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Livro: 30 anos de jornalismo em MS

O quê – Produção de um livro com o objetivo de retratar a evolução ocorrida no


ensino de Jornalismo e nos meios de comunicação de MS partir da instalação do
Estado em 1979 e do curso de Jornalismo da UFMS em 1989. A proposta é fazer o
lançamento em outubro durante a Semana de Jornalismo.

Estrutura do livro

1ª Parte – O ensino de Jornalismo


1.1 História do curso de Jornalismo da UFMS .... ..............Edson Silva
1.2 Análise dos Trabalhos de Conclusão de Curso............Katarini Miguel/Marcos
1.3 Projetil: uma história....................................................mcmcmcm
1.4 Perfil dos jornalistas egressos da UFMS........................Mario/Gustavo
1.5 Reformulações do projeto pedagógico..........................Marcos Paulo
1.6 Cursos da Uniderp, Estácio e UCDB....Oswaldo Ribeiro, Raquel C. e Frederico
1.7 História do Mestrado em Comunicação .......................Mario L. Fernandes
1.8 Análise das dissertações defendidas no Mestrado .......Rose Mara

2ª Parte – Expansão e modernização dos Meios de Comunicação

Mídia Impressa
2.1 Perfil de três sexagenários: Correio do Estado, Jornal do Povo e O Progresso
2.2 A imprensa no interior ...................................... Mario Luiz Fernandes
2.3 Fotojornalismo....................................................Silvio Pereira/Débora
2.4 A evolução estética do projeto gráfico...............Rafaela

Mídia eletrônica
3.1 Rádios comerciais.........................................................Daniela Ota/Helder
3.2 Rádios comunitárias e educativas ................................mcmcmcmc
3.3 Televisão comercial e educativa.................................. Marcelo/Thais
3.4 Ciberjornalismo.............................................................Gerson Martins
3.5 A produção cinematográfica..........................................Hélio

Atuação sindical
4.1 Sindicato dos Jornalistas de MS..................................Guilherme Cavalcante
4.2 Sindicato dos Jornalistas de Dourados........................Beatriz Segato
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Como – Cada capítulo/texto terá entre 10 e 12 laudas (fonte Times, corpo 12,
entrelinha 1/5), referências bibliográficas conforme ABNT, sem numeração de página e
sem espaçamento no início do parágrafo (endentação).

3.5 A produção cinematográfica..........................................Hélio

Esta apresentação a respeito da produção cinematográfica no Curso de Jornalismo da


UFMS toma a forma de um depoimento de minha participação no Departamento de
Comunicação e Artes, no qual o curso estava instalado nos idos de 1991. Na condição
de um recém-chegado professor vindo da cidade de São Paulo, e tendo passado pela
docência no Curso de Biologia da UFMS (sou Biólogo na formação de graduação),
quando concluí o Mestrado em Cinema pela ECA-USP, fui transferido para o
departamento para atuar nas áreas de Recursos Audiovisuais e Fotografia.

Naquela época o principal enfoque da produção cinematográfica era a aquisição de


condições operacionais que possibilitassem a criação de algum tipo de produto
audiovisual em vídeo. O principal conteúdo da disciplina que foi desenvolvido então era
a Linguagem Audiovisual, com enfoque no Cinema e na Fotografia. A análise de
filmes, de uma filmografia ainda desconhecida no meio universitário local foi a
principal atividade nessa época, embora algumas experiências de produção audiovisual
tenham sido também desenvolvidas.

O suporte para produção audiovisual cinematográfico inexistia na UFMS, apenas


sistemas de exibição com alguns projetores 16mm, e um “auto-cine” com dois
projetores 35mm, plenamente funcionais. Portanto a única possibilidade para a
elaboração de produtos audiovisuais seria o vídeo. Havia algumas câmeras VHS na
UFMS, mas em pequeno número. Uma ilha de edição linear, com corte seco, foi
adquirida. Era uma ilha de edição com um “player” e um gravador do modelo “Super
VHS” da marca JVC, com uma pequena mesa de controle de cortes, que era compatível
com as fitas e as câmeras VHS.

A disciplina Recursos Audiovisuais fora incorporada à grade curricular do Curso de


Jornalismo, com o objetivo de iniciar discussões em torno da produção cinematográfica.
Todavia é necessário destacar que muita incompreensão dessa atividade havia dentre os
responsáveis pelo curso. Creio que tal situação era devida à dificuldade reinante para a
produção cinematográfica, pois na época só era considerado “cinema”, se um produto
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audiovisual fosse rodado em uma câmera cinematográfica (com película


cinematográfica) com som síncrono e todas as consequências tecnológicas que tal
abordagem exigia. Embora uma nova concepção estivesse surgindo, que incluía o vídeo
no interior da produção cinematográfica, havia desacordos enormes a respeito desse
tema. Além disso, deve ser considerado o fato de que a disciplina de Telejornalismo,
bem como a própria atividade profissional nessa área, exercia uma espécie de
hegemonia nos sistemas técnicos videográficos, e consequentemente não era bem aceita
a possibilidade de que o vídeo também pudesse ser utilizado como suporte para a
Linguagem Cinematográfica (ou, contemporaneamente, Linguagem Audiovisual). Isso
gerava problemas consideráveis na utilização dos equipamentos disponíveis e na
priorização de atividades, já que, evidentemente, o Telejornalismo era uma atividade de
formação profissionalizante e por isso mesmo mais importante que a formação em
Linguagem Cinematográfica ou em Produção Cinematográfica (Audiovisual em seu
amplo sentido).

Para maior esclarecimento do que significa o termo Audiovisual apresento a posição de


alguns autores com o objetivo de mostrar a dimensão com que o assunto deveria ter sido
tratado naquela época. Encontramos uma definição de Audiovisual já na obra de
Christian Metz, semiólogo francês, cujo projeto científico, desenvolvido na década de
70 do sec. XX estabelecia um campo de análise que se denominou de “Audiovisual” e
que estava composto por um grupo de linguagens semelhantes nas quais estavam
incluídos o cinema, a televisão, o desenho animado, as gravações sonoras, a fotografia,
a fotonovela, os quadrinhos, etc. Como a televisão é um representante das imagens
eletrônicas em movimento, podemos também incluir de modo mais atualizado o
“vídeo”, um descendente da televisão, em suas formas analógicas e digitais. Vejamos:

“Cinema-televisão: imagem obtida mecanicamente, múltipla, móvel,


combinada com três tipos de elementos sonoros (falas, música, ruídos)
e com menções escritas.” (METZ, Christian. Linguagem e Cinema.
São Paulo. Perspectiva, 1980, pag 269)

Sua posição fica ainda mais clara ao descrever as características que unem esses meios
de expressão:
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“A iconicidade, a duplicação mecânica e a sequencialização não são


os únicos traços pertinentes da matéria da expressão própria da
imagem de cinema; esta, além disso, é móvel. Por esta razão, o cinema
pertence a um quarto grupo de linguagens, formado justamente de
todas as que se apoiam na imagem móvel: televisão, desenho
animado, cinema.” (METZ, Christian. Linguagem e Cinema. São
Paulo. Perspectiva, 1980, pag 274.)”

Podemos observar na obra de Arlindo Machado, teórico brasileiro das poéticas artísticas
tecnológicas, a consideração de que, apesar dos usos poéticos dos sistemas
videográficos, não há como negar a vinculação do vídeo aos processos de Comunicação
Social, vejamos:

“Mas o vídeo é também um fenômeno de comunicação e aqui a


discussão fica um pouco mais complicada. Nele, uma mensagem é
transmitida de uma comunidade de produtores ou emissores a uma
comunidade de consumidores ou receptores (...) Esse algo que se
transmite, mesmo não sendo rígido como uma lei, nem estável como
uma língua natural, é suficientemente sistemático para garantir a
eficácia da comunicação e a inserção do meio como canal de
expressão dentro de uma sociedade.” (MACHADO, Arlindo. Pré-
cinemas e Pós-cinemas. Campinas, Papirus, 1997. Pag. 193)

Por outro lado, um aspecto digno de destaque, é a inclusão do estudo dos sistemas
audiovisuais dentro dos sistemas educativos, já que se trata aqui, de justificar os
conteúdos desenvolvidos na disciplina Recursos Audiovisuais no Curso de Jornalismo,
naquele período iniciado em 1991; observamos em Antonio Costa as seguintes
afirmações:

“A introdução do cinema na escola (e, mais em geral, a presença da


problemática relativa às linguagens audiovisuais) torna-se um
momento de confronto entre um tipo de cultura centrado na palavra
(aquela que institucionalmente a escola deve transmitir) e aquela que
poderíamos chamar de cultura icônica (a imagem em todas as suas
possíveis articulações e em suas interações com a palavra) que tem,
como vimos, uma parte cada vez mais importante nos processos
informativos e ‘formativos’.” (COSTA, Antonio. Compreender o
Cinema. Rio de Janeiro, Globo, 1987. Pag 39)

Estas questões e abordagens foram por mim consideradas quando da minha


transferência do Curso de Biologia para o Curso de Jornalismo, para atuar na área de
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Recursos Audiovisuais. É necessário esse resgate conceitual, que parece ter sido
esquecido ao longo dos anos, de modo que se observe a função e a importância dos
conhecimentos audiovisuais.

Ainda que fosse natural o comportamento corporativo e competitivo, entre o


Audiovisual (genérico) e o Telejornalismo (nos primórdios do Curso de Jornalismo), é
possível vermos que, do ponto de vista acadêmico, desde há muito tempo, já existiam
reflexões que davam suporte à incorporação da Produção Cinematográfica no rol das
discussões sobre Comunicação Social e Jornalismo.

Neste ponto deste artigo, creio que os exemplos possam falar mais alto. Assim,
incorporo aqui dois vídeos produzidos pela turma de Recursos Audiovisuais de 1993.

A técnica de visualização dos filmes consiste em obter o link do vídeo através do


QRCode. Um aplicativo para leitura de QRCode é necessário ser instalado no celular
para a visualização dos vídeos no próprio smartphone. O aplicativo executará o
escaneamento do QRCode e direcionará para o vídeo no YouTube.

O primeiro filme, intitulado “Eu atrás e você na frente, ou eu na frente e você atrás” (ou
A Fila), apresenta em 6min uma visão mordaz da cultura da fila no Brasil. No banco, no
ponto de ônibus, e até mesmo em um confessionário católico. Os estudantes escolheram
a temática, escreveram o roteiro e planejaram toda a produção sendo acompanhados
pelo professor. Embora utilizando uma tecnologia precária, como era o VHS e a edição
de corte seco, é possível observar-se a precisão (para um filme estudantil) e modulação
entre pontos fortes e fracos na construção das diferentes piadas em cada uma das filas.

Cena de “Eu atrás e você na frente, ou eu na frente e você atrás”, filmada na Capela da
Escola Nossa Senhora Auxiliadora em Campo Grande. O QRCode dá acesso ao filme no
YouTube
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O segundo filme, de 11min, transformou-se em uma improvisação jornalística frente a


um fato inusitado. Os estudantes inspirados pelo filme “Ata-me” de Pedro Almodóvar,
criaram uma história em que uma menina é presa em uma cama até que ela resolvesse
amar seu namoradinho. Mas, durante as filmagens, a proprietária do imóvel onde as
cenas eram filmadas sentiu-se ofendida pelo conteúdo do filme, impediu as filmagens e
a polícia foi acionada. Os estudantes filmaram todo o acontecimento na forma de um
documentário. Esse filme observa um aspecto da cultura regional na década de 1990, na
qual a própria função de um filme é visto com um sentido utilitário, como se pudesse
ser utilizado para prejudicar esta ou aquela pessoa; uma alusão e associação dos
sistemas de comunicação audiovisual às atividades criminosas. O caso acabou numa
delegacia de polícia, onde pela atuação do então Pró-reitor de Extensão, Prof. Fausto
Mato Grosso, houve minha liberação sem qualquer tipo de acusação.

Cena de “Ama-me”, filmada em residência na Avenida Tamandaré em Campo Grande. O


QRCode dá acesso ao filme no YouTube.

Parece-me que um filme estudantil tornar-se um caso de polícia tem um significado de


natureza simbólica ao se pensar no desenvolvimento da atividade audiovisual em Mato
Grosso do Sul. Efetivamente na década dos anos 1990, não fazia parte da cultura local e
desenvolver essa atividade não era bem visto pela sociedade local. Se nem mesmo
dentro do Curso de Jornalismo, o desenvolvimento de uma atividade cinematográfica
(guardadas as devidas proporções), era observado com grande simpatia por professores
da área específica, o que se poderia dizer da desconfiança na sociedade?

Uma cidade que possuía 02 salas de cinema de rua já quase falidos, duas salas de
cinema na rodoviária da cidade, onde uma delas só apresentava filmes pornográficos, e
duas salas de cinema no único shopping da cidade, carecia de uma cultura audiovisual
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suficientemente sólida que pudesse promover a produção cinematográfica. Naquela


época pensar em um curso de graduação na área seria como criar um Curso de
Hidrologia em pleno deserto.

Essa situação somente se inverteu nos anos 2014/2018. Após inúmeras iniciativas de
entusiastas da sétima arte, que promovendo festivais de cinema e cursos livres na cidade
de Campo Grande, com ou sem vínculo com a UFMS, foram amadurecendo a opinião
pública ao ponto em que a criação de um Curso de Graduação em Audiovisual tornou-se
possível em meio aos interesses dos diferentes grupos políticos que administravam a
universidade.

Assim, com a criação do Curso de Graduação em Audiovisual (um processo que durou
4 anos), a primeira turma ingressou em 2019, iniciando uma fase de consolidação da
cultura audiovisual dentro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

O Curso de Jornalismo, em suas origens, ainda que repleto de contradições, foi


responsável pela iniciativa de trazer à tona as discussões, os experimentos, as
possibilidades de comunicação nas diferentes áreas de expressão humana, incluindo aí
as imagens e sons.

Haveria muito mais a reportar a respeito de todas as iniciativas que ocorreram ao redor
da ideia de produção cinematográfica dentro da UFMS e no Curso de Jornalismo e
também no Curso de Artes Visuais, todavia exigiria de minha parte um esforço
historiográfico, que apesar de necessário, não tenho condições de executar. Talvez as
próximas gerações se interessem pelo assunto e certamente conseguirão encontrar todos
os indícios dessas iniciativas, guardados nos fundos de gavetas ou armários dos
arquivos institucionais, bem como nos acervos particulares das pessoas que apostaram
nessa aventura.

BIBLIOGRAFIA

COSTA, Antonio. Compreender o Cinema. Rio de Janeiro, Globo, 1987.

MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas e Pós-cinemas. Campinas, Papirus, 1997.

METZ, Christian. Linguagem e Cinema. São Paulo. Perspectiva, 1980.

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