No estudo teológico, o Espírito Santo é identificado como a
Terceira Pessoa da Santíssima Trindade Divina. Isso indica tanto sua pessoalidade quanto sua divindade, ou seja, assim como o Pai e o Filho Ele também é pessoal e divino.
É muito importante entender que quando usamos a expressão
“Terceira Pessoa da Trindade”, nunca devemos aplicá-la como um tipo de hierarquia na própria Trindade em si, como se o Espírito Santo fosse o terceiro em importância, poder, autoridade e divindade. Basílio de Cesaréia, combatendo algumas heresias, falou assertivamente sobre isso:
“Há um só Deus Pai, um só Filho Unigênito, um só Espírito Santo.
Anunciamos cada uma dessas hipóstases singularmente. E se fosse conveniente ‘co-numerar’, não nos deixaríamos levar por rude enumeração a uma ideia politeísta”.
O que de fato existe, e isso apenas com relação à economia da
salvação, é a verdade de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo assumem diferentes papeis. Assim, bem resumidamente, podemos dizer que o Pai planeja, o Filho executa e o Espírito Santo aplica.
Diferente do que algumas pessoas pensam, a identidade do
Espírito Santo e sua ação são reveladas nas Escrituras do começo ao fim, isto é, do Antigo ao Novo Testamento. A Igreja do período apostólico, apesar de também ter tido que combater diversas heresias, compreendeu essa verdade.
No entanto, nos anos seguintes, doutrinas equivocadas começaram
a ganhar força quando o assunto era a revelação do Deus Triúno, o que obviamente incluía também a discussão acerca da identidade do Espírito Santo, levando à necessidade da Igreja se posicionar de forma oficial sobre essa questão especialmente em dois grandes Concílios, o de Niceia em 325 d.C. e o de Constantinopla em 381 d.C.
A Divindade do Espírito Santo à Luz da Bíblia
É atribuído ao Espírito Santo nas Escrituras nomes divinos,
como “Espírito de Deus”, “Espírito de Cristo” e “Espírito do Senhor”. O próprio nome “Espírito Santo”, que enfatiza o adjetivo da santidade deixa essa questão muito evidente.
Um bom exemplo disso se dá quando comparamos Êxodo 17:7 e
Hebreus 3:7-9. Em Êxodo lemos sobre como os filhos de Israel tentaram ao Senhor no deserto. O termo “Senhor” traduz nessa passagem o original hebraico Yahweh, que refere-se ao nome próprio de Deus.
Ao se referir a esse episódio, o escritor do livro de Hebreus
escreveu: “Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram, e viram por quarenta anos as minhas obras” (Hebreus 3:7-9).
Em Atos 5:3, quando o apóstolo Pedro repreendeu um homem
chamado Ananias, ele afirmou que aquele homem havia mentido ao Espírito Santo, e logo em seguida concluiu: “Não mentistes aos homens, mas a Deus” (Atos 5:3,4). Alguns outros exemplos em que o Espírito Santo recebe nomes e títulos divinos são: 1 Coríntios 3.16; 2 Timóteo 3.16 e 2 Pedro 1.21.
O Espírito Santo também é referenciado em pé de igualdade com
o Pai e o Filho, como por exemplo, na fórmula batismal ensinada pelo próprio Jesus (Mateus 28:19) e na conhecida bênção apostólica (2 Coríntios 13:13).
Além disso, o Espírito também realiza obras divinas, isto é, obras
que apenas o próprio Deus é capaz de realizar, como a criação (Gênesis 1:2; Jó 26:13; 33:4), a renovação da própria criação (Salmo 104:30), a regeneração (João 3:5,6; Tito 3:5) e também a ressurreição (Romanos 8:11).
Os Atributos da Divindade
O Espírito Santo também aparece nas Escrituras como sendo o
portador dos atributos divinos, isto é, Ele possui os atributos que caracterizam o próprio Ser de Deus, como por exemplo:
Ele é onipotente (1 Coríntios 12:11; Romanos 15;19).
Ele é onipresente (Salmo 139:7-10). Ele é onisciente (Isaías 40:13; cf. Romanos 11:34). Ele é eterno (Hebreus 9:14). Ele é a verdade (1 João 5:6).
A Personalidade do Espírito Santo
A personalidade do Espírito Santo foi um dos pontos mais atacados
por heresias na história da Igreja, mas a Bíblia afirma sua personalidade de forma bastante clara. Apesar de o termo “Espírito” traduzir o original Pneuma que é neutro, ao Espírito Santo é atribuído pronome masculino (João 16:14; Efésios 1:14).
Ele também aparece como tendo características de pessoa, como
por exemplo: inteligência (João 14:26; 15:26; Romanos 8:16), vontade (Atos 16:7; 1 Coríntios 12:11), sentimentos (Isaías 63:10; Efésios 4:30). Além disso, Ele fala, revela, intercede, luta, testifica etc.
Uma das passagens que revela de forma mais clara a identidade do
Espírito Santo com pessoa é João 14:16, onde Jesus diz: “E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16).
É fácil perceber que o Espírito Santo é igualado ao próprio Jesus,
ou seja, “outro Consolador”. Essa expressão aponta tanto para a divindade do Espírito Santo como para sua divindade. Assim como Jesus é Deus e possui personalidade, o Espírito Santo também é Deus e possui personalidade.
Além disso, a palavra “Consolador” traduz o grego Parakletos, que
de nenhuma forma pode ser traduzido como “consolação” ou “auxílio”, isto é, seu significado correto é “ajudador”, “auxiliador”, “consolador”. Portanto, esse termo também aponta de forma direta para a identidade do Espírito Santo como pessoa.
As Manifestações do Espírito Santo
Primeiramente podemos destacar a atuação do Espírito Santo
como parte da Santíssima Trindade na obra da criação, quando o Espírito pairava sobre a face das águas levando ordem ao caos. Já com relação à economia da salvação, o Espírito Santo regenerava as pessoas no Antigo Testamento da mesma forma como regenera a partir do Novo Testamento.
Também é inegável a atuação e manifestação do Espírito Santo
de forma soberana no sentido de capacitar alguém de maneira especial para um determinado ministério. Sim, o Espírito Santo já atuava no Antigo Testamento no aspecto carismático, concedendo dons a determinadas pessoas.
Um dos primeiros exemplos sobre isso é o caso dos artífices
Bezalel e Aoliabe, dois homens que foram capacitados pelo Espírito Santo a fazer incríveis obras de arte, e ainda tinham o dom de ensinar outras pessoas sobre esse ofício (Êxodo 35:30-34).
Foi o Espírito Santo que capacitou os juízes de Israel, como o
forte Sansão, o canhoto Eúde, Gideão e outros, para que pudessem libertar o povo de seus opressores. Mais tarde, vemos também que alguns reis foram capacitados com o Espírito Santo. O exemplo mais claro foi o próprio rei Davi (Salmo 51:11). Na verdade os reis de Israel eram ungidos com óleo que naquele contexto simbolizava a unção do Espírito Santo. Talvez o exemplo mais direto sobre a capacitação e distribuição de dons do Espírito Santo no Antigo Testamento esteja no ministério dos profetas. Homens como o profeta Elias e o profeta Eliseu, foram grandiosamente dotados do Espírito Santo. Outros, como o profeta Isaías, o profeta Jeremias, o profeta Ezequiel, além de terem sido separados para servirem como mensageiros de Deus, ainda foram escolhidos e capacitados para registrarem as Escrituras, assim como os apóstolos também foram no Novo Testamento.
Tudo isso significa que a manifestação do Espírito Santo no
Antigo Testamento era essencialmente a mesma que no Novo Testamento, regenerando, santificando, guardando e capacitando o povo de Deus.
No entanto, no Novo Testamento podemos perceber que o Espírito
Santo passou a atuar de forma mais intensa no povo do Senhor, no aspecto de que enquanto apenas algumas pessoas específicas eram capacitadas por Ele para o ministério no Antigo Testamento, no Novo Testamento o Espírito Santo foi derramado sobre todos os redimidos, cumprindo-se as promessas registradas no próprio Novo Testamento.
É fácil entender isso quando olhamos para um episódio que ocorreu
com Moisés, quando este estava sentindo o peso de liderar o povo de Israel e pediu que Deus alivia-se aquela carga sobre seus ombros. Então o Senhor ordenou que fossem separados setenta anciãos que receberiam do mesmo Espírito que estava sobre Moisés para servirem de auxílio a ele.
Também não é difícil entender que não se tratava da regeneração
daquelas setenta indivíduos, mas de uma capacitação especial para que eles pudessem exercer o ministério. Em certo momento Josué questionou aquela distribuição do dom Espírito Santo sobre outras pessoas além de Moisés, mas a resposta do próprio Moisés em forma de oração é bastante esclarecedora sobre a própria atuação e manifestação do Espírito Santo no Novo Testamento: “Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito” (Número 11:29).
A Descida do Espírito
A oração de Moisés desejando que o Espírito Santo fosse
derramado sobre todo o povo do Senhor tornou-se realidade no dia do Pentecostes, poucos dias depois da ascensão de Cristo ao céu.
Alguns anos antes desse acontecimento, o profeta João Batista
também anunciou que o Messias seria aquele capaz de batizar com o Espírito Santo (João 1:33). Durante seu ministério terreno, o próprio Jesus garantiu que o Auxiliador, isto é, a pessoa do Espírito Santo, seria enviado ao seu povo (João 14). Além disso, Ele deu ordens específicas para que seus discípulos ficassem em Jerusalém aguardando o derramamento do Espírito.
Quando finalmente esse grande evento ocorreu, o apóstolo Pedro
entendeu o tamanho do significado daquele momento que representava a transição da Antiga Aliança para Nova Aliança, e apontou para o cumprimento do que havia sido profetizado pelo profeta Joel: “E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão” (Atos 2:17,18). Saiba mais sobre o significado do Pentecostes.
Os Sinais
O derramamento do Espírito Santo do dia de Pentecostes foi
acompanhado de sinais que apontavam para a legitimidade daquele evento: (1) o som de um vento impetuoso; (2) línguas como de fogo; (3) os crentes falaram em outras línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia. Há pouca discussão sobre os dois primeiros, enquanto que com relação às línguas muito se tem debatido. De qualquer forma, o modo com que o evangelista Lucas relata o evento registro em Atos 2, enfatiza muito claramente que naquele contexto as línguas eram idiomas falados, ou seja, com o derramamento do Espírito Santo, os cristãos anunciaram as maravilhas de Deus na língua característica de várias regiões diferentes, de modo que as pessoas podiam ouvir cada um em seu próprio idioma. O objetivo desse milagre é muito claro: a ordem de Deus é que o Evangelho seja pregado em todo mundo (cf. Marcos 16:17).
Novamente o “falar em línguas” é registrado na casa do Centurião
Cornélio (Atos 10:46) e entre os discípulos de João Batista em Éfeso (Atos 19:6). Em ambos os casos o objetivo principal desse milagre foi apontar de forma clara que aquelas pessoas pertenciam a Igreja de Cristo. No entanto, diferente do capítulo 2 de Atos, Lucas não fornece qualquer informação conclusiva se aquelas línguas eram conhecidas assim como ocorreu no Pentecoste, ou se eram pronunciamentos ininteligíveis.
O apóstolo Paulo também trata da questão do “falar em línguas”
quando escreveu a igreja de Corinto (1 Coríntios 12-14). Esse texto é alvo de muito debate, de modo que existem diferentes interpretações sobre ele. Alguns sugerem que se trata da mesma manifestação descrita no livro de Atos, outros entendem que se trata da mesma manifestação que ocorreu na casa de Cornélio e em Éfeso, mas não da mesma que ocorreu no Pentecostes.
Por fim, há quem defenda que a manifestação que ocorria na igreja
de Corinto não era essencialmente a mesma registrada em Atos. De qualquer forma, independentemente da interpretação desse ponto, é inegável que uma comparação entre os textos de Atos e 1 Coríntios 12-14 revela algumas diferenças notáveis com relação à manifestação das línguas, especialmente no âmbito normativo quanto a seu uso. A continuidade ou não do dom de falar em línguas também é bastante debatida. Alguns defendem que esse dom serviu de forma específica para aquele momento histórico narrado no livro de Atos, enquanto que outros acreditam que esse dom ainda seja distribuído de forma soberana pelo Espírito Santo aos cristãos.
Os Dons Espirituais
O Novo Testamento revela em várias passagens que o Espírito
Santo capacita o povo de Deus com dons especiais para o exercício no ministério cristão. Um dos textos mais conhecidos a esse respeito encontra-se no capítulo 12 de 1 Coríntios.
Algo que é fundamental nesse texto, pois revela o próprio objetivo
do apóstolo Paulo ao escrevê-lo, é entender que a distribuição dos dons é feita pelo próprio Espírito Santo e de forma soberana, de modo que expressa a própria diversidade dos membros do Corpo de Cristo, ou seja, os dons não servem para determinar quem é o mais espiritual na comunidade cristã, mas servem para a edificação da Igreja e o Espírito Santo os concede a quem Ele quer.