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15/05/2019 A promessa e o perigo da biologia sintética - Ciência - Estadão

A promessa e o perigo da biologia


sintética
Para compreendê-los bem, olhe para o passado e para as formas com que a humanidade já
transformou seu entorno

The Economist, O Estado de S.Paulo


14 de abril de 2019 | 03h00

Nos últimos 4 bilhões de anos, aproximadamente, o único meio de a vida na Terra produzir uma
sequência de DNA – um gene – foi copiando uma sequência que já existia ao alcance. Às vezes o gene
podia ser danificado ou embaralhado, a cópia imperfeita ou realizada repetidamente. A partir dessa
matéria-prima vieram as glórias da seleção natural. Mas, fundamentalmente, gene gera gene.

Isso não é mais verdade. Agora os genes podem ser escritos a partir do zero e editados repetidamente,
como texto em um processador de texto. A capacidade de projetar coisas vivas que isso proporciona
representa uma mudança fundamental na forma como os seres humanos interagem com a vida do
planeta. Ela permite a fabricação de todos os tipos de coisas que costumavam ser difíceis, até mesmo
impossíveis de se fazer: produtos farmacêuticos, combustíveis, tecidos, alimentos e fragrâncias podem
ser construídos molécula por molécula.

Agora os genes podem ser escritos a partir do zero e editados repetidamente, como texto em um processador de texto.
Foto: ilustração TJ-GO/Divulgação

O que as células fazem e o que elas podem se tornar é algo que também pode ser engendrado. As células
imunológicas podem ser instruídas a seguir as ordens dos médicos; células-tronco mais bem
programadas para se transformar em novos tecidos; ovos fertilizados planejados para crescer em
criaturas bem diferentes de seus pais.

Os primeiros estágios dessa “biologia sintética” já estão mudando muitos processos industriais,
Você leu 4 de
transformando 5 textos e começando a chegar ao mundo do consumidor.
a Medicina progressoEntre
Já éOassinante?. podeaqui
ser lento,
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15/05/2019 A promessa e o perigo da biologia sintética - Ciência - Estadão
mas com a ajuda de novas ferramentas e uma grande dose de aprendizado de máquina (machine
learning), a manufatura biológica poderia produzir uma verdadeira cornucópia de tecnologias. Edifícios
podem ser feitos a partir de madeira sintética ou coral. Mamutes produzidos a partir de células de
elefantes modificadas ainda poderão vir a atravessar a Sibéria.

A escala das mudanças potenciais parece difícil de se imaginar. Mas olhe para trás na história. As
relações da humanidade com o mundo vivo testemunharam três grandes transformações: a exploração
dos combustíveis fósseis, a globalização dos ecossistemas do mundo após a conquista europeia das
Américas, e a domesticação de culturas e animais no alvorecer de agricultura. Tudo isso trouxe
prosperidade e progresso, mas com efeitos colaterais prejudiciais. A biologia sintética promete uma
transformação semelhante. Para aproveitar a promessa e minimizar o perigo, vale a pena aprender com
as lições do passado.

A nova biologia põe tudo em dúvida

Comece pela mais recente dessas mudanças anteriores. Os combustíveis fósseis permitiram que os
humanos conduzissem uma notável expansão econômica no presente, usando a produtividade biológica
de eras passadas, armazenada em carvão e petróleo. Mas muito da natureza selvagem foi perdido e os
átomos de carbono que viram a atmosfera pela última vez há centenas de milhões de anos fortaleceram
o efeito estufa do planeta a um grau que pode revelar-se catastrófico.

Aqui, a biologia sintética pode fazer algo de bom. Já está sendo usada para substituir alguns produtos
feitos de petroquímicos; com o tempo, poderia substituir alguns combustíveis também. Na semana
passada, o Burger King introduziu em alguns de seus restaurantes um Whopper sem carne, que obtém
sua consistência de uma proteína vegetal modificada; tais inovações poderiam facilitar muito a
mudança para dietas menos onerosas do ponto de vista ambiental. Elas também poderiam ser usadas
para fazer mais com menos. As plantas e seus micróbios do solo poderiam produzir os próprios
fertilizantes e pesticidas, os ruminantes menos gases de efeito estufa – embora, para garantir que a
biologia sintética produza metas ambientais tão louváveis, seja preciso a adoção de uma política
pública, bem como de sinais do mercado.

O segundo exemplo de mudança biológica que varre o mundo é o intercâmbio colombiano, por meio do
qual a nova rede de comércio mundial do século 16 misturou as criaturas do Novo Mundo e do Velho.
Cavalos, gado e algodão foram introduzidos nas Américas; milho, batata, pimentão e tabaco foram para
a Europa, África e Ásia. Os ecossistemas nos quais os seres humanos vivem foram globalizados como
nunca, proporcionando uma agricultura mais produtiva em todas as partes e dietas mais ricas para
muitos. Mas também houve consequências desastrosas. Sarampo, varíola e outros patógenos corriam
pelo Novo Mundo como um incêndio florestal, matando dezenas de milhões de vidas. Os europeus
transformaram esta catástrofe em uma arma, conquistando terras esgotadas e desordenadas por
doenças.

A biologia sintética poderia criar tais armas por projeto: agentes patogênicos destinados a enfraquecer,
incapacitar ou matar, e talvez também para se limitar a tipos particulares de alvos. Existe uma causa
real de preocupação aqui – mas não para alarme imediato. Para tal armamento, como o restante da
biologia sintética de ponta, seriam necessárias equipes altamente qualificadas com recursos
significativos. E os exércitos já têm muitas maneiras de arrasar cidades e matar pessoas em grande
número. Quando se trata de destruição em massa, uma doença é um substituto pobre para uma arma
nuclear. Além disso, a comunidade de biologia sintética de hoje preenche as expectativas de ideais de
abertura e serviço público melhor do que muitos campos mais antigos. Mantida e nutrida, essa cultura
deve servir como um poderoso sistema imunológico contra elementos nocivos.

A primeira transformação biológica – a domesticação – produziu o que até agora era a maior mudança
em como os humanos viviam suas vidas. Ao acaso, depois intencionalmente, os humanos cultivaram
cereais para serem mais abundantes, os animais para serem mais dóceis, os cães mais obedientes e os
gatos mais sociáveis (o último, um sucesso parcial, na melhor das hipóteses). Isso permitiu novas
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densidades de colonização e novas formas de organização social: o mercado, a cidade, o Estado. Os
humanos domesticaram a si mesmos, assim como suas colheitas e animais, abrindo espaço para o
trabalho enfadonho da agricultura de subsistência e as hierarquias políticas opressivas.

A biologia sintética terá um efeito cascata semelhante, transformando as relações humanas entre si e,
potencialmente, sua própria natureza biológica. A capacidade de reprogramar o embrião é, com razão, o
ponto da maioria das preocupações éticas de hoje. No futuro, elas podem se estender ainda mais; o que
se deve fazer com pessoas com a força dos gorilas na parte superior do corpo, ou mentes imunes ao
sofrimento? Como os humanos poderão escolher modificar biologicamente a si mesmos é difícil dizer;
que algumas escolhas serão controversas, não é.

O que leva à maneira principal em que esta transformação difere das três que vieram antes. Seu
significado foi descoberto apenas em retrospecto. Desta vez, haverá previsão. Não será perfeita: por
certo haverá efeitos imprevistos. Mas a biologia sintética será impulsionada pela busca de objetivos,
tanto antecipados quanto desejados. Isso desafiará a capacidade humana de sabedoria e visão. Pode
derrotá-la. Mas cuidadosamente nutrida, também pode ajudar a expandi-la./ TRADUÇÃO DE
CLAUDIA BOZZO

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Lua está encolhendo devido a


tremores, revela estudo
Análise em mais de 12 mil imagens revela que superfície do satélite é mutável; EUA planeja levar
primeira mulher para missão de exploração lunar em 2024

Redação, O Estado de S.Paulo


14 de maio de 2019 | 03h09

A Lua está encolhendo progressivamente, gerando elevações e tremores, segundo uma análise de
imagens capturadas pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) publicada nesta segunda-
feira, 13. Com base em mais de 12 mil imagens, o estudo revelou que a cratera lunar Mare Frigoris,
considerada como local morto do ponto de vista geológico, está ganhando pequenas elevações.

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15/05/2019 A promessa e o perigo da biologia sintética - Ciência - Estadão
Ao contrário do planeta Terra, a Lua não tem placas tectônicas. Sua atividade sísmica ocorre à medida
que perde calor lentamente, desde a sua formação, há 4,5 bilhões de anos. Isto faz com que sua
superfície fique "enrugada", como uma uva passa. Já que o córtex lunar é frágil, estas forças geram
rupturas na superfície enquanto o interior se contrai, dando lugar a elevações através da sobreposição
de camadas do solo.

É graças a esse processo que a Lua ficou cerca de 50 metros mais "magra", nas últimas centenas de
milhões de anos. Ainda nas décadas de 1960 e 70, os astronautas da missão Apolo começaram a
medir sua atividade sísmica , descobrindo que a grande maioria dos movimentos ocorreram no interior
do satélite, enquanto um número menor estava na superfície.

"É bastante provável que as falhas ainda estejam ativas hoje", disse Nicholas Schmerr, professor
assistente de geologia na Universidade de Maryland, que é co-autor do estudo. "Com frequência não se
veem tectônicas ativas em nenhum outro lugar que não seja a Terra, por isso que é muito emocionante
pensar que estas falhas ainda possam produzir terremotos na Lua".

EUA levará primeira mulher à lua com a missão ‘Ártemis’

A Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) informou também nesta segunda que sua
missão espacial à Lua em 2024 se chamará Ártemis. O administrador da agência, Jim Bridenstine,
anunciou a escolha durante uma coletiva por telefone com jornalistas sobre uma verba adicional de US$
1,6 bilhão solicitada ao Congresso este ano, para financiar os foguetes e veículos espaciais necessários
para a operação.

Em março, a administração de Donald Trump anunciou a volta dos astronautas à Lua, incluindo a
primeira mulher, a partir de 2024. O orçamento anual da Nasa é atualmente de US$ 21,5 bilhões, dos
quais 4,5 bi serão empregados no ano fiscal de 2019 (até setembro) no foguete SLS, no veículo Orion e
no desenvolvimento da futura estação orbital lunar, três elementos indispensáveis para a volta do
homem à Lua.

Ártemis, filha de Zeus, é irmã gêmea de Apolo e "a deusa da Lua", disse Bridenstine, fazendo referência
ao programa que enviou 12 astronautas americanos ao satélite entre 1969 e 1972. / AFP

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