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Igreja nas Casas: Um Novo Modismo ou Retorno as Origens

das Praticas do Primeiro Século?


Editado por Rafael Costa Brandão

Até o início do quarto século com a ascensão ao trono romano do imperador Constantino (312 a
337 d/C), a Igreja cristã reunia-se exclusivamente nas casas de seus membros. A adoção de um
templo para reunião de cristãos foi uma invenção megalomaníaca de Constantino, posterior ao
início do quarto século. Veja o que dizem três dos mais credenciados historiadores eclesiológicos
da atualidade:

Em Historical Approach to Evangelical Worship (Uma Abordagem Histórica da Adoração


Evangélica), página 103 e em History of the Christian Church (História da Igreja Cristã): Volume
3, página 542, SCHAFF escreve: “Depois da cristandade ser reconhecida pelo estado e autorizada a
ter propriedades (pós-Constantino), ela passou a erigir templos de adoração em todas as partes do
Império Romano. Provavelmente havia mais edifícios deste tipo no século IV do que houve em
qualquer período da história, exceto talvez, no século XIX nos Estados Unidos...”. Em To Preach or
Not to Preach? (Com ou Sem Propósitos de Oração), página 29, NORRINGTON diz que: "Na
medida em que os Bispos dos séculos IV e V cresciam em riqueza, eles canalizaram tais riquezas
através de um elaborado programa de construção de templos de Igrejas". Em Early Christians
Speak (O Falar dos cristãos Modernos), página 74, FERGUSON afirma que: "Até a ascensão de
Constantino não encontramos nenhum edifício especialmente construído para a reunião da igreja,
ela se reunia em casas simples ou casas adaptadas; após a ascensão de Constantino, as construções
começaram: primeiro simples salões, depois basílicas e finalmente grandes catedrais foram
erigidas".

Existem na Bíblia um grande número de versículos que mostram claramente a igreja se reunindo
na casa de um de seus membros, e nenhuma só referência a uma reunião da Igreja acontecendo
num templo, numa sinagoga ou em algum outro local especialmente construído para esta
finalidade.

Veja por exemplo os dois primeiros versículos da carta escrita por Paulo ao seu cooperador
Filemon, está claramente escrito que a Igreja se reunia na casa deste irmão. Igualmente, em
Colossenses 4:15, Paulo manda uma saudação à irmã Ninfa, em cuja casa se hospedava a Igreja de
Laodicéia.

Os exegetas nos contam que a carta que Paulo escreveu aos Romanos, ele a escreveu enquanto
estava na cidade de Corinto e por isto, em Romanos 16:23, ele envia aos irmãos de Roma uma
saudação do irmão Gaio, que além de o estar hospedando naquela data, também era o hospedeiro
de toda a Igreja de Corinto. Devido a este fato é que falando aos irmãos em 1ª Coríntios 14:23, ele
traz uma direção de como proceder, quando a Igreja toda estivesse reunida no mesmo lugar (neste
caso, a casa do irmão Gaio).

Preste bastante atenção em cada palavra dos seguintes textos bíblicos: Atos 12:2; Atos 21:8-14; Atos
16:40; Atos 20:17-20 e Tito 1:7-11. Porque você acha que em todos estes textos, associados à casa
dos irmãos, há pessoas: congregadas, confortando uns aos outros e ensinando? Logicamente, por
se tratar das atividades cotidianas da Igreja, que se reunia, exatamente nestas casas mencionadas.

O casal Áquila e Priscila sempre cooperaram com o ministério de Paulo, e também eram
missionários que migravam levando o evangelho. A Bíblia menciona por duas vezes que em
cidades diferentes, onde eles se encontravam, eles hospedavam a Igreja do local em suas casas.
Confira isto lendo: 1ª Coríntios 16:19 e Romanos 16:3-5.

Um caso muito especial é o caso de Jerusalém, uma das metrópoles da época. A Bíblia diz que em
Jerusalém os cristãos primitivos partiam o pão (a principal reunião da Igreja) de casa em casa
(Atos 2:46), eles também ensinavam (outra importante reunião da Igreja) de casa em casa (Atos
5:42). Quando Saulo começou a perseguir esta igreja, com o propósito de prender os cristãos (Atos
8:3), ele entrava de casa em casa (porque era aí que os cristãos se reuniam). Os historiadores
mencionados no início do estudo, nos contam que Jerusalém, durante o primeiro século, teve
centenas de casas onde os cristãos se reuniam. Nestes dois primeiros textos, também é
mencionado que os cristãos iam ao templo Judaico. Será que eles iam lá para a reunião da Igreja?
Lógico que não! Você acha que os Sacerdotes que os ameaçavam (Atos 4:15-21), os espancavam
(Atos 5:40) e os levavam para o cárcere (Atos 4:1-3 e Atos 5:17-18) por ensinar no nome de Jesus;
iam ceder o templo Judaico para a reunião da Igreja? É irracional pensar desta forma. Eles se
reuniam apenas no Pórtico de Salomão (Atos 5:12), que era uma parte do átrio exterior do templo.
Esta parte era aberta também aos gentios e um local de frequentes debates e muito comércio
(Mateus 21:12). Os Apóstolos iam lá com propósitos evangelísticos, conforme a Bíblia nos mostra
(Atos 2: 40-41 e Atos 4:4). Que em Jerusalém os cristão se reuniam de casa em casa (isto é nas casas
de seus próprios membros) é um fato bíblico e históricamente comprovado.

Outro caso muito interessante refere-se a outra metrópole da época que era Roma. O apóstolo
Paulo ao escrever sua carta aos cristãos daquela cidade, saúda nominalmente um primeiro grupo:
“Áquila, Priscila bem como à Igreja que se reunia na casa deles” (Romanos 16:3-5). Ele também
saúda nominalmente um segundo grupo: “Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os
irmãos que se reúnem com eles” (Romanos 16:14). E saúda ainda nominalmente um terceiro
grupo: “Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles”
(Romanos 16:15). Vemos que existiam em Roma, pelo menos três grupos distintos de cristãos (que
se reuniam em casas também distintas) por ocasião desta carta. O mais interessante é que quando
Paulo chega em Roma, ele não começa a se reunir em nenhum dos locais já existentes. Ele começa
um quarto grupo em uma casa que ele mesmo alugara (Atos 28:30-31). Porque isto? Será que
Paulo não se dava bem com os outros três grupos de cristãos? Amados devemos entender que
casas são geralmente pequenas (comportando um grupo pequeno de cristãos), e quando Paulo
chegou em Roma provavelmente as outras três casas, onde os cristãos se reuniam, já estavam no
limite máximo de pessoas; assim ele normalmente começou um quarto local para reunião de
cristãos em sua própria casa.

Uma última explicação necessária, refere-se ao texto de Atos 20:8 onde é mencionado que os
irmãos estão reunidos num cenáculo. Muitos por desconhecerem o grego, confundem um
cenáculo com um templo, sinagoga ou algum outro tipo de “local mais próprio para reuniões, do
que uma casa”. A palavra grega para cenáculo é “huperoon”, e significa simplesmente uma casa
maior com um segundo pavimento. Veja isto claramente mostrado nos textos de Atos 1:13 (onde
os cristãos estão reunidos num cenáculo, à espera do Espírito Santo) e Atos 2:2 (onde o Espírito
Santo ao ser derramado enche toda a casa onde eles ainda continuavam reunidos e esperando por
Ele). O cenáculo mencionado é apenas uma casa grande, com um pavimento superior (comum aos
mais ricos da época).

Visando refutar esta lógica bíblica de clareza impressionante, alguns teólogos modernos, com o
propósito de defender e sustentar o “denominacionalismo” tem feito três afirmações, que
passaremos a analisar à seguir:

Primeiramente afirmam que a Igreja realmente começou reunindo-se nas casas de seus membros;
mas que isto se deu exclusivamente por causa da perseguição imposta sobre ela; que isto durou
poucos anos e que as casas e as catacumbas foram apenas locais provisórios de reunião visando
fugir da perseguição. Tanto a Bíblia quanto a história desmentem estes argumentos. Lucas disse
em Atos 9:31, que: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria,
edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em
número”. Interessante notar que durante todo este período de paz, a Igreja está se reunindo nas
casas de seus membros (logo o motivo de reunir-se em casas não foi a perseguição). A história
também nos mostra que em termos cronológicos, a perseguição foi esporádica nos primeiros
séculos e não algo permanente. Durante as perseguições, realmente os cristãos se refugiavam nas
catacumbas, mas tão logo amainavam as perseguições, a Igreja voltava a se reunir no ambiente
determinado pelo Espírito Santo, ou seja as casas dos irmãos, que a constituíam.

Seu segundo argumento é que tanto Jesus, quanto os apóstolos primitivos apoiavam a “reunião
numa sinagoga”, visto que falavam e participavam de reuniões em tais lugares. Dizem eles que o
moderno templo (seja católico ou evangélico), é algo derivado da sinagoga, e que sendo assim, o
fato de Jesus e os apóstolos tê-los frequentado, credencia os templos atuais, como locais de reunião
da Igreja. Eles se esquecem que os Judeus haviam determinado, conforme vemos em João 9:22 e
João 12:42 que se alguém se tornasse cristão, deveria ser expulso das sinagogas. Sinagoga, é lugar
de reunião de Judeus não de cristãos. Jesus e os apóstolos primitivos eram Judeus, por isto
participavam das reuniões dos Judeus. Da mesma forma, que com relação ao templo de Jerusalém,
os cristãos primitivos iam às sinagogas com propósito evangelístico como vemos em Atos 14:1 e
Atos 18:4. Não existe menção de uma só “reunião da Igreja” acontecendo numa sinagoga.
Sinagoga e templo são culturas cultura judaicas ou pagãs, não fazem parte da Igreja e do
cristianismo primitivo. Por entrarem lá os cristãos primitivos não os estavam avalizando (como
local para reunião da Igreja), e sim os utilizando com propósitos específicos (1ª Coríntios 9:20-23).

Um terceiro argumento destes teólogos modernos, é que o significado da palavra grega da qual
veio nosso vocábulo Igreja, seria “os chamados para fora de suas casas”. Isto soa forte e
impressiona, devido a não temos conhecimento do grego. Assim engolimos tal afirmação, como
sendo um forte argumento. Entretanto o vocábulo grego “ekklesia”, do qual veio nossa palavra
“Igreja”, é composto de duas outras palavras, “ek + kaleim”. A palavra “Kaleim” significa
simplesmente “chamados” e o prefixo “ek” significa “para fora”. Então o significado de Igreja é
“os chamados para fora”. A palavra grega para casa é “oikos”, e não está presente no vocábulo
Ekklesia (Igreja). Porque então traduzir Igreja como “os chamados para fora de suas casas”? Se
queremos aclarar a explicação do vocábulo, não seria mais lógico e bíblico dizer que a Igreja é o
conjunto dos “chamados para fora”, do sistema mundano e carnal criado e mantido pelo diabo.
Assim sendo, preferimos ficar com aquilo que a bíblia diz, pois tememos acrescentar algo à
Palavra de Deus (Apocalipse 22:18).

Os versículos e argumentos acima são mais que suficientes para provar a qualquer cristão sincero,
que não há comprovação bíblica e nem histórica (pelo menos até o início do quarto século) para
reuniões da Igreja em nenhum tipo de lugar que não sejam as próprias casas de seus membros!
Seria tão estranho para os cristãos primitivos se reunirem em templos, como é estranho para
alguns cristãos atuais reunirem-se em casas.

Más reunindo-se em tantos locais (casas) diferentes, em uma mesma cidade, isto não irá produzir
grande divisão entre os cristãos, quebrando assim a unidade da Igreja na cidade?

Tanto a Bíblia quanto a história desmentem este conceito, Reunir-se em várias casas (e nelas partir
o pão), foi a realidade da Igreja Primitiva, e nunca a dividiu. A Mesa (princípio de comunhão)
continuou única, apesar de estar presente em vários locais. O que divide não são os muitos locais
de reunião e sim algumas atitudes do coração de quem está se reunindo. Veja isto: Marcos 7:21-23
– 1ª Coríntios 3:3-6 - Gálatas 2:6-10 - 1João 1:1-3.

Quando nos recusamos a ter comunhão (um anti-tipo da Mesa) com irmãos genuinamente salvos,
aí sim estamos dividindo o Corpo de Cristo. Aquele que Cristo aceitou, tem comigo unidade de
espírito, porque eu também fui aceito por Ele. Ainda que não tenhamos chegado à unidade de fé,
podemos ter comunhão. Veja isto em Efésios 4.3-16. Esta postura realmente divisiva, é vista
claramente na conduta do Presbítero Diótrefes (3ª João 9-11); que desejando ter a primazia
(proeminência) entre os demais presbíteros, agia de maneira arbitrária e intransigente, se
recusando a receber na comunhão outros irmãos cujo pensamento diferia do dele (incluindo entre
estes o próprio apóstolo João); tentando impedir os demais irmãos da Igreja de recebê-los e
chegando até mesmo a ameaçá-los com a expulsão da igreja.

Finalizo esta reflexão com uma última pergunta. Se ao construir sua casa material (o tabernáculo
judaico), Deus deu um projeto preciso a Moisés e não permitiu nenhum acréscimo a este projeto
original (Êxodo 25:9), será que na construção da sua casa espiritual, que é a Igreja (1Pedro 2:5),
Deus permitiria tais acréscimos?

A pergunta correta não é porque nos reunirmos de casa em casa, já que isto faz parte do projeto
original de Deus, para sua Igreja. A pergunta correta a ser feita é, onde obtivemos permissão para
nos reunirmos de forma contrária ao projeto original. Se negligenciarmos este ponto fundamental
da reunião da Igreja, a negligência em outros pontos também virá, será apenas uma questão de
tempo (Lucas 16:10)!

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