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Resumo
O estudo da personalidade é considerado uma das áreas mais consolidadas na Psicologia.
Quando se trata de avaliá-la, uma das principais estratégias é por meio da administração no
indivíduo de uma bateria de instrumentos ou testes padronizados para este fim. Dentre esses
instrumentos o Método de Rorschach se destaca como um dos mais utilizados, pesquisados e
reconhecido internacionalmente por sua capacidade de identificação de uma ampla gama de
traços de personalidade nas mais variadas áreas de atuação do psicólogo. Este artigo teórico
descreve a importância da utilização do método em várias circunstâncias em que
características de personalidade são relevantes para tomadas de decisões em tribunais, em
escolas, empresas, hospitais ou em qualquer outro tipo de estabelecimento em que
informações a respeito da personalidade de uma pessoa é um aspecto essencial. O artigo
também retrata o potencial do Rorschach para ser administrado em contextos transculturais
e avalia a confiabilidade e a validade da avaliação por meio desse método. No final, algumas
preocupações são levantadas sobre a adequação da formação do profissional para a
utilização do Rorschach, uma vez que somente uma avaliação realizada por um profissional
especializado e bem treinado no método poderá fazer contribuições valiosas na investigação
da personalidade.
Introdução
As pessoas provavelmente têm tomado decisões com base em avaliações ou apreciações
de personalidade desde o início das interações humanas. Se o homem das cavernas escolhesse
o companheiro com motivações e personalidade inadequadas, o resultado de sua caça poderia
ser um fracasso. Se na antiguidade os gregos e romanos falhassem em escolher os seus
líderes, com as qualidades de personalidade essenciais necessárias, a sobrevivência de todos
poderia estar ameaçada. Gideão, citado no velho testamento da bíblia sagrada, usou alguns
critérios para selecionar os soldados mais bem preparados para ir à guerra. O primeiro critério
foi solicitar às pessoas que estivessem com medo que retornassem para suas casas. O segundo
consistiu em testá-los quanto à astúcia para se manterem em alerta durante o período de
descanso. Permaneceram no exército apenas 300 homens de um exercito de 32.000. Para
selecionar as pessoas nessa época, os líderes frequentemente utilizavam de uma série de
fontes de informações: sonhos, sinais de Deus, oráculos, espiões, traidores, observações
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia – Edição Especial nº 008 Vol.01/2014 set/2014
O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema Compreensivo) setembro/2014
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No Brasil o Método de Rorschach é considerado um teste psicológico, ou seja, um instrumento de
avaliação de uso privativo do psicólogo.
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Por outro lado, pode ser considerado também projetivo, associativo e/ou aperceptivo,
uma vez que as manchas, um material extremamente plástico, são uma barreira que impede a
interferência de estímulos ambientais comuns, não havendo nenhuma restrição à
individualidade da personalidade. Assim, o indivíduo pode expressar livremente seu mundo
próprio de significados, simbolizações e sentimentos pessoais, que extrapolam as qualidades
reais do estímulo, na medida em que ele não está em perigo de colidir com a realidade
(RORSCHACH, 1978; WEINER, 2003).
O problema que houve com o Rorschach foi que muitos clínicos e pesquisadores
tentaram formular posições teóricas que enfatizavam um modo unilateral ou parcial de se
trabalhar com as respostas às manchas: aspectos cognitivos/ psicométricos/ quatitativos ou
temáticos/projetivos/subjetivos do instrumento. Essas formulações, segundo Weiner (2003),
se prestaram a um desserviço à riqueza e complexidade do método e, equivocadamente, dão a
entender que existe apenas um modo de analisar as respostas deste valioso instrumento. O
autor ainda afirma que considerar o Rorschach como método, e não como teste, ajuda a
desestimular a adesão estéril a um único enfoque e promove a utilização adequada das
informações levantadas pelo instrumento.
Outra consideração a fazer é que os mesmos resultados encontrados no Rorschach
podem ser avaliados de diferentes perspectivas teróricas. Assim, encontramos trabalhos com
fundamentação teórica psicanalítica (SCHAFFER, 1954; LERNER, 1991; CHABERT, 1993),
com fundamentação jungiana (McCULLY, 1980), ou com base fenomenológica
(BARTHÉLÉMIE, 1997; HELMAN, 1991, MINKOWSKA, 1956). Além do mais, Hermann
Rorschach, entre os anos 1910 e 1922, época em que atuou profissionalmente, conviveu em
seu percurso profissional com grandes representantes da área, incluindo expoentes dessas 3
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Presley et al. (2001), Meyer e Viglione (2008), Meyer (2001) e (2002) realizaram estudos
inter e multiculturais considerando pessoas de países diversos, ou pessoas de subculturas
diferentes dentro de uma mesma cultura ou pacientes hospitalares provenientes de diferentes
minorias étnicas. Os autores não encontraram diferenças estatisticamente significantes entre a
grande maioria das variáveis do Rorschach, e concluíram que a etnia não estava associada
com qualquer um índices, porcentagens ou variáveis investigadas derivadas do método.
Concorda-se com Dana (2005), que adverte que o termo "livre de cultura" aplicado ao
Rorschach pode implicar o endosso de que as semelhanças entre as pessoas de diferentes
culturas são maiores do que as diferenças tanto na vida quanto nos dados Rorschach. Isso
contribui para a insensibilidade contemporânea para as questões culturais, dificultando a
investigação continuada sob este enfoque. Apesar de muitas variáveis manterem o mesmo
significado e frequências equivalentes nas diferentes culturas, algumas poucas variáveis do
método têm se destacado por demonstrarem pouca validade quando interpretadas da mesma
forma em culturas diferentes. Isto é um problema sério e que pode passar despercebido por
pessoas que não são especialistas no uso desse instrumento. Além do mais, diferentes
configurações de variáveis no Rorschach podem ter vantagens e desvantagens adaptativas
dentro dos diversos ambientes socioculturais. Meyer adverte que para comparar pessoas de
etnias diversas e grupos minoritários deve-se, no entanto, controlar fatores demográficos
como idade, educação, características da saúde (pacientes e não pacientes). Este autor afirma
que com desenhos de pesquisa bem delineados, as diferenças no Rorschach não tendem a ser
significativas (MEYER, 2002).
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com valores de Kappa ou do Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) maiores do que 0,60
(SILVA NETO, 2008). A codificação do Rorschach para examinadores treinados
normalmente é bastante simples e o acordo é atingível através de avaliadores. As meta-
análises indicam que os avaliadores razoavelmente treinados conseguem uma boa
confiabilidade, com a média da correlação de Pearson ou intraclasse ( ICC) acima 0,85 e os
valores médios de kappa para pontuações atribuídas a cada resposta acima .80. (MEYER et
al., 2002, MEYER, 2004). Segundo Meyer (2004) os juízes avaliadores de Rorschach
concordam mais do que os supervisores avaliando o desempenho no trabalho dos empregados
(r = 0,57), os cirurgiões e enfermeiros diagnosticando anormalidades da mama em um exame
clínico (kappa = 0,52), e mais do que os médicos que avaliam a qualidade dos cuidados
médicos prestados por seus pares (kappa = 0,31). Para muitas variáveis do Rorschach, a
pontuação mostra o mesmo grau de confiabilidade quando os médicos estimam o tamanho do
canal vertebral e medula espinhal de ressonância magnética, tomografia computadorizada, ou
raio-x (r = 0,90). Ou o mesmo grau de confiabilidade entre médicos ou enfermeiros que
avaliam o grau de sedação de drogas para pacientes em terapia intensiva (r = 0,91, ICC =
0,84).
Ao mesmo tempo, também se observam alguns limites em relação à confiabilidade
daquelas variáveis que aparecem em frequência muito baixa (menor do que em 5%) nos
protocolos do teste (MCGRATH et al., 2005; MEYER et al., 2002; VIGLIONE & TAYLOR,
2003; MEYER & VIGLIONE, 2008). Segundo Meyer e Viglione (2008), são necessárias
grandes amostras de testes para estimar com precisão a confiabilidade dessas variáveis mais
raras (por exemplo as variáveis Sx, Fr+rF e CP). Além disso, existem alguns códigos mais
comuns que geralmente apresentam uma menor confiabilidade em função de apresentarem
subtipos que podem ser difíceis de discriminar (por exemplo, os tipos de sombreados, na
medida em que a forma é primária, secundária ou ausente; ou diferenciar os conteúdos
botânico, de paisagem e natureza; ou classificação de tipos específicos de desorganização
cognitiva). Para ajudar na superação dessas dificuldade Viglione (2002) desenvolveu um livro
de codificação que aborda estas questões. Além disso, é preciso ter em mente que a
confiabilidade entre avaliadores no Rorschach não é uma propriedade fixa do instrumento.
Pelo contrário, é totalmente dependente da formação, habilidade e consciência da examinador.
Assim, a prática repetida e a calibração com critérios bem definidos de correção são
essenciais para uma boa prática (MEYER e VIGLIONE, 2008).
Meyer e Viglione (2008) advertem sobre a questão de que a maioria das pesquisas de
confiabilidade para o Rorschach e outros instrumentos conta com avaliadores que trabalham
ou treinam no mesmo ambiente. Dessa foram, consistem em pessoas que possuem as mesmas
orientações e vícios de correções, em que o acordo entre esses avaliadores que trabalham
juntos pode ser maior do que o acordo entre avaliadores de grupos de trabalho diferentes.
Como resultado, a confiabilidade na correção de dois avaliadores de um mesmo grupo pode
ser maior do que a precisão de pontuação correta de fato. Enquanto o índice de confiabilidade
entre avaliadores do mesmo grupo de pesquisa tende a ser maior ou próximo de 0,85, por
outro lado, esse índice pode chegar a 0,72 quando os mesmos protocolos do teste são
codificados por avaliadores de grupos diferentes.
Segundo os autores, isto sugere que há complexidades no processo de codificação que
não estão totalmente esclarecidas em materiais de treinamento padrão do Sistema
Compreensivo. Para minimizar esses problemas, os avaliadores devem ter práticas exaustivas
de correção do teste, por meio dos exercícios disponíveis nos livro de treinamento do sistema,
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4.2 Validade
O estudo da validade de um teste psicológico evidencia se o teste está medindo o
construto que se propôs a verificar em sua definição inicial e até que ponto o faz. Vários
autores nacionais e internacionais são unânimes em asseverar que esta é uma qualidade
imprescindível aos testes psicológicos. Para se garantir a validade de um teste psicológico,
muitas linhas de evidências devem ser englobadas, exploradas e testadas. A validade depende
das evidências que se pode reunir para corroborar qualquer inferência feita a partir de
resultados de testes (AERA, APA e NMCE, 1999; BALBINOTTI, 2005; URBINA, 2007;
WEINER e GREENE, 2008).
Segundo Weiner e Greene (2008), a mais extensa fonte de informação a respeito da
validade do Rorschach é a meta-análise desenvolvida por Hiller et al. (1999). Esses
pesquisadores realizaram uma análise comparativa de validade entre o Rorschach e o MMPI.
Eles investigaram um amostra aleatória de 2.276 protocolos Rorschach e 5.007 protocolos de
MMPI e concluíram que ambos os instrumentos são válidos para avaliar o que eles se
propõem avaliar. Particularmente o Rorschach demonstrou maior validade em relação a
critérios classificados como objetivo. Os critérios que eles consideraram objetivos
abrangeram uma série de variáveis que foram consideradas reações comportamentais,
condições médicas, interações comportamentais com o meio ambiente, ou classificações que
exigiam um mínimo de julgamento de um observador, como o abandono do tratamento,
história de abuso, o número de acidentes de trânsito, as histórias criminais, o diagnóstico de
um transtorno médico, o desempenho em um teste cognitivo, o desempenho em um teste
comportamental de capacidade de adiar a gratificação, ou resposta à medicação.
Vários estudos têm fornecido evidências de validade do Rorschach por meio de meta-
análises, considerando sua validade global, ou algumas de suas escalas específicas (ou
índices) ou, ainda, mediante a análise de variáveis individuais (BORNSTEIN e MASLING,
2005; EXNER e ERDBERG, 2005; MEYER e ARCHER, 2001; MIHURA et al., 2012). Entre
os índices que evidenciaram maior validade encontram-se: o Índice de Suicídio (S-Con),
Índice de Distúrbio do Pensamento (PTI), de Hipervigilância (HVI), de Dependência (ROD),
de Forma Distorcida (FQ-), de Códigos Especiais (Sum6), Lambda (L), Experiência Efetiva
(EA), Índice de Complexidade (Complexity), Frequência Organizacional (Zf), Ideações
Deliberadas (M) e Índice de Stress (EA-es).
Grønnerød (2004), por meio da meta-análise, resumiu sistematicamente a literatura de
Rorschach que examinou até que ponto as variáveis do teste poderiam medir mudanças da
personalidade em função do tratamento psicológico. O Rorschach produzido um nível de
validade que era equivalente a instrumentos de autoavaliação e em avaliações realizada por
clínico. Grønnerød também observou que a validade do Rorschach aumentava quando estava
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relacionada a tratamentos a longo prazo, sugerindo que quanto mais terapia mais mudanças
saudáveis na personalidade.
4.3 Normatização
No que diz respeito à normatização, como tipicamente não são conhecidos os escores de
uma determinada população, busca-se alcançar o desempenho médio de uma amostra de
indivíduos, com um perfil representativo dessa população para a qual o teste foi planejado, o
que estabelece padrões normativos relativamente estáveis de desempenho para interpretar os
resultados individuais. Os desempenhos médios, ou normas, permitem comparar o sujeito
com os seus pares ou consigo mesmo em diferentes aspectos avaliados de sua personalidade.
O desempenho do indivíduo pode variar de uma cultura para outra e de uma região para outra,
de acordo com os fatores de seu entorno. Qualquer norma é restrita à população da qual foi
derivada, e cada indivíduo deve ser avaliado em seu desempenho tendo como referência o
grupo em que está inserido (McGREW, 2009; URBINA, 2007).
Weiner e Greene (2008) ressaltam que a amostra normativa tem, como principal
requisito, ser representativa da população para a qual o instrumento será aplicado. Segundo,
os dados devem ser coletados por examinadores experientes que tiveram treinamento de
aplicação e correção do método. Finalmente, o participante, embora voluntário e anônimo,
deve estar seriamente envolvido na tarefa. Caso contrário, a falha em qualquer um desses
requisitos será uma variável interveniente que poderá invalidar qualquer estudo normativo do
teste.
Este problema da representatividade da população é um ponto crítico em quase todos os
estudos normativos da maioria dos países. No caso específico do Brasil, a representatividade
populacional dos estudos normativos é bastante crítica, vista a característica continental do
país e a diversidade sociocultural das regiões.
É importante enfatizar também a necessidade de estudos por faixa etária diferenciada,
que servem de referência normativa para crianças, adolescentes e adultos. Pois, como
destacam Stanfill, Viglione e Resende (2012), o desenvolvimento psicológico das crianças é
mais rápido e perceptível na primeira infância (até os três anos de idade), onde um período de
seis meses pode evidenciar mudanças significativas nas habilidades emocionais, cognitivas,
sociais e psicológicas (BRADY, 2002; PIAGET & INHELDER, 1962). Essas mudanças
psicológicas abrandam com o desenvolvimento do processamento cognitivo, que tende a ser
amplamente realizado ao final da adolescência (BALTES, 1987; FIERRO, 2004), embora
progressos bastante desiguais e grandes diferenças individuais sejam comuns durante a
infância (GRISSO, 2005).
Stanfill et al. (2012) enfatizam que as enormes diferenças individuais também foram
identificadas em protocolos de Rorschach de crianças por diferentes autores (AMES et al.,
1974; MEYER, ERDBERG e SHAFFER, 2007), pois afirmam que a grande variação nos
escores produzidos ocorre devido a diferenças de desenvolvimento entre esses jovens. Exner,
Thomas e Mason (1985), Exner e Weiner (1994) e Weiner (2003) observaram que as
pontuações no Rorschach muitas vezes flutuam ao longo do desenvolvimento e não se
estabilizam até aproximadamente dezesseis anos de idade.
Estudos dedicados à revisão de pesquisas empíricas nacionais e internacionais sobre a
utilização do Rorschach na infância, concluíram que é bastante incipiente o uso deste teste em
crianças menores, especialmente as pré-escolares, entre 3 e 6 anos de idade. Também foi
observado que entre os anos de 1930 e 2002, um período de 72 anos, existiam apenas cinco
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estudos normativos no país que consideravam a faixa etária até 13 anos de idade: o de
Barreto(1955), o de Viana Guerra (1958), o de Windholz (1969), o de Jacquemin (1976) e o
de Adrados (1985). Pela data de realização destas pesquisas é possível perceber que elas,
ainda que tenham representado uma grande contribuição para a área da avaliação psicológica
com crianças, são bastante antigas e, portanto, estão vinculadas a uma realidade sociocultural
diferente da atual (FERNANDES, 2010; NASCIMENTO, PEDROSO e SOUZA, 2009;
PASIAN, 2002).
Na busca por pesquisas normativas com o Rorschach, particularmente no SC, em
crianças e adolescentes no Brasil considerando os últimos 11 anos, período entre 2003 e 2013,
foram identificadas três publicações com amostras de faixa etária variável entre 5 e 14 anos
de idade: Nascimento et al. (2008), realizado com 140 crianças, entre 13-17 anos, em São
Paulo (SP); Ribeiro, Semer e Yazigi (2011, 2012), realizado em Cuiabá (MT), com 211
crianças entre 7 e 10 anos; Resende, Carvalho e Martins (2012), com 201 crianças entre 5 e
14 anos, da cidade de Goiânia (GO).
Considerando os estudos normativos do SC para adultos, pode-se dizer que já existem
normas para uma grande variedade de países. Exemplos desta preocupação e cuidados
técnicos estão presentes nos congressos da International Rorschach Society (IRS) – em
especial os ocorridos nos anos de 1999 e 2008 – e em periódicos científicos, com destaque
para Journal of Personality Assessment (em especial o publicado em 2007) e para
Rorschachiana (diferentes volumes) (PASIAN e LOUREIRO, 2010). No Brasil temos já
publicado um estudo normativo realizado com 409 adultos do estado de São Paulo
(NASCIMENTO, 2010) e uma publicação com estudos normativos de crianças e adolescentes
está em andamento, por Nascimento, Resende e Ribeiro. Em breve deverá estar finalizado.
Meyer et al. (2007) desenvolveram normas internacionais, provenientes dos protocolos
de Rorschach SC de adultos não-pacientes de 16 países diferentes, (Argentina, Austrália,
Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Grécia, Holanda, Israel,
Itália, Japão, Perú e Portugal). Essas normas corroboram com a concepção de que o
Rorschach é um método independente das peculiaridades culturais. Observou-se em todos os
estudos normativos uma consistência notável nos resultados. Poucas variáveis demonstraram
diferenças significativas. Evidências recentes sugerem algumas das diferenças aparentes entre
as amostras normativas coletadas nos Estados Unidos e internacionalmente são
provavelmente devido a diferenças inesperadas em pontos ou marcas de referências locais
usados para a administração e pontuação do teste (MEYER e VIGLIONE, 2008).
Por outro lado, são essas poucas diferenças significativas que apontam que o instrumento
também é sensível às culturas, pois além de mostrar consistência nos dados normativos em
diferentes países, o Rorschach capta os modos de expressão próprios de sujeitos com
determinados idiomas nativos, capta imagens temáticas e referências simbólicas de uma
cultura específica ou de um indivíduo em particular (DE VOS e BOYER, 1989; WEINER,
2003).
Considerações finais
Com base em tudo o que foi exposto sobre o Método de Rorschach, pode-se afirmar
que os resultados das pesquisas mais recentes indicam sua popularidade não só no Brasil, mas
também internacionalmente, como um do instrumentos mais usados para avaliar a
personalidade em diferentes áreas de Psicologia, especialmente na clínica e jurídica. Uma das
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maiores vantagens do instrumento é que ele pode ser aplicado em diferentes culturas em
função de se tratar de estímulos visuais neutros, cuja tarefa é bastante simples e pode ser
desempenhada facilmente nas diferentes faixas etárias. Outra vantagem é que o instrumento,
em sua essência, é ateórico, o que facilita os psicólogos de diversas orientações teóricas
utilizar o teste, pois a sua capacidade de gerar informações úteis existe independentemente de
qualquer fundamentação específica.
Apesar da necessidade constante de aprimoramento do instrumento, atualmente o seu
status científico repousa sobre uma base psicométrica sólida. A literatura científica aponta
claras evidências a respeito de sua confiabilidade e validade, além de apresentar os cuidados
necessários envolvidos na elaboração de referenciais normativos para aplicação e
interpretação do método. Tudo isso é consequência dos esforços de grupos de pesquisas,
como também da construção de uma rede nacional e internacional de profissionais e
acadêmicos interligados, em projetos de colaboração, em grande escala, para coleta de dados
nas diferentes culturas.
A riqueza de informações de pesquisa em diversas áreas, a aplicabilidade deste
instrumento para avaliação psicológica, faz deste instrumento um ícone da prática do exame
psicológico. Seus resultados garantem uma fidedignidade e validade, como vimos, acrescidos
grande profundidade na compreensão dos mecanismos psíquicos. Concorre também para o
destaque deste instrumento para avaliação psicológica a possibilidade se trabalhar com
aspectos profundos e particulares de uma pessoa. Estas vantagens tem levado a uma
exploração ainda crescente em pesquisas, um respeito por profissionais de diversas áreas,
como dos advogados, juízes e promotores, na área forense, dos médicos e em especial, dos
psiquiatras na área da saúde, como também de educadores e profissionais da esfera das
organizações que reconhecem seu status científico.
Por outro lado, concorda-se com Weiner e Meyer (2009) que é importante ter em
mente que ainda há muito o que ser estudado e aprendido sobre como, por que e quando o
método funciona com excelência ou maior eficiência, assim como sobre qual informação
única que somente o método pode fornecer com mais clareza.
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