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Tenentismo e política - tenen- tismo se desintegra como grupo década de vinte o tenentismo

tismo e camadas médias urbanas político organizado" (p. 16), e assumiu o papel de porta-voz
na crise da Primeira República que é sua intenção prosseguir das. aspirações das camadas mé-
posteriormente a análise, esse dias urbanas. Esse grupo social,
Por Maria Cecília Spina For jaz. corte no tempo se justifica pela por sua dependência estrutural
Editora Paz e Terra, Rio de Ja- unidade própria que a fase libe- das oligarquias dominantes, foi
neiro, 1977. ral-democrata do tenentismo incapaz de organizar um partido
possui. político que expressasse seus in-
Num primeiro capítulo, Ma- teresses e que efetivamente con-
ria Cecília, depois de apresentar testasse a dominação oligárqui-
os ''marcos estruturais" mais ge- ca. Esse papel foi preenchido
rais em que se insere a conjun- por um setor da burocracia esta-
tura da década de 20, passa· a tal, os militares, que embora in-
analisar o processo histórico- tegrantes das camadas médias
social da formação das camadas urbanas, possuem uma autono-
médias urbanas, pois o que a mia própria advinda de suas
preocupa é estabelecer possíveis funções no aparelho de Estado"
vinculações entre esse grupo so- (p. 31 }. As análises históricas
cial e o movimento tenentista. que a autora desenvolve nos ca-
E a utilização da expressão "ca- pítulos seguintes demonstram
madas médias urbanas" não é não só essa sua hipótese central,
arbitrária, como ela mostra, mas como também desvendam mais
designa - utilizando aí o traba- -duas características do movi-
lho de Décio Saes - Jlaqueles mento tenentista: de um lado, o
setores da população urbana que de ser "muito radical em sua
O próprio título do livro já su- não sendo detentores do capital, forma e limitado em sua ideolo-
gere não se tratar apenas de realizam trabalho predominante- gia"- o que é explicado, segun-
mais uma obra sobre esse tema mente não-manual, quer traba- do a autora, pela combinação
já bastante explorado e analisa- lhando por conta própria, quer da situação instítucional dos te-
do. A autora, depois de um le- vendendo a sua capacidade de nentes como membros do apa-
vantamento e sistematização trabalho a terceiros" (p. 20). relho militar do Estado e de sua
das análises existentes sobre o Embora consciente de estar composição social como mem-
tema, elege uma perspectiva abordando um problema teóri- bros das camadas médias urba-
bem definida para pensar o fe- co mais geral, qual seja, "o da nas; e de outro, o fato de as
nômeno tenentista: quais seriam 'especificidade' das classes so- contradições que apresenta res.i-
as reais bases sociais desse movi- ciais nos países da periferia ca- direm "exatamente na combina-
mento. Para tanto, delimita sua .- pital ista" a autora aí não se ção da autonomia relativa fren-
análise no período de julho de atém, mas segue adiante, levan- te às forças sociais em luta, ca-
1922 a fevereiro de 1927, por- tando e analisando na sociologia racterística da burocracia esta-
tanto a fase inicial do movimen- brasileira os estudos sobre as re- tal, à dependência histórica das
to, que coincide com sua con- lações entre tenentismo e cama- camadas médias urbanas das
figuração Ii bera 1-democrát i ca. É das médias urbanas. E chega a forças sociais hegemônicas na
exatamente nesse período que o detectar duas tendências: uma sociedade brasileira" (p. 30-31 ).
tenentismo começa a elaborar que vê os grupos industriais alia- Noutros termos, os tenentes
um projeto de transformação da dos às classes médias represen- não se expressam somente em
sociedade brasileira marcada, de tando os agentes de transforma- nome do Exército, mas expres-
um lado, pela crise agrário- ção social e política no sentido sam também o inconformismo
exportadora e pela crise do esta- da implantação de um sistema anti oi igárquico das camadas mé-
do oligárquico, e de outro lado capitalista industrial no Brasil dias urbanas. -
pela sua contrapartida, a emer- (p. 23), e outra, mais recente, No segundo capítulo a autora
gência e progressiva hegemonia que surge como uma crítica à vai lastrear as raízes do descon-
dos setores urbano-industriais. anterior, que contesta a tese da tentamento militar na fase ini-
Já na Introdução a autora representatividade dos setores cial da crise da Primeira Repú-
afirma que, embora a resposta médios da população brasileira blica, a articulação entre a re-
ao seu problema central exija através dos tenentes. beldia militar e os confl·itos in-
"uma análise histórica mais am- Feito o que, a autora passa a ternos das oi igarqu ias regionais,
pla, que se estendesse pelo me- desenvolver sua hipótese cen- e verificar até que ponto existe
nos até 1934, quando o tenen- tral: a de que l/na conjuntura da uma convergência entre ambos.

R.Adm. Emp. Rio de Janeiro, 17 (5): 100-110 set./out. 1977


São analisados assim o governo 1927, ressahando que os "te- Ergo no mia
de Epitácio Pessoa e seu conhe- nentes da Coluna mantinham a
cido civilismo, e, paralelamente concepção, desenvolvida desde Por Reiner W. Lehr Vogel Ver-
à rebeldia militar, a rebeldia das 22 de que as Forças Armadas lag, Wuerzburg, 1976, 160 p.
oligarquias regionais dos estados são o principal agente da mu- ilustrado, índice remissivo, bi-
"intermediários" - Rio Grande dança política no Brasil e que bliografia; brochura.
do Sul, Rio de Janei.ro, Bahia e elas representam os interesses
Pernambuco. gerais da nacionalidade, que es-
No terceiro capítulo são ana- tariam expressos em seu progra-
lisadas as revoluções de 1924, ma liberal-democrata e antioli -
que representariam o amadure- gárqu ico" (p. 1 09}.
cimento político e ideológico Como ressalta Francisco Cor-
da sedição de 1922, e que ''con- rea Weffort na introdução do
figuram uma fase específica do livro, não só o tenentismo é ho-
movi menta tenentista: a fase je ainda uma questão em aber-
liberal-democrata, na qual os te- to, como o livro de Maria Cecí-
nentes agem relativamente des- lia Forjaz se destaca entre a bi-
. . vinculados de setores dissiden- bliografia existente, tendo co-
tes da oi igarquia dominante" mo uma de suas perspectivas
{p. 51)' mais fecundas a de ver no movi-
mento tenentista não uma opo-
O importante a ressaltar aí é
que a autora mostra como a am- sição entre a interpretação insti·
pla simpatia da opinião pública tucional e a classista da presen-
e mesmo o. empenho em con- ça mil ita r na política, mas a de
analisar os tenentes como si mul- O livro, cujo título completo,
quistá-la não são só indicadores
taneamente fazendo parte da traduzido do alemão, é Erge·
da inexistência de uma tendên -
sociedade e do Estado, não se nomia, concisa e resumidamen-
cia isolacionísta do tenentismo
podendo entender seu compor- te, fundamentos das relações re-
dessa fase, como do fato de que
tamento político, e suas aparen- cíprocas entre o homem, a téc-
os próprios tenentes não preten-
tes incongruências, sem essa du- nica e o ambiente, é o mais re- 101
dera! efetivamente organizar o
povo, mas apenas obter o apoio
pla relação. O cente dos Iivros de ergonomi a
nas prateleiras. O próprio título
popular. Mais do que isso, os te-
Amélia Cohn dá a definição da ciência apli-
nentes buscavam alianças nas
cada. O 'leitor que, inadvertida-
próprias elites, "e não concebi-
mente, pegar o .livro ficará sur-
am a luta política como algo a
preso com as ilustrações das pri·
ser realizado pelo próprio povo,
meiras páginas, que parecem ter
mas, ... por uma vanguarda em
saído de um livro-texto de me-
nome do povo". O que não
dicina. Mas este volume, como
quer dizer, segundo a autora,
poucos, integra bem as ciências
que os tenentes não representas-
ligadas à ergonomia - a psicolo-
sem as camadas médias urbanas,
. gia ocupacional, a fisiologia, a
mas que "o el itismo dos tenen-
anatomia, a engenharia indus-
tes e sua incapacidade de orga-
trial, a ecologia e a física.
nizar correspondem ao elitismo
De extenso índice resumo so-
das camadas médias e à sua in-
mente, como exemplo, a tercei-
capacidade de organizar-se poli-
ra parte : "Ergonomia prática".
ticamente'.' (p. 80-81 ).
1) O sistema homem-máquina :
Finalmente a autora analisa a construção e função de um sis-
formação da Coluna Paulista e tema homem-máquina. Possibi -
os levantes revel ucionários nos 1idades de comunicação entre o

outros estados para, no último homem e a máquina. 2) A oti-


capítulo, estudar a formação da mização do sistema homem-má-
Coluna Prestes, que "se consti- quina: Análise do sistema global
·tui a partir do momento da jun- homem- máquina. Adequação da
ção das alas pau Iista e gaúcha da técnica ao homem. A mesa
revolução tenentista" (p. 96), de trabalho e o assento de
sua marcha até fevereiro de operário. Dispositivos de regula -

Resenha hih/ioKrájica

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