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Rafael José Diegoli - OAB/SC 53.

722
Advocacia e Assessoria Jurídica

EXMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA


PRIMEIRA VARA FEDERAL DE BRUSQUE/SC.

RAFAEL JOSÉ DIEGOLI, brasileiro, maior, casado,


advogado, inscrito no cadastro de pessoas físicas sob o n. 887.228.569-
00, portador do RG n. 2839953 SSP/SC e do Título de Eleitor n.
037728900930, residente e domiciliado na rua Waldemar Fischer, 10,
bairro Steffen, CEP 88.355-175, Brusque/SC, endereço eletrônico
dijuri@yahoo.com.br, vem, com todo o acato e respeito perante Vossa
Excelência, com fulcro no art. 5º, inciso LXXIII, da CF/88 e na Lei
4.717/65, propor AÇÃO POPULAR em face da UNIÃO FEDERAL,
pessoa jurídica de direito público, representada pela Advocacia Geral
da União, com sede estadual na Servidão Nossa Senhora de Lourdes,
110, edifício Célia Daux, bairro Agronômica,
CEP 88.025-220, Florianópolis/SC, e do Exmo. Senhor JOSÉ
ANTÔNIO DIAS TOFFOLI, brasileiro, maior, estado civil ignorado,
Ministro do Supremo Tribunal Federal, inscrito no cadastro de
pessoas físicas sob o n. 110.560.528-05, portador do RG n. 16266525
SSP/SP, podendo ser localizado na referida Corte Excelsa, localizada

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Rua Moritz Germano Hoffmann, 66, bairro Centro, Brusque/SC
Fone: 47 – 99705-9486 – E-mail: contato.advogado10@gmail.com
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na Praça dos Três Poderes, CEP 70175-900, Brasília/DF, pelas


seguintes razões de fato e de direito:

I – DO FORO COMPETENTE PARA PROPOSITURA


DA AÇÃO POPULAR E DA LEGITIMAÇÃO ATIVA E PASSIVA:

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu


artigo 109, § 2º, não deixa margens para dúvidas quanto ao foro
competente para processamento desta ação, senão vejamos:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
[...]
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na
seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde
houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde
esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

A Lei n. 4.717/65, por sua vez, define, no tocante à


competência jurisdicional, o seguinte:

Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para


conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com
a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que
interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do
Distrito Federal, do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas
criadas ou mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público,
bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os
das pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou em relação às
quais tenham interesse patrimonial.
§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a
qualquer outra pessoa ou entidade, será competente o juiz das
causas da União, se houver; quando interessar simultaneamente ao
Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado,
se houver.

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Referido normativo, que rege a Ação Popular, em seu


artigo 22, preceitua: “Aplicam-se à ação popular as regras do Código de
Processo Civil, naquilo em que não contrariem os dispositivos desta lei,
nem a natureza específica da ação”. Já o Código de Processo Civil de
2015 destaca, no parágrafo único do art. 51, que “Se a União for a
demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no
de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da
coisa ou no Distrito Federal”

Não se pode deixar de registrar que a multiplicidade de


foros resguarda o interesse do cidadão, facilitando o manuseio da
Ação Popular - que se trata de direito político fundamental - e a
consecução das finalidades últimas deste remédio constitucional.

Assim, cabe ao autor da demanda a escolha do foro que


melhor aprouver, consoante já decidido pelo c. Superior Tribunal de
Justiça em precedente abaixo transcrito (ementa):

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO POPULAR


AJUIZADA EM FACE DA UNIÃO. LEI 4.717/65.
POSSIBILIDADE DE PROPOSITURA DA AÇÃO NO FORO DO
DOMICÍLIO DO AUTOR. APLICAÇÃO DOS ARTS. 99, I, DO
CPC, E 109, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. Não havendo dúvidas quanto à competência da Justiça Federal
para processar e julgar a ação popular proposta em face da União,
cabe, no presente conflito, determinar o foro competente para tanto:
se o de Brasília (local em que se consumou o ato danoso), ou do Rio
de Janeiro (domicílio do autor).
2. A Constituição Federal de 1988 dispõe, em seu art. 5º, LXXIII, que
"qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
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comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da


sucumbência". Tal ação é regulada pela Lei 4.717/65, recepcionada
pela Carta Magna.
3. O art. 5º da referida norma legal determina que a competência
para processamento e julgamento da ação popular será aferida
considerando-se a origem do ato impugnado. Assim, caberá à
Justiça Federal apreciar a controvérsia se houver interesse da
União, e à Justiça Estadual se o interesse for dos Estados ou dos
Municípios. A citada Lei 4.717/65, entretanto, em nenhum
momento fixa o foro em que a ação popular deve ser ajuizada,
dispondo, apenas, em seu art. 22, serem aplicáveis as regras do
Código de Processo Civil, naquilo em que não contrariem os
dispositivos da Lei, nem a natureza específica da ação. Portanto,
para se fixar o foro competente para apreciar a ação em comento,
mostra-se necessário considerar o objetivo maior da ação popular,
isto é, o que esse instrumento previsto na Carta Magna, e colocado
à disposição do cidadão, visa proporcionar.
4. Segundo a doutrina, o direito do cidadão de promover a ação
popular constitui um direito político fundamental, da mesma
natureza de outros direitos políticos previstos na Constituição
Federal.
Caracteriza, a ação popular, um instrumento que garante à
coletividade a oportunidade de fiscalizar os atos praticados pelos
governantes, de modo a poder impugnar qualquer medida tomada
que cause danos à sociedade como um todo, ou seja, visa a proteger
direitos transindividuais. Não pode, por conseguinte, o exercício
desse direito sofrer restrições, isto é, não se pode admitir a criação
de entraves que venham a inibir a atuação do cidadão na proteção
de interesses que dizem respeito a toda a coletividade.
5. Assim, tem-se por desarrazoado determinar-se como foro
competente para julgamento da ação popular, na presente
hipótese, o do local em que se consumou o ato, ou seja, o de
Brasília. Isso porque tal entendimento dificultaria a atuação do
autor, que tem domicílio no Rio de Janeiro.
6. Considerando a necessidade de assegurar o cumprimento do
preceito constitucional que garante a todo cidadão a defesa de
interesses coletivos (art. 5º, LXXIII), devem ser empregadas as
regras de competência constantes do Código de Processo Civil -
cuja aplicação está prevista na Lei 4.717/65 -, haja vista serem as
que melhor atendem a esse propósito.

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7. Nos termos do inciso I do art. 99 do CPC, para as causas em que


a União for ré, é competente o foro da Capital do Estado. Esse
dispositivo, todavia, deve ser interpretado em conformidade com
o § 2º do art. 109 da Constituição Federal, de modo que, em tal
caso, "poderá o autor propor a ação no foro de seu domicílio, no
foro do local do ato ou fato, no foro da situação do bem ou no foro
do Distrito Federal" (PIZZOL, Patrícia Miranda. "Código de
Processo Civil Interpretado", Coordenador Antônio Carlos
Marcato, São Paulo: Editora Atlas, 2004, p. 269). Trata-se, assim, de
competência concorrente, ou seja, a ação pode ser ajuizada em
quaisquer desses foros.
8. Na hipótese dos autos, portanto, em que a ação popular foi
proposta contra a União, não há falar em incompetência, seja
relativa, seja absoluta, do Juízo Federal do domicílio do
demandante.
9. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 10ª
Vara Federal da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, o
suscitado. (CC 47.950/DF, relatora Exma. Ministra Denise Arruda,
Primeira Seção, julgado em 11/04/2007).

E, o eg. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no mesmo


sentido, já decidiu:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO


POPULAR. AJUIZAMENTO. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA.
STJ.

"Nos termos do inciso I do art. 99 do CPC, para as causas em que a


União for ré, é competente o foro da Capital do Estado. Esse
dispositivo, todavia, deve ser interpretado em conformidade com o
§ 2º do art. 109 da Constituição Federal, de modo que, em tal caso,
"poderá o autor propor a ação no foro de seu domicílio, no foro do
local do ato ou fato, no foro da situação do bem ou no foro o
Distrito Federal" (PIZZOL, Patrícia Miranda. "Código de Processo
Civil Interpretado", Coordenador Antônio Carlos Marcato, São
Paulo: Editora Atlas, 2004, p. 269). Trata-se, assim, de competência
concorrente, ou seja, a ação pode ser ajuizada em quaisquer
desses foros." [...] (AG 5010642-70.2015.4.04.0000, Terceira Turma,
relator Desembargador Fernando Quadros da Silva, juntado aos
autos em 16/07/2015)

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Não se mostra despiciendo recordar, para bem dirimir a


questão, que “O Supremo Tribunal Federal – por ausência de previsão
constitucional – não dispõe de competência originária para processar
e julgar as ações populares a que se refere o art. 5º, inciso LXXIII, da
Carta Política, ainda que ajuizadas contra os seus próprios
Ministros” [...] (Pet 7054 MC, Relator Min. Celso de Mello, julgado
em 08/06/2017).

Neste contexto, salvo melhor juízo, está justificado o


ajuizamento desta Ação Popular no foro da subseção judiciária em
que o autor possui residência, ainda que um dos integrantes do polo
passivo seja Ministro da Corte Excelsa.

Outrossim, consoante regramento dos artigos 1º e 6º da


Lei n. 4.717/65, “Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da
União, [...] e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas
pelos cofres públicos”, sendo que a “A ação será proposta contra as
pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra
as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado,
aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas,
tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do
mesmo”.

Na situação, a presente Ação Popular tem como autor


cidadão brasileiro, maior, eleitor, no gozo dos direitos políticos,
conforme documentos que seguem com esta inicial, e visa a
declaração de nulidade de ato não jurisdicional (portaria), ou seja,
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praticado no âmbito administrativo ou equiparado, o qual enseja


danos ao erário público (da União) e ao princípio da moralidade.

O polo passivo, como não poderia ser diferente, encontra-


se preenchido pela pessoa jurídica de direito público que sofrerá a
lesão (União), bem como por aquele que praticou o ato a ser anulado
(portaria do Exmo. Ministro do STF, já nominado).

II – DOS FATOS.

É de conhecimento público que o Exmo. Ministro e


Presidente do Supremo Tribunal Federal, senhor José Antônio Dias
Toffoli, determinou, através de portaria, a abertura de inquérito
visando elucidar fatos considerados ilegais e que, segundo afirmado,
deporiam contra a honradez da Corte Excelsa, de seus membros e
familiares.

De acordo com notícia publicada na rede mundial de


computadores, retirada do sítio que o Supremo Tribunal Federal
mantém, o Exmo. Ministro teria manifestado o seguinte:

[...]
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli,
anunciou, no início da sessão plenária desta quinta-feira (14), a
abertura de inquérito para apurar fatos e infrações relativas a
notícias fraudulentas (fake news) e ameaças veiculadas na Internet
que têm como alvo a Corte, seus ministros e familiares. O inquérito
será conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que disporá da
estrutura material e de pessoal necessária para a condução dos
trabalhos.
[...]

Em continuidade, a matéria destaca que a abertura do


procedimento decorre de atribuição a qual o Ministro e Presidente do
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Supremo Tribunal Federal deve cumprir, de modo a zelar pela


intangibilidade das prerrogativas da Corte:

“Não existe Estado Democrático de Direito nem democracia sem


um Judiciário independente e sem uma imprensa livre”, afirmou o
presidente ao anunciar a medida. “O STF sempre atuou na defesa
das liberdades, em especial da liberdade de imprensa e de uma
imprensa livre em vários de seus julgados”.
Designado para conduzir o feito, o ministro Alexandre de Moraes
afirmou que dará início imediato aos trabalhos.
O ato, assinado hoje, leva em consideração que é atribuição
regimental do presidente da Corte velar pela intangibilidade das
prerrogativas do Supremo Tribunal Federal e dos seus membros
(artigo 13, inciso I, do Regimento Interno do STF). A abertura de
inquérito pelo presidente do STF está prevista no artigo 43 e
seguintes do Regimento Interno. [...]
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteu
do=405790)

O ato (portaria), em si, conta com o seguinte teor:

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Em resumo, consoante ficará evidenciado nos tópicos


seguintes, o ato praticado pela autoridade judicial, muito embora
todo o respeito e acato merecidos, não encontra sintonia com a
Constituição Federal, padecendo de vícios de inconstitucionalidade e
ilegalidade, além de gerar danos aos cofres públicos.

III – DA AÇÃO POPULAR COMO REMÉDIO EFICAZ


AO CASO CONCRETO E DA NATUREZA DO ATO
IMPUGNADO:

É a redação da Constituição Federal, destacadamente do


inciso LXXIII do art. 5º:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação


popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;

A Lei 4.717/65, ao seu turno, disciplina assim a questão:


Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio
da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista
(Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas
quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja
concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do
patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao
patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades
subvencionadas pelos cofres públicos.

O doutrinador Hely Lopes Meireles já elucidava que a

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"ação popular é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão


para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos - ou a estes
equiparados - ilegais e lesivos do patrimônio federal, estadual e municipal,
ou de suas autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas
subvencionadas com dinheiros públicos" (Mandado de Segurança e
Outras Ações Constitucionais. 31ª ed., Editora Malheiros - São
Paulo/SP: 2008, p. 126-127).

In casu, perfeitamente adequada a propositura da Ação


Popular, devendo-se registrar que ato inquinado, apesar de
patrocinado por Ministro do Supremo Tribunal Federal, não possui
viés jurisdicional.

Não se ignora que os atos jurisdicionais, “precisamente


por comportarem um sistema específico de impugnações, quer por via
recursal, quer mediante ação rescisória, acham-se excluídos do âmbito
de incidência da ação popular” (AO 672 MC, Relator: Min. Celso de
Mello, julgado em 09/03/2000).

No entanto, fácil verificar que, na espécie, não se pode


conjecturar que o ato corporificado na portaria tenha alguma
semelhança – por mais forçoso que seja o argumento – com sentença,
decisão interlocutória ou despacho (na forma do art. 203 do
CPC/2015 – dos pronunciamentos do juiz), que se tratam de atos
jurisdicionais por natureza e contra os quais há possibilidade de ser
interposto recurso ou, eventualmente, ação rescisória.

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As portarias são "atos administrativos internos pelos quais


os chefes de órgãos, repartições ou serviços expedem determinações
gerais ou especiais a seus subordinados" (MEIRELLES, Hely Lopes. In
Direito Administrativo Brasileiro. 30ª ed. atualizada por AZEVEDO,
Eurico de Andrade et al. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 184).

Aliás, não há de se estranhar o fato de Juízes,


Desembargadores e Ministros titularizarem atos administrativos ou a
estes equiparados, ainda que de maneira atípica. É de conhecimento
geral que o Poder Judiciário, “como os demais poderes do Estado,
possui outras funções, denominadas atípicas, de natureza
administrativa e legislativa” (MORAES, Alexandre de, Direito
Constitucional, 24 ed. São Paulo: Atlas, p. 503).

Assim, “Na ampla acepção administrativa, ato é a lei, o


decreto, a resolução, a portaria, o contrato e demais manifestações
gerais ou especiais, de efeitos concretos, do Poder Público e dos entes
com funções públicas delegadas ou equiparadas. Ato lesivo, portanto, é
toda manifestação de vontade da Administração danosa aos bens e
interesses da comunidade” (MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de
Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de
Injunção e Habeas Data. 16. ed., 1995, p. 94).

Na situação presente está escancarado o ato


administrativo ou equiparado, praticado por Ministro do Supremo
Tribunal Federal, isto no exercício de atividade atípica, destarte,
impugnável na via da Ação Popular.
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IV – DA INCONSTITUCIONALIDADE DA
RESOLUÇÃO N. 564 DO STF, DO ARTIGO 43 DO REGIMENTO
INTERNO DO STF E DA NULIDADE DA PORTARIA GP N. 69
DE 14-3-2019.

Ab initio, é relevante trazer à baila o entendimento


sedimentado pelo c. STJ, segundo o qual "é possível a declaração
incidental de inconstitucionalidade em Ação Popular, desde que a
controvérsia constitucional não figure como pedido, mas sim como
causa de pedir, fundamento ou simples questão prejudicial,
indispensável à resolução do litígio principal, em torno da tutela do
interesse público'. (REsp 437.277/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJ 13/12/2004)" (REsp 1.559.292/ES, Rel. Ministro Herman
Benjamim, Segunda Turma, DJe 23/05/2016).

Em continuidade e, com o escopo de bem delinear a


inconstitucionalidade, necessário transcrever, naquilo que interessa,
o teor da Resolução n. 564 do STF, de 6 de novembro de 2015, que
regulamento o exercício do poder de polícia perante o STF, in verbis:

[...]

Art. 1º O Presidente responde pela polícia do Supremo Tribunal


Federal, competindo aos magistrados que presidem as turmas,
sessões e audiências exercê-la, nos respectivos âmbitos de atuação,
contando todos com o apoio de agentes e inspetores de segurança
judiciária, podendo estes e aqueles, quando necessário, requisitar a
colaboração de autoridades externas.

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Parágrafo único. O exercício do poder de polícia destina-se a


assegurar a boa ordem dos trabalhos no Tribunal, proteger a
integridade de seus bens e serviços, bem como a garantir a
incolumidade dos ministros, juízes, servidores e demais pessoas
que o frequentam.

Art. 2º. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do


Tribunal, o Presidente instaurará inquérito se envolver
autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta
atribuição a outro ministro.

§ 1º O ministro incumbido do inquérito designará escrivão dentre


os servidores do Tribunal.

§ 2º Nas demais hipóteses, o Presidente poderá requisitar a


instauração de inquérito à autoridade competente. §

3º Em caso de flagrante delito ocorrido na sede ou dependência do


Tribunal, os magistrados mencionados no caput do art. 1º ou,
quando for o caso, os agentes e inspetores de segurança judiciária
darão voz de prisão aos infratores, mantendo-os custodiados até
sua entrega às autoridades competentes para as providências legais
subsequentes.

[...]

Fácil perceber que a Resolução, ao regulamentar o poder


de polícia perante o STF, atribui ao Presidente o encargo de instaurar
inquérito visando apurar infração à lei penal.

O mesmo teor se observa no artigo 43 do Regimento


Interno do STF:

[...]
Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do
Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade
ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a
outro Ministro.
§ 1º Nos demais casos, o Presidente poderá proceder na forma deste
artigo ou requisitar a instauração de inquérito à autoridade
competente.

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§ 2º O Ministro incumbido do inquérito designará escrivão dentre


os servidores do Tribunal.
[...]

Em virtude destas disposições é que o segundo


demandado, Exmo. Senhor Ministro José Antônio Dias Toffoli,
assinou a já comentada Portaria GP n. 69, de 14 de março de 2019,
instaurando o respectivo inquérito a ser conduzido por outro
integrante da mesma Corte de Justiça.

Veja, Excelência, que o caso não se confunde com aquele


indicado no artigo 33, parágrafo único, da LOMAN, pois inexiste, na
circunstância ora debatida, investigação acerca de ilícito cometido
por membro do Supremo Tribunal Federal, e sim, tais autoridades são
arroladas, consoante ventilado, como vítimas.

Ademais, nem mesmo nos inquéritos em que o


investigado possui, junto ao STF, foro por prerrogativa de função, há
a figura do ministro investigador ou inquisidor, consoante o seguinte
precedente daquela Corte:

[...] 1. A competência penal originária por prerrogativa não desloca


por si só para o tribunal respectivo as funções de polícia judiciária.
2. A remessa do inquérito policial em curso ao tribunal competente
para a eventual ação penal e sua imediata distribuição a um relator
não faz deste "autoridade investigadora", mas apenas lhe comete
as funções, jurisdicionais ou não, ordinariamente conferidas ao
juiz de primeiro grau, na fase pré-processual das investigações.
III. Ministério Público: iniciativa privativa da ação penal, da qual
decorrem (1) a irrecusabilidade do pedido de arquivamento de
inquérito policial fundado na falta de base empírica para a
denúncia, quando formulado pelo Procurador-Geral ou por
Subprocurador-Geral a quem delegada, nos termos da lei, a atuação
no caso e também (2) por imperativo do princípio acusatório, a
impossibilidade de o juiz determinar de ofício novas diligências de

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investigação no inquérito cujo arquivamento é requerido. (HC


82507, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma,
julgado em 10/12/2002, DJ 19-12-2002)

O próprio Supremo Tribunal Federal, em controle


concentrado de constitucionalidade, já reconheceu expressamente
que a função de investigar é privativa das Polícias Federal e Civil,
além do Ministério Público, não sendo lícito ao magistrado exercer
esta atribuição administrativa.

Senão vejamos:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95.


LEI COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE.
HIERARQUIA SUPERIOR. REVOGAÇÃO IMPLÍCITA. AÇÃO
PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE INSTRUÇÃO".
REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE.
COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPARCIALIDADE DO
MAGISTRADO. OFENSA. FUNÇÕES DE INVESTIGAR E
INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO
PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. [...] 2. Busca e
apreensão de documentos relacionados ao pedido de quebra de
sigilo realizadas pessoalmente pelo magistrado.
Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente
violação ao devido processo legal. 3. Funções de investigador e
inquisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às
Polícias Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o,
I e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que a
Constituição reserva à polícia. Precedentes. Ação julgada
procedente, em parte. (ADI 1570, Relator(a): Min. MAURÍCIO
CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2004)

Este entendimento se coaduna magistralmente com o


texto da Carta Magna, que assim prevê:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
[...]

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VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de


inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas
manifestações processuais;
[...]
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em
lei;
[...]
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da
União.
[...]
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares;
[...]

Não é sem motivos que a Excelentíssima Procuradora-


Geral da República, na data recente de 15 de março de 2019, em
virtude da instauração do propalado inquérito por Ministro do
Supremo Tribunal Federal, protocolou petição na qual requereu
maiores esclarecimentos acerca do acontecido.

Colaciona-se, pela importância, alguns excertos do


petitório acima referido:

[...]
Os fatos específicos não foram declinados na Portaria de
instauração, que também não indica que esteja investigando pessoa
com prerrogativa de foro nesta Corte ou que tenha a prerrogativa

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de ser investigada pelo próprio Supremo Tribunal Federal (LO-


MAN, artigo 33-parágrafo único).
O Poder Judiciário, fora de hipóteses muito específicas definidas em
lei complementar, não conduz investigações, desde que foi
implantado o sistema penal acusatório no país, pela Constituição
de 1988, definido no artigo 129.
[...]
Por outro lado, o Poder Judiciário tem a prerrogativa de enviar
notícia-crime para a instauração de inquérito, mas só pode atribuir
a presidência da investigação a magistrado nas situações em que o
investigado seja outro magistrado (LOMAN, artigo 33- parágrafo
único).
O Poder Judiciário, no âmbito do vigente sistema constitucional
acusatório, atua como juiz de garantias. Na fase de investigação,
tem a competência exclusiva de deliberar sobre pedidos de
autorização de diligências feitos pelo Ministério Público que afetem
matéria sob reserva de jurisdição, que protegem a intimidade do
investigado nos casos garantidos pela Constituição, como de busca
e apreensão em domicílio e interceptação telefônica, dentre outras.
A função de investigar não se insere na competência constitucional
do Supremo Tribunal Federal (artigo 102), tampouco do Poder
Judiciário, exceto nas poucas situações autorizadas em lei
complementar, em razão de a Constituição ter adotado o sistema
penal acusatório, também vigente em vários países, que separa
nitidamente as funções de julgar, acusar e defender.
A atuação do Poder Judiciário, consistente em instaurar inquérito
de oficio e proceder à investigação, afeta sua necessária
imparcialidade para decidir sobre a materialidade e a autoria das
infrações que investigou, comprometendo requisitos básico do
Estado Democrático de Direito.
O Supremo Tribunal Federal é o órgão máximo do Poder Judiciário.
É, principalmente, o guardião da Constituição. A seu turno, a
Procuradoria-Geral da República tem o dever de zelar pelo respeito
à Constituição e a cada um de seus preceitos, promovendo as
medidas necessárias para sua garantia. É uma grande
responsabilidade.
[...]

Resta patente, pelo exposto, a inconstitucionalidade da


Resolução n. 564 e do artigo 43 do Regimento Interno do STF.
Consequentemente, vislumbra-se a nulidade da portaria editada
tendo àqueles normativos por fundamento, uma vez que não cabe aos
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Ministros daquela Corte instaurar inquérito e exercer a função de


investigadores, mister se levado em consideração que não se trata de
situação em que se pretende apurar ato ilegal patrocinado por
Ministro (vide artigo 33, parágrafo único, da LOMAN, já citado).

A situação, não se ignora, é muito grave e faz parecer que


a Corte Suprema está trazendo para a si a competência, não prevista
na Constituição, para investigar, indiciar e julgar àqueles que
manifestam críticas ao modo de proceder e de decidir daquela
instância do Poder Judiciário.

Afigura-se, em verdade, que o ato praticado reflete, mais


do que qualquer outra intenção, um desejo egoístico, pessoal e
corporativo, não condizente com os princípios da impessoalidade e
moralidade previstos no art. 37, caput, da CF/88, vetores absolutos da
Administração Pública em qualquer dos Poderes da República.

Restam também violados: o princípio da separação dos


Poderes, pois usurpa-se função exclusiva da polícia judiciária e do
Ministério Público; o princípio acusatório, da inércia da jurisdição, da
imparcialidade do juiz e do juiz natural.

É o quanto basta para que se reconheça a


inconstitucionalidade da Resolução n. 564 do STF, de 6 de novembro
de 2015, do artigo 43 do Regimento Interno e, por corolário lógico,
seja declarada a nulidade do ato objeto dessa ação (portaria).

V – DA ILEGALIDADE DA PORTARIA GP N. 69 DE 14
DE MARÇO DE 2019.
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Muito embora todo o narrado acerca da


inconstitucionalidade, resta defender, caso não haja acolhimento
daquela tese, a ilegalidade e consequente nulidade da portaria
assinada pelo ínclito Ministro do Supremo Tribunal Federal.

A Resolução n. 564 do STF, de 6 de novembro de 2015, que


regulamento o exercício do poder de polícia perante o STF, em seu
artigo 2º, disciplina que, “Ocorrendo infração à lei penal na sede ou
dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito se
envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará
esta atribuição a outro ministro”.

O mesmo teor se observa no artigo 43 do Regimento


Interno do STF:

Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do


Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade
ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a
outro Ministro.
[...]
§ 2º O Ministro incumbido do inquérito designará escrivão dentre
os servidores do Tribunal.

Ora, os dispositivos legais são inequívocos ao delimitar


que o inquérito somente pode ser instaurado em caso de o ilícito
ocorrer na sede ou dependência do Tribunal, envolvendo pessoa
sujeita à jurisdição do STF.

Tais limites foram extrapolados pelo teor da portaria


assinada pelo segundo demandado, que visa investigar notícias
fraudulentas (fake news), caluniosas e ameaças não ocorridas na sede
ou dependência do Supremo Tribunal Federal, praticadas por
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terceiros, inclusive na imprensa, e que não estão submetidos à


jurisdição daquela Corte (não possuem foro por prerrogativa de
função).

Não bastasse, a órbita de incidência do ato impugnado


abarca até mesmo familiares das autoridades tidas como vítimas, que,
reitera-se, não estão sob à autoridade do STF, configurando uma
benesse indevida e às custas do erário público.

Tanto assim o é que o § 2º do artigo 2º da Resolução n. 564


do STF, em consonância com o § 1º do artigo 43 do Regimento Interno
daquela Corte, dispõe que “Nas demais hipóteses, o Presidente poderá
requisitar a instauração de inquérito à autoridade competente”, situação
que deveria ter sido observada pela preclaro Ministro do Pretório
Excelso.

De acordo com a Lei n. 4.717/65, temos o seguinte


referencial:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades
mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade
observar-se-ão as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se
incluir nas atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância
incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à
existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato
importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;

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d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de


fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente
inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o
ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou
implicitamente, na regra de competência.
Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito
público ou privado, ou das entidades mencionadas no art. 1º, cujos
vícios não se compreendam nas especificações do artigo anterior,
serão anuláveis, segundo as prescrições legais, enquanto
compatíveis com a natureza deles.

Constata-se, sem muita dificuldade, que a portaria em


análise, ao não observar os limites traçados pelo art. 43 do Regimento
Interno do STF e pelo art. 2º da Resolução n. 564 da referida Corte,
está afetada das seguintes nulidades: a) vício de forma, pois não se
atentou para as formalidades indispensáveis à existência ou
seriedade do ato; b) ilegalidade de objeto, pois o resultado do ato
importa em violação dos atos normativos referidos; c) inexistência de
motivos, pois a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta
o ato, é juridicamente inadequada ao resultado que se quer alcançar;
d) e desvio de finalidade, pois o agente praticou o ato visando a fim
diverso daquele previsto explicitamente na regra de competência.

É o quanto basta no tópico.

VI – DO DANO.

Em decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, que


reconheceu a repercussão geral da matéria debatida (condições da
Ação Popular), restou sufragado o seguinte entendimento:

Direito Constitucional e Processual Civil. Ação popular. Condições


da ação. Ajuizamento para combater ato lesivo à moralidade

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administrativa. Possibilidade. Acórdão que manteve sentença que


julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, por entender
que é condição da ação popular a demonstração de concomitante
lesão ao patrimônio público material. Desnecessidade. Conteúdo
do art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal. Reafirmação de
jurisprudência. Repercussão geral reconhecida. 1. O
entendimento sufragado no acórdão recorrido de que, para o
cabimento de ação popular, é exigível a menção na exordial e a
prova de prejuízo material aos cofres públicos, diverge do
entendimento sufragado pelo Supremo Tribunal Federal. 2. A
decisão objurgada ofende o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição
Federal, que tem como objetos a serem defendidos pelo cidadão,
separadamente, qualquer ato lesivo ao patrimônio material
público ou de entidade de que o Estado participe, ao patrimônio
moral, ao cultural e ao histórico. 3. Agravo e recurso extraordinário
providos. 4. Repercussão geral reconhecida com reafirmação da
jurisprudência. (ARE 824781 RG, Relator(a): Min. Dias Toffoli,
julgado em 27/08/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-203 divulgada em 08-10-
2015 e publicada em 09-10-2015)

E, do c. STJ, retira-se outro decisório:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


ESPECIAL. APLICABILIDADE DO CPC/1973. NULIDADE DE
ATO PÚBLICO. OBJETO DA AÇÃO POPULAR. INTERESSE
COLETIVO. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. IRREGULARIDADE
E LESIVIDADE DO ATO PRATICADO. IMPRESCINDÍVEL
ANÁLISE DO CONTEXTO FÁTICO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO.
[...]
2. A ação popular é o meio processual a que tem direito qualquer
cidadão que deseje questionar judicialmente a validade de atos que
considera lesivos ao patrimônio público, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural (art. 5º , LXXIII, da CF/88 ). Não se trata, in casu, de tutela
de interesse individual, pois a ação popular se prestou a anular ato
ilegal praticado pelo Poder Público em afronta à Constituição
Federal e ao ordenamento jurídico brasileiro e, por conseguinte, ao
interesse coletivo, sendo, portanto adequada a via eleita.
3. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que a
ação popular é cabível para a proteção da moralidade
administrativa, ainda que inexistente o dano material ao

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patrimônio público, porquanto a lesão tanto pode ser efetiva


quanto legalmente presumida [...]. Precedentes.
[...] (AgRg no REsp 1504797/SE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, julgado em 24/05/2016)

Constata-se, nos precedentes colacionados, que para


propositura da Ação Popular não se exige a demonstração de dano
material, bastando que o ato também se caracterize por violar a
moralidade administrativa.
Na presente situação, o ato patrocinado é sim violador da
moralidade administrativa pois, consoante já declinado, além de
calcado em normas inconstitucionais, afrontou os limites legais e
pretendeu, sem sombra de dúvidas, a satisfação de interesses
pessoais ou de classe, utilizando-se de recursos públicos para sua
concretização.
Exige-se que “[...] o administrador público não dispense os
preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só
averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações,
mas também distinguir o que é honesto do que é desonesto” (CARVALHO
FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24 ed.
Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, pag. 23)

Noutro norte, a Portaria GP n. 69, de 14 de março de 2019,


objeto destes autos, autoriza o Ministro condutor do inquérito
requerer a estrutura material e de pessoal necessárias, isto para
consecução de atividade ilícita, destarte, mais do que evidenciado o
dano patrimonial.

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É que os agentes, ainda que políticos, e demais integrantes


dos Poderes da República, são remunerados pelos cofres públicos e o
deslocamento de forças humanas para finalidades não abrangidas
pelo ordenamento jurídico caracteriza inarredável lesão material, a
ser apurada em liquidação de sentença, consoante disposto no art. 14
da Lei n. 4.717/65, tendo por base a remuneração dos servidores
designados para atuarem no inquérito e o tempo despendido.

VII – DO PLEITO LIMINAR.

O § 4º do artigo 5º da Lei n. 4.717/65 dispõe que “Na


defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo
impugnado”.
O Código de Processo Civil, ao seu turno, reza que “A
tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo” (art. 300).

Verifica-se, no caso sub judice, que os requisitos


autorizadores da suspensão liminar do ato impugnado encontram-se
presentes, uma vez que assentada a probabilidade do direito,
consoante razões ofertadas nos tópicos anteriores, e o dano efetivo ao
patrimônio público, já que a estrutura material e de pessoal destinada
à efetivação do inquérito foi colocada imediatamente à disposição do
Ministro designado.

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Ademais, tem-se a ofensa ao princípio da moralidade,


sem olvidar que o fator tempo é um elemento essencial para que se
evitem danos maiores, sejam materiais ou imateriais.

VIII – DOS PEDIDOS.

Ante todo o exposto, requer:

1) A concessão de liminar, inaudita altera pars, visando a


suspensão imediata da Portaria GP n. 69, de 14 de
março de 2019, assinada pela Exmo. Senhor Ministro
José Antônio Dias Toffoli.
2) A citação da parte adversa, nos moldes disciplinados
na Lei n. 4.717/65, para apresentar resposta, em
querendo.
3) A intimação do Ministério Público Federal.
4) A procedência da Ação Popular, confirmando-se a
liminar e decretando-se a invalidade do ato
impugnado, com a condenação do Exmo. Senhor
Ministro José Antônio Dias Toffoli ao pagamento de
perdas e danos, cujo montante deve ser apurado em
liquidação de sentença.
5) A produção de todos os meios de prova em direito
admitidas, que serão melhor delimitadas no momento
oportuno.
6) A condenação da parte adversa ao pagamento das
custas e despesas, além de honorários advocatícios.

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Nestes termos,
Pede deferimento.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais)

Brusque, 18 de março de 2019.

Rafael José Diegoli


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