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Admitir essa teoria é negar existência a locação, comodato, depósito, pois de acordo
com a mesma, esses não seriam possuidores, pois não já qualquer intenção de se tornar
dono. Em regra, essa teoria não foi adotada pelo Código Civil de 2002. A teoria
subjetiva da posse somente ganha relevância na usucapião, modalidade de aquisição da
propriedade.
Teoria Objetiva ou Objetivista de Ihering – Para a configuração da posse basta que
a pessoa disponha fisicamente da coisa, ou que tenha a mera possibilidade de exercer
esse contato. Essa corrente dispensa a intenção de ser dono, tendo como elemento
apenas o Corpus.
Corpus – é formado pela atitude externa do possuidor em relação à coisa, agindo
este com o intuito de explora-la economicamente. O corpus se configuraria apenas na
intenção de explorar a coisa economicamente, não necessariamente com a intenção de
ser dono.
O Código Civil de 2002 assenta-se indubitavelmente na Teoria objetiva de Ihering,
que dispensa a intenção de ser dono para a configuração da posse.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato
o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
Basta o exercício de algum dos atributos do domínio para que a pessoa seja
considerada possuidora. Assim, o usufrutuário, o depositário e o locatário são
considerados possuidores, podendo fazer uso das ações possessórias. Pela atual
codificação privada, pode se dizer que todo proprietário é possuidor, mas nem todo
possuidor é proprietário.
Há então a possibilidade de ser considerado possuidor como apenas o titular de
direito, não havendo necessariamente o domínio material da posse. Assim, há então a
posse direta e a indireta, que dão a ambos os titulares a opção de defesa da posse por
meio das ações possessórias.
Como primeira ilustração, no caso de contrato de locação, as duas partes
envolvidas são possuidoras. O locatário é possuidor direto, tendo a coisa consigo; o
locador proprietário é possuidor indireto, pelos direitos que decorrem do domínio.
Posse imediata – É a posse exercida por quem tem a coisa materialmente, numa
situação fática. Poder ser citados como possuidores diretos ou imediatos o locatário, o
depositário e o usufrutuário.
Vícios da Posse
Em sendo o critério subjetivo, não exige a norma citação para que a posse de
boa-fé transmude para de má-fé. Basta o conhecimento do fato. A ciência do vício.
Conforme comentários do art. 1.201 do Código Civil, o critério eleito pelo
legislador para caracterização da boa-fé ou má-fé da posse é subjetivo. Desta forma, não
exige o direito nacional, como o faz o Italiano, um marco objetivo, a exemplo da
citação. O simples conhecimento pelo possuidor de qualquer vício que inquine a sua
posse já é capaz de transmudar seu caráter, a transformando em uma posse de má-fé.
Em regra, então, a citação faz presumir a ausência de boa-fé
De início, a posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por
ações do juízo possessório, não contra aquele de quem se tirou a coisa, mas sim em face
de terceiros. Isso porque a posse somente é viciada em relação a uma determinada
pessoa (efeitos inter partes), não tendo o vício efeitos contra todos, ou seja, erga omnes
(VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil..., 2005, p. 78).
Ainda, de acordo com a doutrina, as posses injustas violentas ou clandestinas
podem ser convalidadas, o que não se aplicaria à posse injusta por precariedade. “ Não
induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância como não autorizam a sua
aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou
clandestinidade.
É o que consta no art. 1208 CC. Eis uma exceção ao princípio da continuidade
do caráter da posse.
Quanto ao tempo:
Posse nova: é a que conta com menos de um ano e um dia, ou seja, é aquela com até um
ano.
Posse velha: é a posse que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, com um
ano e um dia ou mais.
Posse ad interdicta: constituindo regra geral, é a posse que pode ser defendida pelas
ações possessórias diretas ou interditos possessórios. Exemplificando, o locador ou o
locatário podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado por um
terceiro. Essa posse não conduz à usucapião.
Nelson Nery: Enquanto não percebidos, os frutos pertencem a quem foi esbulhado e
reintegrado na posse. Não pertence àquele que, ao tempo em que permaneceu nela, e de
boa-fé, tenha dado ensejo à sua produção. Reintegrado o esbulhado na posse que lhe foi
tomada tem direito aos frutos ainda pendentes, mas deve deduzir as despesas de
produção e custeio levadas a efeito pelo antigo possuidor (esbulhador). Igual destino se
dará aos frutos colhidos com antecipação: nesta hipótese ocorre exceção ao CC 1214
caput (CC/1916 510), porque, embora já percebidos, tais frutos merecem a solução legal
que se dá aos frutos pendentes.
Possuidor de má-fé
De acordo com o art. 1219 CC, o possuidor tem direto ao ressarcimento das
benfeitorias úteis e necessárias, bem como poderá levantar as voluptuárias quando puder
fazê-lo sem detrimento da coisa.
Além disso, poderá fazer valer o direito de retenção se não forem pagas as
benfeitorias uteis e necessárias.
Ius Retentionis: é o direito de retenção que assiste o possuidor até ser indenizado
pelas benfeitorias úteis e necessárias.
Ius Tollendi: é o direito de tolher, levantar as benfeitorias voluptuárias, se estas
não lhe forem pagas e puderem ser levantadas sem prejuízo da coisa principal.
Frise-se que o contrato de locação tem regras próprias previstas na referida lei.
Assim, são indenizáveis as benfeitorias necessárias independentemente de aquiescência
do locador e as úteis somente com a autorização do mesmo. Já as voluptuárias não são
indenizáveis, conforme a previsão do art. 36 da Lei 8245/91.
Ainda, o locatário pode renunciar a tais benefícios, conforme a dicção do art. 35
da mesma lei. Encontra consonância ainda na Súmula 335 STJ.
Acessões: Acessão é o direito em razão do qual o proprietário de qualquer bem
adquire também a propriedade de todos os acessórios que a ele aderem. É uma
modificação quantitativa ou qualitativa, isto é, o aumento do volume ou do valor do
objeto da propriedade. A acessão pode se dar pela formação de ilhas, por aluvião,
avulsão, por abandono de álveo, pela construção de obras ou plantações.
O direito de retenção aplica-se também as acessões (plantações e construções).
Perda do objeto
Compensação
Interditos possessórios
Desforço imediato
Entende-se por legítima defesa da posse a faculdade que o possuidor tem de fazer
uso da força para repelir esbulho ou turbação, desde que o faça logo. Está previsto no art.
1210 CC, no par. 1º.
Aduz ainda que os atos de desforço não podem ir além do necessário para
manutenção ou restituição da posse.
Constitui forma de autotutela, independentemente de ação judicial, cabíveis ao
possuidor direto ou indireto contra terceiros.
Características:
Prevê o art. que a posse é adquirida desde o momento em que se torne possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Esses poderes
são exemplificativamente:
Apreensão da coisa
Exercício de direito
Fato de disposição da coisa
Qualquer outro modo geral de aquisição de direito.
Formas de aquisição
Tradição
Tradição Real: dá-se pela entrega efetiva ou material da coisa, como ocorre na
entrega de veículo vendido pela concessionária.
Tradição Simbólica: há um ato representativo da transferência da coisa, como na
entrega de chaves de apartamento. É o que ocorre na traditio longa manu, em que a coisa a
ser entregue é colocada à disposição da outra parte. O CC admite expressamente a venda
sobre documentos em que a venda de bem móvel é substituída pela entrega do documento
correspondente à propriedade.
Tradição ficta: é a que se dá por presunção, como ocorre na traditio brevi manu, em
que o possuidor possuía em nome alheio e agora passa a possuir em nome próprio (locatário
que compra o imóvel). Pode se dar também de maneira diversa como no constituto
possessório, em que o possuidor possuía em nome próprio e passa a possuir em nome de
outrem (o proprietário que vende o imóvel e continua na posse do mesmo, agora como
locatário).
O art. 1205 possibilita a aquisição da posse por meio de pessoa interposta, como
mandatário ou outro. Pode ser até mesmo sem mandato, desde que haja retificação
posterior. Nessa hipótese, haverá efeitos ex tunc.
Princípio da continuidade do caráter da posse
A posse em regra mantém os mesmos caracteres com que foi adquirida. Art. 1206 – A
posse transmite se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Sucessor Universal: continua de direito a posse de seu antecessor.
Sucessor Singular: é facultado unir sua posse à do antecessor para os efeitos legais.
Sucessão Universal – nos casos de herança legítima.
Sucessão Singular – nos casos de compra e venda, doação e legado.
Composse ou compossessão
A composse é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente,
poderes possessórios sobre a mesma coisa (condomínio de posses), o que pode ter origem
inter vivos ou mortis causa. Cite se a hipótese de doação conjunta para dois beneficiários,
que terão a posse de um imovel.
Todos os compossuidores poderão usar livremente a coisa e sobre ela exercer os
direitos da indivisão. Podem ainda exercer os atos possessórios, desde que não excluam os
dos outros compossuidores. Assim, qualquer um pode fazer uso das ações possessórias,
desde que o façam em face de terceiros, bem como o uso da autotutela.
Admite-se que um compossuidor ajuíze ação possessória em face de outro, como nos
casos de um herdeiro em face do outro.
Composse – tipos
Composse pro indiviso ou indivisível – os compossuidores têm fração ideal da posse,
pois não é possível determinar no plano fático e corpóreo qual a parte de cada um.
Composse pro diviso ou divisível – cada compossuidor sabe qual a sua parte, que é
determinável no plano corpóreo, havendo uma fração real da posse.
Propriedade
A propriedade é o poder assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida
física e moral.
Maria Helena Diniz: o direito que a pessoa jurídica ou física tem, dentro dos limites
normativos de usar, gozar, dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de
reivindicá-lo de quem injustamente o detenha.
É a sujeição do bem à vontade de seu titular, proprietário.
É um direito constitucionalmente assegurado, mas que deve observar sua função
social em prol da coletividade. É preenchida a partir dos atributos do art. 1228 CC, além de
outros direitos.
Álvaro Villaça – Para o Direito das Coisas, e também da propriedade, o objeto dos
mesmos são os bens corpóreos de valor econômico, que podem ser tocadas com a ponta dos
dedos.
Atributos da propriedade
Estão previstos no art. 1228: usar, gozar, dispor, e direito de reaver de quem
injustamente a detenha.
Gozar ou fruir da coisa: é a possibilidade de retirar os frutos da coisa, que podem ser
naturais, industriais ou civis (frutos civis são os rendimentos). Ex: o proprietário pode loca
lo a quem bem entender.
Direito de reivindicar de quem injustamente o detenha: será exercido por meio da
ação petitória, fundada na propriedade, sendo a mais comum a ação reivindicatória. Nesta o
autor deve provar ser proprietário do bem, através do registro e descrevendo o imóvel nas
suas confrontações. O caput do 1228 possilita o uso da petitória contra, por exemplo, um
caseiro, que ocupa o imóvel em nome de um invasor (injusto possuidor).
Usar a coisa: esse atributo encontra limitação na CF88. Ex: regras quanto à
vizinhança e em leis especificas.
Faculdade de dispor da coisa: seja por ato inter vivos ou mortis causa – Ex; pode se
citar a compra e venda, a doação e o testamento.
Frise-se que o proprietário pode não ter todos os atributos inerentes à propriedade,
sendo a propriedade restrita. Assim, admite a classificação:
Propriedade Plena: o proprietário tem o poder todos os atributos da propriedade,
quais sejam, a faculdade de gozar, usar, reaver e dispor da coisa. Concentram se totalmente
em uma só pessoa.
Propriedade Limitada ou Restrita: recai sobre a propriedade algum ônus, como no
caso da hipoteca, servidão ou usufruto, ou quando a propriedade for resolúvel, dependente
de condição ou termo. Art. 1359 CC. Alguns desses atributos podem ser de outros,
constituindo direito real sobre coisa alheia.
Assim, a propriedade limitada divide-se em:
Nua propriedade: corresponde à titularidade do domínio, ao fato de ser
proprietário e de ter o bem em seu nome. Costuma-se dizer que a nua
propriedade é aquela despida de atributos do uso e da fruição (atributos
diretos ou imediatos)
Domínio útil – corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da coisa .
Dependendo dos atributos que possui a pessoa recebe um nome diferente:
superficário, usufrutuário, promitente comprador. Ex: No usufruto, percebe-se
uma divisão proporcional dos atributos da propriedade: o nu-proprietário
mantém os atributos de dispor e reaver a coisa, enquanto que o usufrutuário
tem os atributos de usar e fruir a coisa.
Direito absoluto, em regra, mas que deve ser relativizado em algumas situações: Pela sua
oponibilidade erga omnes muito se defende o caráter absoluto da propriedade. Contudo,
como todo direito fundamental, este deve ceder em prol do interesse maior da coletividade.
Frise-se como limitador do direito de propriedade a função social da mesma e
socioambiental da propriedade. Ex: impossibilidade de desmatamento de mata ciliar, ou a
previsão constante do art. 1228 CC, § 2º.
Direito Exclusivo: determinado coisa não pode pertencer a mais de uma pessoa, salvo as
hipóteses de condomínio e de copropriedade, que ainda não lhe retiram a exclusividade.
Contudo, como dito anteriormente, a propriedade envolve interesses que perpassam a
vontade de seu dono, envolvendo o interesse da sociedade, que espera o atendimento da
mesma à função social da propriedade.
Direito Complexo: por toda a complexidade acima exposta, dentre as quais pode se destacar
os seus atributos:
Consta do § 1º do art. 1228 do CC que diz que o direito de propriedade deve ser
exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que
sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a
poluição do ar e das águas.
A norma adota o princípio em questão como finalidade, algo que deve ser buscado,
que deve ser de baliza, representado limitação ao direito em questão.
Carlos Alberto Maluf – Professor USP – a socialização progressiva da propriedade,
orientando-se pelo critério da utilidade social para maior e mais ampla proteção aos
interesses e necessidades comuns.
Abandona-se então o caráter absoluto da propriedade, que se relativiza sobretudo
frente às necessidades coletivas e sociais, considerando-se que a propriedade não deve
servir de maneira absolta – e até inconsequente – ao seu proprietário, mas à coletividade
como um todo, num sentido de não prejudicá-la.
Não se pode confundir ainda o conceito de função social e aproveitamento
econômico, uma vez que pode máximo aproveitamento econômico e lesão à função social
da propriedade ou da posse. Ocorre quando, por exemplo, o proprietário não promove o
aproveitamento racional e adequado da terra, ou não utiliza os recursos materiais
disponíveis, ou não promove o bem-estar dos trabalhadores (CF, art. 186).
Assim, não se pode dizer que o aproveitamento econômico ou fins econômicos que
orientam a função social da propriedade.
Em ambos os casos, deve-se compreender a função social da propriedade com
dupla intervenção: limitadora e impulsionadora, como bem leciona José de Oliveira
Ascensão.
Art. 186 CF – Princípios observadores da função social da propriedade:
Aproveitamento racional e adequado da propriedade
Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente
Observância das disposições que regulam as relações de trabalho
Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores
Ato emulativo: previsto no art. 1228, §2º, prevê a proibição de atos que não tragam
qualquer vantagem pro proprietário, ou utilidade e sejam animados pela intenção de
prejudicar outrem.
Trata-se aqui de mais uma limitação ao direito de propriedade, que não pode ser
abusivo. De leitura rápida do enunciado, entende-se, equivocadamente, que apenas o ato
doloso que vise a prejudicar alguém é proibido.
Contudo, o art. 187 prevê o abuso de direito e não faz referência ao dolo ou culpa.
Comete abuso de direito o titular de direito que ao exerce lo excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé e pelos bons costumes.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Ainda, o ato abusivo do direito de propriedade pode se configurar ainda que o
proprietário obtenha vantagem, mesmo que haja mera satisfação pessoal. Como no caso de
proprietário que promova sucessivas festas em apartamento, incomodando de maneira
inconveniente seus vizinhos.
Como ocorre com a posse, a propriedade também pode ter formas de aquisição
originarias e derivadas. Nas originárias, há um contato direto da pessoa com a coisa,
sem intermediação pessoal. Já nas derivadas, há intermediação subjetiva.
Formação de ilhas
Aluvião
Aluvião própria - É o acréscimo paulatino de terras às margens de um curso de
água, de forma lenta e imperceptível, depósitos naturais ou desvios da água. Esses
acréscimos pertencem aos donos das terras marginais, seguindo a regra de que o
acessório segue o principal.
Aluvião impropria – São as partes descobertas pelo afastamento das aguas de um
curso, hipótese em que a agua vai, o rio vai embora. O rio se afasta pelo se
esvaziamento, surgindo nova porção de terra para o proprietário lindeiro.
Avulsão
Ocorre quando que por força natural violenta uma porção de terra se destacar de
um prédio e juntar se a outro, o dono deste adquirira a propriedade do acréscimo, se
indenizar o dono do primeiro, ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver
reclamado. A avulsão é uma faixa de terra avulsa, que se desloca de um terreno, por
força natural de corrente, para se juntar a outro.
Este prazo tem natureza decadencial. 1 ano. O paragrafo único, lado outro,
dispõe que havendo discordância do proprietário beneficiado em indenizar a parte
prejudicada, deverá concordar que se remova a parte acrescida.
1º Lugar: Indenização
2º Lugar: Retirada da parte acrescida, com ajuizamento de ação
caso necessário.
Álveo abandonado
O álveo é a parte que as aguas encobrem sem transbordar para o solo natural e
ordinariamente enxuto. Assim, o álveo abandonado é a parte do rio ou corrente de agua
que secou. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das
duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as aguas
abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do
álveo.
Usar por analogia a formação de ilhas.
Plantações e construções
Além das acessões naturais, prevê o Código ainda como forma de aquisição
originaria de propriedade imóvel, as acessões artificiais relativas às plantações e às
construções (art. 1253 a 1259). Como regra fundamental, dispõe o art. 1253, presume-se
que toda plantação ou construção em um terreno presume se relativamente feita pelo
proprietário e à sua custa, permitindo prova em contrário. Princípio da gravitação
jurídica – Acessório segue o principal.
1.ª Regra. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com
sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica
obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de
má-fé (art. 1.254 do CC).
Um amigo guarda cimento para o outro. Posteriormente, este usa o cimento para
construção de galpão. A propriedade ficará com o mesmo, mas este terá de ressarcir o
outro, sem prejuízo de perdas e danos, pois agiu de má fé.
2.ª Regra. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em
proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-
fé, terá direito a indenização. Se a construção ou a plantação exceder
consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou
edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização
fixada judicialmente, se não houver acordo (art. 1.255 do CC, caput e parágrafo
único).
Exemplifique, que alguém esteja na casa de parente que viajou ao exterior.
Aquele constrói então uma piscina nessa casa. Contudo, sabendo que a propriedade não
era sua, este agiu de má fé não tendo direito a qualquer ressarcimento sobre a coisa. Já
se agiu de boa fé terá direito à indenização, como no caso da construção de algo que
visava a proteção do imóvel, como um muro de arrimo.
Lado outro, se a construção foi feita de boa fé e o valor desta for superior ao do
imóvel, aquele que construiu ou plantou terá a propriedade do imóvel, tendo apenas que
pagar uma indenização ao dono do imóvel, que, caso necessário, seria fixada
judicialmente.
Esse último dispositivo, novidade no atual Código Civil, acaba por considerar
como principal a plantação ou construção, fazendo com que o terreno o acompanhe,
consagração do que se denomina como acessão inversa ou invertida, o que está de
acordo com o princípio da função social da propriedade.
3.ª Regra. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as
sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Presume-se má-fé do proprietário quando o trabalho de construção, ou lavoura,
se fez em sua presença e sem impugnação sua (art. 1.256 do CC, caput e
parágrafo único).
Posse com intenção de dono – conceito de Savigny. Este não está presente em casos
nos quais há contrato de locação, comodato e depósito. Contudo, é possível a alteração
na causa da posse (intervessio possessionis), admitindo-se a usucapião em casos
excepcionais. Ex: contrato de locação de 30 anos, nos quais não há pagamento há 20 e o
proprietário desapareceu.
Posse de boa-fé e com justo título, em regra – Para usucapir bem móvel ou bem
imóvel, exige-se a boa-fé e o justo título. Lado outro, em alguns casos dispensa-se a
presença desses elementos havendo presunção absoluta ou iure et de iure de sua
presença.
O art. 1243 CC admite ainda a contagem da posse com a dos seus antecessores,
contanto que sejam contínuas, pacíficas com justo título e com boa-fé. Assim, um
herdeiro pode continuar com a posse do de cujus para fins de usucapião. Trata-se da
acessio possessionis, que vem a ser a soma dos lapsos temporais entre os sucessores,
seja inter vivos ou mortis causa.
Especificidades quanto a prazos na usucapião
Usucapião ordinária – art. 1242 CC – Estabelece que aquele que se mantem na posse
de maneira continua e incontestadamente por 10 anos adquire a posse, se tiver boa fé e
justo título.
A expressão justo título abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a
transferir a propriedade independentemente de registro. Deve ser considerado como Commented [T1]:
justo título o documento particular de compra e venda, independente de registro ou não
em Cartório de Imóveis.
Ainda, o parágrafo único do referido artigo reduz o prazo para aquisição por
usucapião na modalidade usucapião ordinária por posse trabalho. Nesta, se o imóvel foi
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do cartório, ainda que
cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a moradia
ou realizado investimentos de interesse econômico e social. Prestigia se a função social.
Ainda, questiona-se acerca da imprescindibilidade de titulo que venha a ser
cancelado posteriormente, como no caso da anulação de compromisso de compra e
venda. Tartuce defende a flexibilização deste requisito, tal que a finalidade de tal
previsão é prestigiar a posse trabalho fazendo com que o prazo caia pela metade.
Prevalece a função social da posse.
Esta modalidade de usucapião, consagrada no parágrafo único, pode ser alegada
em matéria de defesa, independentemente do ajuizamento de ação de usucapião.
Da usucapião constitucional ou especial rural – pró labore (art. 191 da CF88, art 1239
CC e Lei 6969/81)
A área não pode ser superior a 50ha e deve ser na zona rural.
Posse por 5 anos ininterruptos, sem oposição e com animus domini.
O imóvel deve ser utilizado para subsistência ou trabalho (pro labore), podendo
ser na agricultura, pecuária. A terra tem que ser produtiva por sua força de
trabalho ou da família.
Quem pretende usucapir o imóvel não pode ser proprietário de outro imóvel,
urbano ou rural.
Não há a exigência de que haja justo titulo ou boa fé, sendo uma presunção
absoluta, dada a destinação do imóvel, atendendo a função social da propriedade.
É possível adquirir a propriedade de área menor do que o módulo rural estabelecido
para a região, por meio da usucapião especial rural” (Enunciado n. 594).
Ainda, editou se enunciado no sentido de não ser possível a usucapião de imóvel
que supere o valor máximo permitido na lei. Tartuce, no entanto, defende flexibilização da
norma em questão, admitindo se os mesmos excederem por pouco os limites previstos, à
medida de que deve servir como parâmetro a função social da posse e não critério
numérico.
Usucapião extraordinária constitucional ou especial urbana – pro misero (art. 183 da
CF88 art. 1240 CC)
Poderá ser adquirido por homem ou mulher, ou ambos independente de estado civil.
Tem como requisitos:
Posse mansa e pacifica por cinco anos ininterruptos sem oposição, com animus
domini
Área de até 250m²
Para fins de moradia ou da sua família
Não seja possuidor de outro imóvel urbano ou rural, não podendo a usucapião
especial urbana ser deferida mais de uma vez. Atende ao direito mínimo de
moradia.
Usucapião urbano por abandono do lar –previsto pela Lei 12424 de 2011, inserindo o
art. 1240 A no CC2002.
Requisitos:
A área urbana maior que 250m2, ocupadas por população de baixa renda para
sua moradia, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível
identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, podem ser usucapidas
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.
Requisitos
Prevista no Estatuto do Índio, aduz que o índio, integrado ou não, que ocupe
como próprio faixa de terra inferior a 50ha, por 10 anos consecutivos, adquirir-lhe-á a
propriedade.
Requisitos
Posse mansa e pacífica por 10 anos, exercida por indígena.
Área não superior a 50ha.
Usucapião administrativa – Art. 60 da Lei 11977/2009
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