março/abril 2004 nº 146 60

> Revista Brasileira

de Contabilidade

[ Administração Financeira, Economia e

Contabilidade: uma abordagem da
relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

Gideon Carvalho de Benedicto*

Joubert da Silva Jerônimo Leite**
]
Este artigo objetiva evidenciar a relação existente
entre as finanças corporativas com fatores
econômicos e contábil-financeiros no processo de
gestão e análise financeira empresarial de caixa e
lucro, por meio da aplicação sistêmica da
controladoria operacional e estratégica.
As entidades nacionais ou estrangeiras realizam suas
operações em um ambiente econômico que pode se
modificar constantemente, de acordo com o avanço
tecnológico e cultural nos principais mercados do
mundo.
Essas alterações no mundo globalizado devem ser
objeto de análise por parte do administrador
financeiro, no processo de gestão do caixa e do lucro
da empresa. Assim, a sua missão poderá ser
alcançada com eficiência e eficácia, pois ele terá
condições de tomar decisões de investimentos e
financiamentos com segurança, observando os
pontos fortes e fracos, e as ameaças e as
oportunidades de cada negócio da companhia.

*Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA-USP. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP. Diretor da Faculdade de Ciências Contábeis da PUC-CAMPINAS.
Professor no Curso de Mestrado em Administração do Centro do UNISAL.
**Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica pela UNIFECAP-SP. Professor do Centro de Economia e Administração da PUC-CAMPINAS. Coordenador e Professor dos
Cursos de Pós-Graduação em Auditoria e Controladoria e de Graduação em Ciências Contábeis da Faculdade Paulista de Administração e Ciências Contábeis de Hortolândia. Auditor
e Consultor de Empresas. (jeronimo@directnet.com.br)

61 março/abril 2004 nº 146


> Introdução. As empresas operam num ambien-
te econômico-financeiro que influencia as decisões de
investimentos e financiamentos de suas operações no
processo de geração de caixa e lucro.
A missão do administrador financeiro vai além do sim-
ples controle e da gestão de recursos a receber e a pagar,
e de tesouraria. A geração de caixa e lucro é de funda-
mental importância para a continuidade normal da em-
presa e a garantia de sua sobrevivência no mercado.
Entende-se por caixa os recursos financeiros disponíveis
em caixa, bancos e aplicações financeiras de liquidez ime-
diata. Assim sendo, é com essa premissa que o adminis-
trador financeiro deve se preocupar no processo de ges-
tão econômico-financeira da empresa, utilizando, para
isso, as ferramentas estratégicas disponíveis que sejam
capazes de viabilizar informações que possam auxiliar a
tomada de decisões.
A Controladoria é ferramenta informativa estratégica que
pode ser utilizada para análise e planejamento financeiro.
No entanto, o administrador financeiro deve compreen-
der não só as informações do ambiente interno da empre-
sa, mas, principalmente, em alguns casos, as informações
de seu ambiente externo, tais como: políticas econômicas
(inflação, câmbio, taxa de juros) e tributárias, que podem
interferir no processo de geração de caixa e lucro.
março/abril 2004 nº 146
> Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro
E é justamente esse o objetivo deste trabalho que pro-
cura, de uma forma simples, evidenciar a importância para
o administrador financeiro em obter uma visão sistêmica
da empresa no processo de elaboração do planejamento
financeiro de curto e longo prazos, por meio do conheci-
mento do meio ambiente interno e externo da empresa e
utilizando as ferramentas estratégicas informativas dispo-
níveis.
> A Controladoria como unidade admi-
nistrativa empresarial. A Controladoria pode ser
relacionada com um sistema de informações que obje-
tiva auxiliar o processo de tomada de decisões dos
gestores, que são responsáveis pela direção e o contro-
le das operações realizadas pela empresa. Portanto,
pode-se afirmar que os meios e os procedimentos
adotados e feitos “sob medida”, para que o gestor use
no processo decisório entre alternativas conflitantes ou
na avaliação de desempenho, recaem na Controladoria.
A Controladoria pode ser contrastada com a Con-
tabilidade Financeira (Quadro 1), que é relacionada
com o fornecimento de informações econômico-fi-
nanceiras para os usuários internos e externos, como
os acionistas, os credores e outros que estão de fora
da organização.
62
 > Revista Brasileira
de Contabilidade

Quadro 1. Diferença entre a Contabilidade Financeira e a Controladoria

Fator Contabilidade Financeira Controladoria

Usuários dos relatórios Externos e internos. Internos

Objetivo dos relatórios
Forma dos relatórios
Freqüência dos relatórios
Perspectiva dos relatórios
Custo ou valores utilizados
Restrições nas informações
Arcabouço teórico e técnico
Fonte: Adaptado de Padoveze (1996: 24-25)
Facilitar a análise financeira Facilitar o planejamento,
para as necessidades controle, avaliação de
dos usuários externos. desempenho e tomada de
decisões internamente.
As demonstrações contábeis. Orçamentos, contabilidade
por responsabilidade,
relatórios para facilitar a
tomada de decisões.
Anual, trimestral e, Quando necessário pela
ocasionalmente, mensal. administração.
Orientação histórica. Orientação para o futuro, para
facilitar o planejamento,
controle e avaliação.
Primariamente históricos. Históricos e futuros.
Princípios contábeis. Nenhuma restrição, exceto as
determinadas pela
administração.
Ciência contábil. Outras disciplinas, como
economia, finanças, direito,
administração, estatísticas,
processamento de dados,
matemática financeira,
pesquisa operacional, etc.

Como se pode observar, a Controladoria vista como ór-
gão administrativo tem por finalidade garantir informações
adequadas ao processo decisório, além de ser responsável
pela coordenação e a disseminação da tecnologia de ges-
tão, colaborando com os administradores na busca da efi-
cácia gerencial.
> A empresa como sistema aberto. É de
fundamental importância que o gestor tenha uma visão
sistêmica da empresa, tendo em vista a complexidade cada
vez maior do mundo dos negócios. Dessa forma, alguns
estudiosos tratam o sistema aberto como um conjunto de
partes em constante mutação, de maneira que se possa, a
qualquer tempo, identificar com mais facilidade os pontos
fortes e fracos, as ameaças e as oportunidades de bons
negócios no processo de operacionalização das empresas.
Sistema pode ser conceituado como um comple-
xo de elementos em interação. Em outras palavras,

63 março/abril 2004 nº 146

 > Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

sistema é um conjunto de elementos inter- que interage formando um todo unitário e com-
dependentes, ou um todo organizado, ou parte plexo.

Figura 1. Funcionamento Básico de um Sistema

INPUT OUTPUT
PROCESSO
(Entrada) (Saída)

NOVO CICLO

Para Kroetz (1998): O bom desempenho da empresa depende da interação

“O sistema se apóia nas estruturas, porém é ele quem cons-
trói o conhecimento sobre informações dadas, processa-
das e avaliadas. Um bom sistema deve ser auto-ajustável
ou cibernético, capaz de corrigir sua ação, de modo a apro-
ximar-se cada vez mais da meta desejada, até atingi-la.”
e da adequação em tempo real das partes que com-
põem o sistema empresarial aberto às constantes mu-
danças ocorridas no meio ambiente. Dessa forma, pode-
se visualizar a empresa como sistema aberto, por meio
da Figura 2.

Figura 2. A Empresa e seu Meio Ambiente

AMBIENTE EXTERNO

Políticas Econômicas
AMBIENTE INTERNO
Recursos
Materiais Atividades e Processos Produtos

Pessoas Objetivos
Recursos
Tecnológicos Informações Decisões

Recursos PATRIMÔNIO Serviços

Financeiros EMPRESARIAL

Políticas Tributárias

março/abril 2004 nº 146 64


A composição do ambiente externo (recursos materiais,
tecnológicos, financeiros, etc.) interage constantemente
com o ambiente interno (atividades e processos, pessoas,
informações, objetivos, decisões, etc.), de forma a pro-
cessar os produtos e os serviços destinados ao seu merca-
do de atuação, envolvendo os seus clientes (meio ambi-
ente externo), que em determinadas ocasiões pressionam
a empresa, sob a forma de exigências e restrições.
Na medida em que o ambiente de concentração da
empresa modifica-se, é possível, com uma visão ampla
do meio ambiente em que ela se encontra, identificar as
forças positivas e negativas das variáveis ambientais (vari-
áveis sociais, políticas, culturais, tecnológicas, econômi-
cas, financeiras, etc.), as quais ditam as normas em mui-
tos casos, e é neste contexto que a Contabilidade (ambi-
ente interno) proporciona o principal produto de resulta-
do e decisão, que é a informação.
Figura 3. O Sistema Integrado de Informações
PROCESSO DE TOMADA DE DECISÕES
Planejamento
Sistema de Gestão
de Custos
Sistema de
Orçamentos
Orçamento
Fonte: Adaptado de Nakagawa (1995: 14)
> Revista Brasileira
de Contabilidade
Como as condições econômicas e sociais mudam e
novos conhecimentos e tecnologias surgem, o crescimen-
to das demandas dos usuários, por mais informação eco-
nômico-financeira útil, pode ser esperado. Assim, o siste-
ma de informações aplicado na empresa deve atender aos
anseios dos diversos usuários das informações por ele pro-
cessadas, e que ao mesmo tempo consiga dar tratamento
relevante às variações ocorridas no meio ambiente, usan-
do o enfoque sistêmico, como, por exemplo, considerar
que algumas ações governamentais podem evidenciar
mutações no patrimônio da organização.
O funcionamento de um sistema de informações num
ambiente empresarial – com base no processo de elabora-
ção (planejamento) e realização (execução) de orçamen-
tos e análise das variações (controle), com a finalidade
voltada ao processo de tomada de decisões – pode ser
entendido por meio da Figura 3.
Execução Controle
Sistema
Contábil
(Real)
Relatório de
Desempenho
65 março/abril 2004 nº 146

> Relação das finanças
corporativas com fatores eco-
nômicos. Considerando o ambiente
econômico em que a empresa opera, o
gestor financeiro precisa entender e
compreender as principais políticas eco-
nômicas do país, que podem interferir
em seu desempenho financeiro. Algu-
mas variáveis do ambiente econômico a
serem consideradas são: inflação, câm-
bio e taxa de juros.
Inflação
Quando há qualquer elevação no nível geral de preços
dos produtos, mercadorias e serviços e uma equivalente
depreciação do valor da moeda corrente em um país,
observam-se então as características básicas de econo-
mias com inflação, sendo o diferencial o equilíbrio e o
controle das taxas inflacionárias para que se possa man-
ter a estabilidade da economia, pois, caso contrário, a
inflação, por se tratar de um processo dinâmico de vari-
ações nos preços, pode passar a considerar tal economia
Tabela 1. Inflação no Brasil
PERÍODO
Acumulada em 2001
Acumulada em 2002
Janeiro – 2003
Fevereiro – 2003
Fonte: IOB. Indicadores Econômicos e Fiscais – Assuntos Diversos. Substituição nº 6, Seção 8, março/2003.
Notas: *INPC = Índice Nacional de Preços ao Consumidor; **IPCA = Índice de Preços ao Consumidor Amplo
Analisando as taxas de inflação medidas pelo INPC
(índice que tem como população-objetivo as famílias
com chefes assalariados e rendimento mensal entre um
e oito salários mínimos), percebe-se uma taxa acumu-
lada no ano de 2001 de 9,44%, e pelo IPCA (índice
utilizado pelo Banco Central do Brasil – Bacen – para o
acompanhamento dos objetivos estabelecidos no siste-
ma de metas de inflação), no mesmo período, observa-
março/abril 2004 nº 146
> Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro
como estável ou inflacionária, basean-
do-se no reflexo financeiro, no valor da
moeda causado por essa elevação geral
no nível dos preços.
De acordo com Rosseti (1997: 697):
“Só há inflação quando se verifica ele-
vação do nível geral de preços, à qual
corresponde uma redução de magni-
tude equivalente no valor da moeda
corrente. Este conceito de inflação apli-
ca-se tanto aos sopros inflacionários
quanto às hiperinflações. O que varia, no caso, é ape-
nas a magnitude da taxa de elevação geral dos preços
por unidade de tempo e o grau em que se dá a de-
composição da moeda.”
As empresas brasileiras ainda sofrem com o reflexo
causado pela inflação do Brasil em seus resultados eco-
nômico-financeiros, pois o País ainda apresenta uma
economia inflacionária, como mostram alguns indica-
dores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, que medem a alteração no nível geral de preços.
A Tabela 1 demonstra alguns dados.
INPC* IPCA**
9,44% 7,67%
14,74% 12,53%
2,47% 2,25%
1,46% 1,57%
se uma taxa acumulada de 7,67%. Em 2002, o INPC
fechou com uma taxa acumulada de 14,74%, e o IPCA
de 12,53%.
Por outro lado, a inflação medida pela Fundação Ge-
túlio Vargas (FGV), pelo Índice Geral de Preços do
Mercado (IGP-M), acumulada nos anos de 2001 e 2002,
e de janeiro a fevereiro de 2003, pode ser melhor
visualizada na Tabela 2.
66
 > Revista Brasileira
Tabela 2. Inflação no Brasil pelo IGP-M da FGV
PERÍODO
Acumulada em 2001
Acumulada em 2002
Janeiro – 2003
Fevereiro – 2003
Fonte: IOB. Indicadores Econômicos e Fiscais – Assuntos Diversos. Substituição nº 6, Seção 8, março/2003.
A inflação pode interferir nas finanças de uma empresa
a partir da variação crescente no nível geral de produtos e
mercadorias necessários à produção e à prestação de ser-
viços, que ora são objetos de sua atividade econômica.
Assim, o gestor financeiro da entidade deve acompanhar
a inflação do segmento em que sua empresa atua, como
forma de gerenciamento eficaz e eficiente do capital de
giro e do lucro.
Para fins contábeis, a empresa pode adotar a prática
gerencial de correção monetária, que significa um ajusta-
mento nos valores históricos das demonstrações contábeis
em face da inflação verificada em seu ambiente econômi-
co de operação. Isso, para evitar a perda monetária dos
elementos patrimoniais registrados pelo custo histórico.
Ressalte-se que a adoção dessa prática pode causar um
impacto econômico-financeiro no lucro contábil da em-
presa em determinado período, pelo reconhecimento da
inflação em seu resultado. Entretanto, considerando que
de Contabilidade
IGP-M
10,37%
25,31%
2,33%
4,66%
as demonstrações contábeis devem refletir a situação eco-
nômico-financeira de uma companhia, e que ainda essa
companhia está localizada em países com inflação, a prá-
tica de correção monetária baseada na inflação deve ser
observada para resguardar uma visão mais realista e atua-
lizada dessa empresa.
A correção monetária contábil é utilizada em países
que adotam as normas internacionais de contabilidade
ou que possuem legislação contábil própria sobre o as-
sunto. Para melhor entendermos o conceito da norma
internacional de contabilidade que trata do assunto, a
International Financial Report Standard-IFRS Nº 29 (Nor-
ma Internacional de Relatório Financeiro Nº 29), emitida
pela International Accounting Standards Board-IASB (Junta
de Normas Internacionais de Contabilidade), apresenta-
mos a seguir um quadro que tem por objetivo apresentar
os conceitos de correção monetária utilizados no Brasil e
pela IASB.
67 março/abril 2004 nº 146
 > Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

Quadro 2. Comparação da Prática de Correção Monetária

Item Normas Contábeis Internacionais Normas Contábeis Brasileiras

Empresas que reportam informações Para fins fiscais e societários, conforme o

contábil-financeiras na moeda de uma
economia considerada hiperinflacionária
devem adotar a prática de correção
monetária de suas demonstrações
CORREÇÃO contábeis. Considera-se economia
MONETÁRIA hiperinflacionária aquela cuja inflação
acumulada em três anos se aproxime ou
ultrapasse a 100%, de acordo com a
IFRS Nº 29. Os ganhos ou perdas
(variação monetária líquida) devem ser
refletidos no ato da apuração do lucro e
expressamente indicados no resultado.
parágrafo único, art. 4º, da Lei nº 9.249/95,
não há exigência de utilização de
correção monetária, apesar da
indicação de inflação. Dessa forma,
torna-se facultativo o processo de
divulgação de demonstrações contábeis
em moeda de capacidade aquisitiva
constante (Correção Monetária Integral),
para companhias abertas. Porém, pela
legislação contábil brasileira, existe um
princípio que fundamenta e sustenta a
base da aplicação da correção monetária:
o Princípio da Atualização Monetária, que
é regulamentado pela Resolução do
Conselho Federal de Contabilidade Nº
750/93.

Em dezembro de 1999, o Instituto dos Auditores In-
dependentes do Brasil (Ibracon) emitiu o Comunicado
nº 006/99, que orienta a plena aplicação do Princípio
da Atualização Monetária, do Conselho Federal de Con-
tabilidade (CFC), na elaboração das demonstrações
contábeis para o exercício de 1999, em moeda de capa-
cidade aquisitiva constante (Correção Monetária Inte-
gral – CMI), considerando que a inflação para 1999 era
estimada em aproximadamente 20%, com base no IGP-
M, da FGV.
A finalidade principal desse procedimento orientado
pelo Ibracon é o reconhecimento dos efeitos da altera-
ção do poder aquisitivo da moeda nacional nos regis-
tros contábeis, por meio do ajustamento da expressão
formal dos valores dos componentes patrimoniais.
Câmbio
O mecanismo de conversão de operações econômico-
financeiras em moeda estrangeira, utilizado para trocar e
equilibrar a moeda corrente doméstica, é chamado de
taxa de câmbio exterior, o que significa passar o valor
expresso de uma unidade de moeda corrente para outra.
Conversão é o processo de redeclarar informação eco-
nômico-financeira de uma moeda corrente para outra.
A necessidade de informações financeiras torna-se in-
dispensável à medida que as grandes empresas passam
a se instalar e a operar em outros países, formando as
chamadas “multinacionais”. Esses países adotam dife-
rentes moedas na maioria dos casos, fato que passou a
exigir métodos e critérios contábeis uniformes para que
as empresas investidoras, ao avaliar seus resultados, o
fizessem de forma consolidada, isto é, que os resulta-
dos da empresa pudessem ser somados ou subtraídos
aos resultados das demais empresas do grupo econô-
mico. Tal necessidade de consolidação das informa-
ções do grupo econômico exigiu a adoção de critérios
uniformes de conversão para uma única moeda, geral-
mente a daquele país da empresa líder que controla os
negócios. De certa forma, o impacto dessas flutuações
nas taxas de câmbio, nos resultados das companhias,
em alguns casos pode levar a conseqüências econômi-
co-financeiras graves.
No Brasil, por exemplo, as oscilações do Dólar norte-
americano, em 2001, ameaçaram os resultados de curto
prazo das empresas aqui instaladas, que mantinham dívi-
das atreladas a essa moeda. Apesar do susto com a
maxidesvalorização do Real em face do Dólar norte-ameri-
cano, em 1999, algumas empresas ainda mantinham alto
endividamento em moeda estrangeira, e ainda sem ne-
nhum tipo de proteção, como, por exemplo, o hedge. O

março/abril 2004 nº 146 68

 > Revista Brasileira
de Contabilidade

setor elétrico estava entre os mais atingidos. As compa- partir do momento do reconhecimento da variação cam-
nhias elétricas, em especial as distribuidoras, têm um re- bial em seus resultados. A seguir, evidenciamos, na Tabe-
flexo imediato da oscilação do Dólar norte-americano em la 3, algumas empresas expostas à variação do Dólar nor-
seus balanços, particularmente no aspecto financeiro, a te-americano.

Tabela 3. Impacto do Câmbio em Companhias Expostas à Variação do Dólar

Norte-Americano – Valores em Milhões de Reais (R$) – Final de 2000

Companhias Dívida TTotal

otal Parcela em Dólar % com Hedge

Eletropaulo 3.003,00 2.257,00 82%

Light 4.600,00 2.898,00 0%
Klabin 2.200,00 1.540,00 0%
Copel 1.380,00 834,00 0%
Fonte: Gazeta Mercantil. Capa do Caderno Empresas & Carreiras. Edição de 21 de março de 2001.

Pela tabela acima, percebe-se que 75% da dívida to-
tal da companhia Eletropaulo estavam expostos à vari-
ação cambial. A empresa que carregava, até o ano de
2001, o custo da compra da Eletropaulo Metropolita-
na, em 1998 promoveu uma profunda reestruturação
da dívida. Continuava ainda, no entanto, bastante ex-
posta à moeda estrangeira. Até setembro de 2000, o
endividamento bruto da Light era de R$ 4,6 bilhões,
dos quais 63% eram em Dólar norte-americano.
Em janeiro de 2001, a dívida da Klabin chegara a
perfazer um montante de R$ 2,2 bilhões, dos quais
70% eram em moeda estrangeira e sem nenhuma pro-
teção. Por outro lado, a Copel também tinha parte
de seu endividamento sujeito à alta do câmbio, com
um valor total de R$ 1,380 bilhão, dos quais R$834
milhões eram atrelados ao Dólar e sem hedge, de
acordo com os números de final de dezembro de
2000.
A variação cambial pode causar um impacto eco-
nômico-financeiro positivo (receitas de variação cam-
bial) ou negativo (despesas de variação cambial) no
resultado de uma companhia.

> A correção monetária contábil é utilizada em países que adotam

as normas internacionais de contabilidade ou que possuem legis-
lação contábil própria sobre o assunto.

69 março/abril 2004 nº 146


Taxa de Juros
A taxa de juros oficial do Governo é utilizada como
referência, em alguns casos, para o financiamento de
operações produtivas e financeiras. Tal fato interfere
nas decisões de investimentos e financiamentos das
operações das empresas por meio da avaliação do custo
financeiro dessas decisões, que ora são objeto de tra-
balho de sua administração financeira.
Tabela 4. Taxa de Juros Anual – Brasil e Estados Unidos - 2003
Indicadores
SELIC (Meta do Governo Brasileiro - Maio-03)
SELIC (Meta do Governo Brasileiro - Junho-03)
TJLP (1º Trimestre-03) - Brasil
TJLP (2º Trimestre-03) - Brasil
Taxa de Juros dos Estados Unidos (Junho-03)
Taxa de Juros dos Estados Unidos (Julho-03)
Fonte: Gazeta Mercantil. Edições de 18 de fevereiro, 13, 14 , 15 e 20 de junho de 2003. Capa.
Fonte: Federal Reserve (U.S.A.) – Banco Central dos Estados Unidos – www.federalreserve.gov – julho de 2003.
> Relação das finanças corporativas com
fatores contábil-financeiros. A Contabilidade pode
ser entendida como um sistema de informações destinado
a prover seus usuários com demonstrações e análises de
natureza econômico-financeira. Para isso, ela procura emi-
março/abril 2004 nº 146
> Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro
Analisando a Tabela 4, pode-se observar que uma
das explicações, que pode levar as empresas norte-
americanas ao financiamento de grande parte de suas
atividades com capital de terceiros, é a baixa taxa de
juros desse financiamento, ao contrário das empresas
brasileiras que muitas vezes financiam a maioria de
suas atividades com capital próprio pelo alto custo do
financiamento (taxa de juros elevada).
Taxa de Juros Anual
26,5%
26%
11%
12%
1,25%
1%
tir relatórios que venham a atender às necessidades infor-
mativas dos usuários internos e externos da organização,
sempre buscando a eficiência e a eficácia do processo
decisório. Para melhor entender esse processo sistêmico de
funcionamento da Contabilidade, apresentamos a Figura 4.
70
 > Revista Brasileira
de Contabilidade

Figura 4. Usuários das Informações Contábeis

Balanço
Patrimonial

Administradores
Demonstração do Análise de
Resultado Desempenho

Demonstração das Investidores

Mutações do Análise de
Patrimônio Líquido Lucratividade e
Rentabilidade

Demonstração das
Origens e Bancos
RELATÓRIOS Aplicações de USUÁRIOS Análise de
CONTÁBEIS Recursos Crédito

Demonstração dos Governo

Fluxos de Caixa Análise
Tributária

Demonstração do Concorrentes
Valor Adicionado Análise de
Mercado

Processo da Análise Econômico-Financeira de mais importante instrumento da análise econômico-fi-

Empresas
A análise econômico-financeira tem por objetivo ex-
trair informações das demonstrações contábeis para se-
rem utilizadas no processo de tomada de decisões na
empresa. É importante para o conhecimento da situa-
ção econômico-financeira de outras empresas,
notadamente concorrentes e fornecedores. Porém, o
nanceira é a sua utilização e interpretação internamente
pela empresa.
O processo de análise começa com a separação dos
dados, combinando-os adequadamente, a fim de
viabilizar sua interpretação, de acordo com o objetivo
previamente estabelecido.
Os relatórios contábeis, que estão dentro das normas e

71 março/abril 2004 nº 146

 > Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

princípios contábeis geralmente aceitos, fornecem uma
série de dados sobre a empresa em determinado perío-
do. O gestor financeiro preocupa-se com tais relatórios
e, por sua vez, procura transformar os dados em infor-
mações que possibilitam tirar conclusões: se a empresa
é merecedora ou não de crédito; se tem ou não condi-
ções de honrar seus compromissos financeiros; e a ca-
pacidade de gerar lucros. Em síntese, a análise finan-
ceira é o processo de “reflexão” sobre os relatórios
contábeis, objetivando uma avaliação da situação da
empresa, em seus aspectos operacionais, econômicos,
patrimoniais e financeiros. A Figura 5 proporciona uma
visão mais detalhada do processo empresarial de avali-
ação de desempenho econômico-financeiro.

Figura 5. Visão Geral do Processo de Análise Econômico-Financeira de Empresas

Caracterização da
Análise Econômico-Financeira

Exame de Dados

Indicadores da Análise Conhecimento da Situação

Econômico-Financeira Julgamento da Realidade

Finalidade da Análise Conhecer a Estrutura Estado Patrimonial

Econômico-Financeira Patrimonial

Verificar a Capacidade de
Situação Financeira
Solvência

Descobrir a Potencialidade de
Situação Econômica
Gerar Resultados

Para o gerenciamento empresarial, a informação contábil está relacionado com a qualidade e a extensão das infor-
é necessária no processo de planejamento, execução e con- mações que o gestor financeiro consegue gerar. Para o
trole das operações, visando auxiliar a tomada de decisão. processo da avaliação patrimonial e do desempenho da
O grau de excelência da análise econômico-financeira empresa, o gestor vale-se de um conjunto de cálculos

março/abril 2004 nº 146 72

 > Revista Brasileira
de Contabilidade

matemáticos, traduzindo os relatórios contábeis em indi- Utilização de Informações Contábeis no Processo

cadores econômico-financeiros.
Desse modo, fica evidente que o mais importante para
o gestor financeiro não é saber calcular, mas interpretar
esses indicadores e elaborar um relatório com os pontos
fortes e fracos do processo operacional, patrimonial e fi-
nanceiro da empresa, visando propor alternativas de curso
futuro.
de Análise Econômico-Financeira Empresarial
Para entender melhor o processo de análise da situação eco-
nômico-financeira de uma determinada empresa, por meio dos
relatórios contábeis, apresentamos um caso para estudo basea-
do nos Balanços Patrimoniais e Demonstrações do Resultado de
uma empresa do setor supermercadista, referentes aos exercíci-
os de 2002 e 2001.

Tabela 5. Balanço Patrimonial

ATIVO 2002 2001 VARIAÇÃO EM %

Em R$ Em % Em R$ Em %
Circulante 34.212 64,34 29.015,00 65,94 17,91
Disponível 8.581 16,14 9.886 22,47 (13,20)
Clientes 10.705 20,13 8.081 18,36 32,47
Estoques 14.926 28,07 11.048 25,11 35,10
Realizável de Longo Prazo 701 1,32 264 0,60 165,53
Contas a Receber de Coligadas 701 1,32 264 0,60 165,53
Permanente 18.261 34,34 14.726 33,46 24,01
Investimentos 679 1,28 492 1,12 38,01
Imobilizado 17.582 33,07 14.234 32,35 23,52
TOTAL DO ATIVO 53.174 100 44.005 100 20,84

PASSIVO 2002 2001 VARIAÇÃO EM %

Em R$ Em % Em R$ Em %
Circulante 18.532 34,85 14.772 33,57 25,45
Fornecedores 4.287 8,06 4.377 9,95 (2,06)
Salários a Pagar 548 1,03 330 0,75 66,06
Impostos a Recolher 300 0,56 200 0,45 50
Empréstimos a Pagar 1.700 3,20 500 1,14 240
Financiamentos a Pagar 11.000 20,69 9.000 20,45 22,22
Outros Passivos Circulantes 697 1,31 365 0,83 90,96
Exigível de Longo Prazo 11.258 21,17 5.453 12,39 106,46
Empréstimos a Pagar 8.826 16,60 4.092 9,30 115,69
Financiamentos a Pagar 2.432 4,57 1.361 3,09 78,69
Patrimônio Líquido 23.384 43,98 23.780 54,04 (1,67)
Capital Social 22.211 41,77 20.915 47,53 6,20
Resultados Acumulados 1.173 2,21 2.865 6,51 (59,06)
TOTAL DO PASSIVO 53.174 100 44.005 100 20,84

73 março/abril 2004 nº 146

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uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

Tabela 6. Demonstração do Resultado

DEMONSTRAÇÃO 2002 2001 VARIAÇÃO EM %

Em R$ Em % Em R$ Em %
Receita Operacional Líquida 65.900 100 44.223 100 49,02
Custo das Mercadorias Vendidas (41.113) (62,39) (19.678) (44,50) 108,93
Resultado Operacional Bruto 24.787 37,61 24.545 55,50 0,99
Despesas Administrativas (15.000) (22,76) (11.000) (24,87) 36,36
Despesas Comerciais (572) (0,87) (332) (0,75) 72,29
Resultado Financeiro (12.843) (19,49) (8.780) (19,85) 46,28
Outras Despesas (306) (0,46) (425) (0,96) 28
Resultado Operacional Líquido (3.934) (5,97) 4.008 9,06 (198,15)
Resultado Não Operacional 4.296 6,52 3.355 7,59 28,05
Resultado Antes do IRPJ e CSSL 362 0,55 7.363 16,65 (95,08)
Imposto de Renda (569) (0,86) (1.125) (2,54) (49,42)
RESULTADO DO EXERCÍCIO (207) (0,31) 6.238 14,11 (103,32)

Análise de Investimentos e Financiamentos

Tabela 7. Indicadores de Avaliação de Investimentos e Financiamentos

INVESTIMENTOS 2002 2001 VARIAÇÃO EM %

Em R$ Em % Em R$ Em %
Capital de Giro 34.212 64,34 29.015 65,94 17,91
Capital Circulante de Longo Prazo 701 1,32 264 0,60 165,53
Capital Fixo 18.261 34,34 14.726 33,46 24,01
Total dos Investimentos 53.174 100 44.005 100 20,84

FINANCIAMENTOS 2002 2001 VARIAÇÃO EM %

Em R$ Em % Em R$ Em %
Capital de Terceiros 29.790 56,02 20.225 45,96 47,29
Capital Próprio 23.384 43,98 23.780 54,04 (1,67)

Total dos Financiamentos 53.174 100 44.005 100 20,84

Percebe-se que a principal política de investimentos da
companhia, nos anos de 2002 e 2001, foi a alocação de
recursos em capital de giro e parte em capital fixo. Os
investimentos em capital de giro apresentaram um cres-
cimento de 2001 para 2002 na ordem de 17,91%, prin-
cipalmente em contas a receber de clientes, geradas pelo
aumento nas vendas a prazo, e em estoques, enquanto
que o capital fixo apresentou uma evolução nesse mesmo
período de 24,01%, gerada pelos investimentos perma-
nentes e imobilizados. Já a política de financiamentos das

março/abril 2004 nº 146 74

 > Revista Brasileira
de Contabilidade

operações sofreu uma alteração de 2001 para 2002, como
mostra a tabela anterior, que evidencia um crescimento
dos financiamentos por meio de recursos de terceiros de
47,29%, no período em análise, e que aponta o capital de
terceiros como a principal fonte de recursos em 2002,
representando cerca de 56,02% das origens totais de re-
cursos financeiros.
As políticas de investimentos e financiamentos sofre-
ram impactos diretos do mau desempenho econômico no
ano de 2002, em que a empresa encerra o exercício com
um prejuízo de R$ 207,00, mesmo apresentando evolu-
ção das vendas líquidas na ordem de 49,02%, de 2001
para 2002. Esse mau desempenho contribuiu para a re-
dução do capital próprio e o aumento do capital de tercei-
ros, nos financiamentos das operações, além de proporci-
onar um crescimento das despesas financeiras de juros,
geradas pelos empréstimos e financiamentos realizados
no período em questão.

Gráfico 1. Investimentos em 2002 – Em %

Gráfico 2. Financiamentos em 2002 – Em %

75 março/abril 2004 nº 146

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uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

Análise da Necessidade de Capital de Giro

Tabela 8. Indicadores da Necessidade de Capital de Giro

INDICADORES 2002 2001 Variação em %

CCL Total R$ 15.680 R$ 14.243 10,09
CCL sem Estoques R$ 754 R$ 3.195 (76,40)
CCL sem Estoques e Clientes R$ (9.951) R$ (4.886) 103,66
Nota: CCL = Capital Circulante Líquido.

O Capital Circulante Líquido-CCL, calculado pela dife-
rença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante, é um
indicador que possibilita avaliar uma possível necessidade
de capital de giro em certa empresa. No caso que vem
sendo estudado, o CCL total apresentou um crescimento
de um período para o outro de 10,09%, isso pelo fato de
o capital de giro apresentar uma evolução. Porém, se a
empresa pára de vender os seus estoques, o CCL passa a
demonstrar uma certa fragilidade, considerando tal fato
por evidenciar uma queda de 76,40%, de 2001 para 2002.
Por outro lado, se, além de parar de vender os seus
estoques, não receber os recursos de seus clientes antes
do vencimento das obrigações de curto prazo, a empresa
passará a necessitar de capital de giro disponível e de
liquidez imediata, para honrar os compromissos assumi-
dos e fazer girar as atividades operacionais. Os recursos
financeiros necessários podem chegar a um montante de
R$ 9.951,00 em 2002.

Análise da Capacidade de Pagamento

Tabela 9. Indicadores de Liquidez

INDICADORES 2002 2001 Variação em %

Liquidez Imediata R$ 0,46 R$ 0,67 (30,81)
Liquidez Corrente R$ 1,85 R$ 1,96 (6,01)
Liquidez Seca R$ 1,04 R$ 1,22 (14,44)
Liquidez Geral R$ 1,17 R$ 1,45 (19,04)

No período analisado, a empresa apresentou um midas no curto e longo prazos. É o que os indicadores
declínio em sua capacidade de honrar as dívidas assu- de liquidez demonstram. O indicador de liquidez cor-

março/abril 2004 nº 146 76

 > Revista Brasileira
de Contabilidade

rente apresenta um valor de R$ 1,96 em 2001 e de R$ R$ 1,85. Ao desconsiderar os estoques, observa-se um

1,85 em 2002, e a liquidez seca de R$ 1,22 e R$ 1,04,
respectivamente, no período em questão. Esses indica-
dores mostram a capacidade que a empresa tem para
pagar suas obrigações com terceiros a curto prazo, ou
seja, o indicador de liquidez corrente mostra que para
cada R$ 1,00 de dívida a curto prazo em 2001, a em-
presa dispunha de R$ 1,96 para saldá-la, e em 2002 de
indicador de liquidez seca que apresenta que a empresa
dispunha em 2001 de R$ 1,22, e em 2002 de R$ 1,04,
para cada R$ 1,00 de dívida a curto prazo contraída
com terceiros.
A capacidade de pagamento foi afetada pelo prejuízo
apresentado em 2002 e pelo aumento do capital de
terceiros de curto e longo prazos.

Análise de Endividamento

Tabela 10. Indicadores de Endividamento

INDICADORES 2002 2001 Variação em %

Endividamento de Curto Prazo 34,85% 33,57% 3,82
Endividamento de Longo Prazo 21,17% 12,39% 70,86
Endividamento Total 56,02% 45,96% 21,89
Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros 78,50% 117,58% (33,24)
Participação da Dívida Onerosa na Dívida Total 80,42% 73,93% 8,78

Os indicadores de endividamento procuram avali- garante 78,50% da dívida total assumida, de R$

ar os níveis quantitativo e qualitativo da dívida con-
traída com terceiros. Assim, em termos quantitati-
vos, pode-se verificar que 34,85% dos ativos da
empresa foram financiados com recursos de tercei-
ros de curto prazo e 21,17% com recursos de ter-
ceiros de longo prazo, no ano de 2002. Por sua
vez, no exercício ora analisado, o capital próprio só
29.790,00.
Por outro lado, um dos indicadores de avaliação quali-
tativa da dívida (participação da dívida onerosa na dívida
total) demonstra que, em 2002, 80,42% da dívida total
são compostos por obrigações onerosas (dívidas em que
se paga o montante do principal e dos juros), tais como
empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos.

77 março/abril 2004 nº 146

 > Administração Financeira, Economia e Contabilidade:
uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

> A Contabilidade pode ser entendida como um sistema de informações

destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de
natureza econômico-financeira.

Gráfico 3. Composição da Dívida Total em 2002 – Em %

Análise de Lucratividade e Rentabilidade

Tabela 11. Indicadores de Lucratividade e Rentabilidade

INDICADORES 2002 2001 Variação em %

Margem de Lucro (0,31%) 14,11% (102,23)
Rentabilidade da Empresa (0,39%) 14,18% (102,75)
Tempo de Retorno do Investimento da Empresa 256,88 anos 7,05 anos (3.741,43)
Rentabilidade do Empresário (0,89%) 26,23% (103,37)
Tempo de Retorno do Investimento do Empresário 112,97 anos 3,81 anos (3.063,34)

março/abril 2004 nº 146 78

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de Contabilidade
A lucratividade e a rentabilidade da empresa apre-
sentaram uma expressiva involução de 2001 para 2002.
A margem de lucro, por exemplo, passou de um índi-
ce positivo de 14,11% de lucro, para um índice nega-
tivo de prejuízo de 0,31%, uma queda expressiva de
103,23% no resultado do exercício. Os principais mo-
tivos para a redução do lucro do ano de 2001 para o
de 2002 foram os seguintes:
a) crescimento desproporcional e expressivo do cus-
to das mercadorias vendidas em relação à evolução
da receita operacional líquida; e
b) aumento das despesas administrativas, bem como
das despesas financeiras.
Por outro lado, o retorno anual sobre os recursos in-
vestidos em ativos (rentabilidade da empresa) passou
de 14,11% positivo, para 0,31% negativo, de 2001 para
2002; e o retorno anual sobre os recursos investidos
pelos sócios-acionistas (rentabilidade do empresário) pas-
sou de 14,18% positivo, para 0,39% negativo, no perí-
odo analisado. Esse último indicador apresenta a taxa
de rentabilidade auferida pelo capital próprio.
79
Análise de Desempenho Econômico-Financeiro
No período em análise, a situação econômico-finan-
ceira da empresa apresentou declínio, de tal forma que
os recursos consumidos para geração de receitas não
proporcionaram um aumento gradativo do lucro.
O crescimento das despesas operacionais, próximo
ao das receitas operacionais líquidas, não ocasionou
uma queda tão acentuada no lucro quanto o aumen-
to do custo das mercadorias vendidas. Conseqüente-
mente, a empresa obteve um prejuízo no exercício
de 2002.
Em razão disso, faltaram recursos próprios para o
financiamento das operações e, com isso, os recur-
sos de terceiros – basicamente, os empréstimos e fi-
nanciamentos tomados – foram utilizados como um
dos principais meios para financiar os ativos de giro e
fixos. Esses recursos de terceiros acabaram gerando
um aumento expressivo de desembolso de caixa para
o pagamento de juros contratuais (despesas financei-
ras) e, conseqüentemente, isso resultou na queda
expressiva do lucro de 2001 para 2002.
março/abril 2004 nº 146
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uma abordagem da relação existente no processo
empresarial de gestão de caixa e lucro

Gráfico 4. Avaliação de Desempenho Econômico-Financeiro – Em R$

> Considerações finais. A geração eficiente e

eficaz de caixa e lucro, como fonte indispensável da con-
tinuidade das operações de uma empresa, não pode ser
alcançada única e exclusivamente pelo esforço de venda
de produtos e serviços, mas pela forma com que as deci-
sões de investimentos e financiamentos são tomadas, ob-
servando-se as variáveis internas e externas do meio ambi-
ente empresarial, que podem interferir no desempenho
econômico-financeiro da entidade.
O administrador financeiro deve entender que as finan-
ças corporativas sofrem interferências positivas ou negati-
vas de fatores econômicos e contábeis, no processo de
gestão de caixa e lucro. A sua maior responsabilidade é
gerar caixa e lucro suficientes ao financiamento das ope-
rações da empresa e remunerar o capital investido pelos
acionistas e sócios. Para tanto, necessitará de conheci-
mentos técnicos de finanças, economia e contabilidade,
para o bom desempenho de suas funções no processo de
gerenciamento dos recursos de caixa e lucro.

março/abril 2004 nº 146 80

 > Revista Brasileira
de Contabilidade

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