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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO – PRPPGI PROGRAMA DE PÓS-


GRADUAÇÃO EM EXTENSÃO RURAL – PPGExR

Juazeiro - BA

2019

O presente texto traz algumas reflexões sobre a obra de Alfredo Wagner Berno
de Almeida, “Terras de quilombo, terras indígenas, "babaçuais livres", "castanhais do
povo", faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas”. O autor traz uma
abordagem teórica interessante sobre as diversas formas de ocupações de terras
classificadas como "tradicionais”, discutindo, nesse aspecto, conceitos como
“territorialização", "populações tradicionais", "comunidades tradicionais" e também a
noção de "tradicionalidade".

Almeida ressalta que mesmo diante dos processos de ascensão dos movimentos
sociais e das lutas travadas por essas organizações com repercussão na vida social,
remanescem ainda latentes os entraves políticos e os impasses burocrático-
administrativos que procrastinam a efetivação do reconhecimento jurídico-formal dessas
“terras tradicionalmente ocupadas”. Assim, no que concerne a essa questão, o autor
aponta para o desafio de que essas organizações sociais, compostas por grupos
etnicamente diferenciados, com suas diversidades étnicas, culturais e múltiplas
identidades, não podem prescindir do reconhecimento pelo Estado.

Ademais, seu esforço no texto é, sobretudo, tentar relativizar alguns esquemas


interpretativos e noções operacionais postas pelo Estado para pensar diversos aspectos
sobre a terra e os povos tradicionais. Tais conceitos, no seu entender, são pré-
concebidos e produzem interpretações inadequadas e muitas vezes falhas, portanto,
nesse sentido, o autor destaca que as classificações colocadas não contemplam, em
grande medida, as múltiplas organizações e realidades sociais concretas. Tem-se que
cada lugar social é um espaço diferente, as comunidades não são homogênicas, seus
critérios organizativos e de luta são diferenciados. Dessa forma, essas organizações
escapam aos sentidos e critérios de classificação pré-definidos.

De acordo com o autor, essa multiplicidade de organizações sociais -


incorporadas a fatores étnicos e critérios diversos de autodefinição coletiva - ao se
consolidarem fora dos marcos tradicionais de classificação, construíram uma nova
cartografia social. Segundo Almeida:

“Concomitante ao seu surgimento tem-se critérios


político-organizativos que se estruturam em cima da
demanda por terras. As terras vão sendo incorporadas
para além de seus “aspectos físicos”, segundo uma
idéia de rede de relações sociais cada vez mais
fortalecida pelas autodefinições sucessivas ou pela
afirmação étnica” (p. 120).

Nesse sentido, conforme o autor:

“[...]Todos estes fatores concorrem para compor o


campo de significados do que se define como “terras
tradicionalmente ocupadas”, em que o tradicional não
se reduz ao histórico e incorpora principalmente
reivindicações do presente com identidades coletivas
redefinidas situacionalmente numa mobilização
continuada” (p. 121-122).

Ademais, para Almeida, a construção dessa nova identidade coletiva - que


rompe com visões dicotômicas usuais - torna os movimentos sociais um lugar político
potencialmente relevante, na medida em que esses novos processos organizativos tem
pressionado por ajustes nos arranjos operacionais. Assim, diversos conceitos como
"identidade", "terra", "território", "reconhecimento" - que abarcam diferentes
racionalidades - encontram-se em constante disputa por legitimidade e mudança de
significados.

O texto traz o conceito de territorialização que está geralmente relacionado a


formas de organização social, modos distintos de percepção, ordenação, reordenação em
termos de relações com o espaço que se constitui por meio dos povos do campo que
são eles: agricultores, quilombolas, indígenas, pescadores, povos de florestas,
semterra, boias-frias, camponeses os quais representam um espaço de lutas e
permanência na terra. Por isso, o autor chama a atenção para o termo processo de
territorialização por estar sempre em conflitos tensões, pois, as formas de apropriação
dos recursos se fazem de maneira dinâmica.

Em arremate, Oliveira nos concita a refletir: O que são, afinal, terras


tradicionalmente ocupadas? Quem tem legitimidade para definir os critérios de
identificação? Como trazer definições rígidas para classificar realidades e relações
sociais tão plurais e dinâmicas? Quais são as categorias étnicas em operação e como
elas são tratadas no ordenamento jurídico vigente? Qual o desafio posto para o
reconhecimento oficial dessas novas organizações sociais? Como os atores sociais
dessas terras se organizam politicamente para travar suas lutas e fazer suas
reivindicações territoriais perante o Estado?

O processo de exclusão sociocultural, econômica e política se dá ao longo da


história do Brasil e se fazem presentes na atualidade, tornando-se naturalizado, pois
uma parte da sociedade ainda é resistente, principalmente os que se beneficiam com
ela. Além disso, as práticas discriminatórias ainda perduram em pleno século XXI,
exigindo dos movimentos sociais cada vez mais organização e mobilização na defesa
de seus direitos.

Porém, o autor, ressalta que mesmo diante das lutas dos movimentos sociais e
de suas repercussões na vida social, não tem diminuído, contudo, os entraves
políticos e os impasses burocrático-administrativos que procrastinam a
efetivação do reconhecimento jurídico-formal das “terras tradicionalmente
ocupadas”, consideradas áreas de uso comum voltadas para o extrativismo, a
pesca, a pequena agricultura e o pastoreio, estes constroem politicamente uma
identidade coletiva, estabelecendo assim, uma territoriedade especifica fruto de
reivindicações e de lutas.
Almeida acrescenta que o significado de “tradicional” mostra-se, deste
modo, dinâmico e como um fato do presente, rompendo com a visão essencialista
e de fixidez de um território, explicado principalmente por fatores históricos ou
pelo quadro natural, como se a cada bioma correspondesse necessariamente uma
certa identidade.
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terras de quilombo, terras indígenas,


"babaçuais livres", "castanhais do povo", faxinais e fundos de pasto: terras
tradicionalmente ocupadas. 2ª Edição. ed. Manaus: PPGSCA-UFAM, 2008.

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