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Leite e Derivados

Alergia e Intolerância ao Leite de Vaca


O leite materno, sem dúvida, é a melhor opção para a alimentação de
lactentes. É o melhor alimento para o lactente até pelo menos aos seis meses
de vida, não sendo necessária nem a suplementação com outros alimentos.
Depois, pode-se introduzir alimentos apropriados para a idade, sólidos ou
líquidos, com a continuação do aleitamento materno.

As vantagens do aleitamento materno são indiscutíveis, incluindo as


imunológicas, nutricionais, fisiológicas, odontológicas, e psicológicas.

Este texto tem o objetivo de ajudar no esclarecimento de alguns informações


importantes para as pessoas interessadas pelos problemas que a intolerância à
lactose e a alergia às proteínas do leite podem trazer para a saúde humana.

O que é alergia à proteínas do leite?

A alergia às proteínas envolve princípios completamente diferentes da


intolerância à lactose. Não existe alergia à lactose, pois, sendo um açúcar, a
lactose não apresenta alergenicidade. Diversas proteínas podem causar alergia,
incluindo as do leite, do ovo, do trigo e do amendoim, dentre outras. Entretanto
as proteínas do leite e as do ovo são as que causam maiores problemas às
crianças de pouca idade.

Nas proteínas do leite existem mais de 30 sítios alergênicos, que podem causar
problemas. O que ocorre na alergia é a produção de grandes quantidades de
imunoglobulinas contra os sítios alergênicos, causando reações as mais
diversas.

No caso da alergia, é muito difícil mudar os sítios ativos das proteínas,


tornando-os inativos. A melhor forma é eliminar da alimentação as proteínas
que contêm os sítios alergênicos ativos. Em alguns casos, ocorre também o que
se chama de alergia cruzada, ou seja, os sítios alergênicos ocorrem também
em proteínas de outros alimentos, além do leite de vaca.

A alergia verdadeira é uma reação envolvendo o sistema imunológico do corpo,


com formação de anticorpos nas células brancas do sangue. O sistema
imunológico combate os invasores estranhos ao corpo usando os anticorpos.
Quando esses invasores são bactérias e vírus perigosos, a resposta imunológica
é necessária e desejável. No caso da alergia às proteínas do leite, por outro
lado, a resposta imunológica seria desnecessária, além de causar diversos
problemas.

Como ocorre a intolerância à lactose ?


A intolerância à lactose ocorre devido à inabilidade para digerir quantidades
significativas do açúcar do leite, a lactose. Esta inabilidade resulta da falta de
quantidade suficiente de uma enzima (lactase) no interior das vilosidades do
intestino (dobras internas do intestino). Este problema ocorre com cerca de
25% dos brasileiros.

Nestes casos, as pessoas não podem consumir a lactose, pois ela não é
hidrolisada pela enzima lactase chegando-se à glicose e à galactose (seus
constituintes). Em conseqüência não consegue atravessar a parede intestinal
para ir para a corrente sangüínea.

A lactose, então, continua dentro do intestino e chega ao intestino grosso, onde


é fermentada por bactérias, produzindo ácido lático e gases (gás carbônico e o
hidrogênio, que é usado nos testes de determinação de intolerância à lactose).
A presença de lactose e destes compostos nas fezes no intestino grosso
aumenta a pressão osmótica e drena água do corpo, causando a diarréia ácida
e gasosa.

A intolerância à lactose não envolve o sistema imunológico e os problemas são


causados pela inabilidade de digestão da lactose. A intolerância à lactose só
apresenta os sintomas de dores abdominais, diarréia ácida e gases.

O que causa a alergia ?

A alergia é causada em crianças por proteínas que não existem normalmente


no leite humano e que são introduzidas na nova alimentação do bebê. As
proteínas do leite mais envolvidas na alergia são as caseínas, a beta-
lactoglobulina e a alfa-lactoalbumina. A alergia verdadeira é causada pelas
imunoglobulinas E (IgE), em resposta à presença destas proteínas consideradas
como antigênicas pelo sistema imunológico das crianças. A IgE causa liberação
de substâncias vaso-ativas por alguns tipos de células, que causam problemas.

O uso exclusivo do leite humano até aos seis meses de vida, reduz
significantemente a incidência cumulativa de alergia ao leite de vaca, durante
os primeiros 18 meses de vida.

É muito comum a alergia às proteínas do leite ?

A alergia ao leite de vaca é uma das alergias mais comuns em crianças, talvez
porque o leite de vaca usualmente é o veículo para a primeira proteína
estranha ser introduzida no estômago das crianças.

É muito difícil apresentar um número preciso da ocorrência da alergia do leite,


mas estima-se que cerca de 0,3 a 7,5 % dos infantes apresentam alergia
verdadeira às proteínas do leite, dependendo dos critérios de diagnóstico das
reações apresentadas pelos pacientes. Quando métodos de diagnóstico mais
restritos são empregados, a ocorrência em crianças fica em torno de 1 a 2 %.

Nos adultos, a alergia pode ser considerada rara, parecendo ser mais comum
em mulheres. Entretanto, pessoas de todas as idades podem apresentar alergia
às proteínas do leite de vaca pela primeira vez, desde a adolescência até a
idade adulta.

Embora o leite de vaca esteja implicado com problemas de alergia, cerca de


50% das crianças apresentam alergia simultânea às proteínas de outros
alimentos, incluindo ovos, soja, amendoim, achocolatados, laranja, peixes e
trigo. Cerca de 50 a 80 % das crianças que apresentam alergia ao leite também
podem apresentar alergia a inalantes alergênicos, como pólen, pêlos (de gato
por exemplo), mofo, poeira de carpetes etc.

Por que a prevalescência da alergia ao leite é maior na infância?

A alergia surge basicamente devido a dois fatores: predisposição genética (do


pai ou da mãe) e introdução de alimentos potencialmente alergênicos antes dos
seis meses de vida.

Quando nascem, os bebês têm um sistema imunológico imaturo e dependem


muito dos anticorpos do leite da mãe. O sistema digestivo não está preparado
para substâncias que não venham do leite da mãe. O fator principal que causa
a alergia é a introdução precoce na alimentação de substâncias que causam
alergias.

O risco é maior na infância, antes que os processos de adaptação e maturação


aperfeiçoem as barreiras da parede intestinal. A incidência é maior em crianças
que consumiram leite (que não o humano) muito cedo, talvez antes de três a
quatro meses de vida, e aqueles que têm história de alergias na família. Menos
exposição aos alimentos potencialmente alergênicos reduz as chances de
alergias.

As reações alérgicas ocorrem menos quando o leite de vaca é introduzido na


alimentação após os seis meses de vida. A alergia está relacionada com a
permeabilidade do intestino delgado a proteínas (ou peptídeos alergênicos)
durante os primeiros meses de vida. Pequenas quantidades de proteínas dos
alimentos podem ainda ser absorvidas através do intestino, durante a infância,
e provocar alergias.

Quais são os sintomas da alergia ao leite ?

Diagnosticar alergia às proteínas dos alimentos requer muitas análises por


parte dos médicos. A alergia pode ocorrer em mais de um alimento e os
sintomas são os mais diversos. Isto torna difícil distinguir se os sintomas são
devidos à alergia ao alimento ou a outros problemas.

Os sintomas da alergia podem ser classificados em seis tipos:

Sistema
Sistema Respiratório Olhos
Gastrointestinal
Cólica Nariz escorrendo Olhos lacrimejantes
Vômito Espirros Olhos vermelhos
Diarréia Tosse Círculos escuros
Sangue nas fezes Asma Coceira
Constipação Congestão Conjuntivite
Gases Bronquite
Colite Coceira no nariz
Náusea Sintomas de gripe
Respiração pela boca
Respiração difícil
Sistema Nervoso
Pele Outros sintomas
Central
Irritabilidade Eczema Infeção no ouvido
Perda de sono Dermatite Perda de peso
Tontura prolongada Urticária Suar em excesso
Cansaço Vermelhidão Baixo rendimento escolar
Vermelhidão no reto Dificuldade de
Coceira convivência
Inchamento dos lábios, boca, língua e Depressão
garganta Choque anafilático

Geralmente, mais de um sistema do corpo estão envolvidos nas reações


alérgicas. Os sintomas gastrointestinais são os mais comuns. Como pode ser
observado, as reações realmente são muito diversas, dependendo de cada
caso. Os sintomas da alergia podem surgir imediatamente ou até várias horas
ou dias após a ingestão do alimento.

Tipo 1 – Os sintomas iniciam dentro de 45 minutos da ingestão de pequenas


quantidades do alimento, causando principalmente problemas na pele, eczema
e urticária. Pode também apresentar problemas respiratórios (nariz escorrendo,
chiado etc.) ou gastrointestinais (vômito e diarréia). Estas crianças
normalmente têm concentração de IgE elevada.
Tipo 2 – Os sintomas iniciam diversas horas após a ingestão, Apresentando,
principalmente,sintomas de vômito e diarréia.
Tipo 3 – Os sintomas aparecem depois de 20 horas, ou até mesmo dias, após
a ingestão,incluindo diarréia, com ou sem reações respiratórias ou na pele.

A alergia que se manifesta rapidamente tende a ser facilmente diagnosticada e


é detectada no teste da pele. Por outro lado, a alergia que se manifesta muito
depois da ingestão não é facilmente diagnosticada e tende a produzir doenças
crônicas que. às vezes, não são relacionadas facilmente com sua causa.

O diagnóstico preciso, feito por um profissional, é essencial para que a causa


seja determinada.

Qual é o tratamento para a alergia ao leite?

Quando uma criança apresenta sintomas de alergia a proteínas do leite, pode-


se tomar diversas decisões, dependendo da gravidade do caso. Em crianças
com poucos meses de vida, é muito difícil tomar decisões mais arriscadas
(como experimentar outros alimentos), devido ao grande risco de problemas
mais graves. Se a criança estiver apresentando alergia ao leite materno é
possível, sob supervisão médica, retirar todos os alimentos que contêm leite
(leite, queijos, iogurte, etc.) da alimentação da mãe. Isto em razão de alguns
segmentos de proteínas que tem sítios alergênicos ativos poderem estar
passando para o leite materno. Neste caso, deve-se complementar a
alimentação da mãe com produtos ricos em cálcio, em proteínas de boa
qualidade, em vitaminas etc., para evitar outros problemas. Durante a
gestação, não é necessário que a mãe faça restrição da dieta devido a possíveis
problemas alérgicos futuros.

Quando a alergia for diagnosticada, o alimento que a está causando deve ser
eliminado da alimentação da criança. É importante observar que, em alguns
casos, a própria mãe pode estar consumindo as proteínas com sítios
alergênicos, e passando-os para o próprio leite. Neste caso, deve-se eliminar
estes produtos da alimentação da mãe. Esta é uma decisão muito séria e não
deve ser tomada sem que haja uma certeza da causa do problema, pois o leite
é um excelente alimento para as mães em lactação.

Se o leite de vaca na alimentação da mãe for o problema, a mãe deve ler os


rótulos dos alimentos, pois mesmo uma pequena quantidade de proteínas do
leite pode causar problemas. Produtos como margarina, biscoitos, produtos de
confeitarias, carne processada (salame, cachorro quente) etc., podem conter
leite. Se não houver melhoras, outras causas do problema devem ser
investigadas pelo pediatra.

É importante que todos os sintomas e os alimentos consumidos sejam


registrados em um livro próprio, incluindo a hora da ingestão e do
aparecimento dos sintomas, para auxiliar os médicos na identificação dos
alimentos envolvidos na alergia.

Se a retirada dos alimentos à base de leite da alimentação da mãe que está


amamentando não resolver o problema, deve-se então tomar outras
providências. Se a criança for muito nova, deve-se passar para um formulado
onde todas as proteínas foram extensivamente hidrolisadas. Existem diversos
produtos no mercado, incluindo o Alfare (Nestlé), Pregestimil (Mead Johnson), e
Nutramigen (Mead Johnson), que são considerados hipoalergênicos (baixa
probabilidade de provocar alergias), e podem ser encontrados em muitas
farmácias. Entretanto, eles têm custo elevado e gosto desagradável. Mas têm
grande probabilidade de resolver o problema de alergia na maioria dos casos.

A alergia ao leite pode ser prevenida ou postergada?

Em crianças com mais de cerca de 2 anos, se o pediatra recomendar, pode-se


experimentar alguns alimentos por alguns dias, observando os sintomas com
muito cuidado para evitar problemas mais graves. Se os sintomas aparecerem,
deve-se interromper imediatamente a alimentação com estes produtos. A
ordem que normalmente é usada é a seguinte:

- Primeiro, trocar o leite de vaca por leite de cabra, pois o leite de cabra
apresenta uns dois ou três sítios alergênicos diferentes do leite de vaca.
Se, por sorte, a reação alérgica for contra um destes sítios o problema
está resolvido. As chances de sucesso são de cerca de 10%.

- Se o leite de cabra não resolver, tentar, então, o leite de soja. Este


apresenta diferenças quando comparado ao leite de cabra e as chances
da alergia acabar são maiores, estando em torno de 50 %. Neste caso,
deve-se usar leite de soja enriquecido ou complementar a alimentação
com sais minerais e vitaminas. O leite de soja pode ser uma opção para
ser usada em crianças com reações alérgicas mediadas pela IgE, mas
não pelas outras reações alérgicas.

- Caso o leite de soja não resolva o problema, pode-se tentar


formulados de proteínas parcialmente hidrolisadas (Nan-HA, por
exemplo), devido ao seu menor custo em relação aos formulados com
proteínas extensivamente hidrolisadas. A alergenicidade do formulado
com proteína parcialmente hidrolisada varia e, em muitos casos, as
reações alérgicas podem não ser evitadas. Desta forma, os formulados
com proteínas parcialmente hidrolisadas não deve ser experimentado
em crianças de alto risco, com idade até de 12 meses, apresentando
alergia à proteínas do leite. Alguns formulados com proteínas
parcialmente hidrolisadas contêm lactose, devendo ser evitados por
crianças com intolerância à lactose. Deve-se tomar muito cuidado com
formulados com proteínas parcialmente hidrolisadas, pois vários casos
de choque anafilático já ocorreram nos EUA com esse produto.

- Quando todos os produtos anteriores apresentarem problemas, pode-


se usar os formulados com proteínas extensivamente hidrolisadas, pois
eles apresentam poucos problemas de alergia, e têm sido usados com
sucesso na maioria dos casos de alergia a proteínas.

- Finalmente, pode-se usar um formulado contendo um complexo de


aminoácidos, que é recomendado para os casos extremos de alergia
(Neocate).

Quais são os perigos de remover o leite de vaca da dieta?

A eliminação do leite e outros produtos de laticínios da dieta pode resultar em


nutrição inadequada, a menos que substitutos apropriados sejam utilizados.
Cerca de 70 % do cálcio da alimentação humana vêm do leite e de derivados.
Além disso, o leite também contribui com proteínas de ótima qualidade,
diversas vitaminas e energia.

As crianças geralmente deixam de ser alérgicas ao leite até cerca de seis anos.
Neste caso, os produtos de laticínios devem ser tentativamente reintroduzidos
na dieta a cada 6-12 meses, sob supervisão médica, para reduzir ao mínimo
possível as restrições alimentares.

O leite pasteurizado homogeneizado é mais alergênico do que o leite cru?

Parece que não. As crianças com alergia às proteínas do leite de vaca mediadas
por IgE apresentam a mesma reação ao leite cru e ao leite pasteurizado,
homogeneizado ou não.

A alergia às proteínas pode desaparecer?

A maioria das crianças deixa de ser alérgicas ao leite: cerca de 60 % aos quatro
anos e cerca de 80 % aos seis anos. Alguns pacientes podem ter as reações
alérgicas por toda a vida. Se o leite for excluído da dieta por dois a três anos, a
criança então tem cerca de 80 % de chances de tolerar leite em pequenas
quantidades.

Em um estudo realizado no Canadá, em 97 crianças alérgicas às proteínas do


leite (média de 18 meses de vida), reavaliados aos 5 anos, 72 % eram
alérgicos aos dois anos, 46 % aos quatro anos, e 22 % aos seis anos. Somente
24% das crianças eram alérgicas somente às proteínas do leite. Os outros
alimentos envolvidos na alergia foram ovo (58 % do total), soja (47%) e
amendoim (34%).

As crianças que ficam alérgicas após os três anos de vida têm a tendência de se
manter alérgicas por mais tempo. Estudos tem sugerido que,
aproximadamente, um terço das crianças e adultos perdem a condição de
alérgicos após evitarem os produtos de laticínios que causam a alergia por dois
ou três anos. Entretanto, os pacientes com hipersensitividade a amendoim,
nozes, peixes e crustáceos raramente perdem sua condição de alérgicos. Além
disso, estes quatro alimentos é que causam a maioria das reações alérgicas que
podem causar a morte por choque anafilático.

O tempo necessário para a alergia desaparecer depende da severidade da


reação inicial. As crianças que apresentaram sintomas de reações sistêmicas
geralmente deixam de ser alérgicas depois daquelas que apresentavam
sintomas de urticária em volta da boca.
Como a alergia pode ser diagnosticada?

A alergia pode ser diagnosticada por intermédio de diversos testes, incluindo os


seguintes:

1. Teste de supressão: Suspensão do leite de vaca da alimentação e


observação do desaparecimento dos sintomas. Se após a reintrodução do leite
ocorrer o reaparecimento dos sintomas, o problema é de alergia.
2. Teste de provocação cutânea: Consiste em colocar pequenas gotas de
leite diluído em água no antebraço ou nas costas e fazer um pequeno arranhão
com uma agulha (esterilizada) na pele através da gota, verificando a reação
ocorrida. Este procedimento deve ser realizado por um médico especializado. A
reação de inchaço e de brilho depois de 15 minutos indica que o paciente é
alérgico ao leite. Este método tem sido usado para testar se alguns alimentos
(leite de vaca, leite de cabra) e formulados (proteínas de soja, hidrolisado de
proteínas, hidrolisado de caseína) apresentam reações alérgicas na pele. O
controle negativo é feito com solução salina e o controle positivo é feito com
histamina. O tamanho da reação com a histamina normalmente é de 5 mm.
Este teste é mais barato do que o teste do sangue e pode ser feito no gabinete
do médico. Entretanto, o teste da pele pode apresentar resultados errôneos
quando realizado em crianças com menos de 18 meses.
3. Teste de sangue (RAST, ou RadioAllergoSorbent): Uma pequena
amostra de sangue é retirada e enviada para um laboratório especializado.
Porém, este teste não é perfeito pois pode apresentar resultados falso positivos
e falso negativos. Entretanto ele não causa riscos maiores para a criança e
seria apropriado para crianças com história na família de reações alérgicas que
podem causar choque anafilático.

Somente as reações ao leite que ocorrem após poucos minutos podem ser
diagnosticadas com a da análise de sangue ou teste na pele, porque estes
testes detectam a IgE que está envolvida na reação imediata. Cerca de 60%
das reações ao leite são do tipo de reação tardia e, talvez, não apresentem
resultados positivos nas análises de sangue ou pele.

Quais são os alimentos que podem causar alergia com mais freqüência?

O leite, ovo, crustáceos, peixes, nozes, trigo, frutas cítricas e amendoim são os
alimentos que causam a maioria dos problemas de alergia. A alergia ao leite
pode começar em qualquer idade, mas é mais comum em crianças com
problemas de alergia na família. Felizmente, a alergia na maioria das crianças
tende a diminuir ou desaparecer dos quatro aos seis anos.

Quais são os tipos de alimentos que uma criança comprovadamente alérgica


pode consumir?

Antes de começar a oferecer à criança alérgica qualquer alimento diferente, é


recomendável, por razões de segurança, que seja testada a antigenicidade do
alimento. Pode-se utilizar um dos testes utilizados para determinar se o
alimento pode causar alergias. Um formulado é chamado de “hipoalergênico”
quando não causa sintomas alérgicos em pelo menos 90% de crianças
comprovadamente alérgicas às proteínas do leite. Normalmente os seguintes
tipos de fórmulas hipoalergênicas são utilizadas:

1) Fórmulas com caseína e proteínas do soro hidrolisadas;


2) Fórmulas com outras proteínas hidrolisadas (carne e soja);
3) Fórmula com proteína de soja;
4) Fórmulas com carne de frango triturada;
5) Fórmula completa com aminoácidos misturados.

As fórmulas baseadas em caseína extensivamente hidrolisadas têm sido


utilizadas por mais de 40 anos. Nestes formulados, a fonte de nitrogênio está
presente na forma de peptídeos e aminoácidos livres. Eles apresentam baixa
reações clínicas de alergia, têm sabor desagradável e são caros.

Os formulados com proteínas do soro extensivamente hidrolisadas são


relativamente mais novos, sua fonte de nitrogênio são peptídeos e são mais
palatáveis do que as formulas com caseína hidrolisada.

Os formulados com proteínas parcialmente hidrolisadas podem ser menos


alergênicos do que o leite de vaca (menor percentual de alergia em uma
mesma população), mas contêm polipeptídeos que podem causar sintomas de
alergia em cerca de 50% das crianças que apresentam alergia às proteínas do
leite. Portanto, elas não são recomendadas para essas crianças.

Quais são os sintomas da intolerância à lactose?

Os sintomas mais comuns da intolerância à lactose são náusea, dores


abdominais, diarréia ácida e abundante, gases e desconforto. A severidade dos
sintomas depende da quantidade ingerida e da quantidade de lactose que cada
pessoa pode tolerar. Apesar de os problemas não serem perigosos, eles podem
ser bastante desconfortáveis.

Quais são os tipos de intolerância à lactose?

Existem dois tipos básicos de intolerância à lactose: a genética e a adquirida. A


intolerância genética é maior em determinadas raças de seres humanos. Assim,
são intolerantes genéticos à lactose cerca de 90% dos asiáticos (chineses,
japoneses, filipinos, coreanos etc.), 75% dos negros, árabes, judeus, gregos
cipriotas, esquimós, índios e cerca de 15 % dos europeus,. A intolerância
genética, entretanto, só aparece após alguns anos de vida, dois a três anos por
exemplo, apesar de haver raras exceções. Crianças de qualquer raça com
menos de um ano, normalmente, são tolerantes à lactose. A intolerância
aparece depois.

A intolerância adquirida ocorre quando houver fatores que possam causar


doenças digestivas que promovem inchaço das vilosidades do intestino, que
escondem a lactase e não deixam que ela exerça a sua função de hidrolisar a
lactose. Neste caso, os mesmos sintomas de diarréia abundante e gasosa
também ocorrerão. O inchaço das vilosidades pode ocorrer devido, por
exemplo, à ingestão de alimentos contaminados (intoxicação, por exemplo),
diarréia infecciosa, doença célica e parasitas, que poderão causar irritação do
intestino. As crianças, cujos intestinos são ainda delicados, são especialmente
vulneráveis à intolerância adquirida.

Entretanto, quando o problema inicial for resolvido (irritação das vilosidades), a


pessoa deixa de ser intolerante à lactose, pois a enzima poderá continuar a
exercer normalmente a sua função. Nos casos de intolerância adquirida, o leite
e outros alimentos que tenham lactose devem ser removidos da alimentação
até a normalização do intestino. Afortunadamente, todos os bebes voltam a ser
tolerantes à lactose após a cura do problema original.

A intolerância adquirida à lactose é, portanto, reversível, enquanto que a


intolerância genética é irreversível.

Um outro tipo de intolerância é aquele decorrente de cirurgias, quando, por


exemplo, uma parte do intestino é removida. Neste caso, a quantidade de
lactase no intestino pode se tornar insuficiente para hidrolisar a lactose, mesmo
se, anteriormente à operação, a pessoa era tolerante à lactose.

Como se pode diagnosticar a intolerância à lactose?

A intolerância à lactose pode ser diagnosticada por diversos testes, incluindo:

1. O teste de tolerância, que consiste em fornecer lactose pura ao paciente e


a concentração de glicose no sangue é monitorada por duas horas. Se a pessoa
for tolerante à lactose a concentração de glicose no sangue aumenta, e se for
intolerante ela aumenta muito pouco ou não aumenta. Este teste não é usado
em crianças muito novas pois a grande carga de lactose pode causar diarréia e
desidratação, acarretando problemas sérios.
2. A monitoração da quantidade de hidrogênio nos gases exalados pela
respiração, após a ingestão da lactose. O hidrogênio é produzido pela
fermentação da lactose pelas bactérias quando ela chega ao intestino grosso,
onde não deveria chegar. O hidrogênio é absorvido pelo intestino, transportado
pela corrente sangüínea até os pulmões e, então, exalado pelo ar que sai. Se o
paciente consumir leite, por exemplo, e se a concentração de hidrogênio do ar
exalado aumentar, isto indica que a lactose não foi propriamente digerida. Este
teste não é usado em crianças muito novas pois a grande carga de lactose pode
causar diarréia e desidratação. Alguns medicamentos e alimentos, além de
cigarro, podem interferir neste teste.
3. O teste da acidez das fezes é realizado para se determinar se a lactose
chegou no intestino grosso, o que produz ácido lático e outros ácidos que
acidificam as fezes. Este teste é útil em crianças muito novas e pode fornecer
alguma idéia se a criança é intolerante à lactose.

Quanto tempo leva para aparecerem os sintomas da intolerância à lactose?

Os sintomas podem levar de alguns minutos até muitas horas para aparecer. A
peristaltase, ou seja o movimento muscular que empurra o alimento ao longo
do estômago pode influenciar o tempo para o aparecimento dos sintomas.

Qual é a idade na qual a intolerância à lactose pode aparecer?

A intolerância à lactose pode aparecer em qualquer idade, mas geralmente


crianças recém-nascidas não apresentam problemas de intolerância à lactose. A
intolerância genética à lactose começa a se manifestar de um aos quatro anos.
Com o passar dos anos a maioria dos adultos tende a diminuir a tolerância à
lactose. Alguns podem se tornar intolerantes quando chegam à velhice, mesmo
sem ter apresentando sintomas anteriormente.

Como tratar a intolerância à lactose?

Felizmente, a intolerância à lactose é muito fácil de ser contornada. Nenhum


tratamento existe para aumentar a capacidade de produzir lactase, mas os
sintomas podem ser controlados pela dieta. Crianças muito novas que são
intolerantes não devem comer alimentos com lactose. Mas a maioria dos jovens
e dos adultos não precisa evitar a lactose completamente.
As pessoas diferem nas quantidades de lactose que podem ingerir: alguns
podem tomar um copo de leite sem problemas, mas não podem tomar dois
copos. Outros podem consumir queijos curados, mas não podem consumir
queijos frescos. O controle da dieta para as pessoas intolerantes depende de se
experimentar os limites que cada um suporta, usando a tentativa e erro.

Para aquelas pessoas que reagem a pouca quantidade de lactose, é possível


encontrar no mercado leite cuja lactose foi hidrolisada na indústria, antes de
ser comercializado. Já existe no mercado brasileiro leite UHT hidrolisado, ou
com baixo teor de lactose, sendo produzido por diversas empresas. Este tipo de
leite é semelhante ao leite UHT, com sabor normal, contendo todos os
nutrientes do leite, apesar de ser um pouco mais doce. Já existe também o leite
hidrolisado em pó. O leite hidrolisado pode ser usado para fazer iogurte, bolos,
pudins etc. e não causará problemas de intolerância.

Em outros países, é possível comprar a lactase em pó ou em solução, para ser


usada diretamente pela pessoa intolerante à lactose. O leite é fervido e
algumas gotas são adicionadas por litro de leite, que é guardado na geladeira
por 24 horas para realizar a hidrólise. Depois, o leite pode ser consumido sem
problemas.

Um desenvolvimento recente são pastilhas mastigáveis contendo lactase, que


ajudam as pessoas a digerir alimentos sólidos contendo lactose. Três a seis
tabletes são ingeridos logo antes da ingestão do produto contendo lactose.

O que é a lactose “escondida”?

A lactose pode ser ingrediente de diversos alimentos, e as pessoas que


apresentam tolerância muito baixa à lactose podem apresentar os sintomas,
mesmo quando ingerirem quantidades muito baixa. Deve-se ler com atenção os
rótulos dos alimentos, incluindo os ingredientes. Preste atenção em
subprodutos do leite, incluindo, soro, leite em pó etc.

Quanto tempo dura a intolerância à lactose?

A intolerância genética à lactose é permanente, e a intolerância adquirida é


temporária. Deve ficar claro que a intolerância à lactose não é uma doença. É
uma conseqüência natural do avançar da idade em algumas das pessoas.

Eu tenho intolerância à lactose, eu deveria desistir dos produtos de laticínios?

Certamente não. Além de não ser necessário, não é uma boa idéia. Adultos e
crianças precisam dos nutrientes do leite para se manter saudáveis. Existem
diversos meios de você se alimentar de produtos de laticínios sem apresentar
os desconfortos da intolerância. Tente descobrir seu próprio nível de
intolerância à lactose. Experimente beber pequenas quantidades de leite de
uma vez e, então, beba mais vezes durante o dia. Beba o leite com outros
alimentos e não com o estômago vazio. O leite integral é melhor tolerado
porque ele é digerido mais lentamente do que o leite desnatado. Produtos como
o iogurte e queijos curados podem ser melhor tolerados. Experimente o leite
hidrolisado.

Texto:
Sebastião Cesar Cardoso Brandão, Engenheiro Químico, Ph.D. Laticínios
Colaboração:
Milede Abdo Lacerda Matedi, Médica Pediatra
Maria das Graças Lacerda Oliveira Cardoso, Econ. Dom., Especialista em Saúde Pública
Departamento de Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Viçosa
Campus Universitário, Viçosa - MG, Brasil, CEP: 36571-000.
Tel: (31) 3899-2226 ; 3899-2227 ; 3899-2228 Fax: (31) 3899-2208

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