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O estudo da composição de classe pode ser o ponto de partida para uma discussão
mais profunda sobre nosso "papel como revolucionários" e nossas estratégias políticas:
onde está a coerência mais profunda da "rede operária" do CRO em Bologna, da
"enquete operária" do Kolinko na área Ruhr, das intervenções em Brighton, do projeto
de jornal de Folkmakt etc.? Sobre quais questões temos diferentes avaliações políticas
e que possibilidades existem para uma melhor cooperação futura?
Queremos iniciar com alguns breves pontos sobre a relação entre a prática política e a
noção de classe.
Em geral, as várias correntes criticam o "capital" somente como uma relação formal de
exploração: o sobretrabalho é apropriado por mãos privadas ou pelo estado. O real
processo material de exploração/trabalho é negligenciado. Essa noção formal de capital
leva a uma noção formal de classe operária: uma massa de explorados que devem
vender sua força de trabalho devido à sua "despossessão" dos meios de produção.
Dessa noção de classe operária diferentes conclusões políticas foram extraídas: os
leninistas enfatizam a necessidade de um partido político capaz de unir as massas, cuja
única coerência é a semelhança formal dos não-proprietários. O partido deve dar uma
direção estratégica para as lutas espontâneas dos explorados. Os comunistas de
conselhos apenas observam que a massa de explorados cria suas próprias formas de
organização na luta. Eles negligenciam a questão da estratégia e vêem como sua
principal tarefa difundir as experiências de auto-organização entre os proletários.
3. A noção formal de classe não pode explicar nem contribuir para a auto-
emancipação da classe operária
Os operários não lutam juntos por causa da consciência de que "são todos explorados".
As lutas dos proletários surgem de condições de trabalho concretas, de reais situações
de exploração. As lutas dos proletários assumem diferentes formas (no passado, em
diferentes regiões ou setores etc.), porque o processo de trabalho concreto e, por esta
razão, as situações de exploração se diferenciam. O modo de produção e a posição no
processo social de produção determinam a forma e as possibilidades da luta: a dos
caminhoneiros se diferencia da dos operários de construção, as greves em fábricas que
produzem para o mercado mundial têm efeitos diferentes das greves em call centers.
Na análise da coerência entre modo de produção e luta operária, distinguimos duas
noções diferentes de composição de classe:
a) organização imediata
b) poder imediato
c) conteúdo político
Uma noção formal de classe não vai muito longe. Isso se revela quando vemos a
composição da força de trabalho no chão da fábrica. Poderíamos afirmar que o capataz,
o chefe de equipe e o gerente são também "trabalhadores assalariados" e portanto
explorados, mas quase toda luta deve se impor contra esses "patrõezinhos". A divisão
(hierárquica) do trabalho no processo de produção social é o fundamento para as
divisões sexistas e racistas dentro da classe operária. Assim, por um lado, o capital
divide os proletários, mas por outro, ele une proletários de todas as cores de pele,
gênero, nacionalidade etc., no processo de produção. Se as divisões entre os operários
são questionadas ou fortalecidas é geralmente decidido na luta. Fábricas, setores
específicos etc. com uma composição "colorida" são especialmente decisivos nesse
processo.
Fica em aberto para nós a questão de como as lutas dos "artesãos", trabalhadores rurais
e outros proletários que não trabalham sob condições "industriais" podem desenvolver
um caráter anticapitalista. É uma questão decisiva a de como essas lutas podem se unir
com as lutas do "proletariado industrial", apesar das diferentes condições e sem uma
mediação externa (como o assim chamado movimento "Anti-Globalização", "Ação
Global dos Povos", os "Zapatistas" e outras organizações que pretendem ligar diferentes
"movimentos sociais").
d) expansão
Pensamos que as lutas podem se expandir sem esses "centros", mas frequentemente
a limitação dos movimentos de greve se deve ao fato de que os "centros" não
participaram ou foram derrotados. Desse modo, a "generalização" não é realmente uma
questão de "liderança política", mas da extensão das lutas ao longo das linhas de
produção social e de atingir o capital nos pontos centrais.
f) tendências comunistas
Não é fácil encontrar bons exemplos para mostrar a coerência entre o "estágio das
forças produtivas" e a "utopia" da luta de classes. As revoltas nas sociedades agrárias
tiveram menos uma "utopia social" do que a reivindicação de cultivar a terra na sua
própria maneira "anárquica". As lutas fabris, na Europa ocidental no início do último
século, desenvolveram a esperança socialista de colocar as fábricas e portanto toda
sociedade sob controle dos proletários. As lutas dos anos 60/70 expressaram a
crescente "cientificação" da produção, o crescente terror da maquinaria e alienação do
trabalho e produto. A diferença entre as "lutas operárias" e outros movimentos sociais
se dissolveu cada vez mais devido ao fato de que toda sociedade (escolas,
universidade, infraestrutura urbana) foi mais intimamente conectada ao "atual processo
de produção". Os centros do movimento (fábricas, universidades) apropriaram muito das
"possibilidades produtivas" da sociedade moderna. A crescente divisão do trabalho na
fábrica e a linha de montagem foram usadas para organizar novas formas de greve;
fábricas e universidades ocupadas se tornaram pontos de encontro centrais, a "nova
ciência" e meios de comunicação foram desenvolvidos pelo movimento etc. Ao fazer
isso, o movimento se tornou mais "produtivo" e criativo, e difundiu as "forças produtivas"
desenvolvidas para o restante da sociedade. O movimento refletiu o "desenvolvimento
das forças produtivas" em suas exigências.
A função específica dos revolucionários não pode ser explicada por uma "consciência
política" que a luta de classes não alcançaria por si mesma. Ela só pode ser derivada
de uma visão e interpretação geral das coisas que acontecem. O poder, as
possibilidades de auto-organização, de expansão e generalização são colocados pelas
condições de produção. A tarefa dos revolucionários é mostrar a coerência entre as
condições materiais e práticas e a perspectiva das lutas. O movimento da classe
ocorrerá na rede de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Portanto, devemos
mostrar a conexão das diferentes partes dessa rede e as razões políticas da
desigualdade. A análise do fundamento material das lutas operárias também determina
onde devemos intervir. Não é suficiente apenas seguir os padrões "espontâneos" das
lutas e documentá-los. Devemos observar os pontos que podem ter importância
estratégica para o futuro. Essas áreas não precisam ser a "mais desenvolvida" ou os
"centros de acumulação". Com frequência, os setores que conectam diferentes níveis
de desenvolvimento (transporte entre diferentes fábricas, "trabalho de informação" entre
produção e distribuição) são significativos para a generalização das lutas. Por isso,
precisamos de mais do que uma troca informal entre nossos grupos, necessitamos de
discussão e intervenção organizadas.
a. questões
f. Onde estão as tendências para uma "nova composição política"? Onde estão os
possíveis pontos do novo poder operário e da generalização das lutas?
A) Discussão
B) Crítica da discussão
A) Discussão
Começamos apresentando uma versão curta das Notas, porque nem todos as leram. A
discussão a seguir se desenvolveu livremente, mas não se referiu às Notas em detalhe.
A discussão pode ser resumida em quatro questões:
Questão a)
Não concordamos quanto à importância da discussão sobre a origem do atual termo
´composição de classe´ para o próprio debate. Foram duas as linhas gerais de
discussão:
Primeira:
A noção de composição de classe tem origem numa específica situação histórica. Foi
introduzida na discussão marxista na Itália, no início da década de 60. A situação,
naquela época, não era notável pela intensidade da luta de classes. Havia apenas
esboços de novos tipos de conflitos. A noção de composição de classe está relacionada
com a emergência e desenvolvimento de setores centrais nesse período e nessa região:
a extensão dos setores de metalurgia e automobilístico. A noção de composição de
classe deveria nos ajudar a entender a coerência entre o desenvolvimento das
condições materiais nesses setores e o ressurgimento do poder operário. Assim, a
noção não é aplicável em outras situações históricas, sem distinguir as diferenças
específicas. O que frequentemente aconteceu, há algumas décadas (por exemplo, a
teoria do "operário social" ou "trabalhador imaterial"). Nos últimos 20 ou 30 anos, o
capitalismo se desenvolveu de tal forma que não existe mais nenhum setor central de
acumulação; dessa forma, a noção de composição de classe perdeu seu fundamento
principal. (referência: "Massenarbeiter und gesellschaftlicher Arbeiter", de Battagia)
Segunda:
Questão b)
Tentamos resumir os diferentes usos da noção de composição de classe:
2. Como uma ferramenta de análise para nossa busca por condições onde a ação
coletiva pode se desenvolver e onde possamos tomar parte na discussão e outras
atividades contra a exploração. Nesta noção, nós nos vemos como uma parte da
subjetividade da classe.
A discussão a seguir foi mais ou menos em torno da questão: Qual a relação entre as
condições objetivas e a subjetividade dos proletários?
Classificação:
Espontaneidade e experiência
Questão c)
Questão d)
Durante essa parte da discussão, tornou-se óbvio que usamos dois termos abstratos:
"composição de classe" e "experiência proletária". Não se trata de opor esses termos,
mas de discutir a relação entre experiência/intervenção dentro da exploração e a análise
dos desenvolvimentos específicos em certas áreas do processo social de produção.
Através disso, devemos estar conscientes das diferentes condições que temos de
encarar (de grupos, de diferentes regiões etc.).
B) Crítica da discussão
Referências
"The Militant Proletariat" - Austin Lewis, Chicago 1911 dtsch. Übersetzung "Das militante
Proletariat" - Austin Lewis, in: Karlsruher Stadtzeitung(wildcat) (Hrsg.): Die Wobblies,
Band 2, Karlsruhe 1984
“Forcing the Lock? The Problem of Class Composition in Italian Workerism" - Steve
Wright, Monash Phil.Diss. 1988
www.nadir.org/kolinko