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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

GUILHERME STOR DE AGUIAR

CONFIGURAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE CONCENTRAÇÃO E


LUCRATIVIDADE NA INDÚSTRIA BRASILEIRA, NOS ANOS
2001-2010

RECIFE

2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

GUILHERME STOR DE AGUIAR

CONFIGURAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE CONCENTRAÇÃO E


LUCRATIVIDADE NA INDÚSTRIA BRASILEIRA, NOS ANOS
2001-2010

Monografia submetida à Coordenação do Curso


de Ciências Econômicas da Universidade Federal
de Pernambuco, como requisito parcial para a
conclusão do curso de graduação em Economia.

Orientador: Prof. Zionam Euvécio Lins Rolim

RECIFE

2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

A monografia:

CONFIGURAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE CONCENTRAÇÃO E LUCRATIVIDADE


NA INDÚSTRIA BRASILEIRA, NOS ANOS 2001-2010

Elaborada por: Guilherme Stor de Aguiar

Submetida à Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a


conclusão do curso de graduação em Economia.

Data da defesa:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Zionam Euvécio Lins Rolim, Dr.

Orientador – UFPE

____________________________________________

Examinador

RECIFE
2013
Agradecimentos

Aos meus pais, Antônio e Marta, pois o que sou eu, senão um produto do
amor de vocês? Agradeço a forma como me educaram e pelo exemplo de
honestidade que são. Sempre carregarei e tentarei transmitir aos que estiverem
comigo os ensinamentos que vocês me passaram.

À minha namorada, Thaís, por ter me feito crescer todos esses anos e por
acreditar em mim, quando, às vezes, nem eu mesmo acredito. Não poderia deixar
de mencionar, também, o incentivo para escrever essa monografia, se não fosse
você, eu provavelmente ainda estaria começando.

A todos os envolvidos no meu convívio, que de qualquer maneira tiveram


importância no decorrer da minha graduação. Agradeço especialmente aos meus
irmãos, Camila e Gustavo, e aos queridos amigos: Bixcoito, pela parceria tácita;
Diegay, por não levar a vida tão a sério; Eduardo, pelas conversas divertidas; Neto,
por mostrar que o normal não é, em si, o almejado; e PV, por me fazer desconfiar de
qualquer informação num primeiro momento.

A todos os professores do curso de graduação em Ciências Econômicas da


UFPE, em particular a Zionam Rolim, orientador desse trabalho, por toda a
dedicação ao curso e aos alunos.

Por fim, agradeço ao Fluminense Football Club, por todos os momentos de


euforia e tristeza que me proporciona.
“People of the same trade seldom meet
together, even for merriment and diversion,
but the conversation ends in a conspiracy
against the public, or in some contrivance to
raise prices.”

(Adam Smith)
RESUMO

Este trabalho teve por objetivo analisar a configuração da relação entre


concentração e lucratividade na indústria brasileira no decorrer da primeira década
do século XXI. Para tanto, foi revista a literatura que discorre sobre esse tema, de
forma a mostrar a relevância do assunto pesquisado ao decorrer das diversas
escolas de pensamento que, alguma vez, dominaram o centro de estudo da
economia industrial. Além disso, uma rápida explicação sobre o cenário econômico
brasileiro no período em estudo foi elaborada, de modo a situar o trabalho num
contexto econômico definido. Os índices sobre concentração e lucratividade foram
calculados a partir de dados retirados da publicação “Exame: Maiores e Melhores”.
Nenhuma tendência clara de concentração ou desconcentração pôde ser observada
no período. A partir de testes econométricos e estatísticos foi observada uma
pequena correlação positiva entre os elementos discutidos, o resultado, porém, não
foi significativo estatisticamente.

Palavras-chave: concentração; lucratividade; economia industrial.


ABSTRACT

This work’s objective was to analyze the configuration of the relationship between
concentration and profitability in the Brazilian industry throughout the first decade of
the XXI century. To that end, it was made a revision of the literature that deals with
this subject in order to show the relevance of the topic over the course of the various
schools of thought that ever dominated the mainstream of the industrial economics.
Furthermore, a brief explanation of the Brazilian economy in the period under study
was developed in order to situate the work in an economic context. The concentration
ratio and the profitability rate were calculated based on data taken from the
publication “Exame: Maiores e Melhores”. No clear trend of concentration or
deconcentration could be observed in the period. From statistical and econometric
tests we observed a small positive correlation between the elements discussed, the
result, however, was not statistically significant.

Keywords: concentration; profitability; industrial economics.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 12
2.1 DEFINIÇÃO DE OLIGOPÓLIO............................................................................ 12
2.2 MODELOS TRADICIONAIS DE OLIGOPÓLIO ................................................... 13
2.2.1 Modelo de Counot ............................................................................................ 14
2.2.2 Modelo de Bertrand .......................................................................................... 15
2.2.3 Modelo de Stackelberg ..................................................................................... 16
2.2.4 Conluio ............................................................................................................. 17
2.3 PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO................................... 19
2.3.1 Críticas à Abordagem Marginalista .................................................................. 19
2.3.2 Base Teórica do Paradigma ECD .................................................................... 22
2.3.2.1 Contribuições de J. S. Bain ........................................................................... 24
2.4 ESCOLAS ALTERNATIVAS DE PENSAMENTO ................................................ 27
2.4.1 A Escola de Chicago ........................................................................................ 27
2.4.2 A Escola Austríaca ........................................................................................... 28
2.4.3 Mercados Contestáveis .................................................................................... 29
2.4.4 Nova Economia Industrial................................................................................. 31
2.4.5 Outras Abordagens Importantes ...................................................................... 32

3 DESEMPENHO ECONÔMICO BRASILEIRO RECENTE ..................................... 33


3.1 DESEMPENHO INDUSTRIAL NO PERÍODO ..................................................... 36
4 CONCENTRAÇÃO X LUCRATIVIDADE ............................................................... 39
4.1 BASE DE DADOS ............................................................................................... 41
4.2 CONCENTRAÇÃO DE MERCADO ..................................................................... 42
4.2.1 Medidas de Concentração................................................................................ 43
4.2.2 Resultados Obtidos .......................................................................................... 45
4.3 LUCRATIVIDADE ................................................................................................ 48
4.4 ANÁLISE DA RELAÇÃO CONCENTRAÇÃO X LUCRATIVIDADE
NA INDÚSTRIA BRASILEIRA NO PERÍODO 2001-2010 ......................................... 50
4.4.1 Comentários ..................................................................................................... 53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 54

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
9

1 INTRODUÇÃO

O estudo da relação entre concentração e lucratividade sempre teve


importante destaque na área da Economia Industrial. A visão adotada pela principal
corrente teórica é de que quanto maior for a concentração de mercado em
determinado setor industrial, mais fácil será a formação de conluio pelos
participantes. Uma vez que agentes econômicos atuando em conluio procuram agir
como monopolista, a lucratividade desses agentes tende a ser maior que em outros
setores, menos concentrados.

O presente trabalho tem como meta principal buscar evidências que


comprovem, ou não, a existência de uma correlação positiva entre concentração e
lucratividade. A análise do nexo entre esses elementos é de grande importância
para justificar intervenções governamentais em mercados concentrados. Isso porque
a maioria dos órgãos de defesa do consumidor e do mercado nos mais diversos
países tem como um de seus objetivos combater a alta concentração nos mercados,
por entenderem que é prejudicial à concorrência e ao consumidor. No Brasil a
autarquia responsável por zelar pelo justo funcionamento dos mercados é o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), o qual intervém com
frequência em mercados concentrados, estabelecendo limites de concentração e, se
necessário, impondo a venda de alguns estabelecimentos comerciais quando julga
importante para o reestabelecimento de níveis aceitáveis de concentração de
mercado. Desse modo, ao se investigar a natureza da relação entre concentração e
rendimento econômico no Brasil, pode-se apurar a efetividade desse tipo de
intervenção, verificando-se, assim, se são medidas que de fato inibem práticas
lesivas ao consumidor ou se seus efeitos são superestimados por esses órgãos.

Apesar da grande importância que esses elementos apresentam atualmente


no corpo de estudo da Economia Industrial, nem sempre assim foram considerados.
Nos modelos neoclássicos tradicionais, que antecederam o estabelecimento formal
da Economia Industrial como campo de estudo, elementos de estrutura do mercado
e desempenho econômico não eram considerados na análise teórica de mercados
oligopolizados, toda atenção era dada à conduta das firmas. A partir de estudos
10

realizados por E.S. Mason e J.S. Bain, a Economia Industrial começa a firmar-se
como uma disciplina de estudo própria. O escopo central de análise dessa nova
disciplina foi deslocado da teorização de modelos focados no comportamento das
firmas para estudos empíricos que relacionavam a estrutura do mercado, a conduta
das firmas e o desempenho econômico das mesmas, base do que ficou conhecido
por Paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho. Desenvolvimentos mais recentes
no campo da disciplina em questão retomam a importância da conduta da firma na
teorização matemática de modelos de oligopólio. Essa linha de pensamento recente,
conhecida como Nova Economia Industrial, ganhou força pela falta de evidências
empíricas que demonstrassem satisfatoriamente as relações propostas pelo
paradigma anterior.

Em um estudo sobre a indústria brasileira, como este, faz-se importante


analisar tanto o desempenho industrial quanto o econômico do país, de modo que se
possa inserir os resultados em um contexto específico. Assim, ao se observar os
acontecimentos da economia brasileira na primeira década do século XXI, torna-se
possível tirar conclusões sobre seus efeitos nos níveis de concentração dos setores
industriais e sobre a evolução da taxa de lucro das empresas nacionais. Na década
mencionada, a economia brasileira destacou-se por apresentar um crescimento
estável do PIB, controle inflacionário satisfatório e não sofrer grandes abalos durante
as crises mundiais ocorridas no período. É relevante, para a construção desse
trabalho, investigar os efeitos desse cenário econômico nas variáveis pesquisadas.

Os dados utilizados nessa pesquisa foram obtidos por meio da publicação


anual “Melhores e Maiores” feita pela revista Exame, para o período 2001-2010.
Essa base de dados reúne diversas informações sobre as 500 maiores empresas do
país, em termos de vendas, distribuídas em 21 setores industriais. Para o presente
estudo foram selecionados os 16 maiores dentre os 21 setores disponíveis, isso
porque os cinco restantes possuíam muito poucas empresas na lista de 500
maiores, de modo que poderiam viesar a análise. A partir de dados sobre vendas e
lucro dessas empresas, tornou-se possível a obtenção de índices de concentração e
de lucratividade para cada um dos 16 setores em análise. Com base nos índices
obtidos, foram realizados testes econométricos e estatísticos simples a fim de
examinar a natureza da relação mencionada.
11

Além dessa breve introdução, o trabalho contém mais quatro capítulos. No


próximo tópico serão discutidas as importantes escolas de pensamento que
antecederam e as que formam a base da Economia Industrial. Em seguida, será
realizada uma resumida análise do desempenho econômico e industrial brasileiro
durante o período em estudo. No quarto capítulo será explicada a metodologia da
parte empírica, além de serem demonstrados e detalhados os resultados obtidos.
Por fim, será dedicada uma seção para as considerações finais sobre o estudo
realizado.
12

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Ao se realizar um estudo sobre a indústria, faz-se necessário, inicialmente,


inseri-lo no contexto teórico da estrutura de mercado dominante nas indústrias. É
incontroverso, na literatura, que a estrutura de mercado dominante no campo
industrial é o oligopólio. Essa predominância de estruturas de mercado oligopolistas
ocorre tanto nas economias estrangeiras, conforme exposto, por exemplo, por P.S.
LABINI (1986), J.S. BAIN (1949), R.L. HALL & C.J. HITCH (1939) e R. CLARKE
(1985), como no contexto nacional, segundo R.L. TROSTER (2004).

Consoante explicitado acima, o referencial teórico desse trabalho irá focar-se


na estrutura de mercado prevalecente nas indústrias, o oligopólio. Assim, essa
seção do presente estudo irá dedicar-se à explanação dos modelos tradicionais de
oligopólio, do paradigma “Estrutura-Conduta-Desempenho”, base da corrente teórica
principal da Economia Industrial e desse trabalho, e das mais importantes escolas
alternativas de pensamento.

2.1 DEFINIÇÃO DE OLIGOPÓLIO

Antes de versar sobre as diferentes escolas que tratam sobre esse tema, é
primordial ter-se em mente o modo de funcionamento do oligopólio. A característica
principal de um mercado que se encontra sob a estrutura de oligopólio é a de
interdependência econômica dos participantes. Isso ocorre porque nessa estrutura
de mercado há apenas poucos produtores e, cada um deles, possui certo poder de
mercado. Essa propriedade o diferencia das outras estruturas de mercado clássicas
básicas; o monopólio, em que há apenas um produtor, o qual detém todo o poder de
mercado, e a concorrência perfeita, em que existem inúmeros produtores, mas
nenhum possui poder de mercado.
13

Pode-se, ainda, de acordo com definição dada por P.S. LABINI (1986, p.35),
tipificar o oligopólio em três grupos: diferenciado, puro ou misto. O primeiro grupo, o
de oligopólio diferenciado, está comumente presente na produção de produtos
manufaturados de consumo e nas atividades comerciais, os quais produzem,
geralmente, bens diferenciados em relação aos consumidores. Labini sugere que o
segundo caso, de oligopólio puro, encontra-se principalmente em casos de setores
industriais que produzem bens com alto grau de homogeneidade e apresentam,
normalmente, elevada concentração. Finalmente, ele sugere ainda outro grupo, o de
oligopólio misto, que seria uma situação intermediária, que apresenta as
características da concentração e da diferenciação.

2.2 MODELOS TRADICIONAIS DE OLIGOPÓLIO

Os primeiros modelos teóricos que procuraram examinar o funcionamento de


mercados oligopolizados baseavam-se no enfoque microeconômico marshalliano.
Classificados de modelos tradicionais de oligopólio, tais modelos foram embasados
nas contribuições de Alfred Marshall, o qual considerava que “uma empresa tinha
como único objetivo a maximização de lucro, tendo pleno conhecimento de suas
funções de custo e de demanda” (P.F. AZEVEDO, 2004, p. 204).

A fim de cumprir o objetivo de maximização de lucro, a firma lançaria mão do


princípio marginalista, o qual consiste em escolher o nível de produção que iguala
receita e custo marginais. Por supor que as firmas utilizam-se do princípio
marginalista com o intuito de maximizar os lucros, tais modelos podem ser
chamados, também, de modelos marginalistas de oligopólio. Uma característica
marcante em todos esses modelos é a escolha do critério de concorrência dentre
preço e quantidade, ou seja, uma dessas duas variáveis é sempre mantida fixa e a
competição se dá apenas pela manipulação apenas da outra variável. Dentre os
modelos inclusos nessa corrente teórica, cabe aqui destacar:
14

2.2.1 Modelo de Cournot

O modelo de Cournot, elaborado em 1838 pelo matemático e economista


francês Augustin Cournot, é um simplificado modelo de duopólio. Nesse modelo,
duas empresas produzem um bem homogêneo e, cada uma, busca o nível de
produção capaz de maximizar seu lucro, levando em consideração a reação
esperada da concorrente. Trata-se de processo de decisão simultâneo, onde
nenhuma das empresas apresenta-se como líder do mercado. De acordo com
Pindyck e Rubinfeld (2007, p. 380, grifo do autor):

Cada empresa decidirá quanto deverá produzir, e as duas empresas


deverão tomar suas decisões simultaneamente. Ao tomar sua
decisão de produção, cada uma estará levando em consideração sua
concorrente. Ela sabe que sua concorrente também estará tomando
decisão sobre a quantidade que produzirá, e o preço de mercado
dependerá, pois, da quantidade total produzida por ambas as
empresas.

Nesse modelo, ao tomar a decisão de quanto produzir, uma empresa leva em


consideração a produção que ela espera que a outra efetue, e assume que essa
produção será fixa. A partir da dinâmica desse modelo, extrai-se o conceito de curva
de reação, a qual pode ser entendida como a curva que indica o nível de produto
que maximiza o lucro de uma empresa, dada a produção que ela espera que sua
concorrente execute.

O equilíbrio no modelo de Cournot se daria quando as empresas estimassem


corretamente os níveis de produção de suas concorrentes. Essa situação específica
é encontrada no ponto de intersecção entre as duas curvas de reação. Uma vez
atingida essa condição, nenhuma das empresas teria qualquer incentivo para alterar
a quantidade produzida e o nível de produto seria estável ao longo do tempo. Apesar
de existir a possibilidade de o equilíbrio ser atingido, o modelo não explica a
dinâmica necessária para alcançá-lo no caso em que as empresas estimam
incorretamente a produção de suas concorrentes.
15

2.2.2 Modelo de Bertrand

O modelo de Bertrand, também, apresenta um contexto de decisões


simultâneas entre duas empresas que produzem um bem homogêneo, porém,
neste, as firmas competem através de preços. Esse modelo foi desenvolvido em
1883 pelo também matemático e economista francês Joseph Bertrand.

Ao partir-se de uma construção similar ao modelo de Cournot, uma empresa


deve levar em consideração a atitude de sua concorrente ao determinar seu preço.
Assim, durante o processo decisório de determinação de preço, uma empresa deve
prever o preço que sua concorrente irá fixar. Ao substituir a variável de competição,
porém, o resultado de equilíbrio do modelo de Bertrand diverge bastante daquele
encontrado no modelo de Cournot.

Uma vez que partimos da premissa de que os produtos são homogêneos e,


como consequência do enfoque marshalliano, os agentes possuem informação
completa, apenas o produto de menor preço será vendido no mercado. Como não
há qualquer tipo de acordo, ao tomar a decisão quanto ao seu preço, uma empresa
deverá, sempre, escolher um preço abaixo ao de sua concorrente, esta, porém, irá
traçar a mesma estratégia. Assim, ambas as firmas terão incentivos para buscar um
preço sempre menor que o da outra, pois aquele que ofertar o produto a um preço
menor será capaz de deter a totalidade da demanda do mercado.

A consequência lógica desse tipo de interação é a formação de uma intensa


competição por preços. Assim, se as empresas apresentarem as mesmas curvas de
custo, o único equilíbrio possível será aquele da concorrência perfeita, ou seja, o
preço fixado será igual ao custo marginal e as empresas não apresentarão lucro
econômico (extraordinário). Se, por outro lado, uma empresa conseguir produzir a
custos menores que sua concorrente, ela irá fixar o preço em um nível logo abaixo
ao custo marginal da rival. Nessa circunstância, a empresa de menores custos irá
excluir a outra do mercado e irá apresentar lucro econômico no equilíbrio.

Apesar de demonstrar que o equilíbrio de um oligopólio depende da estratégia


de competição adotada, esse modelo é considerado inadequado como
16

representação da realidade. Segundo J.M. PERLOFF (2008, p. 478) ele falha em


retratar a realidade de, pelo menos, duas maneiras:

a) primeiramente, em um mercado com poucas empresas não faria sentido


competir tão vigorosamente a ponto de não auferirem qualquer lucro
econômico. Como, geralmente, oligopólios cobram preços maiores que
mercados competitivos, o modelo de Cournot é mais adequado;
b) além disso, o preço de equilíbrio, o qual depende apenas do custo, é
insensitivo a condições de demanda e ao número de firmas. Novamente, o
modelo de Cournot se faz mais plausível, uma vez que os preços de mercado
tendem a flutuar de acordo com o número de firmas e as condições de
demanda.

Pode-se, então, concluir que esse modelo apresenta mais valor no campo
teórico do que significância para análises de mercados reais.

2.2.3 Modelo de Stackelberg

Esse modelo, desenvolvido por Heinrich Freiherr von Stackelberg em 1934,


assemelha-se ao modelo de Cournot por assumir que as empresas competem
através da quantidade a ser produzida. A grande diferença entre os modelos está na
divisão dos mercados, assim, enquanto que no modelo de Cournot não existe
hierarquia entre as empresas, no modelo de Stackelberg o mercado é
marcadamente assimétrico, sendo uma empresa dominante no mercado e a outra
seguidora.

O modelo de Stackelberg diferencia-se dos demais por ser um modelo


sequencial, ou seja, as firmas não tomam suas decisões simultaneamente, mas sim
em dois tempos distintos. Esse modelo é geralmente utilizado na descrição de
mercados em que existe uma empresa dominante, ou líder. A não simultaneidade do
processo decisório explica-se, justamente, pela existência de uma empresa
dominante. Isso porque, como esta detém mais poder de mercado, a empresa
17

seguidora irá decidir em que nível produzirá somente depois que a estratégia da
dominante já esteja definida.

Como, no contexto teórico do modelo, a informação é completa, a empresa


líder tem conhecimento que suas decisões irão influenciar a empresa seguidora.
Desse modo, ao resolver seu problema de maximização de lucro, a empresa
dominante irá levar em conta a influência que têm sobre a seguidora, e, por
conseguinte, o comportamento que ela espera que a seguidora exerça.

O problema de maximização de lucros defrontado pela empresa seguidora é


bem mais simples. Segundo H.R. VARIAN (2006, p.518) “o lucro da seguidora
depende da escolha de produção da líder, mas do ponto de vista da seguidora, a
produção da líder é predeterminada – a líder já concluiu sua produção, que a
seguidora encara como uma constante”. Ou melhor, para qualquer escolha possível
da empresa líder, a empresa seguidora irá fixar a produção que maximize seu lucro.

2.2.4 Conluio

Os modelos anteriores tinham, como atributo comum, a independência das


decisões tomadas pelas empresas. Isto é, as empresas participantes de
determinado mercado não agiam cooperativamente, mas sim buscavam maximizar
seus lucros individualmente, levando em conta o comportamento esperado das
outras. O conluio, entretanto, caracteriza-se pela cooperação entre os integrantes do
mercado.

Quando as empresas de uma indústria passam a tomar decisões de produção


e fixação de preços conjuntamente, elas passam a ser chamadas de cartel. De
acordo com R.L. TROSTER (2004, p. 200) “o cartel perfeito nada mais é do que
oligopolistas que, reconhecendo a interdependência que têm entre si, procuram se
unir e maximizar o lucro do cartel”. Basicamente, o cartel funciona de forma similar
ao monopólio, isso porque, ao tomarem as decisões em conjunto, as empresas
agem como se existisse apenas um produtor no mercado. As quotas do mercado
18

que cada empresa irá deter irão depender da capacidade de negociação de seus
membros.

A formação e a continuidade de um conluio, contudo, é dificultada por duas


razões principais. A primeira das dificuldades encontradas para a manutenção do
conluio é o forte incentivo que as empresas participantes têm para romper o acordo.
Esse incentivo para burlar o conluio advém do fato de que, no nível de preço e
produção que maximizam o lucro do cartel, qualquer uma das empresas integrantes
se beneficiaria ao elevar a sua produção em detrimento das outras.

Outro ponto que dificulta o exercício do cartel é o fato dele ser indesejável
socialmente. Isso já foi exposto por Adam Smith em seu clássico livro “A Riqueza
das Nações” (1776), quando ele afirmou que “pessoas do mesmo negócio raramente
se encontram, mesmo para alegria e diversão, mas a conversa termina em
conspiração contra o público ou em alguma maquinação para aumentar preços”.
Essa rejeição econômico-social advém de o cartel atuar como um monopolista, o
qual não é eficiente economicamente, posto que existe uma perda de peso morto.
Como a formação de cartéis não é bem quista do ponto de vista social, a formação
de conluios é uma prática proibida na grande maioria dos países, sendo, assim, alvo
de investigações criminais, dificultando o sucesso dos cartéis. Assim, de acordo com
J.E. STIGLITZ & C.E. WALSH (2003, p. 210, grifo do autor):

os membros do cartel não podem reunir-se para discutir a fixação de


preços ou restringir a produção. Em geral eles têm de confiar no
conluio tácito – cada um restringe o produto supondo que os demais
o fazem também. Eles não podem assinar um contrato com valor
legal simplesmente porque o conluio para fixar preços é ilegal [...].

Conclui-se, seguindo essa linha de raciocínio, que a ilegalidade inibe


fortemente o sucesso dos cartéis.
19

2.3 PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO

Antes de se realizar uma análise mais fundamentada do paradigma Estrutura-


Conduta-Desempenho (ECD), faz-se necessário entender a insuficiência do
arcabouço teórico antecedente. Para tal, a seção subsequente será destinada à
tentativa de explicar as falhas e as omissões apresentadas pelos modelos
tradicionais (marginalistas) de oligopólio. A partir das críticas aos modelos
anteriores, será possível melhor compreender as novidades teóricas trazidas pelo
paradigma ECD.

A análise desse paradigma será, então, aprofundada. Sendo explanada a


teoria que embasa essa nova escola de pensamento e, também, os principais
modelos advindos dela.

2.3.1 Críticas à Abordagem Marginalista

Uma das mais primeiras críticas à abordagem marginalista é atribuída ao


economista italiano Piero Sraffa. Seu artigo The Laws of Returns under Competitive
Conditions (1926) é tido como um marco para o surgimento de outros trabalhos que
apontassem falhas nos modelos marshallianos. De acordo com P.S. Labini (1986,
p.33) a novidade e a importância da crítica de P. Sraffa consistia na refeição da ideia
de que “as imperfeições de mercado se constituem geralmente em atritos que
simplesmente retardam ou modificam ligeiramente a análise os efeitos das forças
ativas da concorrência, [...] que acabam prevalecendo”. Ele defendia que esses
obstáculos não poderiam ser considerados meros atritos, mas forças ativas por si
mesmas, que produzem efeitos permanentes e cumulativos, dotados de
estabilidade, de modo que não podem ser analisados sob o enfoque de concorrência
perfeita.
20

Influenciados pela crítica de P. Sraffa, os trabalhos concomitantes e


independentes de Joan Robinson, Economics of Imperfect Competition (1933) e
Edward Chamberlin, The Theory of Monopolistic Competition (1933), procuraram
incorporar maior realismo aos modelos neoclássicos. J. Robinson e E. Chamberlin
formularam suas teorias “da concorrência imperfeita ao perceber o irrealismo da
situação de concorrência perfeita, onde nenhum produtor teria individualmente
condições de afetar os preços” (P.B. TIGRE, 1998). Eles argumentaram que cada
firma detinha certo poder de monopólio sobre seus produtos, apesar da existência
de substitutos próximos.

De acordo com A. Koutsoyiannis (1979, p. 256), a partir de 1939 verifica-se


uma crescente insatisfação com a teoria da firma tradicional neoclássica. Essa data
marca a publicação na Inglaterra, por R.L. Hall & C.I. Hitch, de evidências empíricas
que atestavam a fraqueza das suposições de comportamento marginalista. Esse
estudo estimulou a elaboração de vários outros, tanto na Inglaterra como nos
Estados Unidos, que tratavam da insuficiência do escopo teórico tradicional
marginalista. Nas palavras de R.L. Hall & C.I. Hitch (1939, p. 112 apud P.S. LABINI,
1986, p. 45),

ao que parece, muitos e talvez a maioria [dos empresários por nós


entrevistados] não fazem nenhum esforço para estimar a elasticidade
da demanda e o custo marginal (que se mantém bem distinto do
custo médio variável) e, entre os que fazem esse esforço, a maior
parte considera os dados coletados insuficientes ou de nenhum
relevo para a formação dos preços, exceto talvez em condições
excepcionais.

Pode-se considerar que o critério marginalista apresenta um rigor formal


inatacável e pode haver algum valor para o caso particular de monopólio. Para P.S.
Labini (1986, p. 100), porém, a objeção feita “é que esse critério se apóia em
formulações muito simples e, em geral, não realistas”, não carregando nenhum valor
quando se considera o oligopólio. Tanto P.F. Azevedo (2004) quanto A.
Koutsoyiannis (1979), referindo-se aos trabalhos de Hall & Hicth e posteriores,
apontam questionamentos quanto à validade das suposições básicas da teoria
neoclássica, de modo que:
21

a) as firmas não agem com o único objetivo de maximizar o lucro e, portanto,


não fazem uso do princípio marginalista de que o custo marginal iguala-se à
receita marginal;
b) os agentes não possuem informação completa, de modo que eles podem não
possuir pleno conhecimento das funções de custo e demanda, e não dispõe
de racionalidade ilimitada;
c) a teoria tradicional é basicamente estática, nela as decisões são tratadas
como independentes no tempo, sendo esta uma das maiores deficiências dos
modelos tradicionais;
d) não fazem considerações suficientes sobre a entrada de novas firmas no
mercado, assim a teoria tradicional não trata sobre as entrantes potenciais e
seus efeitos sobre o processo decisório.

Esse grande distanciamento da realidade, característico dos modelos


tradicionais, foi o impulsor fundamental para o surgimento de novas teorias. A
origem da base teórica do paradigma ECD pode ser traçado desde E.S. Mason, o
qual fez duras críticas às teorias que fogem da realidade. Para E.S. Mason (1939,
p.62) citado por S. Martin (1993a, p. 4, tradução nossa):

Alguns teóricos referem-se aos seus trabalhos como “fabricantes de


ferramentas” ao invés de “utilizadores de ferramentas”. Um fabricante
de ferramenta, porém, que constrói ferramentas que nenhum usuário
pode utilizar está fazendo uma contribuição de importância limitada.
Algum conhecimento da utilização de ferramentas é provavelmente
indispensável para sua fabricação eficaz.

Além dos pontos evidenciados até aqui, vale também destacar a simplicidade
do objeto de competição nesses modelos. Como mencionado anteriormente, os
modelos referidos utilizavam apenas uma ferramenta de competição, ou o preço ou
a quantidade. Assim, uma dessas variáveis era sempre tomada como fixa, e a
estratégia de competição era formulada levando apenas a outra em consideração.
22

2.3.2 Base Teórica do Paradigma ECD

Segundo Clarke (1985) a origem do paradigma deveu-se em grande parte aos


trabalhos do economista americano E.S. Mason nas décadas de 30 e 40 em Harvard
e aos desenvolvimentos posteriores por parte de seu estudante Joe S. Bain nas
décadas 50 e 60. Fortemente influenciados pelo trabalho de E. Chamberlin, os
trabalhos acima deram origem à literatura da economia industrial, que, de acordo
com P.F. Azevedo (2004, p. 203) “surgiu como reação à incapacidade de a
Microeconomia tradicional dar respostas adequadas a problemas reais das firmas e
dos mercados”.

O paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho apresenta como característica


a abordagem marcadamente empírica. Enquanto que a teoria tradicional neoclássica
primava pelo rigor formal, mas assumia pressupostos pouco realistas, esse novo
paradigma relaxava a modelagem teórica formal e passava a dar mais importância a
trabalhos empíricos. Essa escola de pensamento tinha uma preocupação maior em
buscar hipóteses mais realistas a partir de evidências empíricas.

Essa abordagem postula, em sua essência, relações casuais entre a estrutura


de um mercado, a conduta das firmas nesse mercado e o desempenho econômico
destas (P.R. FERGUSON, 1988, p. 7). De forma inversa, o desempenho econômico
irá depender da conduta apresentada pela firma, ou seja, a firma tem de definir a
estratégia que julgar a melhor e essa estratégia irá definir a performance da firma.
As opções de estratégias que podem ser definidas pela empresa irão depender, por
sua vez, da estrutura de mercado em que ela se encontra.

A forma mais simples de descrever a relação entre estrutura, conduta e


desempenho pode ser verificada na Figura 1 abaixo. Nela, supõe-se uma simples
relação linear, como descrita no parágrafo anterior.

Estrutura Conduta Desempenho

Figura 1 – Versão mais simples da relação entre estrutura, conduta e desempenho.


Fonte: P. R. Ferguson (1988, p. 10, tradução nossa).
23

De acordo com S. Martin (1993b, p.3) são elementos de maior importância na


caracterização de:

a) estrutura: número e distribuição de tamanho dos vendedores, e dos


compradores, diferenciação de produtos e condições de entrada;
b) conduta: possibilidade de conluio, comportamento estratégico e gastos em
publicidade/pesquisa e desenvolvimento;
c) desempenho: lucratividade, eficiência e progressividade (taxa de evolução do
progresso técnico).

Ao contrário do demostrado pela Figura 1, as interações entre estrutura,


conduta e desempenho são muito mais complexas na realidade dos mercados. A
Figura 2 representa como essas relações podem ser muito mais profundas do que
uma simples relação linear.

Figura 2 – Interação complexa entre estrutura, conduta e desempenho.


Fonte: S. Martin (1993, p. 7, tradução nossa).

Nesse caso, tanto a estrutura como a conduta são determinadas, em parte,


por condições de demanda e tecnologia subjacentes. Como na relação linear, a
estrutura afeta a conduta, mas a conduta, por meio de comportamento estratégico,
também afeta a estrutura. Estrutura e conduta interagem para determinar o
desempenho. Esforços de venda, um elemento de conduta, também retroagem e
afetam a demanda. O desempenho, por sua vez, retroage na tecnologia e na
estrutura. Progressividade molda a tecnologia disponível e a lucratividade tem um
efeito dinâmico na estrutura de mercado (S. MARTIN, 1993b, p. 7).
24

2.3.2.1 Contribuições de J. S. Bain

O paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho teve como base para seu


desenvolvimento as pesquisas realizadas por J. S. Bain. Tendo sido aluno de E. S.
Mason, ele buscou explicar “um encadeamento casual da estrutura de mercado para
a conduta das firmas e desta para o desempenho econômico” (P. F. AZEVEDO,
2004, p. 2015). Grande parte da modelagem teórica e da construção de pesquisas
empíricas enquadradas nessa abordagem teve fundamentação direta nos trabalhos
desse autor. Entre as suas publicações mais importantes, destacam-se “Oligopoly
and Entry-Prevention” (1949), no qual ele formulou a primeira versão do modelo de
preço limite, “Relation of Profit Rate to Industry Concentration: American
Manufacturing, 1936-1940” (1951), em que procura evidências empíricas para a
relação entre concentração de mercado (estrutura) e lucratividade (desempenho), e
“Barriers to New Competition” (1956), obra seminal que trata da análise das barreiras
de entrada e maior aprofundamento no modelo de preço limite (A.
KOUTSOYIANNIS, 1979, p. 284).

Em suas pesquisas empíricas, Bain constatou que as firmas não mantinham


seus preços nos níveis que maximizariam seus lucros. Ele conclui, então, que a
abordagem tradicional omitia de sua análise um fator de extrema importância, a
concorrência potencial, concentrando-se apenas na competição real. Na visão de D.
Kupfer (2002, p. 127) a grande inovação introduzida por Bain, e seus seguidores, foi
a eleição de barreiras à entrada como principal elemento da determinação do preço,
deslocando o eixo da teoria de formação de preços da concorrência real para a
concorrência potencial e, assim, do curto para o longo prazo.

Para Bain, as barreiras à entrada são o elemento que possibilita as firmas


cobrarem preços acima do custo unitário mínimo de longo prazo. Segundo sua
definição própria em J. S. Bain (1968, p. 252, tradução nossa), citado por R. Clarke
(1985, p. 73), as barreiras à entrada estão relacionadas:

à medida em que, no longo prazo, as firmas estabelecidas no mercado


podem elevar seus preços de venda acima do custo médio mínimo de
produção e distribuição (os custos associados com operação e escala
ótima) sem que induzam a entrada de potenciais entrantes.
25

Bain segue, então, para definir quatro fontes básicas de barreiras à entrada:

a) vantagens absolutas de custos: “está relacionada a habilidade das firmas


estabelecidas produzirem qualquer nível de produto a custos unitário menores
que potenciais entrantes” (R. CLARKE, 1985, p. 74, tradução nossa). Isso
ocorre porque as firmas estabelecidas possuem controle de técnicas de
produção superiores e acesso a melhores recursos, enquanto que as
entrantes, por vezes, tem que pagar mais por matérias primas, devido ao
menor volume e à falta de contatos, além de não apresentarem maior
dificuldade na obtenção de capital a uma taxa de juros competitiva¹;
b) existência de economias de escala: surgem quando ocorre uma queda do
custo médio de longo prazo conforme a produção aumenta. Podem decorrer
da redução dos preços dos fatores de produção, devido ao aumento do poder
de barganha ou do menor risco decorrente da firma. Podem, ainda, advir da
diminuição da quantidade de recursos necessários para a produção da
mesma quantidade de produto, que é resultante de economias de trabalho,
físicas, de reservas financeiras e estoques, de pesquisa e desenvolvimento
de novos produtos ou de propaganda e marketing (P. F. AZEVEDO,2004, p.
212).
c) vantagens de diferenciação de produtos: para D. Kupfer (2002, p.122), “se
há lealdade dos consumidores para com os produtos vendidos pelas
empresas existentes, as empresas entrantes têm forçosamente que vender a
preços mais baixos [...] ou incorrer em gastos superiores de publicidade”. O
efeito dessa barreira depende, primeiramente, na dimensão de publicidade e
outros esforços de venda necessários para estabelecer uma freguesia, em
segundo lugar, da durabilidade e da complexidade do produto, quanto maior
forem essas características, mais os consumidores fia-se pela reputação.
Além disso, o meio de distribuição também irá influenciar na força dessa
barreira, pois as firmas estabelecidas podem manter acordos de exclusividade
com revendedores. Por último, influencia ainda a importância do “consumo
conspícuo”, que intensifica a importância de prestígio dos produtos (A.
KOUTSOYANNIS, 1979, p. 290).

____________________
¹ Material de apoio às aulas de Economia Industrial, ministradas pelo professor Zionam Rolim, 2º
semestre de 2012.
26

d) vantagens de requerimentos iniciais elevados: sucede-se quando o


investimento inicial para a instituição de uma nova empresa exige a
mobilização de elevada soma de capital. Esse tipo de barreira à entrada
reflete a dificuldade encontrada por potenciais entrantes para financiar os
grandes montantes de capital requeridos inicialmente (D. KUPFER, 2002,
p.124).

A definição e especificação de barreiras à entrada, por Bain, são o principal


alicerce para a formulação do modelo de preço limite. Esse modelo busca explicar
porque as firmas em mercados oligopolizados não costumam cobrar o preço que
maximizaria seus lucros. De acordo com a formulação de Bain, as firmas
preocupam-se em cobrar um preço tal que não incentive a entrada de novas firmas e
mantenha, ainda, certo nível de lucro. Esse preço foi chamado de preço limite e deu
origem ao conceito de condição de entrada, a margem que as firmas estabelecidas
podem subir seus preços acima do preço competitivo sem atrair a entrada de novas
firmas no longo prazo. Algebricamente, pode-se demonstrar esse conceito na forma:


=

Onde, = condição de entrada;

= preço limite;

= preço competitivo no longo prazo.

Rearranjando os termos da equação acima, temos um resultado mais


significativo:

= (1 + )

Assim, pode-se inferir que a condição de entrada, , é, na verdade, um


prêmio obtido pela firma estabelecida por cobrar um preço limite, , maior que o
preço de competição perfeita, , sem atrair novas firmas (A. KATSOYANNIS, 1979,
p. 289).

O modelo básico de preço limite foi aperfeiçoado e mais profundamente


desenvolvido por diversos autores subsequentes. Dentre esses trabalhos, vale aqui
27

ressaltar as obras realizadas por P. S. Labini², “Oligopoly Theory and Technical


Progress” (1957), e por F. Modigliani³, “New Developments on the Oligopoly Front”
(1958), que ajudaram a firmar o modelo de preço limite como uma importante teoria
de estudo sobre a determinação de preços em mercados oligopolizados. Os
aperfeiçoamentos, porém, não cessaram com essas contribuições, diversos outros
modelos foram elaborados, sempre buscando alcançar maior dinamismo e realismo.

2.4 ESCOLAS ALTERNATIVAS DE PENSAMENTO

2.4.1 A Escola de Chicago

“A visão central da escola de Chicago é de que o modelo de mercados


competitivos de equilíbrio de longo-prazo é suficiente para explicar fenômenos do
mundo real” (S. MARTIN, 1993a, p.9, tradução nossa). Essa doutrina foi
ironicamente chamada de “o reino hipotético da escola de economia de Chicago” por
Stigler (1974) devido a sua forte crença no poder de explicação de um modelo não
muito plausível com a realidade dos mercados.

R. Clarke (1985, p.5) aponta três principais diferenças entre as ideias da


escola de Chicago e do paradigma ECD. O primeiro ponto de divergência é sobre a
metodologia a ser aplicada nos estudos. Enquanto que os trabalhos elaborados sob
a abordagem Estrutura-Conduta-Desempenho enfatizavam a importância de estudos
empíricos e relaxavam a formalidade da análise teórica, os escritores da escola de
Chicago confiavam muito mais pesadamente na análise da teoria econômica
tradicional, muitas vezes competitiva. A segunda questão, relacionada com a
__________________________

² Origem do “Postulado de Sylos”, o qual supõe que as firmas entrantes esperam que as firmas
estabelecidas manterão a mesma produção se aquelas entrarem no mercado.
³ Responsável, através do exame dos trabalhos de Bain e Sylos-Labini, pela formalização de um
modelo microeconômico geral de determinação de preços limites.
28

primeira, é o fato de esses escritores utilizarem a teoria de formação de preço


tradicional para analisar e criticar várias hipóteses sugeridas pelo novo paradigma.
Por último, e também relacionado, os teóricos dessa escola mostraram-se, com
frequência, sépticos em relação a argumentos favoráveis à intervenção
governamental em indústrias privadas, argumentando que elementos de estrutura e
conduta não ofereciam nenhuma causa real para tais intervenções.

Essa escola defendia a posição de que a maior fonte de monopólio ou


comportamento anticompetitivo é a intervenção governamental no mercado. Para
esses teóricos, “a melhor coisa que um governo pode fazer para provocar um
desempenho de mercado desejável é se afastar e permitir que as forças de mercado
trabalhem” (S. MARTIN, 1993b, p. 9, tradução nossa). Como ser verificado em S.
Martin (1993a, p. 10, tradução nossa):

Se aparecem evidências que parecem conflitar com o pressuposto


de equilíbrio, os dados são examinados, estudos são refeitos, até
que o conflito desapareça. Mas a possibilidade de que o modelo de
equilíbrio de longo prazo do mercado competitivo possa ser
inadequado para explicar os fenômenos não é admissível.

Essa escola pode ser considerada bastante hostil a explicações que envolvam poder
de mercado.

2.4.2 A Escola Austríaca

Essa escola posiciona-se como uma crítica à abordagem tradicional, tendo


Karl Menger como membro fundador. Segundo R. Clarke (1985, p. 6), os
economistas dessa escola veem a competição como um processo que não pode ser
analisado por meio de modelos econômicos tradicionais estáticos. Eles argumentam
que, ao invés de ser um indicador de poder de mercado, o lucro é um elemento
integral do processo competitivo, guiando a alocação e realocação de recursos por
parte dos empresários. Esse processo dinâmico de movimentação visaria à
satisfação dos clientes e, sendo assim, benigno para a sociedade, de modo que a
intervenção governamental é fortemente criticada por essa escola.
29

De acordo com P. R. Ferguson(1988, p. 19), a abordagem austríaca difere da


corrente tradicional neoclássica por rejeitar três pontos principais:

a) a suposição de que os agentes econômicos possuem perfeito conhecimento


de todos os aspectos relevantes em suas decisões, assumindo que o
conhecimento é apenas parcial;
b) a preocupação neoclássica com o estado de equilíbrio e suas propriedades,
pois é mais provável que a economia esteja em contínuo fluxo, sendo a
análise do equilíbrio um esforço desnecessário;
c) a visão neoclássica de competição, para essa corrente teórica o objeto de
análise é o processo competitivo, ela interessa-se no modo que a economia
evolui através do tempo e como decisões são tomadas em condições de
incerteza e informação limitada.

Para R. Clarke (1985, p.6), porém, a análise dessa escola carece de


conceitos e teorias mais robustas, oferecendo pouco mais que suporte político para
uma economia de livre mercado. Desse modo ela sempre se desenvolveu à margem
do escopo central da Economia Industrial.

2.4.3 Mercados Contestáveis

A teoria dos mercados contestáveis foi introduzida por W. Baumol, J.C.


Panzar e R.D. Willig, em Contestable markets and the teory of industry structure
(1982). Ela buscou elaborar uma metodologia unificada entre a organização
industrial e a microeconomia tradicional, de forma que se afastou do empirismo
buscado pelo paradigma ECD. Os autores propunham que essa teoria pudesse ser
aplicada a todos os tipos de estruturas de mercados, diferentemente de outros
modelos de análise.

O enfoque principal dessa teoria é na concorrência potencial,


desconsiderando em grande parte os efeitos da concorrência efetiva. Para isso foi
30

desenvolvida a ideia de contestabilidade dos mercados, de forma que um mercado


perfeitamente contestável seria caracterizado por:

a) não existirem nem barreiras à entrada, como vantagem absoluta de custos ou


diferenciação de produto, nem barreiras à saída, de forma que as firmas
possam abandonar o mercado sem incorrer em custos;
b) a firma entrante tem a possibilidade de abandonar o mercado antes de uma
retaliação de preços por parte da firma estabelecida.

Num mercado perfeitamente contestável, a pressão exercida pela


concorrência potencial levará a uma configuração sustentável da estrutura de
mercado. Esse resultado é explicado pela dinâmica do modelo, se as firmas
estabelecidas mantiverem o preço acima do custo médio, as potenciais firmas
entrantes serão incentivadas a entrar no mercado. Como não existem barreiras à
entrada, essas poderiam entrar a qualquer momento e auferir lucros, e poderiam
deixar o mercado a qualquer tempo, quando percebessem qualquer tentativa de
retaliação pelas empresas estabelecidas. Assim, o único resultado sustentável em
tal modelo seria quando as empresas estabelecidas fixassem o preço no mesmo
nível do custo médio de longo prazo, de forma a evitar a concorrência potencial.

Os pressupostos e a conclusão desse modelo procuram deslocar o centro de


análise da organização industrial da concentração para a contestabilidade dos
mercados. De acordo com P.F. Azevedo (2004, p. 214), a teoria dos mercados
contestáveis identifica três características de mercado para que se observe um
resultado sustentável (barreiras à entrada, barreiras à saída e o tempo de resposta
das firmas estabelecidas), de forma que a concentração de mercado não é relevante
na análise da eficiência de determinado mercado. Assim, um oligopólio, ou até
mesmo um monopólio, pode apresentar-se como uma estrutura de mercado
eficiente. A análise da concorrência, segundo essa teoria, deve, então, centrar-se na
observação da contestabilidade dos mercados, não na verificação da concentração.

Outra grande contribuição dessa teoria foi a grande importância dedicada a


barreiras à saída. Os trabalhos realizados sob o âmbito do paradigma ECD sempre
deram grande destaque às barreiras à entrada, porém pouco, ou nada, abordavam o
tema das barreiras à saída. A teoria dos mercados contestáveis traz essa questão
para o centro da análise, pois elas seriam, segundo os teóricos desse modelo, a
31

principal razão para a não-contestabilidade dos mercados. Desse modo, a existência


de custos irrecuperáveis (sunk costs) impede que uma firma possa abandonar um
mercado sem auferir perdas. Logo, esses custos irrecuperáveis desestimulariam o
ingresso de potenciais entrantes que poderiam aproveitar a oportunidade de obter
lucros temporários, quebrando, assim, a contestabilidade do mercado.

2.4.4 Nova Economia Industrial

Essa escola de pensamento não é propriamente uma alternativa ao


paradigma ECD, mas sim uma evolução na formalização teórica. A Nova Economia
Industrial (NEI) decorreu do desenvolvimento da teoria dos jogos aplicada aos
mercados em oligopólio. A formulação matemática passa agora a ter um lugar de
destaque na elaboração de trabalhos na área. Enquanto que no modelo ECD a
conduta possui um papel negligenciável, com o foco maior nas relações entre
estrutura e desempenho, a NEI atribui maior destaque às estratégias e interações
empresariais, ou seja, à conduta das firmas.

Conforme expresso por P. R. Ferguson (1988, p. 12, tradução nossa), a NEI


busca integrar a economia industrial com a teoria neoclássica. “Ao fazer isso, eles se
afastaram da ênfase na estrutura, argumentando que a conduta é o elemento chave,
interagindo tanto com a estrutura como com o desempenho”.

O grande desenvolvimento da teoria do jogo a partir da década de 1970 fez


com que as teorias do oligopólio tradicionais voltassem a ter importância no campo
de estudo da economia industrial. Modelos como o de Cournot, Bertrand,
Stackelberg, e outros, são resgatados e aperfeiçoados a partir de suposições mais
complexas (L. HASENCLEVER; D. KUPFER, 2002). De acordo com S. Martin (1993,
p. 8) a teoria do oligopólio, através do grande avanço da aplicação da teoria dos
jogos nos modelos de oligopólio, passou a poder responder questionamentos que
não conseguiam em 1940.
32

2.4.5 Outras Abordagens Importantes

Existem ainda outras teorias importantes de explicação do comportamento da


economia industrial. Essas correntes alternativas caracterizam-se pela natureza não
determinística e receberam contribuições tanto de economistas “neo-
schumpeterianos” (evolucionistas), como de economistas institucionalistas (L.
HASENCLEVER; D. KUPFER, 2002). Dentre essas teorias, destacamos
rapidamente as seguintes:

a) Teoria da Firma Gerencial: a característica básica dessa teoria é a


separação entre a propriedade da empresa e a gerência. Os donos da
empresa são os acionistas, que têm o poder de apontar os diretores, estes,
por sua vez, apontam a gerência. Assim, o aspecto central dessa teoria é que
os gerentes maximizam suas próprias utilidades, sujeitos à um limite mínimo
de lucro, capaz de satisfazer os acionistas e garantir a segurança do trabalho
dos diretores (A. KOUTSOYIANNIS, 1979, p. 324). Essa teoria recebeu
contribuições importantes de W. J Baumol (1959), R. Marris (1963,1964) e O,
Williamson (1963);

b) Teoria da Firma Comportamental: inspirada principalmente nos trabalhos de


Simon (1952) e Cyert & March (1963), essa teoria “percebe as firmas como
uma “coalizão” (de gerentes, trabalhadores, acionistas, consumidores) cujos
membros possuem objetivos conflitantes que precisam ser conciliados para
que a firma sobreviva” (A. KOUTSOYIANNIS, 1979, p. 324). Essa linha de
pesquisa focou o processo de tomada de decisões em grandes firmas, em um
contexto de mercados oligopolizados e forte incerteza, como o centro da
análise.

c) Teoria Evolucionista: tem como importante referência o trabalho de R. R.


Nelson & S. G. Winter (1982) e, mais distante, as ideias de Schumpeter.
Estuda as decisões tomadas em um ambiente marcadamente incerto, “em
que não é possível prever acontecimentos relevantes ou mesmo as
consequências das ações de cada um” (P. F. AZEVEDO, 2004, p. 223).
33

3 DESEMPENHO ECONÔMICO BRASILEIRO RECENTE

A partir da redemocratização e, especialmente, da estabilização econômica


ocorrida na década de 1990, o Brasil tem consolidado sua imagem internacional de
forte economia emergente. Na última década a economia brasileira destacou-se por
apresentar um crescimento estável do PIB, controle inflacionário satisfatório e não
sofrer grandes abalos durante as crises econômicas ocorridas no período. Tudo isso
contrasta com o histórico brasileiro de incerteza econômica, em que a evolução do
PIB se dava em ciclos drásticos de forte crescimento ou recessão, de descontrole
inflacionário, até a implantação do Plano Real, e de grande dependência externa,
que tornava o país bastante vulnerável a oscilações internacionais.

A década de 90 foi definida pela tentativa de se controlar o “monstro” da


inflação e de assegurar uma estabilização econômica ao país. Depois de cinco
planos frustrados de estabilização, o sucesso inicial do Plano Real leva Fernando
Henrique Cardoso, FHC, ao poder para um duplo mandato, 1995-2002. Esse
governo teve por objetivo central o combate à inflação e a perseguição da
estabilização econômica. Tal meta do Governo FHC foi perseguida através de
políticas de austeridade fiscal, o que, apesar de ter logrado êxito em seus objetivos
centrais, motivou o baixo índice de crescimento do PIB durante a totalidade de seu
governo, questão principal para explicar a grande insatisfação da população ao final
de seu mandato.

O início da primeira década do século XXI caracterizou-se pela transição do


poder de um presidente de bases ideológicas de direita, FHC, para um de esquerda,
Luiz Inácio Lula da Silva. O temor pela maneira que se daria essa transição,
decorrente de diversas declarações feitas pelos partidários de Lula, ou por ele
mesmo, ao longo de suas várias campanhas eleitorais, gerou grande desconfiança
quanto ao futuro da política econômica brasileira. De acordo com F. Giambiagi
(2011, p.198), havia grande apreensão de que Lula não seguiria a diretriz de seu
antecessor em manter o compromisso com as políticas de estabilização econômica
e austeridade fiscal. Circulava a possibilidade de decretação de alguma forma de
34

moratória e de aumentos irresponsáveis de gastos do governo, o que comprometeria


qualquer sucesso que ao governo anterior possa ser atribuído.

O cenário político e econômico montado para a posse de Lula desenhou-se


como um grande desafio para o começo de seu mandato. O novo presidente fez
questão de deixar claro para o mercado, através de pronunciamentos, de decisões
econômicas ortodoxas e da nomeação de profissionais respeitados pelo mercado
para cargos importantes, que manteria o compromisso com a estabilidade e controle
da inflação. Com a clara manifestação de que ele manteria o foco na continuidade
da estabilidade econômica, rapidamente o cenário de desconfiança encontrado no
início dissipou-se, revertendo-se, na verdade, para uma consolidação cada vez
maior no mercado internacional de uma imagem positiva do Brasil.

O Gráfico 1, a seguir, demonstra o crescimento do PIB durante a década em


análise. Encontram-se destacados os anos de pior desempenho econômico,
percebe-se, por exemplo, nos anos iniciais da série o baixo crescimento do PIB
registrado no final do Governo FHC. A conjuntura inicial enfrentada pelo Governo
Lula, também acarretou em indicadores macroeconômicos insatisfatórios no primeiro
ano de governo, em 2003. Observa-se, entretanto, que a partir da conquista de
confiança pelo então presidente, o país manteve-se em uma trajetória de
crescimento constante, bastante aceitável quando comparado às taxas de
crescimentos de outros países. Excetua-se dessa tendência o ano de 2009, alvo de
uma grave crise econômica mundial, cujo efeito será mais detalhado a seguir.

7,5%
Taxa de crescimento do PIB

8,0%
7,0%
6,1%
6,0% 5,7%
5,2%
5,0%
4,0%
4,0%
3,2%
3,0% 2,7%

2,0% 1,3% 1,2%


1,0%
-0,3%
0,0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
-1,0%
Gráfico 1 – Crescimento do PIB no período 2001-2010.
Fonte:IBGE.
35

Apesar da recessão registrada no ano de 2009, o resultado não pode ser


considerado de todo ruim. Há que se ter em mente que essa taxa negativa foi
registrada no ano da que pode ser considerada a pior crise financeira mundial desde
1930. Comparativamente a outros países industrializados, os efeitos da crise no
Brasil podem ser considerados pequenos e de curta duração, verifica-se facilmente
a retomada do crescimento no ano subsequente. Na opinião de F. Giambiagi (2011,
p. 228), essa crise teve efeitos benéficos sobre a imagem do país no exterior,
contrastando com a tradição de dependência externa do Brasil, quando qualquer
indício de esfriamento da economia global tinha grandes efeitos na economia
brasileira. Boa parte dessa autonomia em relação ao mercado externo deve-se ao
fato de que, a partir de 2008, o Brasil passou a ser um credor líquido no mercado
financeiro internacional, ou seja, as reservas de capital estrangeiro passaram a ser
maiores que a dívida externa, mais uma vez em contraste com a posição de devedor
líquido assumida pelo país ao longo de sua história.

Cabe ainda registrar a eficácia no controle da inflação no período. A partir de


1999, ainda no Governo FHC, o Brasil passou a adotar o regime de metas de
inflação, alvo de grande atenção do presidente do Banco Central durante o Governo
Lula, Henrique Meirelles. O Gráfico 2, abaixo, mostra de forma clara a evolução ao
longo dos anos dos resultados observados da inflação comparativamente ao centro
da meta e às margens de tolerância.

14,0%
Taxa de inflação

12,5%
12,0%

10,0% 8,9% 9,3%


7,7% 7,6%
8,0%
5,9% 5,9%
6,0%
6,0% 5,7%
4,5% 4,3%
4,0% 3,1%

2,0%

0,0%
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Gráfico 2 – Regime de metas de inflação no Brasil.
Fonte: BCB.
36

Ao analisar o Gráfico 2, percebemos que, desde a implantação do regime de


metas de inflação, em apenas três anos da série a inflação observada ultrapassou o
limite superior da meta. Os três anos em questão correspondem ao período de
desconfiança anteriormente explicado, quando da transição entre o Governo FHC e
o Governo Lula. Passada essa crise de desconfiança inicial, percebe-se o
comprometimento no atual contexto político em manter a inflação sob controle,
diferenciando-se, mais uma vez, do panorama econômico histórico do país.

3.1 DESEMPENHO INDUSTRIAL NO PERÍODO

O setor industrial é o foco central desse trabalho de modo que essa seção é
dedicada a uma análise específica sobre esse setor. É fácil de ser observado no
Gráfico 3 que a indústria apresenta grande correlação com o PIB, em termos
estatísticos a correlação foi estimada em 0,94, sendo considerada altíssima. Isso
indica a importância desse setor na economia, e, ao mesmo tempo, que ele tem um
comportamento bastante dependente do contexto econômico vigente.
Variação anual

12,00% PIB - Total PIB - Indústria


10,43%
7,89%
8,00%

7,53%
4,00%
-0,33%

0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
-0,62%
-4,00%

-5,60%
-8,00%

Gráfico 3 – PIB industrial e PIB total.


Fonte: IBGE.
37

O processo de industrialização brasileiro pode ser considerado bastante


recente quando comparado aos países desenvolvidos. Apenas a partir da década de
70 que se pode dizer o país completou importante etapa desse processo, por meio
de políticas de industrialização por substituição de importações. Ao final desse
período, em 1980, o valor da produção da indústria de transformação correspondia a
33,70% do PIB, tal processo foi interrompido, porém, a partir das décadas de 1980
e, mais acentuadamente, 1990.

A natureza neoliberal das políticas econômicas da época, consolidada com o


Consenso de Washington, em 1989, acarretaram na interrupção de políticas
voltadas para o fomento da indústria. Segundo W. Canto e A.L. Silva (2010, p.3),
essa nova mentalidade sugeria que a abertura dos mercados “promoveriam a
modernização produtiva, a melhoria da competitividade e o aporte generoso de
capital, tecnologia e conhecimento oriundo do exterior”. Os autores citados
enfatizam que a orientação dominante na época era de que “a melhor política
industrial é não ter política industrial”. O Gráfico 4 evidencia os efeitos que esse
hiato de políticas industriais causaram sobre a indústria brasileira, nele está ilustrada
a evolução do valor adicionado da indústria de transformação em relação ao PIB.
Constata-se, no gráfico, o crescimento gradual da importância da indústria de
transformação até o ano de 1985, quando o valor da produção atinge o máximo
histórico de 35,88% do PIB, a partir de então, pelos motivos descritos acima,
verifica-se uma tendência abrupta de queda até os anos correntes.

Gráfico 4 – Valor adicionado da indústria de transformação (% PIB).


Fonte: IBGE.
38

O Governo de Lula rompe o hiato de inexistências de políticas


especificamente voltadas para a indústria. Ao decorrer dos seus oito anos de
governo, duas políticas industriais foram lançadas, sendo elas: Política Industrial,
Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) e Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP). Como pode ser observado no Gráfico 4, essas políticas não
lograram êxito em aumentar a importância da indústria em relação ao PIB, pelo
contrário, a tendência de queda continuou durante o período. Na opinião de W. Cano
e A.L.G. Silva (2010), a primeira política fracassou em atingir seus objetivos devido à
manutenção, nos anos iniciais do novo governo, das políticas macro-prudenciais que
restringiam qualquer tentativa de expansão econômica. Já o segundo plano de
desenvolvimento industrial, PDP, teve sua implementação e resultados prejudicados
pela eclosão da grave crise mundial em 2008.

Outro elemento preocupante na análise do setor industrial brasileiro é a


evolução das pautas de exportação e importação. Ao se examinar a composição da
pauta de exportações do Brasil, constata-se uma gradativa deterioração da
participação de produtos manufaturados. Segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os produtos de
manufaturados, que ultrapassavam 60% das exportações em 1992, eram
responsáveis em 2001 por 56,5% da pauta exportadora, e por apenas 39,4% ao final
de 2010. Ao mesmo tempo, a importância dos produtos básicos nas exportações
aumentou, passando de 23,6% em 2001 para 46,8% em 2010, o que evidencia,
ainda mais, a perda de importância da indústria no período. Além de tudo, as
importações mostram uma tendência de aumento no market share do consumo
aparente segundo pesquisa recente realizada pela Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).

Os dados apontados expõe o delicado cenário atual da indústria brasileira.


Estimativas mais recentes do IBGE sugerem que o valor adicionado da indústria
brasileira chegou a atingir irrisórios 13,25% do PIB, e não há grandes expectativas
de mudanças no curto prazo. Esses fatores incitam, segundo M. Almeida (2011,
p.50), debates importantes sobre a possibilidade de estar ocorrendo uma
desindustrialização da economia brasileira. Dessa forma, apesar do bom
desempenho recente em geral da economia brasileira, o setor industrial, em
particular, tem sofrido grandes dificuldades no período em estudo nesse trabalho.
39

4 CONCENTRAÇÃO X LUCRATIVIDADE

Os estudos sobre a relação entre concentração e lucratividade encontram


fundamentação teórica no núcleo do paradigma ECD. A base teórica fundamental
desse paradigma é a existência de relações casuais entre a estrutura de mercado, a
conduta das firmas e o desempenho econômico dessas. Esse tipo de pesquisa
empírica procura, justamente, verificar a existência dessas relações casuais. As
pesquisas que associam níveis de concentração com taxas de lucratividade buscam,
mais especificamente, investigar a relação entre estrutura, aqui definida pelo nível
de concentração da indústria, e desempenho econômico, medido pela taxa de
lucratividade.

Percebe-se, assim, certa negligência à função da conduta das firmas, pois se


assume que a conduta seja determinada diretamente pela estrutura do mercado,
não havendo, portanto, espaço significativo para manobras empresariais por parte
das firmas. A ideia basilar dessa linha de pensamento, de acordo com S. Martin
(1993b, p.197), é que mercados mais concentrados facilitam a colusão entre as
firmas e que empresas atuando em colusão, atuando de modo similar a um
monopolista, auferem maiores lucros. Como consequência, níveis mais altos de
concentração levam a uma perda de bem estar social associada às atividades
monopolísticas (R. CLARKE, 1985, p. 99). Dessa forma, a existência de correlação
entre concentração e lucratividade serviria como base para medidas governamentais
de combate à concentração de mercado.

Esse campo de estudo foi inaugurado pelo trabalho seminal de J. S. Bain,


“Relation of Profit Rate to Industry Concentration: American Manufacturing, 1936-
1940”, em 1951. Em tal estudo, J. S. Bain analisou uma amostra de 42 indústrias
norte-americanas entre os anos de 1936 a 1940 e encontrou uma fraca correlação
linear positiva entre concentração e lucratividade. Cabe frisar que, apesar de fraca, a
correlação positiva existia.

Esse estudo pioneiro impulsionou a elaboração de inúmeros trabalhos na


literatura internacional sobre o tema durante as décadas subsequentes. Essas novas
40

pesquisas apresentaram diversos resultados, enquanto que a maioria delas apontam


conclusões semelhantes ao de Bain, outros apresentaram resultados contrastantes.
Pode-se destacar dentre os trabalhos que apresentaram conclusões que sustentam
a existência de conexão entre concentração e lucratividade, os trabalhos de Mann
(1956) e Collins e Preston (1968, 1969) para a economia americana, e os de Lyons
(1981) e Hitiris (1978) para a economia britânica. Destacam-se, também, as
pesquisas que lançam dúvida a essa relação, obtidos por Brozen (1971) e Kilpatrick
(1968) nos Estados Unidos e por Clarke (1984) no Reino Unido.

Apesar da ampla literatura internacional, existe uma escassez de trabalhos


produzidos no Brasil nessa área. Entre os estudos que procuraram investigar a
relação concentração-lucratividade no Brasil, destacam-se H.C. Braga (1979), que
concluiu que “o poder de mercado resultante de estruturas fortemente concentradas
e do tamanho das grandes empresas contribui significativamente para a manutenção
de altas taxas de rentabilidade”, e P.B.R. Macedo e S.S. Portugal (1995), que
também encontraram uma relação positiva entre concentração industrial e
desempenho econômico.

No caso de economias em desenvolvimento como o Brasil, o resultado


esperado pode ser diferente do habitual. Isso porque, segundo J.M. Connor (1977),
citado por H.C. Braga (1979, p. 508), existem motivos para se esperar uma fraca, ou
inexistente, relação entre concentração e lucratividade em países em
desenvolvimento. O primeiro motivo, aqui destacado, são as diferenças culturais
entre dirigentes de empresas domésticas e internacionais, que dificultariam a
atuação em conluio. Outro ponto realçado é que altos custos de transporte podem
acarretar em distorções nos índices de concentração calculados para todo o país,
especialmente nos países de extenso território como o Brasil. Por último, tem-se a
relativamente grande abertura comercial de países em desenvolvimento, o que
reduziria impacto da concentração doméstica sobre a rentabilidade.

Vale lembrar que a análise do nexo entre esses elementos é de grande


importância para justificar intervenções governamentais em mercados concentrados.
De acordo com R. Clarke (1985, p.99), a sabedoria convencional na literatura da
economia industrial sugere que alta concentração de mercado leva a maiores lucros,
o que indica a existência de poder de mercado em detrimento do bem estar social.
41

Conclui-se, então, que a existência de correlação positiva entre concentração e


lucratividade serve como suporte para medidas intervencionistas nos mercados
concentrados. Por outro lado, se verificada a inexistência de correlação positiva,
pode-se inferir que esse tipo de política apresenta efeitos bem menos significativos
do que o esperado.

4.1 BASE DE DADOS

Uma das causas usualmente descrita como responsável pela escassez de


estudos empíricos nessa área é a insuficiência de dados. Os dois trabalhos citados
acima utilizaram-se de base de dados extraordinárias em suas confecções. O
trabalho de H.C. Braga (1979) utilizou-se de dados coletados junto à Receita Federal
e de uma publicação empresarial disponibilizada no período. Já o estudo feito por
P.B.R. Macedo e S.S. Portugal (1995) baseou-se no Censo Industrial de 1985, que
foi descontinuado.

O presente trabalho irá utilizar como fonte de dados a publicação anual da


revista Exame: Melhores & Maiores. Essa fonte de dados dispõe de informações
sobre as 500 maiores empresas nacionais desde 1995, segmentadas em 21
indústrias. Para a elaboração desse estudo, serão colhidos os dados sobre vendas e
lucro líquido ajustado das firmas das 16 maiores indústrias da amostra, para o
período de 2001 até 2010. As 5 menores indústrias foram retiradas da análise por
apresentarem um número muito pequeno de empresas entre as 500 maiores, o que
poderia deturpar as medidas de concentração, e por apresentarem uma produção
conjunta negligenciável.

Apesar de ser considerada pelo autor como a fonte de dados mais viável para
a produção desse trabalho, ela apresenta algumas falhas importantes capazes de
influenciar o resultado. A primeira, e mais óbvia, desvantagem ao empregar essa
base de dados é que ela não considera todas as empresas da indústria brasileira,
mas apenas, como mencionado, as 500 maiores. Mesmo que essas 500 empresas
42

sejam responsáveis por boa parte da produção industrial brasileira, elas formam
apenas uma secção da indústria nacional, de forma que a análise aqui desenvolvida
é restrita, e não de abrangência completa.

O segundo inconveniente dessa base de dados é o nível de agregação. Ao


agrupar as diversas atividades econômicas em apenas 21 tipos de indústrias, a base
de dados com a qual a análise se desenvolverá é demasiadamente agregada, de
forma que em um mesmo grupo industrial pode haver, na realidade, várias indústrias
distintas agrupadas. Essa característica é prejudicial à análise, pois, segundo P.R.
Ferguson (1988, p.34), quanto mais agregados os dados, menos concentrada será a
indústria analisada, pois, de fato, são diversas indústrias associadas a apenas uma.

Outra fragilidade dessa base de dados está relacionada ao modo como eles
são colhidos. As informações são obtidas junto às empresas, que não têm
obrigatoriedade de fornecê-las. A ausência de certos campos afetou de algum modo
os dados colhidos sobre lucro, pois nem todas as empresas divulgaram tal
informação, de forma que estas foram desconsideradas do cálculo da taxa de
lucratividade média de seu respectivo setor.

É valido reiterar que, apesar das fraquezas, o banco de dados fornece


informações ricas que, na opinião do autor, não comprometem os possíveis
resultados desse estudo. Além disso, as informações são facilmente alcançáveis e
estão organizadas de modo a ajudar o usuário, não existindo fonte de informações
mais viável no contexto pesquisado.

4.2 CONCENTRAÇÃO DE MERCADO

A concentração de mercado possui um papel central nos estudos de


economia industrial, principalmente a partir do paradigma ECD. Isso porque a
concentração de mercado é comumente utilizada para descrever a estrutura de
mercado em estudos empíricos, ainda que não dê muitas informações sobre outros
elementos importantes da estrutura, como as condições de entrada, a extensão da
43

diferenciação de produtos e o grau de integração entre as firmas (P.R.


FERGUSON,p. 23).

Segundo R. Clarke (1985, p. 9, tradução nossa, grifo do autor), “concentração


de mercado refere-se ao grau em que a produção para, ou dentro de, um mercado
específico ou indústria é concentrado nas mãos de algumas poucas firmas grandes”.
Assim, na análise da concentração de mercado, interessa definir o número e o
tamanho relativo das firmas em determinada indústria.

4.2.1 Medidas de Concentração

A primeira etapa de estudo empírico desse trabalho consiste na obtenção de


índices de concentração para a amostra de setores industriais no período. O objetivo
principal de tais índices é fornecer um guia para a avaliação dos níveis de
concorrência em determinado setor industrial. Serão calculadas duas medidas de
concentração distintas para a seleção de dezesseis setores industriais. Como cada
uma dessas medidas apresentam características de cálculo diferentes, os resultados
fornecidos por elas serão comparados, a fim de se verificar a aplicabilidade de
ambos.

O primeiro índice a ser calculado é a “Razão de concentração de ordem k”.


Ele é o índice mais habitualmente utilizado para medir concentração de mercado,
caracterizando-se por fornecer a parcela de concentração das k maiores empresas
da indústria. Seu cálculo é bastante simples, sendo realizado por meio da fórmula:

( )=

Na equação acima, representa a participação da empresa no total da


indústria para determinado dado em análise. Ou seja, = , onde representa o

dado disponível sobre a empresa , e representa o total dessa informação para a


indústria. No caso do corrente projeto, a informação em análise é as vendas totais
44

de cada empresa, portanto, podemos definir como sendo a participação das


vendas da empresa no total de vendas da indústria.

Por apresentar um cálculo bastante simples, esse índice está sujeito a


algumas fragilidades importantes. Segundo M. Resende e H. Boff (2002, p.77), ele é
deficiente por ignorar a presença das − empresas menores da indústria e por
não levar em conta a participação relativa de cada empresa no grupo das maiores.
Além disso, R. Clarke (1985, p.17) destaca o fator arbitrário da escolha da ordem de
concentração, .

Para o cálculo da razão de concentração será utilizado = 5. Assim, o


cálculo da razão de concentração de ordem cinco fornecerá a participação das
vendas das cinco maiores empresas de cada setor industrial no total de vendas
desse setor. Apesar de ser uma escolha arbitraria, a razão de concentração de
ordem cinco proporciona uma visão adequada sobre a concentração de mercado e é
bastante empregada na literatura sobre o tema.

A segunda medida a ser calculada corrige as deficiências encontradas na


razão de concentração ao incluir em seu cálculo a participação de todas as
empresas da indústria. A medida em questão trata-se do “Índice de Hirschman-
Herfindahl” ou, simplesmente índice HH, definido algebricamente por:

O termo assume o mesmo sentido apresentado no índice anterior, porém,


aqui, a participação de cada empresa nas vendas totais da indústria é elevada ao
quadrado e representa o número total de empresas na indústria. Assim, o índice
HH diferencia-se da razão de concentração ao incluir em seu cálculo todas as
empresas do setor industrial e, ao elevar a parcela de participação de cada empresa
ao quadrado, atribuir maior peso às maiores empresas da indústria. P.R. Ferguson
(1988, p. 28) define esse índice como teoricamente elegante, por incluir todas as
firmas de determinado setor industrial, e, ainda, atribuir mais valor às maiores.

A partir do cálculo desses dois índices, será verificado se eles podem ser
adotados como substitutos. Assim, será examinada a correlação entre eles e
45

averiguada a existência de discrepâncias que inviabilizem a escolha da razão de


concentração como elemento de análise da relação em estudo.

4.2.2 Resultados Obtidos

Aplicando-se a metodologia de cálculo da razão de concentração de ordem


cinco, obtiveram-se os resultados indicados na Tabela 1, na página seguinte. Os
resultados sugerem que não houve uma tendência clara de concentração ou
desconcentração no período. Dentre as 16 indústrias estudadas, 7 apresentaram
aumento no grau de concentração e 9 diminuição, de modo que não se pode extrair
um tendência geral para a economia brasileiro no período.

A indústria que mais se concentrou no período foi a de Química e


Petroquímica, partindo de uma concentração inicial de apenas 29,1% para 46,6%,
uma variação de 60,23% no grau de concentração medido pelo CR . Destaca-se
ainda, a indústria de Siderurgia e Metalurgia, a qual passou de CR = 43,8% em
2001, para CR = 58,5% em 2010, uma mudança de 33,52%.

No lado oposto, a indústria de Serviços foi a que mais se desconcentrou,


passando 52,1% para 37,8% na razão de concentração, uma diminuição de 27,55%.
Assim como a Autoindústria que apresentou uma queda de 19,77% no índice CR .
Em situação mais neutra encontraram-se as indústrias de Atacado, Energia e
Produção Agropecuária, que evidenciaram mudanças pouco significativas, de
concentração ou desconcentração.

Calculou-se, também, o índice Hirschman-Herfindahl para as informações


coletadas. A partir dos valores obtidos, foi elaborada a Tabela 2, que dispõe a média
desse índice para cada setor industrial no período. Também é ilustrada nessa tabela
uma coluna com a média do índice CR para cada uma das indústrias, de forma que
se possa fazer uma comparação visual entre os valores. As indústrias estão
dispostas em ordem decrescente do índice CR .
Tabela 1 - Razão de concentração de ordem cinco, CR , para 16 indústrias brasileiras (2001-2010).
Razão de concentração de ordem cinco, &' (
Setor Industrial
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Média
Atacado 69,8% 70,1% 71,8% 70,6% 72,3% 71,8% 71,7% 72,5% 72,5% 74,0% 71,7%
Autoindústria 59,2% 55,0% 49,1% 50,7% 46,6% 49,9% 51,2% 49,5% 50,4% 47,5% 50,9%
Bens de Consumo 42,1% 44,7% 45,6% 45,6% 41,6% 41,6% 40,6% 40,9% 40,1% 38,6% 42,1%
Eletroeletrônico 45,2% 43,7% 44,4% 43,2% 48,0% 49,5% 52,2% 57,6% 60,1% 58,3% 50,2%
Energia 63,1% 64,0% 63,6% 61,2% 60,2% 60,8% 60,4% 62,5% 56,9% 58,1% 61,1%
Farmacêutico 58,5% 60,0% 55,1% 55,4% 57,1% 70,8% 66,7% 65,8% 62,5% 66,5% 61,8%
Indústria da Construção 44,4% 46,2% 46,4% 50,5% 55,8% 52,2% 49,6% 47,2% 44,4% 36,1% 47,3%
Indústria Digital 53,8% 56,1% 56,5% 61,5% 60,5% 56,8% 57,3% 75,7% 77,1% 65,6% 62,1%
Mineração 78,3% 79,8% 81,9% 85,2% 78,1% 78,8% 79,4% 85,0% 87,0% 88,3% 82,2%
Produção Agropecuária 66,2% 55,1% 57,4% 57,0% 59,2% 62,0% 52,5% 53,1% 52,9% 61,0% 57,6%
Química e Petroquímica 29,1% 30,8% 36,6% 37,1% 40,7% 41,0% 41,1% 41,8% 46,1% 46,6% 39,1%
Serviços 52,1% 52,4% 54,1% 56,8% 50,9% 44,5% 43,1% 40,5% 38,2% 37,8% 47,0%
Siderurgia e Metalurgia 43,8% 44,4% 44,7% 50,2% 45,2% 39,5% 41,2% 46,0% 55,6% 58,5% 46,9%
Telecomunicação 78,8% 79,0% 75,8% 74,2% 72,5% 73,0% 66,2% 63,7% 63,8% 64,2% 71,1%
Transporte 71,2% 68,1% 65,4% 62,3% 66,7% 67,0% 66,4% 64,2% 65,1% 64,0% 66,0%
Varejo 46,1% 49,1% 47,2% 46,6% 45,6% 45,0% 47,4% 52,0% 49,2% 41,7% 47,0%
Fonte: Revista Exame: Maiores e Melhores (2001-2010), cálculo nosso.
47

Tabela 2 - Média dos índices de concentração (2001-2010).


Setor Industrial &' ( HH
Mineração 82,2% 35,2%
Atacado 71,7% 15,1%
Telecomunicações 71,1% 12,7%
Transporte 66,0% 12,7%
Indústria Digital 62,1% 11,1%
Farmacêutico 61,8% 10,5%
Energia 61,1% 24,7%
Produção Agropecuária 57,6% 9,6%
Autoindústria 50,9% 6,9%
Eletroeletrônico 50,2% 7,3%
Indústria da Construção 47,3% 7,1%
Serviços 47,0% 6,4%
Varejo 47,0% 6,2%
Siderurgia e Metalurgia 46,9% 6,2%
Bens de Consumo 42,1% 5,2%
Química e Petroquímica 39,1% 5,0%
Fonte: Revista Exame: Maiores e Melhores (2001-2010), cálculo nosso.

Pela Tabela 2, é possível observar que ambos os índices caminham no


mesmo sentido. É fácil observar que um maior índice HH está, geralmente, atrelado
a um maior índice CR . A exceção que pode ser feita é em relação à indústria de
Energia, na qual é observável uma discrepância entre os índices. Isso ocorreu
porque existe uma empresa dominante nesse setor, a Petrobras, que possui quase a
metade da parcela de vendas do setor. Como a razão de concentração negligencia a
participação relativa de cada uma das cinco maiores empresas, essa grande parcela
da empresa dominante não foi levada em conta. Conclui-se que, no caso específico
do setor de Energia, o índice CR está subestimando a concentração de mercado e,
por isso, ocorreu uma divergência em relação ao índice HH.

Ainda que exista certo desacordo no caso da indústria de Energia, pode-se


assumir o índice CR como um substituto apropriado para o índice HH. A correlação
entre os dois índices foi calculada em ) = 0,81, significativa a 0,1%, sendo
classificada como muito forte. Essa alta intensidade de correlação é o maior
indicativo de que, apesar das possíveis fragilidades do índice de razão de
concentração de ordem cinco, ele pode ser aplicado na análise subsequente com
bastante segurança.
48

4.3 LUCRATIVIDADE

Na análise entre concentração e lucratividade, a última representa o


desempenho dentro do paradigma ECD. Esse trabalho utilizará, para a análise
dessa relação, o conceito de taxa de lucratividade para descrever a lucratividade.
Esse conceito, bastante simples, consiste na razão do lucro da firma, +, sobre o total
,
da receita, , ou seja, na razão . A fim de realizar-se uma comparação com o CR ,
-

a taxa de lucratividade de cada indústria será considerada como a média das taxas
de lucratividade das suas cinco maiores empresas.

Para a variável lucro foi utilizada a informação “Lucro Líquido Ajustado” da


publicação da revista Exame. Segundo definição da publicação, ele “é o lucro líquido
apurado depois de reconhecidos os efeitos da inflação nas demonstrações contábeis
[...] nesse valor estão ajustados os juros sobre o capital próprio, considerados como
despesas financeiras”. Já para a receita, foram usados os dados sobre as vendas
totais de cada empresa no período observado. A taxa de lucratividade média das
cinco maiores firmas de cada setor industrial, tanto anualmente, quanto a média do
período, é encontrada na Tabela 3, situada na página seguinte.

Observando a tabela de informações, é possível tecer alguns comentários. A


indústria de mineração, a qual é, também, a mais concentrada, teve a mais elevada
taxa de lucratividade, atingindo exorbitantes 36,4%. Serviços, Siderurgia e
Metalurgia e Indústria da Construção também apresentaram taxas muito elevadas
de lucros, essas, porém, são indústrias de pouco a médio concentradas, de forma
que não se pode auferir conclusões antes de uma análise matemática mais
detalhada, a ser feita na próxima seção.
Tabela 3 - Taxa de lucratividade média das cinco maiores empresas de cada setor (2001-2010).
Taxa de Lucratividade Média
Setor Industrial
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Média
Atacado 0,2% -0,7% 6,4% 1,2% 1,0% 1,0% 1,1% -0,1% 0,9% 1,3% 1,2%
Autoindústria 7,6% 4,4% 41,1% 2,6% 5,6% 4,9% 7,4% 7,0% 6,1% 5,4% 9,2%
Bens de Consumo 5,5% -2,3% 19,0% 3,9% 3,4% 3,1% 3,1% -2,9% 6,9% 5,3% 4,5%
Eletroeletrônico -20,4% -5,1% 46,2% 4,4% 1,1% 5,1% 2,1% 2,1% 3,6% 3,3% 4,2%
Energia 2,9% -0,5% 24,4% -16,4% 7,1% 8,0% -5,3% 9,8% 7,5% 7,8% 4,5%
Farmacêutico 0,8% -3,4% 14,5% 2,2% 5,1% 9,5% 3,7% 3,3% 3,0% 5,7% 4,4%
Indústria da Construção 15,0% 4,9% 101,3% 8,7% 9,0% 4,8% 7,5% 4,7% 7,2% 6,5% 16,9%
Indústria Digital 4,4% 1,4% 29,1% 3,3% 3,7% 10,4% 2,2% 1,6% -0,9% 0,3% 5,6%
Mineração 8,1% 9,2% 89,3% 31,6% 34,7% 44,1% 44,6% 25,9% 37,3% 38,9% 36,4%
Produção Agropecuária 3,1% 1,7% 13,7% 1,7% 0,5% 2,6% 4,2% -2,2% 3,5% 0,7% 3,0%
Química e Petroquímica -2,0% -4,5% 24,8% 5,2% 2,6% 1,5% 3,1% -5,0% 4,5% 1,6% 3,2%
Serviços 3,8% 1,3% 104,0% 8,7% 7,4% 11,4% 16,4% 17,5% 19,5% 17,7% 20,8%
Siderurgia e Metalurgia 1,8% 6,5% 86,3% 24,1% 19,9% 14,7% 17,9% 15,9% 12,8% 7,7% 20,8%
Telecomunicações 3,9% 5,2% 55,6% -2,6% -0,9% 4,2% 6,1% 5,7% 0,5% 7,1% 8,5%
Transporte -4,9% -19,9% 19,8% 13,2% 12,7% 12,6% 9,3% -5,8% 14,2% 11,1% 6,2%
Varejo -0,2% -2,3% 44,9% 0,2% 1,6% 0,7% 0,5% 2,2% 2,8% 2,6% 5,3%
Fonte: Exame: Maiores e Melhores (2001-2010), cálculo nosso.
50

4.4 ANÁLISE DA RELAÇÃO CONCENTRAÇÃO X LUCRATIVIDADE NA


INDÚSTRIA BRASILEIRA NO PERÍODO 2001-2010

O embasamento teórico desse estudo, inspirado nos trabalhos de J.S. Bain,


prevê uma relação de causalidade entre concentração e lucratividade nas indústrias.
Essa relação funciona de forma que empresas em indústrias mais concentradas
obtêm taxas de lucro mais elevadas. Essa seção será dedicada à análise da
natureza dessa relação para o contexto pesquisado.

Os dados sobre concentração e lucratividade médias no período 2001-2010,


para a amostra de indústrias selecionada, encontram-se reunidos na Tabela 4 a
seguir. De posse dessas informações é possível, agora, realizar testes
econométricos a fim de determinar a estrutura dessa relação.

.⁄/
Tabela 4 - Índice de concentração e de lucratividade (2001-2010).
Setor Industrial &' (
Atacado 71,7% 1,2%
Autoindústria 50,9% 9,2%
Bens de Consumo 42,1% 4,5%
Eletroeletrônico 50,2% 4,2%
Energia 61,1% 4,5%
Farmacêutico 61,8% 4,4%
Indústria da Construção 47,3% 16,9%
Indústria Digital 62,1% 5,6%
Mineração 82,2% 36,4%
Produção Agropecuária 57,6% 3,0%
Química e Petroquímica 39,1% 3,2%
Serviços 47,0% 20,8%
Siderurgia e Metalurgia 46,9% 20,8%
Telecomunicações 71,1% 8,5%
Transporte 66,0% 6,2%
Varejo 47,0% 5,3%
Fonte: Exame: Maiores e Melhores (2001-2010), cálculo nosso.
51

Assim como no trabalho pioneiro de J.S. Bain, e como previu J.M. Connor
(1977), a correlação encontrada foi fraca. Para os dados da Tabela 4, o valor do
coeficiente de correlação entre a concentração, medida pelo CR , e a lucratividade,
medida pela taxa de lucro, foi de ) = 0,24. Essa correlação fraca pode não ser
significativa estatisticamente, de forma que se deve realizar um teste de hipóteses.
Para se calcular, então, o teste t unicaudal são consideradas as hipóteses:

a) 1 : ) = 0. A hipótese nula diz que não existe correlação entre as variáveis


pesquisadas;
b) : ) > 0. A hipótese alternativa diz que a correlação existe e é maior que
zero.

Calcula-se, agora, o valor de t, para ) = 0,24:

−2
5 = )6
1−)

Tem-se que 57897:98;< = 0,9244 é menor que 57>í@A7< = 2,145, para grau de
liberdade 14 e significância de 5%. Assim, não se pode rejeitar a hipótese nula, e a
fraca correlação obtida entre concentração e lucratividade é insignificante
estatisticamente a 5%.

O calculo do coeficiente de determinação, , fornece a proporção da


variação da lucratividade que é explicada pela variação da concentração. O
calculado foi de apenas 0,0575, de forma que apenas 5,75% da variação da taxa de
lucratividade são passíveis de serem explicado pela variação da concentração.
Outra vez o resultado demonstra uma relação muito fraca entra as variáveis.

Na Figura 3 está plotada a dispersão entre os valores de concentração e


lucratividade. A reta em evidência é a reta de regressão linear simples, definida por:

+C
B = −0,0084 + 0,1859 = 0,0575
D

(−0,07219) (0,9245) (5)


52
Lucratividade

35,0%

30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
35,00% 45,00% 55,00% 65,00% 75,00% Concentração

Gráfico 5 – Dispersão entre Concentração e Lucratividade.


Fonte: Exame: Maiores e Melhores (2001-2010), elaboração nossa.

A regressão linear informa que, para qualquer variação no índice de


concentração, a lucratividade de determinado setor varia 18,59% desse valor. Outra
conclusão interessante é a análise do intercepto da regressão. Ele indica que, se o
índice de concentração se aproximar de zero, situação de competição perfeita, a
lucratividade do setor será quase nula, aproximadamente -0,01%. Essa leitura vai
ao encontro da teoria do paradigma ECD, apesar do efeito fraco que a concentração
apresentou sobre a lucratividade.

Os parâmetros estimados, porém, não foram significantes estatisticamente a


5%, como pode ser observado para os valores t calculados. Desse modo, apesar da
conclusão de existência de uma relação positiva, alcançada através da regressão
linear, ela possui pouco valor estatístico. Não se pode, com a análise dos dados
obtidos, rejeitar estatisticamente a hipótese de que o índice de concentração CR
não exerce efeitos sobre a taxa de lucratividade das empresas.
53

4.4.1 Comentários

A investigação dos dados proporcionou conclusões semelhantes às obtidas


por J.S. Bain, e diversos estudos posteriores sobre o tema. O prognóstico feito por
J.M. Connor (1977), de que países em desenvolvimento devem apresentar baixa
correlação entre concentração e rentabilidade, também se mostrou verdadeiro. Os
resultados, porém, por não terem significância estatística a um nível de 5%, não
podem ser considerados contundentes.

Essa baixa correlação encontrada abre espaço para considerações


importantes sobre a conduta como fator importante na determinação do
desempenho. Põe-se em cheque a relação direta entre estrutura e desempenho, na
qual os elementos de conduta são negligenciados. O pouco poder de explicação da
regressão linear propõe que outros elementos são de fundamental importância na
definição da taxa de lucratividade.

O modo que as empresas de um setor interagem entre si, elemento da


conduta, tem papel importante na performance econômica, por exemplo. Ao se
observar os dados, percebe-se que a indústria de Atacado apresenta o segundo
maior índice de concentração e a pior taxa de lucratividade, indício de que as
empresas desse setor competem muito mais do que a concentração sugere. Por
outro lado, as indústrias de Serviços e Siderurgia e Metalurgia apresentam
lucratividade bastante elevada, enquanto que o grau de concentração é apenas de
moderado para baixo, indicando que a conduta adotada nessas indústrias é de
pouca competição.

Outro fator desconsiderado na análise proposta é a conduta dentro de cada


firma. A taxa de lucratividade deixa aqui de ser determinada por fatores externos e
passa a ser definida pela organização interna das empresas. Seguindo linha de
pensamento, a eficiência de cada empresa define o quão lucrativo ela será, e a
divergência de lucratividade entre os setores industriais se dão em relação aos
diferenciais de eficiência das empresas de cada setor.
54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo primeiro do presente trabalho foi examinar a natureza da relação


entre concentração de mercado e a lucratividade das empresas no Brasil. Para
tanto, foi explicada a evolução do corpo teórico que aborda o tema, feita uma
resumida análise do cenário econômico brasileiro nos anos entre 2001 e 2010, além,
é claro, de realizado um exame dos dados e resultados sobre concentração e
lucratividade no período.

O estudo da relação em questão sempre foi um tema de destaque no campo


de pesquisa da Economia Industrial. Assim, foi inicialmente apresentada a evolução
das correntes teóricas dessa área de estudo. Os modelos neoclássicos precursores
da organização industrial como área de estudo da Economia, partiam de premissas
simplistas que não encontravam respaldo na realidade. Nesse contexto surgiu o
paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho, alçando a Economia Industrial como
uma importante área de estudo. Foi a partir dessa escola de pensamento, com os
trabalhos de J.S. Bain, que surgiram as pesquisas empíricas que buscavam
correlacionar os elementos de estrutura e desempenho. Já a Nova Economia
Industrial surgiu como um aperfeiçoamento teórico e matemático desse paradigma e
ocupa agora o mainstream desse âmbito de estudo da Economia. Essa doutrina
passou a dar mais destaque à conduta como peça fundamental de estudo, elemento
esse que era negligenciado pelo paradigma ECD.

Durante o período abrangido por esse estudo, pode-se dizer que, em geral, a
economia brasileira apresentou um bom desempenho. Presenciou-se nessa primeira
década do século XXI a consolidação da política de estabilização econômica, com o
controle da inflação, taxas satisfatórias de crescimento econômico e fortalecimento
da imagem externa do país. Quando se faz, por outro lado, um exame específico do
desempenho industrial, observa-se uma clara deterioração do setor. O valor
adicionado da produção industrial brasileira tem perdido rapidamente importância
em relação ao PIB, atingindo níveis assustadoramente baixos nos últimos anos.
Destaca-se, também, a gradativa perda de importância dos produtos manufaturados
na pauta de exportações, simultaneamente ao ganho de relevância dos produtos
55

básicos. Apesar dessa conjuntura paradoxal de bom desempenho econômico


conjuntamente à piora do setor industrial, nenhuma tendência clara pôde ser
definida ao se analisar os dados de concentração e lucratividade. Isso sugere que,
ao menos no curto prazo, variações macroeconômicas não causam efeitos diretos
em favor de concentração ou desconcentração dos mercados.

Por meio do banco de dados da revista Exame, foram obtidos dados sobre
vendas e lucro das 500 maiores empresas do país, para os 16 mais importantes
setores industriais da amostra, durante o período de 2001-2010. De posse desses
dados, foi possível calcular-se a razão de concentração de ordem 5 para cada uma
dessas indústrias, bem como a taxa de lucratividade média das 5 maiores empresas
de cada setor.

O estudo dessas medidas forneceu importantes indícios sobre a natureza da


relação em análise. Primeiramente, pôde-se observar que a correlação entre esses
dois elementos foi bastante fraca no contexto pesquisado e sequer foi
estatisticamente significante, destaca-se, de qualquer forma, a natureza positiva
dessa relação. Além disso, o coeficiente de determinação indicou que pouquíssima
parte da variação da lucratividade dos setores industriais pode ser explicada pela
variação da concentração. Por fim, a análise da regressão linear mostrou resultados
interessantes, que estão de acordo com a teoria sugerida pelo paradigma ECD, os
parâmetros dessa regressão, porém, também não apresentaram significância
estatística.

A análise econométrica dos resultados evidencia uma insuficiência do


paradigma ECD em explicar o desempenho econômico. A fraca correlação
encontrada e a insignificância estatística sugerem que apenas a estrutura de
mercado não é suficiente para explicar o desempenho econômico. Como defende a
Nova Economia Industrial, é provável que o elemento de conduta possua um papel
fundamental nas interações entre estrutura e desempenho, de forma que ele não
pode ser desprezado na análise econômica. Os resultados proporcionam, também,
elementos indicativos de que os esforços governamentais para coibir a concentração
de mercado podem ser menos efetivos para a defesa do consumidor do que supõe a
“sabedoria convencional”.
56

Considera-se válido, ainda, traçar algumas linhas sobre deficiências e lacunas


passíveis de terem acontecido durante a construção do trabalho. Aqui, lembramos a
fragilidade da base de dados utilizada, que não contempla todas as empresas
brasileiras, mas apenas as 500 maiores, e que apresenta um nível de agregação
bastante elevado, de modo que apenas 16 setores industriais foram considerados no
estudo. De qualquer modo, não acreditamos que esses fatores afetaram
sobremaneira os resultados obtidos, sendo esses condizentes com trabalhos
anteriores que abordaram o tema. Consideramos também que há espaço para maior
deliberação sobre os efeitos da conduta na análise proposta. Desse modo
acreditamos que estudos posteriores podem ser de grande valia para a
complementação do estudo feito, quando realizados sob o enfoque da Nova
Economia Industrial, acrescentando elementos de conduta na observação empírica.
57

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