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Segundo Tratado Sobre o Governo Civil e Outros Escritos. LOC KE, John.

Rio
de Janeiro: Editora Vozes, 1994.
Capítulo I. ENSAIO SOBRE A ORIGEM, OS LIMITES E OS FINS
VERDADEIROS DO GOVERNO CIVIL

Relembra o que já havia exposto em seu primeiro tratado, que Adão não ti nha
por direito, por doação divina, a autoridade sobre o mundo e seus filhos, e se teve, isso
é impossível de se determinar até a atualidade, o que leva Locke à uma busca
pelo entendimento da legitimidade do poder de alguns indivíduos sobre outros.
Nesse capítulo, ele expõe um dos seus conceitos -chave, que é o do poder político,
que seria “direito de fazer leis com pena de morte e, consequentemente, todas
as penalidades menores para regular e preservar a propriedade, e de empregar a força
da comunidade na execução de tais leis e na defesa da comunidade de dano
exterior; e tudo isso tão-só em prol do bem público”.(página 82)

Capítulo II. DO ESTADO DE NATUREZA


Locke afirma que no estado de n atureza todos são iguais e providos d as mesma
faculdades, subordinados apenas a Deus: “nenhum deles (homens) deve prejudicar
a outrem na vida, na saúde, na liberdade ou nas posses [...] (todos) são propriedades
d’Aquele qu e os f ez, [...] e sendo todos providos de faculdades iguais [...] não
há a possibilidade de supor-se qualquer subordinação entre os homens.”(pág. 84)
Percebe-se a ligação entre a faculdade mencionada à lei de Talião, e temos
confirmação dessa similaridade na r eferencia de Locke, que diz: “todos têm direito
de castigar o ofensor, tornando-se executores da lei da natureza.”(pág. 86)
Afirma serem as leis naturais mais claras que as leis posi tivas da comunidade
civil, pois a razão é mais fácil de ser compreend ida que as maquinações egoístas
dos homens. Diz que as leis civis dos países só seriam justas se s e baseiam na
lei da natureza, as quais devem interpretar para depois regulamentar.
Segundo, Locke não seria razoável os homens serem juízes das suas próprias
causas, pois sua autoestima os tornaria parciais, e nesse caso, virá a desordem e
a confusão: “[...] e certamente foi por isso que Deus instituiu o governo: para
conter a parcialidade e a violência dos homens. Eu asseguro tranquilamente que o
governo civil é a solução adequada para as inconveniências do estado de natureza[...] ”
(pág. 88)
Por fim, Locke critica o Absolutismo ao sustentar ser melhor viver em seu estado
de natureza, no qual o homem se subordina somente a si, a viver sob o domínio de
um monarca com o poder centralizado em si e que m anda nos outros da maneira
que bem lhe aprouver, o que não concretiza um pacto no qual lhe é outorgado o
poder, pois como diz Locke: “N ão é toda convenção que põe fim ao estado d e
natureza entre os homens, mas apenas aquela pela qual todos se obriguem junt os
e mutuamente a formar uma comunidade única e construir um único corpo político
[...] . E mais: “todos os homens se encontram naturalmente nesse estado [de natureza]
e ali permanecem, até o dia em que, por se u próprio consentimento, eles se tornem
membros de alguma sociedade política[...] ” (pág. 89)
Capítulo III. DO ESTADO DE GUERRA
Este é um estado de inimizade e destruição advindo de desentendimento de
indivíduos no estado de natureza que declaram guerra entre si, podendo contar
com o auxílio de terceiros que queiram vir se juntar à causa. Locke reconhece essa
possibilidade ao afirmar que temos o direito de declarar guerra àquele que me a
declara, como o permite a lei natural, por não se restringir a qualquer tipo de convenção.
Desta forma Locke afirma que a tentativa de dominação ou escravização é algo
que dá ensejo ao estado de guerra, uma vez que no estado de natureza todos são
livres: “aquele que tenta colocar a outrem sob poder absoluto põe -se em estado
de guerra com ele…”. (pág. 91) Desta forma, pode-se dizer que o poder Absolutista
geraria o estado de guerra. Pois, o homem poderia compreender como uma declaração
de uma intenção contra sua vida, fazendo-o de escravo. Leia-se escravo: alguém que é
forçado a fazer algo contra sua vontade e tem violado seu direito natural à liberdade.

Segundo Locke, no estado natural, a liberdade é a base de todo o resto. Portanto,


se alguém retira esse direito, necessariamente, se supõe a intenção de tirar tudo o
mais. “[...]assim como aquele que no estado de sociedade retirasse a liberdade
pertencente aos membros daquela sociedade ou da comunidade política, seria suspeito
de tencionar retirar deles tudo o mais, e portanto seria tratado como em estado
de guerra.” (pág. 92)
Em seguida Locke faz a diferenciação do estado de natureza e do estado de
guerra (na concepção hobbesiana, os dois são praticamente os mesmos). No primeiro
estado, os homens vivem gozando de suas liberdades sem maiores problemas
“quando os homens vivem juntos conforme a razão, sem um superior na Terra que
possua autoridade para julgar para eles, verifica-se propriamente o estado de natureza.”
(pág. 92)
O ato de infração das mencionadas prerrogativas de convivência no estado
natural, àquele que teve seus bens invadidos/ usurpados, cabe declarar guerra a seu
agressor, devido à inexistência de um órgão regulador das infrações cometidas, o
que não ocorre quando na existência de um pacto soci al que garanta a resolução
do conflito de modo imparcial, e isso deve ser buscado pelos indivíduos para que o
estado de guerra pareça de forma definitiva.
“Mas a força, ou uma intenção declarada de força, sobre a pessoa de outro, onde
não há superior comum na t erra para chamar por socorro, é estado de guerra; e é a
inexistência de um recurso deste gênero que dá ao homem o direito de guerra ao
agressor, mesmo que ele viva em sociedade e se trate de um concidadão.” (pág. 92)

Capítulo IV. DA ESCRAVIDÃO


“A liberdade natural do homem deve estar livre de qualquer poder superior na
terra e não depender da vontade ou da autoridade legislativa do homem,
desconhecendo outra regra além da lei da natureza.” (pág. 95)
Perfeita condição da escravidão: “[...] nada mais é que o estado de guerra
continuado entre um conquistador legítimo e seu prisioneiro. Desde que façam um
pacto entre eles [...] o estado de guerra e escr avidão deixam de e xistir enquanto
o pacto durar.” (pág. 96)

Capítulo V. DA PROPRIEDADE

“[...] alguns parecem ter grande dificuldade em perceber como alguém pôde se
tornar proprietário de alguma coisa.” (pág. 97)
“Deus, que deu o mundo aos homens em comum, deu-lhes também a razão, para
que se servissem dele para o maior benefício de sua vida e d e suas conveniências.”
(pág. 97)
Locke considera em seguimento ao Gênesis, que Deus deu a Terra aos homens
em comum , para que estes se utilizassem desta para subsistência e conveniência.
“Ainda que a terra e to das as criaturas inferiores pertençam em comum a todos
os homens, cada um guarda a propriedade de sua própria pessoa; sobre esta ninguém
tem qualquer direito, exceto ela. [...] O trabalho de seu corpo e a obra produ zida
por suas mãos são propriedade sua.” (pág. 98)
Em continuidade, Locke diz que aquele espaço ao qual o indivíduo incorporou
para si através do trabalho é de sua propriedade exclusiva e não lhe pode ser
contestada (salvo problemas de escassez): “Sendo este trabalho uma propri edade
inquestionável do trabalhador, nenhum homem, exceto ele, pode ter o direito ao
que o trabalho lhe acrescentou, pelo menos quando o que resta é suficiente aos outros,
em quantidade e em qualidade.” (pág. 98)
“A superfície da terra que um homem trabalha, planta, melhora, cultiva e da
qual pode utilizar os produtos, pode ser considerada sua propriedade.” (Págs. 100,
101)
Locke nos chama a atenção não só para o acúmulo de propriedade, mas também
para a sua valorização: “[...] cada homem deve ter tanto quanto pode utilizar,
ainda permaneceria válida no mundo sem prejudicar ninguém, visto haver t erra
bastante para o dobro dos habitantes, se a invenção do dinheiro e o acordo tácito
entre os homens para estabelecer um valor para ele não tivesse introduzido (por
consentimento) posses maiores e um direito a elas; como isso se deu, irei aos
poucos mostrando mais amplamente.” (pág. 103)
“Tudo o que o homem plantava, colhia, armazenava e consumia antes de se
deteriorar pertencia-lhe por direito; todo o gado e os produtos que podia cercar,
alimentar e uti lizar também eram seus. Mas se a grama apodrecesse no solo de
seu cercado ou os frutos de sua plantação perecessem antes de serem colhidos e
consumidos, esta parte da terra, não importa se estivesse ou não cercada, podia
ser considerada como inculta e podia se tornar posse de qualquer outro.” (pág. 105)
Ao longo do tempo, com o crescimento populacional, a esc assez passou a ser
iminente, o que culminou em pactos e leis fixando os limites dos respectivos terri
tórios, dando ênfase à legitimidade de sua posse.
Sobre a propriedade validada e valorizada pelo trabalho: “É o trabalho que
estabelece em tudo a diferença de valor; basta considerar a diferença entre um acre
de terra plantada com fumo ou cana, semeada com tri go ou cevada, e um acre
da mesma terra deixado ao bem comum, sem qualquer cultivo, e perceberemos
que a melhora realizada pelo trabalho é responsável por grandíssima parte do seu
valor.[...] na falta de trabalho para melhorar a terra, não tem um centésimo das
vantagens de que desfrutamos.” (págs. 106, 107)
“O que faz o pão valer mais que as bolotas, o vinho mais que a água e os
tecidos ou a seda mais que as folhas, as peles ou o musgo, deve -se inteiramente
ao trabalho e à indústria.” (pág. 107)
“O que faz o pão valer mais que as bolotas, o vinho mais que a água e os tecidos ou a
seda mais que as folhas, as peles ou o musgo, deve -se inteiramente ao trabalho e à
indústria. são em geral coisas de duração efêmera, que, se não forem consumidas
pelo uso, deterioram e perecem por si mesmas: o ouro, a prata e os diamantes são
coisas às quais o capricho ou a convenção atribuem um valor maior que a sua
utilidade real e sua necessidade para o sustento da vida.” (pág. 109)
Sobre o surgimento do dinheiro: “ Assim foi estabelecido o uso do dinheiro –
alguma coisa duradoura que o homem podia guardar sem que se deteriorasse e
que, por consentimento mútuo, os homens utilizariam na troca por coisas necessárias à
vida, realmente úteis, mas perecíveis.” (pág. 110)
“Esta divisão das coisas em uma igual dade de posses particulares, os homens
tornaram praticável fora dos limites da sociedade e sem acordo, apenas atribui ndo
um valor ao ouro e à prata, e tacitamente concordando com o uso do dinheiro.
Pois nos governos as leis regulam o direito de propriedade, e a poss e da terra é
determinada por constituições positivas.” (pág. 111, 112)
“O direito e a conveniência andavam juntos. Como cada hom em tinha o direito
a tudo em que podia aplicar o seu traba lho, não tinha a te ntação de trabalhar
mais do que para o qu e pudesse usar. Isso não d eixava espaço para controvérsia
quanto ao título, nem para usurpação do direito dos outros.” (pág. 112)

Capítulo VI. DO PODER PATERNO

Locke critica a mencio nada expressão “pod er paterno”, dizendo que pode
conduzir ao erro, pois parece atribuir totalmente ao pai o poder sobre os filhos,
quando na verdade sabemos o q uão é imprescindível o poder ex ercido pelas mães:
“Ora, se consultarmos a razão ou a revelação, veremos que ela tem um igual
direito. Isto justificaria perguntar se não seria mais exato chamá-lo de poder dos
pais?[...] vemos que a lei positiva de Deus sempre os reúne sem distinção quando
ordena a obediência aos filhos. “Honra teu pai e tua mãe” (Ex 20,12); “Quem
amaldiçoar o pai o u a mãe” (Lv 20,9) [...] ” (pág. 113)
“[...] todos os homens são iguais, não se pode supor que eu me referisse a todos
os tipos de igualdade. A idade ou a virtude podem dar aos homens uma precedência
justa. A excelência dos talentos e dos mé ritos pode colocar alguns acima do nível
comum. (pág. 114)
“Admito que as crianças não nascem neste estado de plena igualdade, embora
tenham nascido para isso. Seus pais têm uma espécie de governo e juri sdição sobre eles
quando eles vêm ao mundo e durante algum tempo depois, mas é apenas
temporário.[...] A idade e a razão, à medida que elas crescem, pouco a pouco as li berta
delas, até o dia em que caem completam ente e deixam o homem absolutamente
livre.” (pág. 114)
“Uma mesma lei devia reger Adão e toda a sua posteridade, a lei da razão. [...]
ninguém pode estar sujei to a uma l ei que não é p romulgada para ele; e como
apenas a razão promulga e faz conhecer a lei, não se pode admitir que ela se aplique a
quem não chegou à idade da razão. [...] De forma que, mesmo que possa ser
errada, a fi nalidade da lei não é abolir ou co nter, mas preservar e ampliar a liberdade.
[...] onde não há lei, não há liberdade [...] Quem poderia ser livre se outras pessoas
pudessem lhe impor seus caprichos? Ela se define como a liberdad e, para cada
um, de dispor e ordenar sobre sua própria pessoa, ações, possessões e tu do aquilo
que lhe pertence, dentro da permissão das leis às quais está submetida, e, por isso,
não estar sujeito à vontade arbitrária de outra pessoa, mas seguir livremente a sua
própria vontade.” (pág. 115)
Sobre a maioridade: “ O que lhe dá a livre disposição de sua propriedade
segundo seu próprio desejo dentro do âmbito daquela lei? Eu respondo: Um estado
de maturidade em que se supõe que ele seja capaz de conhecer aquela lei, e assim
manter suas ações dentro de seus limites.” (pág. 116)
“[...] os loucos e os idiotas jamais se libertam da tutela de seus pais.” (pág. 117)
“Assim, nascemos livres, como nascemos dota dos de razão; mas iss o não
significa que possamos dispor do exercício de nenhuma dessas duas faculdades; a
idade que traz a primeira, traz consigo também a segunda.” (pág. 117)
Assim, nascemos livres, como nascemos dotados de razão; mas iss o não significa
qu e possamos dispor do exercício de nenhuma dessas duas faculdades; a idade
que traz a primeira, traz consigo também a segunda: “Nenhum estado e nenhuma
liberdade pode isentar o s filhos desta obrigação.” (pág. 121 ). Porém jamais os
pais poderão continuar a exigir de sua prole eterna obediência e absoluta submissão.

Afasta a ob ediência e a honra de uma suposta sub missão absoluta: “Uma coisa é
dever honra, respeito, gratidão e assistência; outra é exigir uma obedi ência e uma
submissão absolutas. A honra devida aos pais, um monarca em seu tro no deve a
sua mãe, e isto não diminui sua autoridade nem o sujeita ao seu domínio. [...] O fato
de não distinguir estes dois poderes que o pai, possui o direito de instrução durante
a minoridade, e o direito à honra durante toda a sua vida, talvez seja responsável
por grande parte dos erros nesta questão.” (pág. 121)
“Assim, a primeir a parte do poder, ou melhor, do dever do pai, que é a
educação, lhe pertence até que termine na época determinada.” (pág. 123)
“Um homem deve honra e respeito a outro mais velho ou a um sábio, proteção a
seu filho ou ao s eu amig o, alívio e ajuda aos infelizes e gratidão a um benfeitor,
em tal grau que tudo o que ele tem e tudo o que pod e fazer não pode pagar sufi
cientemente por isso.” (pág. 123)
Sobre a partilha da herança: “Normalmente, em uma proporção determinada
pela lei e pelos costumes de cada pa ís, os bens do pai representam, para os
filhos, a esperança de uma herança, mas é costume que o pai tenha a faculdade
de dist ribuí-los de forma mais parcimoniosa ou generosa, segundo o comportamento
deste ou daquele filho se adaptou a sua vontade ou ao seu humor.”(pág. 124)
Mesmo depois da maioridade os filhos tende a permanecer voluntariamente sob
o governo dos pais: “Não surpreende que eles não tivessem feito distinção entre
minoridade e maioridade, nem ansiassem por seus vinte e um anos ou por qualquer
outra idade para se tornarem aptos para dispor livremente de seus b ens e de sua
vida, quando não desejassem sair de sua tutela.O governo a que perman eciam
submetidos, enquanto durasse, continuava mais a protegê-los que a restringi-los; e em
parte alguma eles poderiam encontrar maior segurança para a sua paz, liberdades e
bens, que sob o governo de um pai.” (pág.127)
“Assim, por uma imperceptível transformação, os pais naturais das famíli as
tornaram-se também seus monarcas políticos.” (pág. 127)

Capítulo VII. DA SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL

Como ensina o Gênesis, Deus fez o homem no intuito de que este convivesse em
sociedade, dando-o a razão e o discernimento necessários para seu relacio namento
com os demais, o que se inici a pela sociedade conjuga l, que tem como fim a
procriação e o cuidado para com a p role até sua m aturidade, sendo essa a
principal razão d a continuidade dos laços entre homem e mulher, e um dos mo
tivadores do desenvolvimento do trabalho, de acordo com Locke.
Considerando diferentes a sociedade conju gal e a política, Locke resolve por
focar-se n a s egunda, após breve explanação sobre a primeira. El a nasce a partir
do momento em que os indivíduos resolvem por abrir mão de seu direito natural (Estad
o de natureza – cap. II), passando-o às mãos da comunidade, da forma que a lei
estabelecer.
“Marido e mulher, embora tenham um interesse comum, possuem entendimentos
diferentes, e não podem evitar, às vezes, de terem também vontades diferentes”
(pág. 130)
“O homem nasceu, com o já foi provado, com um direito à liberdade perfeita e
em pleno gozo de todos os direitos e privilégi os da lei da natureza, assim como
qualquer outro homem ou grupo de homens na terra.” (pág. 132)
“[...] é fácil discernir aqueles que vivem daqueles que não vivem em uma
sociedade política. Aqueles que estão reunidos de modo a formar um únic o corpo,
com um sistema jurí dico e judiciário com autoridade para decidir controvérsias entre
eles e punir os ofensores, estão em sociedade civil uns com os outros; mas aqueles
que não têm em comum nenhum direito de recurso, ou seja, sobre a terra, estão ainda
no estado de natureza, onde cada um serve a si mesmo de jui z e de executor, o
que é, como mostrei antes, o perfeito estado de natureza.”(pág. 133)

“Cada vez que um homem entra na sociedade civil e se torna membro de uma
comunidade civil, renuncia a seu poder de punir ofensas contra a lei da natureza
na realização de seu próprio julgamento particular, mas tendo delegado ao
legislativo o julgamento.[...] Descobrimos aqui a origem dos poderes legislativo e
executivo da sociedade civil, que é julgar, através de leis estabelecidas [...] ” (pág. 133)
Como se forma uma sociedade civil: “[...] todas as vezes que u m nú mero
qualquer de homens se unir em uma sociedad e, ainda que cada um renuncie ao
seu poder executivo da lei da natureza e o confie ao público, lá, e somente lá,
existe uma sociedade polí tica ou c ivil. [...] ou todas as vezes que um indivíduo
se une e se incorpora a qualquer governo já estabelecido.” (pág. 134)
Finalidade da S ociedade Civil: “a sociedade civil tem por finalidade evitar e
remediar aquelas inconveniências do estado de natureza que se tornam inevitáveis
sempre que cada homem julga em causa própria.” (pág. 134)
“Certamente, nas monarquias absolutas, assim como nas outras formas de
governo do mundo, os súditos podem invocar a lei e solicitar juízes para a decisão
de quaisquer controvérsias e a contenção de qualqu er violência qu e pudesse ocorrer
en tre os próprios súditos, um contra o outro. Todos acham isso necessário e
acreditam que aquele que tenta abolir este r ecurso merece se r considerado inimigo
declarado da sociedade e da humanidade.” (pág. 136)

As sociedade iniciaram-se com a união voluntária e acordo mútuo entre os


homens que agiam livremente.
Ex plica ndo o por quê do surgi ment o das m onar quias , Locke bas eia - se na
figur a do P ai, qu e como a té a a tual idad e cost uma ser co nse nso, é o respo
nsáv el pelo sustento e gerencia dos filhos, e o seu castigo quando da tr ansgressão
das leis en tre s i i mpost as, o que foi se trans feri ndo de t emp os e m t empos ,
cul min ando nas mon arqui as, mas ele con side ra que tal po der exer cido pel os
pais era legi tim o, pois o era feito de forma natura. “Certamente, nas monarquias
absolutas, assim como nas outras formas de governo do mundo, os súditos podem
invocar a lei e solicitar juízes para a decisão de quaisquer controvérsias e a
contenção de qualqu er violência qu e pudesse ocorrer entre os próprios súditos, um
contra o outro.” (pág. 136)
A lei abrange a todos os homens: “Nenhum homem na sociedade civil po de ser
imune às suas leis.” (pág. 138)

Capítulo VIII. DO INÍCIO DAS SOCIEDADES POLÍTICAS

“A única maneira p ela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e se


coloca dentro das limitações da sociedade civil é através de acordo com outros homens
para se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável, segura
e pacífica u ns com os outros [...] Quando qualquer número de hom ens decide
constituir uma comunidade ou um governo, isto os associa e eles formam um corpo
político em que a maioria tem o direito de agir e decidir pelo restante.”(pág. 139)
Nesta comunidade formada por um consenso entre os homens, deve-se segundo
a vontade da maioria. “Pois o que move uma comunidade é sempre o consentimento dos
indivíduos que a compõem.[...] por iss o cada um é obrigado a se submeter às
decisões da maioria.”(págs. 139 140)
“Pois quando a maioria não pode decidir pelo resto, as pessoas não podem agir
como um único corpo e este imediatamente entra em dissolução. (pág. 141)
Origem das sociedades políticas: “Assim, o ponto de partida e a verdadeira
constituição de qualquer sociedade política não é nada mais que o consentimento
de um número qualquer de homens livres, cuja maioria é capaz de se unir e se
incorporar em uma tal sociedade. Esta é a única origem possível de todos os
governos legais do mundo.” (pág. 141)

Possíveis objeções:
“Primeira: A história não conhece exemplos de um grupo de homens
independentes e iguais entre si, que tenham se reunido e desta forma fundado e
instituído um governo.” Tendo como resposta: “ As inconveniências dessa condição, e
o amor e a necessidade da sociedade, aproxima ram, em um número qualquer,
todos aqueles que desejavam ficar juntos, mas eles necessariamente t eriam de se
unir e se associar se desejavam continuar juntos.”(pág. 141)
“Segunda: Juridicamente, é impossível aos homens tê-lo feito, porque todos os
homens nasceram sob um governo, e por isso devem a ele submeter -se e não têm a
liberdade de fundar um novo.” (pág. 141) Argumento que Locke utiliz a para refutar
e ssa objeção: “Se este argumento é válido, eu pergunto como tantas monarquias
legíti mas se formaram no mundo? Partindo-se desta hipótese, se alguém puder me
mostrar um único homem, em qualquer época da história do mundo, livre para
iniciar uma monarquia legíti ma, eu me junto a ele para mostrar, na mesma época,
dez outros homens livres para se unirem e iniciarem um novo governo, sob a
forma real ou sob qualquer outra. [...] Assim, segundo seu própri o princípio, todos
os homens são li vres, não importa sua condição de nascimento, ou só existiria no
mundo um único príncipe legítimo, um único governo legítimo.[...] Os homens
jamais admitiram nem reconheceram qu e uma submissão natural deste gênero, qu
e os obri gasse a este ou aquele, desde o nascime nto, foss e suscetível de se
perpetuar sem o seu consentimento, como uma submissão a eles e a seus
herdeiros.”(págs. 150, 151)
Apresenta vários exemplos na história de povos que viviam li vres no estado de
natureza, e que se reuniram, se associaram e iniciaram uma comunidade civil.
“Para concluir, temos a razão do nosso lado quando afirmamos que os homens
são naturalmente livres, e os exemplos da hist ória mostram que todos os governos
do mundo que tiveram uma origem pacífica foram edificados sobre esta base e
devem sua existência ao consentimento do povo. Assim, há pouco espaço para a dúvida,
seja sobre qual o lado certo ou sobre a opinião ou a prática da humanidade na
fundação inicial dos governos.” (pág. 143)
“Há uma distinção comum entre cons entimento expresso e cons entimento
tácito.[...] A ist o eu respondo que qualquer homem que tenha qualq uer posse ou
desfrute de qualquer parte dos domínios de qualquer governo, manifesta assim seu
consentimento tácito e, enquanto permanecer nesta situação, é obrigado a obedecer
as leis daquele governo como todos os outros que lhe estão submetidos;” (pág. 153)

Capítulo IX. DOS FINS DA SOCIEDADE POLÍTICA E DO GOVERNO

Lock e f ala q ue ape sar d os ho mens t erem t otal li berda de sob re su as posses,
e não terem qualquer obrigação com qualquer outro no estado de natureza, estão expost
os a inúm eros peri gos que podem cu lminar na perda d e s ua propri edade e tra
nqüi lida de para te rceiro s, poi s s ão vu lnerá veis : “e não é sem razão que ele
soli cita e deseja se unir em sociedade com outros, que já estão reunidos ou que planejam
se unir, visando a salvaguarda mútua de suas vidas, liberdades e bens, o q ue designo
pelo nome geral de propriedade.”(pág. 156)

O surgimento d a sociedade civil tem por motivo a preservação da sociedade, o


que não se demonstra tão firme no estado de natur eza. “o objetivo capital e principal da
união dos homens [...] é a preservação de sua propriedade.” (pág. 157)
Condições inerentes no estado de natureza:
1. “uma lei estabelecida, fixada, conhecida, aceita e reconhecida pelo
consentimento geral. [...] ” (pág. 157)
2. “um juiz conhecido e imparcial, com autoridade para dirimir todas as
diferenças segundo a lei estabelecida. [...] ” (pág.158)
3. “um poder para apoiar e manter a sentença quando ela é justa, assim como
para impor sua devida execução. [...] ” (pág. 158)
Um grande motivador da saída dos indivíduos de seu estado de natureza, levando
a se associarem aos demais, é a incerteza sobre o resultado de suas ações quando
em estado de natureza: “ As inconveniências a que est ão expostos pelo exercício
irregular e incerto do poder que cada homem possui de punir as trans gressões dos
outros faz com que eles busquem abrigo sob as leis estabelecidas do governo e
tentem assim salvaguardar sua propriedade.” (pág. 158)
Tendo em vista uma maior proteção à sua propriedade e b ens, ap esar de perder
alguns de seus direitos exclusivos do estado de natureza, o homem tem lucros ao
resolver por ligar-se a uma sociedade política, pois ao contrário, fica a mercê da
vulnerabilidade.
“Mas, embora os homens ao entrarem na sociedade renunciem à i gualdade, à
liberdade e ao poder executivo que possuíam no estado de natureza, que é então
depositado nas mãos da sociedade, para que o legislativo deles disponha na medida
em que o bem da sociedade assim o requeira, cad a um age dessa forma apenas
com o objetivo de melhor proteger sua liberdade e sua propriedade.”(pág. 160)

Capítulo X. DAS FORMAS DA COMUNIDADE CIVIL

Locke aborda as diversas formas de governo que se tornam possíveis quando há


a criação das sociedades civis. “[...] a maioria detém naturalmente todo o poder
comunitário, que ela pode utilizar para de tempos em tempos fazer leis para a
comunidade (democracia perfeita) [...] mas ela pode também colocar o poder de
fazer as leis nas mãos de u m grupo selecionado d e homens (oligarquia) [...] pode
também colocá-lo nas mãos de um só homem (monarquia) [...]” (pág. 161)
Por fim Locke nos dá a definição de Comunidade, que deve ser interpretada segundo
ele com o significado de “ c i v i t a s ” , correspondente à forma de asso ciação por
ele mencionada, na qual vários indivíduos unem -se em torno de um mesmo
objetivo, visando o bem comum. “ [...] civitas, à qual a expressão que melhor
corresponde em nossa língua é comunidade social (commonw ealth), que designa,
da forma mais adequada, este tipo de sociedade humana, o que não acontece em
inglês com as palavras comunidade ou cidade, pois pod e haver comunidades
subordinadas em um governo [...] ” (pág. 162)

Capítulo XI. DA EXTENSÃO DO PODER LEGISLATIVO

Locke diz que a primeira e fundamental lei positiva que for instruída dentro de
uma nova sociedade, deve estabelecer junto a si o poder legislativo, pod er supremo
e sagrado dentro de uma comunidade, sem o qual j amais poderá haver a po
ssibilidade de se legislar sem o consentimento dos seus representan tes: “[...]
nenhum edito, seja de quem for sua autoria, a forma como tenha sido concebido
ou o poder que o subsidie, tem a força e a obri gação de uma lei, a menos que
tenha sido sancionado pelo poder legislativo que o público escolheu e nomeou.” (pág.
163)
Fazendo algumas ressalvas ao poder legislativo, que pode ser exercido po r um
ou mais cidadãos, Locke diz que:

1. Ele não pode s er mais do que aquilo que as pesso as lhe outor garam : “[...] dentro
dos mesmos limites que o poder que estas pessoas detinham no es tado de
natureza antes de se associarem em so ciedade e a ele renunciaram em prol da
comunidade social. Ning uém pode transferir par a outra pessoa mais poder do
que ele mesmo possui.” (pág. 164)
2. Ele jamais pode chamar a si o poder de governar por meio de de cretos
arbitrários: “[...] não pode arrogar para si um poder de governar por decretos
arbitrários improvisados, mas se limitar a dispensar a justiça e decidir os
direitos do súdito através de le is permanentes já promulgadas e juí zes
autorizados e conhecidos.” (pág. 166) “ O poder absoluto arbitrário, ou
governo sem leis estabelecidas e permanentes, é absolutamente incompatível
com as finalidades da sociedade e do governo.” (pág. 165)
3. Tal po der não po de j amais ret irar dos ind ivíd uos a su a p ropri edad e (o que
é um dos principais motivos de sua criação), ou lançar impostos sobre esta sem
seu co nsent ime nto. É er rôneo pens ar que o p oder l egisl ativ o pode f azer o
qu e qui ser, mas iss o p ode ser p ossí vel naqu ela s co munid ades em que o l
egisl ativ o est a alic erçado s ó sob um únic o indi viduo p erman entem ente , pois
n os casos de ass embl éias v ariáv eis, os legis lado res não o faze m por s aber
q ue vol tarã o esta r sub miss os como os d emais . “Como a preservação da
propriedade é o objetivo do governo, e a razão por que o homem entrou em
sociedade, ela necessariamente supõe e requer que as pessoas devem ter propriedade,
senão isto faria supor que a perderam ao entrar em s ociedade, aquilo que er a seu
objetivo que as fez se unirem em sociedade, ou seja, um absurdo grosseiro
demais que ninguém ousaria sustentar.” (pág. 167)
4. O poder legislativo não pode transferir seu poder de elaboração de leis a
terceiros, pois só o povo que tem legitimidade para o f azer: “Só o povo pode
estabelecer a forma de comunidade so cial, o que faz instituindo o poder
legislativo e designando aqueles que devem exercê -lo.” (pág. 169)

Capítulo XII. DOS PODERES LEGISLATIVOS, E XECUTIVO E FEDERATIVO


DA COMUNIDADE CIVIL
“O poder legislativo é aquele que tem competência para prescrever segundo
que procedimentos a força da comunidade civil deve ser e mpregada par a preservar
a comunidade e seus membros.”(pág. 171)
Na f iscal iza ção d o cum prim ento das lei s, f icará o p oder ex ecuti vo, responsável
por acompanhar sua ex ecução e eficácia: “[...]é necessário que haja um poder que
tenha uma existência co ntínua e que garanta a execução das leis à medida em
que são feitas e durante o tempo em que permanecerem em vigor. Por isso,
freqüentemente o poder legislativo e o executivo ficam separados.” (págs. 171, 172)

Sobre o Poder Federativo, responsável pela se gurança e defesa dos interesses da


comunidade fora dela: “Este poder tem então a competência para fazer a guerra e
a paz, ligas e ali anças, e todas as transaçõ es com todas as pessoas e todas as
comunidades que estão fora da comunidade civil; se quisermos, podemos chamá -
lo de federativo. Uma vez que se compreenda do que se trat a, pouco me importa
o nome que receba.” (pág. 172)

Capítulo XIII. DA HIERARQUIA DOS PODERES DA COMUNIDADE CIVIL

Locke ensina que como o poder legislativo age d e acordo com os interesses da
comunidade visando sua preservação e salvaguarda, jamais pode ir contra esta,
casos nos quais a mesma pode alterá-lo, outorgando-lhe a outros indivíduos, pois
é sempre o poder supremo nos casos de falhas ou corrupção no poder legislativo,
o que não ocorre nos casos de boa gestão: “ só pode existir um poder supremo,
que é o legislativo, ao qual todos os outros estão e de vem estar s ubordinados;
não obstante, como o legislativo é apenas um poder fiduciário e se limita a certos
fins determinados.” (pág. 174) “[...] enquanto o governo subsistir, o legislativo é o
poder supremo, pois aquele que pode legislar para um outro lhe é forçosamente
superior[...] ” (pág 175)
“Não é necessário nem mesmo conveniente, que o poder l egislativo seja
permanente. Mas a existência do poder executivo é absolutamente necessária, pois
nem sempre há a ne cessidade de serem feitas novas leis, mas é sempre necessária
a aplicação das leis existentes.” (pág. 176)
Locke fala dos casos em que o pode r legislativo nada deliberou sobre
determinado assunto, ou simplesmente não o regular de forma amplamente
necessária, momentos em que cabe ao executivo buscar utiliz ar-se do melhor meio
possível, visando o bem da comunidade.
“O poder de reunir e destituir o legislativo, confiado ao executivo, não concede
a este nenhuma superioridade, mas define uma missão de confiança da qual ele
é encarregado para garantir a segurança das pessoas em um caso em que a incerteza
e a mutabilidade dos p roblemas humanos não podem se acomodar dentro de uma
regra fixada.” (pág. 178)
“A regra salus populi suprema lex é certamente tão justa e fundamental que aquele
que a segue com sinceridade não corre um risco grande de errar. [...]Todo ato que
tem manifestamente por objetivo o bem do povo e o estabelecimento do gover no
sobre suas verdadeiras bases, é e sempre será uma prerrogativa justa.” (pág. 180)

Capítulo XIV. DA PRERROGATIVA


“Quando os poderes legislativo e executivo se encontram em mãos distintas
[...] o bem da sociedade exige que várias coisas fiquem a cargo do discernimento
daquele que detêm o poder executivo.[...] Há muitas coisas em que a lei não tem
meios de desempenhar um pap el útil; é preciso então necessariament e deixá-las a
cargo do bom-senso daquele que detêm nas mãos o poder e xecutivo, para que ele as
regulamente segundo o exigirem o bem público e suas vantagens.”(pág. 182)
Definição: “Este poder de agir discricionariamente em vista do bem público na
ausência de um dispositivo legal, e às vezes me smo contra ele, é o que se chama
de prerrogativa.” (pág. 184)
Quando a discricionariedade do poder executivo é exercido buscando o interesse
da comunidade , t rata-se de uma prerrogativa e não é questionado: “É mu ito
raro, se é que chega a ocorrer, qu e o po vo manifeste escrúpulos ou rigor sobre
e ste ponto, ou chegue a questionar a prerrogativa quando ela é empregada de uma
maneira mais ou menos aceitável em vista do fim a que é destinada, ou seja, o
bem comum, e não vise manifestamente prejudicá-lo.” (pág. 184)
“Como o objetivo do governo é o bem da comunidade, as modificações feitas
visando este objetivo não podem ser um atentado aos direitos de ninguém; em um
governo, ninguém pode invocar um direito que se incline a um outro fim.” (pág. 185)
“Mas desde que não s e pode imaginar que um a criatura livre se submeta a
outra para ser prejudicada [...] a prerrogati va pode significar apenas a permissão
que o povo concede a seus governantes para fazer várias coisas de sua própria
livre escolha, nas situações em que a lei for omissa.” (pág. 185)
Quem decidirá se o poder está sendo utilizado de modo le gítimo? “Entre um
poder executivo constituído,detentor desta prerrogativa, e um legislativo que depende
da vontade daquele para se reunir, não pod e haver juiz na terra. [...] assim como
em todos os outros casos em que não houver juiz na terra, o povo não teria outro
remédio senão apelar para o céu.”(pág. 187)
Quando se utiliz ar da prerrogativa: “Ninguém deve pensar que isso vai servir
como base perpétua para a desordem, pois só entra em ação quando a situação
estiver tão ruim que a maioria a perceba. [...] e é preciso que todos evitem isso
ao máximo, pois não existe nada no mundo mais perigoso.” (pág. 188)

Capítulo XV. DO PODER PATERNO, POLÍTICO E DESPÓTICO


COSIDERADOS EM CONJUNTO

O poder paterno ou parental, é aquele que os pais tem sobre os filhos até que eles
atinjam um estado de discernimento para compreender as regras que regem a sociedade.
“Mas, aconteça o que acontecer, como eu já provei, nada autoriza a crer que ele
conceda aos pais um direito de vida e de morte sobre seu fi lho, ou sobre quem quer
que seja, nem que ele mantenha o filho[...] ” (pág. 189)
“O poder político é aquele poder que todo home m detém no estado de n atureza
e abre mão em favor da sociedade, e ali aos governantes que a sociedade colocou à sua
frente, impondo-lhes o encargo, expresso ou tácit o, de exercer est e poder para seu
bem e para a preservação de sua propriedade.” (pág. 190)
Em terceiro lugar, o pod er despótico “é um pode r absoluto e arbitrário que um
homem tem sobre outro de lhe tirar a vida quando bem entender.” (pág. 188)
Capítulo XVI. DA CONQUISTA

Locke nos diz que tal forma de poder é algo muito comum em guerras, e que não
é uma forma legitima d e manifestação do poder político, pois não é poss ível
“[...] as sociedades políticas serem fundamentadas sobre outra coisa além do
consentimento do povo.”(pág. 193)
Compara a mencionada conquista através de guerras, à conquist a que um ladrão
tem de um patrimônio: sob ameaça de uma arma, s eria le gitima a entrega da
propriedade a out rem? J amais aquele que conquista em guerra injusta pode ter
qualquer direito à submissão e obediência por parte do conquistado.
O direito de conquista se estende som ente à vi da dos que tomaram parte na
guerra. Supondo que a vitória favoreça o lado certo:
1. “[...] por sua conquista ele não adquire poder sobre aqueles q ue
conquistaram junto com ele.” (pág. 194)
2. “[...] o conquistador só adquire o poder sobre aqueles que realmente
ajudaram, concorreram ou consentiram naqu ela força injusta que foi usada
contra ele.” (pág. 196)
3. “O poder que um conquistador adquire sobre aqueles que ele venceu em
uma guerra justa é perfeitamente despótico; ele tem um poder absoluto
sobre as vidas daqueles que, colocando-se e m um estado de guerra, tiveram
este poder confiscado; mas não tem por isso direito nem título sobre seus
bens.” (pág. 196)
“Como a lei fundamental da natureza exige que todos sejam preservados na
medida do possível, em conseqüência disso, se não existe o bastante para sati
sfazer a ambos, ou seja, para as perdas do conquistador e para o sustento dos filhos,
aquele que está provido, até com e xcesso, deve renunciar a uma parte de sua
indenização plena e ceder o lugar àqueles que correm o risco de perecer sem ela.” (pág.
199)

Capítulo XVII. DA USURPAÇÃO

“Assim como a conquista pode ser chamada de usurpação do estrangeiro, a


usurpação também é uma espécie de conquist a doméstica, com a diferença de que
jamais um usurpador pode ter o direito do seu lado, só havendo usurpação quando
alguém toma posse daquilo que pertence por direito a outra pessoa.” (pág. 206)
“Em todos os governos legítimos, a designação das pessoas que devem
comandar é um elemento tão natural e necessário quanto a forma do governo em
si[...]” (pág. 206) Assim, só a sociedade, e de forma que a lei estabelecer, é a
legitimidade para a escolha de seus diri gentes, não se tornando jamais submissa
a qualquer fo rma de poder arbitrário como a advinda da usurpação.

Capítulo XVIII. DA TIRANIA

Se a usurp ação é o ex ercício do poder ao qual outrem tem o direito, a ti rania é


o exercício do poder além do direito que lhe fora outorgado, algo que não pode
caber a ninguém. Ela consiste e m fazer o uso do poder tido em mãos, não par a
a vont ade daq ueles ao qual estão suj eito . “É ist o que ocorre cada vez que alguém
faz uso do poder que detém, não para o bem daqueles sobre os quais ele o exerce,
mas para sua vantagem pessoal e particular; quando o governante, mesmo autorizado,
go verna segundo sua vontade, e não segundo as leis, e suas ordens e ações não
são dirigidas à preservação das propriedades de seu povo, mas à satisfação de sua
própria ambição, vingança, cobiça ou qualquer outra paixão irregular.” (pág. 208)
Segundo Locke, não só as monarquias podem ser sujeitas a tal arbitrariedade,
pois em quaisquer formas de governo nos quais o poder de um legitimado se
aplicar para fins serão os de interesse de seu povo, tal governo encontrar -se-á em uma
tirania. “Onde termina a lei co meça a tirani a, desde q ue a lei seja transgredida
em prejuízo de alguém. Toda pessoa investida de um a autoridade que excede o
poder a ele conferido pela lei, e faz uso da força que tem sob seu comando para
atingir o súdito com aquilo que a lei não permite [...] ” (págs. 207, 208)
Locke enumera quatro fatores que dão ensejo à condição de quem o faz:
1. O príncipe não responde por quaisquer atos não considerados ilegais e m seu
governo, o que o livra de qualquer tipo de censura ou condenaç ão judicial: “[...]
a pessoa do príncipe pela lei é sagrada, seja o que for que ele ordene ou faça,
sua pessoa ainda permanece livre de qualquer q uestionamento ou violência, e
escapa ao uso da força ou a qualquer censura ou condenação judicial.” (pág.
211)

2. Tal faculdade não impede o questionamento de sua re gularidade, mas se o


príncipe ou rei o for, a arbitrariedade dos responsáveis pelo constrangimento e
desrespeito às leis deve s er julgada: “Este privilégio pertence somente à pessoa
exclusiva do rei e não impede questionar, s e opor e resistir àqueles que usam a
força injusta, embora eles pretendam dele um comissionamento que a lei não
autoriza.” (pág. 211)
3. “Supondo-se um governo em que a pessoa do magistrado supremo não é
sagrada, esta doutrina que autoriza a resistência cada vez que ele exerce
ilegalmente seu poder tem por efeito criar situações inúteis que o exporiam a
riscos ou colocariam o governo em má situação.” (pág. 212)
4. Mesmo com a eminência de atos ilegais por parte do governo, e com a obstrução
das formas legais de se proceder, os indivíduos têm o direito de resistir a tal
manifesto: “Se os atos ilegais cometidos pelo magistrado foram confirmados
(pelo poder que ele detém), e s e o mesmo poder obstrui a reparação que a lei
obriga, o direito de resis tir não perturbará o governo de maneira intempestiva,
nem sem razão gra ve, mesmo diant e d e atos de tirani a assim manifestos.” (pág.
213)

Capítulo XIX. DA DISSOLUÇÃO DO GOVERNO


Locke busca ao inicio a distinção de dois termos: a dissolução da sociedade, e a
dissolução do governo. A da sociedade pode ocorrer pela invasão de força estranha,
o

que culmina não só na dissolução do governo, mas também na dissolução da


sociedade, vez que esta perde a capacidade de autogestão: “ [...] não sendo possível
s ubsistir nem sobreviver como um único organismo intacto e independente.” (pág. 215)
Há também segundo Locke, a possi bilidade de dissolução dos governos por
motivos internos:
1. Quando se altera o poder legislativo sem o p révio consentimento da socied ade, o
que ocorre: “A constituição do legislativo é o ato primeiro e fundamental da
sociedade; em virtude d esse ato, os associados prevêem a manutenção de sua
união, remetendo-se ao consentimento do povo e a sua escolha para designar as
pessoas que os governarão e para habilitar as pessoas que farão as leis que
regerão seus atos, de m aneira que nenhum indivíduo, nenhum grupo entre eles
tenha o poder de legislar por outros procedimentos.” (pág. 216)
2. Quando o legislativo o u o príncipe agem contrariamente ao en cargo que
receberam, ou seja, a preservação da propriedade fator responsável por sua
criação.
3. “Existe ainda mais um modo pelo qual um governo desse tipo pode ser
dissolvido, ou seja, quando aquele que tem o poder executivo sup remo
negligencia e abandona o seu cargo, impedindo assim a execução das leis já
existentes. Isto equivale, é claro, a reduzir tudo à anarquia, e assim,
efetivamente, dissolver o governo.” (pág. 219)
“Aquele que remove ou altera o legislati vo, suprime este pod er de cisivo que
ninguém pode possuir, exceto pela designação e o consentimento do povo, e assim
destrói a autoridade que o povo estabeleceu, e que só ele pode estabelecer.” (pág. 224)
Locke considera justa uma penalização mais severa ao le gislador, nos casos em
que vai em desrespeito à lei imposta.
“Estou certo de uma coisa: seja quem for, governante ou súdito, que tente pela
força invadir os direitos do príncipe ou do povo e determinar a base para a
derrubada da constituição e da estrutura de qualquer governo justo, ele é altamente
culpado do maior crime de que um homem é capaz, e deve responder por todos os
males do sangue derramado, da rapina e da desolação que o destroçamento de um
governo traz para um país. Aquele que age assim merece que a humanidade o
considere com o um inimigo.” (pág. 226)

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