You are on page 1of 30

Direito das Coisas – Resumo

Definição – Direito das Coisas é o ramo do direito que regula as relações


jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis. No direito
das coisas há uma relação de domínio exercida pela pessoa – sujeito ativo – sobre a
coisa. Não há um sujeito passivo determinado, sendo este toda a coletividade – sujeito
passivo universal.
Clóvis Bevilaqua – Direito das coisas representa um complexo de normas que
regulamenta as relações dominiais existentes entre a pessoa humana e coisas
apropriáveis.
Direito das Coisas como “o conjunto de normas reguladoras das relações
jurídicas, de caráter econômico, entre as pessoas, relativamente a coisas corpóreas,
capazes de satisfazer às suas necessidades e suscetíveis de apropriação, dentro do
critério da utilidade e da raridade” (AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso..., 2014, p. 4).
Já Coisas pode ser definida como tudo aquilo que não é humano, ou ainda os
bens corpóreos.
Direito Reais – Conjunto de categorias jurídicas relacionadas a propriedade,
descritas inicialmente no art. 1225 do CC. Os Direitos Reais comportam precipuamente
o conteúdo principal de Direito das Coisas, mas não somente eis que existem institutos
que compõem a matéria e que não são Direitos Reais.
Teorias Justificadoras com base na obra de Orlando Gomes:
Teoria personalista – teoria pela qual os direitos reais são relações jurídicas
estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. Segundo Orlando Gomes, “a
diferença está no sujeito passivo. Enquanto no direito pessoal, esse sujeito passivo – o
devedor – é pessoa certa e determinada, no direito real seria indeterminada, havendo
nesse caso uma obrigação passiva universal, a de respeitar o direito – obrigação que se
concretiza toda vez que alguém o viola” (GOMES, Orlando. Direitos reais..., 2004, p.
12-17).
Contudo, a doutrina majoritária assenta se na Teoria Clássica ou realista que
afirma que o Direito Real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a
coisa, com eficácia contra todas- ERGA OMNES. O Direito Real se opõe ao pessoal,
pois o último traz uma relação pessoa-pessoa, exigindo-se determinados
comportamentos.
Em suma, o que caracteriza os Direitos Reais é o poder de utilização da coisa,
sem intermediários.
Características dos Direitos Reais
 Oponibilidade ERGA OMNES, ou seja, contra todos os membros da
coletividade.
 Existência de um direito de sequela, que seguem ou aderem na coisa;
 Previsão de um direito de preferência a favor do titular de um direito real,
como é comum nos direitos reais de garantia sobre coisa alheia (penhor e
hipoteca);
 Possiblidade de renúncia destes direitos – abandono;
 Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse, de um domínio fático;
 Previsão de usucapião como um dos meios de sua aquisição. Vale dizer que a
usucapião não atinge somente a propriedade, mas também outros direitos reais
como no caso da servidão (art. 1379 CC) ;
 Suposta obediência a um rol taxativo (numerus clausus) de institutos previstos
em lei, que consagra o princípio da taxatividade dos direitos reais (art. 1225
CC);
 Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da
coisa ou tradição(bens móveis) e pelo registro(bens imóveis);
Princípio do absolutismo – Direitos Reais são absolutos, no sentido de que
trazem efeitos contra todos. Contudo, como assevera Cristiano Chaves não quer dizer
que o absolutismo não gera um poder ilimitado de seus titulares sobre os bens que se
submetem a sua autoridade . Como qualquer outro direito fundamental ordenamento
jurídico o submete a uma ponderação de valores, eis que em um Estado Democrático de
Direito marcado pela pluralidade, não há espaço para dogmas” (Direitos reais..., 2006,
p. 3). Princípio da Ponderação – Robert Alexy.
Princípio da Taxatividade Direitos Reais – Embora a lei assenta seu
fundamento no sentido de serem os direitos reais um rol taxativo, mormente os
previstos no art. 1225, autorizada doutrina advoga pela mitigação do princípio, como as
previsões contidas na LEI 11.481 de 2007, como a concessão de uso especial para fins
de moradia e concessão de direito real de uso e a multipropriedade imobiliária,
reconhecida pelo STJ no RESP 1.546.165/SP. Assim haveria uma tipicidade dos
direitos reais e não um rol exaustivo.
Outro exemplo a ser citado é o da alienação fiduciária em garantia que como
modalidade de propriedade resolúvel se enquadraria no inciso I do art. 1225 do CC/02.
Todavia, a alienação fiduciária em garantia não consta do rol do art. 1225 CC.
Outro exemplo é o previsto na Lei 11.977 de 2009, que dispõe sobre o Programa
Minha Casa Minha Vida, trata no art. 59 da legitimação da posse, que, devidamente
registrada no Cartório de Imóveis constitui direito em favor do detentor da posse direta
para fins de moradia. Tal direito será concedido aos moradores cadastrados pelo Poder
Público, desde que:
 não sejam concessionários, foreiros ou proprietários de outro imóvel urbano ou
rural;
 não sejam beneficiários de legitimação de posse concedida anteriormente.
Ainda sobre o tema, também visando a essa função social, na VII Jornada de
Direito Civil, promovida em setembro de 2015 pelo Conselho da Justiça Federal, foi
aprovada proposta no sentido de que é indispensável o procedimento de demarcação
urbanística para a regularização fundiária social de áreas ainda não matriculadas no
Cartório de Registro de Imóveis, como requisito à emissão de títulos de legitimação da
posse e do domínio (Enunciado n. 593).
Diferenças entre Direitos Reais e Pessoais
1ª Diferença: Os direitos reais têm como conteúdo relações jurídicas
estabelecidas entre pessoas e coisas, sem intermediação por qualquer pessoa. Portanto, o
objeto da relação jurídica é a coisa em si.
Já nas relações de direito pessoal de cunho patrimonial, o conteúdo é a
existência de relações jurídicas estabelecidas entre duas ou mais pessoas, sendo o
conteúdo imediato a prestação.
2ª Diferença: Nos direitos reais há apenas um sujeito ativo determinado, sendo
sujeito passivo toda a coletividade (ideia de sujeito passivo universal).
Já nos direitos pessoais, há em regra, um sujeito ativo, que tem um direito
(credor); e um sujeito passivo, que tem um dever obrigacional (devedor).
3ª Diferença: os Direitos Reais são influenciados precipuamente pelo principio
da publicidade, diante da importância da tradição e do registro.
Já os direitos pessoais baseiam se fundamentalmente no princípio da autonomia
privada, que estabelece a liberdade de contratar livremente com quem e da maneira que
os contratantes quiserem.
3ª Diferença – Os direitos reais têm eficácia ERGA OMNES, contra todos
(princípio do absolutismo).
Lado outro, os direitos pessoais patrimoniais, caso dos contratos, têm efeito
apenas INTER PARTES, o que é a consagração da antiga res inter alios e do princípio
da relatividade dos efeitos contratuais.
Exceção – Há mitigação expressa por exemplo na Súmula 308 do STJ que diz: A
hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, posterior ou anterior à
celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do
imóvel”.
Há aí então forte ponto de aproximação entre os direitos pessoais e os direitos
reais. Assim, há a boa fé objetiva, caracterizada pela pontualidade contratual, vence a
hipoteca, que somente gera efeitos entre a construtora e o agente financeiro.
4ª diferença – Nos direitos reais, o rol é taxativo**** (art. 1225 CC), de acordo
com o entendimento ainda majoritário.
Já nos direitos reais o rol é exemplificativo, conforme o art. 425, que estabelece
o princípio da atipicidade dos contratos.
5ª diferença – Nos direitos reais, existe o direito de sequela, respondendo a coisa
onde quer que ele esteja. Os direitos pessoais geram a responsabilidade patrimonial dos
bens do devedor pelo inadimplemento da obrigação.
6ª Diferença – Os direitos reais têm caráter permanente, enquanto que os
direitos reais têm caráter, em regra, transitório. Porém, atualmente os contratos tem
ganhado um caráter de perpetuidade à medida de seu prolongamento no tempo.
Há de se ressaltar ainda que há espécies de conceitos híbridos ou intermediários,
que se situam entre um ponto intermediário entre os direitos reais e os direitos pessoais:
Posse – Trata se de um direito de natureza especial, que não se enquadra como direito
real ou pessoal.
Obrigações Propter Rem – Situam –se em zona intermediária entre os direitos reais e os
direitos patrimoniais, sendo ainda denominadas obrigações híbridas ou ambulatórias,
pois perseguem a coisa onde quer que ela esteja. Como exemplo, cite-se a obrigação de
um proprietário de um imóvel de pagar as despesas condominiais. Isso pode ser retirado
do art. 1345 do CC que diz que as despesas anteriores da unidade condominial são
responsabilidade do proprietário pelas dividas anteriores que gravavam a coisa. De
acordo com o STJ, dívidas de consumo de água, esgoto e energia elétrica não
constituem obrigações propter rem, mas obrigações pessoais do usuário do serviço.
Abuso de direito no exercício de propriedade ou ato emulativo – retirado dos arts.187 e
1228, § 2º CC. Trata se de um instituto hibrido uma vez que o exercício de direito real
repercute no direito das obrigações, gerando o dever de indenização.
Da Posse
Natureza jurídica: A natureza jurídica da posse desperta profundos debates na doutrina
acerca da mesma ter natureza jurídica de fato ou de direito. A doutrina posiciona-se no
sentido de admitir a posse como um direito, que, segundo Flavio Tartuce, é um direito
de natureza especial, que pode ser retirado da teoria tridimensional do direito de Miguel
Reale. Assim, a posse é o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa.
Conceito: É o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa. Maria Helena Diniz: A
posse constitui um direito rela propriamente dito, como desdobramento natural da
propriedade.
Correntes acerca da posse
Teoria Subjetiva ou subjetivista – Savigny – A posse seria o poder direto que a pessoa
tem de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e defendê-lo contra
a intervenção ou agressão de quem quer que seja. A posse então possui dois elementos:
 Corpus – Elemento material ou objetivo da posse, constituído pelo poder físico
ou de disponibilidade sobre a coisa;
 Animus Domini – Elemento subjetivo caracterizado pela inteção de ter a coisa
para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade.

Admitir essa teoria é negar existência a locação, comodato, depósito, pois de acordo
com a mesma, esses não seriam possuidores, pois não já qualquer intenção de se tornar
dono. Em regra, essa teoria não foi adotada pelo Código Civil de 2002. A teoria
subjetiva da posse somente ganha relevância na usucapião, modalidade de aquisição da
propriedade.
Teoria Objetiva ou Objetivista de Ihering – Para a configuração da posse basta que
a pessoa disponha fisicamente da coisa, ou que tenha a mera possibilidade de exercer
esse contato. Essa corrente dispensa a intenção de ser dono, tendo como elemento
apenas o Corpus.
Corpus – é formado pela atitude externa do possuidor em relação à coisa, agindo
este com o intuito de explora-la economicamente. O corpus se configuraria apenas na
intenção de explorar a coisa economicamente, não necessariamente com a intenção de
ser dono.
O Código Civil de 2002 assenta-se indubitavelmente na Teoria objetiva de Ihering,
que dispensa a intenção de ser dono para a configuração da posse.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato
o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
Basta o exercício de algum dos atributos do domínio para que a pessoa seja
considerada possuidora. Assim, o usufrutuário, o depositário e o locatário são
considerados possuidores, podendo fazer uso das ações possessórias. Pela atual
codificação privada, pode se dizer que todo proprietário é possuidor, mas nem todo
possuidor é proprietário.
Há então a possibilidade de ser considerado possuidor como apenas o titular de
direito, não havendo necessariamente o domínio material da posse. Assim, há então a
posse direta e a indireta, que dão a ambos os titulares a opção de defesa da posse por
meio das ações possessórias.
Como primeira ilustração, no caso de contrato de locação, as duas partes
envolvidas são possuidoras. O locatário é possuidor direto, tendo a coisa consigo; o
locador proprietário é possuidor indireto, pelos direitos que decorrem do domínio.

Função Social da Propriedade

V Jornada de Direito Civil 2011 - A posse constitui direito autônomo em


relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de
interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela” (Enunciado n. 492).

A título de exemplo, pode ser citado o contrato de gaveta, em que o possuidor


tem um direito autônomo à propriedade, merecendo proteção pela utilidade positiva que
dá à coisa.
Contrato de gaveta é visto como um documento particular de compra e venda
confeccionado entre as partes interessadas (vendedor e comprador), sem a intervenção
da imobiliária ou instituição bancária que é alienante do imóvel e com efeito jurídico
duvidoso entre aqueles que o celebraram.
Função Social da Propriedade – Constitui uma relativização ao direito de
propriedade, considerando-se que a propriedade deve atender os anseios da sociedade
não sendo um direito, como todos os outros, de natureza absoluta.
Seu conceito está previsto no art. 186 da CF que diz:
Art. 186 da CF/88 – A função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - Aproveitamento racional e adequado;


II - Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente;
III - Observância das disposições que regulam as relações de
trabalho;
Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

Diferença Entre Posse e Detenção

Para aprofundamento do estudo sobre direitos reais, necessário tecer


comentários à respeito da diferença entre posse e detenção. Assim, o detentor não pode
ser confundido com o possuidor.
Prescreve o art. 1198 CC:
Art. 1198 - Considera se detentor aquele que, achando se em
relação de dependência para com outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar se do modo
como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa,
presume se detentor, até que prove o contrário.

Do exposto, percebe-se que o detentor ou fâmulo de posse tem a coisa em


virtude apenas de situação de dependência econômica ou de vínculo de subordinação
(ato de mera custódia).
O detentor não exerce sobre o bem posse própria mas posse em nome de outrem.
Assim, a este não é possível fazer o uso de ações possessórias. Porém, é possível o uso
da autotutela como em lugar do verdadeiro possuidor.
V Jornada de Direito Civil: “O detentor (art. 1.198 do Código
Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do
bem sob seu poder” (Enunciado n. 493).
O art. 1.208, primeira parte, do CC acrescenta que não induzem posse os atos de
mera permissão ou tolerância.

Ex: Manobrista que tem a detenção do carro em virtude da relação de


subordinação à empresa que o contrata, que é a possuidora direta por meio de contrato
atípico. Empresário que faz revenda de carros em nome de outrem também tem mera
detenção. Motorista que detém o carro de seu patrão.

Usucapião de Terras Públicas


Informativo n. 579, “é cabível o ajuizamento de ações
possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros
particulares. Inicialmente, salienta se que não se desconhece a
jurisprudência do STJ no sentido de que a ocupação de área
pública sem autorização expressa e legítima do titular do
domínio constitui mera detenção (REsp 998.409DF, Terceira
Turma, DJe 3/11/2009).

Enunciado 301 IV Jornada de Direito Civil - É possível a


conversão da detenção em posse, desde que rompida a
subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos
atos possessórios”.
Exemplificando, se desaparecer o vínculo de dependência de um contrato de
trabalho, sendo celebrado expressamente um contrato de locação entre ex patrão e ex
empregado, não haverá mais mera detenção, mas posse, desdobrada em direta e indireta.
A partir de então, o novo locatário poderá desfrutar de todos os efeitos materiais e
processuais decorrentes do novo instituto que surge.
A posse e a detenção não se confundem com a tença, sendo esta ultima “uma
mera situação material de apreensão física do bem, sem qualquer consequência jurídica
protetiva.”
A posse pode se dividir em:

Posse imediata – É a posse exercida por quem tem a coisa materialmente, numa
situação fática. Poder ser citados como possuidores diretos ou imediatos o locatário, o
depositário e o usufrutuário.

Posse Indireta – É a posse exercida por meio de outra pessoa, conservando-se o


exercício de direito geralmente da propriedade. São exemplos o locador, depositante,
comodante e nu-proprietário.
O possuidor direto pode exercer sua posse contra o possuidor indireto e vice-
versa. Tanto o possuidor indireto quanto o indireto podem usar ações possessórias um
contra o outro, bem como contra terceiros.

Vícios da Posse

Posse Justa – É a que não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade


ou da precariedade, sendo uma posse limpa.
Posse Injusta – Apresenta vícios, sendo adquirida por meio de ato de violência,
de clandestinidade ou de precariedade:

Posse violenta – é a obtida por meio de esbulho, por força física


ou violência moral. Equiparado ao roubo. Ex: movimento
popular invade violentamente propriedade rural produtiva, que
está sendo usada pelo proprietário, cumprindo a sua função
social.
Posse clandestina – é obtida às escondidas, furtivamente, à
surdina, na calada da noite. Assemelha-se ao furto. Ex:
movimento popular invade propriedade rural à noite e sem
violência, às escondidas, propriedade que está sendo usada
produtivamente, cumprindo sua função social.
Posse precária – é a que é praticada com abuso de confiança ou
de direito. Assemelha-se ao crime de estelionato ou ao crime de
apropriação indébita. Ex: locatário de um bem imóvel, que não
devolve o bem ao final do contrato de locação.

Em sendo o critério subjetivo, não exige a norma citação para que a posse de
boa-fé transmude para de má-fé. Basta o conhecimento do fato. A ciência do vício.
Conforme comentários do art. 1.201 do Código Civil, o critério eleito pelo
legislador para caracterização da boa-fé ou má-fé da posse é subjetivo. Desta forma, não
exige o direito nacional, como o faz o Italiano, um marco objetivo, a exemplo da
citação. O simples conhecimento pelo possuidor de qualquer vício que inquine a sua
posse já é capaz de transmudar seu caráter, a transformando em uma posse de má-fé.
Em regra, então, a citação faz presumir a ausência de boa-fé
De início, a posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por
ações do juízo possessório, não contra aquele de quem se tirou a coisa, mas sim em face
de terceiros. Isso porque a posse somente é viciada em relação a uma determinada
pessoa (efeitos inter partes), não tendo o vício efeitos contra todos, ou seja, erga omnes
(VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil..., 2005, p. 78).
Ainda, de acordo com a doutrina, as posses injustas violentas ou clandestinas
podem ser convalidadas, o que não se aplicaria à posse injusta por precariedade. “ Não
induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância como não autorizam a sua
aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou
clandestinidade.
É o que consta no art. 1208 CC. Eis uma exceção ao princípio da continuidade
do caráter da posse.

Princípio da continuidade do caráter da posse: A posse mantém o mesmo


caráter com que foi adquirida, conforme o art. 1203 do CC.

Quanto à boa fé subjetiva ou intencional (art. 1201 do CC):

A caracterização da posse de boa ou má-fé deve pautar-se por critérios objetivos,


uma vez decorrente da convicção do possuidor.
Posse de boa-fé: presente quando o possuidor ignora os vícios ou obstáculos que lhe
impedem a aquisição da coisa ou quando tem justo título que fundamente a posse.
Posse de má-fé: situação em que se sabe dos vícios que acometem a posse, mas mesmo
assim pretende exercer o domínio fático sobre a coisa. Nesta, o possuidor não possui um
justo título, mas pode ajuizar ação possessória contra terceiros.
A configuração da posse de boa ou má-fé é pertinente quanto a discussão acerca
dos frutos ou benfeitorias.
Enunciado n. 302 do CJF/STJ, prescreve que “Pode ser
considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico
capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o
disposto no art. 113 do CC”.
Enunciado 303 - Art. 1.201. Considera-se justo título para
presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que
lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não
materializado em instrumento público ou particular.
Compreensão na perspectiva da função social da posse.

Assim, o enunciado 303 da Jornada de Direito Civil diz que a boa-fé e a


caracterização do justo título devem ser analisadas à luz da função social da posse.
Portanto, a existência de instrumento público ou particular de compra e venda não é
fator primordial para a configuração do mesmo. O tecnicismo e o formalismo exagerado
são substituídos pela funcionalização do instituto da posse.
A classificação quanto a boa-fé subjetiva não se confunde com a classificação
acerca dos vícios objetivos, porquanto na análise dos vícios previstos no art. 1200 CC
são analisados critérios objetivos, enquanto que na análise da boa-fé subjetiva esta é
analisada tão somente sob a luz da intenção, subjetivamente, na crença dos envolvidos.
Assim, não é adequada a afirmação de que toda posse de boa-fé é posse justa ou
o contrário. Pode ser que a pessoa adquira a posse de boa-fé, mas que originariamente a
posse foi inquinada de vício objetivo, tal qual a clandestinidade ou violência, dada a
transmissão dos vicíos, conforme o art. 1203 CC. Exemplo: compra de bem roubado,
sem que se saiba da origem ilícita do produto.
Também é possível que a pessoa possua de má-fé embora não a tenha adquirido
de maneira clandestina, violenta ou precária. Exemplo: o locatário que tenta adquirir o
imóvel via usucapionem, na vigência do contrato.

Quanto à presença de título:

Posse com título – é a situação em que há uma causa representativa de transmissão da


posse, caso de um documento escrito, como ocorre na vigência de contrato de locação.
Posse sem título – é a situação em que não há uma causa representativa, pelo menos
aparente, da transmissão do domínio fático. Ex: uma pessoa acha um tesouro, depósito
de coisas preciosas, sem a intenção de fazê-lo. Trata-se de ato fato jurídico.

Conceitos de jus possidendi e jus possessionis

Jus possidendi: é a posse que decorre da propriedade.


Jus possessioni: é a direito que decorre unicamente da posse. Assim na jus possidendi
há uma posse com título firmada na propriedade. Já na jus possessionis há posse sem
título, que existe por si só.

Quanto ao tempo:
Posse nova: é a que conta com menos de um ano e um dia, ou seja, é aquela com até um
ano.
Posse velha: é a posse que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, com um
ano e um dia ou mais.

Observação quanto o tempo da posse é essencial para a questão processual relativa às


ações possessórias.
Nelson Nery: Quando a turbação o esbulho datar de mais de um ano e dia, a posse
ameaçada ou violada pode ser protegida por meio de ação do rito comum. Essa ação de
força velha, contudo, mantem se com seu caráter possessório.

Quanto aos efeitos

Posse ad interdicta: constituindo regra geral, é a posse que pode ser defendida pelas
ações possessórias diretas ou interditos possessórios. Exemplificando, o locador ou o
locatário podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado por um
terceiro. Essa posse não conduz à usucapião.

Posse ad usucapionem: exceção à regra, é a que se prolonga por determinado tempo


definido em lei, admitindo-se a aquisição da propriedade por usucapião, desde que
obedecidos os parâmetros legais. A posse ad usucapionem deve ser mansa, pacífica,
duradoura por certo lapso de tempo previsto na lei, ininterrupta e com intenção de dono
(animus domini-Savigny). Além disso, em regra, deve ter os requisitos do justo título e
da boa-fé.

Efeitos matérias e processuais da posse


Quanto aos efeitos da posse, para análise do direito aos frutos é imprescindível a
verificação de boa ou má-fé.
O art.. 1214 CC diz que o possuidor de boa-fé tem direito aos frutos enquanto
ela perdurar.
Quantos aos frutos ainda não colhidos

Nelson Nery: Enquanto não percebidos, os frutos pertencem a quem foi esbulhado e
reintegrado na posse. Não pertence àquele que, ao tempo em que permaneceu nela, e de
boa-fé, tenha dado ensejo à sua produção. Reintegrado o esbulhado na posse que lhe foi
tomada tem direito aos frutos ainda pendentes, mas deve deduzir as despesas de
produção e custeio levadas a efeito pelo antigo possuidor (esbulhador). Igual destino se
dará aos frutos colhidos com antecipação: nesta hipótese ocorre exceção ao CC 1214
caput (CC/1916 510), porque, embora já percebidos, tais frutos merecem a solução legal
que se dá aos frutos pendentes.
Possuidor de má-fé

Quanto ao possuidor de má-fé, este responde por todos os frutos colhidos e


percebidos, bem como os que, por sua culpa, deixou de perceber, desde o momento em
que constituiu de má-fé. Todavia, tem o mesmo a direito à restituição de despesas com
produção e custeio.

Produto: seu destacamento do principal gera a redução do mesmo.


Frutos: Já o destacamento dos frutos não interfere na substância do objeto
principal.

Quanto à restituição dos produtos é irrelevante a indagação acerca da boa ou má-


fé do invasor/possuidor. Considerando-se que os produtos quando retirados ocasionam
perda substancial do principal, é dever de restitui-los sob qualquer hipótese.
Ainda, se a restituição for impossível é necessário que o possuidor indenize a
outra parte em perdas e danos. E deve ser equitativa ao lucro obtido com a alienação da
coisa pelo possuidor.
A restituição deve observar as disposições contidas nos arts. 884 a 886 do CC, que
vedam o enriquecimento sem causa.

Efeitos da posse em relação às benfeitorias

Benfeitorias: São bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel,


visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos
decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas.
Podem ser:
Necessárias: as essências, pois visam a conservação da coisa.
Úteis: pois aumentam ou facilitam o uso da coisa principal.
Voluptuárias: São as de mero luxo ou deleite, pois facilitam a utilidade da coisa
principal.

De acordo com o art. 1219 CC, o possuidor tem direto ao ressarcimento das
benfeitorias úteis e necessárias, bem como poderá levantar as voluptuárias quando puder
fazê-lo sem detrimento da coisa.
Além disso, poderá fazer valer o direito de retenção se não forem pagas as
benfeitorias uteis e necessárias.
Ius Retentionis: é o direito de retenção que assiste o possuidor até ser indenizado
pelas benfeitorias úteis e necessárias.
Ius Tollendi: é o direito de tolher, levantar as benfeitorias voluptuárias, se estas
não lhe forem pagas e puderem ser levantadas sem prejuízo da coisa principal.
Frise-se que o contrato de locação tem regras próprias previstas na referida lei.
Assim, são indenizáveis as benfeitorias necessárias independentemente de aquiescência
do locador e as úteis somente com a autorização do mesmo. Já as voluptuárias não são
indenizáveis, conforme a previsão do art. 36 da Lei 8245/91.
Ainda, o locatário pode renunciar a tais benefícios, conforme a dicção do art. 35
da mesma lei. Encontra consonância ainda na Súmula 335 STJ.
Acessões: Acessão é o direito em razão do qual o proprietário de qualquer bem
adquire também a propriedade de todos os acessórios que a ele aderem. É uma
modificação quantitativa ou qualitativa, isto é, o aumento do volume ou do valor do
objeto da propriedade. A acessão pode se dar pela formação de ilhas, por aluvião,
avulsão, por abandono de álveo, pela construção de obras ou plantações.
O direito de retenção aplica-se também as acessões (plantações e construções).

Benfeitorias e possuidor de má-fé

Conforme dicção do art. 1220, ao possuidor de má-fé só serão devidas o


ressarcimento das benfeitorias necessárias, não lhe assistindo o direito de retenção por
estas e nem a faculdade de levantar as voluptuárias.
Em suma, não tem direito a qualquer retenção ou de levantamento. Só será
indenizado quanto às benfeitorias necessárias.
Art. 1222. No caso de posse de má-fé o reinvindicante pode optar pelo
ressarcimento do preço atual ou do seu custo. Já o possuidor de boa-fé terá o direito
pelo preço atual da coisa.

Perda do objeto

Possuidor de má-fé Possuidor de boa-fé


Responde pela perda ou deterioração, ainda Não responde pela perda ou deterioração
que acidentais.
Ainda que proveniente de caso fortuito ou Somente se não der causa a esta.
força maior
Exceção: Salvo se provar que de igual modo
se desse se tivesse na posse do reivindicante
Ex: ladrão que rouba o veículo e depois o Ex: Comodatário não responde se ladrão
mesmo é destruído por força do fortuito. roubar o veículo do mesmo. Responde
Responde objetivamente subjetivamente.
Responsabilidade objetiva Responsabilidade subjetiva

Compensação

Por previsão expressa do art. 1221 CC, as benfeitorias compensam-se com os


danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem
Tartuce: o dispositivo permite, então, que o direito que o possuidor de má-fé teria
de ser ressarcido pelas benfeitorias necessárias sejam compensadas com os danos
sofridos pelo reivindicante, hipótese de compensação legal, pela reciprocidade de
dívidas. Contudo, se a benfeitoria não mais existia, não há que se falar em
compensação, muito menos em ressarcimento.
Posse usucapionem: é a aquisição da propriedade pela posse prolongada desde
que se preencha determinados requisitos previstos na lei.

São modalidades de usucapião: usucapião ordinária art. 1242 CC; usucapião


extraordinária art. 1238 CC; usucapião especial rural art. 1239 CC e CF; usucapião
especial urbana art. 1240 CC e CF; e usucapião urbana por abandono do lar, introduzia
pela LEI 12.424/2011. Há ainda a usucapião indígena 6001/73 Est. do Índio; usucapião
coletivo (Lei 10.257/2001 Est. da Cidade) e usucapião administrativa (Lei
11.977/2009).
Ainda, conforme inclinação à desjudiciliazação dos conflitos o Novo CPC inseriu
o art. 216-A que admitiu a usucapião extrajudicial em qualquer de suas modalidades.

Interditos possessórios

Os interditos possessórios são as ações possessórias diretas. São essas:

Ameaça à posse: cabimento de ação de interdito proibitório.


Turbação, que são atentados fracionados à posse: cabe ação de manutenção de
posse.
Esbulho, é caso de atentado consolidado à posse: Cabe ação de reintegração de
posse.
Do ponto de vista prático, esclareça se que, no caso de invasão parcial de um
terreno, a ação cabível não é a de manutenção de posse, mas a de reintegração,
conforme o correto entendimento jurisprudencial (nesse sentido, ver: TJMG, Agravo
1.0024.05.8119223/001)
Frise- se ainda que pelo princípio da fungibilidade das ações possessórias o
ajuizamento de uma ação diversa da adequada não obsta que o juiz conceda a proteção
legal devida, desde que os pressupostos estejam preenchidos.
Ainda, uma ação possessória pode ser transmudada para outra desde que se altere
a situação fática que ensejou a propositura da medida. Trata se da consagração do
princípio da instrumentalidade das formas.
Observar se á ainda o tempo de turbação ou esbulho da posse, classificando a em
posse velha ou posse nova:
 Posse nova: Se a turbação ou esbulho forem novos, ou seja, se tiverem até
um ano e um dia, caberá a ação de força nova regida pelo procedimento
especial do Novo CPC, com a liminar própria.
 Posse velha: Já no caso de posse velha, o rito aplicável será o do
procedimento comum, não cabendo a respectiva liminar. Todavia, será
cabível a tutela de urgência ou evidência prevista nos art. 300 em diante do
NCPC.
Pode se cumular ainda às ações possessórias a condenação em perdas e danos, a
indenização dos frutos, a estipulação de astreintes a desestimular nova turbação ou
esbulho e o cumprimento definitivo da tutela provisória ou final.
Frise se ainda o caráter dúplice das ações possessórias, nas quais se permite
formular pedido contraposto em favor do réu para proteção da sua posse. Pode ser
manutenção, reintegração ou proibição em seu favor.
Art. 557 - Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu,
propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de
terceira pessoa.
Conforme parágrafo único, o pleito petitório refere-se tão somente então a terceiros.
Não se discute aqui então o direito de posse fundado na propriedade.
Tartuce:
Manteve se, contudo, a regra geral de que não obsta à
manutenção ou à reintegração de posse a alegação de
propriedade ou de outro direito sobre a coisa, entre as partes,
na linha do que consta do art. 1.210, § 2.º, do CC/2002. O novo
dispositivo processual confirma, portanto, que a alegação de
exceção de domínio (exceptio proprietatis) não basta para a
improcedência da ação possessória. (pag. 620)

Assim, há inviabilidade da alegação de domínio, ou de propriedade, em sede de ação


possessória, havendo, por conseguinte , separação entre os juízo possessório (discussão de
posse) e o juízo petitório (discussão de propriedade).
Ação petitória: alegação de propriedade.
Ação possessória: alegação de posse.
Ambas não se confundem, não sendo possível embaralhar as duas.
Ainda, o art. 559 do CPC 15 prevê a possibilidade de exigência de caução nas ações
possessórias, caso o réu venha a decair na ação. Essa caução pode ser real ou fidejussória.
Serve para assegurar a indenização em perdas e danos.
De acordo com o procedimento especial do CPC 15, estando a petição devidamente
instruída poderá o juiz deferir liminar inaudita altera parte, com o fito de assegurar a posse
esbulhada ou turbada. Ou caso não seja a hipótese, designará audiência em que o autor
justificará o alegado com a citação do réu. A liminar não tem lugar quando o demandado for
pessoa jurídica de direito público. Sendo suficiente a justificação, o juiz expedirá a
concessão da tutela vindicada.
Dispõe o art. 1.211 do CC/2002 que “Quando mais de uma pessoa se disser
possuidora, manter se á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a
obteve de alguma das outras por modo vicioso”. O dispositivo trata do possuidor aparente,
que manterá a coisa enquanto se discute em sede de ação possessória ou petitória quem é o
seu possuidor ou proprietário de direito. Porém, pelo próprio dispositivo, se for
demonstrado que o possuidor aparente tem a coisa com um vício, seja objetivo ou subjetivo,
poderá esta lhe ser retirada.

Desforço imediato

Entende-se por legítima defesa da posse a faculdade que o possuidor tem de fazer
uso da força para repelir esbulho ou turbação, desde que o faça logo. Está previsto no art.
1210 CC, no par. 1º.
Aduz ainda que os atos de desforço não podem ir além do necessário para
manutenção ou restituição da posse.
Constitui forma de autotutela, independentemente de ação judicial, cabíveis ao
possuidor direto ou indireto contra terceiros.

Ameaça e Turbação: cabível a legítima defesa.


Esbulho: Desforço imediato, visando à retomada do bem esbulhado.

Características:

 A defesa da posse deve ser imediata ou incontinenti. Ver Enunciado 495


CJF: No desforço possessório, a expressão "contanto que o faça logo" deve
ser entendida restritivamente, apenas como a reação imediata ao fato do
esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via jurisdicional nas
demais hipóteses.
 Não pode exceder o limite do indispensável para retomada da posse. Agir nos
limites do exercício regular de direito, sendo que eventual excesso será
indenizável conforme previsão do art. 187 CC, que prevê o abuso de direito
como ato ilícito.
 O turbado ou esbulhado na posse pode utilizar o apoio de empregados ou
prepostos. Apesar de o art. 1210, 1º fazer menção à força própria, inclui
terceiros com quem mantém vínculos. Conforme previsão do art. 932 e 933
do CC, o empregado, comitente ou preposto que causar dano a outrem
ocasionará a responsabilidade objetiva do seu empregador.

Formas de aquisição da posse

Prevê o art. que a posse é adquirida desde o momento em que se torne possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Esses poderes
são exemplificativamente:
 Apreensão da coisa
 Exercício de direito
 Fato de disposição da coisa
 Qualquer outro modo geral de aquisição de direito.

Formas de aquisição

Existem formas de aquisição originárias e derivadas:


As formas de aquisição originárias, em que há um contato direto entre a coisa e a
pessoa, como por exemplo no ato de apreensão de bem móvel, quando a coisa não tem dono
(res nullius) ou for abandonada (res derelictae).
As formas de aquisição derivadas são sempre por intermediação pessoal. Como
exemplo, pode-se citar a tradição, que vem a ser a entrega da coisa, numa aquisição de
propriedade móvel, como no caso de compra e venda.

Tradição

A tradição pode ser:

Tradição Real: dá-se pela entrega efetiva ou material da coisa, como ocorre na
entrega de veículo vendido pela concessionária.
Tradição Simbólica: há um ato representativo da transferência da coisa, como na
entrega de chaves de apartamento. É o que ocorre na traditio longa manu, em que a coisa a
ser entregue é colocada à disposição da outra parte. O CC admite expressamente a venda
sobre documentos em que a venda de bem móvel é substituída pela entrega do documento
correspondente à propriedade.
Tradição ficta: é a que se dá por presunção, como ocorre na traditio brevi manu, em
que o possuidor possuía em nome alheio e agora passa a possuir em nome próprio (locatário
que compra o imóvel). Pode se dar também de maneira diversa como no constituto
possessório, em que o possuidor possuía em nome próprio e passa a possuir em nome de
outrem (o proprietário que vende o imóvel e continua na posse do mesmo, agora como
locatário).
O art. 1205 possibilita a aquisição da posse por meio de pessoa interposta, como
mandatário ou outro. Pode ser até mesmo sem mandato, desde que haja retificação
posterior. Nessa hipótese, haverá efeitos ex tunc.
Princípio da continuidade do caráter da posse

A posse em regra mantém os mesmos caracteres com que foi adquirida. Art. 1206 – A
posse transmite se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Sucessor Universal: continua de direito a posse de seu antecessor.
Sucessor Singular: é facultado unir sua posse à do antecessor para os efeitos legais.
Sucessão Universal – nos casos de herança legítima.
Sucessão Singular – nos casos de compra e venda, doação e legado.

A sucessão de posses é imperativa, como nos casos de sucessão universal. Já nos


casos de sucessão singular há a união, que é a faculdade de unir sua posse à anterior.
Como é uma faculdade, o atual possuidor só a usará se convier, limitando-se a sua
posse quando do seu interesse.
Enunciado 494 CJF - A faculdade conferida ao sucessor singular de somar ou não
o tempo da posse de seu antecessor não significa que, ao optar por nova contagem, estará
livre do vício objetivo que maculava a posse anterior.
Transmissão da posse
Conforme dicção do art. 1209 do CC, a posse de bem imóvel faz presumir a das
coisas móveis que nele estiverem. Trata se de presunção relativa.
Assim, havendo transmissão da posse, haverá também a transmissão dos bens que o
guarnecem. Acessório segue o principal. Princípio da gravitação jurídica.
Perda da posse
A perda da posse se dá com a perda dos atributos relativos à propriedade, cessa a
posse que é perdida, extinta.
 Se dá, por exemplo, pelos seguintes casos:
 Abandono da coisa, fazendo surgir a coisa abandonada.
 Pela tradição em qualquer de suas formas.
 Pela perda ou deterioração da coisa.
 Se se considera la como inalienável. (Não pode ser vendida)
 Pela posse de outrem, ainda que contra a vontade, não sendo este reintegrado
ou mantido na posse em tempo oportuno.
 Pelo constituto possessório.
A posse só se considerará perdida, para quem não presenciou o esbulho, quando
tendo noticia não tomar quaisquer medidas necessárias à recuperação da coisa. Ou tentando
recupera la é violentamente repelido.
A norma mantém relação com a boa fé objetiva, particularmente com a perda de um
direito ou de posição jurídica pelo seu não exercício no tempo (supressio).

Composse ou compossessão
A composse é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente,
poderes possessórios sobre a mesma coisa (condomínio de posses), o que pode ter origem
inter vivos ou mortis causa. Cite se a hipótese de doação conjunta para dois beneficiários,
que terão a posse de um imovel.
Todos os compossuidores poderão usar livremente a coisa e sobre ela exercer os
direitos da indivisão. Podem ainda exercer os atos possessórios, desde que não excluam os
dos outros compossuidores. Assim, qualquer um pode fazer uso das ações possessórias,
desde que o façam em face de terceiros, bem como o uso da autotutela.
Admite-se que um compossuidor ajuíze ação possessória em face de outro, como nos
casos de um herdeiro em face do outro.
Composse – tipos
Composse pro indiviso ou indivisível – os compossuidores têm fração ideal da posse,
pois não é possível determinar no plano fático e corpóreo qual a parte de cada um.
Composse pro diviso ou divisível – cada compossuidor sabe qual a sua parte, que é
determinável no plano corpóreo, havendo uma fração real da posse.

Propriedade
A propriedade é o poder assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida
física e moral.
Maria Helena Diniz: o direito que a pessoa jurídica ou física tem, dentro dos limites
normativos de usar, gozar, dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de
reivindicá-lo de quem injustamente o detenha.
É a sujeição do bem à vontade de seu titular, proprietário.
É um direito constitucionalmente assegurado, mas que deve observar sua função
social em prol da coletividade. É preenchida a partir dos atributos do art. 1228 CC, além de
outros direitos.
Álvaro Villaça – Para o Direito das Coisas, e também da propriedade, o objeto dos
mesmos são os bens corpóreos de valor econômico, que podem ser tocadas com a ponta dos
dedos.

Atributos da propriedade

Estão previstos no art. 1228: usar, gozar, dispor, e direito de reaver de quem
injustamente a detenha.
Gozar ou fruir da coisa: é a possibilidade de retirar os frutos da coisa, que podem ser
naturais, industriais ou civis (frutos civis são os rendimentos). Ex: o proprietário pode loca
lo a quem bem entender.
Direito de reivindicar de quem injustamente o detenha: será exercido por meio da
ação petitória, fundada na propriedade, sendo a mais comum a ação reivindicatória. Nesta o
autor deve provar ser proprietário do bem, através do registro e descrevendo o imóvel nas
suas confrontações. O caput do 1228 possilita o uso da petitória contra, por exemplo, um
caseiro, que ocupa o imóvel em nome de um invasor (injusto possuidor).
Usar a coisa: esse atributo encontra limitação na CF88. Ex: regras quanto à
vizinhança e em leis especificas.
Faculdade de dispor da coisa: seja por ato inter vivos ou mortis causa – Ex; pode se
citar a compra e venda, a doação e o testamento.

Acróstico GRUD – Gozar, reaver, usar e dispor

Frise-se que o proprietário pode não ter todos os atributos inerentes à propriedade,
sendo a propriedade restrita. Assim, admite a classificação:
Propriedade Plena: o proprietário tem o poder todos os atributos da propriedade,
quais sejam, a faculdade de gozar, usar, reaver e dispor da coisa. Concentram se totalmente
em uma só pessoa.
Propriedade Limitada ou Restrita: recai sobre a propriedade algum ônus, como no
caso da hipoteca, servidão ou usufruto, ou quando a propriedade for resolúvel, dependente
de condição ou termo. Art. 1359 CC. Alguns desses atributos podem ser de outros,
constituindo direito real sobre coisa alheia.
Assim, a propriedade limitada divide-se em:
 Nua propriedade: corresponde à titularidade do domínio, ao fato de ser
proprietário e de ter o bem em seu nome. Costuma-se dizer que a nua
propriedade é aquela despida de atributos do uso e da fruição (atributos
diretos ou imediatos)
 Domínio útil – corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da coisa .
Dependendo dos atributos que possui a pessoa recebe um nome diferente:
superficário, usufrutuário, promitente comprador. Ex: No usufruto, percebe-se
uma divisão proporcional dos atributos da propriedade: o nu-proprietário
mantém os atributos de dispor e reaver a coisa, enquanto que o usufrutuário
tem os atributos de usar e fruir a coisa.

Domínio: é instrumentalizado pelo direito de propriedade. Consiste na titularidade do bem.

Características do Direito de Propriedade

Direito absoluto, em regra, mas que deve ser relativizado em algumas situações: Pela sua
oponibilidade erga omnes muito se defende o caráter absoluto da propriedade. Contudo,
como todo direito fundamental, este deve ceder em prol do interesse maior da coletividade.
Frise-se como limitador do direito de propriedade a função social da mesma e
socioambiental da propriedade. Ex: impossibilidade de desmatamento de mata ciliar, ou a
previsão constante do art. 1228 CC, § 2º.

Direito Exclusivo: determinado coisa não pode pertencer a mais de uma pessoa, salvo as
hipóteses de condomínio e de copropriedade, que ainda não lhe retiram a exclusividade.
Contudo, como dito anteriormente, a propriedade envolve interesses que perpassam a
vontade de seu dono, envolvendo o interesse da sociedade, que espera o atendimento da
mesma à função social da propriedade.

Direito perpétuo: o direito de propriedade permanece independentemente de seu exercício,


enquanto não houver causa modificativa ou extintiva, sejam elas de origem legal ou
convencional.

Direito elástico: é a possibilidade de fracionamento quanto ao seu exercício, retirando-lhe


ou adicionando lhe algum ou alguns atributos da propriedade.

Direito Complexo: por toda a complexidade acima exposta, dentre as quais pode se destacar
os seus atributos:

Direito Fundamental: encontra guarida no art. 5º, XXII e XXIII da CF88.

Função Social da Propriedade

Consta do § 1º do art. 1228 do CC que diz que o direito de propriedade deve ser
exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que
sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a
poluição do ar e das águas.
A norma adota o princípio em questão como finalidade, algo que deve ser buscado,
que deve ser de baliza, representado limitação ao direito em questão.
Carlos Alberto Maluf – Professor USP – a socialização progressiva da propriedade,
orientando-se pelo critério da utilidade social para maior e mais ampla proteção aos
interesses e necessidades comuns.
Abandona-se então o caráter absoluto da propriedade, que se relativiza sobretudo
frente às necessidades coletivas e sociais, considerando-se que a propriedade não deve
servir de maneira absolta – e até inconsequente – ao seu proprietário, mas à coletividade
como um todo, num sentido de não prejudicá-la.
Não se pode confundir ainda o conceito de função social e aproveitamento
econômico, uma vez que pode máximo aproveitamento econômico e lesão à função social
da propriedade ou da posse. Ocorre quando, por exemplo, o proprietário não promove o
aproveitamento racional e adequado da terra, ou não utiliza os recursos materiais
disponíveis, ou não promove o bem-estar dos trabalhadores (CF, art. 186).
Assim, não se pode dizer que o aproveitamento econômico ou fins econômicos que
orientam a função social da propriedade.
Em ambos os casos, deve-se compreender a função social da propriedade com
dupla intervenção: limitadora e impulsionadora, como bem leciona José de Oliveira
Ascensão.
Art. 186 CF – Princípios observadores da função social da propriedade:
 Aproveitamento racional e adequado da propriedade
 Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente
 Observância das disposições que regulam as relações de trabalho
 Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores

Função socioambiental da propriedade

A codificação civil elastece o conceito de função social e inclui também a


observância da preservação ambiental como pressuposto de aplicação da mesma.
Assim, o proprietário de uma fazenda deve ter o cuidado de preservação das
espécies da flora em extinção, bem como do cuidado do leito dos rios. Assim como o
proprietário de imóvel urbano deve ter cuidado para não danificar imóvel vizinho tombado
como patrimônio cultural brasileiro.
Como concreto exemplo de aplicação da função socioambiental da propriedade, o
Superior Tribunal de Justiça tem entendido que o novo proprietário de um imóvel é
obrigado a fazer sua recuperação ambiental, mesmo não sendo o causador dos danos.
Ainda, insta verificar que alguns acórdãos mais recentes consideram a obrigação de
recuperação ambiental uma obrigação propter rem ou ambulatória, que segue a coisa
onde quer que ela esteja.

Ato emulativo: previsto no art. 1228, §2º, prevê a proibição de atos que não tragam
qualquer vantagem pro proprietário, ou utilidade e sejam animados pela intenção de
prejudicar outrem.
Trata-se aqui de mais uma limitação ao direito de propriedade, que não pode ser
abusivo. De leitura rápida do enunciado, entende-se, equivocadamente, que apenas o ato
doloso que vise a prejudicar alguém é proibido.
Contudo, o art. 187 prevê o abuso de direito e não faz referência ao dolo ou culpa.
Comete abuso de direito o titular de direito que ao exerce lo excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé e pelos bons costumes.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Ainda, o ato abusivo do direito de propriedade pode se configurar ainda que o
proprietário obtenha vantagem, mesmo que haja mera satisfação pessoal. Como no caso de
proprietário que promova sucessivas festas em apartamento, incomodando de maneira
inconveniente seus vizinhos.

Restrição do direito de propriedade – Desapropriação por interesse social ou requisição


em caso de perigo público iminente
Art. 1228 CC, § 3º - O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no caso
de perigo público iminente.
Extensão Vertical da Propriedade – Art. 1229 CC - A propriedade do solo abrange
a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu
exercício, não podendo o proprietário opor se a atividades que sejam realizadas, por
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi
las”. A propriedade vai do céu ao inferno.
Por essa razão, o direito à extensão das faculdades do proprietário é exercido
contra terceiro tão somente em face de ocorrência de conduta invasora e lesiva que lhe
traga dano ou incômodo ou que lhe proíba de utilizar normalmente o bem imóvel,
considerando suas características físicas normais.
Frise-se que o proprietário é obrigado ainda a possibilitar a passagem de agua e de
cabos que interessam ao bem comum.
Ainda, eventuais jazidas, poços, minas, recursos minerais, monumentos
arqueológicos não são abrangidos pelo direito de propriedade. Consigne-se que conforme
inteligência do art, 176 da CF88, as jazidas em lavra ou não e demais recursos minerais e os
potenciais de energia hidráulica pertencem a União Federal, garantida ao concessionário a
propriedade do produto da lavra.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Conforme art. 1230 do CC, o proprietário do solo tem o direito de explorar os
recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos à
construção civil. Assim, o proprietário de um imóvel pode vender a areia que está em
sua propriedade, para que ela seja empregada na construção civil.
Contudo, essa extração de areia não pode causar danos ambientais ou
ecológicos, devendo ser respeitados os parâmetros que constam da legislação ambiental
e do art. 1228 CC, § 1º CC.
De acordo com o art. 1231, a propriedade presume-se plena e exclusiva até
prova e contrário. Ainda, dispõe o art. 1232 do CC que os frutos e produtos da coisa
pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo disposto em preceito
jurídico especial, que os destinar a outro. Eis o principio da gravitação jurídica, que
comporta exceção por acordo das partes – negocio jurídico- ou disposição de lei.
Desapropriação judicial privada por posse trabalho
O Código Civil de 2002 prevê outra hipótese de perda da propriedade do seu art.
1228, § 4º e 5º, trazendo como conteúdo a função social da posse e do domínio.
Assim, de acordo com a norma o “proprietário também pode ser privado da
coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-
fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de
interesse social e econômico relevante”
Eis aqui uma modalidade de desapropriação e não de desapropriação, como
defendido pela doutrina. Isso porque o § 5º consagra o direito de uma justa indenização,
não admitindo o nosso sistema jurídico a usucapião onerosa.
Diferenças entre a desapropriação e usucapião
Usucapião Desapropriação
Os ocupantes devem ser de baixa renda Não há essa necessidade
Área mínima de 250 m Inexigivel neste caso, bastando ser uma
extensa área
Somente se aplica aos imóveis urbanos Pode ser aplicada aos imóveis urbanos ou
rurais
Não há direito à indenização Há direito indenizatório

Posse trabalho – Posse ininterrupta, de boa-fé, por mais de 5 anos, traduzida em


trabalho criador, feito em conjunto ou separadamente, quer se concretize na realização
de um serviço ou construção de uma morada, quer se manifeste em investimentos de
caráter produtivo ou cultural. Maria Helena Diniz
Forma de desapropriação privada, pois se concretiza no interesse direto e
particular daquelas pessoas que, em número considerável ocuparam aquela área.
Seguindo a linha filosófica da atual codificação civil, pode se dizer que a posse
trabalho constitui uma cláusula geral, um conceito aberto e indeterminado a ser
preenchido caso a caso.
Essa previsão legal traz uma serie de preceitos de origem legal e conceito
indeterminado, tais como extensa área, considerável numero de pessoas, boa-fé,
interesse social e econômico.
Ainda, a doutrina divergia sob a constitucionalidade da desapropriação em tela.
Contudo, o posicionamento majoritário é o que afirma a legalidade/constitucionalidade
do mesmo.
Conforme enunciado 83 da CJF, a desapropriação judicial por posse trabalho é
inaplicável contra as terras de domínio de entes públicos,, já que não são passiveis de
usucapião.Contudo, admite-se a aplicação da desapropriação desde que se trate de bens
públicos dominicais.
A desapropriação judicial por posse trabalho deve ser arguida como matéria de
defesa em ação reivindicatória proposta pelo proprietário do imóvel.
A indenização devida deverá ser paga pelos próprios invasores, conforme dicção
do Enunciado 84 da I JDC. Contudo, se se tratar de pessoas de baixa renda, e havendo
intervenção do Estado, por medida de política urbana ou agrária, devendo ser suportada
pela Administração Pública. Enunciado 308 do CJF.
Ainda, o Enunciado 240 CJF aduz que a indenização cabível não será
necessariamente a resultante de avaliação técnica do imóvel, sendo indevidos os juros
compensatórios.
Ainda, o enunciado 241 da CJF condiciona o registro efetivo/transferência do
imóvel ao pagamento da indenização devida, sendo que até a transferência do mesmo
este continua com o domínio no proprietário “antigo”. Nos casos de desapropriação
judicial, dado o interesse coletivo, o MP deve atuar como “custus legis”.
Propriedade resolúvel e propriedade fiduciária
A propriedade resolúvel é aquela que pode ser extinta pelo advento de condição
(Evento futuro e incerto) e ou termo (evento futuro e certo), quer pela ocorrência de
causa que vá destruir a relação jurídica.
Cite-se o exemplo de compra e venda com clausula de retrovenda, em que o
vendedor tem a possibilidade de reaver a coisa em até 3 anos (art. 505 CC). Ainda, há a
hipótese de propriedade resolúvel de venda com reserva de domínio (art. 521 CC).
Neste instituto, na venda de coisa imóvel, pode o vendedor reservar para si a
propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.
Compra e venda com claúsula de retrovenda – Até o prazo de 3 anos, a venda é
meramente resolúvel, bem como na venda com reserva de domínio, em que o
comprador só será dono com a quitação integral do débito.
Ainda, como possibilidade de propriedade resolúvel, cite se a possibilidade de
doação com clausula de reversão. Nesta, acaso o donatário venha a falecer, os bens
retornarão ao doador que estiver vivo.
Conforme art. 1359 do CC, resolvidos a propriedade por advento do termo ou
implemento da condição, entende-se também resolvido os direitos reais concedidos na
sua pendência. Assim, caso haja o implemento da condição ou termo, o proprietário
pode reclama-la de quem a possua ou detenha. Está no plano da eficácia do negócio
jurídico e não de a validade.
Se a propriedade se extinguir por outra causa superveniente, o proprietário
resolúvel não poderá toma la de outrem que a possua em virtude de titulo anterior à sua
resolução, cabendo lhe ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a
própria coisa ou o valor. (art. 1360 CC)
“A resolução da propriedade, quando determinada por causa originária,
prevista no título, opera ex tunc e erga omnes; se decorrente de causa superveniente,
atua ex nunc e inter partes” (Enunciado n. 509 do CJF/STJ).
Já no art. 1361 a 1361 B, o CC disciplina a propriedade fiduciária, que é uma
modalidade de propriedade resolúvel. Considera se fiduciária a propriedade resolúvel de
coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor.
Formas de aquisição da propriedade imóvel

Como ocorre com a posse, a propriedade também pode ter formas de aquisição
originarias e derivadas. Nas originárias, há um contato direto da pessoa com a coisa,
sem intermediação pessoal. Já nas derivadas, há intermediação subjetiva.

Aquisição originaria Aquisição Derivada


Acessões Registro imobiliário
Usucapião Sucessão hereditária
É de grande importância a verificação acerca do modo de aquisição da
propriedade, visto que a pessoa que adquire a propriedade de maneira originaria a
adquire sem que conserve características anteriores. Adquire-a “resetada”.
Ex: numa aquisição originaria por usucapião, o novo proprietário não e
responsável por dividas anteriores, como por exemplo as dividas tributarias. Já numa
forma de aquisição derivada, ele é responsável por dividas anteriores tal qual acontece
num caso de compra e venda. Se imóvel gravado por hipoteca é adquirido por
usucapião, a hipoteca estará extinta. Lado outro, a hipoteca persiste num caso de compra
e venda de imóvel.

Acessões naturais e artificiais

Constituem modo originário de aquisição da propriedade imóvel, passando a


pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado de forma natural ou artificial.

Acessões naturais: formação de ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono do álveo.


Acessões artificiais: plantações e construções.

Formação de ilhas

A ilha é o acumulo gradativo de areia, cascalho e materiais levados pela


correnteza ou pelo rebaixamento das aguas deixando descoberto e a seco uma parte do
fundo ou do leito.
Frise se que nesta matéria só há discussão acerca das ilhas formadas em aguas
não navegáveis e particulares, pois pertencem ao domínio particular. Já as ilhas fluviais
e lacustres de zonas de fronteira, ilhas oceânicas pertencem à União, Estado ou
Município.
Polêmico: sob a égide da CF88, quaisquer aguas seriam de domínio público,
impossibilitando a formação de ilhas particulares.
A despeito do notável entendimento, o que é pacificado hoje é que as aguas não
navegáveis são particulares e as aguas navegáveis são públicas.
Assim, se a ilha se formar entre correntes comuns ou particulares, estas
pertencem aos ribeirinhos fronteiriços.

1 Regra. As ilhas que se formarem no meio do rio consideram-


se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de
ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que
dividir o álveo em duas partes iguais.
2 Regra. As ilhas que se formarem entre a referida linha e uma
das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos
fronteiros desse mesmo lado.
3 Regra As ilhas que se formarem pelo desdobramento de um
novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos
terrenos à custa dos quais se constituírem.

Aluvião
Aluvião própria - É o acréscimo paulatino de terras às margens de um curso de
água, de forma lenta e imperceptível, depósitos naturais ou desvios da água. Esses
acréscimos pertencem aos donos das terras marginais, seguindo a regra de que o
acessório segue o principal.
Aluvião impropria – São as partes descobertas pelo afastamento das aguas de um
curso, hipótese em que a agua vai, o rio vai embora. O rio se afasta pelo se
esvaziamento, surgindo nova porção de terra para o proprietário lindeiro.

Avulsão
Ocorre quando que por força natural violenta uma porção de terra se destacar de
um prédio e juntar se a outro, o dono deste adquirira a propriedade do acréscimo, se
indenizar o dono do primeiro, ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver
reclamado. A avulsão é uma faixa de terra avulsa, que se desloca de um terreno, por
força natural de corrente, para se juntar a outro.
Este prazo tem natureza decadencial. 1 ano. O paragrafo único, lado outro,
dispõe que havendo discordância do proprietário beneficiado em indenizar a parte
prejudicada, deverá concordar que se remova a parte acrescida.
1º Lugar: Indenização
2º Lugar: Retirada da parte acrescida, com ajuizamento de ação
caso necessário.

Álveo abandonado
O álveo é a parte que as aguas encobrem sem transbordar para o solo natural e
ordinariamente enxuto. Assim, o álveo abandonado é a parte do rio ou corrente de agua
que secou. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das
duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as aguas
abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do
álveo.
Usar por analogia a formação de ilhas.

Plantações e construções
Além das acessões naturais, prevê o Código ainda como forma de aquisição
originaria de propriedade imóvel, as acessões artificiais relativas às plantações e às
construções (art. 1253 a 1259). Como regra fundamental, dispõe o art. 1253, presume-se
que toda plantação ou construção em um terreno presume se relativamente feita pelo
proprietário e à sua custa, permitindo prova em contrário. Princípio da gravitação
jurídica – Acessório segue o principal.

1.ª Regra. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com
sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica
obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de
má-fé (art. 1.254 do CC).

Um amigo guarda cimento para o outro. Posteriormente, este usa o cimento para
construção de galpão. A propriedade ficará com o mesmo, mas este terá de ressarcir o
outro, sem prejuízo de perdas e danos, pois agiu de má fé.

2.ª Regra. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em
proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-
fé, terá direito a indenização. Se a construção ou a plantação exceder
consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou
edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização
fixada judicialmente, se não houver acordo (art. 1.255 do CC, caput e parágrafo
único).
Exemplifique, que alguém esteja na casa de parente que viajou ao exterior.
Aquele constrói então uma piscina nessa casa. Contudo, sabendo que a propriedade não
era sua, este agiu de má fé não tendo direito a qualquer ressarcimento sobre a coisa. Já
se agiu de boa fé terá direito à indenização, como no caso da construção de algo que
visava a proteção do imóvel, como um muro de arrimo.
Lado outro, se a construção foi feita de boa fé e o valor desta for superior ao do
imóvel, aquele que construiu ou plantou terá a propriedade do imóvel, tendo apenas que
pagar uma indenização ao dono do imóvel, que, caso necessário, seria fixada
judicialmente.
Esse último dispositivo, novidade no atual Código Civil, acaba por considerar
como principal a plantação ou construção, fazendo com que o terreno o acompanhe,
consagração do que se denomina como acessão inversa ou invertida, o que está de
acordo com o princípio da função social da propriedade.
3.ª Regra. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as
sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Presume-se má-fé do proprietário quando o trabalho de construção, ou lavoura,
se fez em sua presença e sem impugnação sua (art. 1.256 do CC, caput e
parágrafo único).

Exemplificando, o proprietário permite que outrem construa às suas próprias


expensas piscina no fundo do seu quintal, pensando este que poderia adquirir o domínio
do imóvel. Assim, ambos almejam enriquecimento sem causa. A conclusão é que o
proprietário ficará com a casa, mas deverá indenizar o outro pelos gastos despendidos.
4.ª Regra. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo
alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de
boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder
o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da
área perdida e a desvalorização da área remanescente (art. 1.258, caput, do CC).

Ex: Alguém constrói uma churrasqueira em sua propriedade e este ultrapassa


para o terreno vizinho em proporção não superior a 5%. Se foi feita de boa fé, não
sabendo o construtor da invasão, poderá adquirir a parte invadida, desde que a
construção exceda o que invadiu. Contudo, deverá indenizar o proprietário da terra
invadida e pela desvalorização do imóvel.

5.ª Regra. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos no artigo 1.259, o


construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em
proporção à vigésima parte deste e se o valor da construção exceder
consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem
grave prejuízo para a construção (art. 1.258, parágrafo único, do CC).

A mudança principal que ocorre em comparativo com a regra anterior é a


previsão de má fé por parte do construtor, aumentando a indenização no caso de má fé,
desde que a invasão não supere o quantum de 5% da área invadida e não sendo possível
ainda a demolição da construção invasora.
Enunciado 318 CJF - O direito à aquisição da propriedade do solo em favor
do construtor de má-fé (art. 1.258, parágrafo único) somente é viável quando, além
dos requisitos explícitos previstos em lei, houver necessidade de proteger terceiros de
boa-fé.
6.ª Regra. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a
vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e
responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à
construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente.
Se o construtor estiver de má-fé, será obrigado a demolir o que nele construiu,
pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro (art. 1.259 do
CC).

Trata-se aqui de regra de invasão que exceda à vigésima parte ou os 5%. Se o


invasor estiver de boa-fé adquirirá a parte da propriedade invadida, mas responde pelas
perdas e danos que o valor acrescer a sua construção, ao valor da área perdida e ao
correspondente a deterioração do valor da área remanescente.
Frise-se que dificilmente uma invasão de maior monta será guiada pela boa fé.
Lado outro, nesta mesma invasão que exceder a 5% ocorrendo de má fé, o
proprietário do imóvel invadido poderá requerer a demolição, sendo cabível, do ponto
de vista processual, a ação demolitória. Ainda, poderá pedir perdas e danos em dobro.

Da Usucapião de bens móveis

É uma situação de aquisição de domínio ou mesmo de outro direito real (caso do


usufruto ou servidão), pela posse prolongada. Assim, a lei permite que uma situação de
fato prolongada por certo intervalo de tempo se transforme em uma situação jurídica,
constituindo modo de aquisição originária da propriedade. A usucapião garante a
estabilidade da propriedade, fixando prazo, além do qual não se pode mais levantar
dúvidas a respeito de ausência ou vícios do título da posse.
Atende, desse modo, a função social da propriedade.
Consigne-se que os atos de era tolerância não geram a posse ad usucapionem,
não sendo possível alega las num contrato de comodato ou locação. Ainda, não é
possível alega las em relação ao condomínio, como no caso de herança, em que os
herdeiros já se imiscuem na posse desde a morte do sucedido.
** Mas há interessante julgado do STJ que admite nestes casos a aquisição,
tendo em vista a boa-fé objetiva e a supressio, em houve a usucapião de área comum –
parte do corredor – que dava acesso aos apartamentos. Houve inércia dos condôminos
por vinte anos, caso em que, perderam o direito de reclamar a coisa fundado na
propriedade.

Características da posse ad usucapionem

Posse com intenção de dono – conceito de Savigny. Este não está presente em casos
nos quais há contrato de locação, comodato e depósito. Contudo, é possível a alteração
na causa da posse (intervessio possessionis), admitindo-se a usucapião em casos
excepcionais. Ex: contrato de locação de 30 anos, nos quais não há pagamento há 20 e o
proprietário desapareceu.

Posse mansa e pacífica – exercida sem a oposição do proprietário. Havendo


manifestação contrária, desaparece o requisito da mansidão.

Posse contínua e duradoura e com determinado lapso de tempo – posse sem


intervalos, sem interrupção. Como exceção à regra, o art. 1243 admite a some de posses
sucessivas ou acessio possessinis. Ressalte se que conforme entendimento do enunciado
497 da CJF , o prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo,
ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor.

Posse justa – a posse ad usucapionem deve apresentar se sem os vícios objetivos. Ou


seja, não pode ter sido obtida por meio de violência, clandestinidade ou precariedade. Se
assim o for, esta não induzirá posse enquanto não cessar a violência ou clandestinidade.
Tartuce se posiciona favoravelmente à convalescência da posse precária.

Posse de boa-fé e com justo título, em regra – Para usucapir bem móvel ou bem
imóvel, exige-se a boa-fé e o justo título. Lado outro, em alguns casos dispensa-se a
presença desses elementos havendo presunção absoluta ou iure et de iure de sua
presença.

O art. 1243 CC admite ainda a contagem da posse com a dos seus antecessores,
contanto que sejam contínuas, pacíficas com justo título e com boa-fé. Assim, um
herdeiro pode continuar com a posse do de cujus para fins de usucapião. Trata-se da
acessio possessionis, que vem a ser a soma dos lapsos temporais entre os sucessores,
seja inter vivos ou mortis causa.
Especificidades quanto a prazos na usucapião

 Não correm prazos de usucapião entre os cônjuges. Consigne-se que na


usucapião urbana de abandono de lar é uma exceção à regra.
 Não há usucapião entre descendente e ascendente durante o poder familiar, em
regra, até o menor completar 18 anos.
 Não correrão também os prazos entre tutelados/ curatelados e tutores/curadores.
 Os prazos de usucapião não correm contra os absolutamente incapazes.
 Não se conta os prazos contra os ausentes do país em serviço público da União.
 Não se conta contra os que estiverem servindo as Forças Armadas em tempo de
guerra.
 Não se conta o prazo se pendente condição suspensiva, caso de a propriedade
estiver sendo discutida em ação reivindicatória.
 Não se adquire por usucapião estando pendente prazo para aquisição do direito.
 Não haverá contagem se pendente ação de evicção.
 Se o interessado promover a ação cabível ainda que no juízo incompetente,
haverá interrupção do prazo prescricional, conforme art. 240 CPC.
 O prazo prescricional não corre se depender de apuração de fato que deva ser
apurado no juízo criminal, até a sentença definitiva.
 Interrompe se pelo protesto judicial.
 Qualquer ato judicial que constitua em mora o possuidor interrompe o prazo.
 Interrompe ainda a apresentação do título de credito em juízo de inventário ou
concurso de credores.

Modalidade de usucapião de bens imóveis

Usucapião ordinária – art. 1242 CC – Estabelece que aquele que se mantem na posse
de maneira continua e incontestadamente por 10 anos adquire a posse, se tiver boa fé e
justo título.

 Posse mansa e pacifica com animus domini.


 Justo título
 Boa-fé, no caso, a boa-fé subjetiva existente no campo intencional ou
psicológico.

A expressão justo título abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a
transferir a propriedade independentemente de registro. Deve ser considerado como Commented [T1]:
justo título o documento particular de compra e venda, independente de registro ou não
em Cartório de Imóveis.
Ainda, o parágrafo único do referido artigo reduz o prazo para aquisição por
usucapião na modalidade usucapião ordinária por posse trabalho. Nesta, se o imóvel foi
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do cartório, ainda que
cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a moradia
ou realizado investimentos de interesse econômico e social. Prestigia se a função social.
Ainda, questiona-se acerca da imprescindibilidade de titulo que venha a ser
cancelado posteriormente, como no caso da anulação de compromisso de compra e
venda. Tartuce defende a flexibilização deste requisito, tal que a finalidade de tal
previsão é prestigiar a posse trabalho fazendo com que o prazo caia pela metade.
Prevalece a função social da posse.
Esta modalidade de usucapião, consagrada no parágrafo único, pode ser alegada
em matéria de defesa, independentemente do ajuizamento de ação de usucapião.

Usucapião extraordinária – art. 1238 CC – o requisito da usucapião extraordinária é a


existência de posse mansa e pacifica, sem oposição, ininterrupta, com animus domini
por 15 anos.

Aqui, há a prescindibilidade do requisito da boa-fé e de título. Há uma presunção


iure et de iure da presença desses elementos. Há, ainda, redução do prazo, se o
possuidor estiver estabelecido nesta sua moradia habitual ou houver realizado obras ou
serviços de caráter produtivo, ou seja, a posse trabalho.

Da usucapião constitucional ou especial rural – pró labore (art. 191 da CF88, art 1239
CC e Lei 6969/81)

Trata-se da usucapião agraria, que tem os seguintes requisitos:

 A área não pode ser superior a 50ha e deve ser na zona rural.
 Posse por 5 anos ininterruptos, sem oposição e com animus domini.
 O imóvel deve ser utilizado para subsistência ou trabalho (pro labore), podendo
ser na agricultura, pecuária. A terra tem que ser produtiva por sua força de
trabalho ou da família.
 Quem pretende usucapir o imóvel não pode ser proprietário de outro imóvel,
urbano ou rural.

Não há a exigência de que haja justo titulo ou boa fé, sendo uma presunção
absoluta, dada a destinação do imóvel, atendendo a função social da propriedade.
É possível adquirir a propriedade de área menor do que o módulo rural estabelecido
para a região, por meio da usucapião especial rural” (Enunciado n. 594).
Ainda, editou se enunciado no sentido de não ser possível a usucapião de imóvel
que supere o valor máximo permitido na lei. Tartuce, no entanto, defende flexibilização da
norma em questão, admitindo se os mesmos excederem por pouco os limites previstos, à
medida de que deve servir como parâmetro a função social da posse e não critério
numérico.
Usucapião extraordinária constitucional ou especial urbana – pro misero (art. 183 da
CF88 art. 1240 CC)

Poderá ser adquirido por homem ou mulher, ou ambos independente de estado civil.
Tem como requisitos:

 Posse mansa e pacifica por cinco anos ininterruptos sem oposição, com animus
domini
 Área de até 250m²
 Para fins de moradia ou da sua família
 Não seja possuidor de outro imóvel urbano ou rural, não podendo a usucapião
especial urbana ser deferida mais de uma vez. Atende ao direito mínimo de
moradia.

Conforme previsão do art. 9, § 3º da lei 10257/2001, o herdeiro legitimo


continua de pleno direito na posse de seu antecessor desde que resida no imóvel quando
da abertura da sucessão. Privilegia se aqui o instituto da acessio possessionis. Contudo,
a soma das posses para efeito de usucapião especial urbano só pode ser por ato mortis
causa e não por ato inter vivos, constituindo exceção à soma das posses do art. 1243
CC.
Não há, ainda, neste caso menção a posse de boa fé e justo título, constituindo
presunção absoluta de sua ocorrência. Admite se a espécie em questão para a usucapião
de unidades autônomas ainda que em condomínios edilícios. Neste ainda deve se levar
em conta a apenas a área individual pertencente ao possuidor e não à área comum
correspondente.
Ainda, não obsta o reconhecimento de que a área seja inferior ao respectivo
modulo urbano – que é a previsão de área mínima a ser observada no parcelamento de
solo previsto no plano diretor do município.

Usucapião urbano por abandono do lar –previsto pela Lei 12424 de 2011, inserindo o
art. 1240 A no CC2002.
Requisitos:

 Posse mansa e pacifica por 2 anos ininterruptos, sem oposição;


 Exercida com exclusividade, com abandono do lar;
 Imóvel de até 250 m²;
 Ser coproprietário com ex cônjuge ou ex companheiro que abandonou o lar;
 Utilização para fins de moradia ou da família;
 Desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural;

Ainda, conforme a usucapião especial urbana, este manteve também a limitação


de que esta modalidade de aquisição só pode ser concedida uma única vez, não podendo
ainda ser possuidor de outro imóvel urbano ou rural.
Frise-se que se houver disputa judicial ou extrajudicial relativa ao imóvel, há
inaplicabilidade do preceito em questão, não sendo o caso de subsunção do preceito.
Ainda, o ex cônjuge afastado pode notificar extrajudicialmente o ex-consorte,
interrompendo o cômputo do prazo.
O requisito de afastamento do lar deve ser analisado conjuntamente com outros
sinais de descumprimento do dever conjugal, como a assistência material e dever de
sustento do lar.
Não se admite o abandono do lar como requisito, se este for oriundo de violência
praticado por um cônjuge em relação ao outro. Expulsão não pode ser comparada ao
abandono.
Enunciado 595 - O requisito do ‘abandono do lar’ deve ser interpretado na
ótica do instituto da usucapião familiar como abandono voluntário da posse
do imóvel somando à ausência da tutela da família, não importando em
averiguação da culpa pelo fim do casamento ou união estável.
Enunciado n. 498 - A fluência do prazo de 2 anos, previsto pelo art. 1.240ª
para a nova modalidade de usucapião nele contemplada com a tem início em
vigor da Lei n. 12.424/2011.

É a aplicação de direito intertemporal.


Não se exige ainda para a usucapião por abandono de lar o divórcio, bastando
apenas a separação de fato.

Usucapião especial urbana coletiva Lei 10257/2001

A área urbana maior que 250m2, ocupadas por população de baixa renda para
sua moradia, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível
identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, podem ser usucapidas
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.

Requisitos

 Área urbana, havendo limitação mínima de 250 m².


 Posse de cinco anos ininterruptos, sem oposição, com animus domini.
Como se pode perceber, não há exigência de que a posse seja de boa-fé.
 Existência no local de famílias de baixa renda, utilizando o imóvel para
moradia, nos termos do art. 6.º, caput, da CF/1988.
 Ausência de possibilidade de identificação da área de cada possuidor.
 Aquele que adquire não pode ser proprietário de outro imóvel – rural ou
urbano.
Admite-se que o possuidor conte a sua posse com a do seu antecessor, contanto
que sejam continuas. Processualmente, a usucapião será declarada pelo juiz na sentença
que servirá de título para registro no cartório de imóveis (art. 10, § 2º). Nesta o juiz
estabelecerá frações iguais para cada possuidor, independentemente do terreno que
ocupe, salvo acordo entre os condôminos para estabelecimento de porção diversa.
Ainda, essa porção de terra usucapida formará um condomínio a favor dos
usucapientes, constando da sentença.

Usucapião especial indígena – art. 33 da Lei 6001/1973

Prevista no Estatuto do Índio, aduz que o índio, integrado ou não, que ocupe
como próprio faixa de terra inferior a 50ha, por 10 anos consecutivos, adquirir-lhe-á a
propriedade.
Requisitos
 Posse mansa e pacífica por 10 anos, exercida por indígena.
 Área não superior a 50ha.
Usucapião administrativa – Art. 60 da Lei 11977/2009

No presente contexto, é possível que o Poder Público legitime a posse de


ocupantes de imóveis públicos ou particulares, nos termos do art. 59 da norma, aqui
antes exposto (“A legitimação de posse devidamente registrada constitui direito em
favor do detentor da posse direta para fins de moradia”). Tal legitimação da posse será
concedida aos moradores cadastrados pelo Poder Público, desde que: a) não sejam
concessionários, foreiros ou proprietários de outro imóvel urbano ou rural; e b) não
sejam beneficiários de legitimação de posse concedida anteriormente.

pg. 661

You might also like