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LÍNGUA PORTUGUESA III

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Língua Portuguesa III – Profª. Drª. Ana Dorotéia Arantes Medeiros

Meu nome é Ana Dorotéia Arantes Medeiros. Minha formação é em Letras e Direito. Sou mestre
em Língua Portuguesa pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte,
MG– e doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Unesp – Universidade Estadual de São
Paulo – Araraquara, SP. Leciono, atualmente, Linguística e Língua Portuguesa no curso de Letras
e Língua Portuguesa no curso de Secretariado Executivo Trilingue. Já lecionei Língua Portuguesa
e Literatura Infantil em Pedagogia; Teoria da Comunicação e Legislação Publicitária nos cursos
de Propaganda e Marketing e Publicidade e Propaganda; Língua Portuguesa em Educação
Física, Fisioterapia e Nutrição; Língua Portuguesa e Linguagem Jurídica no curso de Direito.
e-mail: anadoroteia@claretiano.edu.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Ana Dorotéia Arantes Medeiros

LÍNGUA PORTUGUESA III


Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais

Claretiano

2013
© Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

469 M438l

Medeiros, Ana Dorotéia Arantes


Língua portuguesa III / Ana Dorotéia Arantes Medeiros – Batatais, SP :
Claretiano, 2013.
170 p.

ISBN: 978-85-67425-84-9

1. Estudo dos elementos constituintes da oração: termos essenciais, integrantes e


acessórios. 2. Estudo da sintaxe do período composto: processos sintáticos da
coordenação e subordinação; orações intercaladas e reduzidas. I. Língua portuguesa
III.

CDD 469

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


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Preparação Revisão
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Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
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Dandara Louise Vieira Matavelli
Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO........................................................................................................................ 8
3 FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS TERMOS CONSTITUINTES DA ORAÇÃO ............................................................. 9
4 AS ORAÇÕES RELACIONAM PENSAMENTOS QUE SE EXCLUEM.................................................................... 16
5 E-REFERÊNCIA............................................................................................................................................... 29

Unidade  1 – CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUINTES DA ORAÇÃO


1 OBJETIVOS..................................................................................................................................................... 31
2 CONTEÚDOS.................................................................................................................................................. 31
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................................................................. 31
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE............................................................................................................................. 33
5 FRASE............................................................................................................................................................ 33
6 ORAÇÃO........................................................................................................................................................ 37
7 PERÍODO....................................................................................................................................................... 38
8 TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO................................................................................................................. 39
9 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO............................................................................................................ 53
10 TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO............................................................................................................... 62
11 CONSIDERAÇÕES........................................................................................................................................... 76
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................................... 76
13 E-REFERÊNCIAS............................................................................................................................................. 76

Unidade  2 – ORAÇÕES COORDENADAS


1 OBJETIVOS..................................................................................................................................................... 79
2 CONTEÚDOS.................................................................................................................................................. 79
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................................................................... 79
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE............................................................................................................................. 80
5 CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES COORDENADAS........................................................................................... 82
6 PARTICULARIDADES DE ALGUMAS CONJUNÇÕES......................................................................................... 87
7 ANÁLISE DE PERÍODO COMPOSTO................................................................................................................ 89
8 CONSIDERAÇÕES........................................................................................................................................... 92
9 E-REFERÊNCIAS............................................................................................................................................. 93
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................................... 93

Unidade  3 – ORAÇÕES SUBORDINADAS


1 OBJETIVOS..................................................................................................................................................... 95
2 CONTEÚDOS.................................................................................................................................................. 95
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................................................................... 95
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE............................................................................................................................. 96
5 ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS........................................................................................................ 100
6 CASOS DIGNOS DE NOTA.............................................................................................................................. 110
7 ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS.......................................................................................................... 112
8 POR QUE SÃO CHAMADAS ORAÇÕES ADJETIVAS ........................................................................................ 115
9 ALGUMAS OBSERVAÇÕES............................................................................................................................. 119
10 FUNÇÕES SINTÁTICAS DO PRONOME RELATIVO........................................................................................... 121
11 ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS................................................................................................... 124
12 POR QUE ORAÇÕES SUBSTANTIVAS.............................................................................................................. 127
13 ANÁLISE MORFOSSINTÁTICA DO CONECTIVO............................................................................................... 134
14 CASOS RELEVANTES...................................................................................................................................... 137
15 CONSIDERAÇÕES........................................................................................................................................... 143
16 E-REFERÊNCIAS............................................................................................................................................. 143
17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................................... 143

Unidade  4 – ORAÇÕES REDUZIDAS, INTERFERENTES E COORDENADAS ENTRE SI


1 OBJETIVOS..................................................................................................................................................... 145
2 CONTEÚDOS.................................................................................................................................................. 145
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................................................................... 145
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE............................................................................................................................. 147
5 ORAÇÕES REDUZIDAS................................................................................................................................... 150
6 ORAÇÕES REDUZIDAS INFINITIVAS (DE INFINITIVO)..................................................................................... 151
7 ORAÇÕES SUBORDINADAS REDUZIDAS DE GERÚNDIO (OU GERUNDIVAS)..................................................154
8 ORAÇÕES SUBORDINADAS REDUZIDAS DE PARTICÍPIO (OU PARTICIPIAIS)...................................................156
9 CLASSIFICAÇÃO DE ORAÇÕES REDUZIDAS.................................................................................................... 157
10 COMENTÁRIOS RELEVANTES......................................................................................................................... 158
11 ORAÇÕES INTERFERENTES............................................................................................................................ 159
12 ORAÇÕES COORDENADAS ENTRE SI............................................................................................................. 159
13 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS....................................................................................................................... 167
14 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................... 169
15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................................... 169
16 E-REFERÊNCIAS............................................................................................................................................. 170
Caderno de
Referência de
Conteúdo
CRC

Ementa–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Estudo dos elementos constituintes da oração: termos essenciais, integrantes e acessórios. Estudo da sintaxe do
período composto: processos sintáticos da coordenação e subordinação; orações intercaladas e reduzidas.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
O estudo da sintaxe deve ser contextualizado, levando o aluno a seu entendimento e à sua
interiorização. O estudo da análise sintática em orações descontextualizada é inócuo. A análise
sintática tem de ser aplicada ao texto, para que dê ao aluno embasamentos à compreensão,
interpretação e produção de textos.
Por outro lado, como o curso de Letras visa também à formação do futuro professor, pre-
parando-o para a vida profissional, optamos por apresentar esta etapa de Língua Portuguesa
bastante direcionada à Gramática Normativa. Isso porque o aluno do curso de Letras – Habi-
litações em Língua Portuguesa e Língua Inglesa terá oportunidade de estudar, em Linguística,
outras teorias gramaticais. Pretendemos que o aluno conheça, ao longo do curso, a teoria gra-
matical tradicional, a teoria gramatical gerativa, a de valências e a de usos.
Como dissemos, o estudo deve ser do texto à gramática e não ao contrário, porém, infe-
lizmente, o espaço reservado a esta etapa não nos permite tal prática de forma eficiente sem
prejuízo do conteúdo programático.
Além do estudo do conteúdo do material, as atividades e interatividades muito contribui-
rão para a formação teórica e prática do egresso.
8 © Língua Portuguesa III

Após essa introdução, apresentaremos, a seguir, no Tópico Orientações para estudo, al-
gumas orientações de caráter motivacional, dicas e estratégias de aprendizagem que poderão
facilitar o seu estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Nesta etapa de estudo da Língua Portuguesa, veremos a classificação de orações e a clas-
sificação de seus elementos constituintes, segundo a Gramática Tradicional.
O ideal é analisar o texto, dos elementos constituintes da frase às relações existentes entre
as orações.
O estudo de períodos descontextualizados pode ser considerado como uma introdução
à análise do texto, mas o objetivo é capacitar o aluno a perceber o papel desempenhado pe-
los elementos constituintes da frase/oração, do papel sintático das frases/orações e seu inter-
-relacionamento com as demais que compõem a tessitura do texto. A análise sintática do texto
facilita sua compreensão e interpretação.
Comecemos pela distinção entre frase, oração e período.
Frase é um termo mais geral, mais abrangente. É qualquer comunicação linguística. Veja-
mos alguns exemplos:
a) Ponto de ônibus.
b) Silêncio!
c) Chove.
d) É proibido fumar.
e) O sol levanta-se no horizonte, enquanto o gado retorna ao curral.
A frase pode ser nominal ou verbal.
A frase nominal não contém verbo, como os exemplos a e b supracitados.
A frase verbal é a que possui um verbo, ou um predicado, como podemos constatar nos
exemplos c, d e e.
A frase verbal, também chamada oração, pode ser bimembre, marcada pelo sujeito e
predicado, ou pode ser constituída tão somente de um predicado (exemplo c). Seja como for, o
que a caracteriza é a presença do predicado ou do verbo.
Período é o enunciado de sentido completo, construído com uma ou mais orações.
O período pode ser simples ou composto. Período simples é o formado por uma oração. O
período composto é formado por mais de uma oração.
Exemplificando.

Período simples
O canto do galo chega-me aos ouvidos.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

Período composto
Período com duas orações → composto. Exemplo:
O sol levanta-se no horizonte, enquanto o gado retorna ao curral.
O sol levanta-se no horizonte, [enquanto o gado retorna ao curral.]
1 2
Passemos ao estudo das funções sintáticas dos termos constituintes da oração, segundo a
teoria gramatical tradicional.

3. FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS TERMOS CONSTITUINTES DA ORAÇÃO


Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado.
“Sujeito é o termo com o qual o verbo concorda” (PERINI, 1985, p. 17, grifo nosso).
Segundo a NGB, há:
1) oração sem sujeito;
2) sujeito simples;
3) sujeito composto;
4) sujeito indeterminado;
5) predicado verbal;
6) predicado nominal;
7) predicado verbo-nominal.

Predicado
Normalmente, define-se predicado como o que se declara do sujeito ou é o enunciado de
um fato por si mesmo. Tudo que, na oração bimembre, não é sujeito ou não está no sujeito é
predicado.
O predicado pode ser verbal, nominal ou verbo-nominal.
O núcleo do predicado é o verbo, exceto verbo de ligação. Nesse caso, o predicado tem
como núcleo o nome (predicativo). Em outras palavras, o núcleo do predicado verbal é o verbo,
o núcleo do predicado nominal é o nome (predicativo).

Exemplos de predicado verbal:


a) Choveu ontem.
b) O soldado morreu.

Exemplos de predicado nominal:


a) Marta é bonita.
b) A panela está com ferrugem. (enferrujada)
c) Os cabelos são em caracol. (encaracolados)
O predicado verbo-nominal é a fusão dos dois descritos anteriormente, isto é, o predicado
verbo-nominal possui dois núcleos significativos: um verbo e um nome predicativo.
Exemplo:
"Virgília entrou risonha e sossegada.”

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10 © Língua Portuguesa III

(MACHADO DE ASSIS. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: <http://www.


portalsaofrancisco.com.br/alfa/centenario-de-machado-de-assis/memorias-postuma-de-bras-
-cuba-5.php>. Acesso em: 8 jan. 2011, grifos nossos).
Virgília entrou [(e estava) risonha e sossegada].
↓ ↓
pred. verbal predicado nominal
risonha e sossegada → predicativo do sujeito (Virgília)
Vejamos os termos integrantes da oração.

Termos integrantes da oração


Os termos integrantes da oração tornam inteiros, cabais, completos o núcleo do sujeito
(nome) e o núcleo do predicado (verbo). São os seguintes:

Nominais
Complementos objeto direto;
verbais objeto indireto;
adverbial.
agente da passiva

Complemento nominal
É o complemento preposicionado que completa o sentido de substantivo, adjetivo e ad-
vérbio de base nominal (nunca de verbo). Em geral, os nomes que pedem complemento nomi-
nal são deverbais, isto é, formados com o radical de verbos transitivos.
Observe os complementos nas orações seguintes.
Sinto saudades de você.
• saudades → substantivo;
• de você → complemento nominal.

Objeto direto
É o complemento dos verbos transitivos diretos e não é ligado ao verbo por preposição
obrigatória. O objeto direto pode ser substituído por pronome pessoal oblíquo (o, a, os etc.) ou
por pronome demonstrativo (o = isso, aquilo).
Exemplificando:
Não faça coisa errada.

objeto direto
Não faça o quê?
R.: coisa errada → objeto direto
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Objeto direto preposicionado


O objeto direto preposicionado, via de regra, é complemento de verbos que exprimem
sentimento. As preposições mais comumente nele encontradas são a e de.
Exemplos:
a) Ofendemos a ele.
b) Ele puxou do revolver.
c) Sandra comeu do bolo.

Objeto direto pleonástico


É usado para realce, ênfase, reforço. Essa reiteração (pleonasmo) pode ocorrer em qual-
quer função sintática.
Veja o exemplo de objeto direto pleonástico.
Beleza, eu já a tive.
Beleza e a equivalem-se semântica e sintaticamente → objeto direto.

Objeto direto interno


Objeto direto interno, também chamado cognato, é o complemento que tem o mesmo
valor semântico do verbo – geralmente, o verbo é usado como intransitivo. Em outras palavras,
o complemento repete a ideia que o verbo contém.
Exemplo:
Comer comida gostosa.

Objeto direto reflexivo


O objeto direto é constituído por pronome reflexivo. O sujeito pratica e recebe a ação por
ele praticada.
Observe.
a) Eu me penteio.
b) Maria se matou.

Objeto direto recíproco


Quando o sujeito é constituído por mais de uma pessoa, as quais praticam e recebem, ao
mesmo tempo, a ação, temos um objeto direto recíproco.
Exemplificando:
a) Nós nos ferimos, ao disputarmos a final do campeonato. (eu o feri e ele me feriu).
b) Eles se abraçaram (mais de uma pessoa praticou a ação de abraçar e recebeu abraço).

Objeto indireto
É o complemento preposicionado de verbos transitivos indiretos e transitivos diretos e
indiretos. As principais preposições que o adjungem ao verbo são: a, para, de, com, em etc. A
preposição não aparece, quando o objeto indireto é pronome pessoal átono (Isso me agrada →
Isso agrada a mim).

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12 © Língua Portuguesa III

A maioria dos objetos indiretos pode ser substituída por lhe(s); alguns, por preposição +
ele (a/s). Rocha Lima (1982, p. 221) chama a esses últimos de “complemento relativo”.
Observe.
a) Emprestei o carro a Pedro → Emprestei-lhe o carro.
b) Gosto de Maria → Gosto dela (de + ela).

Objeto indireto duplo


O objeto direto duplo acontece quando há “cruzamento” de regência com verbos (como
ajudar / ensinar).
Exemplos:
a) Ensinara ao filho a respeitar.
b) Ajudei-lhe a responder à carta.

Objeto indireto pleonástico


O objeto indireto pleonástico é usado para dar mais expressividade, ênfase. Pode ser
expresso por pronome ou por substantivo.
Veja.
a) Ao rapaz, já lhe dei as informações.
b) Quem me dera a mim sabê-lo (SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004, p. 70).
c) Diga-mo a mim (SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004, p. 43).

Objeto indireto de interesse


É o que se refere a quem é interessado na ação ou processo verbal.
Exemplos:
d) Não me coma esse doce.
e) Detenham-me este homem.

Objeto indireto reflexivo


O objeto indireto reflexivo é constituído por um pronome reflexivo.
Exemplificando:
a) Eu me basto.
b) Ele se deu ares de soberbo.

Objeto indireto recíproco


É representado na oração por pronome reflexivo recíproco.
Veja.
Os dois voltaram-se as costas.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

Complemento adverbial
É o termo que completa a predicação de um verbo transitivo adverbial (geralmente verbos
de movimento ou situação: chegar, ir, partir, seguir, vir, voltar, estar, ficar, morar). É expresso por
um advérbio, locução adverbial ou expressão adverbial, oração subordinada adverbial: Venho
de casa. / Fique aí. / Vou lá agora. / Ela está bem. / Fique [onde está].

Agente da passiva
Para que o assunto não se torne repetitivo, deixaremos de ver, aqui, agente da passiva,
porque foi estudado, detalhadamente, em verbos. Solicitamos, pois, que volte ao material em
que tratamos de verbos e reveja vozes verbais.
Vejamos, agora, os termos acessórios da oração.

Termos acessórios da oração

Adjunto adnominal
A qualquer função sintática - que possa ter como núcleo um substantivo - pode juntar-se
um termo (ou uma locução) que tem valor adjetivo, que lhe delimita, qualifica ou caracteriza o
sentido geral. É o adjunto adnominal. Sua ausência não implica prejuízo lógico ou semântico à
oração.
O adjunto adnominal pode ser constituído por:
a) adjetivo: olhos negros;
b) locução adjetiva: olhos de gato;
c) artigo: os olhos;
d) pronome adjetivo:
• pronome possessivo: teus olhos;
• pronome demonstrativo: esses olhos;
• pronome indefinido: tais olhos;
• pronome interrogativo: que olhos?
• pronome relativo (cujo e flexões): [...] olhos cuja cor apreciamos.
e) numeral adjetivo: dois olhos;
f) oração adjetiva: [...] olhos [que atraem].

Adjunto adverbial
Os adjuntos adverbiais acrescentam circunstâncias a verbos, ou intensificam a ideia neles
contida.
Observe.
acréscimo: Além da medalha, ganhou vários prêmios.
assunto: Falavam de gramática.
causa: Morriam à mingua.
companhia: Sairei contigo.
comparação: Ele falava como um inspirado.
concessão: Apesar de seus esforços não conseguia progredir.

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14 © Língua Portuguesa III

concomitância: Acordei ao barulho dos fogos.


condição: Sem esforços não progredirás.
conformidade: Pagar dízimos segundo os costumes.
direção: Apontar para o alto.
distância: A escola ficava a duzentos metros.
dúvida: Talvez vá.
exclusão: Todos assistiram ao filme menos eu.
favor, interesse: Daria a própria vida por ela.
fim: Viver para o estudo.
frequência: Apareço lá com regularidade.
instrumento: Preferia pintar a óleo.
intensidade: Dormi pouco.
limite: A estrada vai até Belém.
lugar aonde (direção): Voltar à casa paterna.
lugar donde (origem): Venho da cidade.
lugar onde (situação): Vive no deserto.
lugar para onde (direção): Embarcou para a Europa.
lugar por onde
Voltaremos pelo túnel.
(passagem):
matéria: telhado construído de zinco.
meio: Voltei de avião.
modo: Fiquei de pé.
negação: Não faça barulho.
oposição: Sua opinião vai de encontro à minha.
ordem: Marilene prestou o concurso e passou em segundo lugar.
preço: Cobrava a cada fruta um real.
quantidade: O governo construiu casas aos milhares.
substituição ou troca: Deu um carro por um terreno.
tempo (concomitância,
Durante as férias li três livros. / Volto logo.
prazo):

Aposto
Aposto é uma palavra ou expressão que serve para “apelidar” ou explicar um termo
chamado "fundamental".
O aposto é o mesmo fundamental, há identidade entre eles. A identidade deve ser até em
categoria gramatical.
Veja.
a) Deus, Arquiteto do Universo, é onipotente.
• Deus → sujeito;
• Deus = Arquiteto do Universo;
• Arquiteto do Universo → aposto.

Vocativo
É o termo com que se interpela o ouvinte.
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

“E à noite, nas tabas, se alguém duvidava.


Do que ele contava
Dizia prudente: - Meninos, eu vi” (GONÇALVES DIAS. I-Juca-Pirama. Disponível em: <http://
www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/i-jucapirama.html>. Acesso em: 18 jan. 2011, grifo nosso).
Passemos à classificação de orações de um texto, começando pelas orações coordenadas.

Orações Coordenadas
Segundo a Gramática Tradicional, a coordenação caracteriza-se pela independência das
orações.
Uma oração independente não funciona como termo de outra, ou seja, nenhuma oração
do período exerce função sintática de outra oração. Assim, não há oração principal num período
composto por coordenação.

Assindéticas
Assindéticas são orações em que há assíndeto, ou ausência de conjunção coordenativa. As
orações são dispostas lado a lado, separadas por vírgula.
Observe.
“O bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros, deslizou, rolou, seguiu” (MACHADO,
António de Alcântara. Novelas paulistanas: Brás, Bexiga e Barra Funda. 1. ed. Belo Horizonte /
São Paulo, Itatiaia / Edusp, 1988, p. 100-2. In: FIORIN, José Luiz; PLATÃO SAVIOLI, Francisco. Li-
ções de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996, p. 276-277).
[O bonde deu um solavanco,] [sacudiu os passageiros,] [deslizou,] [rolou,] [seguiu].
Não há conjunções nesse período.

Sindéticas
Sindéticas são as orações coordenadas vinculadas por síndeto, ou conjunção coordenativa.
Exemplo:
“A luz aumentou e espalhou-se na campina” (RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Disponível
em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/graciliano-ramos/vidas-secas-3.php>. Acesso
em: 20 jan. 2011) .
[A luz aumentou] [e espalhou-se na campina].
1 2
1) A luz aumentou = oração coordenada assindética;
2) e espalhou-se na campina = oração coordenada sindética aditiva.
Vejamos a classificação das orações coordenadas.

Classificação das orações coordenadas


I. Aditivas: as orações coordenadas sindéticas aditivas estabelecem uma relação de soma,
expressam ligação ou adição de afirmações ou negações. Entre elas, há um relacionamento de
pensamentos similares. São também chamadas copulativas.

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16 © Língua Portuguesa III

Não quero favores, nem compaixão. (= E NÃO QUERO compaixão) => entre as orações há
um relacionamento de pensamentos similares).

II. As adversativas exprimem uma oposição, contraste, ideia contrária à da outra oração,
geralmente, a oração antecedente. Elas relacionam pensamentos contrastantes.
“Os paisanos das ricas terras brigavam, mas os mercadores sempre se entendiam” (LOPES
NETO, João Simões. Contrabandista. Disponível em: <http://www.quemtemsedevenha.com.br/
contrabandista.htm>. Acesso em: 20 jan. 2011, grifo nosso).
A oração iniciada pela conjunção “mas” estabelece uma oposição ao que foi afirmado na
oração anterior.
III. As alternativas (também chamadas disjuntivas) estabelecem ideia de alternância,
opção, de escolha.
“Cochicham ou riem ou falam ao mesmo tempo!” (ASSIS, Machado de. O diplomático.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000256.pdf>. Acesso
em: 20 jan. 2011) .

4. AS ORAÇÕES RELACIONAM PENSAMENTOS QUE SE EXCLUEM


IV. Conclusivas: expressam uma conclusão da ideia contida em outra oração, geralmente,
a anterior. Ou seja, elas relacionam pensamentos de tal forma que a segunda frase encerra a
conclusão da primeira.
Ele nunca fora amado, por conseguinte não conhecia carinho.
V. Explicativas são as orações que manifestam uma explicação. Elas relacionam
pensamentos em sequência justificativa, de maneira que o segundo enunciado explica a razão
de ser do primeiro.
Eles não chegaram, porque não ouvi o barulho do carro. (A 2ª oração explica ou justifica o
conteúdo da primeira).

Orações Subordinada Adverbiais


Sintaticamente, as orações subordinadas adverbiais correspondem a adjuntos adverbiais
e são introduzidas por conjunções subordinativas adverbiais (exceto as integrantes) ou por
locuções conjuncionais. Elas são dependentes, porque exercem função sintática em outra oração
e são divididas segundo a circunstância que acrescentam à oração principal. Observe:
Maria chegou tarde.

advérbio

Maria chegou à tarde.

locução adverbial

Maria chegou quando entardecia.

oração subordinada adverbial


© Caderno de Referência de Conteúdo 17

Maria chegou ao entardecer.

oração reduzida de infinitivo subordinada adverbial


Vejamos a classificação das subordinadas.

Classificação das Orações Subordinadas


I. Causais: exprimem causa, motivo, razão da realização ou não de um fato expresso na
oração principal.
Não fomos ao cinema, porque chovia muito.
• Não fomos ao cinema → um acontecimento;
• porque chovia muito → é a causa, o motivo de não termos ido ao cinema.
II. Condicionais: expressam as circunstâncias para a realização ou não da ação e/ou
processo do verbo da oração principal.
Patrícia poderá usar esta fantasia, contanto que ela emagreça.
• Patrícia poderá usar esta fantasia = acontecimento a ser realizado;
• contanto que ela emagreça = a condição de que depende a realização do fato expresso
na oração anterior.
III. Concessivas: expressam a possibilidade de uma circunstância ou ideia contrária, que
não obsta a realização do fato manifesto na oração principal. Há uma oposição ao fato da oração
principal, entretanto, o obstáculo não impede a sua realização.
Há dois momentos na concessão:
a) existência de um obstáculo hipotético ou condicional;
b) negação da eficácia do obstáculo, chamado opositivo.
A concessão é o oposto da causa, porque dá razão contrária à realização da principal.
Enquanto a oração subordinada adverbial causal expressa o motivo da efetivação do fato
declarado na oração principal, a oração subordinada adverbial concessiva nega a causa, embora
não seja obstáculo à realização do fato contido na oração principal.
Os alunos saíram da sala, apesar de não ter terminado a prova.
• Os alunos saíram da sala → fato acontecido;
• apesar de não ter terminado a prova → via de regra, os alunos só saem da sala depois
de terminada a prova. No caso em exame, o não término da prova não impediu a saída
dos alunos.
Tanto a oração subordinada adverbial concessiva, quanto a oração coordenada adversativa
exprimem concessão. No primeiro caso, a objeção é expressa pela oração subordinada
concessiva, que equivale a um advérbio de concessão. No segundo caso, a objeção está na
oração coordenada assindética e o fato a que essa objeção se opõe está contido na oração
coordenada sindética adversativa. Observe:
a) Embora Lucas seja muito perspicaz, ele foi infeliz em sua justificativa.
b) Lucas é muito perspicaz, contudo foi infeliz em sua justificativa.
No exemplo a, a perspicácia de Lucas não impediu que ele fosse infeliz em sua justificativa.
Temos, portanto, uma oração subordinada adverbial concessiva.

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18 © Língua Portuguesa III

No exemplo b, a infelicidade na justificativa contraria as expectativas advindas do que se


afirma na oração assindética.
IV. Conformativas: denotam adequação, ou não contradição com o fato expresso na oração
principal. Expressam acordo, conformidade de um fato da principal com outro na subordinada.
Fizemos o trabalho, conforme nos foi determinado.
• Fizemos o trabalho → fato acontecido;
• conforme nos foi determinado → o fato aconteceu dentro dos parâmetros pré-estabe-
lecidos.
V. Comparativas: representam o segundo termo da comparação. As orações subordinadas
adverbiais comparativas expressam diferenças ou semelhanças do que é contido na oração
principal. Podem aparecer com o verbo elíptico ou subentendido.
Aqui neva como na Europa.
• [Aqui neva] [como (neva) na Europa].
• Aqui neva → fato que acontece aqui
• como (neva) na Europa → o fato que acontece aqui é similar ao que acontece na Euro-
pa.
VI. As orações subordinadas adverbiais consecutivas dizem respeito ao resultado ou ao
efeito da ação manifestada na oração principal.
• O menino gritou tanto que ficou rouco.
• que ficou rouco → consequência dos gritos.
VII. As finais: indicam o fim, o objetivo ou destinação do fato enunciado na oração principal.
Exemplo:
O rapaz permaneceu calado, para não causar mal-entendidos.
[O rapaz permaneceu calado,] [para não causar mal-entendidos].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial final → indica objetivo pelo
qual o rapaz permaneceu calado.
VIII. As temporais expressam circunstância de tempo em que ocorreu o fato relatado
na oração principal. Por ter equivalência a um adjunto adverbial de tempo, poderá exprimir:
anterioridade, posterioridade, repetição periódica, simultaneidade, término.
Sempre que vejo gérberas, lembro-me de minha mãe.
[Sempre que vejo gérberas,] [lembro-me de minha mãe].
↓ ↓
oração subordinada adverbial oração principal
temporal
IX. As proporcionais: exprimem relação existente entre dois elementos, de maneira que
a alteração em um deles implica alteração no outro também, isto é, expressam uma relação de
proporcionalidade com o verbo da oração principal.
À medida que a hora se aproximava, aumentava minha ansiedade.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

[À medida que a hora se aproximava,] [aumentava minha ansiedade].


↓ ↓
oração subordinada adverbial proporcional oração principal
(maior proximidade da hora, maior ansiedade).
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) não contempla as orações subordinadas
adverbiais locativas e as modais, entretanto, cumpre-nos assinalá-las.
X. Modais: exprimem a função de adjunto adverbial de modo, ou o modo, a maneira pela
qual se dá o fato expresso na oração principal. Via de regra, são orações reduzidas.
[O aluno entrou na sala de aula] [sem pedir licença].
• O aluno entrou na sala de aula → relata um acontecimento → oração principal;
• sem pedir licença → foi o modo como o aluno entrou na sala de aula → oração
subordinada adverbial modal.
XI. As locativas equivalem a um adjunto adverbial de lugar, são introduzidas pelos advérbios
onde e aonde.
Enterraram o tesouro onde ninguém poderia encontrar.
• Enterraram o tesouro → oração principal;
• onde ninguém poderia encontrar → oração subordinada adverbial locativa.
(Observe que o onde não tem antecedente na oração anterior).
Passemos às orações subordinadas adjetivas.

Orações Subordinadas Adjetivas


As orações subordinadas adjetivas assim são chamadas por terem valor de um adjetivo
modificador de um termo da oração principal (antecedente do pronome relativo que as introduz).
Observe.
Maria é uma criança risonha.

adjetivo
Maria é uma criança risonha → [Maria é uma criança] [que ri bastante].
↓ ↓ ↓
adjunto oração principal oração subordinada adjetiva
adnominal
A oração adjetiva equivale ao adjetivo risonha.
Há dois tipos de orações subordinadas adjetivas: as restritivas e as explicativas.

Orações Subordinadas Adjetivas Restritivas


I. Restritivas são aquelas que delimitam, restringem o sentido do substantivo ou pronome
a que se referem. As restritivas equivalem a adjuntos adnominais de um termo da oração
principal e não podem ser isoladas por vírgulas, porque se ligam ao antecedente sem pausa. As

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20 © Língua Portuguesa III

orações subordinadas adjetivas restritivas sempre acrescentam alguma informação ao contido


na oração principal. Elas são indispensáveis ao enunciado.
[As meninas [que cantavam no parque] eram holandesas].
No exemplo, temos duas orações:
1) As meninas eram holandesas.
2) que cantavam no parque.
I. A oração [As meninas eram holandesas] é a principal.
II. A oração subordinada adjetiva restritiva [que cantavam no parque] acrescenta uma
novidade às informações contidas na oração principal.
III. Essa oração é chamada restritiva, porque restringe o fato de "serem holandesas
somente as meninas que cantavam", não eram, pois, "todas" as meninas holandesas. A oração
subordinada adjetiva restritiva é, então, indispensável para evitar a generalização do que se
afirma na oração principal.
IV. É chamada de adjetiva, porque equivale a um adjetivo:
As meninas [que cantavam no parque] eram holandesas

oração subordinada adjetiva restritiva
O pronome relativo que equivale a “as meninas”
As meninas cantoras...

adjetivo

Orações Subordinadas Adjetivas Explicativas


II. Explicativas: as orações subordinadas adjetivas explicativas servem para esclarecer me-
lhor o sentido de um substantivo. Elas expõem mais detalhadamente uma característica geral
e própria do antecedente do pronome relativo, ou dão uma informação adicional, mas não tra-
zem novidade, não acrescentam informação ao conteúdo da oração principal. Elas equivalem a
aposto explicativo e são sempre isoladas por vírgulas ou travessões, porque, na fala, ligam-se ao
antecedente por uma pausa, indicada, na escrita, por vírgula.
As orações subordinadas adjetivas explicativas são dispensáveis, ou seja, se elas forem
suprimidas no período, a supressão não causará prejuízo à inteligibilidade.
Conceição, que era apenas simpática, ficou linda, lindíssima... (MACHADO DE ASSIS. A
missa do galo. Contos. São Paulo: Melhoramentos, 1963, p. 107, grifos nossos).
Conceição ficou linda, lindíssima...
A supressão da oração [que era apenas simpática] não causou grande alteração semântica.
Vejamos agora as orações subordinadas substantivas.

Orações Subordinadas Substantivas


As orações subordinadas substantivas equivalem a substantivo e têm as mesmas funções
sintáticas dele. Elas são classificadas de acordo com a função exercida em relação ao verbo da
oração principal. Assim sendo, não são separadas por vírgulas.
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

Elas são introduzidas por:


a) conjunções subordinativas integrantes: que, se;
b) pronomes indefinidos: quem, quanto;
c) pronomes interrogativos: que, qual, quem, quanto;
d) advérbio de intensidade: quão;
e) advérbios interrogativos: onde (de lugar), quando (de tempo), como (de modo), por
que (de causa).

Orações Subordinadas Substantivas Subjetivas


As orações subordinadas substantivas subjetivas vêm, geralmente, pospostas à oração
principal.
Vejamos suas estruturas.
1. verbo de ligação + predicativo (substantivo ou adjetivo) + oração subordinada
substantiva subjetiva:
Seria conveniente que você continuasse se exercitando.
Seria conveniente a continuação de seus exercícios.
↓ ↓ ↓
verbo predicativo sujeito → equivale a você continuasse se exercitando
de ligação
2. verbo unipessoal + oração subordinada substantiva subjetiva, na 3ª pessoa do singular.
Consta que o general morreu.
[Consta] [que o general morreu].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal
Consta a morte do general.

sujeito → equivale à oração o general morreu
3. verbo na voz passiva sintética (verbo + pronome apassivador se) + oração subordinada
substantiva subjetiva:
Observe:
Comenta-se que ele abdicou a coroa.
[Comenta-se] [que ele abdicou a coroa.]
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal

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22 © Língua Portuguesa III

Em:
[...] Comentam a abdicação da coroa. (temos uma oração simples na voz ativa)
↓ ↓
sujeito objeto direto
indeterminado
Em:
Comenta-se a abdicação da coroa. (temos uma oração simples na voz passiva sintética)

sujeito → equivale à ele abdicou a coroa
II. As predicativas funcionam como predicativo do sujeito do verbo de ligação da oração
principal. Sua estrutura é:

sujeito + verbo de ligação + oração subordinada substantiva predicativa

A verdade é que ela se conformou com o divórcio.


[A verdade é] [que ela se conformou com o divórcio].
↓ ↓
oração principal oração subordinada substantiva predicativa
Transformando em oração simples, temos:
[A verdade é] [sua conformação com o divórcio].

Predicativo que equivale à oração: que ela se conformou com o divórcio.
Há gramáticos que não aceitam a existência das orações predicativas, tendo-as como
subjetivas. As orações subordinadas substantivas predicativas são, entretanto, contempladas
pela NGB.
III. As objetivas diretas funcionam como objeto direto do verbo da oração principal,
portanto, necessariamente, ele deverá ser transitivo direto.
O período tem a seguinte estrutura:
(sujeito) + verbo transitivo direto + oração subordinada substantiva objetiva direta
Eu desconheço se você colaborou.
[Eu desconheço] [se você colaborou].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva objetiva direta
principal
Transformando em oração simples, temos:
Eu desconheço a sua colaboração.
↓ ↓
verbo transitivo direto objeto direto → equivale à oração se você colaborou
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

IV. As orações objetivas indiretas funcionam como objeto indireto do verbo da oração
principal.
O período tem a seguinte estrutura:

(sujeito) + verbo transitivo indireto + preposição + oração subordinada substantiva


objetiva indireta

Lembro-me de que você estava bonita no baile.


[Lembro-me] [de que você estava bonita no baile].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva objetiva indireta
principal
Transformando em oração simples, temos:
Lembro-me de sua beleza no baile.

objeto indireto → equivale à oração de que você estava bonita.
V. As completivas nominais funcionam como complemento nominal de um termo da
oração principal. Completam: substantivo abstrato, adjetivo, advérbio.
Normalmente, as completivas nominais vêm regidas de preposição, mas elas podem ser
omitidas.
Eis sua estrutura:

(sujeito) + verbo + termo transitivo + preposição + oração subordinada substantiva


completiva nominal

Carlos tem necessidade de que o aceitem como membro do grupo.


Carlos tem necessidade de que o aceitem como membro do grupo.
↓ ↓
substantivo abstrato oração subord. substant. completiva nominal
preposição
Carlos tem necessidade de sua aceitação como membro do grupo.

complemento nominal de necessidade
VI. As orações subordinadas substantivas apositivas têm a função de explicar, resumir,
identificar, desenvolver um termo da oração anterior. Não importa a função sintática exercida
por esse termo.
Via de regra, a oração subordinada substantiva apositiva vem após dois pontos;
raramente, entre vírgulas.
A estrutura do período é a seguinte:

oração principal: + oração subordinada substantiva apositiva

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24 © Língua Portuguesa III

Ele tinha uma grande esperança: que a esposa voltasse.


[Ele tinha uma grande esperança:] [que a esposa voltasse.]
↓ ↓
oração principal oração subordinada substantiva apositiva
Ele tinha uma grande esperança: a volta da esposa.

aposto → que a esposa voltasse
VII. As orações subordinadas substantivas agentivas não são contempladas pela NGB.
Elas funcionam como agente da passiva e são introduzidas por pronomes indefinidos – ou
interrogativos precedidos pela preposição por ou de. O verbo da oração principal deve estar na
voz passiva. Veja uma oração simples com agente da passiva.
Esta pessoa é muito amada por quem?
Esta pessoa é muito amada por quem?
↓ ↓
sujeito paciente agente da passiva
Observe, agora, um exemplo de oração agentiva em um período composto.
Maria é querida por quantos a conhecem.

[Maria é querida] [por quantos a conhecem].



oração subordinada substantiva agentiva
Transformando em um período simples, temos:
Maria é querida por todos seus conhecidos.

agente da passiva

Esperamos que esta etapa de Língua Portuguesa venha enriquecer seus conhecimentos
linguísticos. E não se esqueça de que o estudo de análise sintática não tem objetivo em si mes-
mo, mas, sim, aplicado ao texto como instrumento para interpretação e produção.

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápida e precisa das definições con-
ceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados em Língua Portuguesa III. Veja, a seguir, a definição de seus
principais conceitos:
1) Aditiva: provém de adicionar, que se acrescenta, junta, soma.
2) Adversativa: oposta, adversa.
3) Alternativa: opção entre duas (ou mais) coisas.
4) Assíndeto: ausência de conjunção.
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

5) Causativo: causal; causador; elemento linguístico que exprime uma relação causal;
factitivo, elemento causativo [Em português, exprimem uma ação causativa verbos
como mandar, deixar, fazer: João mandou fechar a porta; Oriana deixou que Percival
falasse] (Novo Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa. Século XXI).
Comecei a pensar no pior => comecei a pensar = perífrase.
6) Conclusiva: que contém conclusão, decisão, resolução.
7) Copulativa: que serve para ligar.
8) Deverbal: formado com o radical de verbo transitivo.
9) Disjuntiva: proposição alternativa (de disjungir: desligar, desunir).
10) Entimema: também chamado de epiquerema, corresponde ao silogismo imperfeito
ou silogismo retórico. Uma das premissas não é expressa, só há antecedente e conse-
quente.
Esse objeto direto é uma oração e a conjunção que a introduz (que) é integrante. Ela
introduz a oração que completa a principal.
eu = sujeito de “saber”
Exemplificando: o verbo “saber”, para ser semanticamente completo, deve constituir
uma oração com sujeito e objeto direto (alguém sabe alguma coisa).
Fomos seguindo o mapa => fomos seguindo = perífrase.
11) Equipolente: que tem o mesmo valor, equivalente.
12) Integrante: conjunção que integra, que introduz uma oração que faz parte da oração
principal. Integrante é a conjunção introdutora de uma oração que completa, que tor-
na inteira a oração principal.
13) Locução conjuncional corresponde a mais de uma palavra com valor de uma conjun-
ção. Quando a locução conjuncional está no plural, a crase é obrigatória, no singular,
não há crase, salvo em caso de ambiguidade.
14) Locuções verbais: formas compostas de ser, estar, ter e haver + particípio. Uma locu-
ção verbal equivale a um verbo simples.
15) Orações interferentes ou intercaladas são as que aparecem em um período como
observação, ressalva, esclarecimento, opinião etc. Não exercem função de principal,
nem de subordinada. Elas podem vir depois de dois-pontos e, quando no meio de
outra frase, entre vírgulas ou travessões.
16) Perífrases: combinações de verbos, com ou sem preposição, entre as combinações
que constituem locuções verbais.
17) Pronomes oblíquos átonos enclíticos o, a, os, as assumem as formas lo, la, los, las
com verbos terminados em r, s ou z e estes perdem a última letra: fê-los, enganá-la,
qui-lo, perdê-lo, vejamo-las. Assumem as formas no, na, nos, nas com os verbos ter-
minados em m, õe e estes não sofrem nenhuma perda: quiseram-no, põe-nas, amam-
-na.
18) Sensitivo: (...)1 Pertencente ou relativo aos sentidos ou à sensação. 2 Que tem a facul-
dade de sentir (...) (MICHAELIS, 2012).
19) Silogismo: tipo de dedução formal em que há duas proposições ou premissas, delas,
por inferência, podemos chegar a uma conclusão (ou a uma terceira premissa).
20) Síndeto: (do grego syndeton) presença de conjunção coordenativa. Var. síndeton.
21) Verbo unipessoal: que se usa, normalmente, na terceira pessoa.
22) Voz: a forma que o verbo toma para indicar se o sujeito pratica ou recebe a ação.

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apre-
sentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que

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26 © Língua Portuguesa III

você mesmo faça o seu esquema dos conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse
exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a
partir de suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar,
de maneira gráfica, as relações entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos
mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na se-
quenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organiza-
ção das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu
conhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos significativos no
seu processo de ensino e aprendizagem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem escolar (tais como planejamentos
de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se,
ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que a apren-
dizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva
do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de
ancoragem. 
Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, apenas, realizar acréscimos na es-
trutura cognitiva do aluno; é preciso, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se con-
figure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante considerar as entradas de
conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os
novos conceitos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar
esses conceitos nas suas já existentes estruturas cognitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da cons-
trução do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações
internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua
aprendizagem, transformando o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou
seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia
parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.
br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
© Caderno de Referência de Conteúdo 27

Texto

Período simples Período composto

frase nominal
frase verbal =
oração

coordenação subordinação

Elementos
constituintes da
oração assindética sindética
adverbiais

Termos - sujeito
essenciais - predicado - aditiva - causal
- adversativa - condicional
- alternativa - concessiva
nominais
- conclusiva - conformativa
Termos complementos
- explicativa - comparativa
integrantes verbais - consecutiva
agente da
- final
passiva
- temporal
- objeto direto - proporcional
- objeto indireto - modal
- adverbial - locativa
Termos - adjunto adnominal
acessórios - adjunto adverbial
substantivas
- aposto
- vocativo
adjetivas
- subjetiva
- predicativa
- objetiva direta - explicativa
- objetiva indireta - restritiva
- completiva nominal
- apositiva
- agentiva

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Língua Portuguesa III.

Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma
visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar en-
tre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendi-
zagem. Por exemplo, de um texto, podemos analisar as funções dos elementos constituintes de
uma oração, mas, geralmente, as orações do texto são agrupadas em períodos. O relacionamen-
to das orações no período composto pode ser por coordenação ou subordinação. Dentro do
período, as orações também exercem funções de acordo com o sentido que produzem no texto.

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28 © Língua Portuguesa III

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se


somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem
como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no
polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu
próprio conhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os con-
teúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha ou abertas com respostas objetivas
ou dissertativas. Vale ressaltar que se entendem as respostas objetivas como as que se referem
aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a prática do
ensino da Língua Portuguesa pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,
mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você
testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabarito, que lhe permitirá conferir
as suas respostas sobre as questões autoavaliativas (as de múltipla escolha e as abertas objeti-
vas).

As questões dissertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado. Por
isso, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu
tutor ou com seus colegas de turma.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só
a ela. Consulte, também, as bibliografias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte integrante dos conteúdos, ou seja,
elas não são meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos estudados, pois relacio-
nar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida você a olhar, de forma mais
apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você
se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de co-
municação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com
outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece,
aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma
capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade EaD e futuro profissional da
educação, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus cole-
gas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipula-
das.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de
Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de
produções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Co-
teje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às
videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são im-
portantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram
significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses pro-
cedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é parti-
cipar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

5. E-REFERÊNCIA
MICHAELIS. Moderno dicionário da língua portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.
php?lingua=portugues-portugues&palavra=sensitivo>. Acesso em: 5 jul. 2012.

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EAD
Classificação dos
Elementos Constituintes
da Oração
1

1. OBJETIVOS
• Adquirir embasamentos teóricos sobre frase, oração e período.
• Distinguir os elementos essenciais, integrantes e acessórios da frase.
• Identificar a função sintática dos elementos constituintes da oração.
• Aplicar a teoria à prática de produção e interpretação de textos.

2. CONTEÚDOS
• Conceito de frase, oração e período.
• Função sintática dos termos essenciais, integrantes e acessórios da oração.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciarmos o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a
seguir:
1) Consulte, sempre que necessário, o Glossário. Procure fazer suas ligações ao Esquema
de Conceitos-chave. Esse procedimento é válido para o estudo de todas as unidades
deste CRC, porque lhe será útil para a assimilação do que lhe for exposto, assim como
o ajudará em seu desempenho.
2) A leitura dos livros constantes na bibliografia ampliará os horizontes de seus conheci-
mentos. Confronte-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e
com o tutor.
32 © Língua Portuguesa III

3) Antes de iniciarmos os estudos desta unidade, pode ser interessante conhecer um


pouco da biografia dos linguistas, cujos pensamentos norteiam o estudo desta unida-
de. Para saber mais, acesse os sites indicados.
Celso Pedro Luft
Celso Pedro Luft (Poço das Antas, 28 de maio de 1921 – Porto Alegre, 4 de dezembro de
1995) foi um professor, gramático, filólogo, lingüista e dicionarista brasileiro.
[...]
Era formado em Letras Clássicas e Vernáculas pela PUC-RS e fez curso de especialização
em Portugal. Foi professor na UFRGS e na Faculdade Porto-Alegrense de Ciências e Letras.
Em 1954, Celso foi para a França, para fazer um curso de reciclagem profissional. Entre 1955
e 1956, realizou cursos ao lado de Lindley Cintra, em Lisboa, e curso de especialização em
filologia portuguesa e linguística, na Universidade de Coimbra. Em 1957 retornou ao Brasil.
[...]
De 1970 a 1984, manteve uma coluna diária no jornal Correio do Povo, chamada Mundo das palavras, sobre questões
de linguagem. No ano seguinte, publicou Língua e Liberdade.
[...]

É autor de obras largamente usadas no ensino fundamental e ensino médio.


Obras:
• Gramática resumida
• Moderna gramática brasileira
• Dicionário gramatical da língua portuguesa
• Novo manual de português
• Minidicionário Luft
• Dicionário prático de regência verbal
• Dicionário prático de regência nominal
• Dicionário de literatura portuguesa e brasileira
• Dicionário brasileiro
• Dicionário de sinônimos e antônimos
• Língua e liberdade.
• O romance das palavras
• Grande manual globo de ortografia
(texto disponível em: <http://saber.sapo.ao/wiki/Celso_Pedro_Luft>. Acesso em: 18 jan. 2011).

Domingos Paschoal Cegalla


[...]
Cegalla nasceu [...] no [...] distrito de Tijucas, a cerca de 50 quilômetros de Florianópolis. [...]
formou-se em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras [...]
[...] deu aulas de português no Colégio Marista do Carmo, perto da Av. Rangel Pestana, até
1952. [...]. No Colégio Rio de Janeiro, em Ipanema, ensinou latim e português a turmas do
ginásio. No Santo Inácio, em Botafogo, foi mestre de português e também de literatura, com
um diferencial: passou a usar a si mesmo nas aulas. Explica-se. Angustiado com o material
didático disponível na época, limitado e sem ilustrações, recheado de textos arcaicos e
enfadonhos, Cegalla organizou as anotações feitas durante anos em cadernos de brochura
até chegar à Novíssima Gramática da Língua Portuguêsa, que levava circunflexo na época. Era já uma gramática
normativa, publicada pela Companhia Editora Nacional e abonada por trechos de obras de autores modernos, como
Drummond, Cecília Meireles e Luís Jardim. [...]
O sucesso da obra foi tamanho que o professor repousou o giz na lousa após 35 anos de magistério para se dedicar
exclusivamente aos pedidos da editora. Além da Novíssima, em sua 47ª edição, assina a Nova Minigramática, o
Dicionário Escolar, dois livros de poesia (Canção de Eurídice e Um Brado no Deserto), o Dicionário de Dificuldades
(Lexicon Editora) e traduções de Édipo Rei e Antígona diretamente do grego, essa última, premiada com o Jabuti [...].
[...]
fonte:http://www.estadao.com.br/suplementos
(texto e imagem disponíveis em: <http://htpctextos.spaces.live.com/?_c11_BlogPart_pagedir=Next&_c11_BlogPart_
handle=cns!A094E0F60C5A92B9!199&_c11_BlogPart_BlogPart=blogview&_c=BlogPart>. Acesso em: 18 jan. 2011).
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 33

Mário Alberto Perini


Mário Alberto Perini é graduado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais
(1967), fez o doutorado na University of Texas (1974). Atualmente é professor voluntário da
Universidade Federal de Minas Gerais, tendo sido professor na UFMG, na PUC-Minas, na
UNICAMP e nas universidades de Illinois e Mississípi. Atua na subárea de teoria e análise
linguística, com concentração em português brasileiro falado, sintaxe, ensino de português
e gramática de construções. Além destes Estudos de gramática descritiva – as valências
verbais, é autor, na Parábola Editorial, das seguintes obras: A língua do Brasil amanhã e
outros mistérios (2008.3), Princípios de linguística descritiva (2007.2) e Estudos de gramática
descritiva (2008).
(texto e imagem disponíveis em: <http://portalentretextos.com.br/etc/gramatica-do-portugues-
brasileiro-de-mario-perini,20.html>. Acesso em: 18 jan. 2011).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade, identificaremos, classificaremos e analisaremos os termos constituintes
do período simples, segundo a teoria gramatical tradicional. Antes, porém, consideramos rele-
vante vermos a diferença entre frase, oração e período.

5. FRASE
Frase é um termo mais geral, mais abrangente. É qualquer comunicação linguística.
Observe os exemplos.
a) Ponto de ônibus.
b) Silêncio!
c) Chove.
d) É proibido fumar.
e) O sol levanta-se no horizonte, enquanto o gado retorna ao curral.
Reservemos esses exemplos, pois voltaremos a eles.
Continuando a exposição sobre frase.

Classificação das frases


A frase pode ser nominal ou verbal.
A frase nominal não contém verbo, como os exemplos a e b supracitados.
A frase verbal é a que possui um verbo, ou um predicado, como podemos constatar nos
exemplos c, d e e.
Quanto ao sentido, as frases podem ser: declarativas ou enunciativas.

Declarativas
As frases declarativas são as que declaram alguma coisa sobre os seres, quando informam
sobre um acontecimento ou situação.
Veja.
a) Os cães uivavam.
b) Ao chegar, vi o cão morto.
Esse tipo de frase é comum em notícias, como o exemplo que apresentaremos a seguir.
Gostaríamos que você observasse o que dissemos na definição de frases declarativas ou
enunciativas: informam sobre um acontecimento ou situação.

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34 © Língua Portuguesa III

Verifique o que dissemos no exemplo seguinte.


Os principais formuladores do Plano de Estabilização Econômica estiveram reunidos ontem, em São
Paulo, na residência do presidente do Banco Central, para um balanço da primeira semana da nova
política econômica. O problema de abastecimento de mercadorias foi um dos principais temas do en-
contro. Eles analisaram também as alterações a serem introduzidas no novo texto do decreto-lei do
choque, que deverá ser divulgado amanhã, e os vários tópicos que deverão entrar em sua regulamen-
tação (Folha de São Paulo, 9 mar. 86, p. 1).

Você percebeu como as frases informam sobre um acontecimento ou situação?

Interrogativas
As frases interrogativas são as que formulam uma pergunta direta ou indireta.
Exemplificando.
a) O que gostarias de me esclarecer? (direta)
b) Perguntei-te o que gostarias de me esclarecer. (indireta)
Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?
E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?
Que vale o pensamento humano
esforçado e vencido, na turbulência das horas?
Que valem a conversa apenas murmurada,
a erma ternura, os delicados adeuses?
Que valem as pálpebras da tímida esperança,
orvalhadas de trêmulo sal? [...]” (MEIRELES, 2011a).
c) “Donde vem? onde vai? Das naus errantes 
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?"(CASTRO ALVES, 2011a).
Na frase interrogativa direta, o locutor “pergunta” diretamente ao interlocutor. Na indire-
ta, alguém diz o que outra pessoa perguntou, ou faz a pergunta com auxílio de verbos: querer
saber, perguntar, dizer etc.; o ponto de interrogação não é usado.
Exemplos:
a) Quero saber como é feito este tapete.
b) Perguntei quando chegou a casa ontem.
c) Diga-me quem quebrou o vaso.
d) Lucas quer saber se você poderá estudar com ele.

Imperativas
As imperativas são frases que formulam ordem, pedido, conselho, exortação, hipótese.
Encerram, também, apelo e proibição.
Observe.
a) "Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! (CASTRO ALVES, 2011a).
b)
Senhor Deus dos desgraçados!
 Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 35

,Ó mar, por que não apagas


Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
(CASTRO ALVES, 2011a, grifos nossos).
c) “Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!” (CASTRO ALVES, 2011a, grifos nossos).

Exclamativas
As exclamativas são fases que denotam espanto, surpresa, admiração.
Veja.
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa! (CASTRO ALVES, 2011a, grifos nossos).

Passemos à observação das interrogativas, exclamativas e imperativas de forma contex-


tualizada.
Leia o texto seguinte e procure percebê-las. Procure, principalmente, distinguir as orações
exclamativas das imperativas. Aproveite a oportunidade e localize, também, as frases enunciati-
vas.
Quando Lisetta subiu no bonde (o condutor ajudou) viu o urso. Felpudo, felpudo. E amarelo. Tão engra-
çadinho.
Dona Mariana sentou-se, colocou a fl­lha em pé diante dela.
Lisetta começou a namorar o bicho. Pôs o pirulito de abacaxi na boca. Pôs mas não chupou. Olhava o
urso. O urso não ligava. Seus olhinhos de vidro não diziam absolutamente nada. No colo da menina de
pulseira de ouro e meias de seda parecia um urso importante e feliz.
– Olhe o ursinho, que lindo, mamãe!
– Stai zitta!1
A menina rica viu o enlevo e a inveja da Lisetta. E deu de brincar com o urso. Mexeu-lhe com o toquinho
do rabo: e a cabeça do bicho virou para a esquerda, depois para a direita, olhou para cima, depois para
baixo. Lisetta acompanhava cada manobra. Sorrindo fascinada. E com um ardor nos olhos! O pirulito
perdeu definitivamente to­da a importância.
Agora são as pernas que sobem e descem, cumprimentam, se cruzam, batem umas nas outras.
– As patas também mexem, mamãe. Olha lá!
– Stai ferma!2
Lisetta sentia um desejo louco de tocar no ursinho. Jeitosamente procurou alcançá-lo. A menina rica
percebeu, encarou a coitada com raiva, fez uma careta horrível e apertou contra o peito o bichinho que
custa­ra cinquenta mil-réis na Casa São Nicolau.
– Deixa pegar um pouquinho, um pouquinho só nele. Deixa?
– Ah!
– Scusi³, senhora. Desculpe por favor. A senhora sabe, essas crianças são muito levadas. Scusi. Desculpe.
A mãe da menina rica não respondeu. Ajeitou o chapeuzinho da filha, sorriu para o bicho, fez uma carí-
cia na cabeça dele, abriu a bolsa e olhou o espelho.
Dona Mariana, escarlate de vergonha, ouvido da filha:
– Em casa me lo pagherai!4
E pespegou por conta um beliscão no bracinho magro. Um beliscão daqueles.

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36 © Língua Portuguesa III

Lisetta então perdeu toda a compostura de uma vez. Chorou. Soluçou. Chorou. Soluçou. Falando sem-
pre.
– Hã! Hã! Hã! Hã Eu que...ro o ur...so! O ur...so! Ai, mamãe! Ai, mamãe! Eu que...ro o...o...o...Hã! Hã!
– Stai ferma o ti amazzo, parola d’o­nore!5
– Um pou...qui...nho só! Hã! E...hã! E...hã! Um pou...qui...
– Senti, Lisefta. Non ti porterò più in città! Mai più!6
Um escândalo. E logo no banco da frente. O bonde inteiro testemunhou o feio que Lisetta fez.
O urso recomeçou a mexer com a cabeça. Da esquerda para a direita, para cima e para baixo.
– Non piangere più adesso !7
Impossível.
O urso lá se fora nos braços da dona. E a dona só de má, antes de entrar no palacete estilo empreiteiro
português, voltou-se e agitou no ar o bichinho. Para Lisetta ver. E Lisetta viu!
Dem-dem! O bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros, deslizou, rolou, seguiu. Dem-dem!
– Olha à direita!
Lisetta como compensação quis sentar-se no banco. Dona Mariana (havia pago uma passagem só)
opôs-se com energia e outro beliscão.
A entrada de Lisetta em casa marcou época na história dramática da família Garbone.
Logo na porta um safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor. Intervalo de dois minutos. Foi então a
vez das chineladas. Para remate. Que não acabava mais.
O resto da gurizada (narizes escorrendo, pernas arranhadas, suspensórios de barbante) reunido na sala
de jantar sapeava de longe.
Mas o Ugo chegou da oficina.
– Você assim machuca a menina, ma­mãe! Coitadinha dela!
Também Lisetta não aguentava mais.
– Toma pra você. Mas não escache.
Lisetta deu um pulo de contente. Pequerrucho. Pequerrucho e de lata. Do tamanho de um passarinho.
Mas urso.
Os irmãos chegaram-se para admirar. O Pasqualino quis logo pegar no bichinho. Quis mesmo tomá-lo à
força. Lisetta berrou co­mo uma desesperada:
– Ele é meu! O Ugo que me deu!
– Correu para o quarto. Fechou-se por dentro.
(MACHADO in FIORIN; PLATÃO, 1996, p. 276-277).
Observações––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1- Stai zitta!: Cala-te!
2- Stai ferma!: Fica quieta!, Sossega!
3- Scusi: Desculpa-me.
4- ln casa me lo pagheraí!: Em casa, tu me pagarás!
5- Sta! ferma o ti amazzo, parola d’onore!: Fica quieta ou te estrangulo, palavra de honra!
6- Senti, Lisetta. Non ti porterò più in città! Mai più!: Presta atenção, Lisetta, não te trarei mais à cidade! Nunca mais!
7- Non piangere piú adesso!: Não chores mais agora!
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

O espaço que temos não é suficiente para todas as frases do texto. Daremos alguns exem-
plos, para que você possa constatar se foi bem-sucedido em sua reflexão.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 37

Quadro 1 Classificação de algumas orações do texto exemplificado.


ENUNCIATIVAS INTERROGATIVAS EXCLAMATIVAS IMPERATIVAS
Quando Lisetta subiu – Deixa pegar um – Em casa me lo pagherai! – Olhe o ursinho, que lindo,
no bonde (o condutor pouquinho, um pouquinho mamãe!
ajudou) viu o urso. Felpudo, só nele. Deixa? – Hã! Hã! Hã! Hã Eu que...
felpudo. E amarelo. Tão ro o ur...so! O ur...so! Ai, – Stai zitta!
engraçadinho. mamãe! Ai, mamãe! Eu
que...ro o...o...o...Hã! Hã! – Stai ferma o ti amazzo,
Dona Mariana sentou-se, parola d’o­nore!
colocou a filha em pé diante – […] Non ti porterò più in
città! Mai più! – Olha à direita!
dela.

Lisetta começou a namorar E Lisetta viu!


o bicho. Pôs o pirulito de
Dem-dem!
abacaxi na boca. Pôs mas
não chupou. Olhava o urso. – Você assim machuca a
O urso não ligava. Seus menina, ma­mãe! Coitadinha
olhinhos de vidro não diziam dela!
absolutamente nada. No
colo da menina de pulseira – Ele é meu! O Ugo que me
de ouro e meias de seda deu!
parecia um urso importante
e feliz.

Podemos ir adiante, cremos.

Frase ativa
Trata-se da frase na qual o sujeito “pratica a ação”. O verbo está na voz ativa.

Observação:
Voz é a forma que o verbo toma para indicar se o sujeito pratica ou recebe a ação.

Exemplo.
O menino quebrou o vaso.
A frase está na voz ativa.

Frase passiva
Na frase passiva, o sujeito sofre a ação.
Ilustrando.
O vaso foi quebrado pelo menino.
Nesse exemplo, temos a voz passiva, o sujeito (o vaso) sofre as consequências da ação
praticada pelo agente da passiva (menino).

6. ORAÇÃO
A frase verbal, também chamada oração, pode ser bimembre, marcada pelo sujeito e pre-
dicado, ou pode ser constituída tão somente de um predicado. Seja como for, o que a caracteriza
é a presença do predicado ou do verbo, como podemos observar nos exemplos seguintes.

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38 © Língua Portuguesa III

Exemplos.
a) Eu o vi há cinco anos.
[Eu o vi] [há cinco anos].

sujeito predicado frase constituída somente de predicado (oração sem sujeito)

frase bimembre
b) Não é fácil a vida de estudante.
Não é fácil a vida de estudante.

predicado sujeito

frase bimembre
Temos vários tipos de oração.
Observe.
1) Absoluta: é a oração do período simples. ("A entrada de Lisetta em casa marcou época
na história dramática da família Garbone.")
2) Coordenada: é a oração que mantém com outra uma relação sintática de independên-
cia. ("A menina rica percebeu, encarou a coitada com raiva, fez uma careta horrível
e apertou contra o peito o bichinho que custa­ra cinquenta mil-réis na Casa São Nico-
lau.")
3) Subordinada: é a oração que depende, sintaticamente, de outra. ("O bonde inteiro
testemunhou o feio que Lisetta fez.”)
4) Principal: é a oração da qual a subordinada depende. ("O bonde inteiro testemunhou
o feio que Lisetta fez.”)
5) Intercalada: é oração independente e de cunho esclarecedor. (O Barão – Deus o tenha
– foi um homem honrado.)
Passemos ao estudo de período.

7. PERÍODO
Período é o enunciado de sentido completo, construído com uma ou mais orações.
O período pode ser simples ou composto.

Período simples
Período simples é o formado por uma oração.
a) O canto do galo chega-me aos ouvidos.
b) Márcia surgiu no lado de lá da rua.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 39

Período composto
O período composto é formado por mais de uma oração.
a) O sol levanta-se no horizonte, enquanto o gado retorna ao curral.
O sol levanta-se no horizonte, [enquanto o gado retorna ao curral].
1 2
Período com duas orações.

b) A viagem foi cansativa, mas as crianças não se queixaram.


A viagem foi cansativa, [mas as crianças não se queixaram].
1 2
Período com duas orações.

c) A mãe tricotava, a criança brincava e o avô fumava cachimbo.


A mãe tricotava, [a criança brincava] [e o avô fumava cachimbo].
1 2 3
Período com três orações.

d) "Se não mente a crônica, tinha naqueles tempos afonsinhos o gênio trêfego, e um
sestro de intrometer-se com as cousas da governança para não deixar que os oficiais
d’El-Rei lhe tosquiassem muito cerce o pêlo e a bolsa" (ALENCAR, 2011).
[“Se não mente a crônica,] [tinha naqueles tempos afonsinhos o gênio trêfego,]
1 2
[e um sestro de intrometer-se com as cousas da governança] [para não deixar]
3 4
[que os oficiais d’El-Rei lhe tosquiassem muito cerce o pêlo e a bolsa”].
5
Período com cinco orações.
No período composto, as orações podem ser coordenadas, subordinadas, ou coordenadas
e subordinadas, simultaneamente. Deixaremos de comentar agora, porque isso é assunto que
veremos em outras unidades.
Passemos ao estudo das funções sintáticas dos termos constituintes da oração segundo a
teoria gramatical tradicional.

8. TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO


Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado.
Vejamos algumas definições desses termos.
1) Sujeito:
“Sujeito é o termo com o qual o verbo concorda” (PERINI, 1985, p. 17).
“O sujeito se define, pois, como ‘o termo da oração que está em concordância com o NdP’
– núcleo do predicado” (PERINI, 1989, p. 73).

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40 © Língua Portuguesa III

“Chama-se sujeito à unidade ou sintagma nominal que estabelece uma relação predicativa
com o núcleo verbal para constituir uma oração” (BECHARA, 2006, p. 409).
2) Por sua vez, predicado é
[...] “o que se declara na oração, ordinariamente em referência ao sujeito” (BECHARA,
1970, p. 246).
[...] “aquilo que se afirma do sujeito” (LUFT, 1986, p. 29).
[...] “tudo aquilo que se diz do sujeito” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 119).
[...] “tudo aquilo que se atribui ao sujeito” (SACCONI, 1994, p. 296).
[...] “aquilo que se declara a respeito do sujeito; em termos práticos, equivale a tudo o
que resta na oração, depois de eliminado o sujeito (e o vocativo, quando ocorrer)” (PASQUALE;
ULISSES, 2004, p. 340).
Se você observar bem, todas as definições referem-se ao sujeito, mas nem sempre há
sujeito na oração.
Exemplifiquemos, para uma elucidação melhor.
Pedro arrendou sua fazenda.
No exemplo, “arrendou sua fazenda” é o predicado, pois é o que se declara do sujeito -
Pedro.
Pedro arrendou a fazenda.
↓ ↓
sujeito predicado
Por outro lado, em uma oração com verbo impessoal, não há sujeito.
Observe.
Há muitas pessoas na sala.
Nessa oração, não existe sujeito, assim, só há o predicado, que é o enunciado de um fato
em si mesmo.
(?) Há muitas pessoas na sala.
↓ ↓
não há sujeito enunciado de um fato em si mesmo.

Sujeito
Segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), há sujeito:
• simples: o que tem apenas um núcleo;
• composto: o que tem dois ou mais núcleos;
• indeterminado: o que não pode ser identificado precisamente.
Há oração que é “destituída de sujeito: com ela, referimo-nos ao processo verbal em si
mesmo, sem atribuirmos a nenhum ser.” (ROCHA LIMA, 1982, p. 206).
Oportunamente, veremos a classificação do sujeito com mais detalhes.
Continuemos.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 41

Núcleo do sujeito
O núcleo do sujeito pode ser constituído por:
1) pronome pessoal, quando se tratar de primeira ou segunda pessoa do discurso.
Exemplos:
a) Eu comprei os acessórios do computador.
b) Tu compraste os acessórios do computador?

2) Quando se tratar de terceira pessoa do discurso:


a) substantivo: O tijolo caiu na cabeça do menino.
b) pronome: Ela era linda. / Ninguém gostou da ideia.
palavra substantivada: “Terrível palavra é um non”. [...] E se um Não é tão duro
para quem o ouve [...]” (VIEIRA, 2011).
c) oração subordinada: Só não sente [quem não tem coração].

Observação:
Palavra preposicionada não pode ser núcleo de sujeito.

Classificação do sujeito
Há vários tipos de sujeito. Vejamo-los.
1) Simples: é o que tem um só núcleo.
a) Paulo correu muito.
b) Ninguém viu o acidente.
c) O viver é difícil

2) Composto: é o que tem mais de um núcleo.


a) Você e eu somos amigos.
b) “O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa” (CASTELO BRANCO,
2011, grifos nossos).

3) Oculto (elíptico ou desinencial).


Esta classificação não é reconhecida pela NGB, mas o é por gramáticos como Cunha e
Cintra (1985, p. 124):
É aquele que não está materialmente expresso na oração, mas pode ser identificado. A identificação
faz-se:
a) pela desinência verbal:
Ficamos um bocado sem falar. (L. B. Honwana, NMCT, 10.)
(...)
b) pela presença do sujeito em outra oração do mesmo período ou período contíguo:
Soropita ali viera, na véspera, lá dormira; e agora retorva a casa (ROSA, CB, II, 467).

4) Indeterminado é o sujeito que não pode ser identificado.


O sujeito indeterminado pode aparecer de duas maneiras:
• com o verbo (ou auxiliar) na terceira pessoa do plural:
a) Quebraram as lâmpadas da praça.
b) Vão solucionar logo esse problema do sistema.

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42 © Língua Portuguesa III

• com verbo na terceira pessoa do singular + “se”. O verbo deve ser intransitivo, transitivo
indireto ou transitivo com objeto direto preposicionado:
a) Não se progride sem esforço. (o "se" é um índice, sinal, indicador da indetermina-
ção do sujeito)
b) Precisa-se de empregados. (precisar → verbo transitivo indireto)
c) Vive-se bem aqui. (viver → verbo intransitivo)
d) Admira-se a Carlos Drummond de Andrade. (admirar → verbo transitivo direto / a
Carlos Drummond de Andrade → objeto direto preposicionado)

5) Oração sem sujeito


O enunciado concentra-se no predicado e o verbo é impessoal (não se refere a nenhuma
pessoa gramatical).
Nesse caso, os verbos constituintes do predicado podem ser:
• verbos que indicam fenômenos da natureza.
Amanhece mais cedo no verão.

Observação:
Às vezes, esses verbos podem ser personalizados: O dia amanheceu chuvoso.

• verbo haver com a mesma acepção de "existir".


Houve tumulto na saída do espetáculo.
Camara Jr. (1979, p. 248-250) ensina-nos o que segue:
Outro padrão impessoal se desenvolveu em português, como em outras línguas românicas, com o
verbo haver. A forma ver­bal em 3.a pessoa tem para complementos um nome de lugar regido de
proposição (ou um advérbio) e outro nome, que é objeto direto e com que o verbo não concorda
portanto; ex.: Na África há leões – No Brasil já houve numerosas populações in­dígenas – e assim por
diante, com qualquer tempo verbal. Basta o “erro” (que é uma tendência popular) a fazer o ver-
bo concordar com o segundo substantivo, para fazer desse substantivo um sujeito e criar o mesmo
padrão frasal que se encontra com o verbo existir (No Brasil haviam – como existiam – numero­sas
populações indígenas)
A origem da frase impessoal de haver está numa transposi­ção do padrão pessoal latino em que um
nome de lugar era su­jeito de habere no sentido de “ter”. A mudança consistiu em fazer desse nome
um complemento circunstancial de lugar subordinando-o à preposição in, port. em; por exemplo: “in
arca Noe habuit homines”, em vez de – arca Noe habuit homines (cf. Bourciez, 1930, 252). A mesma
transformação processou-se no português do Brasil com o verbo ter em modelo equivalente: de uma
frase – A África tem leões surge o padrão impessoal – Na África tem leões, e assim por diante.
É ainda a falta de concordância do verbo na 3.a pessoa, com qualquer nome substantivo que cria a
impessoalidade, ou au­sência de sujeito, na perífrase verbo-pronominal (...).
Essa impessoalidade é o recurso da língua para estender a norma verbo-pronominal aos verbos in-
transitivos com o fim de “indicar uma atividade em desdobramento, sem ponto de partida determi-
nado” (cf. § 6, VIII): combateu-se, vive-se, falava-se. Aí, entretanto, não é propriamente a invariabili-
dade em número do verbo, mas a inexistência de um nome substantivo a que possa caber a função
de sujeito, o que estabelece o padrão frasal im­pessoal. Com efeito, tal substantivo falta quando o
verbo é “in-transitivo absoluto”, e, quando ele é “intransitivo relativo”, (com objeto “indireto”) o
substantivo continua regido de preposição, o que o exclui da função de sujeito.
Um esquema igual aparece com os verbos “transitivos”, quan­do se adota o objeto com a regência da
preposição o, o que é encontradiço na língua literária; haja vista o exemplo já muito citado de Antônio
de Castilho – “a Bernardes admira-se e ama-se” (cf. Camara, 1964, B, 47).
Fora da tradição da língua literária, chega-se ao mesmo re­sultado com a invariabilidade do verbo
transitivo em número. A concordância do verbo com o substantivo que o complementa na perífrase
verbo-pronominal (como a disciplina gramatical recomenda) faz desse substantivo um sujeito e cria
assim uma equi­valência entre a perífrase verbo-pronominal e a perífrase verbal “’passiva”: aqui se
vendem relógios – aqui relógios são vendidos. Já a falta de concordância, da língua popular, assinala
a ausência de sujeito: aqui se vende relógios.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 43

Observações:
a) “Houveram coisas terríveis" (CASTELO BRANCO, 2012).
Há autores que julgam este caso pessoal, não é, entretanto, o que pensa Cegalla:
Em vários livros, um escritor como Camilo Castelo Branco pluralizou o verbo haver impessoal e, antes
dele, outros portugueses perpetraram o solecismo. Essa espécie de tiririca, portanto, não é erva nativa
do Brasil. Tem raízes antigas (CEGALLA, 2011).
a) O pronome pessoal só é usado em forma de o(s), a(s), como objeto direto:
“Há moções japonesas. Quando as houver chinesas, chegou o fim do mundo”
(MACHADO DE ASSIS, 2011a, grifo nosso).

• verbos que indicam tempo - decorrido, por decorrer ou clima -, como andar, fazer, ir,
haver, ser:
a) Faz dez anos que não o vejo.
b) Vai por mais de cinco anos que comprei minha casa.
c) Era de madrugada, quando ele chegou.
d) É quente na África.
e) Em certas orações de conjugação pronominal impessoal:
“Trata-se de relações entre duas ou mais pes­soas” (TRIPICCHIO, 2012, grifos nossos).

Observações
a) Rocha Lima (1982, p. 207) professa que:
[...] a impessoalidade de tais verbos estende-se aos auxiliares que com eles formam perífrases, como
se vê nos exemplos abaixo:
Não podia haver notícias mais tristes.
Costuma haver reuniões às terças-feiras.
Vai fazer cinco anos que você se casou.
b) Segundo Luft (1969, p. 131), “Eram dez horas. São vinte dias... [são] casos de concor-
dância por atração."
c) O termo sujeito inexistente não é contemplado pela NGB.
d) Declaração de vontade, verbos de intenção (pretender, premeditar), geralmente, têm
como sujeito oração infinitiva.
Observe os exemplos.
• Premedita-se [violar as normas constitucionais].
Premedita-se → oração principal (O verbo fica no singular, porque seu sujeito é uma
oração.)
[violar as normas constitucionais] → oração reduzida de infinitivo subordinada subs-
tantiva subjetiva.
• Deseja-se revogar as leis.

e) Pronomes oblíquos podem ser sujeitos de infinitivo.


• Este acontecimento me fez ver a realidade. (Este acontecimento fez com que eu visse
a realidade).
• Deixe-o aproveitar a vida.
o → sujeito do verbo aproveitar (Deixe que ele aproveite a vida).

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44 © Língua Portuguesa III

Sujeito oracional
Uma oração pode ser sujeito de outra. É a oração subordinada substantiva subjetiva que
desempenha a função sintática de sujeito.
Ela será vista mais adiante, quando estivermos estudando a classificação das orações
subordinadas substantivas. Deixaremos de vê-las agora, para que nossa exposição não se torne
repetitiva. Entretanto, nada obsta que você antecipe e conheça-a agora.
Paremos com a teoria, para que você possa avaliar o quanto aprendeu.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Resolva os exercícios extraídos de vestibulares e, depois, confira sua resposta.
1) (UFMG) Em todas as alternativas, o termo grifado exerce a função de sujeito, exceto em:
a) Quem sabe de que será capaz a mulher de seu sobrinho?
b) Raramente se entrevê o céu nesse aglomerado de edifícios.
c) Amanheceu um dia lindo, e por isso todos correram às piscinas.
d) Era somente uma velha, jogada num catre preto de solteiros.
e) É preciso que haja muita compreensão para com os amigos.
2) (EPCAR) O “se” é índice de indeterminação do sujeito na frase:
a) Não se ouvia o sino.
b) Assiste-se a espetáculos degradantes.
c) Alguém se arrogava o direito de gritar.
d) Perdeu-se um cão de estimação.
e) Não mais se falsificará tua assinatura.
3) (MACK) Na oração “Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento dos Romanos”, a classificação
do sujeito é:
a) oculto
b) inexistente
c) simples
d) composto
e) indeterminado
4) (FMU) “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante...”
O sujeito desta afirmação com que se inicia o Hino Nacional é:
a) indeterminado
b) um povo heróico
c) as margens plácidas do Ipiranga
d) do Ipiranga
e) o brado retumbante
Confira suas respostas.
1) D

2) B

3) C

4) C
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Se você acertou tudo, parabéns! Caso não tenha sido feliz nas respostas, você deverá
retornar à teoria e procurar entender o que não acertou.
Passemos adiante.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 45

Predicado
Normalmente, define-se predicado como o que se declara, afirma, diz do sujeito ou a ele
atribui.
Isso já foi visto e exemplificado. Se você for o tipo de estudante que aceita tudo, deve ter
ficado satisfeito. Entretanto, desejamos que você aceite o que lhe convenceu, mas que tenha
refletido, isto é, que seja um leitor crítico.
Para sua reflexão sobre a definição de que predicado é o que se declara, afirma [...] do
sujeito, tomemos o exemplo:
Quem morreu?
Na oração, podemos perceber que nada se “declara” ou “afirma” do sujeito, além do mais,
é uma oração interrogativa.
Passaremos ao estudo do predicado e esperamos que, depois, você mesmo possa defini-
-lo. Deve, também, pesquisar e analisar definições de vários autores.
O núcleo do predicado é o verbo, exceto verbo de ligação. Nesse caso, o predicado tem
como núcleo o nome (predicativo).

Classificação
Antes de vermos a classificação dos predicados, é melhor que tenhamos noção do que é
predicação verbal.
Predicação verbal corresponde à conexão entre sujeito e verbo e entre verbo e seus
complementos.
Quanto à predicação, os verbos classificam-se em: intransitivos, transitivos (diretos,
indiretos, diretos e indiretos, adverbiais) e de ligação. A predicação depende, pois, do tipo da
frase.
verbo intransitivo → não exige complementos
direto → exige objeto direto
Predicação verbal indireto → pede objeto indireto
(quanto aos verbo transitivo   direto e deve ter objeto direto
verbos e seus indireto e
complementos) objeto indireto
adverbial *→ requer complemento adverbial

de ligação → predicativo

* Não é contemplado pela NGB


Passemos aos tipos de predicado.
Há três tipos de predicado:
• verbal é o que tem verbo nocional, isto é, o verbo não é de ligação;
• o nominal tem verbo de ligação;
• verbo-nominal é a fusão dos dois descritos anteriormente.

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46 © Língua Portuguesa III

Estudemos cada um deles.


1) Predicado verbal:
Predicado verbal é o que apresenta como núcleo um verbo – ou locução verbal - de
significação. São verbos de significação ou nocionais: intransitivos, transitivos diretos, transitivos
indiretos, transitivos diretos e indiretos, transitivos adverbiais.
Vejamos cada um desses verbos.
• Verbos intransitivos são os semanticamente completos, não necessitam de comple-
mentos para a representação predicativa. São habitualmente intransitivos os verbos
que denotam fenômenos da natureza ou acidentais: chover, ventar, morrer, acontecer,
ocorrer, cair, brilhar, girar etc.
a) Nevou em Santa Catarina.
b) O bebê acordou.

Atenção!
Como já foi mencionado, é possível o emprego figurado desses verbos: “Deus choverá bênçãos sobre
este casal.”
Deus → sujeito
bênçãos → objeto direto

• certos verbos de ação, que exprimem fatos causados por um ser capaz de executá-los,
um agente: ler, brincar, trabalhar, correr, voar etc.
a) Eu leio muito.
b) Os cavalos galopam.
c) Os prisioneiros fugiram.
• verbos de movimento ou situação: seguir, estar, ficar etc.
a) Os meninos seguiram pela alameda.
b) A canoa virou.
c) O teto rachou.

Atenção!
A um verbo intransitivo pode ser anexado um predicativo, que exprime estado ou condição do sujeito:

Luciano entrou apressado.


Luciano entrou (e estava) apressado.

Quando isso acontece, pode-se dizer que o verbo intransitivo faz, simultaneamente, as vezes de liga-
ção, sem, contudo, perder seu valor nocional. (Veja predicado verbo-nominal).

• Verbos transitivos são os que exigem complementos.


I) Transitivos diretos requerem objeto direto.
Paulo quebrou a cadeira.
Analisemos o exemplo, segundo as características do verbo quebrar, que é transitivo
direto.
a) exprime ação, possui agente, que é o sujeito na voz ativa. (Paulo);
b) o objeto direto é seu paciente. (a cadeira);
c) admite voz passiva. (A cadeira foi quebrada por Paulo).
• Verbos transitivos indiretos são os que requerem um nome ou pronome substantivo
como complemento (objeto indireto), complemento este sempre regido de preposição.
a) Escrevi a meus pais.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 47

b) Penso muito em ti.


c) Discordava de tudo.
• Verbos transitivos diretos e indiretos requerem objeto direto e objeto indireto, sendo
que o último complemento, quando substantivo, vem regido de preposição a (mais
raramente para) e designa o ser a quem a ação beneficia ou prejudica.
Deu tudo aos pobres.
tudo → objeto direto
aos pobres → objeto indireto
• Verbos transitivos adverbiais são os de movimento ou situação (chegar, ir, voltar, partir,
seguir, vir, morar, comportar-se etc.). Estes verbos requerem:
a) complemento adverbial de lugar;
b) complemento adverbial de modo.
Exemplos:
a) Ela ia à igreja. (complemento adverbial de lugar)
b) Resido em Ribeirão Preto. (complemento adverbial de lugar)
c) O presidente voltou da África. (complemento adverbial de lugar)
d) Carlos comportou-se mal na reunião. (complemento adverbial de modo)
Se você teve uma formação da teoria gramatical segundo ditames da NGB, pode estar
considerando estranho o que temos falado sobre verbo transitivo adverbial. Veja, pois, o que diz
Bechara (1970, p. 256):
Poder-se-ia ainda acrescentar a classe dos verbos transitivos adverbiais que pedem como complemento
uma expressão adverbial como: Irei à cidade ou voltei do trabalho. A NGB não agasalhou, entretanto,
este tipo de complemento, considerando-o [...] mero adjunto adverbial.

Voltaremos ao assunto quando tratarmos de adjuntos adverbiais.

QUESTÕES AUTOAVALIAVAS––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nós já tivemos a oportunidade de fazer exercícios sobre verbos, mas consideramos
interessante que você faça mais alguns.
1) (UCMG) A classificação dos verbos sublinhados, quanto à predicação, foi feita corretamente em:
a) “Não nos olhou o rosto. A vergonha foi enorme.” - transitivo direto e indireto
b) “Procura insistentemente perturbar-me a memória.” - transitivo direto
c) “Fiquei, durante as férias, no sítio de meus avós.” - de ligação
d) “Para conseguir o prêmio, Mário reconheceu-nos imediatamente.” - transitivo indireto
e) “Ela nos encontrará, portanto é só fazer o pedido.” - transitivo indireto
2) (MACK) Em: “E quando o brotinho lhe telefonou, dias depois, comunicando que estudava o modernismo, e
dentro do modernismo sua obra, para que o professor lhe sugerira contato pessoal com o autor, ficou assanha-
díssimo e paternal a um tempo”, os verbos assinalados são, respectivamente:
a) transitivo direto, transitivo indireto, de ligação, transitivo direto e indireto
b) transitivo direto e indireto, transitivo direto, transitivo indireto, de ligação
c) transitivo indireto, transitivo direto e indireto, transitivo direto, de ligação
d) transitivo indireto, transitivo direto, transitivo direto e indireto, de ligação
e) transitivo indireto, transitivo direto e indireto, de ligação, transitivo direto
3) (PUC) Em: “... principiou a segunda volta do terço.”; “Carrocinhas de padeiro derrapavam nos paralelepípedos.”;
“Passavam cestas para o Largo do Arouche.”; “Garoava na madrugada roxa.” Os verbos são, respectivamente:
a) transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto, intransitivo
b) intransitivo, transitivo indireto, transitivo direto, intransitivo
c) transitivo direto, intransitivo, transitivo direto, intransitivo
d) transitivo direto, intransitivo, intransitivo, intransitivo-impessoal
e) transitivo indireto, intransitivo, transitivo indireto, transitivo indireto
     

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48 © Língua Portuguesa III

Veja se acertou tudo.


1) B

2) D

3) C
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Passemos ao estudo do predicado nominal.

2) Predicado nominal:
O predicado nominal é constituído por um verbo de ligação + predicativo.
O verbo de ligação serve para apresentar do sujeito um estado, qualidade, aparência ex-
terior, maneira de ser. O que é informado do sujeito está contido em seu núcleo, que pode vir
expresso por nome (adjetivo, locução adjetiva, substantivo, ou equivalente), pronome, numeral,
que se denomina predicativo.
Observe a exemplificação seguinte.
• Adjetivo ou locução adjetiva:
a) Celina parece triste.
b) A panela está com ferrugem. (enferrujada) O ar está com poluição (poluído)
c) Os cabelos são em caracol. (encaracolados) O tecido é de viés (enviesado)
• Substantivo:
Luís é dentista.
• Palavra substantivada:
“Vai redonda e alta a lua. Que dor é um mim um amor?” (PESSOA, 2011a, grifos nossos).
• Pronome:
“Talvez nós não sejamos nós” (MEIRELES, 2011b, grifo nosso).
“Tudo isto é nada” (PESSOA, 2011b, grifo nosso).
• Numeral:
Todos são um.
• Oração substantiva predicativa:
O difícil será [terminar a tarefa no prazo estipulado].
• Prep. de + substantivo ou pronome:
a) Madalena é das nossas (Madalena é das nossas amigas).
b) O chapéu é de palha.
O que o verbo de ligação apresenta do sujeito pode ser:
I) permanente:
a) Este homem é trabalhador.
b) João vive preocupado.
II) passageiro:
a) A cidade está deserta.
b) Maria anda triste.
III) mudança de estado:
a) O menino tornou-se médico.
b) O tronco virou canoa.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 49

IV) continuidade de estado:


a) O povo continuou inconformado.
b) Nós permanecemos calados.
V) aparência:
a) O vendedor parecia cansado.
b) O chapéu aparentava sujo.
VI) maneira de ser:
a) O ônibus é particular.
b) A gramática é latina.

Observações:

a) Há verbos que se empregam ora como verbos de ligação, ora como significativos.

Observe a exemplificação.

a.1) Ando cansado. / Andei vários quilômetro a pé.


↓ ↓
verbo de ligação verbo nocional ou significativo

a.2) Fiquei ruborizado. / Fiquei na rua até tarde da noite.


↓ ↓
verbo de ligação verbo nocional ou significativo

a.3) A crisálida virou borboleta. / A canoa virou na curva do rio.


↓ ↓
verbo de ligação verbo nocional ou significativo

b) O pronome o, quando funciona como predicativo, é demonstrativo.

Eu não sou o que pareço ser.

Passemos a outro tipo de predicado.

3) Predicado verbo-nominal
O predicado verbo-nominal possui dois núcleos significativos: um verbo e um nome
predicativo.
Veja.
a) “Virgília entrou risonha e sossegada” (ASSIS, 2011b, grifos nossos).
Virgília entrou [(e estava) risonha e sossegada].
↓ ↓
pred. verbal predicado nominal

risonha e sossegada → predicativo do sujeito (Virgília)

b) “A ignorância faz os brutos impecáveis” (CORREIOS, 2012, grifo nosso).


A ignorância faz os brutos (tornarem) impecáveis.
impecáveis → predicativo do objeto direto (os brutos).
Para entender melhor, precisamos dominar o conhecimento de predicativo. Antes, porém,
de passarmos a seu estudo, faça os dois exercícios sobre predicado.

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50 © Língua Portuguesa III

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1) (CESGRANRIO) Assinale a frase cujo predicado é verbo-nominal:
a) “Que segredos, amiga minha, também são gente...”
a) “... eles não se vexam dos cabelos brancos...”
b) “... boa vontade, curiosidade, chama-lhe o que quiseres...”
c) “Fiquemos com este outro verbo.”
d) “... o assunto não teria nobreza nem interesse...”
2) (MACK) Em “O hotel virou catacumba”:
a) o predicado é nominal
e) o predicado é verbo-nominal
f) o predicado é verbal
g) o verbo é transitivo direto
h) estão corretas c e d
Confira suas respostas.
1) C

2) A
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Predicativo
Predicativo é o núcleo de um predicado nominal ou elemento nominal de um predicado
verbo-nominal. O predicativo pode ser do sujeito ou do objeto.
Observe a exemplificação que segue.
1) Predicativo do sujeito em:
I) predicado nominal:
O professor estava aborrecido.
o professor → sujeito
aborrecido → predicativo do sujeito (o professor)
II) predicado verbo-nominal:
a) O trem chegou atrasado.
O trem chegou (e estava) atrasado.
o trem → sujeito
atrasado → predicativo do sujeito ele (trem)
b) “Vai redonda e alta a lua. Que dor é um mim um amor?” (PESSOA, 2011a,
grifos nossos).
III) Predicativo do objeto só aparece no predicado verbo-nominal.
“Um rei fraco faz fraca a forte gente” (CAMÕES, 2011a, grifo nosso).
Um rei fraco faz a forte gente (tornar) fraca.
a forte gente → objeto direto de “fazer”.
fraca → predicativo do objeto direto (“a forte gente”).
IV) O verbo chamar apresenta predicativo do objeto indireto.
“A Pedro chamou- lhe Cristo ‘Cephas’, pedra” (VIEIRA, 2011a, grifos nossos).

Observação:

O predicativo pode vir precedido de preposição (de, em, por, como, na conta de).

a) Chamaram-lhe de tolo.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 51

b) Transformaram-no em palhaço.

c) Ele foi tomado por bandido.

d) A Europa consagrou como instituição fundamental a Monarquia.

e) Sempre o tiveram na conta de sábio.

f) Acusaram de culpado o pobre rapaz.

Podemos esquematizar o predicado verbo-nominal e predicativo.


1) Verbo intransitivo    (a)
ou
transitivo direto ou  (b) + predicativo do sujeito
indireto    (c)
+ verbo de ligação (subentendido)

2) Voz passiva analítica (d)


ou + predicativo do sujeito
* voz passiva sintética (e)

3) Verbo transitivo direto (f)


ou + predicativo do objeto direto (f) ou indireto (g)
** indireto (g)

* Não existe em gramáticas.

** As gramáticas dizem que só existe com o verbo chamar.


Exemplificação correspondente ao quadro.
a) Suave e silente surgiu a lua no firmamento.
surgir → verbo intransitivo.
b) Eu, já velha, reencontrei-o.
reencontrar → verbo transitivo direto.
c) Nós sempre confiantes aspiramos a este cargo.
aspirar → verbo transitivo indireto.
d) O homem furioso mandava todos pro diabo.
mandar → verbo transitivo direto e indireto.
e) O réu foi julgado culpado.
foi julgado → verbo transitivo direto na voz passiva analítica.
f) Ninguém tinha sido considerado capaz disso.
tinha sido considerado → verbo transitivo direto na voz passiva analítica.
g) Julgou-se o réu culpado.
julgar → verbo transitivo direto na voz passiva sintética.
h) A educação torna-o humano.
tornar → verbo transitivo direto.
i) Faze feliz [quem tu amas].
fazer → verbo transitivo direto;

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52 © Língua Portuguesa III

feliz → predicativo do objeto direto (oracional);


[quem tu amas] → oração subordinada substantiva objetiva direta (objeto direto pre-
posicionado).
j) Preciso do ladrão vivo.
precisar → verbo transitivo indireto.
k) Chamei-lhe de idiota.
chamar → verbo transitivo indireto (neste exemplo, porque chamar também pode ser
transitivo direto e pronominal);
lhe → objeto indireto;
de idiota = predicativo do objeto indireto.
Esperamos que você tenha entendido bem o que vimos até aqui, contudo, consideramos
relevante que você verifique se precisa, ou não, rever alguns tópicos. Para tanto, faça os exercícios
seguintes e confira as respostas.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1) (UFGO) “O corpo, a alma do carpinteiro não podem ser mais brutos do que a madeira.”
A função sintática dos termos sublinhados é, pela ordem:
a) objeto direto - predicativo do sujeito
b) sujeito - sujeito
c) predicativo do sujeito - sujeito
d) objeto direto - predicativo do sujeito
e) predicativo do sujeito - predicativo do sujeito
2) (FGV) Aponte a correta análise do termo destacado: “Ao fundo, as pedrinhas claras pareciam tesouros
abandonados.”
a) predicativo do sujeito
b) adjunto adnominal
c) objeto direto
d) complemento nominal
e) predicativo do objeto direto
3) Classifique os termos grifados.
a) Ofereço-lhes flores, agora, vermelhas.
b) Todos somos considerados irmãos.
c) Considera-se esse problema insolúvel.
d) Penso em ti risonha e tranquila a meu lado.
e) Eu, náufrago das ilusões, considero-me derrotado.
f) As fisionomias respiram aliviadas.
g) A defesa foi julgada legítima.
h) Julgo Pedro orgulhoso.
i) As estrelas estão cintilantes.
j) Creio em Deus sempre presente.
Confira suas respostas.
1) C

2) A

3) a) oferecer → verbo transitivo direto e indireto


vermelhas → predicativo do objeto direto (flores)
b) somos considerados → considerar: verbo transitivo direto na voz passiva analítica
irmãos → predicativo do sujeito (todos ‘nós’)
c) considera(-se) → considerar: verbo transitivo direto na voz passiva sintética
insolúvel → predicativo do sujeito (esse problema)
d) pensar → verbo transitivo indireto
risonha / tranquila → predicativo do objeto indireto (em ti)
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 53

e) considerar → verbo transitivo direto


derrotado → predicativo do objeto direto (me)
f) respirar → verbo transitivo indireto (no caso em exame)
aliviadas → predicativo do sujeito (as fisionomias)
g) foi julgada → julgar: verbo transitivo direto na voz passiva analítica
legítima → predicativo do sujeito (a defesa)
h) julgar → verbo transitivo direto
orgulhoso → predicativo do objeto direto (Pedro)
i) estar → verbo de ligação
cintilantes → predicativo do sujeito (as estrelas)
i) crer → verbo transitivo indireto
j) presente → predicativo do objeto indireto (Deus)
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Desejamos que tenha acertado tudo, mas, se não acertou, não se preocupe por enquanto.
Tudo ficará mais fácil, quando você já tiver estudado os termos integrantes da oração. Depois,
você poderá refazer os exercícios e elevar o número de acertos.

9. TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO


Os termos integrantes da oração tornam inteiros, cabais, completos o núcleo do sujeito
(nome) e o núcleo do predicado (verbo). São os seguintes:

nominais
complementos
objeto direto
verbais objeto indireto
adverbial

agente da passiva
Comecemos pelo complemento nominal.

Complemento nominal
É o complemento preposicionado que completa o sentido de substantivo, adjetivo e
advérbio de base nominal (nunca de verbo). Em geral, os nomes que pedem complemento
nominal são deverbais, isto é, formados com o radical de verbos transitivos.
Observe os complementos nas orações seguintes.
a) Sinto saudades de você.
saudades → substantivo;
de você → complemento nominal.
b) A cesta está repleta de flores.
repleta → adjetivo;
de flores → complemento nominal.
c) O hospital fica longe de casa.
longe → advérbio;
de casa → complemento nominal.
Atente-se à exemplificação de nomes deverbais.
• busca do pitoresco (complemento nominal)   → buscar o pitoresco (objeto direto);
• referente a este fato (complemento nominal)  → referir(-se) a este fato (objeto indire-
to);

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54 © Língua Portuguesa III

• respeito aos diretos (complemento nominal)   → respeitar os direitos (objeto direto).


Há, entretanto, nomes transitivos (pedem complemento) que não são deverbais.
Exemplos:
a) Patrícia tem medo de baratas.
b) Ele estava consciente do perigo.
c) Carlos está apto para (a) jogar.
O complemento nominal pode ser constituído por substantivo, pronome, numeral, palavra
ou expressão substantivada e oração substantiva completiva nominal.
Observe a exemplificação.
I) substantivo:
a) “Fiquei ansioso pelo sábado” (ASSIS, 2011c, grifos nossos).
sábado → substantivo.
b) Há pessoas que têm mais amor à arte que (amor) à vida.
arte / vida → substantivos.

II) pronome:
a) Mário tem confiança em você.
você → pronome.
b) “Creio que chorava a princípio: tinha nojo de si mesma” (ASSIS, 2011b, grifos nos-
sos).
si → pronome;
mesma → pronome.

III) Numeral:
O relator negou provimento a ambos.
ambos → numeral.

IV) Palavra ou expressão substantivada:


a) João duvida do sim que lhe foi dado.
sim → palavra substantivada.
b) “A certeza do hoje nasce da lembrança do ontem” (BILAC, 2011, grifos nossos).
hoje → palavra substantivada.

V) Oração substantiva completiva nominal:


a) Marta sentiu vontade de comer pêssegos.
[comer pêssegos] → oração substantiva completiva nominal.
b) Tomei consciência de que não era bom jogador.
[que não era bom jogador] → oração substantiva completiva nominal.
O complemento nominal pode vir com as seguintes preposições:
1) a → obediência ao regulamento;
2) com → magoado com ela;
3) contra → rebelião contra o sistema;
4) de → amor de mãe;
5) em → confiança em nós;
6) para → útil para pesquisas;
7) per → luta pela liberdade.
Passemos ao estudo dos complementos do verbo.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 55

Objeto direto
Objeto direto é o complemento dos verbos transitivos diretos e não é ligado ao verbo por
preposição obrigatória. O objeto direto pode ser substituído por pronome pessoal oblíquo (o, a,
os etc.) ou por pronome demonstrativo (o = isso, aquilo).
Exemplificando:
a) Não faça coisa errada.

objeto direto
Não faça o quê?
R.: coisa errada → objeto direto

b) Não faça isso.



objeto direto

c) Os pais compreendem a filha.



objeto direto

d) Os pais compreendem-na.

objeto direto

e) Não comprei o que você queria.



objeto direto (o = aquilo)

O objeto direto pode ser expresso na oração por:

I) substantivo (ou palavra substantivada):


Comprei um carro.

objeto direto

Marilda esperava um sim.

objeto direto

II) pronome pessoal oblíquo átono:


Viste-o.

objeto direto
III) pronome pessoal oblíquo tônico regido de preposição a (no caso, objeto direto pre-
posicionado):

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56 © Língua Portuguesa III

Paulo a ela pretendia como esposa.



objeto direto

IV) qualquer pronome substantivo:


Quem demitiste?

objeto direto

V) oração substantiva:
Quero [que voltes logo].

objeto direto (oração subordinada substantiva objetiva direta)

O objeto direto pode indicar:


• conteúdo da ação: Laura escreveu um livro.
• em quem recai a ação verbal: O gato arranhou o cachorro.
• produto da ação: Sarita tricotou uma blusa.
• a quem se dirige um sentimento:
a) Cachorro odeia gatos.
b) Admira-se a Guimarães Rosa (no caso, objeto direto preposicionado).
• com verbo de movimento, o espaço percorrido, ou o objetivo final, ou o tempo decor-
rido:
a) O navio cruzou o Atlântico.
b) Jandira subiu o morro a pé.
c) Viver a vida.
d) Esperei o dia inteiro.

Objeto direto preposicionado


O objeto direto preposicionado, via de regra, é complemento de verbos que exprimem
sentimento. As preposições mais comumente nele encontradas são a e de.
Podem ser constituídos de:
a) nomes próprios:
Amar a Deus.

b) nomes que indicam pessoas:


Estimo a meu irmão.

c) numeral “ambos”:
Encontrei a ambos ontem.

d) pronome pessoal reto e oblíquo tônico:


• Ofendemos a ele.
• Nós procuramos a ti.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 57

Observação:
Consideramos os dois pronomes dos exemplos oblíquos, por serem objetivos e não subjetivos. O
pronome pessoal reto desempenha a função sintática de sujeito, o que não acontece no exemplo “a”.

e) pronome de tratamento:
Muito admiramos a V. Sa.

f) outros pronomes (demonstrativo, indefinido, interrogativo):


• Reconheci a todos.
• Encontre Maria, a quem estimamos.
• A quem preferiram?

g) verbos arrancar, puxar, sacar:


• Arrancar da espada.
• Puxar do revolver.
• Sacar da arma.

h) substantivo com ideia de partitivo:


Sandra comeu do bolo.

i) para evitar ambiguidade:


Ao coelho matou o leão.

j) expressões um (uns) ao(s) outros(s).


Cumprimentaram uns aos outros.

k) verbo transitivo direto usado impessoalmente, acompanhado da partícula se:


Aos pais amam-se muito (para evitar confusão com o se expressando ideia de recipro-
cidade: Amam-se os pais muito → um ao outro).

l) quando pronome átono e substantivo são coordenados:


O ministro a aguardava e aos seus acompanhantes.

m) objeto direto antecipado na oração:


A você não vi no cinema.

n) oração subordinada substantiva preposicionada iniciada pelo pronome quem:


“Não me tenha amor ninguém
Para obrigar meu querer
que aborreço [a quem me quer]” (RODRIGUES LOBO, 2011, grifos nossos).

Observação:
O objeto indireto é preposicionado, mas o verbo transitivo indireto não aceita voz passiva, enquanto o
transitivo direto, sim, mesmo que seu complemento seja preposicionado.

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58 © Língua Portuguesa III

Compare os exemplos.
a) João confia em Maria.
• em Maria → objeto indireto;
• Se tentar uma voz passiva, a frase torna-se agramatical:
• (?) Maria é confiada por João.
b) Amamos a Deus.
• a Deus → objeto direto preposicionado;
• Nesse caso, não há problema de agramaticalidade:
• Deus é amado por nós.

Objeto direto pleonástico


É usado para realce, ênfase, reforço. Essa reiteração (pleonasmo) pode ocorrer em qual-
quer função sintática.
Veja exemplos de objeto direto pleonástico.
a) Beleza, eu já a tive.
Beleza e a equivalem-se semântica e sintaticamente → objeto direto

b) Habituada já aos rumores da camarata, a mulher do médico estranhou o silêncio, um silêncio que pare-
cia estar a ocupar o espaço de uma ausência, como se a luminosidade, toda ela, tivesse desaparecido,
deixando apenas um soldado a guardá-la, a ela e a um resto de homens e de mulheres que a não po-
diam ver (SARAMAGO, 2004, p. 154, grifos nossos).

Objeto direto interno


Objeto direto interno, também chamado cognato, é o complemento que tem o mesmo
valor semântico do verbo – geralmente, o verbo é usado como intransitivo. Em outras palavras,
o complemento repete a ideia que o verbo contém.
Exemplos:
a) Comer comida gostosa.
b) “Morrerá morte infame de peão criminoso!" (HERCULANO, 2011, grifo nosso).
c) Voar um voo tranquilo.
O objeto direto interno pode ter radical diferente do verbo, mas deve pertencer ao mesmo
campo semântico.
a) “Dormir o sono dos justos.”
b) “Chorar lágrimas de crocodilo.”

Objeto direto reflexivo


O objeto direto é constituído por pronome reflexivo. O sujeito pratica e recebe a ação por
ele praticada.
a) Eu me penteio.
b) Maria se matou.

Objeto direto recíproco


Quando o sujeito é constituído por mais de uma pessoa, as quais praticam e recebem, ao
mesmo tempo, a ação, temos um objeto direto recíproco.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 59

Exemplificando:
a) Nós nos ferimos, ao disputarmos a final do campeonato. (eu o feri e ele me feriu).
b) Eles se abraçaram (mais de uma pessoa praticou a ação de abraçar e recebeu abraço).

Observação:
Precisamos ficar atentos ao analisar “o que (quê)”.

I) O “o” é eufônico nas interrogações, portanto não tem função sintática.


a) Você fez o quê?
• o → expletivo;
• que → pronome indefinido interrogativo, objeto direto.

b) “Mas o que é o tempo, que eu o aproveite” (CAMPOS, 2011, grifos nossos).


• o → expletivo;
• que → pronome indefinido interrogativo predicativo do sujeito “o tempo”

II) Em,
a) Não ouvi o que você disse,
• o → pronome substantivo demonstrativo e objeto direto de “ouvi”;
• que → pronome relativo, conectivo e objeto direto de “disse”.

b) “Eu não sei onde estou nem o que sonho” (PESSOA, 2011c, grifos nossos).
• Eu não sei [onde estou] nem (sei) o [que sonho];
• o → pronome substantivo demonstrativo e objeto direto de “sei” (elíptico);
• que → pronome relativo, conectivo e objeto direto de “sonho”.

c) “Sabe acaso alguém o que é certo ou justo?” (PESSOA, 2011d, grifos nossos).
• Sabe acaso alguém o [que é certo ou justo?];
• o → pronome substantivo demonstrativo e objeto direto de “sabe”;
• que → pronome relativo, conectivo e sujeito de “é”.

Objeto indireto
Objeto indireto é o complemento preposicionado de verbos transitivos indiretos e transiti-
vos diretos e indiretos. As principais preposições que o adjungem ao verbo são: a, para, de, com,
em etc. A preposição não aparece, quando o objeto indireto é pronome pessoal átono (Isso me
agrada → Isso agrada a mim).
A maioria dos objetos indiretos pode ser substituída por lhe(s); alguns, por preposição +
ele(a/s). Rocha Lima (1982, p. 221) chama a esses últimos de “complemento relativo”.
a) Emprestei o carro a Pedro → Emprestei-lhe o carro.
b) Gosto de Maria → Gosto dela (de + ela).
O objeto indireto pode expressar:
• o ser para o qual se dirige a ação:
Referimos aos alunos presentes.
• a quem se destina o objeto direto:

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60 © Língua Portuguesa III

Entreguei o livro à bibliotecária.


• o ser em benefício ou prejuízo de quem se realiza a ação:
Falou carinhosamente a todos.
• em quem se manifesta a ação:
Acidentes acontecem aos incautos.
• o ser que faz referência especial o conjunto de verbo de ligação + predicativo:
a) Tudo lhe era novidade.
b) “Flores me são teus lábios" (ASSIS, 2011d, grifo nosso).
• o possuidor de alguma coisa:
Beijou as mãos à dama.
• como expletivo, refere-se a quem é interessado na ação do verbo. É também chamado
de objeto indireto de interesse.
• Não me rasgue esse livro.
O objeto indireto pode ser representado na frase por:
1) preposição + substantivo ou pronome substantivo:
a) Gosto de música.
b) Gosto dele.

2) pronome pessoal oblíquo:


a) Dar-te-ei um presente.
b) Disse-lhe a verdade.

3) pronome indefinido e interrogativo:


a) A quem entregaram as flores?
b) Ele não se interessa por nada.

4) pronome relativo:
a) O quadro a que me referi é de Portinari.

5) palavra substantivada:
a) Dependemos de um sim.
b) Ah, como esta hora é velha!...E todas as naus partiram!
Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam
Do Longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram
Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...
(PESSOA, 2011e, grifos nossos).

6) numeral:
"Rubião gostava de ambos, mas diferentemente; não era só a idade que o ligava mais ao Freitas, era
também a índole deste homem” (ASSIS, 2011e, grifos nossos).
7) oração subordinada substantiva objetiva indireta:
Opuseram-se [a que abandonassem o cavalo].

Observação:
O núcleo do objeto direto e do objeto indireto é sempre constituído por um substantivo ou palavra
equivalente a substantivo.

Vejamos os tipos de objeto indireto.


© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 61

Objeto indireto pleonástico


O objeto indireto pleonástico é usado para dar mais expressividade, ênfase. Pode ser
expresso por pronome ou por substantivo:
a) Ao rapaz, já lhe dei as informações.
b) “Quem me dera a mim sabê-lo” (SARAMAGO, 2004, p. 70).
c) “Diga-mo a mim” (SARAMAGO, 2004, p. 43).

Objeto indireto de interesse


É o que se refere a quem é interessado na ação ou processo verbal:
a) Não me coma esse doce.
b) Detenham-me este homem.

Objeto indireto reflexivo


O objeto indireto reflexivo é constituído por um pronome reflexivo:
a) Eu me basto.
b) Ele se deu ares de soberbo.

Objeto indireto recíproco


É representado na oração por pronome reflexivo recíproco:
Os dois voltaram-se as costas.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Veja como está seu aprendizado resolvendo os exercícios.
1) (PUC) “O homem está imerso num mundo ao qual percebe ...” A expressão grifada é:
a) objeto direto preposicionado
b) objeto indireto
c) adjunto adverbial
d) agente da passiva
e) adjunto adnominal
2) (PUC) Em: “Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda”, as expressões sublinhadas são:
a) complemento nominal - objeto direto
b) predicativo do objeto - objeto direto
c) objeto indireto - complemento nominal
d) objeto indireto - objeto indireto
e) complemento nominal - objeto direto preposicionado
3) (FUVEST) No texto: “Acho-me tranquilo - sem desejos, sem esperanças. Não me preocupa o futuro”, os termos
destacados são, respectivamente:
a) predicativo, objeto direto, sujeito
b) predicativo, sujeito, objeto direto
c) adjunto adnominal, objeto direto, objeto indireto
d) predicativo, objeto direto, objeto indireto
e) adjunto adnominal, objeto indireto, objeto direto
4) (UF-UBERLÂNDIA) “Ele observou-a e achou aquele gesto feio, grosseiro, masculinizado.” Os termos sublinhados
são:
a) predicativos do objeto
b) predicativos do sujeito
c) adjuntos adnominais
d) objetos diretos
e) adjuntos adverbiais de modo
5) (MACK) Nas frases abaixo, o pronome oblíquo está corretamente classificado, exceto em:
a) “Fugia-lhe é certo, metia o papel no bolso ...” (objeto indireto)
b) “... ou pedir-me à noite a bênção do costume” (objeto indireto)
c) “Todas essas ações eram repulsivas: eu tolerava-as ...” (objeto direto)
d) “... que vivia mais perto de mim que ninguém” (objeto indireto)
e) “... eu jurava matá-los a ambos ...” (objeto direto)

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Confira as respostas e, se necessário, reveja a teoria do que você errou.


1) A
2) B
3) A
4) A
5) D
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Agora, veremos mais um termo integrante da oração.

Complemento adverbial
Complemento adverbial é o termo que completa a predicação de um verbo transitivo ad-
verbial.
Como dissemos alhures, os verbos transitivos adverbiais são, geralmente, de movimento
ou situação (chegar, ir, partir, seguir, vir, voltar, morar, comportar-se etc.).
O complemento adverbial é expresso por um advérbio, locução ou expressão adverbial,
oração subordinada adverbial.
Observe.
• advérbio:
Irei aí.
O verbo “ir” não tem predicação completa por si mesmo. Eis o porquê de ele ser transi-
tivo, isto é, pedir um complemento. No caso em tela, um complemento adverbial (“aí”).

• locução adverbial:
Venho de casa.
• oração subordinada adverbial:
Fique [onde está].

Agente da passiva
Para que o assunto não se torne repetitivo, deixaremos de ver, aqui, agente da passiva,
porque foi estudado, detalhadamente, em verbos. Solicitamos, pois, que volte ao material em
que tratamos de verbos e reveja vozes verbais.
Prossigamos nossos estudos com os termos acessórios da oração.

10. TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO


Cunha e Cintra (1985, p. 145) têm uma boa exposição sobre o que são termos acessórios
da oração:
Chamam-se acessórios os termos que se juntam a um nome ou a um verbo para precisar-lhes o signifi-
cado. Embora tragam um dado novo à oração, não são eles indispensáveis ao entendimento do enun-
ciado. Daí a sua denominação.
São termos acessórios: a) o adjunto adnominal; b) o adjunto adverbial; c) o aposto.

Vejamos cada um deles.


© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 63

Adjunto adnominal
A qualquer função sintática, que possa ter como núcleo um substantivo, pode juntar-se
um termo (ou uma locução) que tem valor adjetivo, que lhe delimita, qualifica ou caracteriza o
sentido geral. É o adjunto adnominal. Sua ausência não implica prejuízo lógico ou semântico à
oração.
O adjunto adnominal pode ser constituído por:
a) adjetivo: olhos negros;
b) locução adjetiva: olhos de gato;
c) artigo: os olhos;
d) pronome adjetivo:
• pronome possessivo: teus olhos;
• pronome demonstrativo: esses olhos;
• pronome indefinido: tais olhos;
• pronome interrogativo: que olhos?;
• pronome relativo (cujo e flexões): [...] olhos cuja cor apreciamos.
e) numeral adjetivo: dois olhos;
f) oração adjetiva: [...] olhos [que atraem].
Muitas vezes, há dificuldade de diferençar o complemento nominal do adjunto adnomi-
nal. Para minimizar essa dificuldade, apresentamos-lhe algumas características que podem ser
confrontadas entre eles.

1) O adjunto adnominal refere-se apenas a substantivo concreto e a substantivo abstrato.


O complemento nominal pode ser referir a substantivo abstrato, adjetivo e advérbio.
Observe.
a) José visitou a ilha da fantasia.
• ilha → substantivo concreto;
• da fantasia → adjunto adnominal.

b) Carlos ficou desconcertado com os insultos.


• desconcertado → adjetivo;
• com os insultos → complemento nominal.

2) O adjunto adnominal é “agente” de nome de ação, por sua vez, o complemento no-
minal é “paciente”.
Veja.
a) Os gestos dos transeuntes assustaram Lucas.
• gestos → substantivo abstrato;
• gestos → ação;
• transeuntes → agentes (os que praticam a ação): adjunto adnominal.
b) Houve uma manifestação pela paz.
• manifestação → substantivo abstrato;
• manifestação → ação;
• pela paz → paciente (alvo/objetivo): complemento nominal.

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64 © Língua Portuguesa III

3) Em certas orações, o adjunto adnominal pode indicar “posse”, mas o complemento


nominal nunca a indica.
a) As lágrimas da menina comoveram os passageiros.
• lágrimas → substantivo concreto;
• da menina → de quem são as lágrimas (posse): adjunto adnominal.

Vejamos o exposto em outras palavras.

1) O adjunto adnominal faz parte do “corpo” do substantivo a que rege:


• doce de leite → o leite está no “corpo” do doce;
• menina bonita → a beleza está na menina;
• copo de vinho → o vinho está dentro (no) copo;
• meu livro → a posse está contida naquele livro.

2) O complemento nominal é “independente” do termo regido, mas é “indispensável” ao


termo a que rege:
• necessidade de dinheiro → a necessidade poderia ser de outra coisa;
• responsável pelo desastre → poderia ser responsável ‘pelas vendas’, ‘pelos filhos’
etc.;
• independente de minha vontade, ou 'de você', 'da cor', 'das condições'...
Como foi dito alhures, um nome deverbal pede complementos como o verbo:
confiar em você (objeto indireto) confiança em você (complemento nominal)
conter os gastos (objeto direto) contenção de gastos (complemento nominal)
ir ao Nordeste (complemento adverbial) ida ao Nordeste (complemento nominal)

Agora, compare com este exemplo:


distribuir distribuição
↓ ↓
verbo nome
O verbo “distribuir” pede dois complementos: objeto direto e objeto indireto.

distribuir:
• alguma coisa → objeto direto;
• a alguém → objeto indireto.
João distribuiu agasalhos aos desabrigados.
↓ ↓
objeto direto objeto indireto
O nome “distribuição” pede, também, dois complementos.
A distribuição de agasalhos aos desabrigados.
A distribuição [de agasalhos] [aos desabrigados].
↓ ↓
compl. nominal compl. nominal
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 65

Para aplicação do que aprendemos, analisemos as orações que seguem.


A ciência dá ao homem uma noção pragmática do Infinito.
• A ciência → sujeito simples;
• a → adjunto adnominal;
• ciência → núcleo do sujeito;
• dá ao homem uma noção pragmática do Infinito → predicado verbal;
• dá → núcleo do predicado – verbo transitivo direto;
• ao homem → complemento verbal – objeto indireto;
• uma noção pragmática do Infinito → complemento verbal – objeto direto;
• uma → adjunto adnominal;
• noção → núcleo do objeto direto.

QUESTÃO PARA AUTOAVALIAÇÃO–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––


Tente analisar a oração e, depois, confira suas respostas.
A forma e o som são belíssimas expressões do Universo.
Agora, compare o resultado com o que você fez.
A forma e o som são belíssimas expressões do Universo.
• A forma e o som → sujeito composto;
• são belíssimas expressões do Universo → predicado nominal;
• são → verbo de ligação (ou copulativo);
• belíssimas expressões do Universo → núcleo do predicado – predicativo;
• belíssimas → adjunto adnominal;
• expressões → núcleo do predicativo;
• do Universo → complemento nominal.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Adjunto adverbial
Os adjuntos adverbiais acrescentam circunstâncias a verbos, ou intensificam a ideia neles
contida.
Eles podem ser constituídos por:
• advérbio:
Escrever-lhe-ei logo.
• locução adverbial:
Chegamos a casa de madrugada.
Quanto à classificação, o adjunto adverbial poder ser de:
1) acréscimo: Além da medalha, ganhou vários prêmios.
2) assunto: Falavam de gramática.
3) causa: Morriam à míngua.
4) companhia: Sairei contigo.
5) comparação: Ele falava como um inspirado.
6) concessão: Apesar de seus esforços não conseguia progredir.

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7) concomitância: Acordei ao barulho dos fogos.


8) condição: Sem esforços não progredirás.
9) conformidade: Pagar dízimos segundo os costumes.
10) direção: Apontar para o alto.
11) distância: A escola ficava a duzentos metros.
12) dúvida: Talvez vá.
13) exclusão: Todos assistiram ao filme menos eu.
14) favor, interesse: Daria a própria vida por ela.
15) fim: Viver para o estudo.
16) frequência: Apareço lá com regularidade.
17) instrumento:
a) Preferia pintar a óleo.
b) Cortou com o machado.
18) intensidade: Dormi pouco.
19) limite: A estrada vai até Belém.
20) lugar onde (situação): Vive no deserto.
21) lugar para onde (direção): Embarcou para a Europa.
22) lugar por onde (passagem): Voltaremos do trabalho pelo túnel.
23) matéria: Telhado feito de zinco.
24) meio: Voltei a casa de avião.
25) modo:
a) Fiquei de pé.
b) Escolhi-os a dedo.
26) negação: Não faça barulho.
27) oposição: Sua opinião vai de encontro à minha.
28) ordem: Marilene prestou o concurso e passou em segundo lugar.
29) preço:
a) Cobrava a cada fruta um real.
b) Pagou duzentos mil reais.
30) quantidade: O governo construiu casas aos milhares.
31) substituição ou troca: Deu um carro por um terreno.
32) tempo (concomitância, prazo):
a) Durante as férias li três livros.
b) Volto logo.
c) Viajarei amanhã.
Dissemos que voltaríamos a falar sobre complemento adverbial, porque devemos-lhe
uma maneira de diferençá-lo do adjunto adverbial. Bechara (1970, p. 262) ensina-nos que há
distinção dos:
[...] advérbios que funcionam como complemento dos que funcionam como adjunto, porque aqueles
são essenciais e estes são acidentais à estruturação oracional. Em Ir a São Paulo e Voltar do trabalho, as
circunstâncias adverbiais são necessárias à predicação do verbo e melhor se classificariam como com-
plementos adverbiais. E o fato mais se alicerça quando se comparam estes exemplos com A ida a São
Paulo ou A volta do trabalho, em que a São Paulo e do trabalho são complementos nominais. A NGB,
talvez presa ao sentido, não levou em conta o papel sintático das expressões adverbiais nos exemplos
aludidos. Para ele, em ambos os casos há adjuntos adverbiais.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 67

Esperamos que lhe tenha ficado clara a diferença entre complemento adverbial de adjun-
to adverbial.
Tendo terminado mais uma seção, passemos a exercícios.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1) (MACK) Na frase “Fugia-lhe, é certo, metia o papel no bolso, corria a casa, fechava-se, não abria as vidraças,
chegava a fechar os olhos”, são adjuntos adverbiais:
a) no bolso - a casa - não
b) no bolso - não
c) certo - no bolso - a casa - se - não
d) lhe - certo - no bolso - a casa - se - não
e) certo - no bolso - a casa - não - a fechar
2) (FTM-ARACAJU) Das expressões sublinhadas abaixo, com as idéias de tempo ou lugar, a única que tem a função
sintática do adjunto adverbial é:
a) “Já ouvi os poetas de Aracaju”
b) “atravessar os subúrbios escuros e sujos”
c) “passar a noite de inverno debaixo da ponte”
d) “Queria agora caminhar com os ladrões pela noite”
e) “sentindo no coração as pancadas dos pés das mulheres da noite”
3) (FMU) Observe os termos sublinhados na passagem: “O rio vai às margens. Vem com força de açude arromba-
do.” Os termos sublinhados são, respectivamente:
a) predicativo do sujeito e adjunto adnominal de modo
b) adjunto adverbial de modo e adjunto adnominal
c) adjunto adverbial de lugar e adjunto adverbial de modo
d) adjunto adverbial de modo e objeto indireto
e) adjunto adverbial de lugar e complemento nominal
4) (CESCEA) Aponte a alternativa em que ocorre o adjunto adverbial de causa:
a) Comprou livros com dinheiro.
b) O poço secou com o calor.
c) Estou sem amigos.
d) Vou ao Rio.
e) Pedro é efetivamente bom.
Veja o quanto você acertou.
1) B
2) D
3) E
4) B
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Para reforçar o aprendizado, façamos análises de períodos simples. Observe bem.

a) A complexidade do estudo da origem da vida sempre surpreendeu os filósofos.


• A complexidade do estudo da origem da vida → sujeito simples;
• a → adjunto adnominal;
• complexidade → núcleo do sujeito;
• do estudo da origem da vida → complemento nominal (de complexidade);
• da origem da vida → complemento nominal (de estudo);
• surpreendeu os filósofos de todas as épocas → predicado verbal;
• surpreendeu → núcleo do predicado – verbo transitivo direto;
• os filósofos → objeto direto;

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68 © Língua Portuguesa III

• os → adjunto adnominal (de filósofos);


• filósofos → núcleo do objeto direto;
• sempre → adjunto adverbial de tempo.

b) A ausência de amanhãs súbito angustia minha pobre alma sonhadora.


• A ausência de amanhãs → sujeito simples;
• a → adjunto adnominal;
• ausência → núcleo do sujeito;
• de manhãs → complemento nominal;
• angustia minha pobre alma sonhadora → predicado verbal;
• angustia → núcleo do predicado – verbo transitivo direto;
• minha pobre alma sonhadora → objeto direto;
• alma → núcleo do objeto direto;
• minha / pobre / sonhadora → adjuntos adnominais;
• súbito → adjunto adverbial.

c) Nos caminhos sinuosos das ilusões sem fim, construímos castelos de sonhos coloridos.
• Nos caminhos sinuosos das ilusões sem fim → adjunto adverbial de lugar;
• sinuosos das ilusões sem fim → adjuntos adnominais (de caminhos);
• nós → sujeito simples elíptico;
• construímos castelos de sonhos coloridos → predicado verbal;
• construímos → núcleo do predicado – verbo transitivo direto;
• castelos de sonhos coloridos → complemento verbal – objeto direto;
• castelos → núcleo do objeto direto;
• de sonhos coloridos → adjuntos adnominais (de castelos).
Agora, faça a análise deste período e veja o quanto acertará.
Um poema é a projeção de uma ideia em palavras, através da emoção.
Confira sua análise.
a) Um poema é a projeção de uma ideia em palavras, através da emoção.
• Um poema → sujeito simples;
• um → adjunto adnominal;
• poema → núcleo do sujeito;
• é a projeção de uma ideia em palavras, através da emoção → predicado nominal;
• é → verbo de ligação;
• a projeção de uma ideia em palavras, através da emoção → predicativo;
• a → adjunto adnominal;
• projeção → núcleo do predicativo;
• de uma ideia → complemento nominal;
• em palavras → adjunto adverbial de modo;
• através da emoção → adjunto adverbial de meio.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 69

Esperamos que tenha tido 100% de acertos. Caso isso não tenha acontecido, observe bem
a análise que lhe apresentamos e reflita. Você estudou a teoria, a reflexão será muito importan-
te na interiorização dela.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Passemos ao estudo de outro termo acessório.

Aposto
Aposto é uma palavra ou expressão que serve para “apelidar” ou explicar um termo cha-
mado “fundamental”.
O aposto é o mesmo que é o fundamental (termo a que se apõe). O aposto explica, iden-
tifica, detalha um termo da oração. Há identidade entre eles. A identidade deve ser até em
categoria gramatical.
Veja.
a) Deus, Arquiteto do Universo, é onipotente.
• Deus → sujeito;
• Deus = Arquiteto do Universo;
• Arquiteto do Universo → aposto.
b) O menino, feliz da vida, caminhava pela estrada.
• O menino → sujeito;
• feliz da vida → adjunto adverbial de modo.
• menino ≠ feliz da vida;
• feliz da vida → não é aposto.
O adjetivo só pode ser aposto quando substantivado. O adjetivo do exemplo (feliz), como
adjetivo, não designa o fundamental (menino), mas uma característica do modo de ele cami-
nhar.
Observe.
a) Tadeu, pedinte, percorria as ruas da capital.
pedinte → aposto (adjetivo substantivado).

b) Márcia, educadora, não poderia ter feito tal coisa.


educadora → aposto (adjetivo substantivado).
Normalmente, o aposto é separado por vírgulas, mas Rocha Lima (, 1982, p. 225) profes-
sa que não se usa vírgula no aposto “com o qual se dá a denominação do ser, individualizando-o
dentro do seu gênero.
Exemplo:
a) O padre Euclides foi coadjutor da Paróquia de São Sebastião do Ribeirão Preto.

aposto
b) A cidade de Londrina fica no Paraná.


aposto

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70 © Língua Portuguesa III

O aposto pode ser:


1) explicativo:
“Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, serrana bela” (CAMÕES, 2011b,
grifos nossos).
2) enumerativo:
“Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três cousas: olhos, espelho e luz”
(VIEIRA, 2011, grifos nossos).
3) resumidor ou recaptulativo:
Torcedores, jogadores, ninguém reclamou da arbitragem.
4) comparativo:
“As estrelas, grandes olhos curiosos, espreitam através da folhagem” (QUEIRÓS, 2009,
p. 192).
5) oração subordinada substantiva apositiva:
Ela me disse apenas isto: não me aborreça.

Observação:
O aposto explicativo e o enumerativo podem vir precedidos das locuções como: isto é, a saber, por
exemplo etc.

Observe.
Compraram os móveis, isto é, duas camas, uma mesa e seis cadeiras.
Segundo Cunha e Cintra (1985, p. 152-154), “o aposto tem o mesmo valor sintático do
termo a que se refere.”
1) Aposto no sujeito:
“Nós já tínhamos imaginado, mamãe e eu, fazer uma grande peregrinação” (GRAÇA
ARANHA, 2011, grifos nossos).

2) Aposto no predicativo:
“Ele era o famoso Ricardão, o homem das beiras do Verde Pequeno” (GUIMARÃES
ROSA, 2011, grifos nossos).

3) Aposto no complemento nominal:


“João Viegas está ansioso por um amigo, que se demora, o Calisto” (ASSIS, 2011f, gri-
fos nossos).

4) Aposto no objeto direto:


“O pequeno italiano, na esquina, apregoava os jornais da tarde: Notícia! Tribuna! Des-
pacho!” (LIMA BARRETO, 2011, grifos nossos).

5) Aposto no objeto indireto:


“Casara-se com um bacharel da Paraíba, o Dr. Moreira Lima, Juiz em Pilar” (REGO,
2011, grifos nossos).

6) Aposto no agente da passiva:


“O nosso candidato, o poeta Martins Junior, era combatido pelo candidato baiano
Filinto Bastos” (GRAÇA ARANHA, 2011, grifos nossos).
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7) Aposto no adjunto adverbial:


“Você não tem relações aqui, no Rio, menino?” (LIMA BARRETO, 2011, grifos nossos).

8) Aposto no aposto.
“Os primeiros foram os Vilelas, família composta de Justiniano Vilela, chefe de seção
aposentado, D. Margarida, sua esposa, e D. Augusta, sobrinha de ambos”(MACHADO
DE ASSIS, 2011, grifos nossos).

9) Aposto no vocativo:
“Peri, guerreiro livre, tu és meu escravo; tu me seguirás por toda parte, como a estrela
grande acompanha o dia” (ALENCAR, 2011, grifos nossos).

Finalmente, o último termo que estudaremos nesta unidade.

Vocativo
O vocativo (do latim “vocare” = chamar) serve para invocar, evocar ou chamar (normal-
mente, invoca-se seres inanimados, espíritos, demônios e evoca-se, chama-se pessoa e ani-
mais). Vem sempre isolado por vírgulas.
Ele pode ou não vir precedido de interjeições, entre elas: eh! olé! ola! ó.
Observe os exemplos seguintes.
a) “De vós me aparto, ó vida!” (CAMÕES, 2011, grifos nossos).
b) “Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! (CASTRO ALVES, 2011, grifos nossos).
c) “E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava
Dizia prudente: - Meninos, eu vi.” (GONÇALVES DIAS, 2011, grifo nosso).
d) “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” (CASTRO ALVES, 2011, grifos nossos).
e) “Cautelosamente, com a ponteira do guarda-chuva, Silvério empurrou a porta, cha-
mando:
- Eh! tia Maria... Olá, rapariga!” (EÇA DE QUEIRÓS, 2011, grifos nossos).
O vocativo não pertence à estrutura da frase, é um elemento solto, devendo ser considerado
à parte.
No caso de vocativo + verbo no imperativo, o sujeito da oração é a pessoa do verbo.
Atente-se à exemplificação.
a) Deus, ajudai-me!
Deus, (vós) ajudai-me!
↓ ↓ ↓
vocativo sujeito objeto direto

b) “Criança, ame com fé e orgulho a terra em que nasceste” (BILAC, 2011, grifo nosso).
Criança, ame (tu) com fé e orgulho a terra em que (tu) nasceste.
↓ ↓
vocativo sujeito

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72 © Língua Portuguesa III

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Faça os exercícios seguintes e confira suas respostas.
1) (FMU) Em “Eu era enfim, senhores, uma graça de alienado.”, os termos da oração grifados são respectivamente,
do ponto de vista sintático:
a) adjunto adnominal, vocativo, predicativo do sujeito
b) adjunto adverbial, aposto, predicativo do objeto
c) adjunto adverbial, vocativo, predicativo do sujeito
d) adjunto adverbial, vocativo, objeto direto
e) adjunto adnominal, aposto, predicativo do sujeito
2) (BB) “Ande ligeiro, Pedro”.
a) sujeito
b) objeto direto
c) vocativo
d) aposto
e) adjunto
3) (UNESP) – “Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição da família, célula da sociedade.” O
trecho destacado é:
a) complemento nominal.
b) vocativo.
c) agente da passiva.
d) objeto direto.
e) aposto.
Veja se suas respostas estão certas.
1) C

2) C

3) E
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Analisemos, agora, os elementos constituintes de alguns períodos simples.


a) Amigos, companheiros das horas difíceis, acreditem na solução dos problemas.
• (vocês → a pessoa gramatical com quem o verbo concorda);
• Amigos → vocativo;
• companheiros das horas difíceis → aposto;
• das horas difíceis → adjuntos adnominais;
• acreditem na solução dos problemas → predicado verbal;
• acreditem → núcleo do predicado - verbo transitivo indireto;
• na solução dos problemas → complemento do verbo: objeto indireto;
• dos problemas → complemento nominal.
b) A vida é uma mistura de tudo: de seres e de coisas, de paixões e de indiferenças.
• A vida → sujeito simples;
• vida → núcleo do sujeito;
• a → adjunto adnominal;
• é uma mistura de tudo: de seres e de coisas, de paixões e de indiferenças → predi-
cado nominal;
• é → verbo de ligação (ou copulativo);
• uma mistura de tudo → predicativo do sujeito e núcleo do predicado;
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 73

• uma → adjunto adnominal;


• mistura → núcleo do predicativo;
• de tudo → complemento nominal;
• de seres e de coisas, de paixões e de indiferenças → aposto.
c) Senhor, considerai, para absolvição de meus pecados, todas as minhas boas ações!
• Senhor → vocativo;
• (vós → a pessoa gramatical com quem o verbo concorda);
• considerai, para absolvição de meus pecados, todas as minhas boas ações; sujeito
→predicado verbal
• considerai → núcleo do predicado – verbo transitivo direto;
• para absolvição de meus pecados → adjunto adverbial de finalidade;
• dos meus pecados → complemento nominal;
• dos meus → adjuntos adnominais;
• todas as minhas boas ações → complemento verbal: objeto direto;
• todas as minhas boas → adjuntos adnominais;
• ações → núcleo do objeto direto.
Agora é sua vez, analise o período e confira, depois, suas respostas.
A distribuição de alimentos aos carentes do Nordeste foi motivo de muita propaganda de
políticos.
Veja se acertou tudo.
d) A distribuição de alimentos aos carentes do Nordeste foi motivo de muita propaganda
de políticos.
• A distribuição de alimentos aos carentes do Nordeste → sujeito simples;
• a → adjunto adnominal;
• distribuição → núcleo do sujeito;
• de alimentos → complemento nominal;
• aos mendigos → complemento nominal;
• do Nordeste → adjunto adnominal;
• foi motivo de muita propaganda política → predicado nominal;
• foi → verbo de ligação;
• motivo de muita propaganda de políticos → predicativo do sujeito;
• motivo → núcleo do predicativo do sujeito;
• de muita propaganda política → complemento nominal;
• muita → adjunto adnominal;
• de políticos → complemento nominal.

Observações:
1) distribuir é verbo transitivo direto e indireto, portanto, pede dois complementos;
2) distribuição, nome deverbal, como o verbo, pede dois complementos.

Chegamos ao final da teoria desta unidade. Esperamos que você tenha aumentado seu
cabedal de conhecimentos. Isso você poderá verificar agora.

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74 © Língua Portuguesa III

Para trabalharmos análise sintática, a frase descontextualizada não é ideal. Devemos tra-
balhar com textos. Nesta unidade, as exemplificações e exercícios foram com frases descontex-
tualizadas, porque, por questão de espaço, não podemos nos alongar.
Entretanto, não poderíamos deixar também de analisar textos. Assim, nos exercícios se-
guintes de autoavaliação, você encontrará análise de orações contextualizadas e descontextua-
lizadas.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
(FGV) Texto para as questões 1 a 5:
“Não faças a outrem o que não queres que te façam.”      

1) O sujeito de “faças” na primeira oração é:


a) agente
b) indeterminado
c) paciente
d) inexistente
e) a oração “que te façam”
2) Na oração “não faças a outrem o”, a expressão em negrito é:
a) objeto indireto
b) objeto direto preposicionado
c) sujeito da passiva
d) adjunto adverbial de modo
e) predicativo do sujeito
3) Na oração “não faças a outrem o”, a expressão em negrito é:
a) objeto indireto
b) objeto direto
c) aposto
d) predicativo
e) sujeito
4) Na oração “que te façam”, o objeto direto do verbo fazer é:
a) a palavra “te” que se encontra na mesma oração
b) a palavra “que” da mesma oração
c) a palavra “que” da oração antecedente
d) inexistente, pois o verbo é transitivo indireto
e) a palavra “tu” elíptica
5) Na oração “que não queres”, o sujeito é a palavra:
a) que
b) o
c) tu
d) te
e) outrem

(FGV) Texto para as questões 6 a 9:


“Minha alva Dinamene, a Primavera,
Que os campos deleitosos pinta e veste,
E, rindo-se, uma cor aos olhos gera
Com que na terra vem o Arco celeste

O cheiro, rosas, flores, a verde hera,


Com toda formosura amena agreste,
Não é para meus olhos, tão formosa
Como a tua, que abate o lírio e a rosa” (Camões).

6) No segundo verso da primeira estrofe, o sujeito dos verbos “pinta e veste” é:


a) os campos deleitosos
b) Minha alva Dinamene
c) indeterminado
d) a Primavera
e) Que
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 75

7) No mesmo verso da primeira estrofe, a função sintática de “os campos deleitosos” é:


a) sujeito
j) adjunto adverbial
k) aposto
l) objeto direto
m) objeto indireto
8) “Para meus olhos”, no terceiro verso da segunda estrofe é:
a) complemento nominal
b) objeto indireto
c) oração subordinada substantiva predicativa
d) oração subordinada substantiva objetiva indireta
e) predicativo
9) “Com toda formosura amena” é:
a) complemento nominal
b) adjunto adnominal
c) aposto
d) adjunto adverbial de modo
e) agente da passiva
    
(FGV) Texto para as questões 10 a 12:
“Quem diz o que quer ouve o que não quer.”

10) No trecho final do período “... que não quer”, o sujeito é:


a) que
b) ele
c) o
d) você
e) inexistente
11) a palavra em negrito: “Quem diz o que quer ouve o que não quer.” A função sintática dela é:
a) sujeito
b) complemento nominal
c) partícula expletiva
d) predicativo
e) objeto direto
12) Observe a palavra em negrito: “Quem diz o que quer ouve o que não quer.” Sua função sintática é:
a) sujeito
b) objeto indireto
c) pronome relativo
d) aposto
e) objeto direto

Confira suas respostas.


1) A
2) A
3) B
4) D
5) C
6) E
7) D
8) A
9) D
10) B
11) E
12) E
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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76 © Língua Portuguesa III

11. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao fim da primeira unidade do estudo de sintaxe. Tivemos a oportunidade de
estudar conceitos de frase, oração e período e as funções sintáticas dos termos essenciais, inte-
grantes e acessórios da oração.
Na próxima unidade, daremos atenção à classificação das orações coordenadas. Realizare-
mos o estudo do assunto abordado, na medida do possível, de forma contextualizada.
Para aprofundar seus estudos sobre os tópicos abordados nesta unidade, sugerimos a
pesquisa, pois não foi nossa intenção exaurir o que abordamos.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. ver. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.
______. Moderna gramática portuguesa. 16. ed. São Paulo: Nacional, 1970.
CAMARA JR., J. Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1979.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1984.
CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2004.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
IGNÁCIO, Sebastião Expedito. Análise sintática em três dimensões: uma proposta pedagógica. 2. ed. Franca: Ribeirão Gráfica,
2003.
LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. 7. ed. Porto Alegre e Rio de Janeiro: Globo, 1986.
­­­______. Gramática resumida. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1969.
MACHADO, António de Alcântara. Novelas paulistanas: Brás, Bexiga e Barra Funda. 1. ed. Belo Horizonte / São Paulo, Itatiaia /
Edusp, 1988, p. 100-2. In: FIORIN, José Luiz; PLATÃO SAVIOLI, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996,
p. 276-277.
PERINI, Mário A. Sintaxe portuguesa: metodologia e funções. São Paulo: Ática, 1989.
______. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 1995.
______. Para uma gramática do português. 2. ed. São Paulo: Ática, 1985. (Série Princípios)
QUEIRÓS, Eça de; Migalhas de Eça de Queirós. São Paulo: Migalhas, 2009.
ROCHA LIMA, Calos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 20. ed. São Paulo: Atual, 1994.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

13. E-REFERÊNCIAS
ALENCAR, José. O garatuja. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/jose-de-alencar/garatuja.php>. Acesso
em: 7 jan. 2011.
BILAC, Olavo. Disponível em: <http://josaltiplano.blogspot.com/2009_05_01_archive.html>. Acesso em: 8 jan. 2011.
Camilo. O romance d’um rapaz pobre. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira, 1907. Disponível em: <http://www.archive.org/
stream/oromancedumrapaz00feuiuoft#page/2/mode/2up>. Acesso em: 4 jul. 2012.
CAMÕES. Disponível em: <http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=4125&cat=Reda%E7%E3o&vinda=S>.
Acesso em: 8 jan. 2011a.
CAMÕES. Disponível em: <http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=269&ed=11>. Acesso em: 13
jan. 2011b.
CAMPOS, Álvaro de. Disponível em: <http://oficiodeescrever.blogspot.com/2009/11/aproveitar-o-tempo.html>. Acesso em: 13
jan. 2011.
CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. Disponível em: < http://www.culturabrasil.pro.br/amordeperdicao.htm>. Acesso
em: 7 jan. 2011.
CASTRO ALVES, Navio Negreiro. Disponível em: <http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/textos/
literatura/castro_alves/negreiro/navionegreiro_texto.html>. Acesso em: 7 jan. 2011.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11201>. Acesso em: 7 jan.
2011.
© U1 - Classificação dos Elementos Constituintes da Oração 77

GRAÇA ARANHA. Disponível em: <http://www.objetivoscs.com.br/downloads/gabaritos/simaberto_portugues.pdf>. Acesso


em: 13 jan. 2011.
GUIMARÃES ROSA. Disponível em: <http://especificasmaterias.blogspot.com/2009/11/simulado-da-fuvest-2007.html>. Acesso
em: 13 jan. 2011.
HERCULANO, Alexandre. O bobo. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000305.pdf>. Acesso
em: 13 jan. 2011.
LIMA BARRETO. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/7388321/RecordaCOes-
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MACHADO DE ASSIS. A semana. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/centenario-de-machado-de-assis/
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machado-de-assis/memorias-postuma-de-bras-cuba-5.php>. Acesso em: 8 jan. 2011b.
_______. Dom Casmurro. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/centenario-de-machado-de-assis/dom-
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_______. Quincas Borba. Disponível em:<http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/quincas.html>. Acesso em: 13 jan. 2011e.
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jan. 2011f.
MEIRELES, Cecília, Noturno. Disponível em:<http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/ceciliameireles/
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2011b.
PESSOA, Fernando. Disponível em: <http://nescritas.com/homenagemfpessoa/obrafpessoa/1930/03/>. Acesso em: 13 jan.
2011c.
PESSOA, Fernando. Disponível em: <http://twitter.com/FernandoPessoa/status/17127421177>. Acesso em: 13 jan. 2011d.
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RODRIGUES LOBO, Francisco. Obras políticas. vol. 2, p. 261. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=3YpL
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+++++que+aborre%C3%A7o+[a+quem+me+quer].%E2%80%9D&dq=%E2%80%9CN%C3%A3o+me+tenha+amor+ningu%C
3%A9m++++++++++Para+obrigar+meu+querer++++++++++que+aborre%C3%A7o+[a+quem+me+quer].%E2%80%9D&hl=p-
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2&source=bl&ots=MmzMdx9nI3&sig=yS10C81KcWzu14ue0bAQnqY4VOI&hl=pt-BR&ei=yiwnTZXDK8L58Ab00aXTAQ&sa=X&oi
=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CB0Q6AEwAQ#v=onepage&q=%22E%20se%20um%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20
t%C3%A3o%20duro%20para%20quem%20o%20ouve%22&f=false>. Acesso em: 7 jan. 2011a.
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______. Disponível em: <http://joseeduardolopes.tripod.com/id26.html>. Acesso em: 13 jan. 2011.

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EAD
Orações Coordenadas

1. OBJETIVOS
• Adquirir embasamentos teóricos sobre classificação de orações coordenadas.
• Identificar as conjunções coordenativas e suas particularidades.
• Reconhecer as orações coordenadas no texto.
• Analisar períodos compostos.
• Aplicar a teoria à prática de produção e interpretação de textos.

2. CONTEÚDOS
• Classificação das orações coordenadas.
• Particularidades de algumas conjunções.
• Análise de período composto.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Algumas recomendações que valem a pena levar em conta.
1) Não deixe de ler as obras citadas e constantes na bibliografia.
2) Não deixe de pesquisar os assuntos tratados em todas as fontes que lhe estão dispo-
níveis.
3) Em pesquisa na Internet, certifique-se da “confiabilidade” do site.
80 © Língua Portuguesa III

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O objetivo primeiro desta unidade é o estudo da classificação das orações coordenadas,
mas, antes de entrarmos no assunto proposto, vamos analisar um texto?

O leão fugido––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O leão fugido do circo vinha correndo pela rua quando viu um senhor à sua frente. Caminhou pé ante pé, bateu deli-
cadamente nas costas do senhor e disse: “Cavalheiro, tenha cuidado e, muita calma: disseram que um macaco fugiu
do circo agora mesmo.” O cavalheiro, ouvindo o aviso, voltou-se, viu o leão e morreu de um ataque do coração. O
leão então murmurou tristemente: “Não adianta nada. É tal a nossa fama de ferocidade que matamos mesmo quando
queremos agir em favor do próximo”.
Moral: A quem nasce feroz não importa o tom de voz (MILLÔR FERMANDES, 2011).
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Temos aí um texto.
O que é um texto?
Há muitas maneiras de responder a essa pergunta: texto é a totalidade de expressões lin-
guísticas de um ou vários indivíduos em uma determinada situação. É um conjunto de orações
relacionadas entre si de maneira coesa. Sem a coesão, tem-se apenas um conjunto desarticula-
do de orações. O significado global de um texto não é o resultado da soma de suas partes, mas
uma combinação delas que gera um sentido.
Um texto sempre se refere a um tema e seus componentes mantêm-se unidos por esse
"fio temático". É a coerência textual.
Dissemos que a história do leão fugido é um texto, porque podemos notar que possui um
fio temático, ou seja, seus componentes são unidos por um tema.
Além disso, o texto foi tecido por orações relacionadas entre si de maneira coesa. As ora-
ções não são apenas justapostas de maneira desarticulada. Há vínculo entre as orações, princi-
palmente quando uma depende da outra.
Vamos reler o texto tentando perceber a forma como foi tecido, como uma oração rela-
ciona-se com outra.
O leão fugido do circo vinha correndo pela rua quando viu um senhor à sua frente.
Se tomarmos apenas a oração "O leão vinha correndo pela rua", percebemos que ela so-
zinha comunica, mas, ao juntar-se com outras orações, a comunicação fica mais esclarecedora.
Observe.
Primeiramente, "fugido do circo" especifica o leão, portanto não é um leão qualquer, a
história restringe-se ao leão "que fugira do circo". Depois, notamos um fato novo, "quando viu
um senhor à sua frente."
Este fato novo tem relação de tempo com o anterior, esta relação é expressa pela palavra
"quando". Quando o leão viu um senhor à sua frente?
O leão vinha correndo pela rua / quando viu um senhor à sua frente.
O leão viu um senhor à sua frente / quando vinha correndo pela rua.
Prossigamos.
Caminhou pé ante pé, bateu delicadamente nas costas do senhor e disse: "Cavalheiro,
tenha cuidado e, muita calma: disseram que um macaco fugiu do circo agora mesmo."
© U2 - Orações Coordenadas 81

No trecho que agora analisamos, podemos notar algumas ações do leão:


• caminhou pé ante pé;
• bateu delicadamente nas costas do senhor;
• e disse:
Essas três orações têm o mesmo valor, isto é, são três ações de igual importância. Percebe-
mos que as duas primeiras são justapostas, não são iniciadas por conjunção, enquanto a terceira
é adicionada, juntada à anterior pela conjunção e.
As orações são consideradas independentes, quando têm sentido completo:
• (o leão) caminhou pé ante pé;
• (o leão) bateu delicadamente nas costas do senhor.
Por outro lado, a oração e disse não está completa, porque o verbo dizer exige um comple-
mento (objeto direto). Este complemento é a fala do leão: “Cavalheiro, tenha cuidado e (tenha)
muita calma: disseram que um macaco fugiu do circo agora mesmo.”
A fala do leão, observe, está subdividida em duas partes. Na primeira, ele fala para o Cava-
lheiro ter cuidado e (ter) calma. Notou que as duas orações são independentes? Isto é, uma não
completa o sentido da outra e são unidas pela conjunção e. O restante da fala (disseram que um
macaco fugiu do circo agora mesmo) "explica" a razão pela qual o Cavalheiro deveria ter cuidado
e calma. Esta "explicação" ou esclarecimento é uma espécie de aposto.
Continuando, ainda na segunda parte da fala do leão, podemos perceber, novamente, o
verbo dizer, que, como já comentamos, não é semanticamente completo. Assim sendo, que um
macaco fugiu do circo agora mesmo é seu complemento.
O cavalheiro, ouvindo o aviso, voltou-se, viu o leão e morreu de um ataque do coração.
Nesse período, temos três fatos independentes:
• O cavalheiro voltou-se,
• (o cavalheiro) viu o leão
• e (o cavalheiro) morreu de um ataque do coração.
Temos, aqui, uma situação igual à anteriormente comentada: são três ações de igual im-
portância. As duas primeiras são justapostas, não são iniciadas por conjunção (conectivo), en-
quanto a terceira é adicionada, juntada à anterior pela conjunção e.
Quando tudo isso aconteceu?
Aconteceu, quando o cavalheiro ouviu o aviso (ouvindo o aviso). Esta oração identifica o
tempo dos acontecimentos.
O leão então murmurou tristemente: "Não adianta nada. É tal a nossa fama de ferocidade
que matamos mesmo quando queremos agir em favor do próximo”.
Vamos subdividir o período para facilitar a análise.
O leão murmurou tristemente
Nessa oração, temos o modo como o leão murmurou – tristemente –, mas o que foi mur-
murado está na oração seguinte: não adianta nada. É tal a nossa fama de ferocidade que mata-
mos mesmo quando queremos agir em favor do próximo.
Tomemos parte do murmúrio: É tal a nossa fama de ferocidade que matamos.

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82 © Língua Portuguesa III

Observe: que matamos é o efeito do que foi manifestado na oração anterior: é tal a nos-
sa fama de ferocidade.
Por esta análise é possível perceber que algumas orações são dependentes, outras são
independentes, mas, no texto, as orações são relacionadas entre si de maneira coesa. A combi-
nação delas gera um sentido, o significado global do texto. Por esta razão, voltamos a afirmar, o
texto não é um conjunto desarticulado de orações.
Cremos que já podemos passar ao estudo dos diversos relacionamentos, combinações
de orações. Esses relacionamentos serão vistos nas diversas unidades desta etapa de Língua
Portuguesa.

5. CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES COORDENADAS


Segundo a Gramática Tradicional, a coordenação caracteriza-se pela independência das
orações.
As orações coordenadas têm sentido mais ou menos independente, isto é, podem formar
sentido próprio. Além disso, elas têm o mesmo valor.
Uma oração independente não funciona como termo de outra, ou seja, nenhuma oração
do período exerce função sintática de outra oração. Assim, não há oração principal num período
composto por coordenação.
As orações coordenadas podem ser assindéticas e sindéticas.

Assindéticas
São orações em que há assíndeto, ou ausência de conjunção coordenativa entre as frases.
As orações são dispostas lado a lado, separadas por vírgula. Observe.

a) Nunca eu tivera querido


dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido (MEIRELES, 2011a).
Tomemos, como exemplo, os dois últimos versos:
“Levou somente a palavra, deixou ficar o sentido.”
O sujeito dessas orações é "o vento". Se nós as isolarmos, notaremos que cada uma delas
tem um sentido completo.
Confira.
• [O vento] levou somente a palavra.
• [O vento] deixou ficar o sentido.

b) “A treva chega de repente, entra pelas janelas, vence a luz da lâmpada." (RAMOS,
2011).
Se isolarmos as orações, poderemos perceber que cada uma tem sentido próprio.
© U2 - Orações Coordenadas 83

• A treva chega de repente.


• [A treva] entra pelas janelas.
• [A treva] vence a luz da lâmpada.

c) “Grita, sacode a cabeleira negra, agita os braços, pára, olha, ri.” (VERÍSSIMO, 2011).
[Grita,] [sacode a cabeleira negra,] [agita os braços,] [pára,] [olha,] [ri.]

d) “O bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros, deslizou, rolou, seguiu.” (MA-


CHADO, 1996, p. 276-277).
[O bonde deu um solavanco,] [sacudiu os passageiros,] [deslizou,] [rolou,] [seguiu.]
Vejamos, agora, as orações sindéticas.

Sindéticas
São as orações coordenadas vinculadas por síndeto, ou conjunção coordenativa.
Exemplificando.
a) “bateu-me o vento na boca, e depois no teu ouvido.” (MEIRELES, 2011a).
[bateu-me o vento na boca,] [e depois no teu ouvido].
1 2
1) bateu-me o vento na boca = oração coordenada assindética.
2) e depois [bateu] no teu ouvido = oração coordenada sindética aditiva.
Período composto por coordenação, contendo duas orações.

b) “A luz aumentou e espalhou-se na campina.” (RAMOS, 2011).


[A luz aumentou] [e espalhou-se na campina.]
1 2
1) A luz aumentou = oração coordenada assindética.
2) e espalhou-se na campina = oração coordenada sindética aditiva.
Período composto por coordenação contendo duas orações.
As orações coordenadas sindéticas são classificadas em função da ideia expressa pela con-
junção que as une; assim, recebem o nome da conjunção ou da locução conjuncional que as
introduz. Passemos ao estudo delas.

Aditivas
As orações coordenadas sindéticas aditivas estabelecem uma relação de soma, expressam
ligação ou adição de afirmações. Entre elas, há um relacionamento de pensamentos similares.
Muitas vezes, são chamadas copulativas. São iniciadas por conjunção coordenativa aditiva ou
por uma locução conjuncional coordenativa aditiva.
São conjunções (e/ou locuções conjuncionais) coordenativas aditivas: e (une duas afirma-
ções), nem (= e não – une duas negações), mas (precedido de "não só"), mas ainda (precedido
de "não somente"), mas também, (precedido de "não só"), como também (precedido de "não
só").

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84 © Língua Portuguesa III

Ilustremos.
Não quero favores, nem compaixão.
[Não quero favores,] [nem compaixão.]
1 2
1) (Eu) não quero favores = oração coordenada assindética.
2) nem compaixão (e eu não quero compaixão) = oração coordenada sindética aditiva.
Período composto por coordenação contendo duas orações.
Observe o excerto de Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade. Nele você poderá
perceber como uma ideia é aditada a outra.
[...]
Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na
botija, contavam tudo tintim-por-tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu
as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam
onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer qui-
tanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre "um cabrito", não tivesse
catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades
"de baixo", ou seja, do Rio de Janeiro. Ele vinha dar uma prosa e deixar de presente ao dono da casa um
canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro.
Infelizmente, alguns eram mais do que velhacos: eram grandessíssimos tratantes. [...](NCE/UFRJ, 2011,
grifos nossos).

O exercício de reflexão é sempre muito bom.


Demos parte do texto de Drummond de Andrade e grifamos as conjunções aditivas, para
que você tenha oportunidade de refletir sobre o que dissemos sobre orações coordenadas adi-
tivas. Caso você não tenha conseguido perceber a relação de adição entre essas orações, entre
em contato conosco. Estamos à sua disposição para dirimir quaisquer dúvidas.
Passemos adiante.

Adversativas
As orações coordenadas sindéticas adversativas exprimem uma oposição, contraste, ideia
contrária à da outra oração, geralmente, a oração que a antecedente. Elas relacionam pensa-
mentos contrastantes. Estabelecem uma oposição ao que foi afirmado na oração anterior. São
iniciadas por conjunção coordenativa adversativa ou por uma locução conjuncional coordenati-
va adversativa.
São conjunções (e/ou locuções conjuncionais) coordenativas adversativas: mas, porém,
todavia, contudo, entretanto, no entanto (marca uma concessão mais branda, atenuada).
Exemplificando.
“Os paisanos das ricas terras brigavam, mas os mercadores sempre se entendiam.” (LOPES
NETO, 2011).
[Os paisanos das duas terras brigavam,] [mas os mercadores sempre se entendiam...]
1 2
1) Os paisanos das duas terras brigavam = oração coordenada assindética.
2) mas os mercadores sempre se entendiam = oração coordenada sindética adversativa.
Período composto por coordenação contendo duas orações.
© U2 - Orações Coordenadas 85

Observe o contraste ou oposição entre brigar (ação da primeira oração) e entender da


segunda oração.
Voltemos ao excerto de Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade.
“Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios.” (grifo nosso)
"Ficar a ver navios" significa, mais ou menos, ficar sem nada, ou não obter o que se espe-
rava. No período que estamos analisando, podemos perceber que não há uma adição de ideias
entre as orações. O que existe é uma oposição, um contraste da segunda oração com as espec-
tativas criadas pela primeira oração. Assim, a oração iniciada pelo e não é aditiva, é adversativa.
Numa análise, o que importa é a ideia encerrada. Voltaremos a falar dessa particularidade da
conjunção e.
Continuando a exemplificação.
“[...] alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde.” (grifo nosso)
Temos, nas orações do exemplo supracitado, ideias adversas.
Vejamos outro exemplo contextualizado.
Por ocasião da enfermidade que levou Tancredo Neves à morte, dois jornais deram notí-
cias semelhantes, porém em um dos jornais a notícia foi mais otimista que em outro. Apresen-
taremos apenas parte de cada uma delas.
Tancredo já anda e supera a crise
[...] Os primeiros avisos de tranqüilidade haviam sido dados às 17 horas, com a leitura de um boletim
oficial assinado por uma junta de nove médicos especialistas, levados de São Paulo. Rio e Belo Horizonte
para examinar o presidente eleito. Eles confirmaram a existência de "alterações nos movimentos intes-
tinais” de Tancredo, ou seja, problemas com a acumulação de gases, mas garantiram que o estado geral
dele era bom e recomendaram a manutenção do tratamento clínico seguido até o momento. Com isso,
afastaram os boatos de nova cirurgia e de remoção do presidente eleito para o Hospital das Clínicas de
São Paulo. (O ESTADO DE S. PAULO, 20 mar. 1985, p. 1.)
O pós-operatório de Tancredo complica-se
[...] Ajunta afirmou, em boletim divulgado às 17 h, que o esta­do geral do presidente eleito é bom, mas
"existem alterações nos movimentos intestinais, não raramente observados após operações de urgên-
cia". Assinaram o boletim os médicos João Batista de Rezende Alves. Lopes Pontes, Jayme Landman,
Geraldo Siffert, Agostinho Betarello, Wilson Luiz Abrantes, Newton Procópio, Henrique Walter Pinotti e
Célio E. D. Nogueira. [...] (FOLHA DE S. PAULO, 20 mar. 1985, p. 1.)

Nos exemplos extraídos dos periódicos, independentemente dos títulos, podemos perce-
ber a valorização diferente de fatos pelo uso da conjunção adversativa.
Compare.
Eles confirmaram a existência de "alterações nos movimentos intestinais” de Tancredo, ou seja, proble-
mas com a acumulação de gases, mas garantiram que o estado geral dele era bom... (O ESTADO DE S.
PAULO, 1985, grifo nosso)
A junta afirmou, [...], que o esta­do geral do presidente eleito é bom, mas "existem alterações nos mo-
vimentos intestinais, não raramente observados após operações de urgência”. (FOLHA DE S. PAULO,
1985,grifo nosso).

Você notou que a oração que é inserida pelo mas parece ter mais ênfase?
Continuemos nossos estudos, agora com as orações alternativas.

Alternativas (às vezes, chamadas disjuntivas)


As orações coordenadas sindéticas alternativas estabelecem ideia de alternância, de op-
ção, de escolha. Estabelecem uma alternância ou alternativa em relação à oração anterior. Elas

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86 © Língua Portuguesa III

relacionam pensamentos que se excluem. São iniciadas por conjunção coordenativa alternativa
ou por uma locução conjuncional coordenativa alternativa.
São conjunções coordenativas alternativas: ou... ou, ora... ora, quer... quer, já...já, seja...
seja.
Observe.
“Cochicham ou riem, ou falam ao mesmo tempo”(ASSIS, 2011).
[Cochicham] [ou riem,] [ou falam ao mesmo tempo.]
1 2 3

1) Cochicham = oração coordenada assindética.


2) ou riem = oração coordenada sindética alternativa.
3) ou falam ao mesmo tempo = oração coordenada sindética alternativa.
Período composto por coordenação contendo três orações.

Para você refletir

Leia o excerto e faça o que se pede.

“Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de al-
géia. Ou sonhavam em andar de aeroplano.
(ANDRADE, 2011).

a) Encontre, no trecho, as conjunções e e ou.


b) Complete:
A oração iniciada pela conjunção e denota uma ... de ideias, a oração iniciada pela conjunção ou en-
cerra ideia de ...

(Se você completou com as palavras adição e alternância, acertou.)


Vejamos mais um tipo de oração coordenada.

Conclusivas
As orações coordenadas sindéticas conclusivas expressam uma conclusão da ideia contida
em outra oração, geralmente, a anterior. Em outras palavras, elas indicam uma conclusão a par-
tir do conteúdo da primeira oração. Elas relacionam pensamentos de tal forma que a segunda
frase encerra a conclusão da primeira. São iniciadas por conjunção coordenativa conclusiva ou
por uma locução conjuncional coordenativa conclusiva.
São conjunções (e/ou locuções conjuncionais) coordenativas conclusivas: logo, portanto,
consequentemente, por conseguinte, por isso, pois (posposto ao verbo).
Exemplificando.
Ele nunca fora amado, por conseguinte não conhecia carinho.
[Ele nunca fora amado,] [por conseguinte não conhecia carinho.]
1 2
1) Ele nunca fora amado = oração coordenada assindética.
2) por conseguinte não conhecia carinho = oração coordenada sindética conclusiva.
Período composto por coordenação contendo duas orações.
© U2 - Orações Coordenadas 87

Explicativas
As orações coordenadas sindéticas explicativas manifestam uma explicação. Elas relacio-
nam pensamentos em sequência justificativa, de maneira que o segundo enunciado explica a
razão de ser do primeiro. Elas explicam ou justificam o conteúdo da primeira oração. São inicia-
das por conjunção ou locução conjuncional coordenativa explicativa.
São conjunções (e/ou locuções conjuncionais) coordenativas explicativas: porque, que (=
a porque), pois (anteposto ao verbo), pois que, porquanto.
Atente-se ao exemplo seguinte.
Eles não chegaram, porque não ouvi o barulho do carro.
[Eles não chegaram,] [porque não ouvi o barulho do carro.]
1 2
1) Eles não chegaram = oração coordenada assindética.
2) porque não ouvi o barulho do carro = oração coordenada sindética explicativa.
Período composto por coordenação contendo duas orações.
Prossigamos com mais informações.

6. PARTICULARIDADES DE ALGUMAS CONJUNÇÕES


Muitas vezes, ao classificarmos uma oração, baseamo-nos tão somente numa lista decora-
da de conjunções. Esse procedimento não é correto, pois poderá levar-nos a classificações equi-
vocadas. A classificação deve ser feita de acordo com a relação estabelecida entre as orações.
Vejamos alguns casos que poderão nos desviar de uma classificação correta.
1) O que é, geralmente, conjunção coordenativa explicativa, quando vem depois de um
verbo no imperativo.
Não se esqueça de mim, que eu voltarei. (porque eu voltarei)
2) A conjunção que pode ter valor aditivo.
Ela fala que fala. (= Ela fala e fala).
3) A conjunção que pode ter valor adversativo.
Todos fazem isso que não tu. (= mas tu não [fazes]).
4) A conjunção e pode ser, em determinadas circunstâncias, conjunção adversativa.
"É ferida que dói e não se sente." (Camões) (e não se sente = mas não se sente).
5) A conjunção e pode assumir o valor de conjunção conclusiva.
Ele era o melhor candidato e conseguiu a vaga. (portanto conseguiu a vaga)
6) A conjunção “mas” pode, em determinados contextos, ser conjunção aditiva.
Carlos era inteligente, mas, principalmente, esforçado. (= e [era], principalmente, es-
forçado).
Quanto à posição da conjunção na oração, há casos interessantes. Vejamos alguns.
I. O deslocamento da conjunção pode causar prejuízo à inteligibilidade do conteúdo da
mensagem.
Observe.

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88 © Língua Portuguesa III

1) Em um silogismo ou em um entimema, a conclusão de premissa(s) deve vir no final e


é frase que não se pode inverter com as demais.
a) “Penso; logo, existo.” (DESCARTES)
a.1) (?) Existo logo, penso.
a.2) (?) Logo existo, penso.

b) Todo homem é mortal;


Sebastião é homem;
logo, Sebastião é mortal.
b.1) (?) Todo homem é mortal;
logo, Sebastião é mortal;
Sebastião é homem.

2) As conjunções adversativas podem ser deslocadas, exceto mas, que é usada somente
no começo de oração.
Ilustremos.
a) Sandra gostou da blusa, todavia não a comprou.
a.1) Sandra gostou da blusa, não a comprou, todavia.
b) Sandra gostou da blusa, entretanto não a comprou.
b.1) Sandra gostou da blusa, não a comprou, entretanto.
Nos exemplos anteriores, percebemos que o deslocamento das conjunções adversativas,
todavia e entretanto, respectivamente, para o final do período não comprometeu o entendi-
mento da mensagem.
Observe agora.
c) Sandra gostou da blusa, mas não a comprou.
c.1) (?) Sandra gostou da blusa, não a comprou, mas.
Percebemos que c.1 é agramatical. Assim, podemos constatar a veracidade da afirmação:
a conjunção coordenativa adversativa mas só pode ser usada no começo de oração.
II. O deslocamento da conjunção pode alterar seu valor.
Exemplificando.
1) A conjunção “pois” pode ter valor explicativo, quando estiver no início da oração.
Antônio aceitou a proposta, pois ela era vantajosa. (porque ela era vantajosa)
2) A conjunção “pois” pode ter valor conclusivo, quando deslocada do início da oração.
Antônio aceitou a proposta, ela, pois, era vantajosa. (portanto ela era vantajosa)
Esperamos que você tenha entendido o que expusemos, contudo, se houver alguma dúvi-
da, estamos à sua disposição para dirimi-la.
Passemos à análise de períodos compostos por coordenação.
© U2 - Orações Coordenadas 89

7. ANÁLISE DE PERÍODO COMPOSTO


Para analisarmos um período composto, devemos:
1) sublinhar os verbos;
2) circular ou assinalar todos os conectivos (neste trabalho, o conectivo estará em negri-
to);
3) separar as orações;
4) numerar as orações;
5) classificar as orações;
6) classificar o período.
Observe os exemplos seguintes.
a) “ Andam as quatro comarcas
em grande desassossego:
vão soldados, vêm soldados;
tremem os brancos e os negros.
Se já levaram Gonzaga
e Alvarenga, mas Toledo!
Se a Cláudio mandam recados
para que se esconda a tempo! (MEIRELES, 2011b).
Tomemos os quatro primeiros versos para análise.
[Andam as quatro comarcas em grande desassossego:] [vão soldados,] [vêm soldados;
tremem os brancos e os negros].
Passando para a ordem direta:
[As quatro comarcas andam em grande desassossego:] [soldados vão,] [soldados vêm,]
1 2 3
[os brancos e os negros tremem].
4
1) As quatro comarcas andam em grande desassossego = oração coordenada assindética.
2) soldados vão = oração coordenada assindética.
3) soldados vêm = oração coordenada assindética.
4) os brancos e os negros tremem = oração coordenada assindética.

Período composto por coordenação contendo quatro orações


b) "A preta entrou na sala de jantar, chegou-se à mesa rodeada de gente e falou baixinho
à senhora" (ASSIS, 2011).
[A preta entrou na sala de jantar,] [chegou-se à mesa rodeada de gente][e falou baixinho
à senhora .] 1 2 3

1) A preta entrou na sala de jantar = oração coordenada assindética.


2) chegou-se à mesa rodeada de gente = oração coordenada assindética.
3) e falou baixinho à senhora. = oração coordenada sindética aditiva.

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90 © Língua Portuguesa III

Período composto por coordenação contendo três orações


c) Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza (GIL, 2011).
Tomemos os dois últimos versos para análise.
[Não é chuva,] [nem é gente,] [nem é vento com certeza].
1 2 3

1) Não é chuva = oração coordenada assindética.


2) nem é gente = oração coordenada sindética alternativa.
3) nem é vento = oração coordenada sindética alternativa.

Período composto por coordenação contendo três orações.

d) Não reclames de teus filhos, que há outros piores.

[Não reclames de teus filhos,] [que há outros piores.]


1 2

1) Não reclames de teus filhos = oração coordenada assindética.


2) que há outros piores = oração coordenada sindética explicativa.

Observação:
Nesse período, o que vem depois de um verbo no imperativo, portanto é conjunção coordenativa
explicativa.

Período composto por coordenação contendo duas orações.

e) Dorme, meu menino, dorme,


- que Deus te ensine a lição
dos que sofrerem neste mundo
violência e perseguição
Morreu Felipe dos Santos;
outros, porém, nascerão (MEIRELES, 2011b).
Tomemos os dois últimos versos para análise.
[Morreu Felipe dos Santos,] [outros, porém, nascerão.]
1 2

1) Morreu Felipe dos Santos = oração coordenada assindética.


2) outros, porém, nascerão = oração coordenada sindética adversativa.
© U2 - Orações Coordenadas 91

Período composto por coordenação contendo duas orações.


f) todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro. (MEIRELES, 2011b).
[todos pedem ouro e prata,] [e estendem punhos severos,] [mas vão sendo fabricadas
1 2 3
muitas algemas de ferro.]

1) todos pedem ouro e prata = oração coordenada assindética.


2) e estendem punhos severos = oração coordenada sindética aditiva.
3) mas vão sendo fabricadas muitas algemas de ferro = oração coordenada sindética
adversativa.

Período composto por coordenação contendo três orações.

g) [Retirem-se,] [que já deu o sinal.]


1 2

1) Retirem-se = oração coordenada assindética.


2) que já deu o sinal = oração coordenada sindética explicativa.

Observação:
Nesse período, o que vem depois de um verbo no imperativo, portanto é conjunção coordenativa
explicativa.

Período composto por coordenação contendo duas orações.


Podemos aproveitar a observação anterior para análise.

h) [Nesse período, o que vem depois de um verbo no imperativo,][portanto é conjunção


coordenativa conclusiva]. 1 2

1) Nesse período, o que vem depois de um verbo no imperativo = oração coordenada


assindética.
2) "portanto" é conjunção coordenativa conclusiva = oração coordenada sindética con-
clusiva.

Período composto por coordenação contendo duas orações.


Nesta unidade, vimos as orações coordenadas, assim como fizemos uma pequena revisão
de frase, oração e período.
Para testar o que você aprendeu, faça os exercícios seguintes e confira, depois, suas res-
postas. Esperamos que haja 100% de acerto!

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92 © Língua Portuguesa III

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Classifique as orações grifadas usando a seguinte convenção:


1) se a oração grifada for coordenada sindética ADITIVA.

2) se a oração grifada for coordenada sindética ADVERSATIVA.

3) se a oração gritada for coordenada sindética ALTERNATIVA.

4) se a oração grifada for coordenada sindética CONCLUSIVA.

5) se a oração grifada for coordenada sindética EXPLICATIVA.

1) ( ) Não reclame da vida, que há gente mais infeliz.

2) ( ) A virtude é comunicável, mas o vício é contagioso.

3) ( ) O Criador começa e a criatura acaba a criação de si própria.

4) ( ) Encontrei à porta da escola os meninos em alvoroço, e alguém nos guiou a uma casa distante.

5) ( ) Alguns peixes beliscaram o anzol, mas não vieram.

6) ( ) Na montanha alegra-se mais, porém o vale é mais abrigado.

7) ( ) Ora se esconde, ora ressurge, ora se inclina.

8) ( ) Desta vez ou tomas juízo, ou ficarás sem coisa nenhuma.

9) ( ) Não entrem agora, que a sala ainda não está arrumada.

10) ( ) Estudou muito; contudo não foi feliz nos exames.

Confira suas respostas

1) 5

2) 2

3) 1

4) 1

5) 2

6) 2

7) 3

8) 3

9) 5

10) 2
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, vimos a classificação das orações coordenadas, particularidades de algu-
mas conjunções e fizemos análise de alguns períodos compostos.
Esperamos que você tenha compreendido os conteúdos abordados e que os amplie pes-
quisando.
© U2 - Orações Coordenadas 93

Caso haja quaisquer dúvidas, entre em contato conosco.


Na Unidade 3, concentrar-nos-emos na classificação das orações subordinadas, segundo
a teoria gramatical tradicional.

9. E-REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drumonnd de. Antigamente. Disponível em: <http://intervox.ufrj.br/~jobis/carlos.htm>. Acesso em: 20 jan.
2011.
ASSIS, Machado de. O diplomático. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000256.pdf>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
LOPES NETO, João Simões. Contrabandista. Disponível em: <http://www.quemtemsedevenha.com.br/contrabandista.htm>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
MEIRELES, Cecília, Canção I. Disponível em: <http://www.visionvox.com.br/biblioteca/p/poesias.txt>. Acesso em: 20 jan. 2011a.
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Independência. Disponível em: <http://www.aulanaweb.com.br/conteudo/vestibular/ufrgs/
romanceiro_inconfidencia.htm>. Acesso em: 20 jan. 2011b.
MILLÔR FERMANDES. Novas fábulas fabulosas. Disponível em: <http://seresemitos.blogspot.com/2009/01/o-leo-fugido.html>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
RAMOS, Graciliano. O relógio do hospital. Disponível em: <http://singrandohorizontes.wordpress.com/2008/11/page/2/>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
VERÍSSIMO, Érico. Clarissa. Disponível em: <http://bibliolatras.blogspot.com/2010/08/clarissa.html>. Acesso em: 20 jan. 2011.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2004.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
HAUY, Amini Boainain. Da necessidade de uma gramática-padrão da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1983.
______. Teoria gramatical da oração: curso de especialização em língua portuguesa. Centro Universitário "Barão de Mauá".
Ribeirão Preto, 1986.
IGNÁCIO, Sebastião Expedito. Análise sintática em três dimensões: uma proposta pedagógica. 2. ed. Franca: Ribeirão Gráfica,
2003.
MIRA MATEUS, Maria Helena et al. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Medina, 1983.
ROCHA LIMA. Gramática normativa da língua portuguesa. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 20. ed. Revista e atualizada. São Paulo: Atual, 1996.
TERRA, Ernani. Minigramática. São Paulo: Scipione, 1995.
TREINAMENTO A DISTÂNCIA: lições de língua portuguesa. Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 1992.

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EAD
Orações subordinadas

1. OBJETIVOS
• Adquirir embasamentos teóricos sobre classificação de orações subordinadas.
• Identificar as conjunções subordinativas e suas particularidades.
• Reconhecer as orações subordinadas no texto.
• Analisar períodos compostos.
• Aplicar a teoria à prática de produção e interpretação de textos.

2. CONTEÚDOS
• Classificação das orações subordinadas adverbiais.
• Classificação das orações subordinadas adjetivas.
• Funções sintáticas do pronome relativo.
• Classificação das orações subordinadas substantivas.
• Análise morfossintática do conectivo.
• Casos dignos de nota.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a se-
guir:
96 © Língua Portuguesa III

1) Não pretendemos esgotar os assuntos tratados neste material, portanto não deixe de
ler as obras citadas e constantes na bibliografia.
2) Não deixe de pesquisar os assuntos tratados em todas as fontes que lhe são disponí-
veis.
3) Em pesquisa na Internet, certifique-se da “confiabilidade” do site.
4) Antes de iniciar os estudos desta unidade, pode ser interessante conhecer um pouco
da biografia do gramático, cujo pensamento norteia o estudo desta unidade. Para sa-
ber mais, acesse o site indicado.

Luiz Antonio Sacconi


É professor de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), gramático e lexicógrafo brasileiro, um
dos mais conceituados do país, autor de mais de setenta obras, entre as quais Nossa Gramática Completa Sacconi
(30.ª edição), Novíssima Gramática Ilustrada Sacconi (23.ª edição), Não erre mais! (30.ª edição), Míni Sacconi (12.ª
edição), Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa (lançamento), o primeiro dicionário comentado e crítico
da língua portuguesa; Corrija-se! de A a Z (lançamento), Gramática para todos os cursos e concursos Sacconi (2.ª
edição), Minigramática Sacconi (lançamento) e Guia Ortográfico e Ortofônico. Seu “Grande Dicionário”, depois de um
mês do seu lançamento, já era sucesso em todo o país (Texto disponível em: <http://www.skoob.com.br/autor/615>.
Acesso em: 26 jan. 2011).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, estudamos a classificação das orações coordenadas. Nesta unidade,
teremos a oportunidade de conhecer a classificação das orações subordinadas.
Vejamos um texto introdutório. Ele servirá de "aquecimento" ao que propomos.

Brasil usa pouco trabalho das abelhas–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––


FERNANDO BOND
FLORIANÓPOLIS — Se dispusessem de abelhas em número suficiente para a fecundação (polinização) dos pomares
no período de florada da primavera do ano passado, as empresas agrícolas de Santa Catarina poderiam produzir até
270 mil toneladas de maçãs na safra de 1988, entre janeiro e março. Como são poucas as colmeias, a produção —
que mesmo assim baterá novamente o recorde nacional — vai cair cerca de 30¾. Para quem pensa que as abelhas
servem apenas para produzir mel, essa informação pode ser surpreendente, mas hoje as secretarias estaduais de
agricultura, institutos de pesquisa agrícola e empresas privadas de todo o país vêm fazendo grandes investimentos
na apicultura (criação de abelhas) para aumentar a produtividade, principalmente das culturas de grãos e frutas. [...]
(JORNAL DO BRASIL. Rio de janeiro. 18 jan. 1988, 1º caderno, p. 5).
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Temos um excerto de uma reportagem. Vamos analisá-la com duas finalidades: primei-
ramente, para entendê-lo; segundo, para percebermos como o texto foi construído. Analisemos
por períodos.
Se dispusessem de abelhas em número suficiente para a fecundação (polinização) dos po-
mares no período de florada da primavera do ano passado, as empresas agrícolas de Santa
Catarina poderiam produzir até 270 mil toneladas de maçãs na safra de 1988, entre janeiro e
março.
Para facilitar a compreensão, assim como a classificação das orações, coloquemos o pe-
ríodo na ordem direta:
As empresas agrícolas de Santa Catarina poderiam produzir até 270 mil toneladas de ma-
çãs na safra de 1988, entre janeiro e março, //se dispusessem de abelhas em número suficiente
para a fecundação (polinização) dos pomares no período de florada da primavera do ano pas-
sado.
• 1ª Oração: As empresas agrícolas de Santa Catarina poderiam produzir até 270 mil to-
neladas de maçãs na safra de 1988, entre janeiro e março,
© U3 - Orações subordinadas 97

• 2ª Oração: se dispusessem de abelhas em número suficiente para a fecundação (polini-


zação) dos pomares no período de florada da primavera do ano passado.
Por esse período, podemos perceber que a produção de maçãs é dependente do número
de abelhas para a fecundação [...]. Em outras palavras, a oração introduzida pelo se (conjunção)
condiciona a realização do fato expresso na primeira oração.
Podemos notar, ainda, que as orações, sozinhas, não produzem uma ideia completa. No
caso em análise, a segunda oração, além de condicionar a realização do fato mencionado na pri-
meira, também a completa semanticamente. Temos aqui uma dependência, uma subordinação
de orações.
Prossigamos.
Como são poucas as colmeias, a produção – que mesmo assim baterá novamente o recor-
de nacional – vai cair cerca de 30¾.
Esse período é constituído de três orações:
• 1ª Oração: Como são poucas as colmeias,
• 2ª Oração: a produção vai cair cerca de 30¾, ficando em 180 mil toneladas.
• 3ª Oração: — que mesmo assim baterá novamente o recorde nacional.
A produção vai cair por algum motivo, ou causa [as colmeias são poucas].
Novamente, temos uma oração que dependente de outra. A 1ª oração (Como são poucas
as colmeias) completa o sentido da 2ª oração (a produção vai cair cerca de 30¾, ficando em 180
mil toneladas).
Na ordem direta, temos => a produção vai cair cerca de 30¾, (porque) as colmeias são
poucas.
Você percebeu que a 3ª oração [que mesmo assim baterá novamente o recorde nacional]
parece “solta" no período?
Isso está acontecendo com a 3ª oração, porque ela é apenas um comentário que o arti-
culista introduziu. O comentário é apenas uma informação enriquecedora. Ela é uma oração
interferente ou intercalada, contudo podemos analisá-la segundo o conectivo (que).
[que mesmo assim baterá novamente o recorde nacional]
Essa oração é introduzida pelo pronome relativo que. Esse pronome refere-se a um ante-
cedente (um termo da oração anterior) => a produção.
Além disso, percebemos que, se omitirmos essa oração do período, ele não sofrerá pro-
fundas modificações semânticas (Como são poucas as colmeias, a produção vai cair cerca de
30¾.), contudo, não podemos deixar de reconhecer que a oração traz ao texto mais informa-
ções. Assim, inferimos que esta oração é uma subordinada adjetiva explicativa.
O pronome relativo que, além de introduzir a oração, exerce a função sintática de sujeito
(que (a produção) mesmo assim baterá novamente o recorde nacional)
Continuemos.
Para quem pensa que as abelhas servem apenas para produzir mel, essa informação pode
ser surpreendente, mas hoje as secretarias estaduais de agricultura, institutos de pesquisa agrí-
cola e empresas privadas de todo o país vêm fazendo grandes investimentos na apicultura (cria-
ção de abelhas) para aumentar a produtividade, principalmente das culturas de grãos e frutas.

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98 © Língua Portuguesa III

Para entendermos e analisarmos este período de maneira eficiente, podemos dividi-lo em


duas partes.
1) Para quem pensa que as abelhas servem apenas para produzir mel, essa informação
pode ser surpreendente,
2) mas hoje as secretarias estaduais de agricultura, institutos de pesquisa agrícola e em-
presas privadas de todo o país vêm fazendo grandes investimentos na apicultura (cria-
ção de abelhas) para aumentar a produtividade, principalmente das culturas de grãos
e frutas.
Separemos as orações, conforme aprendemos na Unidade 2.
[Para quem pensa] [que as abelhas servem apenas] [para produzir mel,] [essa informa-
ção pode ser surpreendente,] // [mas hoje as secretarias estaduais de agricultura, institutos de
pesquisa agrícola e empresas privadas de todo o país vêm fazendo grandes investimentos na
apicultura (criação de abelhas)] [para aumentar a produtividade, principalmente das culturas
de grãos e frutas.]
Agora, coloquemos na ordem direta, para que a compreensão seja mais eficiente.
[essa informação pode ser surpreendente,] [para quem pensa] [que as abelhas servem
apenas] [para produzir mel,] // [mas hoje as secretarias estaduais de agricultura, institutos de
pesquisa agrícola e empresas privadas de todo o país vêm fazendo grandes investimentos na
apicultura (criação de abelhas)] [para aumentar a produtividade, principalmente das culturas
de grãos e frutas.]
Na primeira parte, temos uma afirmação (a surpresa da pessoa mal informada sobre a
serventia das abelhas – só produzir mel).
“essa informação pode ser surpreendente, para quem pensa que as abelhas servem ape-
nas para produzir mel”
O fragmento “essa informação pode ser surpreendente” é uma oração semanticamente
incompleta. Assim, ela precisa de um complemento. Além disso, o que ela informa não se aplica
a todas as pessoas, há uma restrição: “para quem pensa”
Todos nós pensamos, mas no caso em tela, “essa informação pode ser surpreendente” à
pessoa que pensa isto => que as abelhas servem apenas (para produzir mel)”.
Como vimos na Unidade 1 desta etapa de estudos da Língua Portuguesa, segundo a teoria
gramatical tradicional, o verbo “pensar” pede um complemento (objeto direto) => serventia
das abelhas => “que as abelhas servem apenas”. Essa oração desempenha a função sintática de
objeto direto do verbo “pensar”.
Ainda, a serventia tem uma finalidade => “para produzir mel”
Na segunda parte, há uma oposição ao exposto na primeira parte (mas hoje as secretarias
estaduais de agricultura, institutos de pesquisa agrícola e empresas privadas de todo o país vêm
fazendo grandes investimentos na apicultura [para aumentar a produtividade, principalmente
das culturas de grãos e frutas]). Em outras palavras, secretarias estaduais de agricultura, insti-
tutos de pesquisa agrícola e empresas privadas de todo o país não "pensam" que as abelhas
servem apenas para produzir mel, tanto que vêm fazendo grandes investimentos na apicultura.
Você que já estudou as orações coordenadas pode compreender o papel desempenhado
pela conjunção “mas”, que é a introdução de oração coordenada sindética adversativa. A oração
coordenada adversativa exprime uma oposição, contraste, ideia contrária à da outra oração,
geralmente, a oração que a antecedente. Ela relaciona pensamentos contrastantes. Estabelece
uma oposição ao que foi afirmado na oração anterior.
© U3 - Orações subordinadas 99

Prosseguindo na análise, podemos observar, ainda, que os investimentos têm uma finali-
dade (que não é somente a produção de mel): para aumentar a produtividade, principalmente
das culturas de grãos e frutas. Mais uma vez, uma oração subordinada, ou seja, oração que
completa o sentido de outra. No caso em estudo, a finalidade dos grandes investimentos das
“secretarias estaduais de agricultura, institutos de pesquisa agrícola e empresas privadas de
todo o país”.
Feitas essas observações sobre a tecedura do excerto da reportagem, podemos passar
para a teoria, porque você, ao ler o que for exposto daqui para frente, poderá perceber relações
que comentamos na análise do texto.
Na análise, empregamos a palavra subordinada. Acreditamos que você sabe o seu signifi-
cado, entretanto, a título de reforço, dizemos que subordinação é o estabelecimento, em ordem
de dependência, do inferior ao superior, ou do que é dominado ao que domina.
Aplicando a definição às orações subordinadas, podemos dizer que elas são dependentes
porque exercem função sintática em outra oração.
Explicando melhor, em um período composto por subordinação, a oração principal pede
uma oração subordinada que a complete. As orações subordinadas exercem, então, função sin-
tática nas orações subordinantes. Assim podemos afirmar que as orações subordinadas são de-
pendentes da oração principal do período.
Para que você entenda melhor o processo de dependência, observe o exemplo seguinte:
"Não sei se disse que isso se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé
de si, para andar atrás dela" (MACHADO DE ASSIS. Contos. 18. ed. São Paulo: Ática, 1994, p. 89).
Façamos uma análise superficial desse período.
[Não sei][se disse] [que isso se passava em casa de uma baronesa,] [que tinha a modista
1 2 3 4
ao pé de si,] [para não andar atrás dela.]
5
1) Não sei
2) se disse
3) que isso se passava em casa de uma baronesa,
4) que tinha a modista ao pé de si,
5) para não andar atrás dela.

Pela disposição, podemos observar a seguinte ordem de dependência:


a) a primeira oração (Não sei) é incompleta: Não sei (?). Não possui conectivo, é a oração
principal;
b) a segunda oração completa a primeira: Não sei (o quê?) => se disse. Essa oração é
introduzida por uma conjunção subordinativa integrante (se).
c) a segunda oração também é incompleta: se disse (o quê?)
d) a terceira oração completa a segunda: se disse => que isso se passava em casa da ba-
ronesa. Ela é introduzida por uma conjunção subordinativa integrante (que).
e) a quarta oração refere-se à baronesa, a oração acrescenta-lhe uma explicação. Ela é
introduzida por um pronome relativo que = baronesa (a baronesa tinha uma modista
ao pé de si)

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100 © Língua Portuguesa III

f) A quinta oração acrescenta à quarta a ideia de finalidade (de a baronesa ter uma
modista ao pé de si). Ela é introduzida por uma conjunção subordinativa final (para):

A baronesa tinha [uma modista ao pé de si] para andar atrás dela.

Pela ilustração anterior, notamos que o período composto por subordinação contém mais
de uma oração, as quais são, intimamente, relacionadas entre si.
As orações subordinadas subdividem-se em:
• adverbiais
• adjetivas e
• substantivas.
Vejamos, no próximo tópico, cada uma delas.

5. ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS


Sintaticamente, as orações subordinadas adverbiais correspondem a adjuntos adverbiais
e são introduzidas por conjunções subordinativas adverbiais (exceto as integrantes) ou por locu-
ções conjuncionais. Elas são divididas segundo a circunstância que acrescentam à oração prin-
cipal.
Observe.
Maria chegou tarde.

advérbio

Maria chegou à tarde.

locução adverbial

Maria chegou quando entardecia.

oração subordinada adverbial

Maria chegou ao entardecer.

oração reduzida de infinitivo subordinada adverbial

O modo da oração principal é, fundamentalmente, o indicativo e o modo da oração subor-


dinada é, principalmente, o subjuntivo.
Vejamos os tipos de orações subordinadas adverbiais.

Causais
Funcionam como adjuntos adverbiais de causa (motivo, razão). Dizem respeito ao fato
que determina o acontecimento relatado na oração principal. Ou seja, exprimem causa, motivo,
razão da realização ou não de um fato expresso na oração principal. Elas são introduzidas por
conjunções ou locuções conjuncionais subordinativas adverbiais causais.
© U3 - Orações subordinadas 101

São conjunções e/ou locuções conjuncionais subordinativas adverbiais causais: como,


porque, porquanto, já que, visto que, uma vez que, que...
Confira.
a) Não fomos ao cinema, porque chovia muito.
Não fomos ao cinema = um acontecimento.
porque chovia muito = é a causa, o motivo da não ida ao cinema.
b) Já que você não estudou, não lhe aplicarei o teste.

causa da não aplicação do teste consequência de não ter estudado
- oração subordinada adverbial - oração principal -
causal -

Muitas vezes, encontram-se dificuldades de distinguir a oração coordenada sindética ex-


plicativa da oração subordinada adverbial causal.
Em caso de dúvida, podemos lançar mão de certos métodos distintivos.
Vejamos alguns deles.
1) O "porque" é uma conjunção coordenativa explicativa, quando fica na oração da con-
sequência.
O "porque" é uma conjunção subordinativa causal, quando fica na oração da causa.
a) Eles não chegaram, porque não ouvi o barulho do carro.
Para começarmos a analisar o exemplo supracitado, podemos partir do princípio de que a
causa antecede a consequência. Assim, a causa acontecerá primeiro, depois, virá a consequên-
cia. Pois bem, voltemos ao exemplo.
Eles não chegaram, porque não ouvi o barulho do carro.
Analisando a sequência dos acontecimentos: primeiro deve acontecer a chegada (causa),
o barulho do carro é consequência da chegada.
Seguindo essa linha de raciocínio, o "porque" do exemplo em exame está na oração da
consequência, sendo, portanto, uma oração coordenada sindética explicativa.
Podemos mudar a estrutura do exemplo em exame.
a.1) Não ouvi o barulho do carro, porque eles não chegaram.
Constatamos que a conjunção porque está na oração que dá causa ao fato de não se ter
ouvido o barulho do carro (eles não chegaram), por isso ela é uma conjunção subordinativa
adverbial causal. Portanto, a oração "porque eles não chegaram", é uma oração subordinada
adverbial causal.
2) Muitas vezes, a oração que antecede a oração coordenada explicativa tem o verbo no
modo imperativo.
Façam silêncio, porque o bebê está dormindo.

imperativo afirmativo
3) A oração subordinada adverbial causal pode ser colocada no início do período, in-
troduzida pela conjunção como; o mesmo não acontece com a coordenada sindética
explicativa.

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102 © Língua Portuguesa III

Observe.
Não fiz o exercício, porque não entendi a explicação.
Como não entendi a explicação, não fiz o exercício.
Você se lembra do texto analisado?
Como são poucas as colmeias, a produção [...] vai cair cerca de 30¾. (JORNAL DO BRASIL.
Rio de janeiro. 18 jan. 1988, 1º caderno, p. 5, grifo nosso).
Reescrevendo: a produção vai cair cerca de 30¾, porque as colmeias são poucas.
Ressaltamos que a oração subordinada adverbial causal, quando introduzida por como,
fica, obrigatoriamente, antes da principal.
Confira.
a) Como era surdo, não ouviu o alarme.
a.1) (?) Não ouviu o alarme, como era surdo.
a.2) Não ouviu o alarme, porque era surdo.
Podemos expor mais um tipo de oração subordinada adverbial?
Vejamos as orações subordinadas adverbiais condicionais.

Condicionais
As orações subordinadas adverbiais condicionais funcionam como adjuntos adverbiais de
condição, exprimindo hipótese. Expressam as circunstâncias para a realização ou não da ação do
verbo da oração principal.
Como todas as orações subordinadas, são iniciadas por conjunção ou locução conjuncional
subordinativa adverbial condicional. As principais conjunções (e/ou locuções conjuncionais)
subordinativas adverbiais condicionais são: se (= caso), caso, contanto que, desde que, a menos
que, salvo, exceto se, dado que, uma vez que, sem que, exceto se...
Voltando ao texto analisado:
Se dispusessem de abelhas em número suficiente para a fecundação (polinização) dos pomares no
período de florada da primavera do ano passado, as empresas agrícolas de Santa Catarina poderiam
produzir até 270 mil toneladas de maçãs na safra de 1988, entre janeiro e março (JORNAL DO BRASIL,
1988, p. 5, grifo nosso).

É normal que uma regra tenha exceção, assim,


Às vezes a oração condicional aparece justaposta, sem conectivo. A conjunção se às vezes aparenta-se
com valor aproximado de visto que, transmitindo idéia de causa à oração que funciona como base ou
ponto de partida de um raciocínio. Exemplo: Se no inverno a sala já era quente, no verão torna-se uma
fornalha (CEGALLA, 1984, p. 343).

Vejamos mais alguns exemplos de orações subordinadas adverbiais condicionais.


a) Os alunos irão ao parque, exceto se os pais não permitirem.
Os alunos irão ao parque = acontecimento a ser realizado.
exceto se os pais não permitirem = fato ou hipótese que poderá obstar a ida dos alu-
nos ao parque.

b) Patrícia poderá usar esta fantasia, contanto que ela emagreça.


Patrícia poderá usar esta fantasia = acontecimento a ser realizado.
contanto que ela emagreça = a condição de que depende a realização do fato expresso
na oração anterior.
© U3 - Orações subordinadas 103

c) Você terá promoção, desde que seja merecedor.

A promoção (fato expresso na oração principal) está condicionada ao merecimento.

d) “Se dispusessem de abelhas em número suficiente para a fecundação (polinização)


dos pomares no período de florada da primavera do ano passado, as empresas agrí-
colas de Santa Catarina poderiam produzir até 270 mil toneladas de maçãs na safra de
1988, entre janeiro e março”(JORNAL DO BRASIL, 1988, p. 5, grifo nosso).
A produção de maçãs está condicionada ao número de abelhas para a polinização.
Vejamos, agora, as orações subordinadas adverbiais concessivas.

Concessivas
As orações subordinadas adverbiais concessivas funcionam como adjuntos adverbiais de
concessão. Expressam a possibilidade de uma circunstância ou ideia contrária, que não obsta a
realização do fato manifesto na oração principal. Há uma oposição ao fato da oração principal.
Em outras palavras, há uma expressão concessiva, quando se admite a existência de um obs-
táculo à realização de determinado fato, entretanto, o obstáculo não impede a sua realização.
Há dois momentos na concessão:
• existência de um obstáculo hipotético ou condicional;
• negação da eficácia do obstáculo, chamado opositivo.
A concessão é o oposto da causa, porque dá razão contrária à realização principal. Enquan-
to a oração subordinada adverbial causal expressa o motivo da efetivação do fato declarado
na oração principal, a oração subordinada adverbial concessiva nega a causa, embora não seja
obstáculo suficiente à realização do fato contido na oração principal.
Apesar da oposição entre a oração causal e a concessiva, podemos perceber que somente
a semântica é capaz de distingui-las, quando iniciadas pela conjunção posto que.
Observe.
a) Posto que tenha estudado muito, passou no concurso.
b) Posto que não tenha estudado muito, passou no concurso.
No exemplo a, temos uma oração subordinada adverbial causal – o fato de ter estudado
muito foi a causa da aprovação no concurso, isto é, a aprovação no concurso foi consequência
do estudo. Por outro lado, em b, temos uma oração subordinada adverbial concessiva – o fato
de não ter estudado muito não impediu a aprovação no concurso. Ou seja, não ter estudado
muito não foi obstáculo à realização do fato contido na oração principal (passar no concurso).
As orações subordinadas adverbiais concessivas são iniciadas por conjunções ou por locu-
ções conjuncionais subordinativas adverbiais concessivas.
São as principais conjunções e/ou locuções conjuncionais subordinativas adverbiais con-
cessivas: embora, conquanto, ainda que, mesmo que, inobstante, não obstante, apesar de que,
se bem que, posto que, em que pese, sem que...
Ilustremos.
a) Os alunos saíram da sala, apesar de não ter terminado a prova.
Os alunos saíram da sala = fato acontecido

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104 © Língua Portuguesa III

apesar de não ter terminado a prova = via de regra, os alunos só saem da sala depois
de terminada a prova. No caso em exame, o não término da prova não impediu a saída
dos alunos.
b) Ele apresentou sua defesa, não obstante fosse inoportuna.
Comentando o exemplo supracitado: a defesa deve ser apresentada na hora certa (opor-
tuna), entretanto a inoportunidade expressa na oração subordinada não impediu que a defesa
fosse apresentada.
A título de complementação, chamamos a atenção para o fato de que tanto a oração su-
bordinada adverbial concessiva, quanto a oração coordenada adversativa exprimem concessão.
No primeiro caso, a objeção é expressa pela oração subordinada concessiva, que equivale a um
advérbio de concessão. No segundo caso, a objeção está na oração coordenada assindética e o
fato a que essa objeção se opõe está contido na oração coordenada sindética adversativa.
Observe os exemplos seguintes.
a) Embora Lucas seja muito perspicaz, ele foi infeliz em sua justificativa.
b) Lucas é muito perspicaz, contudo foi infeliz em sua justificativa.
No exemplo a, a perspicácia de Lucas não impediu que ele fosse infeliz em sua justificativa.
Temos, portanto, uma oração subordinada adverbial concessiva.
No exemplo b, a infelicidade na justificativa contraria as expectativas advindas do que se
afirma na oração assindética.
Agora, mais um tipo de oração subordinada adverbial.

Conformativas
As conformativas funcionam como adjuntos adverbiais de conformidade. Denotam ade-
quação, ou não contradição com o fato expresso na oração principal. Expressam acordo, confor-
midade de um fato com outro.
São as conjunções subordinativas adverbiais conformativas (como, conforme, consoante,
segundo...) que as introduzem.
Exemplificando.
a) Fizemos o trabalho, conforme nos foi determinado.
Fizemos o trabalho = fato acontecido.
conforme nos foi determinado = o fato aconteceu dentro dos parâmetros preestabe-
lecidos.

b) Segundo me disseram, eles não conheciam o caminho.


A informação contida na oração principal (eles não conheciam o caminho) foi transmitida
em conformidade com o que o locutor (eu) houvera recebido (eles disseram).
Não podemos deixar de mencionar que a oração subordinada adverbial conformativa é
introduzida por como, quando equivaler a conforme.
Voltemos a um exemplo já visto.
a) Fizemos o trabalho, conforme nos foi determinado.
a.1) Fizemos o trabalho, como nos foi determinado.
Vamos refletir?
Leia o fragmento seguinte e encontre duas orações subordinadas adverbiais conformativas.
© U3 - Orações subordinadas 105

Kaíto tomou um susto com aquela revelação do velho Tamãi. Arregalou os olhos, quis dizer qualquer
coisa e não conseguiu.
— Você teve pena do Nanaí, está certo, Kaíto — comentou o velho. — Mas, como disse, com coisa
encantada ninguém mexe, principalmente se a pessoa age de má fé. A gente tem que respeitar o mis-
tério. Não adianta querer modificar o que não se conhece. Nanaí foi curioso demais e trapaceiro. E não
respeitou os segredos mais fundos da floresta. Como falei, tudo que existe é a ponta de um mistério
(ASSIS BRASIL, 1985, p. 19-20).

Esperamos que você tenha encontrado:


Mas, como disse, com coisa encantada ninguém mexe...
Como falei, tudo que existe é a ponta de um mistério (grifos nossos).
Dando prosseguimento aos nossos estudos, vejamos as orações subordinadas adverbiais
comparativas.

Comparativas
As orações subordinadas adverbiais comparativas funcionam como adjuntos adverbiais
de comparação. Representam o segundo termo da comparação. As orações subordinadas ad-
verbiais comparativas expressam diferenças ou semelhanças do que é contido na oração princi-
pal. Podem aparecer com o verbo elíptico ou subentendido.
São conjunções subordinativas adverbiais comparativas: (mais)... que, (menos)... que,
(tão)... quanto, como, do que, assim como, tal qual...
Observe, no Quadro 1, o esquema dos períodos.
Quadro 1 Esquema dos períodos.
INICIA A ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL
ENCONTRA-SE NA ORAÇÃO ANTERIOR (PRINCIPAL)
COMPARATIVA
mais
[que...
menos
tão [quanto...

tanto [como...
Exemplificando:
a) Carlos era mais inteligente que Saulo.
Carlos era mais inteligente [que Saulo (era inteligente)].
b) Carlos era menos inteligente que Saulo.
Carlos era menos inteligente [que Saulo (era)].
c) Carlos era tão inteligente quanto Saulo.
Carlos era tão inteligente [quanto Saulo (era)].
d) Carlos era tanto inteligente como esperto.
Carlos era tanto inteligente [como (era) esperto].
e) Meu cachorro uiva tal qual um lobo.
[Meu cachorro uiva] [tal qual (uiva) um lobo].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial comparativa
f) Aqui neva como na Europa.
Aqui neva] [como (neva) na Europa].
Aqui neva = fato que acontece aqui

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106 © Língua Portuguesa III

como (neva) na Europa = o fato que acontece aqui é similar ao que acontece na Eu-
ropa.
Exemplifiquemos, agora, os tipos de realização das orações subordinadas comparativas.
• Com verbo expresso:
Eles se repelem como se repelem polos opostos.
[Eles se repelem] [como se repelem polos opostos].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial comparativa

• Com verbo subentendido:


Eles repelem-se como polos opostos.
Eles repelem-se [como polos opostos.] = como polos opostos (se repelem).
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial comparativa

• Na comparativa hipotética, emprega-se a locução como se:


Todos ficaram atônitos, como se não esperassem tal resposta.
[Todos ficaram atônitos,] [como se não esperassem tal resposta.]
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial comparativa

No exemplo anterior, hipoteticamente, a resposta não era esperada.


Passemos à classificação das orações subordinadas adverbiais consecutivas.

Consecutivas
As orações subordinada adverbiais consecutivas funcionam como adjuntos adverbiais de
consequência. Dizem respeito ao resultado ou ao efeito da ação manifestada na oração princi-
pal. Ou seja, elas denotam que a consequência se deve ao modo pelo qual é praticada a ação do
verbo da oração principal.
São as conjunções e/ou locuções conjuncionais subordinativas adverbiais consecutivas
que as introduzem no período. Entre elas, podemos citar: que, de modo que, de sorte que, de
maneira que, de forma que, que (precedido de tão, tal, tanto, tamanho)...
Quadro 2 Esquema dos períodos.
INICIA A ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL
ENCONTRA-SE NA ORAÇÃO ANTERIOR (PRINCIPAL)
CONSECUTIVA
tal
tanto
[que...
tamanho
tão
Confira.
© U3 - Orações subordinadas 107

a) A confusão era tal que todos se perderam.


[A confusão era tal] [que todos se perderam].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial consecutiva
b) O menino gritou tanto que ficou rouco.
[O menino gritou tanto] [que ficou rouco].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial consecutiva

c) A algazarra era tamanha que não se ouvia o professor].


[A algazarra era tamanha] [que não se ouvia o professor].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial consecutiva

d) Ele é tão alto, que não necessita de escada.


[Ele é tão alto,] [que não necessita de escada].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial consecutiva

e) “Tamanho foi o seu enlevo, que não viu chegar a patroa” (LOBATO, 2011).
[Tamanho foi o seu enlevo,] [que não viu chegar a patroa].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial consecutiva

Parece que as pessoas recebem tanta informação, especialmente de fora da escola, que
ao fim nada de importante cabe na memória de cada um (LAURIA, 2011, grifos nossos).
Podemos testar juntos nossos conhecimentos?
Leiamos o excerto a seguir e encontremos a oração subordinada adverbial consecutiva e a
principal. Façamos a separação das orações dando-lhes a respectiva classificação.
“A sucuri mergulhou macia, tão sonsa que nem meia borbolha se abriu no espelho azul-
-escuro do lagoão, rente ao bar­ro do fundo, veio vindo, veio vindo, sempre do lado cego do boi,
até o ponto certo do bote. E adeus, boi vermelho-churriado, boi de guia sestroso, carreiro de
estimação!” (PALMÉRIO, 2011).
Veja se sua resposta ficou igual à minha.
[A sucuri mergulhou macia tão sonsa] [que nem meia borbolha se abriu no espelho azul-
-escuro do lagoão...] ↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial consecutiva

Passemos às orações subordinadas adverbiais finais.

Finais
As orações subordinada adverbiais finais funcionam como adjuntos adverbiais de fina-
lidade. As orações subordinadas adverbiais finais indicam o fim, o objetivo ou destinação do

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108 © Língua Portuguesa III

fato enunciado na oração principal. São unidas à oração principal por conjunções e/ou locuções
conjuncionais subordinativas adverbiais finais.
São conjunções e/ou locuções conjuncionais subordinativas adverbiais finais: para que, a
fim de que, porque, para, com a finalidade de...
Observe.
a) A fim de obter um bom resultado, ela se esforçou muito.
[A fim de obter um bom resultado,] [ela se esforçou muito.]
↓ ↓
oração subordinada adverbial final oração principal

b) O rapaz permaneceu calado, para não causar mal-entendidos.


[O rapaz permaneceu calado,] [para não causar mal-entendidos]
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial final

Você se lembra do texto que estudamos no início desta unidade? Lá encontramos uma
oração subordinada adverbial final.
[...] hoje as secretarias estaduais de agricultura, institutos de pesquisa agrícola e empresas
privadas de todo o país vêm fazendo grandes investimentos na apicultura (criação de abelhas)
para aumentar a produtividade, principalmente das culturas de grãos e frutas (JORNAL DO BRA-
SIL, 1988, p. 5, grifos nossos).
Façamos juntos uma reflexão.
No excerto seguinte, há três orações subordinadas adverbiais finais. Vamos encontrá-las
e sublinhá-las.
Durante as invasões holandesas, muitas famílias abandonaram suas fazendas e engenhos, a fim de não
caírem nas mãos dos batavos. Aproveitando-se dessa situação, os negros escravos fugiram para as flo-
restas, onde se formaram grandes núcleos de foragidos, chamados quilombos.
[...]
Foram enviadas pelo governo várias expedições para destruir os quilombos. Mas todas foram infrutífe-
ras, inclusive as de Manuel Lopes Galvão e Fernão Carrilho. Durante 50 anos, os habitantes de Palmares
resistiram aos ataques dos brancos.
Resolveu, então, o governo de Pernambuco contratar Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista, para
destruir o reduto dos negros. Depois de três anos de luta à frente de um exército de mil homens, Do-
mingos Jorge Velho conseguiu aniquilar a capital fortificada dos Palmares (SANTOS, 1975, p. 53-54).

Compare suas respostas com as minhas.


1) [...] a fim de não caírem nas mãos dos batavos.
2) [...] para destruir os quilombos.
3) [...] para destruir o reduto dos negros.
Mais um tipo de oração subordinada adverbial.

Temporais
As orações subordinada adverbiais temporais funcionam como adjuntos adverbiais de
tempo. Expressam circunstância de tempo em que ocorreu o fato relatado na oração principal.
Por ter equivalência a um adjunto adverbial de tempo, poderá exprimir: anterioridade, posterio-
ridade, repetição periódica, simultaneidade, término.
© U3 - Orações subordinadas 109

São introduzidas por locuções conjuncionais e/ou conjunções subordinativas adverbiais


temporais. Entre elas, temos: quando, antes que, depois que, até que, enquanto, sempre que,
assim que, desde que, logo que, mal, tão logo...
Verifique.
a) Quando ele chegou, eu houvera saído.
[Quando ele chegou,] [eu houvera saído.]
↓ ↓
oração subordinada adverbial oração principal
temporal

b) O cachorro uivava, sempre que ouvia a música.
[O cachorro uivava,] [sempre que ouvia a música.]
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial temporal
c) Sempre que vejo gérberas, lembro-me de minha mãe.
[Sempre que vejo gérberas,] [lembro-me de minha mãe.]
↓ ↓
oração subordinada adverbial oração principal
temporal

Não faltam muitos tipos a serem vistos, vamos a mais um deles.

Proporcionais
As orações subordinadas adverbiais proporcionais funcionam como adjuntos adverbiais
de proporção. Essas orações exprimem relação existente entre dois elementos, de maneira que
a alteração em um deles implica alteração no outro também, isto é, expressam uma relação de
proporcionalidade com o verbo da oração principal.
São as conjunções e/ou locuções conjuncionais subordinativas adverbiais proporcionais
que as unem à oração principal. Entre outras, temos: à proporção que, à medida que, tanto
mais, ao passo que, enquanto, quanto...
Exemplos:
a) As dificuldades diminuíam, à proporção que o dinheiro ia chegando.
[As dificuldades diminuíam,] [à proporção que o dinheiro ia chegando].
↓ ↓
oração principal oração subordinada adverbial proporcional

b) À medida que a hora se aproximava, aumentava minha ansiedade.


[À medida que a hora se aproximava,] [aumentava minha ansiedade.]
↓ ↓
oração subordinada adverbial proporcional oração principal

A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) não contempla as orações subordinadas ad-


verbiais locativas (iniciadas por onde) e as modais, entretanto, cumpre-nos assinalá-las.
Vejamo-las.

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110 © Língua Portuguesa III

Modais
Exprimem a função de adjunto adverbial de modo; o modo, a maneira, o meio pelo qual
se dá o fato expresso na oração principal. Via de regra, são orações reduzidas.
Veja:
a) O aluno entrou na sala de aula sem pedir licença.
[O aluno entrou na sala de aula] [sem pedir licença].
1 2
1) O aluno entrou na sala de aula = relata um acontecimento.
2) sem pedir licença = foi o modo como o aluno entrou na sala de aula.

a) O ladrão entrou na casa sem que ninguém visse.


[O ladrão entrou na casa] [sem que ninguém visse].
1 2
1) O ladrão entrou na casa = oração principal;
2) sem que ninguém visse = oração subordinada adverbial modal.

Locativas
As Locativas equivalem a um adjunto adverbial de lugar, são introduzidas pelos advérbios
onde e aonde.
a) Enterraram o tesouro onde ninguém poderia encontrar.
[Enterraram o tesouro] [onde ninguém poderia encontrar].
1 2
1) Enterraram o tesouro => oração principal;
2) onde ninguém poderia encontrar => oração subordinada adverbial locativa.

b) Aonde ele foi, só Deus sabe.


[Aonde ele foi,] [só Deus sabe].
2 1
1) aonde ele foi => oração subordinada adverbial locativa.
2) Só Deus sabe => oração principal.

OBSERVAÇÃO:
Recomendamos que você reveja o uso de onde (com verbos estativos) e aonde (com verbos de
movimento). Você encontrará em Sacconi, 1996, p. 50 ou em qualquer outra gramática.

6. CASOS DIGNOS DE NOTA


No texto, nem tudo fica expresso na estrutura de superfície. Para analisá-lo e compreendê-
lo, é necessário que verifiquemos o que subjaz a ele. Observe alguns casos.

Supressão do verbo na oração


Observe.
© U3 - Orações subordinadas 111

Luciano age como idiota, para ser notado.

Luciano age [como um idiota,] para ser notado.



1 2 3
Luciano age =
a) oração principal em relação à oração subordinada adverbial comparativa;
b) oração principal em relação à oração subordinada adverbial final.
1) como um idiota = oração subordinada adverbial comparativa;
2) para ser notado = oração subordinada adverbial final;
3) no exemplo, temos um período composto por subordinação.

Em “Luciano age como idiota, para ser notado”, houve a elipse do verbo "agir" na segunda
oração: "Luciano age // como (age) um idiota". Essa é a razão de o período conter três orações,
embora haja apenas dois verbos expressos. Em Estilística, a supressão de palavra referida em
outra oração é considerada "figura de linguagem", é chamada "zeugma".

Possibilidade de análise em nível profundo e em nível de superfície


Em orações coordenadas alternativas, se analisamos alguns períodos em nível profundo,
podemos perceber uma classificação diferente.
Veja.
Ou você estuda ou não será aprovado no teste.
Normalmente, classificamos essas orações como coordenadas sindéticas alternativas.
Entretanto, podemos assim traduzi-las:
Se você não estuda, não será aprovado no teste.
Se assim as percebermos, teremos subordinação.
não será aprovado no teste = oração principal
se você não estuda = oração subordinada adverbial condicional
Já que a gramática tradicional trabalha com realizações de superfície, respeitemo-la.
Terminamos a classificação das orações subordinadas adverbiais e passaremos às orações
subordinadas adjetivas, antes, porém, faça os exercícios propostos, assim você poderá perceber
o quanto assimilou do que foi até aqui exposto.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Classifique as orações subordinadas adverbiais existentes nos períodos seguintes. Vale
ressaltar que os períodos não são de nossa autoria, foram coletados, a esmo, de diversos autores.
a) Conquanto seu olhar fosse muitas vezes meigo e bom, tinha lampejos sinistros.
b) Essas palavras foram ditas com tal amargura que me comoveram.
c) Possuo uma fortuna redonda que pretendo deixar aos meus dois filhos, se eles forem dignos de mim e da
minha fortuna.
d) A arte está para a psicologia como o instinto para a inteligência.
e) A razão dos filósofos é muitas vezes tão extravagante como a imaginação dos poetas.
f) Mesmo que ele levasse consigo todo um rebanho de elefantes, eles não chegariam a dar cabo de um único
baobá.
g) O público não se interessa mais pelos seus números, porque o senhor, hoje, é um velho.

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112 © Língua Portuguesa III

h) A galga salva por Tito afeiçoou-se-lhe tanto que nunca mais o deixou.
i) Se tentasse contar-lhes a minha meninice, precisava mentir.
j) Logo que a barca tomou este caminho, Gaspar aproximou-se do desconhecido.
k) Aproxima-te, para que eu te veja melhor.
l) À medida que avançavam, a tarefa se ia tornando mais penosa.
m) Quando me faltavam estas qualidades, a consideração era maior.
n) Com certeza a sala não era vasta, como presumi.
o) De repente o séquito parou para que as virgens avançassem.
p) A saudade crescia consoante a ausência e o desprezo do marido aumentavam.
q) Apenas se viu dentro daquele recinto, ficou imóvel.

OBSERVAÇÃO:
Às vezes, usamos palavras imaginando que são do conhecimento do aluno. Infelizmente, nem sempre
acertamos. Assim, sugerimos que, se você encontrar uma palavra que lhe é desconhecida, procure-a
no dicionário. Isso não só lhe enriquecerá o vocabulário, como também lhe dará oportunidade de
melhorar a interpretação. Não se esqueça, entretanto, de que o significado que você encontra no
dicionário é o denotativo. Se o emprego for conotativo, terá que entender pelo contexto, pela situação,
ambiência em que a palavra foi empregada.

Confira suas respostas.


a) Conquanto seu olhar fosse muitas vezes meigo e bom... = oração subordinada adverbial concessiva.
b) ... que me comoveram = oração subordinada adverbial consecutiva.
c) ... se eles forem dignos de mim e da minha fortuna. = oração subordinada adverbial
condicional.
d) ... como o instinto para a inteligência. = oração subordinada adverbial comparativa.
e) ... como a imaginação dos poetas. = oração subordinada adverbial comparativa.
f) Mesmo que ele levasse consigo todo um rebanho de elefantes ... = oração subordinada adverbial concessiva.
g) ... porque o senhor, hoje, é um velho. = oração subordinada adverbial causal.
h) ... que nunca mais o deixou. = oração subordinada adverbial consecutiva.
i) Se tentasse contar-lhes a minha meninice... = oração subordinada adverbial condicional.
j) Logo que a barca tomou este caminho... = oração subordinada adverbial temporal.
k) ... para que eu te veja melhor. = oração subordinada adverbial final.
l) À medida que avançavam... = oração subordinada adverbial proporcional.
m) Quando me faltavam estas qualidades... = oração subordinada adverbial temporal.
n) ... como presumi. = oração subordinada adverbial conformativa.
o) ... para que as virgens avançassem. = oração subordinada adverbial final.
p) ... consoante a ausência e o desprezo do marido aumentavam. = oração subordinada adverbial conformativa.
q) Apenas se viu dentro daquele recinto... = oração subordinada adverbial temporal.
Passemos ao estudo das orações subordinadas adjetivas.

7. ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS


Antes de tratarmos das orações subordinadas adjetivas, vejamos um poema de Manuel
Bandeira.

Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam box
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma
Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
— “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um
pedaço de banana para eu acender o charuto. Naturalmente o
menino pensará: papai está malu...”
© U3 - Orações subordinadas 113

Outros, coitados, têm a língua atada.


Todos porém sabem mexer nos cordéis com o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heróicos da meninice...
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância (BANDEIRA, 2011).

Tomemos as orações seguintes:


Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam box
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma

O poeta inicia o poema rogando bênção ao camelô – em geral – dos brinquedos de tostão,
em seguida, passa a especificar cada um deles.
Veja.
(Abençoado seja) o (= aquele → camelô) que vende balõezinhos de cor
(Abençoado seja o camelô que vende) o macaquinho que trepa no coqueiro
(Abençoado seja o camelô que vende) o cachorrinho que bate com o rabo
(Abençoado seja o camelô que vende) os homenzinhos que jogam box
(Abençoado seja o camelô que vende) a perereca verde que de repente dá um pulo que
engraçado
E (abençoado seja o camelô que vende) as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa
alguma
Observe que em todas as orações encontramos o que (embora não esteja expresso em
todas elas no poema). Este que é um pronome relativo. Como todo pronome, é usado no lugar
de um nome. No trecho em exame, o que corresponde a camelô.
Na oração, o pronome relativo exerce diversas funções:
• conectivo – introduz oração;
• equivale a uma palavra da oração antecedente;
• exerce uma função sintática na oração em que se encontra.
Como devemos, então, entender o que diz Manuel Bandeira?
Voltemos a cada um dos períodos em que encontramos o que, para vermos como inter-
pretá-lo.
O que vende balõezinhos de cor?
(Abençoado seja) o (camelô) que vende balõezinhos de cor.
Este que, além de conectivo, isto é, além de introduzir uma oração, equivale a camelô →
Abençoado seja o (aquele) que vende balõezinhos de cor - camelô foi substituído pelo pronome
demonstrativo o.
Reescrevendo o período:
1) Abençoado seja o camelô [que vende balõezinhos de cor].
Nessa oração, o que (= o camelô) exerce a função sintática de sujeito.

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114 © Língua Portuguesa III

O camelô vende balõezinhos de cor.



sujeito
Podemos aplicar o mesmo procedimento às outras orações.
2) (Abençoado seja o camelô que vende) o macaquinho [que trepa no coqueiro]
que trepa no coqueiro
Funções sintáticas do que:
• conectivo – inicia oração;
• equivale a macaquinho;
• sujeito de trepa no coqueiro (o macaquinho trepa no coqueiro).

3) (Abençoado seja o camelô que vende) o cachorrinho [que bate com o rabo].
o cachorrinho que bate com o rabo
Funções sintáticas do que:
• conectivo – inicia oração;
• equivale a cachorrinho;
• sujeito de bate com o rabo (o cachorinho bate com o rabo).

4) (Abençoado seja o camelô que vende) os homenzinhos que jogam box.


os homenzinhos que jogam box
Funções sintáticas do que:
• conectivo – inicia oração;
• equivale a homenzinhos;
• sujeito de jogam box (os homenzinhos jogam box).

5) (Abençoado seja o camelô que vende) a perereca verde que de repente dá um pulo
que engraçado.
a perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
Funções sintáticas do que:
• conectivo – inicia oração;
• equivale a perereca verde;
• sujeito de dá um pulo (a perereca verde de repente dá um pulo);
• que engraçado é um comentário que Manuel Bandeira faz do pulo da perereca. É uma
oração interferente, que será estudada na próxima unidade, mas você poderá anteci-
par seus conhecimentos.

E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.


E (abençoado seja o camelô que vende) as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coi-
sa alguma.
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma
© U3 - Orações subordinadas 115

No caso em exame, encontramos um e, que junta um período a outro:


(Abençoado seja o camelô que vende) a perereca verde que de repente dá um pulo – que
engraçado – e (abençoado seja o camelô que vende) as canetinhas-tinteiro que jamais escreve-
rão coisa alguma.
Na Unidade 2, vimos a coordenação de orações em um período, agora podemos constatar
que existem períodos coordenados entre si. É um assunto que trataremos mais adiante,
entretanto nada obsta que você aprenda já. Dê uma olhadinha!
Voltemos à análise.
6) (abençoado seja o camelô que vende) as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão
coisa alguma.
Funções sintáticas do que:
• conectivo – inicia oração;
• equivale a canetinhas-tinteiro;
• sujeito de jamais escreverão coisa alguma (as canetinhas-tinteiro jamais escreverão
coisa alguma).

O poema encerra-se com um período que também possui um pronome relativo:


E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.

Para uma compreensão melhor, podemos subdividir este período.


Observe.
7) E (os calelôs) dão aos homens [que passam preocupados ou tristes] uma lição de in-
fância.
Análise da oração principal:
os camelôs dão aos homens uma lição de infância.
↓ ↓ ↓
sujeito objeto indireto objeto direto

Aplicando o procedimento anterior ao pronome relativo que:


que passam preocupados ou tristes
Funções sintáticas do que:
• conectivo – inicia oração;
• equivale a homens;
• sujeito de passam preocupados ou tristes (os homens passam preocupados ou tristes).
As orações iniciadas por pronome relativo são subordinadas adjetivas.
Passemos ao estudo das orações subordinadas adjetivas, objeto desta unidade.

8. POR QUE SÃO CHAMADAS ORAÇÕES ADJETIVAS


As orações subordinadas adjetivas assim são chamadas por terem valor de um adjetivo
modificador de um termo da oração principal, antecedente do pronome relativo que as introduz.

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116 © Língua Portuguesa III

Maria é uma criança risonha



adjetivo (adjunto adnominal)

Maria é uma criança risonha => [Maria é uma criança] [que ri.]
↓ ↓ ↓
adjunto oração principal oração subordinada adjetiva
adnominal (corresponde ao adjetivo risonha)
Há dois tipos de orações subordinadas adjetivas: as restritivas e as explicativas. Elas são
introduzidas por pronomes relativos: que, o(s) qual (quais), como, quanto(a/s), cujo(a/s), onde,
quem...
Passemos ao estudo delas.

Restritivas
As orações subordinadas adjetivas restritivas são aquelas que delimitam, restringem o
sentido do substantivo ou pronome a que se referem. As restritivas equivalem a adjuntos adno-
minais de um termo da oração principal e não podem ser isoladas por vírgulas, porque se ligam
ao antecedente sem pausa. As orações subordinadas adjetivas restritivas sempre acrescentam
alguma informação ao contido na oração principal. Elas são indispensáveis ao enunciado.
Observe.
a) As meninas que cantavam no parque eram holandesas.
[As meninas [que cantavam no parque] eram holandesas.]

No exemplo, temos duas orações:


1) As meninas eram holandesas.
2) que cantavam no parque.

Período composto por subordinação contendo duas orações:


1.a) A oração [As meninas eram holandesas] é a principal.
2.a) A oração subordinada adjetiva restritiva [que cantavam no parque] acrescenta uma
novidade às informações contidas na oração principal.
2.b) A segunda oração é chamada restritiva, porque restringe o fato de “serem holandesas
somente as meninas que cantavam", não eram, pois, "todas" as meninas holandesas. A oração
subordinada adjetiva restritiva é, então, indispensável para evitar a generalização do que se
afirma na oração principal.
2.c) É chamada de adjetiva porque equivale a um adjetivo:
As meninas [que cantavam no parque] eram holandesas

oração subordinada adjetiva restritiva
que = as meninas

Fazendo a substituição da oração adjetiva restritiva pelo adjetivo correspondente;


© U3 - Orações subordinadas 117

As meninas [as meninas cantoras no parque] eram holandesas.


As meninas cantoras...

adjetivo

Reescrevendo o período composto passando-o a simples.


As meninas cantoras no parque eram holandesas.

Vejamos outro exemplo:


a) O homem que vi era alto.
[O homem [que vi] era alto.]
Comentários:
I. Não são todos os homens altos, mas o que vi o era.
II. O homem [que vi] era alto.
que vi = oração subordinada adjetiva restritiva.
Essa oração equivale a "o homem visto”.
O homem visto era alto.
"visto" é um adjetivo.
Como já dissemos, há dois tipos de orações subordinadas adjetivas: restritivas e explica-
tivas. Já que estudamos as restritivas, passemos ao estudo das explicativas.

Explicativas
As orações subordinadas adjetivas explicativas servem para esclarecer melhor o sentido
de um substantivo. Elas expõem mais detalhadamente uma característica geral e própria do
antecedente do pronome relativo, ou dão uma informação adicional, mas não trazem novidade,
não acrescentam informação ao conteúdo da oração principal. Elas equivalem a aposto explica-
tivo e são sempre isoladas por vírgulas ou travessões, porque, na fala, ligam-se ao antecedente
por uma pausa, indicada, na escrita, por vírgula.
As orações subordinadas adjetivas explicativas são dispensáveis, ou seja, se elas forem
suprimidas no período, a supressão não causará prejuízo à inteligibilidade.
Confira.
b) Conceição, que era apenas simpática, ficou linda, lindíssima... (ASSIS, 1963, p. 107,
grifos nossos).
c) “O outro, que vinha com ele, era um camarada.” (ROSA, 2011, grifos nossos).
d) Deus, que é justo, perdoa aos pecadores que se arrependem.
Analisemos o período anterior, segundo os passos já expostos em nossos estudos.
[Deus, [que é justo,] perdoa aos pecadores] [que se arrependem].
1 2 3
1) Deus perdoa aos pecadores = oração principal;
2) que é justo = oração subordinada adjetiva explicativa;
3) que se arrependem = oração subordinada adjetiva restritiva.

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118 © Língua Portuguesa III

Período composto por subordinação contendo três orações.


Acompanhe conosco o raciocínio da classificação feita.
I. A oração "que [Deus] é justo" não acrescentou nenhuma informação ao que se sabe so-
bre Ele. Ser justo é uma de suas características, entretanto, no enunciado, essa característica foi
ressaltada em razão de ser tratar de uma forma de justiça – o perdão aos arrependidos.
II. Deus, entretanto, por ser "justo", não perdoa, indiscriminadamente, a todos os
pecadores. Se assim o fosse não haveria justiça. O perdão de Deus restringe-se aos pecadores
“que se arrependem”. Assim, aqui temos uma oração subordinada adjetiva restritiva.
III. Como é, de antemão, sabido que Deus é justo, se excluirmos a oração subordinada
adjetiva explicativa do enunciado, ele não sofrerá alteração semântica.
Veja.
Deus perdoa aos pecadores que se arrependem.
O mesmo não acontece com a supressão da oração restritiva.
Confira.
Deus que é justo perdoa aos pecadores.
Na oração em exame, houve alteração semântica. Deus não perdoa a todos os pecadores.
Deus perdoa (somente) aos pecadores que se arrependem. O perdão de Deus é restrito aos pe-
cadores arrependidos.
Será esta explicação conclusiva?
Vamos refletir?
Voltemos ao exemplo: Deus, que é justo, perdoa aos pecadores que se arrependem.
Sem querer fazer juízo de valor, esperamos que você tenha entendido o que já expusemos
sobre esse exemplo. Contudo, não podemos deixar de mencionar que a classificação dada a
uma oração está diretamente relacionada ao contexto em que foi usada.
Essa mesma oração (Deus, que é justo, perdoa aos pecadores que se arrependem) poderia
ser classificada de maneira diferente?
Sim, se, na situação que ela foi empregada, o locutor não tivesse a intenção de explicar
que Deus perdoa aos pecadores arrependidos por ser simplesmente justo. O locutor poderia
querer justificar o perdão de Deus, isto é, dizer a causa do perdão divino. Numa situação como
a mencionada, teremos:
Deus, [que é justo], perdoa aos pecadores que se arrependem
que é justo = porque é justo.
Deus perdoa aos pecadores que se arrependem, porque é justo.
Você se lembra das orações subordinadas adverbiais causais? Você não concorda que [que
(= porque) é justo] poderia ser interpretado como sendo a causa de Deus perdoar?
Se este for o propósito, essa oração deve ser classificada como oração subordinada
adverbial causal.
O que significa tudo isso?
© U3 - Orações subordinadas 119

Tudo que quisemos dizer significa que a classificação da oração também depende do
contexto em que foi empregada. Daí a minha insistência: a oração a ser classificada deve ser
contextualizada.
Continuemos com a teoria.

9. ALGUMAS OBSERVAÇÕES
I) O pronome relativo pode ter como antecedente um pronome pessoal.

Veja.
Eu, que já houvera visto tantas injustiças, não me surpreendi com a sentença.
[Eu, [que já houvera visto tantas injustiças,] não me surpreendi com a sentença.]
1 2
Analisando.
1) Na primeira oração [Eu não me surpreendi com a sentença], temos como sujeito: eu
– pronome pessoal reto.
2) Substituindo o pronome relativo “que” pelo seu antecedente, temos:
Eu já houvera visto tantas injustiças
Percebe-se, pois, que o pronome relativo que tem como antecedente o pronome pes-
soal reto eu.

II) O pronome relativo pode ter como antecedente o pronome demonstrativo o(s).
Exemplificando.
a) Os que já pegaram a senha devem esperar a chamada.
[Os [que já pegaram a senha] devem esperar a chamada.]
1 2
Antecedente do “que” = os → aqueles
Não são todos que devem esperar a chamada. A espera da chamada restringe-se aos
(àqueles) que pegaram a senha.

b) Somos o que somos.


[Somos o] [que somos.] → [Nós] somos o (o = aquilo)] [que (que = aquilo) somos
[nós])
Nós somos o (= aquilo) que (= aquilo) somos nós.

Antecedente do “que” = o → aquilo
Nós não somos aquilo. Somos tão somente aquilo (o) que somos, portanto, nós estamos
restritos a nós mesmos (ao que somos).
Em ambos os exemplos (a e b), a oração subordinada adjetiva é restritiva.

III) Quanto à posição das orações adjetivas no período.

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120 © Língua Portuguesa III

Restritiva
As pessoas que são doentes necessitam cuidados especiais.
[As pessoas [que são doentes] necessitam cuidados especiais.]
A B

A = as pessoas necessitam cuidados especiais (or. princ.)


A
B = que são doentes (oração subord. adjetiva restritiva)
B
B é subconjunto de A

Explicativa
“O pátio, que se desdobrava ante do copiar, era imenso” (RAMOS, 1995, p. 11).
[O pátio, [que se desdobrava ante do copiar,] era imenso.]
A B

A = pátio era imenso => oração principal.


A = B B = que se desdobrava ante do copiar → adj. explicativa.

IV) Ainda quanto à posição das orações adjetivas no período.


As orações subordinadas adjetivas podem vir no meio da oração principal ou no final dela.
Exemplificando a posição medial.
a) “Cruzando a coxilha grande, que atravessa a província de São Pedro, se alonga a Serra
do Mar” (ALENCAR, 2011, grifos nossos).
b) Pelas palmas que ele recebeu sua apresentação foi um sucesso.

Exemplificando a posição final.


a) Joaquim perguntou pelo irmão, que ainda dormia.
b) A taça era o prêmio que me prometia.

V) Dissemos alhures que a oração subordinada adjetiva explicativa deve vir entre vírgu-
las, enquanto a oração subordinada adjetiva restritiva não pode ser isolada por vír-
gulas. Além da pausa, isso se deve, também, ao fato de que a presença (ou não) da
vírgula poder modificar o sentido da mensagem, conforme o ponto de vista do falante.
Confira.
a) Os meninos, que são indisciplinados, são repreendidos.
b) Os meninos que são indisciplinados são repreendidos.
No exemplo a (oração subordinada adjetiva explicativa), entendemos que todos os meni-
nos são indisciplinados, portanto todos são repreendidos. Por outro lado, em b, – oração subor-
dinada adjetiva restritiva – percebemos que nem todos os meninos são indisciplinados; assim
sendo, só são repreendidos os que o são (indisciplinados).

© U3 - Orações subordinadas 121

VI) As orações subordinadas adjetivas podem ser coordenadas entre si.


Observe.
As pessoas que são soberbas e que são intransigentes são de difícil diálogo.
As pessoas [que são soberbas] e [que são intransigentes] são de difícil diálogo.
1 2 3
Analisando:
a) Esse período contém três orações:
1) As pessoas são de difícil diálogo = oração principal;
2) que são soberbas = oração subordinada adjetiva restritiva.
Geralmente, não são todas as pessoas que são de difícil diálogo, mas o são as (restri-
ção) soberbas.
3) que são intransigentes = oração subordinada adjetiva restritiva, isto é, não são todas
as pessoas que são de difícil diálogo, mas o são as (restrição) intransigentes.

b) As pessoas de difícil diálogo são: soberbas e intransigentes (adjetivos). Daí serem as


orações adjetivas.

Voltando ao exemplo.
As pessoas [que são soberbas] e [que são intransigentes] são de difícil diálogo,
Podemos observar que as duas orações subordinadas adjetivas restritivas estão ligadas,
conectadas, pela conjunção coordenativa aditiva e. Infere-se, pois, que essas orações são
coordenadas entre si.

10. FUNÇÕES SINTÁTICAS DO PRONOME RELATIVO


Os pronomes relativos, além de introduzirem as orações subordinadas adjetivas, podem
exercer qualquer função sintática na oração. Para analisarmos, devemos substituí-los pelo ante-
cedente e proceder a análise como a de um período simples.
Assim procedemos ao analisar as orações do poema, está lembrado?
a) Patrícia, [que é filha única,] recebe todas as atenções dos pais.
1 2

Substituindo o pronome relativo que pelo seu antecedente, temos:


• que = Patrícia
• Patrícia é filha única.
• Patrícia = sujeito
• que = sujeito

b) As encomendas [que fiz] não chegaram.


1 2
Substituindo o pronome relativo que pelo seu antecedente, temos: que = encomendas

Claretiano - Centro Universitário


122 © Língua Portuguesa III

• (Eu) fiz as encomendas.


• encomendas = objeto direto
• que = objeto direto

c) As pessoas [a quem me dirigi] eram hóspedes do hotel.


1 2
Substituindo o pronome relativo quem pelo seu antecedente, temos: quem = pessoas
• Dirigi-me às pessoas.
• às pessoas = objeto indireto
• quem = objeto indireto

d) Homem precavido [que (ele) era] não caiu na cilada.


1 2
Substituindo o pronome relativo que pelo seu antecedente, temos: que = precavido
• (Ele) era precavido.
• precavido = predicativo do sujeito
• que = predicativo do sujeito

e) O livro [cujo escritor foi mencionado] não fez sucesso.


1 2
Substituindo o pronome relativo cujo pelo seu antecedente, temos: cujo = do livro
• O escritor do livro foi mencionado.
• do livro = complemento nominal
• cujo = complemento nominal

OBSERVAÇÃO
Não podemos dizer que “cujos” sempre exercerá a função sintática de complemento nominal.
Geralmente, considera-se complemento nominal quando completa o sentido de um termo deverbal.
escrever → escritor

o verbo escrever pede complemento (objeto direto):

Escrever livro
↓ ↓
verbo objeto direto

Contudo, em:

“Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia uma parreira cheia de uvas maduras, cujos cachos
se penduravam muito alto, em cima de sua cabeça” (Disponível em: <http://educacao.centralblogs.
com.br/post.php?href=fabula+a+raposa+e+a+uva&KEYWORD=17521&POST=3688279>. Acesso
em: 27 jan. 2011, grifo nosso).

cujos exerce a função sintática de adjunto adnominal (cachos da parreira se penduravam muito alto,
em cima de sua cabeça).


f) O leão [pelo qual (por quem) foram atacados] fugira do zoológico.
© U3 - Orações subordinadas 123

1 2
Substituindo o pronome relativo qual/quem pelo seu antecedente, temos: qual/quem =
leão
• Foram atacados pelo leão.
• leão = agente da passiva
• qual (quem) = agente da passiva
g) A cidade [onde nasci] é pequena.
1 2
Substituindo o pronome relativo onde pelo seu antecedente, temos: onde = cidade
• Eu nasci na cidade.
• na cidade = adjunto adverbial de lugar
• onde = adjunto adverbial de lugar
Esperamos que você tenha entendido e apreendido todo o conteúdo desta seção. Faça
uma autoavaliação resolvendo os exercícios e conferindo suas respostas.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nas questões de 1 a 10, classifique as orações adjetivas, de acordo com o seguinte:
1) subordinada adjetiva restritiva;
2) subordinada adjetiva explicativa.

1) ( ) Cruzando a coxilha grande, que atravessa a província de São Pedro, se alonga a Serra do Mar.

2) ( ) As palmas que recebeu provaram que foi grande o sucesso da festa.

3) ( ) O pátio, que se desdobrava diante do copiar, era imenso.

4) ( ) A luz da eterna sabedoria jorrará sobre o homem, que é justo.

5) ( ) A taça era o prêmio que me prometia.

6) ( ) A culpa foi desta vida agreste, que medeu uma alma agreste.

7) ( ) Releio algumas linhas, que me desagradam.

8) ( ) Procuro recordar o que dizíamos.

9) ( ) Desceram um altarzinho de pedra que ficava bem no meio do caminho.

10) ( ) O velho perguntou pelo ceguinho, que dormia ainda.

Confira, agora, suas respostas:

1) (2)

1) (1)

2) (2)

3) (1)

4) (1)

Claretiano - Centro Universitário


124 © Língua Portuguesa III

5) (2)

6) (2)

7) (1)

8) (2)

9) (2)
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

11. ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS


Estamos na última etapa de classificação de orações subordinadas desenvolvidas. Nesta
seção, trataremos das orações subordinadas substantivas.

Como sempre fazemos, primeiramente, analisaremos um texto. Esse procedimento nos


ajuda a rever o que foi estudado e, ao mesmo tempo, a apresentar novidade.

O Cão e a Sombra
Um cão, com um pedaço de carne na boca, atravessava uma ponte sobre uma correnteza. Olhando para
baixo, viu a própria sombra dentro d’água. Pensando que o reflexo era outro cão com um pedaço de
carne na boca, decidiu roubá-lo e, para tanto, abriu as mandíbulas. O pedaço de carne caiu na corren-
teza e lá se foi...
Moral da história: “Quem tudo quer tudo perde”.
(Texto extraído de Fábulas de Esopo. Texto em português de Guilherme Figueiredo. Disponível em:
<http://www.contandohistoria.com/o_cao_e_a_sombra.htm>. Acesso em: 26 jan. 2011).

A fábula anterior é muito conhecida e cremos que não oferece dificuldade de interpretação.
Vamos, então, analisar sua estrutura, para percebermos como a mensagem foi levada ao
receptor.
Um cão, com um pedaço de carne na boca, atravessava uma ponte sobre uma correnteza.
Temos um período simples, isto é, o período com uma só oração, que, na ordem direta,
fica assim: Um cão atravessava uma ponte sobre uma correnteza com um pedaço de carne na
boca.

OBSERVAÇÃO:
A estrutura básica da oração da Língua Portuguesa é: sujeito + verbo + complemento(s) + adjuntos
adverbiais. Quando um elemento é colocado fora dessa “ordem natural”, ele deve ficar entre vírgulas.
Essa é a razão de “com um pedaço de carne na boca” estar entre vírgulas.

Classificação: oração absoluta


Você se lembra de que a oração que constitui um período simples é absoluta?
Não se esqueceu? Ótimo!
Se você se esqueceu, volte à Unidade 1.
Continuemos.
Olhando para baixo, viu a própria sombra dentro d'água.
© U3 - Orações subordinadas 125

Este período contém duas orações:

• 1ª Oração: Olhando para baixo,


• 2ª Oração: viu a própria sombra dentro d’água.
Podemos perceber que as orações não contêm conectivos e que a 1ª Oração tem o verbo
no gerúndio. Trata-se, portanto, de uma oração reduzida, a qual deve ser desenvolvida, para
facilitar a classificação.
Oração desenvolvida: quando (o cão) olhou para baixo.
[Quando (o cão) olhou para baixo,] [(ele) viu a própria sombra dentro d'água].
1 2
A 1ª Oração expressa a ocasião, tempo em que ele viu a própria sombra dentro d'água. Não
pode ser oração principal, porque possui uma conjunção subordinativa introdutória (conectivo),
sendo assim, é uma subordinada adverbial temporal.
Classificando a oração reduzida (ela recebe a mesma classificação da oração desenvolvida):
Olhando para baixo = oração reduzida de gerúndio (ou gerundiva) subordinada adverbial
temporal.
A oração reduzida complementa a oração principal => viu a própria sombra dentro d'água.
Prossigamos.
Pensando que o reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca, decidiu roubá-lo
e, para tanto, abriu as mandíbulas.
Para facilitar o entendimento, julgamos conveniente a divisão do período.
[Pensando] [que o reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca,] [(ele)
1 2 3
decidiu roubá-lo] [e, [para tanto,] abriu as mandíbulas].
4 5
Reescrevamos o período.
O cão decidiu roubá-lo, porque (ele) pensou que o reflexo era outro cão com um pedaço
de carne na boca, e (o cão) abriu as mandíbulas, para tanto (para roubá-lo).
Dividindo o enunciado e dando às orações o número correspondente:
[O cão decidiu roubá-lo,] [porque (ele) pensou] [que o reflexo era outro cão com um
3 1 2
pedaço de carne na boca,] [e (o cão) abriu as mandíbulas] [para roubá-lo].
4 5
Você pôde perceber como assim fica fácil a interpretação?
Passemos à classificação.
Oração 3: O cão decidiu roubá-lo => oração principal;
Por que razão, motivo, causa o cão decidiu roubá-lo?

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126 © Língua Portuguesa III

porque pensou // que seu reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca. Esse é
o motivo (causa) que levou o cão à sua decisão.
Oração 1: porque pensou = subordinada adverbial causal
Ao classificar a oração do texto, que é uma reduzida – pensando –, devemos, como já
dissemos, dar a ela a mesma classificação da oração desenvolvida: oração reduzida de gerúndio
(ou gerundiva) subordinada adverbial causal.
Voltemos a:
porque pensou [que seu reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca.]
Sabemos que quem pensa, pensa alguma coisa, ou seja, o verbo pensar, por não ser
semanticamente completo, exige um complemento. No caso em tela, um objeto direto.
O que o cão pensou? O cão pensou que o reflexo era outro cão com um pedaço de carne
na boca. Esta oração é o objeto direto de "pensar".
Oração 2: que seu reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca = subordinada
substantiva objetiva direta.
A Oração 4 – e (o cão) abriu as mandíbulas – é uma adição de informação à oração 3 – O
cão decidiu roubá-lo – .
Veja.
O cão decidiu roubá-lo e (o cão) abriu as mandíbulas.
Como oração que estabelece uma relação de soma, que expressa ligação ou adição de
afirmações, ela é uma oração coordenada aditiva.
Adiante!
Oração 5: para roubar o pedaço de carne (para tanto).
O cão "abriu as mandíbulas" com uma finalidade: roubar o pedaço de carne. Se a oração
denota uma finalidade, é uma subordinada adverbial final.
O pedaço de carne caiu na correnteza e lá se foi...
Este período é constituído de duas orações independentes:
• 1ª Oração: o pedaço de carne caiu na correnteza;
e
• 2ª Oração: lá se foi (o pedaço de carne).
Vemos que uma oração é ligada à outra pela conjunção e. Assim sendo, podemos assim
classificá-las:
• 1ª Oração: o pedaço de carne caiu na correnteza => oração coordenada assindética;
• 2ª Oração: e lá se foi (o pedaço de carne) => oração coordenada aditiva.
Finalizando.
Quem tudo quer tudo perde.
Reescrevendo o período:
[Aquele [que quer tudo] perde tudo].
1 2
© U3 - Orações subordinadas 127

• 1ª Oração: Aquele perde tudo => oração principal;


• 2ª Oração: que (= quem ou aquele) tudo quer => oração subordinada adjetiva restritiva.
Além da interpretação em si pela análise da estrutura do texto, o que queremos frisar é o
período: Pensando que o reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca.
Pudemos perceber que [que o reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca]
exerce a função sintática de objeto direto da oração anterior (Pensando).
Orações que exercem funções sintáticas em relação a verbos de outra oração são
substantivas, assunto desta seção.

12. POR QUE ORAÇÕES SUBSTANTIVAS


As orações subordinadas substantivas equivalem a substantivo e podem exercer as mes-
mas funções sintáticas dele. Elas são classificadas de acordo com a função exercida em relação
ao verbo da oração principal. Assim sendo, não são separadas por vírgulas.
Elas são introduzidas por:
1) conjunções subordinativas integrantes: que, se;
2) pronomes indefinidos: quem, quanto;
3) pronomes interrogativos: que, qual, quem, quanto;
4) advérbio de intensidade: quão;
5) advérbios interrogativos: onde (de lugar), quando (de tempo), como (de modo), por
que (de causa).
Vejamos como são classificadas:

Subjetivas
As orações subordinadas substantivas subjetivas funcionam como sujeito da oração prin-
cipal e vêm, geralmente, pospostas à oração principal.
Observe as seguintes estruturas de períodos.
1) Verbo de ligação (ser, estar, ficar) + predicativo (substantivo ou adjetivo) + oração su-
bordinada substantiva subjetiva:
a) Seria conveniente que você continuasse se exercitando.
Seria conveniente a continuação de seus exercícios.
↓ ↓ ↓
verbo predicativo sujeito
de ligação

b) É necessário que ele dê permissão.


oração principal oração subordinada substantiva subjetiva

É necessário que ele dê permissão.
↓ ↓ ↓
verbo predicativo sujeito
de ligação

c) A permissão é necessária.

sujeito

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128 © Língua Portuguesa III

2) Verbo unipessoal + oração subordinada substantiva subjetiva, na 3ª pessoa do sin-


gular. São verbos unipessoais: convir, constar, parecer, importar, interessar, suceder,
acontecer, urgir, ocorrer, cumprir etc.
a) Consta que o presidente morreu.
[Consta] [que o presidente morreu].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal
b) Consta a morte do presidente.

sujeito
c) Convém que todos fiquem em silêncio.
[Convém] [que todos fiquem em silêncio].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal
conjunção integrante
3) Verbo na voz passiva sintética (verbo + pronome apassivador se) + oração subordinada
substantiva subjetiva:
Comenta-se que ele abdicará a coroa.
[Comenta-se] [que ele abdicará a coroa.]
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal

[...] Comentam a abdicação da coroa. (voz ativa)


↓ ↓
sujeito objeto direto
indeterminado

Comenta-se a abdicação da coroa. (voz passiva sintética)



sujeito
A abdicação da coroa é comentada. (voz passiva analítica)

sujeito

Gostaríamos de chamar sua atenção para o fato de a voz passiva sintética só ser possível
quando o sujeito da voz ativa é indeterminado, como no exemplo analisado. Por outro lado, a
voz passiva analítica sempre é possível, contanto que o verbo na voz ativa seja transitivo direto.

4) Verbo na voz passiva analítica (ser, estar, ficar + particípio do verbo principal) + oração
subordinada substantiva subjetiva:
© U3 - Orações subordinadas 129

Ficou acertado que ele pagaria amanhã.


Ficou acertado] [que ele pagaria amanhã].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal

O pagamento dele (amanhã) ficou acertado.



sujeito
ou
O pagamento dele ficou acertado (para amanhã).

sujeito

Passemos adiante estudando as orações subordinadas substantivas predicativas.

Predicativas
As orações subordinadas substantivas predicativas funcionam como predicativo do sujeito
do verbo de ligação da oração principal. Têm a seguinte estrutura:

sujeito + verbo de ligação + oração subordinada substantiva predicativa

a) A verdade é que ela se conformou com o divórcio.


[A verdade é] [que ela se conformou com o divórcio].
↓ ↓
oração principal oração subordinada substantiva predicativa

b) [A verdade é] [a sua conformação com o divórcio].



predicativo

c) O melhor é que você participe da formatura.


oração principal oração subordinada substantiva predicativa

O melhor é que você participe da formatura.
↓ ↓ ↓
sujeito verbo de predicativo
ligação

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130 © Língua Portuguesa III

d) Meu desejo é que você seja feliz.


1ª oração: meu desejo é → oração principal
Podemos observar que essa oração tem sujeito (meu desejo) e verbo de ligação (é),
contudo falta o predicativo do sujeito. O predicativo do sujeito é a 2ª oração:
que você seja feliz → oração subordinada substantiva predicativa.

Há gramáticos que não aceitam a existência das orações predicativas, tendo-as como sub-
jetivas. As orações subordinadas substantivas predicativas são, entretanto, contempladas na
NGB.
Passaremos às orações subordinadas substantivas objetivas diretas.

Objetivas diretas
Funcionam como objeto direto do verbo da oração principal, portanto, necessariamente,
ele deverá ser transitivo direto.
As orações subordinadas substantivas objetivas diretas são iniciadas pelas conjunções que
e se; por pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto; pelos advérbios como, quando, onde,
quanto, por que, quão.
O período tem a seguinte estrutura:

(sujeito) + verbo transitivo direto + oração subordinada substantiva objetiva direta

Observe.
a) Eu desconheço se você colaborou.
Eu desconheço] [se você colaborou].
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva objetiva direta
principal

b) Eu desconheço a sua colaboração.


↓ ↓
verbo transitivo objeto direto
direto

c) Todos querem que você participe da formatura.


oração principal oração subordinada substantiva objetiva direta

Todos querem que você participe da formatura.
↓ ↓ ↓
sujeito verbo transitivo objeto direto
direto
Vamos refletir?
No excerto seguinte, há uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Vamos
sublinhá-la?
Difícil uma solenidade como a de 17 de março à noite, na Fábrica de Expressão. Com o aguaceiro caindo
© U3 - Orações subordinadas 131

e a quinta-feira de trabalho para tantos, imaginei que bem poucas pessoas poderiam ir até lá, ou para
presenciar a homenagem a mim prestada ou ouvir a boa música do conjunto de chorões de Tatuí –
Quebrando o Galho. Enganei-me redondamente: o auditório estava cheio, e em sua grande maioria as
presenças eram devidas a laços de amizade, de coleguismo, de parentesco (LAURIA, 2011).

Esperamos que você também tenha sublinhado “imaginei que bem poucas pessoas
poderiam ir até lá”.
Prosseguindo na classificação, mais um tipo de oração.

Objetivas indiretas
As objetivas indiretas funcionam como objeto indireto do verbo da oração principal.
O período tem a seguinte estrutura:

(sujeito) + verbo transitivo indireto + preposição + oração subordinada substantiva
objetiva indireta

Confira.
a) Lembro-me de que você estava bela no baile.
[Lembro-me] [de que você estava bela no baile.]
↓ ↓
oração oração subordinada substantiva objetiva indireta
principal

Lembro-me de sua beleza no baile.

objeto indireto

b) Todos necessitam de que você participe da formatura.

Todos necessitam de que você participe da formatura.


↓ ↓ ↓
sujeito verbo oração subord. substantiva objetiva indireta
transitivo indireto
preposição

c) A vaga coube a quem foi sorteado.


A vaga coube [a quem foi sorteado.]

oração subordinada substantiva objetiva indireto (objeto indireto do verbo caber).

As orações subordinadas substantivas objetivas indiretas têm preposição antes do


conectivo. O mesmo acontece com as orações subordinadas substantivas completivas nominais.

Completivas nominais
Funcionam como complemento nominal de um termo da oração principal. Completam:
substantivo abstrato, adjetivo, advérbio.
Como dissemos, normalmente, as completivas nominais vêm regidas de preposição, mas
elas podem ser omitidas.

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132 © Língua Portuguesa III

Eis sua estrutura:

(sujeito) + verbo + termo transitivo + preposição + oração subordinada substantiva


completiva nominal

a) Carlos tem necessidade de que o aceitem como membro do grupo.



Carlos tem necessidade de que o aceitem como membro do grupo.
↓ ↓
substantivo abstrato oração subord. subst. completiva nominal
preposição

Carlos tem necessidade de sua aceitação como membro do grupo.



complemento nominal

b) Todos tiveram receio (de) que você não participasse da formatura.


oração principal oração subord. substantiva completiva nominal

Todos tiveram receio (de) que você não participasse da formatura.

complemento nominal da oração principal
c) Eu tinha certeza [de que ele não voltaria].
1 2
• 1ª Oração: eu tinha certeza → oração principal
• 2ª Oração: de que ele não voltaria → oração subordinada substantiva completiva no-
minal.
O que nos levou a essa classificação da 2ª oração?
Observe que a primeira oração [Eu tinha certeza] possui sujeito, verbo e complemento.
Percebe-se que antes da preposição "de" está o substantivo abstrato "certeza" (elemento cons-
tituinte da primeira oração). A preposição está, pois, estabelecendo relação entre um comple-
mento - substantivo abstrato - (certeza) e não verbo. O complemento do verbo "ter" é "certeza".
Assim, a oração subordinada não poderá ser transitiva indireta, mas, sim, completiva nominal.
Além disso, o verbo "ter" não é transitivo indireto.
Estudemos, agora, as orações subordinadas substantivas apositivas.

Apositivas
As subordinadas substantivas apositivas funcionam como aposto de um termo da oração
principal, isto é, elas têm a função de explicar, resumir, identificar, desenvolver um termo da
oração anterior. Não importa a função sintática exercida por esse termo.
Via de regra, a oração subordinada substantiva apositiva vem após dois pontos; raramen-
te, entre vírgulas.
A estrutura do período é a seguinte:

Oração principal: + Oração subordinada substantiva apositiva


© U3 - Orações subordinadas 133

Confira.

a) Ele tinha uma grande esperança: que a esposa voltasse.



[Ele tinha uma grande esperança:] [que a esposa voltasse.]
↓ ↓
oração principal oração subordinada substantiva apositiva

Ele tinha uma grande esperança: a volta da esposa.



aposto

esperança = a volta da esposa (que a esposa voltasse) → aposto

b) Perguntei-lhe o seguinte: quando isso acontecera.


oração principal oração subordinada substantiva apositiva

Perguntei-lhe o seguinte: quando isso acontecera.

aposto
Para completarmos nossos estudos classificatórios, vejamos as orações subordinadas
substantivas agentivas.

Agentivas
As orações subordinadas substantivas agentivas não são contempladas pela NGB. Elas fun-
cionam como agente da passiva e são introduzidas por pronomes indefinidos – ou interrogativos
(quem, quantos, qualquer...) precedidos de preposição por ou de. O verbo da oração principal
deve estar na voz passiva.
Observe um exemplo de agente da passiva em um período simples.
Esta pessoa é muito amada por quem?
Esta pessoa é muito amada por quem?
↓ ↓
sujeito paciente agente da passiva

Observe, agora, um exemplo de oração agentiva em um período composto.

a) Maria é querida por quantos a conhecem.


[Maria é querida] [por quantos a conhecem.]

oração subordinada substantiva agentiva

Maria é querida por seus conhecidos.

agente da passiva

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134 © Língua Portuguesa III

b) O grupo foi formado por quem conhecia o assunto.


oração principal oração subordinada substantiva agentiva

O grupo foi formado por quem conhecia o assunto.

agente da passiva

O grupo foi formado por conhecedores do assunto.

agente da passiva

Passaremos à análise morfossintática do conectivo, para que você conheça as suas várias
possibilidades de exercício de funções em uma oração.

13. ANÁLISE MORFOSSINTÁTICA DO CONECTIVO


A palavra que introduz a oração subordinada substantiva – exceto a conjunção –, além de
conectivo, pode exercer outra função sintática.

Quadro 1 Conectivos e suas possíveis funções sintáticas.


MORFOLOGIA SINTAXE
conjunção conectivo
conectivo
e

sujeito
pronome
objeto direto
qualquer função objeto indireto
adjunto adnominal
adjunto adverbial
conectivo
advérbio e
adjunto adverbial

Observe a classificação das seguintes orações substantivas e a morfossintaxe de seus


respectivos conectivos:
a) Ele dissera [que havia feito o trabalho].
1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• que = conjunção subordinativa integrante / conectivo
• Período composto por subordinação

b) Não sei [que disse o médico].


1 2
• Oração 1: principal
© U3 - Orações subordinadas 135

• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta


• que = pronome substantivo indefinido / conectivo / objeto direto de “disse”
• Período composto por subordinação.

c) Não sei [que espécie de criança ela foi].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• que = pronome adjetivo indefinido / conectivo / adjunto adnominal de “espécie”
• Período composto por subordinação.

d) Não sei [quem disse isso].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• quem = pronome indefinido / conectivo / sujeito de “disse”
• Período composto por subordinação.

e) Ignoro [qual candidato foi eleito].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• qual = pronome adjetivo interrogativo / conectivo / adjunto adnominal de “candidato”
• Período composto por subordinação.

f) Dize-me [que fazes].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• que = conjunção subordinativa integrante /conectivo
• Período composto por subordinação.

g) Diga-me [que informação deseja].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• que = pronome adjetivo interrogativo / adjunto adnominal de “informação”
• Período composto por subordinação.

h) Desconheço [se foram bem na prova].


1 2

Claretiano - Centro Universitário


136 © Língua Portuguesa III

• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• se = conjunção subordinativa integrante / conectivo
• Período composto por subordinação.

i) Ignoro [quem sois].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• quem = pronome substantivo indefinido / conectivo / predicativo do sujeito “vós”
(elíptico)
• Período composto por subordinação

j) Tu nem viste [quem te via].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• quem = pronome substantivo indefinido / conectivo / sujeito de “via”
• Período composto por subordinação
k) Perguntei-lhe o seguinte: [quando isso acontecera].
1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva apositiva
• quando = advérbio interrogativo / conectivo / adjunto adverbial de tempo (Isso
acontecera quando?)
• Período composto por subordinação

l) Diga-me [como vai seu pai].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• como = advérbio interrogativo de modo / conectivo / adjunto adverbial de modo
• Período composto por subordinação

m) Não sei [onde ele está].


1 2
• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• onde = advérbio interrogativo de lugar / conectivo / adjunto adverbial de lugar
• Período composto por subordinação

n) Não entendi [como ele fez isso].


1 2
© U3 - Orações subordinadas 137

• Oração 1: principal
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta
• como = advérbio interrogativo de modo / conectivo / adjunto adverbial de modo
• Período composto por subordinação

o) Não sei [a quem entregarei o prêmio].


1 2
• Oração 1: principal;
• Oração 2: subordinada substantiva objetiva direta;
• Quem = pronome substantivo indefinido / conectivo / objeto indireto de “entregarei”.

OBSERVAÇÃO:
O verbo saber pede um objeto direto, portanto, a oração subordinada substantiva do período é objetiva
direta. A preposição a está estabelecendo uma relação entre o verbo “entregar” e seu objeto indireto
“quem”. O verbo “saber” não rege a preposição a, o verbo empregar rege.

Acredito estarmos aptos à classificação das orações do período a seguir. Façamos juntos.
O rapaz não se defendeu das acusações [porque soubera] [quem eram os homens] [que o denunciaram].

1 2 3 4
1) O rapaz não se defendeu das acusações: oração principal;
2) porque soubera = oração subordinada adverbial causal;
porque = conjunção subordinativa adverbial causal / conectivo;
3) quem eram os homens = oração subordinada substantiva objetiva direta;
quem = pronome substantivo indefinido / conectivo / predicativo do sujeito “ho-
mens”;
4) que o denunciaram = oração subordinada adjetiva restritiva;
que = pronome relativo / conectivo / sujeito de “denunciaram”.
Período composto por subordinação contendo quatro orações.
Há alguns casos que consideramos importante que você os conheça.

14. CASOS RELEVANTES


Para complementarmos nossos estudos de orações subordinadas desenvolvidas, aqui
vão algumas observações dignas de nota.

Cujo
“Cujo” sempre funciona como adjunto adnominal.

Onde
“Onde” sempre é empregado como adjunto adverbial de lugar, mas quanto à classe de
palavras a que pertence, se não houver antecedente expresso, não é pronome relativo.
a) Não sei [onde ele está].
• onde = advérbio interrogativo de lugar / conectivo / adjunto adverbial de lugar;
• onde ele está: oração subordinada substantiva objetiva direta.

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138 © Língua Portuguesa III

OBSERVAÇÃO:
Na oração principal do exemplo em tela, não há antecedente de “onde”, portanto não se trata de um
pronome relativo.

b) Visitei a cidade [onde você nasceu].


• onde = pronome relativo / conectivo / adjunto adverbial de lugar;
• cidade = antecedente de “onde”;
• onde você nasceu: oração subordinada adjetiva restritiva.

c) "Dize-me, águas mansas do rio,


Para onde levais essa flor.” (ROCHA LIMA, 1994, p. 268, grifo nosso).
• onde = advérbio interrogativo / conectivo / adjunto adverbial de lugar;
• Para onde levais essa flor: oração subordinada substantiva objetiva direta.

Como
Merece cuidado ao ser classificado.
Observe.
a) Não entendi como ele fez aquilo.
• como = advérbio interrogativo / conectivo / adjunto adverbial de modo;
• como ele fez aquilo = oração subordinada substantiva objetiva direta.
b) Resolvi tudo como o professor ensinou.
• como = conjunção subordinativa conformativa / conectivo;
• como o professor ensinou = oração subordinada adverbial conformativa.

c) Ele é tão responsável como seu irmão.


• como = conjunção subordinativa comparativa / conectivo;
• como seu irmão (é responsável) = oração subordinada adverbial comparativa.

d) * Como meu irmão você deve me compreender.


• como = preposição acidental (+ na qualidade de).

e) Como ensina a Bíblia, somos todos irmãos.


• como = conjunção subordinativa conformativa / conetivo;
• como ensina a Bíblia = oração subordinada adverbial conformativa.

f) Como choveu muito, não pudemos viajar.


• como = conjunção subordinativa causal / conectivo;
• como choveu muito = oração subordinada adverbial causal.

g) Sempre reprovei a maneira como ele se portou.


• como = pronome relativo /conectivo / adjunto adverbial de modo;
• como ele se portou = oração subordinada adjetiva restritiva.
© U3 - Orações subordinadas 139

Pronome relativo preposicionado


O pronome relativo preposicionado pode exercer as seguintes funções: objeto indireto,
complemento nominal, adjunto adverbial e agente da passiva.

Pronome relativo não preposicionado


O pronome relativo não preposicionado pode exercer as seguintes funções: sujeito, objeto
direto e predicativo do sujeito.

Classificação do quem
Observe as possibilidades de classificação do quem:
a) Este é meu amigo a quem muito devo.
• quem = pronome relativo / conectivo / objeto indireto;
• a quem muito devo = oração subordinada adjetiva restritiva.

b) Prometeram aumento a quem trabalhasse.


• quem = pronome substantivo indefinido / conectivo / sujeito simples;
• a quem trabalhasse = oração subordinada substantiva objetiva indireta.

c) Perguntei-lhe quem tinha chegado.


• quem = pronome substantivo interrogativo / conectivo / sujeito simples;
• quem tinha chegado = oração subordinada substantiva objetiva direta.
d) Quem chegou?
• quem = pronome substantivo interrogativo / sujeito.

e) O pronome quem, sem antecedente expresso, é pronome indefinido e faculta, como


objeto direto, o emprego da preposição (objeto direto preposicionado).

Não sei [quem devo escolher].


• quem = pronome substantivo indefinido / conectivo /objeto direto de ‘devo esco-
lher”;
• quem devo escolher = oração subordinada substantiva objetiva direta.

Não sei [a quem devo escolher.]


• a quem = pronome substantivo indefinido / conectivo / objeto direto preposicionado;
• a quem devo escolher = oração subordinada substantiva objetiva direta (objeto
direto de “sei”).
No exemplo em exame, o objeto direto da oração substantiva é preposicionado, mas não
o é a oração e muito menos a oração subordinada substantiva passa a ser objetiva indireta.

Porque
Há várias possibilidades de classificação do porque.
a) Desvendei todo o mistério porque obtive valiosas informações.
• porque = conjunção subordinativa causal / conectivo;
• porque obtive valiosas informações = oração subordinada adverbial causal.

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140 © Língua Portuguesa III

b) Queria saber por que ninguém conseguira isto.


• por que = advérbio interrogativo / conectivo / adjunto adverbial de causa;
• por que ninguém conseguira isto = oração subordinada substantiva objetiva direta.

c) Era este o motivo por que todos se calaram.


• por = preposição;
• que = pronome relativo / conectivo / adjunto adverbial de causa;
• por que todos se calaram = oração subordinada adjetiva restritiva.

d) “E nestes cinco escudos pinta os trinta


Dinheiros por que Deus fora vendido” (CAMÕES, 2011, grifos nossos).
• por = preposição;
• que pronome relativo / conectivo / adjunto adverbial de preço;
• por que Deus fora vendido = oração subordinada adjetiva restritiva.

Como, conforme, consoante, segundo


Como, conforme, consoante, segundo, além de conjunções, podem ser preposições aci-
dentais.
Preposição acidental é a que não era preposição em latim.
A conjunção subordinativa liga dois verbos (orações).
A conjunção coordenativa liga duas palavras da mesma classe gramatical. Quando liga
verbo + verbo, temos, então, duas orações.
A preposição liga o antecedente ao consequente, não sendo necessário que sejam da
mesma classe gramatical. O que nunca vai acontecer é a preposição ligar verbo a verbo.
A preposição como (acidental) é substituível por "na qualidade de".
Observe:
a) Como cidadão, exijo meus direitos.
Na qualidade de cidadão, exijo meus direitos.
como = preposição acidental.

b) Você é como seu pai.


Você é [como seu pai (é)].
como seu pai (é) = oração subordinada adverbial comparativa.

c) Elas fizeram o trabalho, como o patrão mandou.


Elas fizeram o trabalho, [como o patrão mandou].
como o patrão mandou = oração subordinada adverbial conformativa.

d) Segundo Cristo, somos irmãos.


De acordo com Cristo, somos irmãos.
© U3 - Orações subordinadas 141

1) o período tem apenas um verbo.


2) segundo = preposição acidental.

e) Segundo nos ensinou Cristo, somos irmãos.


[Segundo nos ensinou Cristo,] somos irmãos.
Segundo nos ensinou Cristo = oração subordinada adverbial conformativa.

f) Ele agiu consoante a lei.


1) o período tem apenas um verbo.
2) consoante = preposição acidental.

g) Ele agiu, consoante manda a lei.


Ele agiu, [consoante manda a lei.]
consoante manda a lei = oração subordinada adverbial conformativa

h) O D é uma consoante.
consoante = substantivo cuja função sintática é de predicativo do sujeito (D)

Teste seus conhecimentos fazendo os exercícios propostos.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1) EXERCÍCIO 1
Numere os parênteses, de acordo com o seguinte:
1- a oração sublinhada é subordinada substantiva.
2- a oração sublinhada é subordinada adjetiva.
a) ( ) Não tardou que várias reses aparecessem.
b) ( ) Certamente era aquela rês que o dono da voz buscava no meio do gado.
c) ( ) Dizem que é uma alfaiataria decente, de roupas escuras.
d) ( ) Ninguém sabia onde ele trabalhava agora.
e) ( ) De volta João Piolho pediu ou eu servisse de testemunha, porque ia mexer no espólio do amigo.
f) ( ) Por isso diziam que eu era amigo das almas.
g) ( ) Um dia, certo menino chamado Joâo Balaó me garantiu que conversava com o Diabo quem falasse so-
zinho.
h) ( ) Carminha insistiu, gritando, e eu respondi que não a escutava.
i) ( ) No sei quanto tempo passei deste jeito, fora de mim.
j) ( ) Só desejava que qualquer coisa em mim, que eu não sabia bem o que fosse, pudesse provar a Carmínha
e a Deus o meu arrependimento.

2) EXERCÍCIO 2
Classifique as orações sublinhadas, de acordo com o seguinte:
1- oração subordinada substantiva subjetiva;
2- oração subordinada substantiva objetiva direta;
3- oração subordinada substantiva objetiva indireta;
4- oração subordinada substantiva predicativa;
5- oração subordinada substantiva completiva nominal;
6- oração subordinada substantiva apositiva.

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142 © Língua Portuguesa III

1) ( ) Não se sabe onde ele está.

2) ( ) Não sei onde ele está.

3) ( ) Não sei quanto durou a audiência.

4) ( ) Tive a impressão de que ele respirava.

5) ( ) Eu tinha certeza de que Maria chegaria antes do espetáculo.

6) ( ) É possível que tudo termine em paz.

7) ( ) É preciso que o povo se conscientize de seus direitos.

8) ( ) Convencê-lo-ei de que tudo vai indo bem.

9) ( ) Meus desejos são que tudo dê certo.

10) ( ) Nada obsta a que desistas do negócio.

11) ( ) A verdade é que ninguém enfrentou a fera.

12) ( ) Parece que esta ladainha não tem fim.

13) ( ) Acho que você foi muito corajoso.

14) ( ) A população necessita de que dirigentes sejam mais responsáveis.

15) ( ) É compreensível que não sejam toleradas tais atitudes.

Confira suas respostas. Se o número de acertos não foi satisfatório, recomendamos que reveja a teoria constante
neste material e complemente as informações com pesquisas.

Gabarito
1) EXERCÍCIO 1
a) (1)
b) (2)
c) (1)
d) (1)
e) (1)
f) (1)
g) (1)
h) (1)
i) (1)
j) (2)

2) EXERCÍCIO 2

1) ( 1 )
2) ( 2 )
3) ( 2 )
4) ( 5 )
5) ( 5 )
6) ( 1 )
7) ( 1 )
8) ( 3 )
9) ( 4 )
10) ( 3 )
11) ( 4 )
© U3 - Orações subordinadas 143

12) ( 1 )
13) ( 2 )
14) ( 3 )
15) ( 1 )
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

15. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos noção do que é subordinação de orações e vimos as subordinadas
adverbiais, adjetivas e substantivas.
Nosso objetivo foi ajudá-lo a enriquecer sua bagagem cultural. Assim, esperamos que,
além de apreendido, você tenha aumentado seus horizontes em classificação de orações subor-
dinadas.
Que você não tenha nem resquícios de dúvidas é nosso desejo, mas, caso as tenha, entre
em contato conosco.
Na próxima unidade, veremos orações reduzidas, interferentes e coordenadas entre si.

16. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
ALENCAR, José de. O gaúcho. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/jose-de-alencar/
gaucho-6.php>. Acesso em: 25 jan. 2011.
CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Disponível em: <http://www.uff.br/nepa/antologia-1.htm>. Acesso em: 26 jan. 2011.
CONTANDO HISTORIA. Texto extraído de Fábulas de Esopo. Texto em português de Guilherme Figueiredo. Disponível
em: <http://www.contandohistoria.com/o_cao_e_a_sombra.htm>. Acesso em: 26 jan. 2011.
EDUCAÇÃO CENTRAL. Disponível em: <http://educacao.centralblogs.com.br/post.php?href=fabula+a+raposa+e+a
+uva&KEYWORD=17521&POST=3688279>. Acesso em: 27 jan. 2011.
LAURIA, Márcio José. Por causa da Medalha, Crônica publicada em 26 mar. 2005. Disponível em: <http://www.
saojoseonline.com.br/lauria/cr260305.htm>. Acesso em: 25 jan. 2011.
LOBATO, Monteiro. Negrinha. Disponível em: <http://www.bancodeescola.com/negrinha.htm>. Acesso em: 25 jan.
2011.
PALMÉRIO, Mário. Vila dos Confins. Disponível em: <http://www.uniube.br/mariopalmerio/literatura/sucuri.php>.
Acesso em: 25 jan. 2011.
ROSA, João Guimarães. Corpo de Baile in Manuelzão e Miguilim. Disponível em: <http://bazaglia.blogspot.
com/2008/12/miguilim-e-luz-de-seus-olhos.html>. Acesso em: 25 jan. 2011.

17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1984.
HAUY, Amini Boainain. Da necessidade de uma gramática-padrão da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1983.
______. Teoria gramatical da oração: curso de especialização em língua portuguesa. Centro Universitário "Barão de
Mauá". Ribeirão Preto, 1986.
IGNÁCIO, Sebastião Expedito. Análise sintática em três dimensões: uma proposta pedagógica. 2. ed. Franca: Ribeirão
Gráfica, 2003.
JORNAL DO BRASIL. Rio de janeiro. 18 jan. 1988, 1º caderno, p. 5.
ASSIS, Machado de. A missa do galo. Contos. São Paulo: Melhoramentos, 1963.
RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro / São Paulo: Record; Atalaya, 1995. (Mestres da Literatura Contemporânea)
ROCHA LIMA, C. H. Gramática normativa da língua portuguesa. 32. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994.

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144 © Língua Portuguesa III

SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática: teoria e prática. 20. ed. Revista e atualizada. São Paulo: Atual, 1996.
TREINAMENTO A DISTÂNCIA: lições de língua portuguesa. Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 1992.
EAD
Orações Reduzidas, Interferentes
e Coordenadas Entre Si

1. OBJETIVOS
• Adquirir embasamentos teóricos sobre classificação de orações reduzidas, interferen-
tes e coordenadas entre si.
• Reconhecer as orações reduzidas, interferentes e coordenadas entre si no texto.
• Adquirir conhecimentos para desenvolver orações reduzidas nos mais diversos contex-
tos.
• Analisar textos diversos.

2. CONTEÚDOS
• Orações reduzidas de infinitivo (ou infinitivas).
• Orações subordinadas reduzidas de gerúndio (ou gerundivas).
• Orações subordinadas reduzidas de particípio (ou participiais).
• Classificação de orações reduzidas.
• Orações interferentes.
• Orações subordinadas e coordenadas entre si.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir:
146 © Língua Portuguesa III

1) Normalmente, é no curso de graduação em Letras que o aluno tem informações mais


aprofundadas das mudanças ocorridas na Língua Portuguesa ao longo do tempo. É
impossível ver, exaustivamente, o assunto somente neste material. Assim, a pesquisa
e as leituras complementares são imprescindíveis. Sugerimos-lhe, como começo de
leitura, os livros constantes na bibliografia desta unidade.
2) Discuta as dificuldades encontradas na unidade com seus colegas e com o tutor.
3) Conheça as biografias dos linguistas mencionados nesta unidade que não foram vistos
nas unidades anteriores.
André Martinet
Linguista francês, professor de linguística francesa e grande nome do funcionalismo lin-
guístico, André Martinet nasceu a 12 de Abril de 1908, em Saint-Albans-des-Villards (Sa-
voie), e faleceu a 16 de Julho de 1999, em Châtenay-Malabry.
Enquanto jovem, manteve correspondência com os mestres do Círculo Linguístico de Pra-
ga, o que lhe permitiu contactar com o estruturalismo linguístico e desenvolver mais tarde
o funcionalismo, teoria que viria a influenciar profundamente as seguintes gerações de
linguistas, na medida em que representou mais um paradigma em linguística.
Em 1937, defendeu a tese de doutoramento em La gémination consonantique d’origine
expressive dans les langues germaniques y La phonologie du mot en danois. O seu co-
nhecimento de dinamarquês permitiu-lhe conhecer a obra do linguista Louis Hjelmslev,
com quem passou a manter contactos. Durante a Segunda Guerra Mundial contactou com
soldados de diferentes regiões, o que lhe permitiu estudar aspectos de variação linguística
do francês que compilou em La prononciation du Français contemporain (1945).
Foi professor na École pratique des hautes études, entre os anos de 1938-1946 e de 1955-1999. Leccionou também
na Universidade da Columbia (Nova Iorque), entre 1946 e 1955, data em que regressa a Paris para ocupar uma
cátedra na Universidade da Sorbonne e na Universidade de Paris V. Durante os tempos em que viveu nos Estados
Unidos, teve oportunidade de contactar com outros nomes proeminentes na linguística do século XX, como Roman
Jakobson, e com discípulos de E. Sapir e de Leonard Bloomfield.
Foi o presidente fundador da Société Internacional de Linguistique Fonctionnelle (Sociedade Internacional de Lin-
guística Funcional), dirigiu as revistas “Word” e “Linguistique” (dedicada ao funcionalismo), da “International Auxiliary
Language Association” e presidiu a Société Européenne de Linguistique, desde 1966 até à data da sua morte. Dirigiu
uma colecção na editora francesa Presses Universitaires de France. Participou na reforma da ortografia da língua
francesa e nos trabalhos levados a cabo pelo Conselho Superior da Língua Francesa sobre a “compreensão mútua
das línguas latinas”.
André Martinet distinguiu-se pelo desenvolvimento do funcionalismo, na sequência do estruturalismo, e aplicou este
paradigma linguístico à fonologia, morfologia e sintaxe do francês, constituindo também uma referência para o estu-
do da fonética diacrónica e da variação dialectológica.
De entre os mais de vinte livros que publicou e os mais de quatrocentos artigos em revistas e em actas de congres-
sos, destacam-se os seguintes títulos:
• 1946, “La linguistique et les langues artificielles” (in Word, vol. 2, n.º 1)
• 1955, Économie des changements phonétiques. Traité de phonologie diachronique (obra considerada como o
melhor tratado de fonética e fonologia diacrónicas escrito no século XX)
• 1960, Eléments de linguistique générale (traduzido em dezassete línguas)
• 1962, Langue et Fonction
• 1965, La linguistique synchronique. Études et recherches
• 1985, Syntaxe générale
• 1989, Fonction et dynamique des langues
• 1989, Grammaire fonctionelle du français
André Martinet deixou-nos ainda uma autobiografia onde conta as suas memórias Mémoires d’un linguiste, vivre les
langues, publicada em 1993. Martinet influenciou a linguística portuguesa, sobretudo através dos estudos do linguis-
ta português Jorge Morais Barbosa e do linguista brasileiro Joaquim Mattoso Camara JR.(imagem e texto disponíveis
em: <http://www.infopedia.pt/$andre-martinet>. Acesso em: 10 fev. 2011).

Tzvetan Todorov
Nascido em Sofia, em 1939, Tzvetan Todorov instala-se em Paris em 1963, fre-
quentando os cursos de Rolands Barthes. Crítico, filósofo, historiador, linguista e
semiólogo, Todorov é um dos mais importantes intelectuais europeus. Publicou
um número considerável de obras traduzidas em vinte e cinco idiomas. Após
completar seus estudos, passando a freqüentar então os cursos de Filosofia da
Linguagem ministrados por Roland Barthes, um dos grandes teóricos do Estru-
turalismo, Todorov foi professor da École Pratique de Hautes Études e na Uni-
versidade de Yale e Diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Paris
(CNRS).
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 147

O livro é um clássico entre os historiadores de uma maneira geral. O ponto de partida do autor é no mínimo bastante
interessante: entender a questão do outro, ou seja, como e em que parâmetros estão baseadas as relações de en-
tendimento entre duas culturas completamente diferentes?
Para responder essa pergunta central, o autor toma como exemplo o encontro entre os europeus e os nativos ame-
ricanos desde 1492. Procurando assim analisar a influência cultural entre as duas sociedades e também minimizar a
idéia de que somente os nativos foram aculturados.
Todorov retrata momentos históricos vivenciados por essas sociedades, como por exemplo as dificuldades encon-
tradas por Colombo durante a viagem (a partir da análise do seu diário de bordo ) e o primeiro contato com os nati-
vos, a visão que cada um constrói do outro, etc. (imagem e texto disponíveis em: <http://digitandohistoria.blogspot.
com/2009/06/biografia-iii-tzvetan-todorov.html>. Acesso em: 14 fev. 2011).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Ao analisarmos as orações de um texto, temos por finalidade a verificação de como o texto
foi elaborado, como o texto foi tecido, o que, por sua vez, auxilia-nos em sua interpretação.
Nas unidades anteriores, tivemos oportunidade de constatar o que ora afirmamos, ao
analisar textos quanto à sua estrutura e compreensão, seguindo-se a teoria. Agora, não há muita
teoria a ser vista, pois entramos em uma fase. Assim, consideramos interessante a análise de um
texto que nos dê oportunidade de rever conteúdos estudados e, ao mesmo tempo, apresente-
-nos novidades cuja teoria consta nesta unidade.
A raposa e as uvas
Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia uma parreira cheia de uvas maduras, cujos cachos
se penduravam muito alto, em cima de sua cabeça. A raposa não podia resistir à tentação de chupar
aquelas uvas; mas, por mais que pulasse, não conseguia abocanhá-las. Cansada de pular, olhou mais
uma vez os apetitosos cachos e disse:
— Estão verdes...
É fácil desdenhar daquilo que não se alcança (Fábulas de Esopo, 2011).

Somos capazes de analisar todo esse texto. Para facilitar nosso trabalho, vamos dividi-lo
em seus períodos.
Acompanhe o nosso raciocínio.
Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia uma parreira cheia de uvas maduras,
cujos cachos se penduravam muito alto, em cima de sua cabeça.
[Uma raposa faminta entrou num terreno] [onde havia uma parreira cheia de uvas
1 2
maduras,] [cujos cachos se penduravam muito alto, em cima de sua cabeça].
3
a) Oração 1: Uma raposa faminta entrou num terreno = oração principal.
• Podemos perceber que ela não possui conectivo e que a oração seguinte inicia-se
por um pronome relativo.

b) Oração 2: onde havia uma parreira cheia de uvas maduras.


• oração iniciada pelo pronome relativo onde, que funciona como conectivo;
• o pronome relativo refere-se, ainda, a um elemento da oração anterior, no caso,
onde corresponde a terreno;
• percebemos, assim, que não é qualquer terreno, é um terreno determinado (com
uma parreira cheia de uvas maduras);
• assim, esta oração é uma subordinada adjetiva restritiva, porque é introduzida por
um pronome relativo e restringe-se ao terreno referido.

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148 © Língua Portuguesa III

• Onde exerce também a função sintática de adjunto adverbial de lugar (havia uma
parreira cheia de uvas maduras no terreno).

c) Oração 3: cujos cachos se penduravam muito alto, em cima de sua cabeça.


• oração iniciada pelo pronome relativo cujos – conectivo;
• o pronome relativo refere-se a um termo da oração anterior, no caso, cujos cachos
equivale a cachos da parreira;
• percebemos que, se omitirmos essa oração do período, ele não sofrerá profundas
modificações semânticas (Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia
uma parreira cheia de uvas maduras), contudo, não podemos deixar de reconhecer
que a oração traz ao texto mais informações;
• cujos exerce, ainda, a função sintática de adjunto adnominal (cachos da parreira se
penduravam muito alto, em cima de sua cabeça);
• assim, inferimos que esta oração é uma subordinada adjetiva explicativa.
Passemos ao período seguinte.
A raposa não podia resistir à tentação de chupar aquelas uvas; mas, por mais que pulasse,
não conseguia abocanhá-las.
Observando o período, verificamos que nele existe uma oração intercalada – por mais que
pulasse –. Para facilitar a divisão do período, podemos colocá-la no final.
[A raposa não podia resistir à tentação] [de chupar aquelas uvas;] [mas não conseguia
1 2 3
abocanhá-las,] [por mais que pulasse.]
4
a) Oração 1: A raposa não podia resistir à tentação = principal.
b) Oração 2: de chupar aquelas uvas.
• esta oração inicia-se por uma preposição (de);
• antes da preposição, portanto na Oração 1, há um termo transitivo (tentação);
• este ambiente, lembra-nos a seguinte estrutura:

(sujeito) + verbo + termo transitivo + preposição + oração subordinada substantiva


completiva nominal

• podemos concluir, pois, que a Oração 2 é uma subordinada substantiva completiva


nominal.
c) Oração 3: mas não conseguia abocanhá-las.
• oração introduzida pela conjunção coordenativa adversativa mas;
• além disso, podemos perceber que esta oração exprime uma oposição, ideia
contrária ao conteúdo do restante do período;
• assim, é uma oração coordenada adversativa.
d) Oração 4: por mais que pulasse.
• Esta oração está no período como um esclarecimento, portanto, é uma interferente
ou intercalada.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 149

Aqui temos uma novidade: oração interferente ou intercalada. Ela será estudada na pre-
sente unidade.
Prossigamos.
Cansada de pular, olhou mais uma vez os apetitosos cachos e disse: – Estão verdes...
[Cansada] [de pular,] [olhou mais uma vez os apetitosos cachos] [e disse:] [– Estão verdes...]
1 2 3 4 5
a) Orações 1 e 2: Cansada de pular.
• Na Oração 1, há termos elípticos:
[como a raposa estava cansada] → oração subordinada adverbial causal.
• Oração 2
[de pular] → oração reduzida de infinitivo subordinada substantiva completiva no-
minal.

OBSERVAÇÃO:
Embora já tenhamos encontrado orações reduzidas em outros textos analisados, elas serão estudadas
nesta unidade.

b) Oração 3: (a raposa) olhou mais uma vez os apetitosos cachos.
• Esta oração não contém conectivo, portanto, é uma oração assindética em relação
à Oração 3 e principal da Oração 1 (a seguir, você perceberá melhor esta classifica-
ção).

c) Oração 4: e disse:
• oração introduzida por uma conjunção coordenativa aditiva (e);
• em princípio, poderíamos classificar esta oração como uma coordenada aditiva,
baseando-nos no fato de que a conjunção coordenativa e, que a introduz, é, quase
sempre, aditiva;
• por outro lado, sabemos que a classificação da oração depende da relação que ela
estabelece com outra do período. Vamos, então, primeiro verificar essa relação;
• no caso em exame, percebemos que a Oração 3 estabelece com a Oração 2 uma
relação de soma, expressa ligação ou adição de afirmação;
• esta oração, podemos afirmar, é uma coordenada aditiva.

d) Oração 5: estão verdes...


• a Oração 3 não é, por si só, semanticamente completa;
• o verbo dizer é transitivo direto, portanto requer um complemento (objeto direto);
• o complemento do verbo dizer – da Oração 3 – é a Oração 4 ( [a raposa] disse [que
as uvas] estão verdes);
• Neste caso, “dizer” é um verbo dicendi, introduzindo um discurso direto, o que
explica a omissão da conjunção integrante. Em discurso indireto, teríamos: “e disse
que [as uvas] estão verdes”.
• esta oração é, por conseguinte, uma subordinada substantiva objetiva direta;
• como oração subordinada, ela é dependente de uma principal;
• a oração em exame é subordinada à Oração 3 (e disse);
• assim, a Oração 3, além de coordenada aditiva (em relação à Oração 2), é, também,
principal em relação à Oração 4.

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150 © Língua Portuguesa III

É fácil desdenhar daquilo que não se alcança.


É fácil [desdenhar daquilo] [que não se alcança].
1 2 3

a) Oração 1: É fácil
• Percebemos que há um verbo de ligação (é) e um predicativo (fácil), mas não há
sujeito. Isso nos lembra uma estrutura mencionada na Unidade 3:

verbo de ligação (ser, estar, ficar) + predicativo (substantivo ou adjetivo) + oração


subordinada substantiva subjetiva

• Inferimos que a oração em análise é a principal e a oração que a segue é seu sujeito.

b) Oração 2: desdenhar daquilo


• pelos comentários da oração anterior, sabemos que esta é uma oração subordina-
da substantiva subjetiva;
• vê-se, ainda, que ela é exatamente do tipo que já estudamos, pois alguns elemen-
tos não são expressos, como a conjunção integrante;
• isso acontece, porque é uma oração reduzida, mas que pode ser desenvolvida: que
se desdenhe daquilo...
• podemos adiantar que se trata de uma oração reduzida - assunto desta unidade
- que é classificada como oração subordinada reduzida de infinitivo substantiva
subjetiva.

c) Oração 3: que não se alcança.


• oração introduzida por um pronome relativo referente a um termo da oração ante-
rior (antecendente): aquilo;
• esse pronome relativo-conectivo induz-nos a classificar esta oração como subordi-
nada adjetiva;
• como a informação nela contida não é apenas um acréscimo de informação, mas
sim uma restrição, a oração é uma subordinada adjetiva restritiva.
Terminada a análise do texto, vejamos as novidades que nos reserva esta unidade.
Nas unidades anteriores, tivemos a oportunidade de estudar a classificação de orações
introduzidas por conjunção, pronomes e advérbios. Nós nos ativemos, portanto, a orações de-
senvolvidas. Nesta unidade, entre outras, veremos orações reduzidas.
As orações reduzidas podem ser de infinitivo, de gerúndio e de particípio em função da
forma verbal que apresentam. Não há orações reduzidas com verbos compostos. O que as ca-
racteriza é a forma nominal do verbo e não a falta de conectivo, pois há orações desenvolvidas
assindéticas. Elas podem vir ou não precedidas de preposição.
Vejamo-las.

5. ORAÇÕES REDUZIDAS
As orações reduzidas de infinitivo (infinitivas) podem ser:
1) subordinadas substantivas;
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 151

2) subordinadas adverbiais;
3) subordinadas adjetivas.
As orações reduzidas de gerúndio (gerundivas) podem ser:
1) subordinadas adverbiais;
2) subordinadas adjetivas;
subordinadas adverbiais * modais (não contempladas pela NGB); coordenadas *aditi-
vas (não contempladas pela NGB).
As orações reduzidas de particípio (participiais) podem ser:
1) subordinadas adjetivas;
2) subordinadas adverbiais.
Estudemos cada uma delas, conforme a forma nominal apresentada na oração.

6. ORAÇÕES REDUZIDAS INFINITIVAS (DE INFINITIVO)


As orações reduzidas infinitivas podem vir ou não precedidas de preposição. Geralmente,
as adverbiais vêm precedidas.
Algumas orações reduzidas de infinitivo vêm depois dos verbos causativos e sensitivos
como: deixar, mandar, fazer, ver, ouvir, olhar, sentir etc.
Constate o que afirmamos.
Mandei-os sair.
a) [Mandei-os] [sair].
1 2
a.1) [Mandei] [que eles saíssem].
1 2
As Orações 2 de a e a1 são orações subordinadas substantivas objetivas diretas, sendo que
a 2 de a é reduzida e a 2 de a.1, desenvolvida.
Passemos aos vários tipos de orações reduzidas de infinitivo, iniciando pelas substantivas.

Subjetiva

"Era-lhe tão enfadonho escrever cartas compridas.” (ASSIS, 2011).


[Era-lhe tão enfadonho] [escrever cartas compridas]!
1 2
Oração 2: escrever cartas compridas = reduzida de infinitivo subordinada substantiva
subjetiva.

Objetiva direta
Nós resolvemos não procurar a justiça.
[Nós resolvemos] [não procurar a justiça].
1 2

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152 © Língua Portuguesa III

Oração 2: não procurar a justiça = reduzida de infinitivo subordinada substantiva objetiva


direta.
Podemos desenvolver a oração reduzida, para que você perceba que a classificação da
oração reduzida e a da desenvolvida é a mesma.
Nós resolvemos que não procuraríamos a justiça.
[que não procuraríamos a justiça] → oração subordinada substantiva objetiva direta.

Objetiva indireta
Jaciara pensa em deixar sua cidade natal.
[Jaciara pensa] [em deixar sua cidade natal].
1 2
Oração 2: em deixar sua cidade natal = reduzida de infinitivo subordinada substantiva
objetiva indireta.

Completiva nominal
Senti vontade de gritar bem alto.
[Senti vontade] [de gritar bem alto].
1 2
Oração 2: de gritar bem alto = reduzida de infinitivo subordinada substantiva completiva
nominal.

Predicativa
Seu objetivo é levar a palavra de Deus a todos.
[Seu objetivo é] [levar a palavra de Deus a todos].
1 2
Oração 2: levar a palavra de Deus a todos = reduzida de infinitivo subordinada substantiva
predicativa.

Apositiva:
Paulo disse isto: viver bem não é fácil.
[Paulo disse isto:] [viver bem não é fácil].
1 2
Oração 2: viver bem não é fácil = reduzida de infinitivo subordinada substantiva apositiva.
Vejamos, agora, as orações reduzidas de infinitivo adverbiais.

Causal
Não compareceu à reunião por estar doente.
[Não compareceu à reunião] [por estar doente].
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 153

1 2
Oração 2: por estar doente = reduzida de infinitivo subordinada adverbial causal.
Veja como a classificação da oração desenvolvida é a mesma da oração reduzida.
Não compareceu à reunião [porque estava doente].
[porque estar doente] = oração subordinada adverbial causal.

Concessiva
Não obstante estar doente, compareceu à reunião.
[Não obstante estar doente,] [compareceu à reunião].
1 2
Oração 1: Não obstante estar doente = reduzida de infinitivo subordinada adverbial
concessiva.

Condicional
Não vá sem se despedir.
[Não vá] [sem se despedir].
1 2
Oração 2: sem se despedir = reduzida de infinitivo subordinada adverbial condicional.

Consecutiva
O impacto foi tamanho a ponto de provocar desmaios.
[O impacto foi tamanho] [a ponto de provocar desmaios].
1 2
Oração 2: a ponto de provocar desmaios = reduzida de infinitivo subordinada adverbial
consecutiva.

Final
Eu me calei para não suscitar polêmica.
[Eu me calei] [para não suscitar polêmica].
1 2
Oração 2: para não suscitar polêmica = reduzida de infinitivo subordinada adverbial final.

Temporal
a) Ao sair de casa, deparei-me com aquela cena dantesca.
[Ao sair de casa,] [deparei-me com aquela cena dantesca].
1 2
Oração 1: ao sair de casa = reduzida de infinitivo subordinada adverbial temporal.

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154 © Língua Portuguesa III

b) “Não há, porém, por que não trazer à consideração a maravilhosa expressão de Santo
Agostinho ao identificar o tempo com a própria vida da alma que se estende para o
passado e para o futuro: [...]” (LAURIA, 2011, grifos nossos).

OBSERVAÇÕES:
As orações adverbiais proporcionais e as comparativas apresentam-se sempre desenvolvidas.

As orações reduzidas de infinitivo podem ser também adjetivas.


Verifique.

a) Apresentei uma forma de facilitar o trabalho.


[Apresentei uma forma] [de facilitar o trabalho].
1 2
Oração 2: de facilitar o trabalho = reduzida de infinitivo subordinada adjetiva restritiva.
Desenvolvendo a oração reduzida.
Apresentei uma forma [que facilitasse o trabalho].
[que facilitasse o trabalho] = oração subordinada adjetiva restritiva

b) De repente vi uma estrela a brilhar.


[De repente vi uma estrela] [a brilhar].
1 2
Oração 2: a brilhar = reduzida de infinitivo subordinada adjetiva explicativa.

OBSERVAÇÃO:
Os adjetivos podem ser explicativos e restritivos. Os explicativos dizem respeito à qualidade essencial
do substantivo a que se refere. Por exemplo, neve fria. Os adjetivos restritivos dizem respeito a uma
qualidade que não é “natural” do substantivo, é algo que lhe foi adicionado ou que lhe é restrito em
determinado contexto. Por exemplo, homem sagaz. Não são todos os homens que são sagazes.

Podemos aplicar esses conceitos às orações adjetivas. Observando os exemplos, perce-


bemos que todas as estrelas brilham, portanto “brilhar” é inerente às estrelas. Por outro lado,
a facilitação de trabalho não diz respeito a todas “formas” que podem ser apresentadas. Houve
uma restrição.
Dando prosseguimento, estudemos as orações reduzidas de gerúndio.

7. ORAÇÕES SUBORDINADAS REDUZIDAS DE GERÚNDIO (OU GERUNDIVAS)


Lembra-se das fábulas O cão e a sombra e O leão fugido?
Olhando para baixo, viu a própria sombra dentro d'água.
“Pensando que o reflexo era outro cão com um pedaço de carne na boca, decidiu roubá-lo
e, para tanto, abriu as mandíbulas.”
O cavalheiro, ouvindo o aviso, voltou-se, viu o leão e morreu de um ataque do coração.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 155

Temos aí orações reduzidas de gerúndio.


Vamos conhecer a teoria?
As orações reduzidas de gerúndio (gerundivas) podem ser adverbiais.

Causal
Estando confuso, não entendeu a situação.
[Estando confuso,] [não entendeu a situação].
1 2
Oração1: estando confuso = reduzida de gerúndio subordinada adverbial causal.
Podemos desenvolver a oração reduzida: Não entendeu a situação [porque estava confuso].
[porque estava confuso]. = oração subordinada adverbial causal.

Concessiva
Sendo analfabeto, disse que sabia ler.
[Sendo analfabeto,] [disse] [que sabia ler].
1 2 3
Oração 1: sendo analfabeto = reduzida de gerúndio subordinada adverbial concessiva.
Oração desenvolvida: [embora fosse analfabeto] = subordinada adverbial concessiva.

Condicional
Havendo bom tempo, faremos excursão.
[Havendo bom tempo,] [faremos excursão].
1 2
Oração 1: havendo bom tempo = reduzida de gerúndio subordinada adverbial condicional.

* Modal
A modal não é contemplada pela NGB. Elas acontecem quando as ações verbais são
simultâneas.

a) Eu passo a minha vida sonhando.


[Eu passo a minha vida] [sonhando].
1 2
Oração 2: sonhando = reduzida de gerúndio subordinada adverbial modal.

b) O pai educa os filhos dando bons exemplos.


[O pai educa os filhos] [dando bons exemplos].
1 2

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156 © Língua Portuguesa III

Oração 2: dando bons exemplos = reduzida de gerúndio subordinada adverbial modal.


Continuemos nossa exposição.
As orações reduzidas de gerúndio (gerundivas) podem ser também adjetivas.
Confira.
Vi mendigos catando lixo.
[Vi mendigos] [catando lixo].
1 2
Oração 2: catando lixo = reduzida de gerúndio subordinada adjetiva restritiva.
Oração desenvolvida: [que catavam lixo] = subordinada adjetiva restritiva
As orações reduzidas de gerúndio (gerundivas) podem ser coordenadas aditivas.
Como assinalamos alhures, essas orações não são contempladas pela NGB. Se o conteúdo
da ação reduzida gerundiva aconteceu depois da ação da oração principal, a oração reduzida
gerundiva será aditiva. Acompanhe.
Ele prestou vestibular ingressando na faculdade.
(Ele prestou vestibular e ingressou na faculdade)
[Ele prestou vestibular] [ingressando na faculdade].
1 2
Oração 2: ingressando na faculdade = reduzida de gerúndio coordenada aditiva.
Continuemos nossos estudos com as orações subordinadas reduzidas de particípio.

8. ORAÇÕES SUBORDINADAS REDUZIDAS DE PARTICÍPIO (OU PARTICIPIAIS)


As orações reduzidas de particípio (participiais) podem ser adjetivas.
a) Não concordo com a explicação dada pela diretoria.
[Não concordo com a explicação] [dada pela diretoria].
1 2
Oração 2: dada pela diretoria = reduzida de particípio subordinada adjetiva restritiva.
Oração desenvolvida: [que a diretoria deu] = subordinada adjetiva restritiva.

b) Desaprovou-se a prestação de contas apresentada ao Tribunal.


[Desaprovou-se a prestação de contas] [apresentada ao Tribunal].
1 2
Oração 2: prestada ao Tribunal = reduzida de particípio subordinada adjetiva restritiva.
As orações reduzidas de particípio (participiais) podem ser também adverbiais.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 157

Exemplificando.

Temporal
Apreciado o processo, teremos a sentença.
[Apreciado o processo,] [teremos a sentença].
1 2
Oração 1: apreciado o processo = reduzida de particípio subordinada adverbial temporal.
Oração desenvolvida: [Quando apreciarem o processo] = subordinada adverbial temporal.

Causal
Desiludido, pediu demissão.
[Desiludido,] [pediu demissão].
1 2
Oração 1: desiludido = oração reduzida de particípio subordinada adverbial causal.

Concessiva
Condenado, não se arrependeu dos crimes.
[Condenado,] [não se arrependeu dos crimes].
1 2
Oração 1: condenado = reduzida de particípio subordinada adverbial concessiva.

Condicional
Aceitas as cláusulas, o contrato será assinado.
[Aceitas as cláusulas,] [o contrato será assinado].
1 2
Oração 2: aceitas as cláusulas = reduzida de particípio subordinada adverbial condicional.

9. CLASSIFICAÇÃO DE ORAÇÕES REDUZIDAS


Embora já tenhamos visto os passos para a classificação das orações reduzidas, não custa
repetir:
• desenvolver a oração reduzida, isto é, atribuir-lhe conectivo, segundo seu funcionamento
no período ou enunciado, e conjugar o verbo no indicativo ou subjuntivo, conforme o
contexto;
• classificar a oração desenvolvida;
• atribuir à oração reduzida a mesma classificação da oração desenvolvida, acrescentando
a expressão “reduzida de...” (infinitivo, gerúndio ou particípio). Podemos usar também
as expressões “reduzida infinitiva”, “reduzida gerundiva”, ou “reduzida participial”.

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158 © Língua Portuguesa III

Confira.
Era preciso tomar uma atitude.
Era preciso [tomar uma atitude].
Oração desenvolvida:
Era preciso [que se tomasse uma atitude].
Classificação da oração desenvolvida: oração subordinada substantiva subjetiva.
Classificação da oração reduzida: oração reduzida de infinitivo (ou reduzida infinitiva)
subordinada substantiva subjetiva.
Observe mais estes exemplos.
a) Convém falares a verdade.
• Convém que tu fales a verdade.
• que tu fales a verdade = oração subordinada substantiva subjetiva.
• falares a verdade = oração reduzida de infinitivo subordinada substantiva subjetiva.

b) Você tem o compromisso de continuar a obra.


• Você tem o compromisso de que a obra continue.
• de que a obra continue = oração subordinada substantiva completiva nominal.
• continuar a obra = oração reduzida de infinitivo subordinada substantiva completi-
va nominal.

c) Chorando, você nada conseguirá.


• Se chora, você nada conseguirá.
• Se chora = oração subordinada adverbial condicional.
• Chorando = oração reduzida de gerúndio subordinada adverbial condicional.

d) Dado o sinal, sairemos.


• Quando derem o sinal, sairemos.
• Quando derem o sinal = oração subordinada adverbial temporal.
• Dado o sinal = oração reduzida de particípio subordinada adverbial temporal.

e) Não concordo com a nota dada pelo professor.


• Não concordo com a nota que o professor deu.
• que o professor deu = oração subordinada adjetiva restritiva.
• dada pelo professor = oração reduzida de particípio subordinada adjetiva restritiva.

10. COMENTÁRIOS RELEVANTES


I. Conforme o contexto, as orações reduzidas podem ser desenvolvidas de formas
diferentes.
Você não convence ninguém, gritando.
a) Você não convence ninguém, se grita. → subordinada adverbial condicional.
b) Você não convence ninguém, quando grita. → subordinada adverbial temporal.
c) Você não convence ninguém, porque grita. → subordinada adverbial causal.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 159

II. O infinitivo e o particípio podem ser confundidos com substantivo ou adjetivo.


Observe.
a) Viver é sonhar.
Viver = sujeito
sonhar = predicativo
b) Rã morta ainda se mexe.
morta = adjunto adnominal

III. Infinitivo, gerúndio e particípio não constituem orações reduzidas em construções


perifrásticas ou locuções verbais.
Atente-se aos exemplos seguintes.
a) Temos encontrado muitas pessoas honestas.
Temos encontrado = locução verbal → pretérito perfeito composto
b) A lua ia surgindo.
ia surgindo = perífrase verbal

11. ORAÇÕES INTERFERENTES


Orações interferentes ou intercaladas são as que aparecem em um período como
observação, ressalva, esclarecimento, opinião etc. Não exercem função de principal, nem de
subordinada. Elas podem vir depois de dois-pontos e, quando no meio de outra frase, entre
vírgulas ou travessões.
Exemplificando.
a) Noite alta, seria hora e meia, acordei e não o encontrei.
b) “Eles dizem que têm sua própria segurança e preferem ignorar, disse ele.” (SMITH,
2011, grifos nossos).
c) “– Senhor - murmurou Iñigo entre dentes -, é impossível passar deste ponto.” (BÉC-
QUER, 2011, grifos nossos).
d) “– Sim - disse o jovem - ; é estranho o que está acontecendo comigo, muito estra-
nho...” (BÉCQUER, 2011, grifos nossos).
e) “— Torto por torto, quem leva vantagem é isto aqui – disse Askeladden e mostrou um
dos chifres de bode.
— Puxa! Eu nunca vi nada igual! – exclamou a princesa.
— Mas eu sim – disse Askeladden e tirou do bolso o outro chifre.
— Escute aqui, por acaso está tentando me cansar? – perguntou a princesa.
— Imagine, Alteza, sei que não está cansada. Agora, isto aqui está muito!
— respondeu o rapaz e pôs a sola de botina em cima da mesa” (AUBERT, 2011, grifos nossos).
f) O Barão – Deus o tenha – foi um homem honrado.
Todas as orações grifadas nos exemplos citados são interferentes ou intercaladas.

12. ORAÇÕES COORDENADAS ENTRE SI


Como já tivemos oportunidade de comentar, uma oração coordenada caracteriza-se pela
independência em relação à outra oração. Por sua vez, a oração subordinada é dependente,
porque exerce função sintática em outra oração.

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160 © Língua Portuguesa III

Acrescentamos, agora, que uma oração pode ser subordinada a uma principal e, ao mesmo
tempo, principal em relação a uma terceira. Mais ainda, entre as orações subordinadas, poderá
ocorrer coordenação.
Vejamos.

Uma oração pode ser subordinada a uma principal e, ao mesmo tempo, principal em relação
à outra.
a) Queriam saber qual era o sentido da viagem sempre adiada.
[Queriam saber] [qual era o sentido da viagem] [sempre adiada].
1 2 3
• Oração 1: Queriam saber = principal;
• Oração 2: qual era o sentido da viagem = a) subordinada substantiva objetiva direta.
• principal em relação à oração reduzida de particípio subordinada adjetiva restritiva
(Oração 3).
• Oração 3: sempre adiada = reduzida de particípio subordinada adjetiva restritiva.

b) Perguntei-lhe de quem era o vestido que ela estava usando.


[Perguntei-lhe] [de quem era o vestido] [que ela estava usando].
1 2 3
• Oração 1: Perguntei-lhe = principal.
• Oração 2: de quem era o vestido =
a) subordinada substantiva objetiva direta;
b) principal em relação à oração subordinada adjetiva restritiva (Oração 3).
• Oração 3: que ela estava usando = subordinada adjetiva restritiva.
À primeira vista, poderíamos pensar que a Oração 2 seria uma subordinada substantiva
objetiva indireta, por principiar pela preposição de, contudo você poderá perceber que não o é,
seguindo nosso raciocínio:
a) o oração principal [perguntei-lhe] já possui objeto indireto [lhe];
b) se fizermos uma conversão da Oração 2 em uma oração independente, substituindo
"quem" por um nome, poderíamos ter uma frase similar a esta: o vestido era de Ma-
ria.
c) assim sendo, o de em “de quem” não está introduzindo uma oração subordinada subs-
tantiva objetiva indireta porque:
• já existe um objeto indireto na oração principal [lhe];
• a preposição “de” estabelece uma relação de posse entre constituintes da Oração
2 [de quem era o vestido]. Assim sendo, a preposição “de” não está relacionando
uma oração com outra;
• se fizermos as clássicas perguntas, para encontrar os complementos do verbo “per-
guntar”, teremos:
1) perguntou o quê? => de quem era o vertido = objeto direto;
2) perguntou a quem? => lhe = objeto indireto.
A título de curiosidade: os verbos de ligação, além do predicativo, podem pedir objeto
indireto.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 161

Observe.
O dinheiro que lhe parecera suficiente não deu para as despesas.
O dinheiro [que lhe parecera suficiente] não deu para as despesas.
1 2
Oração 2: que lhe parecera suficiente = subordinada adjetiva restritiva.
Analisando esse período:
• sujeito = que (= dinheiro);
• predicativo do sujeito = suficiente;
• lhe = objeto indireto.
Continuemos nossos estudos com mais comentários e ilustrações interessantes.

Coordenação e Subordinação
Em um período podemos encontrar, ao mesmo tempo, coordenação e subordinação.
Observe.
Alguém me disse que ela voltara, mas vi logo que era mentira.
Analisando o período:
Alguém me disse [que ela voltara,] [mas vi logo] [que era mentira].
1 2 3 4
• Oração 1: Alguém me disse =
a) principal em relação à oração subordinada substantiva objetiva direta (que ela vol-
tou);
b) assindética em relação à oração coordenada sindética adversativa (mas vi logo).
• Oração 2: que ela voltou = subordinada substantiva objetiva direta;
• Oração 3: mas vi logo =
a) coordenada sindética adversativa;
b) principal em relação a [que era mentira].

• Oração 4: que era mentira = oração subordinada substantiva objetiva direta.

Alguém me disse [que ela voltou,] [mas vi logo] [que era mentira.]

• Período composto por coordenação e subordinação.

Orações podem ser coordenadas entre si.


Ilustrando.
a) Todos querem que você estude e que você se forme.
Classificando as orações do período:
Todos querem [que você estude] e [que se forme].
1 2 3
4

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162 © Língua Portuguesa III

• Oração 1: Todos querem = oração principal;


• Oração 2: que você estude = subordinada substantiva objetiva direta;
• Oração 3: que se forme = subordinada substantiva objetiva direta;
• Orações 4: que você estude e que você se forme = coordenadas entre si pela conjunção
coordenativa aditiva e.
• Período composto por coordenação e subordinação.
b) Não sabemos que somos e de que somos capazes.
Classificando as orações do período
Não sabemos [que somos] e [de que somos capazes].
1 2 3
4
• Oração 1: Não sabemos =
a) principal;
b) assindética.
• Oração 2: que somos = subordinada substantiva objetiva direta;
• Oração 3: de que somos capazes = subordinada substantiva objetiva indireta.
Observação:
a) de que é complemento nominal de capazes (adjetivo), portanto essa oração não é
uma subordinada objetiva indireta → [(nós) não sabemos][(nós) somos capazes de
que → disso];
b) apesar de o verbo saber poder se transitivo direto e indireto, no caso em tela, é
transitivo direto.
• Orações 4: que somos e de que somos capazes = coordenadas entre si pela conjunção
coordenativa aditiva e.
• Período composto por coordenação e subordinação.
Depois de tudo que estudamos, podemos classificar períodos mais complexos.
a) Era uma fada tão suave e pura,
Que, ao vê-la, o coração me estremecia;
E minh’alma exalar-se parecia
Em arroubos de mágica ternura (ESTÁTUA, 2011).

Era uma fada tão suave e pura,


1
[Que, [ao vê-la,] o coração me estremecia];
2 3
E minh’alma [exalar-se] parecia]
4 5
Em arroubos de mágica ternura.
• Oração 1: Era uma fada tão suave e pura =
a) principal;
b) oração assindética em relação à oração aditiva.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 163

• Oração 2: que o coração me estremecia = subordinada adverbial consecutiva.


• Oração 3: ao vê-la = reduzida de infinitivo subordinada adverbial temporal.
• Oração 4: e minh’alma parecia =
a) coordenada sindética aditiva;
b) oração principal em relação à oração subordinada substantiva predicativa.
• Oração 5: exalar-se em arroubos de meiguice e de ternura = reduzida de infinitivo su-
bordinada substantiva predicativa (que se exalava em arroubos de meiguice e de ter-
nura).
• Período composto por coordenação e subordinação.
b) “Julgando já Netuno que seria
Estranho caso aquele, logo manda
Tritão, que chame os Deuses da água fria,
Que o mar habitam duma e doutra banda.
Tritão, que de ser filho se gloria
Do Rei e de Salácia veneranda,
Era mancebo grande, negro e feio,
Trombeta de seu pai, e seu correio” (CAMÕES, 2010).

Classificando as orações:
[Julgando já] Netuno [que seria
2 1 3
Estranho caso aquele,] logo manda
Tritão, [que chame os Deuses da água fria,]
4
[Que o mar habitam duma e doutra banda.]
5
Tritão, [que [de ser filho] se gloria]
1 2 3
Do Rei e de Salácia veneranda,
Era mancebo grande, negro e feio,
Trombeta de seu pai, e seu correio.
• Oração 1: Netuno logo manda Tritão = principal.
• Oração 2: Julgando já = reduzida de gerúndio subordinada adverbial causal.
• Oração 3: que seria estranho caso aquele = subordinada substantiva objetiva direta.
• Oração 4: que chame os Deuses da água fria = subordinada adverbial final.
• Oração 5: que o mar habitam duma e doutra banda = subordinada adjetiva restritiva.

Era mancebo grande, negro e feio, trombeta de seu pai, e seu correio.”
• Oração 1: (Tritão) era mancebo grande, negro e feio, trombeta de seu pai e seu correio
= principal.
• Oração 2: que se gloria = subordinada adjetiva restritiva.

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164 © Língua Portuguesa III

• Oração 3: de ser filho do Rei e de Salácia veneranda = reduzida de infinitivo subordinada


substantiva objetiva indireta.
• Períodos compostos por (coordenação e) subordinação.
a) “Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente” (CAMPOS, 2011).
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
1
Nem sei bem [se sou eu] [quem em mim sente].
2 3 4
• Oração 1: Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu = assindética.
• Oração 2: Nem sei bem =
a) sindética coordenada aditiva;
b) principal em relação à oração subordinada substantiva objetiva direta.
• Oração 3: se sou = subordinada substantiva objetiva direta.
• Oração 4: quem em mim sente = subordinada substantiva predicativa.
• Período composto por coordenação e subordinação.
Para finalizarmos esta etapa de Língua Portuguesa III, alguns comentários sobre coorde-
nação. Nós não os fizemos na Unidade I, por não termos, ainda, estudado a subordinação, e a
compreensão destes comentários exige tais noções.

Como a coordenação entre orações, efetivamente, acontece.


Conforme nos ensina Martinet (1970), a coordenação pode ser identificada pelo apaga-
mento (supressão) de um dos termos coordenados, isto é, se eliminarmos um dos termos não
ocorrerá a agramaticidade (o enunciado continuará sento inteligível; o enunciado não nos cau-
sará estranheza).
Confira.
a) Irei ao cinema com Paulo e voltarei com João.
Irei ao cinema com Paulo e voltarei (do cinema) com João.
Apagando termos do período:
a.1) Irei ao cinema com Paulo.
a.2) Voltarei (do cinema) com João.
Tanto a.1 como a.2 são orações inteligíveis.
Por outro lado, na oração:
Paulo e Maria formam uma equipe,
Se apagarmos um dos termos coordenados, a oração ficará agramatical.
(*) Paulo forma uma equipe.
Maria forma uma equipe.
Confirmando o que dissemos, só haverá coordenação, quando o apagamento de um dos
termos não interferir na semântica, na inteligibilidade do enunciado.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 165

Prosseguindo.
Segundo Todorov e Ducrot (1977, p. 207), dois segmentos de um enunciado são
coordenados, quando têm a mesma função.
Veja.
a) Irei, se minha mãe permitir e se não chover.
Irei, [se minha mãe permitir] e [se não chover].
1 2 3
b) Maria disse que desrespeitou a lei e que não se arrependeu.
Maria disse [que desrespeitou a lei] e [que não se arrependeu].
1 2 3
As Orações 2 e 3 dos exemplos a e b são equipolentes, são, respectivamente, subordinadas
adverbiais condicionais e subordinadas substantivas objetivas diretas. A eliminação de uma não
causa transtorno semântico no enunciado.
a.1) Irei, se minha mãe permitir.
a.2) Irei, se não chover.
b.1) Maria disse que desrespeitou a lei.
b.2) Maria disse que não se arrependeu
Todos os enunciados supramencionados são inteligíveis e possíveis de serem realizados
em nossa língua pátria.
Em contrapartida, ocorre agramaticalização em orações de funções não equivalentes.
Observe.
Entreguei o donativo ao rapaz que vi na recepção e já que ele era o encarregado de recebê-
lo
(?) Entreguei o donativo ao rapaz [que vi na recepção] e [já que ele era o
2 3
encarregado] de recebê-lo.
A coordenação tornou-se agramatical, porque a Oração 2 [que vi na recepção] é uma
subordinada adjetiva e a Oração 3 [já que ele era o encarregado] é uma subordinada adverbial
causal. Assim sendo, são orações com funções diferentes.
Atente-se, agora, ao exemplo que segue.
a) Eu fiz o trabalho e segundo o professor orientou.
Perguntamos: há agramaticidade nesse enunciado? Podemos dizer que não há agramati-
cidade, porque o enunciado é inteligível. Então, o que o faz inteligível?
Observe.
a.1) [Eu fiz o trabalho] e [segundo o professor orientou.]
1 2

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166 © Língua Portuguesa III

Analisando:
• a Oração 1: [Eu fiz o trabalho] é oração principal;
• a Oração 2: [segundo o professor orientou] é oração subordinada adverbial conforma-
tiva;
• assim sendo, não são orações equipolentes.
Entretanto, não percebemos agramaticidade porque houve apagamento de uma oração.
Confira.
a.2) Eu fiz o trabalho e [eu o fiz,] segundo o professor orientou.
Percebe-se, pois, que há, sim, paralelismo semântico e funcional entre "Eu fiz o trabalho"
e a oração apagada "eu o fiz", porque ambas são orações com função de oração principal – em
relação à oração subordinada adverbial conformativa.
Observe, agora, o exemplo seguinte.
a) Eu limpo a casa, quando posso e você limpa, quando quer.
Analisando.
a.1) Eu limpo a casa, [quando posso] [e você limpa (a casa),] [quando (você) quer].
1 2 3 4
• a Oração 1 [Eu limpo a casa] é principal em relação à 2 [quando posso] e assindética
em relação à 3;
• a Oração 3 [e você limpa (a casa),] é coordenada assindética aditiva em relação à 1 e
principal em relação à 4 [quando (você) quer];
• as Orações 2 e 4 são adverbiais temporais.
Contudo, apesar de termos duas orações principais e duas orações adverbiais temporais,
não há coordenação, porque o apagamento de uma oração torna o enunciado agramatical.
Confira.
Apagando uma das orações adverbiais temporais:
a.2) (?)Eu limpo a casa, quando posso e você limpa.
O enunciado ficou incompleto.
Apagando uma das orações principais:
a.3) (?) Eu limpo a casa, quando posso e quando (você) quer.
Apesar de o enunciado ser inteligível, houve uma alteração semântica profunda entre o
enunciado a e o a.3. Não são, pois, enunciados semanticamente equivalentes.
O que expusemos leva-nos à seguinte conclusão: para que haja coordenação entre ora-
ções, não é suficiente que elas tenham a mesma função sintática, elas devem ter também a
mesma oração principal.
Apenas como reforço, retornemos a um exemplo dado alhures.
Maria disse que desrespeitou a lei e que não se arrependeu.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 167

Analisando.
Maria disse [que desrespeitou a lei] e [que não se arrependeu.]
1 2 3
[Maria disse] é oração principal de 2 [que desrespeitou a lei] – oração subordinada subs-
tantiva objetiva direta – e também oração principal de 3 [que não se arrependeu.] – oração
subordinada substantiva objetiva direta; se apagarmos (eliminarmos) uma ou outra oração su-
bordinada substantiva objetiva direta, não ocorrerá agramaticidade do enunciado.
Confira.
• Maria disse que desrespeitou a lei.
• Maria disse que não se arrependeu.
Aqui encerramos Língua Portuguesa III. Procuramos levar-lhe o conteúdo de maneira a
tornar-lho compreensível e apreensível. Esperamos ter alcançado nosso intento.
Verifique seu aproveitamento fazendo os exercícios proposto.

13. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


1) Numere os parênteses, de acordo com o seguinte:
1- a oração sublinhada é subordinada substantiva.
2- a oração sublinhada é subordinada adjetiva.
a) ( ) Não tardou que várias reses aparecessem.
b) ( ) Certamente era aquela rês que o dono da voz buscava no meio do gado.
c) ( ) Dizem que é uma alfaiataria decente, de roupas escuras.
d) ( ) Ninguém sabia onde ele trabalhava agora.
e) ( ) De volta João Piolho pediu oueu servisse de testemunha, porque ia mexer no espólio do amigo.
f) ( ) Por isso diziam que eu era amigo das almas.
g) ( ) Um dia, certo menino chamado Joâo Balaó me garantiu que conversava com o Diabo quem falasse so-
zinho.
h) ( ) Carminha insistiu, gritando, e eu respondi que não a escutava.
i) ( ) No sei quanto tempo passei deste jeito, fora de mim.
j) ( ) Só desejava que qualquer coisa em mim, que eu não sabia bem o que fosse, pudesse provar a Carmínha
e a Deus o meu arrependimento.
2) Classifique as orações sublinhadas.
a) Partindo pela manhã, chegaremos mais cedo à fazenda.
b) Concluída a tarefa, fechou o gabinete de trabalho.
c) Comprei este aparelho para usarmos no restaurante.
d) Fazia um frio de rachar pedras!
e) Bravo! Eis um explorador! exclamou ele, logo que viu o principezinho.
f) Apesar de estar cansado, foi ajudar o vizinho.
g) Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca.
h) Pedia ao diretor conceder-lhe algumas horas de prazo.
i) Naquele tempo apareceu um decreto de César Augusto ordenando o recenseamento de toda a terra.
j) Aproxima-te para que eu possa te ver melhor, disse o rei.
k) Essas camadas mereceriam um capítulo, que não escrevo, por não alongar a narração.

Confira suas respostas.


a) Oração reduzida de gerúndio subordinada adverbial condicional.
b) Oração reduzida de particípio subordinada adverbial temporal.
c) Oração reduzida de infinitivo subordinada adverbial final.
d) Oração reduzida de infinitivo subordinada adverbial consecutiva.
e) Oração interferente, ou intercalada.
f) Oração reduzida de infinitivo subordinada adverbial concessiva.

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168 © Língua Portuguesa III

g) Oração reduzida de gerúndio subordinada adverbial causal.


h) Oração reduzida de infinitivo subordinada substantiva objetiva direta.
i) Oração reduzida de gerúndio subordinada adjetiva (que ordenava...).
j) Oração interferente, ou intercalada.
k) Oração reduzida de infinitivo subordinada adverbial final.
3) Agora, façamos dois exercícios mais complexos nos quais podemos aplicar muito do que vimos nesta unidade.
a) Assinale os conectivos e os verbos, separe as orações e classifique-as:

"A criança que pensa em fada e acredita nas fadas


Age como um deus doente,
Porque, embora afirme que existe o que não existe,
Sabe como é que as cousas existem" (PESSOA, 2011).
Confira suas respostas com as que apresentamos a seguir. Se houver dúvidas, entre em contato conosco.
A criança [que pensa em fada] e [(que) acredita nas fadas]
1 2 3
4
Age [como um deus doente (age)],
5
Porque, [embora afirme] [que existe o] [que não existe],
6 7 8 9
Sabe [como (é que) as cousas existem].
10
1) A criança age = a. oração principal
b. oração assindética
2) que pensa em fadas = oração subordinada adjetiva restritiva;
3) (que) acredita nas fadas = oração subordinada adjetiva restritiva;
4) que pensa em fadas e acredita nelas = orações coordenadas entre si pela conjunção
coordenativa aditiva e;
5) como um deus doente (age) = oração subordinada adverbial comparativa;
6) porque sabe = oração subordinada adverbial causal;
7) embora afirme = oração subordinada adverbial concessiva;
8) que existe o = oração subordinada substantiva objetiva direta;
9) que não existe = oração subordinada adjetiva restritiva;
10) como (é que) as cousas existem = oração subordinada substantiva objetiva direta.
11) Período composto por coordenação e subordinação.

OBSERVAÇÃO:
“é que” é uma expressão expletiva, isto é, pode ser tirada da frase sem causar alteração semântica nela.
Como expressão expletiva (muitos chamam-na “de realce”), não exerce nenhuma função sintática.

a) Assinale os conectivos e os verbos, separe as orações e classifique-as:
"Todos os médicos a quem contei as moléstias dele foram acordes em que a morte era certa, e só se admiraram
de ter resistido tanto tempo."
(ASSIS, Machado de. O enfermeiro. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/7013999/Machado-de-Assis-o-
Enfermeiro>. Acesso em: 23 mar. 2006)
Fez o exercício? Então, compare suas respostas com as que apresentamos.
© U4 - Orações Reduzidas, Interferentes e Coordenadas Entre Si 169

Eis as respostas do exercício b:


[Todos os médicos [a quem contei as moléstias dele] foram acordes] [em que a morte
1 2 3
era certa,] [e só se admiraram] [de ter resistido tanto tempo].
4 5
1) Todos os médicos foram acordes =
a. oração principal;
b. oração assindética em relação à oração coordenada aditiva (e só se admiram).
2) a quem contei as moléstias dele = oração subordinada adjetiva restritiva;
3) em que a morte era certa = oração subordinada completiva nominal;
4) e só se admiraram = oração subordinada sindética aditiva;
5) de ter resistido tanto tempo (de [que] tenha resistido) = reduzida de infinitivo subordinada substantiva objetiva
direta (preposicionada).

OBSERVAÇÃO:
O verbo admirar com a acepção de “ver com admiração, assombro ou espanto” é transitivo direto.
(MICHAELIS. Moderno dicionário da língua portuguesa - online). Além disso, como vimos na Unidade
1, o objeto direto preposicionado, via de regra, é complemento de verbos que exprimem sentimento.
As preposições mais comumente nele encontradas são a e de.

Período composto por coordenação e subordinação.


Desejamos que você tenha acertado tudo, mas, se houver dúvidas, entre em contato
conosco. Nós queremos dirimir todas suas dúvidas.

14. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Chegamos ao final desta etapa de estudos de Língua Portuguesa com a classificação dos
elementos constituintes da oração e a classificação de orações.
O estudo de Língua Portuguesa III, segundo a Gramática Tradicional, ampliará seus hori-
zontes de conhecimentos da sintaxe da Língua Portuguesa, levando-o a analisar, de forma cons-
ciente e crítica, as orações constituintes de um enunciado.
Como você verá em Linguística, a teoria tradicional não é única. Você terá oportunidade
de conhecer embasamentos teóricos da Gramática Gerativa, Gramática de Valência e Gramática
de Usos.
A análise sintática por si mesma, ou seja, sem aplicação ao texto, é estéril. Assim, você
tomará conhecimento de diversos enfoques de análise com a finalidade de aplicá-las ao texto,
para que haja compreensão e interpretação mais apuradas.

15. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DUCROT, Oswald; TODOROV, Tzvetan. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. 2. ed. Revista e ampliada. São Paulo:
Perspectiva, 1988.
HAUY, Amini Boainain. Da necessidade de uma gramática-padrão da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1983.
______. Teoria gramatical da oração: curso de especialização em língua portuguesa. Centro Universitário "Barão de Mauá".
Ribeirão Preto, 1986.
IGNÁCIO, Sebastião Expedito. Análise sintática em três dimensões: uma proposta pedagógica. 2. ed. Franca: Ribeirão Gráfica,
2003.

Claretiano - Centro Universitário


170 © Língua Portuguesa III

MARTINET, A. Elementos de lingüística geral. 6. ed. [sl]: Martins Fontes, 1975.


TREINAMENTO A DISTÂNCIA: lições de língua portuguesa. Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 1992.

16. E-REFERÊNCIAS
A princesa que sempre queria ter a última palavra. Conto Norueguês. Editora da Universidade de São Paulo. Tradução Francis
Henrik Aubert. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=payVJIOilPEC&pg=PA69&lpg=PA69&dq=#v=onepage&q
&f=false>. Acesso em: 28 jan. 2011.
BÉCQUER, Gustavo Adolfo. Olhos verde. Disponível em: <http://transrlf.sites.uol.com.br/becque.html>. Acesso em: 28 jan. 2011.
CAMÕES. Os Lusíadas – Canto VI. Disponível em: <http://www.oslusiadas.com/content/view/23/46/>. Acesso em: 10 fev. 2010.
CAMPOS, Álvaro de. Quando. Disponível em :<http://www.avspe.eti.br/coutinho/mestres/FernandoPessoa.htm>. Acesso em:
10 fev. 2011.
Estátua. Disponível em: <http://www.angelfire.com/pq/victor/poesiasamor.html>. Acesso em: 10 fev. 2011.
Fábulas de Esopo. Disponível em: <http://educacao.centralblogs.com.br/post.php?href=fabula+a+raposa+e+a+uva&KEYWORD
=17521&POST=3688279>. Acesso em: 27 jan. 2011.
LAURIA, Márcio José. Tempo ao tempo, Crônicas, 31 dez. 2005. Disponível em: <http://www.saojoseonline.com.br/lauria/
cr311205.htm>. Acesso em: 27 jan. 2011.
MACHADO DE ASSIS. Papéis avulsos. Disponível em: <http://www.visionvox.com.br/biblioteca/p/pap%C3%A9is-avulsos.txt>.
Acesso em: 27 jan. 2011.
The New York Times. SMITH, Tony. Brasil é paraíso para hackers. de 27 out. 2003. Disponível em: <http://www.
observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp2810200391.htm>. Acesso em: 28 jan. 2011.
PESSOA, Fernando. A criança que pensa em contos de fadas. Disponível em: <http://divinaproporcao5.blogspot.com/2009/06/
crianca-que-pensa-em-fadas-e-acredita.html>. Acesso em: 12 fev. 2011.

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