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Curso de EFA – Nível Secundário – Tipo A-1º ano/C

Início em setembro 2016

Área – Cultura, Língua e Comunicação [CLC]


Núcleo gerador 1: Equipamentos – Impactos culturais e comunicacionais
Domínio de Referência: DR2 – Contexto Profissional / Tema: Equipamentos Profissionais
Competência: Reconhece a multiplicidade de funções utilitárias e criativas dos equipamentos e sistemas
técnicos, em contexto profissional. (ANQEP - Referencial- Lidar com equipamentos e sistemas técnicos em contexto
profissional acedendo à multiplicidade de funções que comportam e reconhecendo a sua dimensão criativa)
Recursos / materiais: computadores com acesso à internet, folhas policopiadas e material de escrita
Duração: 3/4 horas
Formador: Luís Fernandes

GUIÃO DE TRABALHO – 2 – Jimmie Durham e o uso artístico e contestatário


das máquinas.

CULTURA
Tipo I – Identificar no conjunto variado de equipamentos disponíveis em contexto profissional, os que
são igualmente mobilizados na produção de bens culturais e artísticos.
Tipo II – Compreender que os diversos equipamentos técnicos – e também o seu eventual uso
combinado – estão relacionados com expressões culturais e artísticas dotadas de diferentes níveis de
complexidade.
Tipo III – Explorar o desenvolvimento de interesses e disposições criativas no âmbito de iniciativas de
sensibilização para as artes e cultura, como é o caso, designadamente, das atividades desenvolvidas
pelos serviços educativos de entidades culturais e artísticas (museus, centros de arte, cineteatros, entre
outras).
LÍNGUA
Tipo I – Identificar as unidades de significação necessárias à compreensão de textos, do domínio
profissional, relacionados com a resolução de problemas da vida profissional, em particular no
manuseamento de equipamentos.
Tipo II – Compreender os sentidos dos textos, tendo em atenção as realizações linguísticas usadas
para exprimir instruções, incluindo uso de desenhos e diagramas.
Tipo III – Intervir, interagindo oralmente e por escrito, com a finalidade de resolver problemas relativos
à montagem e uso de equipamentos profissionais.
COMUNICAÇÃO
Tipo I – Identificar com precisão as caraterísticas dos equipamentos de comunicação para uso
profissional.
Tipo II - Compreender e fazer a análise de informação em suportes diversos, relacionada com as
vantagens da aquisição e uso de diferentes equipamentos profissionais na área da comunicação.
Tipo III – Interagir, utilizando informação adequada aos efeitos pretendidos, em matéria de
equipamentos de uso profissional.

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1. O frigorífico fez parte dos equipamentos com que trabalhou em contexto
profissional? Se sim, fale da sua experiência oralmente e sintetize por
escrito.
2. Observe os dois frigoríficos abaixo apresentados (fig. 1-3) e o texto que se
segue e diga que comentários lhe suscitam.

Figura 2 -
Figura 1 - Frigorífico

Figura 3 –

Durham usa a colagem de objetos oriundos do quotidiano ou joga tanto com objetos da
natureza como com objetos de fabricação industrial para relacionar o eu e o outro, e acaba
por denunciar as exclusões da sociedade.

2
No caso de Saint Frigo (fig. 2-3), Durham usou as pedras como elemento fulcral para
esculpir a obra, alterando-a e moldando-a ao apedrejá-las. O facto de o frigorífico ser um
objeto inanimado, impotente perante qualquer ataque “violento”, fez com que se intitulasse
desta forma, estabelecendo conexões com o sacrifício dos santos tão frequentemente tratado
na cultura ocidental.
Joana Adelaide Souto Mateus, Do objeto impessoal ao objeto auto-referencial. MESTRADO EM PINTURA 2010,
pp. 48-49.

3. Observe ainda mais um conjunto de intervenção do mesmo autor e analise-


o, explicando o simbolismo dos vários elementos que o mesmo reúne.

Figura 4 -

4. O imaginário e a mensagem de Jimmie Durham alargam-se a outros


equipamentos do quotidiano moderno, como o automóvel e o avião.
Comente as figuras seguintes.

3
Figura 5 -

Figura 6 -

4
Figura 7 - Jimmie Durham. Ainda tranquilidade, 2008. Avião, pedra 150 × 860 × 860 cm. Pury & Luxembourg, Zurich.

5 . Observe agora a seguinte instalação, que se encontra num jardim de


Odivelas. Descreva-a, comente-a e depois compare-a com a imagem 9.

5
Figura 8 - Jardim em Odivelas

6
Figura 9 - Why the trial between Jesus and Pilate lasted only two minutes, 1996 by Wolf Vostell,
Cáceres

A maior parte das imagens acima apresentadas foram retiradas do estudo de José
Teixeira, Monumentalidade, Eletrodomésticos e Contra-cultura, Faculdade de Belas-
Artes, Universidade de Lisboa.

6. Leia agora com atenção o seguinte fragmento do Diário de José


saramago.

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José Saramago, Cadernos de Lanzarote
6.1. Em que medida este texto pode ajudar-nos a compreender a mensagem
transmitida pelas imagens de Jimmie Durham que temos estado a
apreciar?

6.2. Que ligação existe entre Jimmie Durham e Saramago na crítica de Ruth
Rosengarten?

7. Leia agora alguns excertos de dois poemas de Álvaro de Campos.

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A
Ode Triunfal

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
(…)
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -


Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
(…)

Horas europeias, produtoras, entaladas


Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
(…)

(…)
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,
(…)
Álvaro de Campos, in "Poemas", Heterónimo de Fernando Pessoa

B
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,


Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,

9
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...

Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,


Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram.
Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Em quantas coisas que me emprestaram guio como minhas!
Quanto me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!

À esquerda o casebre — sim, o casebre — à beira da estrada.


À direita o campo aberto, com a lua ao longe.
O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade,
É agora uma coisa onde estou fechado,
Que só posso conduzir se nele estiver fechado,
Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.

(…)
Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?

Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?

Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,


Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,
À porta do casebre,
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,
O meu coração mais humano do que eu, mais exato que a vida.

Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,


Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...
11-5-1928
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa

7.1. Nestes poemas a perspetiva dos equipamentos é de crítica e


protesto ou de entusiasmo? Justifique com expressões dos textos.

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PROPOSTA DE CORREÇÃO
1. O frigorífico fez parte dos equipamentos com que trabalhou em contexto
profissional? Se sim, fale da sua experiência oralmente e sintetize por escrito.
Resposta pessoal.
2. Observe os dois frigoríficos abaixo apresentados e o texto que se segue e diga que
comentários lhe suscitam.
A figura 1 representa um frigorífico, equipamento essencial ao nosso quotidiano atual tanto
pessoal como profissional. Custar-nos-á a compreender a vida sem ele, mas há ainda hoje
muitas pessoas que não contam com as vantagens deste equipamento.
As figuras 2 e 3, incluídas na mesma performance, chocam-nos por ser exposto o
apedrejamento de um frigorífico e o resultado desta “agressão” deste símbolo da vida
contemporânea. A mensagem ganha ainda um maior poder de denúncia das desigualdades
quando associada ao título, onde em vez de “frigorífico” se fala em “São Frigorífico”,
associando o gesto ao martírio de muitos santos no contexto ocidental e árabe.
3. Observe ainda mais um conjunto de intervenção do mesmo autor e analise-o,
explicando o simbolismo dos vários elementos que o mesmo reúne.
Nesta imagem o frigorífico é apresentado intacto, mas amarrado por uma corda
a uma estátua clássica – Atena, deusa grega da sabedoria, da guerra, das artes,
da estratégia e da justiça.
O corpo era o elemento base da escultura clássica, enquanto muitos
modernistas o substituem por elementos do quotidiano, como o frigorífico.
Durham une estas duas conceções de arte de forma crítica e provocadora,
através da corda.

4. O automóvel e o avião surgem mais uma vez ligados à pedra, matérias-


primas da arte. Os símbolos da vida moderna, que se tornam matéria da
arte têm uma relação ambígua com a pedra. É que esta tanto pode ser a
matéria da arte como arma de arremesso (cf. fig. 3).
5. A instalação que podemos apreciar no jardim do Bairro da Memória, em
Odivelas, testemunha a tendência para reutilizar os resíduos como
matéria-prima da arte. Esta intervenção começou por ser associada a um
automóvel a servir de vaso a uma árvore, entretanto retirado.
O facto de a estrutura e parte dos elementos remeterem para a montagem
de Wolf Vostell apresentada na imagem 9 permite fazer uma aproximação
das duas, embora me pareça que tenham intencionalidades diferentes.
Enquanto a nossa floreira monumental aponta para uma mensagem
positiva, a montagem patente num museu de Cáceres é um claro escárnio
à civilização do progresso em que nos encontramos. Mais uma vez o título
“Por que razão o julgamento de Pilatos a Jesus e durou apenas dois
minutos” ajuda a interpretar a mensagem. É conhecido o gesto de “lavar
as mãos”, de Pilatos, ou seja, mesmo discordando de situações
aberrantes há um alheamento, um deixar correr, que aqui pode ser visado.

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