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Joel Gracioso*
Os dois grandes nomes que representam o pensamento mítico grego são: Homero,
“autor” da Ilíada e da Odisséia, e Hesíodo, autor de Os trabalhos e os dias e da Teogonia.
Muitos estudiosos questionam até que ponto as epopéias homéricas é resultado do
trabalho de um único autor ou se é uma compilação. Enfim, se realmente foram feitas por
Homero. Contudo, o que nos interessa aqui não é tanto essa questão, mas sim explicitar em
que medida o contato com essas obras nos ajudam a compreender as características do
pensamento mítico.
A origem das epopéias gregas se dá num contexto de derrocada da civilização
micênica ou aqueana que fora invadida pelos dórios mais ou menos no século XII a.C.
A sociedade micênica, formada por penínsulas e ilhas, era constituída por famílias
principescas, uma pluralidade de clãs e, do ponto de vista da estrutura geográfica, possuía
*
Texto publicado na Revista Filosofia, Ciência & Vida Especial, São Paulo, 2007.
um determinado tipo de relevo que beneficiava a ligação com outras regiões através do
mar. Assim, as condições físicas, geográficas, colaboravam para que este povo tivesse uma
certa vocação para o mar, tornando-se ele uma grande via de comércio e comunicação, de
aventuras e histórias imaginárias.
Ora, os dórios, cuja origem étnica era a mesma que dos aqueus, vindo do norte
invadiram e dominaram a região habitada por estes, pois tinham uma certa superioridade no
uso dos utensílios e na fabricação e uso de armas de ferro.
As invasões dóricas, portanto, provocaram uma migração de grupos de aqueus em
direção às ilhas e costa da Ásia Menor, resultando na criação de colônias cujo objetivo era
preservar a identidade do grupo, suas instituições, tradições e organização social. Com o
tempo se estabelece as novas condições de vida e de mentalidade. As epopéias são
justamente a primeira expressão dessa nova realidade. Ou seja, o homem grego procurou
cantar por meio da poesia o declínio das antigas formas de viver e pensar e o surgimento de
uma nova situação.
As epopéias são o resultado da mistura de lendas jônicas e eólias, incorporando
relatos sobre viagens marítimas e outros elementos advindos do contato do mundo grego
com a cultura de outros povos.
Disso tudo se conservaram a Ilíada (que trata da ira de Aquiles tendo como pano de
fundo a guerra de Tróia) e a Odisséia (que canta a história de Odisseu e sua tentativa de
voltar para casa) entre o século X e VIII a.C. Contudo, somente no século V ocorrerá o
estabelecimento da edição dos poemas de Homero. Tanto a Ilíada como a Odisséia tinham
um núcleo duro que foi recebendo acréscimos, especificando, assim, o aumento e tamanho
dos poemas.
Referente a Hesíodo, também não se tem muitas certezas sobre sua vida (final do
século VIII e início do VII). O pai de Hesíodo tinha uma empresa de navegação e ao falir
atravessou o mar Egeu voltando para a Beócia, sua terra de origem. Ao morrer, o pai
deixou a Hesíodo e ao seu irmão Perses algumas terras. Na divisão dos bens Hesíodo achou
que fora trapaceado pelo irmão. Essa polêmica é importante porque, provavelmente, servirá
de tema para o seu poema Os trabalhos e os dias e para a sua visão um tanto pessimista
sobre o ser humano. Escreveu vários poemas, dos quais restaram apenas alguns fragmentos.
Inteiros há apenas a Teogonia (que trata da origem dos deuses, havendo um germe do
princípio da causalidade) e Os trabalhos e os dias (que procura justificar a condição
humana).
A origem da Filosofia
Os pré-socráticos
Considerações finais