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Enquanto houver vontade de lutar

haverá esperança de vencer. Agostinho

Concurso Prefeitura de
Sorocaba

2014

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Enquanto houver vontade de lutar
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Sumário
1 – Aspectos psicológicos e o contexto familiar no cuidade do idoso.............................................. 03
2 - A psicologia no atendimento às pessoas com Deficiência .......................................................... 06
3 – Compromisso social da psicologia nas diferentes Política Públicas – Saúde, Educação, Assistência
Social................................................................................................................................................. 10
4 – Psicoterapia Breve ...................................................................................................................... 15
5 – Grupo Operativo/ Teoria do Vínculo ......................................................................................... 19
6 – Código de Ética .......................................................................................................................... 27
7 – Referência Bibliográfica ............................................................................................................ 37

Organizadores:
Carolina Laserra Belino Pedroso – 06/70016
Fábio de Almeida Pedroso – 06/72320
Juliana C. Zeborde Pinheiro – 06/69126

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Aspectos psicológicos e o contexto familiar no cuidado do idoso


O equilíbrio e o bem-estar do idoso podem estar associados às relações de afeto desenvolvidas
no ambiente familiar. Se levarmos em consideração que é na família que somos conhecidos pelos
nossos defeitos, qualidades e necessidades, podemos considerar de grande importância o
relacionamento do idoso com sua família, especialmente quando eles se tornam dependentes física e
psicologicamente.
Muitos estudos compartilham da ideia de que o bem estar na velhice estaria ligado à
intensidade das relações familiares ou ao convívio intergeracional. No entanto, alguns trabalhos sobre
idosos vivendo em conjuntos residenciais, condomínios fechados ou mesmo hotéis tendem a dissolver
esta ideia alegando que mais do que a convivência num espaço heterogêneo, é a segregação espacial
segregação espacial dos idosos que permite a ampliação de sua rede de relações sociais, o aumento do
número de atividades desenvolvidas e a satisfação na velhice (Debert; Simões, 2006).
O funcionamento do contrato intergeracional informal nas famílias brasileiras, aonde os pais
cuidam dos filhos e esperam na velhice serem cuidados por eles, é afetado por dificuldades
econômicas mais amplas e por deficiências das políticas sociais e não pode ser compreendido apenas
no âmbito das preferências e características individuais ou grupais (Debert; Simões, 2006).
Segundo (Pimentel; Albuquerque, 2010) o papel das famílias vem sendo reconsiderado na
sociedade atual e sua contribuição na promoção do bem-estar tanto social como individual de seus
membros vem sendo discutida. O que se observa são duas lógicas com sentidos antagônicos: uma
positiva, que reconhece a importância dos laços familiares para a manutenção da estabilidade
emocional e do bem-estar dos indivíduos, respeitando a vontade dos idosos em permanecer integrados
nos seus contextos de vida e nas suas redes relacionais, e uma negativa na qual as famílias seriam
obrigadas a responsabilizar-se pelos cuidados aos seus dependentes já que os sistemas públicos não o
fazem completamente.
Para Carneiro (2004) devido à maior convivência entre as diferentes gerações, os laços
intergeracionais são mais importantes na sociedade contemporânea do que antigamente. Em
decorrência do aumento na expectativa de vida das pessoas, da queda da natalidade e do consequente
envelhecimento da sociedade, a probabilidade das famílias abarcarem várias gerações é maior na
atualidade.
Apesar de suas vulnerabilidades, os idosos também desempenham papéis importantes na
família, na sociedade e na vida política do país. Em relação aos arranjos familiares, a co-residência de
idosos e filhos é uma estratégia de ajuda mútua, bem como traz benefícios aos idosos, especialmente
para os homens que podem conservar seu papel de provedor e para as mulheres que não dispõem de

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nenhuma forma de renda. As vantagens são ainda maiores para as gerações mais novas, visto que a
renda dos idosos contribui para reduzir a necessidade do trabalho infantil na estabilidade familiar,
especialmente entre os mais pobres, possibilitando aumentar a escolarização das crianças e dar mais
atenção às suas necessidades (Camarano, 2004).
No que se refere aos aspectos psicológicos do idosos, é importante considerar que por conta da
visibilidade e por conta do aumento do número de idosos, estes são uma camada da população que tem
sido objeto de crescente interesse na atualidade. A possibilidade de uma abordagem psicoterapêutica
com os idosos em virtude de situações de sofrimento emocional se torna grande em virtude de uma
vitalidade psíquica que geralmente costuma-se manter, apesar do envelhecimento do corpo,
Vasconcelos et al; Cordioli, (2008).
Existe uma preocupação com o desenvolvimento de técnicas apropriadas para o atendimento
psicoterapêutico do idoso que vem sendo acompanhada pelo crescimento da população dessa faixa
etária. Em 1970 as pessoas de 60 anos representavam 8,4% (304 milhões) da população mundial.
Segundo dados do IBGE de 1996, no Brasil, essa população corresponde a 8,3% da população total,
existe uma estimativa de que em 2025 a população que em 1975 correspondia a 6 milhões no Brasil,
chegue a 31 milhões Vasconcelos et al; Cordioli, (2008).
A maioria dos idosos atravessa o processo de envelhecimento com relativo sucesso, podendo
pensar em seu passado, em seus sucessos e fracassos, obtendo uma imagem realista de si mesmo, isso
lhe possibilita continuar amando e sendo amado, por outro lado existem perdas inerentes a essa fase do
ciclo vital, perdas que podem ser vividas de forma desadaptada, trazendo ao indivíduo um sentimento
de perda da auto-estima, depressão e desespero. Vasconcelos et al; Cordioli, (2008) vem apontar
algumas perdas que são mais frequentes nessa faixa etária:
- Saúde física
- Diminuição das capacidades
- Perda de companhia (sentimento de solidão)
- Perda do cônjuge
- Perda do trabalho
- Declínio do padrão de vida
- Diminuição das responsabilidades.
Como fatores que também podem representar a impossibilidade de seguir adiante com projetos
de vida anteriormente estabelecidos, temos o declínio do padrão de vida e a diminuição das
responsabilidades. Isso irá trazer a evidencia de que ideais constitutivos da identidade do indivíduo não
serão mais alcançados, o que provocará intensos sentimentos de frustração em relação a si próprio,
Vasconcelos et al; Cordioli, (2008).

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“Para muitas pessoas idosas, é o efeito cumulativo de perdas


repetidas, antes que se tenha passado tempo suficiente para o luto
e sua resolução, que é tão devastador”. (Vasconcelos et al;
Cordioli, p. 794, 2008).
Outra característica das perdas nessa fase é a de que quando as perdas principais se referem a
objetos externos, na velhice elas tendem a se centrarem no próprio indivíduo, isso ao contrário das
fases evolutivas precedentes. A queixa mais frequente relatada pelos idosos é a ameaça da perda da
capacidade para o autocuidado, Vasconcelos et al; Cordioli, (2008).
Existem indicadores básicos propostos por Featherstone (apud, Vasconcelos et al; Cordioli,
2008) referentes ao direito de cada indivíduo ser uma pessoa valorizada e participar de modo
independente na sociedade, principalmente nas sociedades modernas e pós-modernas, são eles:
 Habilidades cognitivas (capacidade de usar a linguagem para comunicar-se).
 Controles do corpo (não só dos movimentos, do andar, mas também de reter os fluidos
corporais).
 Controle da expressão das emoções.
Segundo Vasconcelos et al; Cordioli, (2008), existe um sentimento de que a velhice ainda não
chegou quando os idosos ainda conseguem determinar suas vidas sem se sentirem dependentes dos
filhos, ou sem ficarem inválidos, é um sentimento de que “ainda sou a mesma pessoa”. Porém a
ameaça de que isso ainda ocorrerá apresenta-se de maneira constante, sendo um importante motivo de
sofrimento psíquico uma vez que se constitui como a possibilidade de perder o status de indivíduo
válido não só para si mesmo, mas também para a família e a sociedade.
A velhice acarreta a diminuição da capacidade de adaptação, que ocorre de maneira objetiva,
limitando o sistema funcional e, de uma maneira mais evidente, o sistema psicossocial, no qual se
manifesta pela dificuldade de aceitação. Isso tudo leva ao aumento da dependência do ambiente
familiar, que é um local de proteção e estabilidade.
O grau de dependência influencia diretamente na vida do idoso e de sua família, pois a
dificuldade de realizar as atividades da vida diária gera impacto na estrutura familiar. A assistência no
domicílio contribui para humanização do cuidado de forma mais efetiva e participativa. O apoio ao
cuidador e a educação em saúde são fundamentais para orientá-lo e auxiliá-lo nas situações mais
difíceis do cuidado.
O papel da família é fundamental no cuidado do idoso. Segundo Caldas (2003) a família
predomina como alternativa no sistema de suporte informal aos idosos, porém, é preciso destacar que,
embora o cuidado familiar seja um aspecto importante, não atinge todos os idosos.

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Outro tema de grande importância nessa faixa etária é a tentativa do idoso de manter sua auto-
estima, a integridade do ego e um senso de propósito na vida em uma fase caracterizada por um
aumento das incertezas e pela investida violenta de traumas narcísicos, acontecimentos que corroem a
auto-estima, a confiança e a auto-imagem positiva, (Vasconcelos et al; Cordioli, p. 796, apud, Lazarus,
1989), cita as prováveis causas da perda de auto-estima na velhice:
 As alterações físicas se tornam tão pronunciadas que a pessoa é forçada a aceitar uma auto-
imagem menos desejada
 A auto-estima dependia demasiadamente de papéis sociais ou profissionais
 A perda do controle sobre a própria vida e o ambiente
 A persistência de problemas com a regulação da auto-estima ligados às etapas anteriores do
ciclo vital que não foram superadas com sucesso.
Segundo Vasconcelos et al; Cordioli, (2008), em resposta à uma ameaça de diminuição da auto-
estima, a regressão dentro do self pode vir a servir a funções adaptativas por meio da preservação da
auto-estima e da evitação de sentimentos de vazio e depressão. Com isso, a tendência dos idosos às
reminiscências sobre o passado pode servir não apenas para afastar a depressão e preservar uma
sensação de continuidade com o passado, mas também para lembrar-lhes de um tempo em que eles se
sentiam dignos, cheios de vida e competentes.

A psicologia no atendimento às pessoas com Deficiência


Quando falamos sobre deficiência nos dias atuais, temos uma maior familiaridade com o tema,
porém até poucos anos atrás este era um tema e uma realidade permeada por tabus e preconceitos.
Atualmente, diante de políticas públicas que cada vez mais se abrem para essa população garantindo-
lhes direitos básicos e dando-lhes espaços onde assumem sua cidadania, ser deficiente não é mais
como fora anos atrás. Segundo (Gaio, p. 26, 2006) deficiência pode ser entendida como “uma
limitação, que alguns seres humanos adquiriram não somente por herança biológica, mas por
problemas sociais básicos não resolvidos, como acesso à educação, à saúde, à moradia, entre
outros”. Assim, é possível considerar que existam pessoas que apresentam deficiência no trato com
outros seres humanos, com os animais, em relacionar-se consigo mesmos. Assim, não há quem de fato
seja eficiente ou não-deficiente. Em algum aspecto todas as pessoas deixam a desejar, frustrando
expectativas depositadas por outrem em suas vidas.
Segundo Amiralian et al (2000) é importante ao pensar no atendimento psicológico às pessoas
com deficiência, entender seu conceito, pois este acaba dificultando a pesquisa e a prática na área da
deficiência, isso por conta de suas imprecisões, com variações relacionadas ao modelo médico e ao

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modelo social. Tomando como ponto de partida o documento do Secretariado Nacional de


Reabilitação da Organização Mundial da Saúde e fazendo uma análise de publicações recentes sobre
esse tema, podemos discutir os conceitos de deficiência, incapacidade e desvantagem, objetivando-se:
- a superação de mal-entendidos entre os profissionais;
- a utilização de uma linguagem comum e bem especificada;
- a troca de informações nas discussões de pesquisas e no planejamento e execução de ações.
Na IX Assembléia da OMS,11 em 1976, surgiu uma nova
conceituação, a Internacional Classification of impairments,
disabilities, and handicaps: a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH), sendo sua tradução a
Classificação Internacional de deficiências, incapacidades e
desvantagens: um manual de classificação das conseqüências das
doenças (CIDID), publicada em 1989. (Amiralian et al, p. 98,
2000).
Amiralian et al (2000) vem trazer uma classificação da conceituação de deficiência que pode
ser aplicada a vários aspectos da saúde e da doença, sendo um referencial unificado para a área. Com
isso estabelece uma escala de deficiências com níveis de dependência, limitação e seus respectivos
códigos, propondo que sejam utilizados com a CID pelos serviços de medicina, reabilitação e
segurança social. Por essa classificação são conceituadas:
Deficiência: perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou
anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou
perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções
mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma
perturbação no órgão.
Incapacidade: restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma
atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequência direta ou é resposta do
indivíduo a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Representa a objetivação da
deficiência e reflete os distúrbios da própria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais à vida
diária.
Desvantagem: prejuízo para o indivíduo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade,
que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais
Caracteriza se por uma discordância entre a capacidade individual de realização e as expectativas do
indivíduo ou do seu grupo social. Representa a socialização da deficiência e relaciona-se às
dificuldades nas habilidades de sobrevivência.

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Atendimento Psicológico
A deficiência em nossa cultura representa o incontrolável e inesperado, ameaçando e
desorganizando as bases existenciais do outro não-deficiente. “A melhor maneira de lidar com o
deficiente é despir-se dos próprios preconceitos” (Gherpelli, p.12, 1995). Quando os preconceitos e
pré-conceitos conseguem ser transformados, as pessoas percebem com mais facilidade que as crianças
e adolescentes com deficiência passam pelas mesmas experiências sociais, processos de
desenvolvimento, aprendizado psicológico, vivência escolar que os demais. Talvez a deficiência seja a
causadora de alguns problemas ou interfira nesses processos até certo ponto; talvez faça com que
desenvolvam certas habilidades e adquiram certas experiências mais tarde do que outros de sua idade,
mas essas habilidades devem ser adquiridas Buscaglia (1997).
Quanto ao atendimento psicológico, à terapia destinada à criança e ao adolescente com
deficiência deve necessariamente ter o envolvimento e o apoio da família, pois as deficiências afetam
toda a estrutura familiar Buscaglia (1997).
Amiralian et al (1991) nos traz que no Brasil ao nos referimos ao atendimento psicológico às
pessoas que são portadoras de deficiência, podemos perceber uma área de trabalho que mantém uma
demanda constante, embora essa área também se mostre como um segmento do mercado ao qual
raramente os jovens profissionais encaminham sua opção de trabalho. Pois ao se deparar com a
necessidade crescente das instituições e dos sujeitos portadores de deficiência, o jovem psicólogo se
engaja com frequência na tarefa sentindo-se despreparado.
Nesse campo de atuação evidenciam-se problemas conceituais, pois se trata de um campo de
ação que pode abrigar concepções que irão do polo do determinismo biológico ao polo do
determinismo social das deficiências. Quando questionamos esses extremos, o psicólogo debate-se
com graves problemas de afirmação de identidade profissional, o que torna de imensa importância os
cuidados na formação de profissionais de psicologia qualificados a darem uma contribuição
competente frente a um desafio constantemente colocado no âmbito acadêmico, Amiralian et al (1991).
Segundo Amiralian et al (1997) os atendimentos que os psicólogos podem prestar às pessoas
com deficiência incluem-se em todas as linhas de atividade (escolar, clínica, desenvolvimento, social,
orientação vocacional) a que esse profissional se dedica. Para todas essas áreas, os psicólogos vão
estar, em alguns momentos de sua atuação profissional, em contato com pessoas que apresentam
algum tipo de deficiência, e irão se perguntar o que fazer com esses clientes.
“Podemos observar que em qualquer dessas áreas de atividade os
psicólogos, muitas vezes, ao se verem diante de uma pessoa com
deficiência mostram-se desconfortáveis, com dúvidas, e, com

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freqüência, preferem abster-se de realizar esse atendimento”.


(Amiralian et al, p. 32,1997).
Existem algumas questões que são levantadas com frequencia por esses profissionais, como por
exemplo:
- quais instrumentos psicológicos têm validade e apresentam fidedignidade para serem usados?
- quais procedimentos devem ser utilizados e são mais eficazes para compreender pessoas que
apresentam problemas orgânicos significativos?
- como se comportar com essas pessoas e o que deve ser feito para efetivamente ajudá-las?
Tais questões referem-se tanto aos procedimentos psicológicos mais adequados ao atendimento
de pessoas com deficiência, como às atitudes pessoais que devem ser adotadas na interação com
aqueles que apresentam algum dano físico ou mental.
Existem também segundo Amiralian et al (1997) modos nos quais podermos sintetizar essas
dúvidas em três questões básicas, comumente levantadas pelos psicólogos:
1. Os princípios básicos de intervenção psicológica, o substrato teórico e prático que sustenta o
atendimento psicológico em suas várias linhas de atividade, são aplicáveis de igual modo às pessoas
com deficiência?
2. Existem peculiaridades nesse atendimento? Quais são as diferenças entre esse atendimento e
os prestados às pessoas sem deficiências físicas ou mentais?
3. Existem procedimentos de intervenção psicológica específicos para o atendimento dessas
pessoas?
Estas questões apontam para um desconhecimento teórico sobre as deficiências e suas
vicissitudes, assim como para a pouca experiência e o pouco contato com pessoas que têm alguma
deficiência, seja ela visual, auditiva, motora ou mental.
Segundo Amiralian et al (1997) a deficiência para quem a possui, interfere no seu
desenvolvimento, na sua aprendizagem, nas suas relações familiares, na organização dinâmica de sua
personalidade, ou seja, é um elemento constitutivo dos aspectos estruturais e funcionais de sua pessoa
total. Entretanto, a influência da deficiência está relacionada a inúmeros fatores: o tipo de deficiência,
sua intensidade, sua extensão época de sua incidência e, principalmente as oportunidades de
desenvolvimento e ajustamento que foram oferecidas ou negadas às pessoas dela portadora.
Em estudo realizado com pessoas com cegueira congênita (Amiralian 1997) constatou que,
embora não exista uma personalidade característica dos cegos, a cegueira, tanto pela condição física,
ausência da percepção visual, como pelos significados conscientes e inconscientes de cegueira,
constitui uma complexa condição com a qual as pessoas cegas defrontram-se cotidianamente e que se
reflete em sua organização egóica em suas formas de estabelecer relações com os objetos e nos

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mecanismos de defesa adotados. Segundo a autora essa descoberta pode também ser aplicada às
deficiências de comunicação motoras e mentais.
Para os profissionais que atendem pessoas com deficiência, esta os afeta em vários níveis: na
percepção do objeto, no campo do conhecimento, na área das emoções e afetos e no nível das fantasias
inconscientes.
Amiralian et al (apud, Fedidá, 1984), declara que em seu texto sobre a negação da deficiência,
Fedidá analisa com extrema propriedade as causas dessa negação, tanto pelo sujeito que a possui,
como por aqueles com quem ele se relaciona. Mostra o quanto a percepção da deficiência do outro
pode levar à vivência dos próprios limites e das próprias deficiências. Para Amiralian et al (1997)
segundo Fedidá, a deficiência é intolerável, não só por fazer ressurgir insuportáveis angústias de
castração, destruição e desmoronamento, mas também por lembrar que o deficiente é sempre um
sobrevivente que escapou de um cataclisma, de uma catástrofe que já ocorreu, o que poderá acontecer
a qualquer um.
Para Amiralian et al (1997) por outro lado, o deficiente mostra-nos concretamente a nossa
debilidade e nos surpreende com a maciça negação de nossa onipotência. Com isso, o deficiente, como
um espelho perturbador, pode fazer reviver angústias primitivas que, na fala winnicottiana só podem
ser observadas por meio de defesas organizadas. Entretanto, uma deficiência física, uma mutilação
visível, uma deformidade aparente, podem remeter ao fracasso negado e fazer surgir o medo do
colapso, ou seja, o medo do fracasso das organizações defensivas.
Portanto somente através de um olhar crítico para o nosso interior, e por meio da experiência
pessoal de nossas significações de deficiência, poderemos compreender nossos afetos e emoções para
com a condição de deficiência e apreender nossas negações. Assim, poderemos nos tornar capazes de
conquistar a percepção da deficiência como um objeto compartilhado e de propiciar ao nosso cliente
um ambiente acolhedor e condições facilitadoras para sua aceitação dessa condição, favorecendo e
possibilitando seu próprio desenvolvimento, Amiralian et al (1997).

Compromisso social da psicologia nas diferentes Política Públicas – Saúde,


Educação, Assistência Social.

O conceito de “políticas públicas” possa parecer abstrato para muitos, porém elas são muito
concretas e estão muito presentes na vida dos cidadãos brasileiros. Tais políticas são ações destinadas
ao coletivo, ou seja, como o próprio nome sugere, ao público. Elas ocorrem em todas as áreas da
gestão pública, como saúde, educação, moradia, transporte, assistência social, cultura etc. As políticas

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píblicas mais do que apenas dirigidas à população, também podem e devem ter a participação social
em sua elaboração. É através das demandas da sociedade, usuária dessas políticas, que os gestores
públicos devem formatá-las, CRP-RJ (2010).
A Constituição Federal de 1988 e as legislações complementares (Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e a Lei 8.080/90, que criou o (SUS) Sistema Único de Saúde), definiram a forma
que as políticas públicas nacionais deveriam assumir, criando perspectivas de avanços para a área no
país, CRP-RJ (2010).
Segundo o CRP-RJ (2010), as políticas públicas configuram-se não como ações de um
governo, mas como políticas do Estado em sua interação com os movimentos do público e voltadas
para o atendimento de suas demandas e necessidades. Isso significa que as políticas que apresentarem
resultados positivos devem permanecer independentemente da gestão que assumir o governo em
determinado momento. Para tanto, não apenas os gestores devem ter compromisso social, como a
própria sociedade deve ser conhecedora de seus direitos e cobrar que eles sejam respeitados.
Muitos problemas, apesar de algumas conquistas alcançadas, ainda persistem devido a diversos
fatores, entre os quais a falta de vontade política. Fila que duram horas em um hospital do SUS,
pessoas não conseguirem matricular os filhos em uma escola pública, dificuldades em conseguir
emprego fazendo com que as pessoas precisarem morar nas ruas, tudo isso são sinais de que essas
políticas estão servindo a interesses muito mais privados do que públicos, CRP-RJ (2010).
A Psicologia tem um papel fundamental nesse contexto. Segundo CRP-RJ (2010) os psicólogos
que atuam em hospitais, escolas, serviços de assistência social e outras instituições públicas precisam
estar atentos às consequências que sua prática gera e refletir permanentemente sobre como tornar seu
trabalho mais potente na construção de políticas que sejam realmente públicas.

A Psicologia e as políticas públicas


A Psicologia durante muitas décadas teve uma atuação política voltada não ao coletivo, mas a
interesses de determinados grupos sociais. Com isso, a maior parte dos psicólogos via sua prática
como individual, não coletiva, isso gerava uma patologização de questões que são, na verdade, sociais.
Apesar de ainda muitos profissionais continuarem com práticas privatizantes, nos últimos anos, essa
visão vem sofrendo mudanças, a Psicologia já vem se inserindo nas políticas públicas com importantes
contribuições, CRP-RJ (2010).
A presença do psicólogo não era reconhecida enquanto uma prática de intervenção efetiva,
propositiva e conectada com o sujeito. Os psicólogos muitas vezes individualizavam o sintoma. Com
as práticas centradas na individualidade, que desconhecem e desvalorizam a dimensão coletiva e

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política dos destinatários da nossa ação, são geradas avaliações descontextualizadas e superficiais.
Nesse momento, talvez, alguns estejam trabalhando de forma submissa à relação de poder
estabelecida. Os profissionais que estão nas equipes, muitas vezes, não dialogam a partir de um lugar
de potência com os coordenadores. Cada um pede um laudo, um parecer, e os psicólogos vão
assimilando e fazendo, CRP-RJ (2010, apud, Giugliani).
Para que os psicólogos tenham uma prática mais potente nas políticas públicas, o primeiro
passo Segundo CRP-RJ (2010, apud, Zamora) é fazer com que eles se interessem por esse campo e se
dediquem a transformá-lo. “A via das políticas públicas é uma maneira que podemos encontrar de
apressar o processo de rompimento com as injustiças sociais, com a desigualdade. Hoje, por exemplo,
quando discutimos violência, falamos da violência individual, mas não discutimos que processos
sociais a explicam razoavelmente. O psicólogo tem que pensar o que pode ser feito no campo das
políticas públicas para que tal coisa não aconteça. Acho importante chamar para a participação não
somente profissional, mas também cidadã”.
Outro ponto de grande importância é o trabalho em equipes transdisciplinares. “Não se fala em
políticas públicas de forma isolada, mas de forma articulada, intersetorial. As políticas públicas nos
devolvem um exercício de diálogo com gestões, com colegas, com equipes, para, intersetorialmente,
construir um conhecimento e contribuir na formulação de práticas inclusivas e geradoras de
cidadania”, CRP-RJ (2010, apud, Giugliani).
A Psicologia lentamente vem alcançando essa forma de trabalho. “Aos poucos, temos mudado.
Quando os profissionais começam a articular considerando ações de corresponsabilidade, começam a
ocupar outro lugar, que eu chamaria de proativo, comprometido com os direitos humanos. Os
processos coletivos têm possibilitado transformar a presença da Psicologia nas políticas públicas”,
aponta. “Já vivemos resultados desse processo: temos ingressado de forma mais organizada nos
espaços de controle social, temos reconhecido a formulação de políticas públicas que dialoguem com
as questões da Psicologia”, CRP-RJ (2010, apud, Giugliani).
Porém, para alcançar plenamente esses objetivos, é preciso uma mudança na própria formação
do psicólogo, que, atualmente, não inclui as políticas públicas. Segundo CRP-RJ (2010, apud,
Zamora). “O psicólogo ainda não tem formação para trabalhar com políticas públicas. O campo do
psicólogo se ampliou extraordinariamente para esses setores de atendimento ao público, mas o modelo
clínico de consultório infelizmente continua sendo, muitas vezes, o único que a universidade tem para
oferecer. Isso é uma distorção e nada tem a ver com a realidade que vivemos”.
Devido a essa formação, o psicólogo acaba exercendo o modelo individual da clínica no
atendimento público. “Esse profissional está chegando ao mercado de trabalho sem saber como
trabalhar. Ele tem que trabalhar com escuta, mas não é atendimento individual nem psicoterapia. E

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acho que, muitas vezes, o profissional que trabalha com políticas públicas leva esse modelo de
atendimento. Poucas universidades brasileiras têm, por exemplo, uma disciplina que trabalhe com
Estado. Como o psicólogo vai trabalhar com políticas públicas se nem sabe o que é o Estado?” CRP-
RJ (2010, apud, Zamora).
Assim, é possível perceber que adentrar o campo das políticas públicas é estar imerso em um
espaço de conflitos, avanços e retrocessos. Entretanto, a Psicologia tem conseguido fomentar e manter
a discussão em pauta, não só no que diz respeito às áreas de atuação do psicólogo, mas ampliando essa
pauta para as dimensões ética e política em que está implicada.

Contribuições do Sistema Conselhos de Psicologia


Segundo Silveira (2007) o Sistema Conselhos de Psicologia, que composto pelos Conselhos
Regionais e pelo Conselho Federal de Psicologia, decidiu assumir responsabilidades frente às Políticas
Públicas e incluir, entre suas metas e estratégias, ações em relação a esta temática.
As crescentes demandas da população brasileira por Políticas Públicas, tanto para o
atendimento de suas necessidades básicas e quanto para seus direitos, precipitaram essa decisão. O
Sistema Conselhos não poderia omitir-se como instituição organizada da sociedade civil brasileira e a
Psicologia, enquanto ciência e profissão, existe a obrigação de oferecer contribuições nessa área social
e política. Porém, apenas recentemente os currículos dos cursos de graduação em Psicologia, no Brasil,
começaram a oferecer capacitação mais específica para que o profissional possa lidar com estas
demandas sociais, sendo este fator também um desafio para o Sistema Conselhos. Os profissionais já
graduados precisam de atualização para responder com eficácia à nova realidade e desafios. Isso nos
coloca diante da necessidade de aquecer o debate com a categoria e criar mecanismos para auxiliar
esses profissionais na tarefa de ampliar sua perspectiva de trabalho e aprimorar seu conhecimento
teórico e técnico, Silveira (2007).
Alguns conceitos são importantes para balizarmos as intervenções do psicólogo na área das
Políticas Públicas tais como: Políticas Públicas, Direitos Humanos, Cidadania, Trabalho em Rede,
Política, Metodologia de Elaboração de Políticas Públicas, entre outros. Trata-se de um referencial
pouco utilizado dentro da Psicologia, mas que vem sendo introduzido na categoria com bastante
ênfase, nos últimos anos. Assim, o Sistema Conselhos assume o papel de desenvolver estratégias de
enfrentamento no âmbito nacional. O Conselho Federal de Psicologia criou o Centro de Referência
Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), estabelecendo como meta a sistematização e
difusão de conhecimento na área de Políticas Públicas. Ainda em fase de implantação, o CREPOP

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permitirá visualizar o panorama geral da atuação do psicólogo nessa área e irá dispor de informações
que servem de referência para novas propostas de atuação profissional, Silveira (2007).
Sintonizado com essa mobilização nacional, segundo Silveira (2007) o Conselho Regional de
Psicologia da 8ª Região criou, em março de 2006, o Núcleo de Articulação em Políticas Públicas
(NAPP-08). Esse núcleo vem como uma resposta à necessidade de se ter uma estrutura permanente na
8ª Região, para tratar da especificidade do tema, gerando condições para um maior engajamento dos
psicólogos com a Política Pública no estado do Paraná e no Brasil. Desde a sua criação, o NAPP-08
vem realizando diferentes ações que visam aproximar cada vez mais o psicólogo da temática em
questão. Entre essas ações constam também: seminários conceituais, grupos de estudo, sistematização
de dados sobre os profissionais que atuam na rede pública e nos Conselhos de Controle Social,
levantamento de referências teóricas, curso de atualização, jornada científica e pesquisa de campo.

A Participação da Categoria nos Conselhos de Controle Social


Dentro da luta e no esforço de construção das Políticas Públicas, os Conselhos de Controle
Social são espaços importantes para a materialização de tais políticas. Entretanto, o engajamento do
psicólogo, não só como cidadão, mas como profissional que possui conhecimentos e instrumentos
técnicos, é bastante valiosa. Com sua participação ética, crítica e articulada, o psicólogo pode ser um
ator social importante, sensível às demandas sociais e exercendo criatividade na busca de soluções,
Silveira (2007).
A Psicologia e os psicólogos além de precisarem ter a percepção da dimensão coletiva do
indivíduo, com suas subjetividades, também necessitam inspirar-se nos Direitos Humanos e na
Democracia, para a construção das Políticas Públicas. Esta participação não deve ocorrer numa
perspectiva individualista, e sim expressar uma contribuição da categoria de forma organizada
politicamente, estabelecendo parcerias efetivas com a sociedade, em suas diferentes instâncias. Para
que isto ocorra, é importante que os psicólogos estejam atentos aos eventos nos três níveis de
organização política (municipal, estadual e federal), aos fóruns e conferências das diversas temáticas
de Políticas Públicas, participando sempre e marcando seu posicionamento. Estes são os espaços em
que podemos debater sobre a realidade social e elaborar teses que são, oportunamente, encaminhadas
para outros níveis de poder, podendo tornar-se Políticas Públicas. São espaços em que elegemos
delegados e conquistamos representação nos diferentes Conselhos de Controle Social e nos Conselhos
de Direitos. A participação nesses eventos é aberta aos psicólogos. Ao serem eleitos representantes
para um desses Conselhos, o profissional tem um papel importante também para a categoria. É uma

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oportunidade de fazer representar a Psicologia e defender seu espaço profissional na área das Políticas
Públicas, Silveira (2007).

Psicoterapia breve
Esta tem sua origem na psicanálise de Freud, a partir das contribuições de Ferenczi e Rank no
sentido de encurtar o tempo de duração dos tratamentos psicanalíticos. Seu desenvolvimento ocorreu
após a segunda Guerra Mundial.
Segundo Fiorini (2004) uma terapêutica breve pode ser organizada tendo como referência
alguns modelos que dizem respeito à etiologia e funcionamento normal e doentio da personalidade.
Gostaríamos de citar alguns conceitos básicos que podem ser incluídos entre os fundamentos que dão
apoio teórico à ideologia assistencial característica dessas modalidades terapêuticas:
a) Modelo etiológico - orienta-se fundamentalmente no sentido da compreensão psicodinâmica
dos determinantes atuais da situação de doença, crise ou descompensação.
Na psicoterapia breve busca-se uma compreensão psicodinâmica da vida cotidiana do paciente,
que se operacionaliza nas interpretações, no planejamento de sua vida cotidiana, em orientação
familiar ou de trabalho.
b) Relações entre psicopatologia e comportamentos potencialmente adaptativos. A
psicopatologia dinâmica esclareceu fundamentalmente o campo dos fenômenos de "doença" do
paciente.
Nesse modelo todo um conjunto de dados da experiência clínica, assim como da psicologia
geral e social, levou a questionar a possibilidade de que modelos de comportamento patológico possam
explicar todo o comportamento do paciente, a totalidade de sua existência.
c) Modelos motivacionais e cognitivos da personalidade. Aqui existe uma dualidade funcional
da personalidade que é encontrada em nível motivacional na coexistência no sujeito de motivações de
tipo infantil e adulto.
Nesse modelo, a hierarquia motivacional se caracteriza por uma combinação de autonomia,
dependência e interpenetração.
Atualmente segundo Lemgruber; Cordioli, (2008) as psicoterapias breves (PBs), são divididas
em duas grandes linhas:
- As de abordagem psicodinâmica – PBPs (Psicoterapias breves psicodinâmicas) que tem suas
origens nos primeiros atendimentos psicanalíticos do século XX.
- As de abordagem cognitiva comportamental – PBC/Cs (Psicoterapias breves
cognitivo/comportamentais) que tem origem nas teorias de aprendizagem de Skinner e Thorndike.

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Lemgruber; Cordioli, (2008) vem trazer sete características que são mais comumentes
enfatizadas nas PBPs do que nas PFC/Cs, são elas:
- Afeto
- Resistência
- Identificação de padrões consistentes de relacionamentos, sentimentos e comportamentos
- Experiência passada
- Experiência interpessoal
- Relacionamento terapêutico
- Desejos, sonhos ou fantasias.
Embasada nos conceitos psicodinâmicos a PBP traz aspectos importantes da metapsicologia de
Freud, como por exemplo, os processos mentais inconscientes, sintomas como expressão de conflitos
internos, mecanismos de defesa e relação entre paciente e terapeuta como fator de tratamento.
Como modalidade de Psicoterapia Breve Psicodinâmica, temos a Terapia Focal que se
desenvolveu a partir das contribuições de S. Ferenczi (Técnica Ativa); F. Alexander (Experiência
Emocional Corretiva); D. Malan (Foco e Triângulos de Interpretação); P. Sifneos (Psicoterapia como
experiência de aprendizado) e L. McCullough (Integração de diferentes táticas terapêuticas),
Lemgruber; Cordioli, (2008).
Como base central do processo terapêutico a EEC (Experiência Emocional Corretiva) cujo
conceito foi considerado por D.Malan (1981) como o aspecto central do processo psicoterapêutico. Para F.
Alexander pode ocorrer sem que haja conhecimento completo das causas determinantes da
problemática atual por parte do paciente. Ela representa a possibilidade de o paciente experimentar
situações traumáticas do passado, penosamente reprimidas, revivendo-as na relação com o terapeuta. A
ideia é que uma nova experiência emocional possa ocorrer na relação terapêutica, Lemgruber;
Cordioli, (2008).
Outro conceito importante é o de Efeito Carambola, este foi desenvolvido por Lemgruber em
analogia ao termo do jogo de bilhar, que gera impulso de uma tacada em uma bola, movimentando em
direção a outras bolas que não foram diretamente atingidas pelo impacto inicial do taco, para exemplificar
o mecanismo de potencialização dos ganhos terapêuticos através de repetidas EEC. O Efeito Carambola
provoca mudanças no “script” usado habitualmente pelo paciente, isto é, na maneira como ele se percebe e
reage diante da vida. As repetidas interações corretivas criam um novo "set" cognitivo e afetivo e
possibilitam a reestruturação da imagem interna da pessoa como um todo, transformando a forma como vê
o mundo e sua relação com outros indivíduos, Lemgruber; Cordioli, (2008).
Como base psicodinâmica para a compreensão dos comportamentos e dificuldades dos pacientes,
usa-se o Modelo dos Triângulos, este modificado por L. McCullough que, ao não se restringir ao enfoque

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intrapsíquico psicanalítico clássico, acrescentou a Teoria das Emoções, de Tomkins, ao modelo original de
interpretação do esquema dos dois Triângulos, criado pelo grupo de orientação psicanalítica da Clínica
Tavistock de Londres e utilizado por D. Malan como o "princípio universal da psicoterapia psicodinâmica",
Lemgruber; Cordioli, (2008).
Este triangulo também é conhecido como Triângulo Psicanalítico, pois derivou-se da Teoria
Estrutural de Freud e era geralmente interpretado sob o referencial do conflito intrapsiquíco, referente às
três instâncias da 2ª Tópica freudiana (Id, Ego, Superego). O Triângulo da Pessoa é um esquema
representativo de padrões de respostas mal adaptadas do paciente, originadas nas relações passadas e que
continuam a ser repetidas, tanto nas relações de seu cotidiano como com o terapeuta.
Lemgruber; Cordioli, (2008) ainda afirma que segundo estudos realizados demonstram que as
PBPs tem as seguintes características:
1. Terapeutas mais ativos, que estimulam o desenvolvimento da aliança terapêutica e transferência
positiva;
2. Focalização em conflitos específicos ou temas definidos previamente no início da terapia;
3. Manutenção de foco de trabalho e objetivos definidos;
4. Atenção dirigida para as experiências atuais do paciente, inclusive os sintomas;
5. Ênfase na situação transferencial da dimensão do “aqui e agora”, que não necessariamente é
correlacionada ao passado.
As PBP se utilizam de táticas psicanalíticas específicas, como a associação livre, resistência,
transferência e insight. Entretanto a neurose de transferência não deveria ser estimulada e a
transferência (negativa) deveria ser interpretada no contexto da relação terapêutica e ser remetida
imediatamente ao foco. As defesas adaptativas são interpretadas com a finalidade de fortalecimento.
Os silêncios devem ser ativamente desencorajados e interpretados com resistência, assim como outras
manifestações como atrasos, faltas, tentativas de inundar o tratamento com vários assuntos, etc
Lemgruber; Cordioli, (2008).

Técnicas da Psicoterapia breve


Por terem metas diferentes do modelo psicanalítico, as psicoterapias breves têm seus objetivos
limitados. Tais limitações são umas das principais características da PB e aparecem em função das
necessidades imediatas do paciente. Aqui o foco surge como um orientador de toda teoria e condição
essencial de eficácia na PB, tal foco se refere ao conflito do paciente e deve ser trabalhado em ação
direta e específica, cabe lembrar que não serão trabalhados outros aspectos da personalidade. A essa
estratégia de atenção seletiva Fiorini (2004) chamou de omissões deliberadas, aonde se leva o paciente

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a esse foco por meio de interpretações parciais e atenção seletiva, deixando passar o material atraente
sempre que este se mostre irrelevante ou afastado do foco.
É importante detectar as situações conflitivas mais significativas daquele momento, pois as
pessoas sempre chegam com vários conflitos. Diferentemente da psicanalise que pode durar anos, a
psicoterapia breve é comum que se fixe um prazo mais curto, geralmente alguns meses. Pois quando se
fixa um prazo de encerramento, segundo Braier (1991), automaticamente é criada uma situação que irá
influenciar no modo decisivo os diferentes aspectos do vínculo terapêutico, em especial o fim de seu
tratamento.
Knobel (1986) com relação à técnica da PB vem sustentar quatro princípios: não-transferencial,
não-regressiva, elaborativa de predomínio cognitivo, e a mutação objetal. Para ele, a entrevista inicial é
fundamental para determinar o futuro da relação terapêutica, que pode iniciar ou acabar nesse
momento. Tal entrevista deve conter um diagnóstico holístico, bio-psico-social, fenomenológico e
metapsicológico, determinando assim o tipo de tratamento que se irá realizar.
É importante também nessa primeiro entrevista, se avaliar os aspectos resistenciais do
entrevistado, sua motivação real para terapia, sua capacidade egóica, as estruturas mais ou menos
patológicas e rígidas, os mecanismos de defesa e os potenciais do entrevistado, bem como sua
capacidade intelectual de simbolização e abstração, suas limitações totais, e tonalidade afetiva diante
de assuntos e problemas apresentados.
A entrevista deve geralmente ocorrer em uma única sessão ou encontro, ao seu final deve-se
efetuar a devolução do material utilizado, através do qual irá se realizar a avaliação, um diagnóstico e
uma proposta terapêutica. A qual depois de formalizada e aceita pelo paciente precederá da
formalização da relação contratual da psicoterapia.
Fiorini (2004) orienta a terapêutica breve no sentido da compreensão psicodinâmica da vida
cotidiana do paciente e em compreensão as estrutura da personalidade como uma subestrutura. Para ele
uma das características básicas da PB é operar com uma estratégia multidimensional, já que o
indivíduo doente surge como um objeto complexo, multideterminado por fatores suscetíveis de
integrar estruturas diversas, tornando-se necessária a flexibilidade da escolha da técnica.
Para Fiorini (2004) o terapeuta deve desempenhar na terapia breve um papel essencialmente
ativo, dispondo de uma ampla gama de intervenções. Sua participação orienta a entrevista de modo
direto, não permitindo que o curso da terapia seja entregue à espontaneidade do paciente. Para isso
Fiorini elabora o que chamou de “projeto terapêutico”, um plano de abordagem individualizado a
partir da avaliação da situação total do paciente, compreendendo sua estrutura dinâmica essencial de
sua problemática.

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Grupo Operativo/Teoria do Vínculo


Grupo Operativo
Importante começar essa temática com a definição que Pichon-Rivière (1998) faz de grupo para
que possamos acompanhar suas características:
“Definimos o grupo como o conjunto restrito de pessoas, ligadas
entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua
mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita ou
implícita, uma tarefa que constitui sua finalidade.” (Rivière, p.
234, 1998).
De acordo com o autor, se em um grupo não houver essas características, trata-se apenas de um
aglomerado de pessoas. O número restrito de pessoas e sua ligação através de um enquadre que aborde
o tempo e o espaço, diz que uma quantidade específica de indivíduos se reunirá de tempo em tempo
(ex: uma vez por semana, todos os dias, etc.) e em um local específico e não modificado
constantemente. Esse quadro trará a esse grupo uma vinculação que permitirá uma articulação entre si
e assim será possível o desenvolvimento da mútua representação interna (será explicitado mais
adiante) com a finalidade de uma tarefa grupal.
A proposta pichoniana compreende e avalia os processos grupais através da técnica de grupo
operativo, fundamentada na psicologia social de Enrique Pichon-Rivière (1998). Essa técnica se
fundamenta em uma concepção de aprendizagem, ou seja, ressalta a importância das experiências
trazidas e compartilhadas na inter-relação entre os sujeitos e com isso a possibilidade de uma
aprendizagem, como por exemplo: ao compartilhar o modo que interajo com pessoas autoritárias
permite ao outro melhorar ou aprender a maneira como ele age nessa situação. Porém, Pichon traz que
só ocorre uma aprendizagem quando o indivíduo faz uma apropriação ativa dessa realidade, sendo
capaz de colocar em prática o que aprendeu.
Segundo (Gayotto, p.30, 1996): “Aprendizagem, nessa perspectiva, é a capacidade de
compreensão e de ação transformadora da realidade. Isso envolve mudanças e pressupõe que elas
ocorram nas pessoas articuladas entre si, e no contexto no qual as mesmas são inseridas.”.
A autora, que se baseia na teoria de Pichon, aborda que o grupo é um sistema de ações e surge a
partir das necessidades dos integrantes, o que determina a existência de objetivos e de uma tarefa. A
técnica de grupo operativo é focada na tarefa.
Tarefa é o conjunto de ações destinadas à conquista de objetivos comuns, realizada através de
uma dialética entre os sujeitos e busca a operatividade grupal, o que significa avanços rumo aos
objetivos estabelecidos. Gayotto (1996).

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O desenvolver em conjunto da tarefa implica na importância de uma vinculação entre os


integrantes que envolvem comunicação e aprendizagem. Esse processo grupal é influenciado pelas
representações internas dos sujeitos, mas que a partir do vínculo grupal estabelecido, surge uma mútua
representação interna, ou seja, os personagens desse grupo passam a fazer parte do mundo interno uns
dos outros. A partir do momento em que me lembro de fulano em determinada situação, ou ajo de
acordo com o que ouvi de beltrano, significa que essas pessoas já fazem parte de meu mundo interno.
A mútua representação interna depende de uma relação em uma ação, com um vínculo de qualidade,
necessário à tarefa grupal.
Nem sempre o grupo consegue operar tranquilamente em tarefa, pois segundo Rivière (1998),
nesse caminho de vinculação e aprendizagem, surgem os chamados medos básicos, que são o medo do
ataque e o medo da perda.
Para compreender melhor esses termos, é preciso trazer novamente o conceito de tarefa. A
técnica de grupo operativo é centrada na tarefa, na qual as pessoas aprendem a pensar juntas e a
encontrar soluções para as dificuldades criadas e manifestadas no campo grupal, que concretiza os
objetivos comuns. Entrelaçadas a esse processo, se desenvolvem as dinâmicas visíveis e invisíveis.
Dinâmica visível: é aquela em que a tarefa está explícita, uma tomada de consciência da
própria ação naquele grupo, em que o indivíduo é capaz de ter atitudes e comportamentos eficazes em
prol do objetivo e dos demais integrantes, configurando uma corresponsabilidade no processo de
apropriação da realidade (aprendizagem).
Dinâmica invisível: se estrutura conforme os conteúdos do inconsciente e pré-consciente. É o
emergente grupal, por ex: após um período de silêncio, um integrante faz uma piada, o que expressa a
tensão diante da tarefa. Essa dinâmica pode ser de resistência à mudança, caracterizada como pré-
tarefa.
Pré-tarefa: é o momento em que o grupo resiste operar em tarefa para evitar e aliviar as
ansiedades dos medos básicos. É expressa por papéis assumidos pelos indivíduos, como líderes de
resistência.
Medos básicos: da perda – medo de perder os benefícios secundários de um sintoma, de perder
vínculos, conceitos e papéis conhecidos, etc.; do ataque – medo de uma situação desconhecida ou de
sofrer um ataque ao que lhe pertence como crenças, vínculos, etc.
Como o foco dos grupos operativos é a aprendizagem, consegui-la passa pelos desafios dessas
dinâmicas e das interferências desses medos. As intervenções do coordenador precisam ser no sentido
de aclarar os conteúdos inconscientes para que o processo grupal viva a operatividade. O caminho que
Pichon aborda também em sua teoria é a comunicação.

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A relação grupal é baseada no vínculo e na comunicação em um movimento dialético, mas


como a trama vincular é vivenciada a partir dos vínculos internalizados (mundo interno), a
comunicação sofre essa influência, podendo ocorrer uma comunicação fluída e clara, em que todos se
expressam sem melindres ou resistências ou a comunicação pode percorrer por um caminho de ruídos,
com resistências e negações, não se diz o que verdadeiramente quer dizer. Essas interferências
negativas podem ser decorrentes dos medos básicos e das matrizes de aprendizagens (“não se diz o
que sente porque aprendi que é assim que se relaciona”).
Matrizes de aprendizagem são as referências do mundo interno que se constitui desde o
nascimento, é uma memória inconsciente armazenada como uma base social e individual. Possuímos
modelos internalizados de relações, a partir dos vínculos significativos (de satisfação ou frustração) e
que modela a maneira como nos relacionamos com as pessoas. É um universo repleto de fantasias e
contrariedades (amor e ódio). Para exemplificar: uma pessoa que cresce com um pai autoritário,
aprende que as figuras de autoridade não podem ser questionadas e apenas obedecidas e é assim que
esse indivíduo vai se relacionar com as representações de autoridade da sua vida.
Vale a pena ressaltar que Rivière (1998) aborda uma diferença entre o que são objetivos em
comum de um grupo entre os objetivos comuns. De acordo com a sua teoria, quando há objetivos em
comum, não se trata da formação de um grupo, mas sim, de um aglomerado de pessoas, pois para ele,
nesse caso, as pessoas centram-se apenas em suas próprias necessidades e interesses. A constituição de
um grupo operativo é baseada em objetivos comuns, quando os indivíduos se articulam em torno na
tarefa, que implica vínculos e aprendizagens, mas com um foco marcado nas necessidades e interesses
do grupo como um todo.
O movimento grupal pichoniano é dialético, ou seja, a aprendizagem se desenvolve através de
avanços e recuos, em um caminho do implícito (inconsciente) para o explícito (consciente) até a
apropriação ativa dessa aprendizagem. Esse movimento é representado pelo autor por um cone
invertido, como mostra a figura abaixo:

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Os vetores que aparecem ao lado do cone fazem parte da análise grupal para observar seu
movimento em prol da operatividade, vamos conhecê-los:
Afiliação/Pertença: se caracteriza pela maneira como o sujeito está integrado ao grupo, incluso
ou não. Quando esse indicador está fortalecido na dinâmica grupal, há uma identificação com o grupo
e se desenvolve também, a mútua representação interna, ou seja, a pessoa é capaz de incluir-se ao
grupo e incluir os demais no seu mundo interno. Constitui-se assim, a identidade grupal, que permite a
passagem do eu para o nós.
Cooperação: é uma articulação com o outro que leva à tarefa e permite uma elaboração
conjunta dos obstáculos. Cooperar não significa não confrontar, mas sim, discriminar entre o que é
meu e do outro a fim de uma complementação e não ser cúmplice daquilo que se discorda. Os
objetivos grupais e individuais interatuam e se articulam cooperativamente para a realização da tarefa.
Pode-se observar, por exemplo, através deste indicador se há competições entre os integrantes, pois
confrontar não significa competir e se esse for o movimento, não há cooperação no grupo.
Pertinência: esse vetor analisa se o grupo está atuando em tarefa ou pré-tarefa, lembrando que
na tarefa os indivíduos articulam entre si em prol dos objetivos comuns estabelecidos e na pré-tarefa,
há uma evitação dos conteúdos desses objetivos devido à influência dos medos básicos. Esse
movimento é envolvido pelo desemprenho de papéis emergentes e papéis instituídos dos sujeitos que
integram o grupo. A pertinência é caracterizada pelo grau de centramento do grupo na tarefa prescrita e
sua compreensão e clareza.
 Papéis instituídos – são as funções explicitadas aos membros do grupo como: coordenador,
gerente ou líder, pai, mãe, funcionário, etc.
 Papéis emergentes – são os papéis que surgem da dinâmica invisível grupal como: Porta-Voz
que explicita os conteúdos implícitos e negados pelo grupo, o que permite uma tomada de consciência,
porém, nem sempre os demais membros estão preparados para tal revelação e continuam negando o
que foi trazido, assim, essa pessoa de porta-voz passa para Bode Expiatório. Há também o Líder de
Mudança, que é aquele que aceita, apoia e dá continuidade ao que foi explicitado pelo porta-voz,
conduzindo à tarefa grupal. Contudo, o integrante que atua no papel contrário, torna-se o Líder de
Resistência, que devidos ao nível de ansiedade, procura resistir que o grupo evolua em tarefa,
tentando, inconscientemente, mantê-lo em pré-tarefa, são os chamados de: Sabotador – que sabota a
tarefa de maneira clara e evidente e o Impostor – que também atua como o sabotador, porém de modo
mais sútil e difícil de ser percebido.
Comunicação: através dos processos comunicacionais as pessoas se influenciam
reciprocamente, havendo intercâmbios de significados. Para Pichon-Riviére (1998), toda comunicação
é realizada de modo bicorporal (entre duas ou mais pessoas) e tripessoal, ou seja, os conteúdos do

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mundo interno de cada sujeito se interpõem nessa comunicação é o terceiro elemento. Gayotto (1996)
traz que a comunicação pode ser:
 De um para todos – caracterizado pelo papel do líder;
 De todos para um – quando emerge o papel do bode expiatório;
 Entre todos – quando a comunicação é distribuída e fluída no grupo;
 Entre duas pessoas – situação de subgrupo;
 Entre vários simultaneamente – situação de confusão e falas paralelas, o que caracteriza
monólogos paralelos.
Aprendizagem: esse indicador denota a plasticidade grupal frente aos obstáculos, se os
participantes conseguem superá-los em movimento ascendente traduz-se a tarefa e há a aprendizagem,
se o grupo recua nesse desenvolvimento, se expressa a pré-tarefa, onde não há aprendizagem.
Tele: é um termo que vem da teoria de psicodrama de Moreno, e Gayotto (1996), coloca que
esse vetor caracteriza a disposição positiva ou negativa dos integrantes do grupo, é a primeira
percepção subjetiva do outro. Essa autora descreve: “Para Pichon-Rivière, todo encontro é um
reencontro, ou seja, um mascaramento da realidade com os nossos personagens internos. Esta
sensação que se tem do outro sem conhece-lo (...).” (p. 93). A tele é localizada no vértice do cone, em
seu aspecto mais profundo e implícito, ela não é vista, é apenas sentida e está em todo encontro, em
toda aprendizagem e em toda a comunicação.
Esses vetores auxiliam também na identificação do que Pichon chama de pacto grupal. De
acordo com os medos básicos, o mundo interno de cada integrante e a trama vincular determina-se,
inconscientemente, qual será o pacto daquele grupo, podendo como exemplo, atuarem como o “grupo
certinho”, “grupo perfeito ou harmônico” ou mesmo “aqui não se diz o que realmente pensa ou
sente”, “proibido confrontar” e assim por diante. Os pactos são normalmente, alianças de resistência à
mudança, há um contrato grupal em que o que é renegado e ansiógeno não são permitidos emergir por
serem aparentemente ameaçadores. (Gayotto, 2003).
O papel do coordenador de um grupo operativo visa atuar nos processos de interação de modo
que o grupo opere em tarefa e desenvolva aprendizagens. Para isso, requer o desenvolvimento de uma
coerência interna e atitudes psicológicas que facilitem esse processo e esse coordenador não se envolva
no pacto grupal. As atitudes psicológicas de acordo com Gayotto (2003) são:
 Observação ativa e criativa da dinâmica grupal: que é a capacidade de perceber a si e ao outro,
sem misturar-se;
 Conseguir reconhecer e tolerar no emergente as contradições existentes que progridem e
regridem o movimento grupal;

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 Ser capaz de conter a depositação transferencial (termo da psicanálise), estabelecendo assim


uma comunicação com os conteúdos inconscientes;
 Manter uma atenção flutuante (termo da psicanálise), em que seleciona os conteúdos distintos
dos conteúdos da observação racional.
 Manter uma assimetria de papéis, não em uma questão de uma autoridade superior, mas sim, na
clareza de um papel diferente dos demais.
Por último e não menos importante, trazemos o conceito de Pichon-Rivière denominado de
ECRO definido por ele mesmo, em 1976:
"defino o ECRO como um conjunto organizado de conceitos
gerais, teóricos, referidos a um setor do real, a um determinado
universo de discurso, que permite uma aproximação instrumental
ao objeto particular (concreto). O método dialético fundamenta
este ECRO e sua particular dialética".
O ECRO (Esquema Conceitual Referencial Operativo) é o conjunto de esquemas que define a
identidade e o movimento grupal. Serve como um instrumento de análise em que se utilizará dos
vetores já mencionados. É um modelo científico definido que permite a compreensão e apreensão da
realidade.
A teoria pichoniana é vasta e rica, sua contribuição à psicologia social é notória. Finalizamos
com uma frase de Pichon-Rivière (1976) que traduz resumidamente o foco de sua teoria:
"O sujeito não é só um sujeito relacionado, é um sujeito produzido.
Não há nada nele que não resulte da interação entre indivíduos,
grupos e classes".
Uma questão da consesp sobre o tema caiu no concurso da prefeitura de Quedas do Iguaçu/PR.

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Como abordado na teoria de técnica de Grupo Operativo, na interação grupal há a


interferência dos medos básicos de ataque e de perda, e a tendência para se proteger desses medos, é
a resistência, caracterizada normalmente pelo indivíduo que assume esse papel, como o Líder de
Resistência. Assim, alternativa correta C.
Teoria do Vínculo
Enrique Pichon-Rivière é um psiquiatra social que a partir da psicanálise construiu teorias
voltadas aos vínculos sociais (Teoria do Vínculo) e Grupos Operativos. Segundo sua conceituação:
“Um vínculo é, então, um tipo particular de relação de objeto; a
relação de objeto é constituída por uma estrutura que funciona de
uma determinada maneira. É uma estrutura dinâmica em contínuo
movimento, que funciona acionada ou movida por fatores
instintivos, por motivações psicológicas. (...) Podemos definir o
vínculo como uma relação particular com o objeto.” – (Rivière, p.
18, 2007).
O autor traz a vinculação como uma estrutura complexa que inclui o sujeito, o objeto e a
interação entre eles. Trata-se de uma estrutura porque se constitui como um sistema cujos elementos
são interdependentes.
Nessa teoria, há dois campos psicológicos no vínculo: um interno e outro externo. Pode haver
relação e vínculo com objetos internalizados ao longo das vivências de um indivíduo desde o
nascimento e outro tipo de relação vincular com objetos externos, como pessoas, animais, objetos
inanimados e etc., o que fizer parte de sua realidade. Rivière (2007) traz que cada relação tem um
significado particular para cada indivíduo. Vale salientar que para a psicologia social o que interessa é
o tipo de vinculação externa e para psiquiatria e psicanálise é a vinculação interna.
“Um vínculo é um conceito instrumental em psicologia social que
assume uma determinada estrutura e que é manejável
operacionalmente. O vínculo é sempre um vínculo social, mesmo
sendo com uma só pessoa; através da relação com essa pessoa
repete-se uma história de vínculos determinados em um tempo e
espaço determinados.” (Rivière, p. 31, 2007).
O autor aborda que em qualquer relação de objeto está implicada toda a estrutura psíquica que
incluem os instintos básicos descritos por Freud: libido e agressão. Significa que com cada objeto nos
relacionamos com mais amorosidade ou com mais agressividade, sendo eles internos ou externos.

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O vínculo também é envolvido pelas três instâncias psíquicas também descritas por Freud: id,
ego e superego. Quando o vínculo é estabelecido mais próximo do id, é um vínculo mais amoroso ou
mais agressivo. A proximidade com o ego traz operacionalidade por ser pautado mais na realidade e o
vínculo baseado no superego é mais culpógeno. Mas a estrutura psíquica se relaciona de maneira
mista, não sendo possível fazer uma separação tão clara, por ex: um vínculo perverso pode estar mais
perto do id, mas sofre também uma influência do superego.
Rivière (2007) nomeia uma classificação de tipos vinculares:
1. “Normal”
2. Paranoico
3. Depressivo
4. Obsessivo
5. Hipocondríaco
6. Histérico
 Nas histerias de angústia o vínculo se caracteriza pelo medo de tudo, e em certo momento se
localiza em determinado lugar. Na fobia – medo do interior (claustrofobia) e do exterior (Agorafobia).
A ansiedade é advinda no fundo da desconfiança, mas aparece como medo.
 Na histeria de conversão, determinadas fantasias se vinculam com o corpo, através de uma
sintomatologia ou ataque histérico.
 Na neurose obsessiva o vínculo se caracteriza pelo controle e pela ordem.
 Na psicose, os vínculos paranoide, depressivos e maníacos se caracterizam por serem de
controle também, mas são mais rápidos e operantes quanto à paralisação do objeto. O aumento da
ansiedade experimentada por um psicótico determina a necessidade de um controle maior do outro e
para seu alívio, realizar a paralisação desse objeto traz a sensação de que ele deixou de ser
persecutório.
 Na esquizofrenia todos esses vínculos podem aparecer juntos, alternadamente ou com
predominância de um deles. É um tipo vincular de controle e desconfiança a certa distância
(isolamento da realidade). Igualmente ocorre na psicopatia.
 Nas perversões existem vários tipos de vínculos. Pode-se dizer que a perversão é uma tentativa
de resolução de determinadas ansiedades.
Em sua teoria do vínculo, Rivière (2007) aborda que não existem relações impessoais, pois em
qualquer relação, existem os vínculos internos constituídos a partir da história de vida do sujeito,
também chamado de mundo interno e é a partir desse grupo interno que a pessoa se relaciona e se
vincula com o seu mundo externo. Um exemplo simples: se um grupo de pessoas tiver a tarefa de

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cuidar de um cachorro, em seu mundo interno cada indivíduo irá pensar em algo diferente, mas ao
interagirem e conversarem decidirão o melhor a fazer e nessa relação, entrarão os personagens do
mundo interno de cada um. Se eu estiver nesse grupo e minha base vincular é persecutória, vou querer
liderar a situação para obter o controle.
Há um reforço por parte do autor em afirmar que nenhuma pessoa se apresenta com uma única
maneira de se vincular, ou seja, em nossa dinâmica relacional (interna e externa), trazemos os diversos
tipos de vínculos mencionados acima, com maior ou menor intensidade.
Ainda com base no social, Rivière (2007) coloca que há três dimensões de investigação do
vínculo: do indivíduo, do grupo e da instituição. O que permite, inclusive, três tipos de análise:
Psicossocial - que parte do indivíduo para fora; Sociodinâmica – que analisa o grupo como estrutura e
Institucional – que toma todo um grupo, uma instituição ou um país como objeto de investigação.
Através de um estudo psicossocial, sociodinâmico e institucional da família, por exemplo, o
profissional pode obter um quadro completo da estrutura mental de um paciente. Ao analisar,
primeiramente, as tensões do paciente com os vários membros do grupo familiar (psicossocial), depois
as diversas tensões existentes entre todos os membros (sociodinâmico) e por fim, a relação dessa
família com o social (institucional), há a possibilidade de um diagnóstico e prognóstico pertinentes.
Pichon ainda enfoca que o paciente que adoece é um representante de uma estrutura tanto
individual quanto familiar. Conhecendo essa estrutura, duas partes podem ser conhecidas e manejadas
para um tratamento: a parte de si que o paciente deposita no grupo familiar e a outra que fica consigo.
Tudo se organiza em uma estrutura, uma Gestalt, na qual uma parte é o paciente e o restante, a família.
Forma-se, assim, uma totalidade e trabalhar essa totalidade e a doença como um emergente traz um
manejo possível para a condução da doença à saúde. Importante o profissional conhecer e analisar as
tensões internas dessa família e o momento em que ocorreu a ruptura e os motivos para essa cisão e
adoecimento.
A teoria da trama vincular que traduz a dinâmica de cada indivíduo também faz parte da teoria
da técnica de Grupo Operativo de Enrique Pichon-Rivière que veremos a seguir.

Código de Ética
Quando falamos no código de ética em concurso, percebemos através de muitas questões as
quais iremos trabalhar nessa apostila, que as bancas têm buscado a literalidade do texto, sendo assim
não temos como viajar muito e sim ler e reler.

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Ao trabalhar nosso código de ética, estamos falando da resolução CFP nº 010/05, essa
resolução embora seja curta cai em praticamente todos os concursos de Psicologia, e aqui não adianta
muito refletir, tem que ler as leis, depois reler e reler de novo.
Abaixo segue o código de ética do psicólogo acompanhado das poucas questões da Consesp e
comentários importantes (sublinhados) a cerca do conteúdo que mais tem caído em concurso, sempre
lembrando que é importante ter conhecimento de sua literalidade.

Código de Ética Profissional do Psicólogo


Toda profissão define-se a partir de um corpo de práticas que busca atender demandas sociais,
norteado por elevados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada
relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo.
Um Código de Ética profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às práticas
referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a auto-reflexão
exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente,
por ações e suas consequências no exercício profissional. A missão primordial de um código de ética
profissional não é de normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar, dentro de
valores relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que
fortaleça o reconhecimento social daquela categoria.
Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e de sociedade que determina a
direção das relações entre os indivíduos. Traduzem- se em princípios e normas que devem se pautar
pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais. Por constituir a expressão de valores
universais, tais como os constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos; sócio-culturais,
que refletem a realidade do país; e de valores que estruturam uma profissão, um código de ética não
pode ser visto como um conjunto fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades mudam, as
profissões transformam-se e isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o próprio código de ética
que nos orienta.
Uma coisa importante da frase acima é pensar a missão primordial do código de ética, que é
assegurar um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social daquela categoria e não criar
normas para a natureza técnica do trabalho.
Estamos falando aqui de um modelo de homem que se opõe a condutas invasivas da instituição,
organização ou qualquer outro órgão no qual ele esteja inserido e não interfere na liberdade de escolha
de seu cliente.

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A formulação deste Código de Ética, o terceiro da profissão de psicólogo no Brasil, responde


ao contexto organizativo dos psicólogos, ao momento do país e ao estágio de desenvolvimento da
Psicologia enquanto campo científico e profissional. Este Código de Ética dos Psicólogos é reflexo da
necessidade, sentida pela categoria e suas entidades representativas, de atender à evolução do contexto
institucional-legal do país, marcadamente a partir da promulgação da denominada Constituição
Cidadã, em 1988, e das legislações dela decorrentes. Consoante com a conjuntura democrática vigente,
o presente Código foi construído a partir de múltiplos espaços de discussão sobre a ética da profissão,
suas responsabilidades e compromissos com a promoção da cidadania. O processo ocorreu ao longo de
três anos, em todo o país, com a participação direta dos psicólogos e aberto à sociedade.
Este Código de Ética pautou-se pelo princípio geral de aproximar-se mais de um instrumento
de reflexão do que de um conjunto de normas a serem seguidas pelo psicólogo. Para tanto, na sua
construção buscou-se:
a. Valorizar os princípios fundamentais como grandes eixos que devem orientar a relação do psicólogo
com a sociedade, a profissão, as entidades profissionais e a ciência, pois esses eixos atravessam todas
as práticas e estas demandam uma contínua reflexão sobre o contexto social e institucional.
b. Abrir espaço para a discussão, pelo psicólogo, dos limites e interseções relativos aos direitos
individuais e coletivos, questão crucial para as relações que estabelece com a sociedade, os colegas de
profissão e os usuários ou beneficiários dos seus serviços.
c. Contemplar a diversidade que configura o exercício da profissão e a crescente inserção do psicólogo
em contextos institucionais e em equipes multiprofissionais.
d. Estimular reflexões que considerem a profissão como um todo e não em suas práticas particulares,
uma vez que os principais dilemas éticos não se restringem a práticas específicas e surgem em
quaisquer contextos de atuação.
Esses princípios precisam estar muito claro, pois costumam cair na maioria das provas de
concursos. Note a questão abaixo.

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Como observamos, esses princípios precisam estar muito claros e “decorados”, note que a
questão nas quatro alternativas coloca na literalidade todos os quatro princípios, alternativa correta
B.
Ao aprovar e divulgar o Código de Ética Profissional do Psicólogo, a expectativa é de que ele
seja um instrumento capaz de delinear para a sociedade as responsabilidades e deveres do psicólogo,
oferecer diretrizes para a sua formação e balizar os julgamentos das suas ações, contribuindo para o
fortalecimento e ampliação do significado social da profissão.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Esses princípios também precisam estar muito claro, pois costumam cair na maioria das
provas de concursos.
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da
igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das
coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade
política, econômica, social e cultural.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional,
contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de
prática.

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V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações,


ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando
situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas
relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com
os demais princípios deste Código.

DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO


Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos: a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir
este Código;
b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado
pessoal, teórica e tecnicamente;
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à
natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente
fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional;
d) Prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar
benefício pessoal;
e) Estabelecer acordos de prestação de serviços que respeitem os direitos do usuário ou beneficiário de
serviços de Psicologia;
f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao
trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional;
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos,
transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou
beneficiário;
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços
psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho;
i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e forma de divulgação do
material privativo do psicólogo sejam feitas conforme os princípios deste Código;
j) Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais, respeito, consideração e
solidariedade, e, quando solicitado, colaborar com estes, salvo impedimento por motivo relevante;
k) Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis, não puderem ser
continuados pelo profissional que os assumiu inicialmente, fornecendo ao seu substituto as
informações necessárias à continuidade do trabalho;

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l) Levar ao conhecimento das instâncias competentes o exercício ilegal ou irregular da profissão,


transgressões a princípios e diretrizes deste Código ou da legislação profissional.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a
qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;
c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas como
instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência;
d) Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam ou favoreçam o exercício ilegal da
profissão de psicólogo ou de qualquer outra atividade profissional;
e) Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções penais
praticados por psicólogos na prestação de serviços profissionais;
f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos
procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão;
g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico científica;
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar seus
resultados ou fazer declarações falsas;
i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços;
j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação
que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado;
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais,
atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos
resultados da avaliação;
l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, pessoas ou
organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional;
m) Prestar serviços profissionais a organizações concorrentes de modo que possam resultar em
prejuízo para as partes envolvidas, decorrentes de informações privilegiadas;
n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais;
o) Pleitear ou receber comissões, empréstimos, doações ou vantagens outras de qualquer espécie, além
dos honorários contratados, assim como intermediar transações financeiras;
p) Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços;
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em
meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.

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Art. 3º – O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma organização, considerará a


missão, a filosofia, as políticas, as normas e as práticas nela vigentes e sua compatibilidade com os
princípios e regras deste Código.
Parágrafo único: Existindo incompatibilidade, cabe ao psicólogo recusar-se a prestar serviços e, se
pertinente, apresentar denúncia ao órgão competente.
Art. 4º – Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo:
a) Levará em conta a justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou beneficiário;
b) Estipulará o valor de acordo com as características da atividade e o comunicará ao usuário ou
beneficiário antes do início do trabalho a ser realizado;
c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos independentemente do valor acordado.
Art. 5º – O psicólogo, quando participar de greves ou paralisações, garantirá que:
a) As atividades de emergência não sejam interrompidas;
b) Haja prévia comunicação da paralisação aos usuários ou beneficiários dos serviços atingidos pela
mesma.
Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos:
a) Encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e qualificados demandas que extrapolem seu
campo de atuação;
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o
caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de
preservar o sigilo.
Art. 7º – O psicólogo poderá intervir na prestação de serviços psicológicos que estejam sendo
efetuados por outro profissional, nas seguintes situações: Artigo que costuma cair muito nas provas de
concursos
a) A pedido do profissional responsável pelo serviço;
b) Em caso de emergência ou risco ao beneficiário ou usuário do serviço, quando dará imediata ciência
ao profissional;
c) Quando informado expressamente, por qualquer uma das partes, da interrupção voluntária e
definitiva do serviço;
d) Quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada.
Art. 8º – Para realizar atendimento não eventual de criança, adolescente ou interdito, o psicólogo
deverá obter autorização de ao menos um de seus responsáveis, observadas as determinações da
legislação vigente:
§1° – No caso de não se apresentar um responsável legal, o atendimento deverá ser efetuado e
comunicado às autoridades competentes;

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§2° – O psicólogo responsabilizar-se-á pelos encaminhamentos que se fizerem necessários para


garantir a proteção integral do atendido.
Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício
profissional.
Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no
Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em
lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá
restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações, considerando
o previsto neste Código.
Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psicólogo
registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos objetivos do trabalho.
Art. 13 – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser comunicado aos
responsáveis o estritamente essencial para se promoverem medidas em seu benefício.
Art. 14 – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática psicológica obedecerá às
normas deste Código e a legislação profissional vigente, devendo o usuário ou beneficiário, desde o
início, ser informado.
Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer motivos, ele deverá zelar
pelo destino dos seus arquivos confidenciais.
§ 1° – Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o material ao psicólogo
que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior utilização pelo psicólogo substituto.
§ 2° – Em caso de extinção do serviço de Psicologia, o psicólogo responsável informará ao Conselho
Regional de Psicologia, que providenciará a destinação dos arquivos confidenciais.

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Esse é outro artigo que costuma cair sempre em concursos, sempre falando de um dos dois
incisos, no caso da questão, note a literalidade, como pontuado no artigo, alternativa correta C.
Art. 16 – O psicólogo, na realização de estudos, pesquisas e atividades voltadas para a produção de
conhecimento e desenvolvimento de tecnologias:
a) Avaliará os riscos envolvidos, tanto pelos procedimentos, como pela divulgação dos resultados, com
o objetivo de proteger as pessoas, grupos, organizações e comunidades envolvidas;
b) Garantirá o caráter voluntário da participação dos envolvidos, mediante consentimento livre e
esclarecido, salvo nas situações previstas em legislação específica e respeitando os princípios deste
Código;
c) Garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo interesse manifesto destes;
d) Garantirá o acesso das pessoas, grupos ou organizações aos resultados das pesquisas ou estudos,
após seu encerramento, sempre que assim o desejarem.
Art. 17 – Caberá aos psicólogos docentes ou supervisores esclarecer, informar, orientar e exigir dos
estudantes a observância dos princípios e normas contidas neste Código.
Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos instrumentos e
técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão.
Art. 19 – O psicólogo, ao participar de atividade em veículos de comunicação, zelará para que as
informações prestadas disseminem o conhecimento a respeito das atribuições, da base científica e do
papel social da profissão.
Art. 20 – O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por quaisquer meios, individual ou
coletivamente:
a) Informará o seu nome completo, o CRP e seu número de registro;
b) Fará referência apenas a títulos ou qualificações profissionais que possua;

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c) Divulgará somente qualificações, atividades e recursos relativos a técnicas e práticas que estejam
reconhecidas ou regulamentadas pela profissão;
d) Não utilizará o preço do serviço como forma de propaganda;
e) Não fará previsão taxativa de resultados;
f) Não fará auto-promoção em detrimento de outros profissionais;
g) Não proporá atividades que sejam atribuições privativas de outras categorias profissionais;
h) Não fará divulgação sensacionalista das atividades profissionais.

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


Art. 21 – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração disciplinar com a aplicação
das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos legais ou regimentais:
a) Advertência;
b) Multa;
c) Censura pública;
d) Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad referendum do Conselho Federal de
Psicologia;
e) Cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Art. 22 – As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos pelos
Conselhos Regionais de Psicologia, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Art. 23 – Competirá ao Conselho Federal de Psicologia firmar jurisprudência quanto aos casos
omissos e fazê-la incorporar a este Código.
Art. 24 – O presente Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Psicologia, por iniciativa
própria ou da categoria, ouvidos os Conselhos Regionais de Psicologia.
Art. 25 – Este Código entra em vigor em 27 de agosto de 2005.
Este Código de Ética Profissional é fruto de amplos debates ocorridos entre os anos de 2003 e 2005,
envolvendo:
- 15 fóruns regionais de Ética, que culminaram com o II Fórum Nacional de Ética;
- os trabalhos de uma comissão de psicólogos e professores convidados;
- os trabalhos da Assembléia das Políticas Administrativas e Financeiras do Sistema Conselhos de
Psicologia, APAF, tudo sob a responsabilidade do Conselho Federal de Psicologia.

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