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A Responsabilidade de Reconstruir

Indo agora para um outro aspecto da Responsabilidade de Proteger, que é a


Responsabilidade de Reconstruir. Bom, essa parte esta estruturada em dois grandes
blocos, que são o das Obrigações pós-conflito e o das limitações que a autoridade
interventora deve ter em mente durante a ocupação.

OBRIGAÇÕES PÓS-CONFLITO

Então, iniciando a primeira parte, o relatório conta que a responsabilidade de


proteger não somente gera os conceitos de prevenção e de reação, mas também, o de
acompanhamento e o de reconstrução. Isso significa que, se uma intervenção militar
for posta em prática, por causa de um colapso ou da abdicação da capacidade e
autoridade que um estado possui referente a sua própria responsabilidade de proteger,
ocasionando a possibilidade ou a efetiva perda de uma massiva quantidade de pessoas
ou de limpeza étnica, é meio que uma obrigação moral dos estados interventores
desenvolverem as condições necessárias para que se possa construir uma paz durável.
Também é necessário que as autoridades internacionais atuem juntamente com líderes
regionais para que o poder seja gradualmente devolvido aos locais, juntamente com
responsabilidade de reconstruir, pois essa, em última instância, é de responsabilidade
da própria população local.
Agora, sobre um outro aspecto, se for pensado numa intervenção militar, é
necessário toda uma estratégia do pós-conflito, pois a intervenção militar em si é
apenas uma das várias ferramenta de prevenção de conflitos e emergências
humanitárias, outras seriam, por exemplo, sanções comerciais e financeiras, entre
outras. O objetivo dessa estratégia deve ser o de ajudar a garantir que as condições
que incitaram a intervenção militar não se repitam, ou seja, é necessário uma
reconciliação entre os beligerantes para que se possa se “construir” a paz.
Continuando sobre o tópico da reconciliação, o relatório diz que a verdadeira
reconciliação é gerada, não pelo alto nível de diálogo político mas sim, pelo baixo
nível, ou seja, quando as forças adversárias se juntam para reconstruir sua
comunidade ou criando um bom ambiente de vivência e boas condições de trabalho
em novas áreas ou assentamentos, no caso em que a cooperação não seja integradora.
Os esforços internacionais para essa reconciliação devem estar conscientes da
necessidade de tentar unir os esforços dos antigos adversários, além de encorajar essa
cooperação local .
Para a Comissão do Relatório ICISS, não há nenhum substituto para uma clara e
efetiva estratégia de pós-intervenção.

Em seguida, o relatório decorre sobre três principais assuntos que os tomadores


de decisão responsáveis pela responsabilidade de reconstruir podem vir a enfrentar,
que são a Segurança, a Justiça e Reconciliação e o Desenvolvimento Econômico.
SEGURANÇA
Lembrando agora que estamos no primeiro bloco, dos três que falei no início, e
que vou falar agora sobre três tópicos importantes para as autoridades interventoras.
Falando primeiro sobre a segurança, é uma função essencial que a força
interventora providencie uma básica segurança e proteção para toda a população,
independente de qual seja, pois o relatório diz que é frequente a ocorrência de mortes
por vingança ou de uma reversa limpeza étnica dos antigos opressores pelas antigas
vítimas. Não deve haver uma minoria culpada na fase pós-intervenção, todos são
entitulados a uma básica proteção de suas vidas e propriedades.
Um dos mais importantes problemas relacionados à fase pós-intervenção é a do
desarmamento e da reintegração das forças de seguranças locais. Além dos esforços
desarmamentistas no país em questão, é necessário que o país volte a funcionar
ordenadamente e que seu sistema jurídico funcione, pois um ex-soldado pode vir a se
tornar um criminoso ou participar de uma oposição armada caso não seja
propriamente reintegrado e com uma renda que o sustente, um exemplo de
reintegração que o próprio relatório nos dá é a formação de um novo quadro de forças
militares e policiais nacionais para os antigos combatentes.

JUSTIÇA E RECONCILIAÇÃO
Falando agora sobre justiça e reconciliação, o relatório trata de dois pontos: o das
instituições jurídicas e dos refugiados e retornados.
Sobre as instituições jurídicas, é necessário que seja implantado o mais rápido
possível um sistema jurídico, justificando que, se não existe uma instituição capaz de
julgar as violações dos direitos humanos, não é possível levar a justiça para os
violadores da lei. Outra medida a ser implantada é, por exemplo, um Código Penal, o
qual possa ser usado nos casos onde não há nenhuma entidade capacitada de aplicar a
lei.
Sobre a outra questão, sobre o retorno dos refugiados e dos direitos dos
retornados.
É necessário garantir que não haja qualquer intenção de tratamento desigual para
os retornados, mandando assim a mensagem de que eles não são
bem-vindos.vFacilitar o retorno requer a remoção das barreiras administrativas e dos
obstáculos burocráticos de retornar e, também, a adoção de leis de propriedade
não-discriminatórias, entretanto, apenas a alocação de moradias não serão o suficiente,
a construção de novas habitações normalmente serão necessárias e, para isso, é
preciso quem construa e quem pague por isso. Além disso, também será necessário
desenvolver um ambiente de direitos sociais e de condições econômicas para os
retornados, o que também inclui acesso à saúde, à educação e aos serviços básicos.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Sobre o terceiro e último aspecto, a responsabilidade final de construção da paz
de qualquer intervenção militar deveria ser encorajar ao máximo o crescimento
econômico, a recriação de mercados e o desenvolvimento sustentável, em razão de
que, o crescimento econômico não somente já implica em uma determinada ordem e
justiça, mas também para a própria recuperação do país. Para isso, também é
necessário que se encontre meios de que findem quaisquer medidas coercitivas e
punições econômicas aplicadas a esse país.
Isso não se deve somente para o desenvolvimento econômico, mas também é uma
medida de segurança de curto-prazo como vimos anteriormente sobre os
ex-combatentes, que necessitam dessa reintegração para que se estabeleçam
pacificamente na sociedade, e o quanto antes essa comunidade perceber que a vida
civil pode retornar a normalidade sob circunstâncias normais de segurança, mais
positivos serão suas respostas ao desarmamento e às questões relacionadas à isso.

LIMITES PARA A OCUPAÇÃO

Iniciando agora a última parte do capítulo 5, a comissão trata dos Limites para a
Ocupação, enfatizando os bons resultados que uma ocupação militar traria ao país em
questão. As boas são que é possível a remoção das raízes do conflito original e
restaurando a boa governança e a estabilidade econômica, esse período talvez faça
que a população local se acostume com as instituições e processos democráticos, no
caso destes não existirem no governo anterior.
Entretanto, a comissão diz que obviamente podem ter aspectos negativos e citam
três principais: a Soberania, A Dependencia e Distorção e o Repasse da
Responsabilidade, que significa mais ou menos alcançar ou tornar a propriedade em
propriedade local.

SOBERANIA
Sobre o primeiro ponto, da Soberania, a comissão parte do pressuposto de que é
necessário transferir a soberania da região para que o interventor tenha autoridade
sobre esse território pois, somente desse modo, é possível haver uma boa governança,
bem como paz e estabilidade. Mas essa soberania não seria de jure, mas somente de
facto, ou seja, pelo período em que a intervenção e os processos pós-intervenções
aconteçam.
Mas, uma pergunta minha é como fazer isso na prática, ainda mais se for num
conflito onde há várias lideranças atuando, como escolher tal liderança? Não há no
relatório nenhuma parte falando sobre isso.

DEPENDENCIA E DISTORÇÃO
Uma má administração das autoridades interventoras que, independente do
motivo (propositalmente ou não), faça com que as populações locais se sintam que
são tratados como “inimigos”, irá obviamente fazer com que o sucesso de qualquer
esforço de reabilitação de longo prazo esteja ameaçado.
Outro tópico deste assunto é o súbito/repentino/abrupto fluxo de uma grande
quantia de capitais estrangeiros que normalmente acompanham a intervenção militar,
é um problema pois isso acaba tendo uma grande distorção principalmente nos países
frágeis financeiramente, criando uma expectativa ilusória na economia desses lugares
e fazendo com que, depois da saída desses capitais, essa economia volte ao seu estado
anterior e terminando negócios que só seriam possíveis naquele nível ilusório de
anteriormente.
Continuando na linha financeira, agora referente às autoridades interventoras,
com a maior duração do período do acompanhamento da intervenção, maiores são os
custos financeiros e materiais para os países que a custeiam. Ainda mais se não
houver um prazo de duração dessa intervenção, desincentivando o futuro exercício da
responsabilidade de proteger, não importando o quão bom humanitariamente falando
ela seja, pois, como usando o tempo atual de exemplo, há uma grande desaceleração
de quase todas as economias do mundo.

REPASSE DA RESPONSABILIDADE (ACHIEVING LOCAL OWNERSHIP)


Me direcionando ao fim, então, desde o começo o relatório frisa a importância de
um balanço entre as responsabilidades dos atores internacionais e locais, a força
interventora deve tomar cuidado para não monopolizar essa responsabilidade. Para
isso, é necessária a criação de processos políticos, os quais exijam a tomada da
responsabilidade de reconstruir, e antes de tudo, que haja processos de conciliação
política entre as partes conflitantes para que se crie uma liderança local em que ambos
os grupos sejam encorajados a cooperar. Caso contrário, se não existir tal conciliação
política, existe um considerável risco de que as hostilidades retornem a assolar tal
território. Além disso, esse processo de repassar a autoridade é essencial para manter
a legitimidade da própria intervenção, pois caso não fosse desse modo, seria apenas
uma maneira velada de imperialismo e neocolonialismo.

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