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Resumo
Estudos têm apontado que o ensino difundido nas escolas tem gerado concepções
simplistas de natureza da ciência. Investigamos a potencialidade da Oficina Pedagógica
Interdisciplinar Iniciação à Química na Cozinha para o desenvolvimento das Concepções
de Natureza da Ciência (CNC) de onze estudantes do Ensino Fundamental. Essa oficina
buscou trabalhar o desenvolvimento de habilidades científicas junto aos estudantes. Os
dados foram coletados por meio de questionário com afirmativas em escala de Likert
(1932), aplicado no início e ao final da oficina. Observamos que houve evolução nas CNC
da maioria deles. Verificamos que esse avanço se deu principalmente nas questões que
tratavam sobre como é produzido o conhecimento científico, além de numa questão que
tratava da confiabilidade do conhecimento científico.
Palavras-chave: Habilidades Científicas. Interdisciplinar. Oficina. Natureza da Ciência.
Abstract
Investigations have pointed out that the teaching broadcast in schools has generated
simplistic conceptions of the nature of science. We investigated the potentiality of the
Interdisciplinary Pedagogical Workshop Initiation to Chemistry in the Kitchen for the
development of Conceptions of the Nature of Science of eleven students of Elementary
School. This workshop pretended to development of scientific skills among students. We
collected the data by means of a questionnaire with affirmations on a Likert scale (1932)
applied at the beginning and at the end of the workshop. We observed that there was
evolution in the Conceptions of the Nature of Science of most of them. We verified that this
advance was mainly in the questions that dealt with how the scientific knowledge is
produced, besides in an issue that dealt with the reliability of the scientific knowledge.
Keywords: Scientific skills. Interdisciplinary. Workshop. Nature of Science.
Também para Praia et al. (2002) a epistemologia está implícita nos currículos de
ciências e dela parte os modos de ensinar. O conhecimento da epistemologia, para esses
autores, faz com que os professores conheçam mais sobre os conhecimentos que
ensinam e os ajudam a planejar situações de aprendizagem. Para Mathews (1995) “[...]
deve ser estranho imaginar um bom professor de ciências que não detenha um
conhecimento razoavelmente sólido da terminologia de sua própria disciplina, causa, lei,
explicação, modelo, teoria, fato [...]” (p. 188). Ele sugere que o conhecimento da história e
da filosofia da ciência deveria fazer parte da formação dos professores de Ciências, pois
isso os ajudaria a compreender sua disciplina de forma crítica, além de promover um
ensino de melhor qualidade (MATHEWS, 1995).
Gil Pérez et al. (2001) apontam alguns consensos no âmbito da Filosofia da ciência
que trazem visões mais adequadas na natureza da ciência:
• A recusa da ideia de “Método Científico”;
• A recusa de um empirismo que concebe os conhecimentos como resultados da
inferência indutiva a partir de “dados puros”;
• O destaque ao papel atribuído pela investigação ao pensamento divergente;
• A procura de coerência global;
• A compreensão do carácter social do desenvolvimento Científico.
Diante dos estudos apontados, verifica-se que é preciso trabalhar práticas que
auxiliem os professores de Ciências a conhecerem suas CNC e as desenvolverem. Essas
práticas beneficiarão tanto os próprios professores na melhoria de seu ensino, quanto aos
alunos em relação ao desenvolvimento de compreensões menos simplistas de natureza
da ciência e no desenvolvimento de habilidades científicas.
A Oficina teve duração de 15 horas e foi realizada em três dias consecutivos. Como
objetivos, buscou-se:
• Sondar as concepções dos alunos sobre a natureza da ciência;
• Refletir acerca de habilidades necessárias a um cientista: observar, registrar,
analisar;
• Refletir acerca da existência da química na cozinha;
• Conhecer conceitos e métodos envolvidos na iniciação à química na
cozinha: substâncias, misturas, separação de misturas e proporcionalidade;
• Levantar hipóteses acerca de problema encontrado na cozinha;
• Elaborar metodologia de experimentação de hipóteses sobre problemas na
cozinha;
• Testar e levantar considerações acerca de experimentos investigados sobre
a química na cozinha. (PLANO DE AULA DA OFICINA).
1
Essa oficina foi planejada com base em conhecimentos adquiridos no Espaço Ciência
Pernambuco, junto ao professor Dr. Antônio Carlos Pavão, diretor do espaço e professor da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Agradecemos ao professor Pavão pelas contribuições.
Metodologia
2
Ver questionário em Köhnlein e Peduzzi (2005) disponível em
http://ensino.univates.br/~4iberoamericano/trabalhos/trabalho011.pdf. Acesso em 20 de dezembro de 2016
às 16:54.
3
Ver informações do relatório de Resis Likeert explicando seu uso em: Lickert, R. (1932).
A technique for the measurement of attitudes. Archives of Psychology, 1-55. Disponível em
https://books.google.com.br/books?id=9rotAAAAYAAJ&q=%22A+Technique+for+the+Measurement+of+Attit
udes%22&dq=%22A+Technique+for+the+Measurement+of+Attitudes%22&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwjJn7_Tr6HcAhUsxVkKHeXWCGoQ6AEIJzAA. Acesso, 15 de julho, 2018.
Resultados e Discussões
Hodson (2006) trata da relação entre as teorias e a observação. Ele nos mostra
que detrás de toda observação há uma teoria envolvida. Além disso, a mera observação
não é suficiente para levar à rejeição de uma teoria, é preciso que surja outra teoria que a
conteste e evidencie suas distorções.
De modo geral, entre os estudantes, não houve modificação em suas CNC no que
tange à questão dez, que trata da possibilidade de rejeição de uma quando ela entra em
conflito com resultados obtidos pela experiência. Essa questão se compatibiliza com a
afirmação três, ainda que na mesma tenha havido retrocesso nas CNC dos estudantes.
25
20
15 Prés-teste
Pós-teste
10
0
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11
Considerações
Estudos têm apontado que o ensino desenvolvido nas escolas tem produzido nos
estudantes visões simplistas acerca da natureza da ciência. Também se têm observado
que muitos professores possuem visões empírico-indutivistas da natureza da ciência e
que isso tem sido refletido num ensino transmissivo e tradicional. Investigando a
potencialidade da oficina pedagógica Iniciação à Química na cozinha para o
desenvolvimento das CNC de onze estudantes do ensino fundamental observamos que
houve evolução nessas concepções junto à maioria deles. Verificamos que esse avanço
nas CNC se deu principalmente nas questões que tratavam de como é produzido o
conhecimento científico, se sempre partindo da experiência (experimento e/ou
observação) ou se sempre partindo de uma teoria, além de numa questão que tratava da
confiabilidade do conhecimento científico. Entendemos que a atividade de encontrar
problemas químicos na cozinha, produzir hipóteses de resolução e testá-las pode ter
auxiliado na compreensão do papel das teorias na produção da ciência, já que os
estudantes tinham que partir de suas suposições para solucionar as tarefas. É preciso
promover mais atividades envolvendo a educação científica e investigar sua
potencialidade em diferentes contextos para que se estimule o desenvolvimento de visões
mais adequadas da ciência.
Referências
CHALMERS, A. F. Tradução: Raul Filker. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense,
1993.
GIL-PÉREZ, D., MONTORO, I. F., ALÍS J. C., CACHAPUZ A., PRAIA J. Para uma
imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, v.7, n.2, p.125-153,
2001.
HARRES, J.B.S. Uma revisão de pesquisas nas concepções de professores sobre a
natureza da ciência e suas implicações para o ensino. Investigações em Ensino de
Ciências (Investigaciones en Enseñanza de las Ciencias; Investigations in Science
Submissão: 30/08/2017
Aceite: 22/08/2018