares para estes níveis de ensino.

»511
Vejamos aqui algumas dessas mudanças implementadas no decorrer
desses 13 anos pós-LDB 9.394/96 e suas repercussões no cenário
educacional brasileiro nos níveis de ensino que estamos estudando.

Eis aqui algumas leis que vocês podem consultar:

Lei 9.475 de 22/07/1997: altera o artigo 33 da LDB referente


ao Ensino Religioso;

Resolução MEC/CNE n.° 03 de 05/08/1998: institui diretrizes


nacionais para o Ensino Médio;

Resolução CEB N.º2/1998: institui as diretrizes nacionais para o


Ensino Fundamental;

Parecer CEB/CNE N.º 01/99: institui diretrizes curriculares


nacionais para a formação de docentes da Educação Infantil e
dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio na
modalidade normal;

Resolução MEC/CNE n.° 02 de 23/04/1999: institui diretrizes


curriculares nacionais para a formação de docentes da Educação
Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível
médio na modalidade normal (juntamente com o Parecer
CEB/CNE N.º 01/99);

512«
Lei 10. 287 de 20/09/2001: inciso incluído na LDB e que trata
da necessidade de notificação ao Conselho Tutelar sobre a
quantidade de faltas dos alunos;

Lei 10.639 de 09/01/2003: inclusão do Dia da Consciência Nega


no Calendário escolar;

Lei 10.709 de 31/07/2003: questão do transporte escolar da


Rede estadual;

Lei 10.793 de 01/12/2003: sobre o componente curricular


facultativo Educação Física na Educação Básica;

Lei 11.274 de 06/02/2006: torna o Ensino Fundamental de 09


anos;

Lei 11.114 de 16/05/2005: delibera sobre o dever dos pais para


matricular seus filhos no Ensino Fundamental a partir dos seis
anos de idade;

Existem muitas outras modificações propostas na LDB n. 9.394/96 que


ampliaram e/ou modificaram as propostas iniciais dessa lei tão
importante para a Educação Brasileira.

»513
4.1 Educação Profissional Técnico
de Nível Médio

A discussão da formação profissionalizante de nível médio era


anteriormente realizada na seção IV referente ao Ensino Médio. Com
a LEI Nº 11.741 de 16 de julho de 2008 foi incluída a seção IV-A
referente à Educação Profissional Técnico de Nível Médio, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação
profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e
da educação profissional e tecnológica.

Esta seção institui que, sem prejuízo do que ficou estabelecido na


seção referente ao Ensino Médio, a formação geral do educando
também pode prepará-lo para o exercício de profissões técnicas. Esta
formação pode ser articulada ao Ensino Médio ou realizada após a sua
conclusão. O estudante que concluir um curso técnico de nível médio
também estará habilitado para ingressar no Ensino Superior.

O debate sobre a formação profissional em nível médio não é recente


no país. Ainda há muita controversa sobre sua relação com o Ensino
Médio; desde o período da ditadura, quando se acusava este governo
de querer, com sua política de profissionalização no segundo grau,
excluir a classe popular e trabalhadora do Ensino Superior integrando
os adolescentes diretamente no mercado de trabalho e não lhes
proporcionando uma visão crítica da realidade. Neste período o Ensino
Médio profissionalizante foi obrigatório a partir da Lei n. 5.692/71. Em

514«
seguida, diante do insucesso da obrigatoriedade, esta foi extinta pela
Lei n. 7.004/82 (NOGUEIRA, 2009).

Diante do contexto social em que vivemos e da veloz e constante


evolução tecnológica que amplia e modifica nossas estratégias de
sobrevivência no planeta, é preciso pensar de que forma estamos
preparando nossos jovens para a vida. É certo que não é justo que só
alguns tenham acesso ao Ensino Superior, mas também está claro que
não é apenas nesse nível de ensino que se pode formar um sujeito
crítico, criativo e ativo na sociedade. Dessa forma, a Educação Básica
também pode ofertar uma formação profissional articulada a uma
formação humanística e crítica. Para isso, é importante se discutir o
currículo proposto para esses cursos de Formação Profissional
superando-se a dicotomia entre o ensino técnico e o ensino
propedêutico (KUENZER, 2000).

Ainda é preciso considerar que nem 30% dos nossos jovens são
atendidos pelo Ensino Médio (KUENZER, 2000). O que diremos de uma
formação profissional! Além disso, não basta dar acesso ao Ensino
Médio ou Profissional. É preciso que estes cursos estejam atualizados e
preparem realmente os alunos para uma profissão ou para ampliação
dos seus estudos. E para que isso aconteça são necessárias escolas
com infraestrutura adequadas, currículos atuais, discussões que
contemplem as problemáticas contemporâneas.

»515
4.2 Ensino Médio Inovador

Tentanto considerar a complexidade que é a sociedade, atualmente, e


a diversidade de expectativas que jovens e adultos possuem em
relação aos resultados da educação escolarizada para a sua formação
e, consequentemente, sua inserção nesta sociedade complexa. como o
Ensino Médio é um nível intermediário entre o Ensino Fundamental e o
Ensino Superior, este se reveste de muita polêmica, no que diz respeito
aos seus objetivos e finalidades.

Dessa forma, o Governo Federal lançou o Programa Ensino Médio


Inovador, no sentido de

“direcionar políticas públicas por meio de um programa


específico viabilizando inovações para o currículo do ensino
médio, de forma articulada aos programas e ações já em
desenvolvimento no âmbito federal e estadual, com linhas de
ação que envolve aspectos que permeiam o contexto escolar:
fortalecimento da gestão dos sistemas, fortalecimento da
gestão escolar, melhoria das condições de trabalho docente e
formação inicial e continuada, apoio às práticas docentes,
desenvolvimento do protagonismo juvenil e apoio ao aluno
jovem e adulto trabalhador, infra-estrutura física e recursos
pedagógicos e elaboração de pesquisas relativas ao Ensino
médio e a juventude”.
(BRASIL, 2009)

516«
São os seguintes impactos previstos no Ensino Médio a partir da
implementação desse programa nas escolas públicas estaduais:

Superação das desigualdades de oportunidades educacionais;

Universalização do acesso e permanência dos adolescentes de


15 a 17 anos no ensino médio;

Consolidação da identidade desta etapa educacional,


considerando a diversidade de sujeitos;

Oferta de aprendizagem significativa para jovens e adultos,


reconhecimento e priorização da interlocução com as culturas
juvenis.

Esse programa, portanto, de alguma forma, busca garantir a


progressão dos estudos dos alunos após o término do Ensino
Fundamental, que tanto na LDB como na Constituição Federal prevêem
como “possibilidade de progressão” na sua continuidade, ainda como
fator a ser „incentivado‟ e não „obrigatório‟.

Dentre as principais causas de interrupção dos estudos no Ensino


Médio entre os adolescentes é a oportunidade de empregos, para os
homens, e a gravidez, para as mulheres. Além disso, ainda é muito
pouco a quantidade de estudantes em idade adequada no Ensino
Médio. Os dados de 2006 não são muito diferentes dos dados vistos
anteriormente, de 2000 (KUENZER, 2000). Isso significa que muitas

»517
mudanças ainda são necessárias para a universalização desse nível de
ensino no Brasil.

“Dos 10.471.763 brasileiros de 15 a 17 anos, mais de 50% dos


jovens não estão matriculados nesta etapa da educação básica.
Por outro lado, o acesso ao ensino médio é profundamente
desigual entre grupos da população: apenas 24,9% de jovens
na faixa etária de 15 a 17 anos, dos 20% mais pobres da
população, estudam no ensino médio, enquanto temos 76,3%
de jovens estudando dos 20% mais ricos da população”.
(BRASIL, 2009)

Se formos identificar ainda as metas que ainda não cumprimos em


relação às propostas pelo PNE, "apenas 48% dos jovens entre 15 e 17
anos estão no ensino médio, ou seja, a maioria está presa ainda no
ensino fundamental. A meta do PNE era 50% de cobertura em 2006 e
100% em 2011" (BRASIL, 2009).

O Ensino Profissionalizante técnico de nível médio contribuiu para uma


maior expansão das matrículas neste nível de ensino, mas o Ensino
Médio regular ainda está devendo bastante em sua meta prevista pelo
PNE.

Nesse contexto, é necessária uma reformulação desse nível de ensino


para que ele atenda não apenas as demandas da sociedade, mas
também as necessidades da formação integral dos sujeitos inseridos
nessa sociedade. Assim, o Programa Ensino Médio Inovador propõe,
inicialmente, uma reforma curricular. De acordo com o programa "essa

518«
nova organização curricular pressupõe uma perspectiva de articulação
interdisciplinar, voltada para o desenvolvimento de conhecimentos -
saberes, competências, valores e práticas" (BRASIL, 2006).

Estas propostas podem incluir inovações nas práticas pedagógicas,


buscando a superação da dicotomia entre formação profissional e
formação integral do cidadão." Dessa forma, propõe-se estimular
novas formas de organização das disciplinas articuladas com atividades
integradoras, a partir das inter-relações existentes entre os eixos
constituintes do ensino médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a
tecnologia e a cultura" (BRASIL, 2009).

No programa Ensino Médio Inovador está prevista a ampliação da


carga horária das 800h obrigatórias, previstas em lei. Para viabilizar o
trabalho desse programa, a União, em articulação com os demais
sistemas de ensino, se responsabiliza pela criação das condições para
materiais e aporte conceituais necessários para a mudança no currículo
do Ensino Médio. Esta mudança deve estar em consonância com o
Projeto Político Pedagógico das escolas.

Algumas mudanças devem ser feitas para a efetivação desse


programa, além da ampliação da carga horária do nível de ensino,
como "elaboração de materiais motivadores e orientação docente
voltados para esta prática", realização de atividades teórico-práticas
nos diversos laboratórios das escolas e outros espaços, estímulo às
artes e cultura, ampliação da carga horária do docente para dedicação
exclusiva à escola, participação da comunidade na definição do Projeto
Político Pedagógico da escola.

»519
As escolas podem aderir ou não ao programa e, para isso, devem
atender a diversas exigências, como elaboração de projetos, plano
pedagógico e financeiro. As escolas podem solicitar apoio técnico ao
MEC/SEB e, essa secretaria também é responsável pelo
acompanhamento e avaliação dos projetos das escolas.

Verificamos, portanto, que essa pode ser uma inciativa interessante


para a ampliação do acesso ao Ensino Médio, na medida em que os
projetos devem contemplar as expectativas e necessidades específicas
dos jovens de sua comunidade.

4.3 PCN‟s – Parâmetros


Curriculares Nacionais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são referenciais de


qualidade para o Ensino, elaborados pelo Governo Federal, fruto de um
trabalho conjunto entre o MEC e educadores de todo o país.

A partir das disposições apresentadas nos PCN‟s , deve-se buscar


subsídios para uma reforma curricular com o objetivo de se
desenvolver um projeto pedagógico em função da cidadania do aluno e
uma escola em que se aprenda mais e melhor. Da mesma forma, estes
referenciais aplicam-se também a prática do professor, buscando
oferecer parâmetros a partir dos quais estes possam reorientar suas
práticas em busca de novas abordagens e metodologias. Os PCN‟s

520«
podem ser vistos enquanto uma proposta inovadora e abrangente, na
qual se definem novas relações entre ensino e sociedade.

PCN's Ensino Fundamental

As discussões referentes aos PCN's do Ensino Fundamental começaram


na década de 90; uma primeira sistematização das mesmas foi
apresentada em 1995, conforme podemos perceber na introdução do
texto dos mesmos:

“O Ministério da Educação e do Desporto, por intermédio da


Secretaria de Educação Fundamental, iniciou, em 1995, amplo
trabalho de estudos, discussões e formulação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, abrangendo, como referenciais para as
escolas de todo o País, as quatro primeiras séries do ensino
fundamental. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, deverão
também, servir para subsidiar as políticas do MEC, voltados
para a melhoria da qualidade da educação, principalmente no
que diz respeito à política de formação inicial e continuada de
professores, à avaliação do Livro Didático, à programação da TV
Escola e ao estabelecimento de indicadores para o Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)”.
(Disponível em: <http://www.zinder.com.br/legislacao/pcn-fund.
htm>)

Os PCN‟s referentes ao Ensino Fundamental apresentam parâmetros


para as diversas áreas do saber que compõem este nível; assim,
enfocam as seguintes temáticas:

»521
Artes;

Ciências Naturais;

Educação Física;

Ética;

Geografia;

História;

Matemática;

Orientação Sexual;

Pluralidade Cultural;

Língua Portuguesa;

Educação para a Saúde;

Temas Transversais.

Todos esses PCN‟s procuram abranger senão a totalidade, mas ao


menos o maior leque possível de discussões e conteúdos que podem
ser sistematizados nessas áreas.

Considerando a especificidade da área de formação de vocês – Letras –


nos deteremos mais detalhadamente nos parâmetros referentes à
Língua Portuguesa:

522«
PCN Língua Portuguesa

“O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a


participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem
se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende
pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz
conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a
responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso
aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da
cidadania, direito inalienável de todos.

É com essa perspectiva que o documento de Língua Portuguesa


está organizado, de modo a servir de referência, de fonte de
consulta e de objeto para reflexão e debate.

A primeira parte faz uma breve apresentação da área e define


as linhas gerais da proposta. Aborda questões relativas à
natureza e às características da área, suas implicações para a
aprendizagem e seus desdobramentos no ensino. Apresenta os
objetivos gerais de Língua Portuguesa, a partir dos quais são
apontados os conteúdos relacionados à Língua Oral, Língua
Escrita e Análise e Reflexão sobre a Língua. O último tópico
dessa parte, apresenta e fundamenta os critérios de avaliação
para o ensino fundamental.

A segunda parte detalha a proposta, para as quatro primeiras


séries do ensino fundamental, em objetivos, conteúdos e

»523
critérios de avaliação, de forma a apresentá-los com a
articulação necessária para a sua coerência.

O documento não trata separadamente as orientações


didáticas. A opção na área de Língua Portuguesa, pelas suas
especificidades, foi abordá-las ao longo da apresentação dos
conteúdos. Buscou-se, com isso, tornar mais claras as relações
entre a seleção dos conteúdos e o tratamento didático
proposto.

Embora a leitura possa ser iniciada por qualquer parte do texto,


é fundamental que se conheça a concepção de área utilizada,
para que a proposta seja, de fato, compreendida. A discussão
do documento, como um todo, ajudará a esclarecer o
desdobramento dos conteúdos em cada ciclo e a sua
abordagem”.
(Disponível em: <http://www.zinder.com.br/legislacao/pcn-fund.

htm#Portug>)

Percebe-se nas determinações desses parâmetros uma percepção mais


ampla a respeito do ensino de língua portuguesa nas escolas, uma vez
que dimensões como a oralidade, a escrita e a reflexão sobre a língua
demandam do aluno uma compreensão mais apurada sobre o papel da
linguagem em nossa sociedade a partir de seus diversos usos.

524«
PCN's Ensino Médio

Já os parâmetros curriculares para o Ensino Médio foram apresentados


em 2000 e dividem-se nas seguintes partes:

Parte I – Bases legais;

Parte II – Linguagens, códigos e suas Tecnologias;

Parte III – Ciências da natureza, Matemática e suas Tecnologias;

Parte IV – Ciências Humanas e suas Tecnologias

Aqui a parte que mais nos interessa é a II, por tratar de linguagens,
códigos e suas tecnologias; entre outras determinações, são
apresentadas as seguintes:

“Na área de LINGUAGENS E CÓDIGOS estão destacadas as


competências que dizem respeito à constituição de significados
que serão de grande valia para a aquisição e formalização de
todos os conteúdos curriculares, para a constituição da
identidade e o exercício da cidadania. As escolas certamente
identificarão nesta área as disciplinas,atividades e conteúdos
relacionados às diferentes formas de expressão, das quais a
Língua Portuguesa é imprescindível. Mas é importante destacar
que o agrupamento das linguagens busca estabelecer
correspondência não apenas entre as formas de comunicação –
das quais as artes, as atividades físicas e a informática fazem
parte inseparável – como evidenciar a importância de todas as
linguagens enquanto constituintes dos conhecimentos e das
identidades dos alunos, de modo a contemplar as possibilidades

»525
artísticas, lúdicas e motoras de conhecer o mundo. A utilização
dos códigos que dão suporte às linguagens não visa apenas ao
domínio técnico, mas principalmente à competência de
desempenho, ao saber usar as linguagens em diferentes
situações ou contextos, considerando inclusive os
interlocutores ou públicos”.
(Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.

pdf>, pg 92)

A área de linguagens no Ensino Médio enfoca bem mais do que o mero


ensino da leitura e escrita do nosso idioma; pretende-se aqui abordar
todas as formas de manifestação, veiculação, transmissão e
modificações de informações que possam ser utilizadas em sociedade e
através das quais o ser humano possa modificar e tomar parte ativa e
crítica nas ações e acontecimentos que ocorrem no meio em que se
vive.

Ainda em relação à discussão sobre a área de linguagens e suas


tecnologias, encontramos as seguintes competências mencionadas nos
PCN‟s do Ensino Médio:

“• compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes


linguagens como meios de: organização cognitiva da realidade
pela constituição de significados, expressão, comunicação e
informação;

• confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes


linguagens e suas manifestações específicas;

526«
• analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos das
linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização e estrutura das manifestações,
de acordo com as condições de produção e recepção;

• compreender e usar a Língua Portuguesa como língua


materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade;

• conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como


instrumento de acesso a informações e a outras culturas e
grupos sociais;

• entender os princípios das tecnologias da comunicação e da


informação, associá-las aos conhecimentos científicos, às
linguagens que lhes dão suporte e aos problemas que se
propõem solucionar;

• entender a natureza das tecnologias da informação como


integração de diferentes meios de comunicação, linguagens e
códigos, bem como a função integradora que elas exercem na
sua relação com as demais tecnologias;

• entender o impacto das tecnologias da comunicação e da


informação na sua vida, nos processos de produção, no
desenvolvimento do conhecimento e na vida social;

»527
• aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na
escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua
vida.
(Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.

pdf>, pg 95).

Os PCN‟s na apresentação de suas propostas partem do princípio que a


sociedade está em constante evolução e transformação e que,
considerando este contexto, a educação, principalmente o ensino
médio, deve acompanhar esse ritmo das coisas, sendo um
instrumento de inclusão dos indivíduos no meio em que vivem,
tornando o ensino uma instância mais dinâmica e significativa em
relação ao processo de formação de nossas crianças e jovens.

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educadores: seus direitos e o currículo. Brasília: MEC/SEB, 2007.

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SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação-LDB: trajetória, limites


e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999.

530«
Políticas educacionais, organização e
funcionamento da escola básica
Auxiliadora Padilha e Verônica Araújo

ATIVIDADES

Atividade 1

Escreva em seu caderno o que você entende por Educação. Em que o


Curso de Licenciatura em Letras que você está cursando, até agora,
tem contribuído para a construção de seu conceito de Educação?

Atividade 2

Reflita sobre sua personalidade. O que em você é reflexo da sua


convivência com os seus familiares? O que é reflexo de sua relação
com seus amigos? O que é resultado de suas experiências e
aprendizagens na escola? É mesmo possível separar essas
características? O que é Uno e Múltiplo em você?

Atividade 3

Leia o texto de José Saramago (O conto da ilha desconhecida).


Considerando a escola como uma ilha que você pretende desvendar,
descobrir, como você acredita que está se preparando para encontrá-
la?

»531
Atividade 4

Escreva em seu caderno de estudos a sua compreensão sobre a


relação entre a Educação e a Sociedade. Quais suas críticas em relação
à escola de hoje e as respostas desta para as demandas sociais atuais.

Atividade 5

Assista ao vídeo (O que é educação) e veja os slides „Educar‟. A partir


da leitura do texto base e do vídeo e slides, reescreva seu conceito de
Educação e suas reflexões sobre o papel social do educador no
contexto contemporâneo.

Apresente no Fórum “Conceitos de Educação” o conceito anterior e o


conceito reformulado, além de suas reflexões posteriores sobre o papel
do educador.

Leia os conceitos colocados por seus colegas e comente-os.

Atividade 6

Não teríamos condições de estarmos realizando um curso superior se


antes não tivéssemos passado pela Educação Básica. Agora que você
está num segundo momento do seu curso de Licenciatura em Letras,
você já tem condições de fazer reflexões mais aprofundadas.

Poste no Fórum “Educação: um processo contínuo”, uma mensagem


contendo sua reflexão sobre em que aspectos os anos que você passou

532«
nos Ensinos Fundamental e Médio interferiram em sua chegada no
Ensino Superior.

Atividade 7

Em sua opinião, o que leva o adolescente a optar por um curso Técnico


de Nível Médio ou Ensino Médio?Você fez Ensino Médio ou Técnico?
Porque escolheu um e não o outro?

Converse com seus colegas e discuta as vantagens e desvantagens de


cursar um ou outro tipo de Curso Médio.

Atividade 8

Leia o texto “Educandos e Educadores: seus direitos e o currículo”, do


documento do MEC Indagações sobre o Currículo. Ele traz reflexões
sobre a importância do currículo na formação integral dos sujeitos de
direito em uma sociedade cada vez mais mercantilizada.

Atividade 9

Faça uma pesquisa com professores, dirigentes, pais e alunos a


respeito da situação atual do ensino no país, questionando sobre os
principais problemas que estão ocorrendo e discutindo em que
aspectos os mesmos afetam os Ensinos Fundamental e Médio.

Poste no fórum “Situação do Ensino Fundamental e Médio no país” ao


menos um dos problemas identificados por você em relação aos

»533
Ensinos Fundamental e Médio, e, em contrapartida, apresente uma
sugestão de como enfrentar um dos problemas apontados pelos seus
colegas de curso.

Atividade 10

Você sabe o que significa quando uma Constituição é outorgada ou


promulgada? Além de saber o significado do termo, é interessante que
se procure saber o contexto em que esse documento tão importante
para uma nação foi desenvolvido.

Procure lembrar do que você estudo em seu Ensino Médio sobre as


Constituições Brasileiras.

Atividade 11

Você gostaria de saber da história das constituições brasileiras? Leia o


texto do professor Paulo Bonavides , intitulado “A evolução
constitucional do Brasil”.

Atividade 12

Em sua opinião, porque o Estado não garante a obrigatoriedade do


Ensino Superior no Brasil? Levante questões como infra-estrutura,
recursos financeiros, ideologia, poder e interesses. Discuta com seus
colegas sobre isso!

Atividade 13

534«
Pesquise no Texto da Constituição Federal, no Capítulo III, Artigo 211,
§ 5º, na Emenda Constitucional n. 53/2006, que dá nova redação a
este artigo, o que se define sobre a distribuição dos recursos federais,
estaduais e municipais para a Educação Básica.

Você considera que esses recursos são suficientes ou não?

Atividade 14

Analise a LDB n. 9.394/96 e verifique algum ponto importante que


você gostaria de discutir nesta disciplina.

Registre no Fórum “Debate sobre a LDB” e comente as questões


colocadas por seus colegas.

Atividade 15

Acesse o blog “Organização da educação brasileira”, e também o texto


“Plano Nacional de Educação” do site da Assessoria técnica do Partido
dos Trabalhadores. O primeiro texto é uma resenha de um livro sobre
o PNE e o segundo um texto de um assessor do PT da Câmara dos
Deputados. Os dois textos trazem algumas críticas em relação ao PNE
e também algumas informações sobre como foi o processo de
elaboração desse documento.

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Atividade 16

Leia as informações apresentadas nos mesmos e reflita sobre os


avanços e retrocessos que a Educação Brasileira.

Atividade 17

Escolha 02 (dois) objetivos e metas referentes ao Ensino Fundamental


e mais 2 (dois) objetivos e metas referentes ao Ensino Médio, elabore
um texto no qual você analise a situação desses objetivos em relação à
atualidade da escola brasileira. Poste esta atividade na base de dados
“Análise dos objetivos e metas”.

Atividade 18

Procure lembrar o que você observou em termos de mudanças nos


Ensinos Fundamental e Médio nos últimos 5 anos nas escolas. Verifique
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional quais as mudanças
que você considera mais importantes. Discuta com seus colegas sobre
isso e veja quais as opiniões que eles possuem sobre essas mudanças.

Atividade 19

A partir da análise da LDB, monte um quadro comparativo no qual você


aponte o que foi apresentado em termos de modificações em lei para
os ensinos fundamental e médio no período de 1997 até o presente
(2009) e analise essas modificações (foi um ganho, uma perda, uma
inovação ou manteve-se as mesmas disposições legais para os
Ensinos Fundamental e Médio no cenário pós-LDB)?

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OBS: na construção desse quadro, apresente e analise 3 propostas
distintas para cada um dos níveis (Fundamental e Médio), totalizando 6
propostas apresentadas e analisadas.

Atividade 20

Pesquise no documento do Programa Ensino Médio Inovador quais as


concepções de Trabalho, Ciência, Tecnologia e Cultura que estão
preconizadas no mesmo. Em seguida, escreva um texto sobre a
importância desses aspectos na formação dos sujeitos, alunos do
Ensino Médio.

Atividade 21

Leia o texto do Programa Ensino Médio Inovador e analise as propostas


do MEC/SEB. Você concorda com elas? Por quê?

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