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Resumo 1 – 08/04/2019

Discente: Luis Gustavo de Paiva Faria (85488)


Texto de referência: MARX, K. Crítica do Programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012. pp.
24-48.
O texto de a Crítica do Programa de Gotha, em particular a seção Glosas marginais ao
programa do Partido Operário Alemão, publicada postumamente em 1891 por Engels em uma
revista socialista dirigida por Karl Kautsky, refere-se a uma análise hermenêutica (em seu sentido
de análise textual) de Marx ao Programa de Gotha, documento escrito para a ocasião de um
congresso político que seria realizado em 1875 com o objetivo de unificar “dois partidos operários
alemães: a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães (...) por Ferdinand Lassalle e o Partido
Social-Democrata dos Trabalhadores, fundado (...) por Wilhelm Liebknecht, Wilhelm Bracke e
August Bebel” (LOWY, p. 13, 2012). Tais elementos históricos demonstram, por um lado, o forte
elemento conjuntural do texto, que se faz perceber nas críticas a Lassalle e nas discordâncias com
Mikhail Bakunin, e, por outro, o envolvimento político-partidário de Marx e Engels na construção
da relação entre teoria e prática (práxis) para uma teoria marxiana do socialismo na Alemanha.
Segundo nota da editora Boitempo à obra, “foi uma das raras ocasiões em que ele de fato pensou o
socialismo” (p. 11), elemento que recorda o famoso trecho d’A Ideologia Alemã, geralmente mal
interpretado, em que Marx e Engels (2001, p. 28-29) pensam o comunismo de modo ilustrativo,
com tom metafórico e literário, ainda que suponha princípios formais e materiais de uma sociedade
comunista: “(...) na sociedade comunista, em que cada um não tem uma esfera de atividade
exclusiva, mas pode se aperfeiçoar no ramo que lhe agradar, a sociedade regulamenta a produção
geral, o que cria para mim a possibilidade de hoje fazer uma coisa, amanha outra, caçar de manhã,
pescar na parte da tarde, cuidar do gado ao anoitecer, fazer crítica após as refeições, a meu bel-
prazer, sem nunca me tornar caçador, pescador ou crítico”.
Por sua vez, em Crítica ao Programa de Gotha, a partir de um linguajar filosófico técnico e,
por assim dizer, administrativo, com forte tom político, Marx declara, ao comentar a transição
dialética da sociedade capitalista para uma sociedade comunista: “Numa fase superior da sociedade
comunista, quando tiver sido eliminada a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do
trabalho e, com ela, a oposição entre trabalho intelectual e manual; quando o trabalho tiver deixado
de ser mero meio de vida e tiver se tornado a primeira necessidade vital; quando, juntamente com o
desenvolvimento multifacetado dos indivíduos, suas forças produtivas também tiverem crescido e
todas as fontes da riqueza coletiva jorrarem em abundância, apenas então o estreito horizonte
jurídico burguês poderá ser plenamente superado e a sociedade poderá escrever em sua bandeira:
“De cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades!” (p. 33). A bela
máxima “De cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades!” justifica o
processo revolucionário que passaria, segundo o filósofo alemão, por uma fase de ditadura
revolucionária do proletariado para alcançar a sociedade comunista, elemento geralmente polêmico
entre autores e militantes marxistas e que é abordado nesse texto. Nesse sentido, Crítica do
Programa de Gotha é um texto recheado com elementos conjunturais, políticos e históricos, mas
que não se furta de tratar importantes elementos teóricos para uma teoria materialista da história e
do socialismo que orientaram as ações de Marx e Engels e de partidos políticos ao longo da história.
Considerando esse caráter do texto, o resumo se detém em elementos gerais que organizam
as teses expostas e que podem ser sintetizadas a partir de um objetivo geral: “Contrapor e criticar as
teses lassallianas relacionadas à economia e ao direito (valor de uso, salário e suas implicações
jurídicas), à organização política-partidária (nacionais ou internacionalistas) e especialmente às
relações das organizações proletárias com o Estado”.

a. Direito e Economia
“As relações econômicas são reguladas por conceitos jurídicos ou, ao contrário, são as
relações jurídicas que derivam das relações econômicas?” (p. 28), questiona-se retoricamente Marx
ao debater as relações jurídicas de trabalho em uma sociedade capitalista e em uma sociedade
comunista. Na sociedade capitalista, segundo o autor, “os meios de trabalho são monopólio dos
proprietários fundiários (...) e dos capitalistas” (p. 27); na sociedade comunista, por sua vez, a
divisão do trabalho é colocada em xeque e a distribuição salarial é reconfigurada segundo as
capacidades e as necessidades de cada um. Entre esses dois pólos, contudo, há um processo de
desenvolvimento e adequação dialética onde o “objeto aqui é uma sociedade comunista, não como
ela se desenvolveu a partir de suas próprias bases, mas, ao contrário, como ela acaba de sair da
sociedade capitalista, portanto trazendo de nascença as marcas econômicas, morais e espirituais
herdadas da velha sociedade de cujo ventre ela saiu” (p. 29-30).
No âmbito das relações de trabalho, esse processo envolve modificações nas relações
jurídicas que passaria de um direito igualitário (igualdade na liberdade, ou “todos são iguais perante
a lei” – igualdade jurídica formal) para um direito “desigual”, que, na verdade, garantiria igualdade
substantiva ao ponderar elementos de desigualdade entre indivíduos. Essa passagem dialética entre
direito e economia acompanha a tese materialista de que “o direito nunca pode ultrapassar a forma
econômica e o desenvolvimento cultural, por ela condicionado, da sociedade” (p. 32-33).

b. Organização partidária
O texto marca a importante definição da organização partidária como internacionalista, mas
de forma nacional: “Lassalle, ao contrário do Manifesto Comunista e de todo o socialismo anterior,
concebeu o movimento dos trabalhadores sob a mais estreita ótica nacional. Aqui, o programa [de
Gotha] segue seus passos – e isso depois da ação da Internacional! É evidente que, para poder lutar
em geral, a classe trabalhadora tem de se organizar internamente como classe, e a esfera nacional é
o terreno imediato de sua luta. Nesse sentido, sua luta de classe é nacional, não segundo o conteúdo,
mas, como diz o Manifesto Comunista, „segundo a forma‟” (p. 36). O tema será motivo de debate
entre futuros teóricos marxistas, como Lênin, Trotsky e Stálin.

c. Democracia e relação com o Estado


Segundo Marx, o pensamento de Lassalle afirma que a organização socialista surgiria de
uma subvenção estatal na criação de cooperativas de produção. Esse movimento de seitas (p. 41),
segundo o termo usado por Marx, em “suas reivindicações políticas não contêm mais do que a velha
cantilena democrática, conhecida de todos: sufrágio universal, legislação direta, direito do povo,
milícia popular etc. (p. 43). Aqui fica perceptível uma forte crítica de Marx à democracia liberal e à
forma do Estado mínimo e de direito, ainda que a crítica seja conjuntural em específico ao Estado
alemão da época, o programa de Gotha (de influência lassaliana) teria as mesmas reivindicações de
democratas republicanos e liberais.
Para Marx, ao contrário, “trata-se de converter o Estado, de órgão que subordina a sociedade
em órgão totalmente subordinado a ela, e ainda hoje as formas de Estado são mais ou menos livres,
de acordo com o grau em que limitam a „liberdade do Estado‟” (p. 41-42), de modo que se deve
criticar uma concepção liberal que “(...) considera o Estado um ser autônomo, dotado de seus
próprios „fundamentos espirituais, morais, livres‟, em vez de afirmar a sociedade existente como
base do Estado existente”. A superação do Estado, portanto, envolve a polêmica ditadura
revolucionária do proletariado (p. 43).
De máximas como “O trabalho não é a fonte de toda riqueza. A natureza é a fonte dos
valores de uso” à relação das organizações socialistas com o Estado liberal (democracia liberal), o
texto passa pelo tema das classes revolucionárias e de demandas socialistas para a educação
pública. Importante texto para perceber a práxis de Marx e Engels em aplicação.
Referências

LOWY, M. Prefácio à edição brasileira. In: MARX, K. Crítica do Programa de Gotha. São
Paulo: Boitempo, 2012. pp. 13-17.

MARX, K. e ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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