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TEMAS LIVRES FREE THEMES


A tese da judicialização da saúde pelas elites:
os medicamentos para mucopolissacaridose

The thesis of judicialization of health care by the elites:


medication for mucopolysaccharidosis

Marcelo Medeiros 1
Debora Diniz 2
Ida Vanessa Doederlein Schwartz 3

Abstract This paper evaluates the hypothesis that Resumo O artigo avalia a hipótese de se a judicia-
the judicialization of medicine for mucopolysac- lização de medicamentos para o tratamento das
charidosis in Brazil is an action promoted by eco- mucopolissacaridoses no Brasil seria uma ação
nomic elites. Previous studies upholding the the- das elites econômicas. Debatem-se estudos prévios
sis of judicialization by elites in the case of other que defendem a tese da judicialização pelas elites
types of medication that are more costly for the em outros medicamentos. Discute-se, a metodo-
Unified Health Service are discussed. An analysis logia desses estudos e as inferências dela derivadas
of all 196 processes containing information about e o respaldo empírico dessa tese no caso de um dos
judicial processes brought to court between Feb- medicamentos judicializados de mais alto custo
ruary 2006 and December 2010 that ended by para o SUS. Foram analisados os 196 processos
determining that the State should provide such julgados entre fevereiro de 2006 e dezembro de
medication free of charge to patients was con- 2010 que determinam a provisão gratuita dos me-
ducted. There is evidence that attorneys’ fees were dicamentos para mucopolissacaridoses pelo Mi-
covered by entities interested in the results of ju- nistério da Saúde. Há evidências de que os custos
dicialization, such as the distributors or phar- advocatícios sejam financiados por entidades in-
maceutical industries. Patients may also be mi- teressadas nos resultados da judicialização, como
grating for diagnosis and treatment to university as empresas distribuidoras ou indústrias farma-
centers that are a benchmark for medical inno- cêuticas, de que pode haver migração dos pacien-
vation in the country, as the option for public tes para diagnóstico e tratamentos em centros uni-
health services is related to their higher technical versitários de referência para a inovação médica
and scientific capacity. Therefore, the resort to no país, e de que a opção por serviços públicos se
private lawyers, indicators of social exclusion dá por sua capacidade técnica e científica supe-
1
Departamento de
based on the address of patients and the use of rior à de outras instituições. Logo, a advocacia
Sociologia, Universidade de
Brasília. Caixa Postal 8011. public health services, are not adequate class in- privada, indicadores de exclusão social do local de
70673-970 Brasília DF. formation to corroborate or refute the thesis of residência dos pacientes e uso de serviços públicos
anis@anis.org.br
2
judicialization by the elites. não são informações de classe que corroborem ou
Programa de
Pós-Graduação em Política Key words Judicialization, Health policy, Mu- refutem a tese da judicialização pelas elites.
Social, Universidade de copolysaccharidosis, Rare genetic diseases Palavras-chave Judicialização, Política de saú-
Brasília.
3
Departamento de Genética,
de, Mucopolissacaridose, Doenças genéticas raras
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
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Medeiros M et al.

Introdução As MPS são doenças genéticas degenerativas


raras causadas pela atividade deficiente de uma
Os estudos empíricos sobre a judicialização da saú- das enzimas envolvidas no catabolismo dos gli-
de no Brasil indicam que medicamentos são o prin- cosaminoglicanos (antigamente denominados
cipal objeto de litígio nas cortes1,2. A política de mucopolissacarídeos). São doenças crônicas,
assistência farmacêutica para a provisão gratuita manifestam-se clinicamente na infância e redu-
de medicamentos no sistema de saúde brasileiro é zem significativamente a expectativa de vida. A
guiada por princípios universalistas, e nem a legis- maioria dos pacientes são crianças ou adoles-
lação que regulamenta o direito à saúde, nem as centes. A população vivendo com MPS no Brasil
políticas do Sistema Único de Saúde (SUS) focali- é pequena. Há onze tipos de MPS, mas medica-
zam o atendimento em função da classe social dos mentos para apenas três delas, a MPS I (laroni-
usuários ou estabelecem limites financeiros aos dase), a MPS II (idursulfase) e a MPS VI (galsul-
gastos com medicamentos em tratamentos. Há fase). Os três medicamentos possuem registro
certos medicamentos, porém, que o SUS não ofe- na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An-
rece regularmente em seu dispensário. Em respos- visa). Ensaios clínicos duplo-cegos randomiza-
ta a isso, alguns usuários acionam judicialmente o dos contra placebo evidenciam benefícios e segu-
poder público a fim de obrigá-lo a prover esses rança com o tratamento com esses medicamen-
medicamentos. Esse fato é particularmente impor- tos, inclusive reversão parcial da sintomatologia
tante no caso de medicamentos de alto custo, para preexistente, mas evidências consistentes sobre
os quais as despesas com o tratamento de um úni- prevenção ou estabilização da doença são escas-
co indivíduo podem ser extremamente elevadas e sas. A magnitude dos benefícios, em termos de
nos quais a União é, geralmente, acionada. significância clínica, parece pequena4-6.
Há várias razões para um medicamento não O objetivo deste estudo é verificar se a judicia-
constar do dispensário regular do SUS, mas três lização de medicamentos para o tratamento das
delas merecem destaque. A primeira refere-se à MPS é um fenômeno de classe – mais especifica-
administração de estoques: certos medicamen- mente, testar a hipótese se a judicialização seria
tos requerem estocagem especial, outros permi- promovida por elites econômicas. Ao fazer isso,
tem estocagem por períodos curtos apenas e al- o artigo debate diretamente estudos prévios que
guns são consumidos apenas eventualmente e não argumentam que a judicialização é um fenôme-
justificam formação de reservas amplas. Há, além no de classes superiores. Discute-se, de um lado,
disso, erros no planejamento de estocagem e an- a metodologia desses estudos e as inferências dela
tecipação de demandas. As dificuldades em ad- derivadas e, de outro, o respaldo empírico a essa
ministrar esses estoques aliadas a demoras regu- tese no caso de um dos medicamentos judiciali-
lares na tramitação de processos de compra e zados de mais alto custo para o SUS.
redistribuição fazem com que a disponibilidade O SUS é regido por princípios universalistas
do medicamento seja comprometida. A segunda e não discrimina o atendimento segundo a classe
razão é a não inclusão do medicamento nas listas econômica dos usuários. Com ou sem judiciali-
de dispensa, seja porque não se reconhece cienti- zação, pessoas com capacidade de pagamento
ficamente a eficácia terapêutica do medicamento podem obter tratamento gratuito sem que isso
ou porque, apesar do reconhecimento científico, viole as regras do sistema. Este estudo não tem
o trâmite de autorização pelo sistema de vigilân- como meta discutir se a judicialização agride prin-
cia sanitária não foi concluído. A terceira razão é cípios filosóficos de justiça como equidade, mas
a recusa da distribuição em função da existência sim se há evidências razoáveis de que a judiciali-
de potenciais substitutos com melhor relação zação de medicamentos para MPS estaria con-
custo-benefício (eficiência terapêutica), conheci- centrada em estratos sociais elevados.
da como a tese da racionalidade em saúde. A maior parte dos estudos brasileiros sobre
Os medicamentos para o tratamento das judicialização de medicamentos enfoca os aspec-
mucopolissacaridoses (MPS) são citados como tos negativos dessa prática para a regulação da
um caso paradigmático para o estudo da judicia- política pública, para a justiça distributiva e para
lização da saúde3. Eles estão entre os mais caros o funcionamento da democracia1. Diversos estu-
no cenário da judicialização nacional e têm, cada dos defendem a tese de que a judicialização de
um, sua produção monopolizada por uma úni- medicamentos rompe princípios de equidade em
ca empresa farmacêutica, além de não terem sido saúde, pois ocorre predominantemente entre as
incluídos na política de assistência farmacêutica classes da população que seriam capazes de ad-
do SUS até dezembro de 2011. quirir os medicamentos solicitados7-10. Para fins
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de simplificação, denominamos esse argumento predomínio de prescrições originárias no serviço
de tese da judicialização pelas elites, pois cálculos privado, pode-se afirmar que há um público ‘mis-
a partir dos dados de Vieira e Zucchi9 indicam to’, capaz de custear consultas e eventuais exames,
que o valor médio dos gastos públicos com me- diretamente ou por meio da medicina suplemen-
dicamentos ofertados em decorrência de proces- tar, mas que recorre ao Sistema Único de Saúde
sos judiciais era de R$ 5.152 em 2005, montante para a obtenção dos medicamentos.
que corresponde a cerca de quatro vezes o rendi- Os estudos mencionados analisam a judicia-
mento médio do quinto mais rico da distribui- lização de uma ampla gama de medicamentos e
ção de rendimento mensal per capita brasileira agem com prudência no que diz respeito à gene-
naquele ano. ralização de seus resultados, sendo explícitos ao
Chieffi e Barata10, Vieira e Zucchi9, por exem- tratar suas conclusões como restritas a áreas ge-
plo, defendem essa tese analisando resultados ográficas bem definidas. Neste artigo, temos a
empíricos com base em dois indicadores de clas- situação inversa: cobertura nacional, mas restri-
se social: a contratação de advogados privados e ta a um grupo menor de medicamentos e de re-
a baixa vulnerabilidade ou exclusão social – vul- querentes. Todavia, esses estudos têm em comum
nerabilidade medida pelo Índice Paulista de Vul- o uso de evidências empíricas para fundamentar
nerabilidade Social (IPVS) e exclusão pelo Índice uma discussão normativa que se aplicaria a todo
de Exclusão Social do Município de São Paulo o SUS, especificamente sobre os efeitos da liti-
(Iex) da área geográfica onde vivem os deman- gância sobre a justiça distributiva do sistema de
dantes. A capacidade de aquisição privada dos saúde. É por esse motivo que atenção especial
medicamentos seguramente seria mais bem me- deve ser dada à metodologia utilizada nos estu-
dida por indicadores diretos de renda, mas os dos, não só no que diz respeito à possibilidade de
dois estudos precisariam lançar mão dessa es- generalização de resultados de pesquisa para vá-
tratégia, pois nos dados de que dispunham não rios medicamentos em todo o país, mas também
havia registro de rendimentos familiares dos de- no que se refere à validade dessas conclusões para
mandantes. as áreas geográficas analisadas e sua extrapola-
As conclusões de Chieffi e Barata10 retiradas ção para o restante do Brasil.
da análise desses indicadores são particularmen-
te fortes. Sobre a natureza profissional dos ad-
vogados, afirmam: o fato de essas ações geralmen- Metodologia
te serem ajuizadas por advogados particulares mos-
tra que os pacientes arcaram com os custos dessa A hipótese de que a judicialização da demanda
representação e em princípio poderiam adquirir por medicamentos para MPS é restrita às elites
os medicamentos solicitados. Sobre o local de resi- econômicas foi testada a partir de uma análise de
dência, concluem: […] a classificação de residên- processos judiciais determinando a provisão gra-
cia dos pacientes pelo IPVS reforça a hipótese de tuita dos medicamentos pelo Ministério da Saú-
que a interferência do Poder Judiciário na política de (MS). Nos arquivos do MS foram recupera-
de saúde rompe o princípio da equidade ao favore- dos 196 processos conduzidos entre fevereiro de
cer as demandas dos que menos necessitam, em 2006 e dezembro de 2010, correspondendo à de-
detrimento daqueles que só podem contar com o manda de 195 indivíduos (não há ações coleti-
sistema público de saúde, ampliando a inequidade vas, a maioria dos processos é individual, mas
já existente. há cinco processos com dois autores e um indiví-
A tese da judicialização das elites também é duo com dois processos). Não houve exclusão
defendida por Borges e Ugá8 em função do tipo de processos da análise. A Consultoria Jurídica
de serviço de saúde utilizado para as prescrições: do MS considera o total de 196 casos o universo
ressalte-se que existem evidências de que o gasto da judicialização dos três medicamentos para
público decorrente das demandas judiciais por MPS (laronidase, indursulfase e galsulfase) que
medicamentos é altamente regressivo, uma vez que alcançou o ministério até dezembro de 2010 e,
favorece os segmentos de mais alta renda da popu- por isso, os dados são tratados como tendo na-
lação, pois grande parte das prescrições nos proces- tureza censitária. Não foram consultados dados
sos judiciais é proveniente dos serviços privados de sobre ações judiciais interpostas contra outros
saúde. Essa é uma interpretação de resultados de entes da Federação em que a União não constas-
terceiros que, no estudo original de Pereira et al.7, se como corré.
recebe um tratamento diferente e muito menos O MS possui sistema próprio de registro e
polarizado: Considerando que foi observado um sistematização dos dados de processos judiciais
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Medeiros M et al.

em que participa como réu, mas esse registro não mandantes. Há casos em que governos estaduais
é feito para fins de pesquisa. Por esse motivo, op- e municipais firmam convênios com advogados
tou-se por não utilizar os registros administrati- privados, subsidiando os custos de serviços de
vos e realizar a coleta diretamente nos documen- assistência judiciária. A Procuradoria-Geral do
tos. Para assegurar confidencialidade, os proces- Estado de São Paulo, por exemplo, firmou con-
sos foram lidos na íntegra em sala reservada no vênios desse tipo com a seção local da Ordem
MS e os dados foram registrados em formulário dos Advogados do Brasil a partir de 1997 (a um
eletrônico com validação em três rodadas de pré- custo médio por ação de R$ 238). Terceiro, por-
teste, cada uma testando 40 (20% do total) pro- que não há informações nos processos sobre
cessos, totalizando 120 testes (61%). Ao final do quem arca com os honorários advocatícios. A
levantamento, para controlar a qualidade da co- judicialização é um palco com vários atores inte-
leta, a equipe contrastou os dados coletados nos ressados, entre eles a indústria farmacêutica, que
processos com os registrados pelo MS. Em caso têm motivos econômicos para subsidiar a advo-
de discordância entre os dois registros, a verifica- cacia privada2,7,9,12,13. Isso pode indicar interesse
ção recorria aos processos originais. de elites (indústria farmacêutica) na judicializa-
O teste de uma hipótese de judicialização pe- ção, mas de modo algum permite inferir que os
las elites requer uma definição de elite econômica. demandantes dos medicamentos no SUS fazem
A tendência geral dos estudos de estratificação é parte dessas elites.
utilizar algum tipo de linha de riqueza construída Por outro lado, se a natureza profissional dos
a partir de dados de rendimentos familiares11. Os advogados não é um indicador seguro da condi-
processos judiciais, no entanto, não registram in- ção de elite, ela pode ser um indicador de posicio-
formação sobre renda dos litigantes, o que impe- namento no outro extremo da escala social: dada
de o uso desse tipo de linha e indica que o dado a insuficiência de defensores públicos no Brasil,
não foi considerado na formação do convenci- seria pouco plausível supor que as elites recorrem
mento do juiz. Problema similar foi enfrentado a eles para defender seus interesses, até porque
por dois outros estudos brasileiros sobre judicia- para recorrer à defensoria pública o indivíduo
lização da saúde9,10. Na impossibilidade de obter atesta em documento de fé pública sua hipossufi-
informações sobre renda, optou-se pelo uso de ciência de renda. Assim, quem recorre à defenso-
indicadores indiretos de status socioeconômico. ria pública muito provavelmente não pertenceria
Indicadores indiretos não seriam recomendá- à elite, mas quem recorre à advocacia privada pode
veis para o propósito de defender a tese da judici- ou não pertencer à elite. Em consonância com
alização pelas elites, mas prestam-se mais ade- esse raciocínio, neste estudo optamos por tratar
quadamente para questionar essa tese. Os estu- o uso de advogados públicos (categoria que in-
dos anteriores identificam a classe social dos usu- clui defensores e procuradores) como indicador
ários do SUS utilizando: i) a natureza profissional de que os demandantes não pertencem à elite e o
dos advogados; ii) indicadores de vulnerabilida- recurso a advogados privados como indicador
de (IPVS) ou exclusão social (Iex); e iii) o tipo de de pertencimento a qualquer classe social.
serviço de saúde. O uso de indicadores indiretos Resultados obtidos a partir de indicadores
merece uma discussão mais pormenorizada. sintéticos de vulnerabilidade e exclusão monta-
No que se refere à natureza profissional dos dos por agregação espacial também podem ser
advogados, não é simples assumir que a contra- questionados. Essas medidas se alinham mais a
tação de um advogado privado caracterizaria a indicadores de pobreza do que de riqueza: seus
posição de elite do requerente. O pressuposto que construtos revelam hipossuficiência de recursos,
justificaria a validade desse tipo de indicador se- não afluência. Tome-se, por exemplo, o IPVS, um
ria o de que a barreira de entrada para a advoca- índice sintético construído por análise fatorial,
cia privada é alta, isto é, que os custos de acesso a que atribui grande carga à porcentagem no setor
um advogado privado seriam proibitivos para censitário de responsáveis por domicílios com
grande parte da população. Este não parece ser rendimentos de até três salários mínimos. Os
um pressuposto razoável. Primeiro, porque, valores do IPVS permitem classificar os indiví-
embora seja correto assumir que os honorários duos como vulneráveis ou não, mas não permi-
de advogados de elite possam ser altos, assim tem inferir que indivíduos não vulneráveis po-
como o acesso à medicina privada, a advocacia dem dispensar a assistência do SUS, quanto me-
privada também pode ter custos absorvíveis por nos concluir com segurança que o atendimento
muitas pessoas fora das elites. Segundo, porque de não vulneráveis ameaça a equidade de um sis-
esses custos nem sempre são cobertos pelos de- tema de saúde.
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Além disso, o IPVS e o Iex são indicadores de baixa renda utilize a medicina privada para
sintéticos obtidos pela combinação de variáveis obter prescrições para os medicamentos das MPS,
que dificilmente poderiam ser justificadas em uma assim como também é possível considerar que
classificação mais rigorosa de indivíduos em es- pacientes da elite utilizem os hospitais universi-
tratos sociais elevados, tais como idade e níveis de tários para o diagnóstico de doenças raras.
alfabetização. Finalmente, o uso de um agregado Neste artigo, analisa-se a distribuição das ins-
espacial de domicílios – e não de dados individua- tituições de saúde responsáveis pelo tratamento
lizados – é justificável, dada a indisponibilidade de dos usuários do SUS por tipo de instituição (pú-
melhores informações, mas sua validade seria afe- blica geral, pública universitária ou privada). A
tada no caso de migração para tratamento. Neste razão para isso não é associar o uso de serviços
artigo, não são utilizados indicadores de renda públicos à posição de classe das pessoas, mas
dos indivíduos demandantes, mas atenção é dada avaliar se a dispersão do tratamento das MPS
à migração para tratamento por meio da relação está relacionada à pesquisa médica. Como ocor-
entre a distribuição espacial das instituições de saú- re comumente em levantamentos documentais
de e o local de origem de seus pacientes. judiciais, um problema enfrentado foi o de au-
Tratar prescrições realizadas em instituições sência de uniformidade nos termos usados para
de saúde privadas como indicador de renda alta registro de informação nos processos – por exem-
pressupõe que os custos de acesso à medicina plo, nomes completos ou abreviados de institui-
privada são muito elevados. Tal como no caso ções de saúde. Para lidar com isso, a equipe de
da advocacia privada, essa suposição não é razo- levantamento coletou os dados tais como regis-
ável. Antes de tudo é preciso diferenciar os custos trados e uma segunda equipe se encarregou de
de um diagnóstico eventual e do tratamento re- sua verificação junto às instituições de saúde e de
gular. O uso regular de tratamento na medicina sua posterior normalização.
privada pode ser inviável para muitas pessoas,
mas é plausível aceitar que nas circunstâncias
particulares envolvidas na judicialização uma fra- Resultados
ção grande da população seria capaz de pagar
para obter prescrições. Se, por um lado, é pouco No Ministério da Saúde, a judicialização de laro-
provável que a população pobre tenha condi- nidase, idursulfase e galsulfase, medicamentos
ções de pagar por diagnósticos privados, por para as doenças do grupo das MPS, foi feita por
outro, o fato de uma pessoa poder arcar com os 195 indivíduos beneficiados por 196 decisões ju-
custos de uma consulta médica não permite ca- diciais entre 2006 e 2010, que juntos consumiram
racterizá-la como “segmento de mais alta renda R$ 219.664.476,05. A determinação judicial de
da população” ou da elite. Tampouco seria pos- aquisição de medicamentos para MPS implica,
sível tratar como não sendo da elite alguém que portanto, uma compra média por ação superior
recorre à medicina pública. Isso porque parte da a 1,1 milhões de reais. O paciente típico (modal)
medicina de alta qualidade que as elites deman- das ações é uma criança com menos de 10 anos,
dam é também encontrada em centros de refe- que se mantém em tratamento entre um e três
rência, como os hospitais universitários, onde anos, encaminhada por um hospital público e
grande parte da inovação tecnológica em saúde defendida por um advogado privado. Um em
está concentrada. cada vinte pacientes foi a óbito durante o trata-
No caso específico das MPS, o diagnóstico mento. Uma única empresa distribuidora, a Uno
depende de exames que não são disponibilizados Healthcare, responde por 97% dos valores tran-
pelo SUS. A Rede Hospitalar Sarah realiza esses sacionados. Esses processos foram distribuídos
exames somente para os seus pacientes, apesar a 104 juízes, a maioria deles julgando apenas um
de pertencer ao SUS. Assim, os profissionais que processo.
atendem os demais pacientes no Brasil organiza- Observou-se uma distribuição expressiva-
ram, na maioria das vezes com o apoio financei- mente concentrada de advogados. Um único ad-
ro das indústrias farmacêuticas envolvidas na vogado é responsável pelos processos de 70
produção e comercialização da laronidase, idur- (36%) pessoas, as quais, em conjunto, corres-
sulfase e galsulfase, e mesmo de agências públi- pondem a um gasto de mais de 77 milhões de
cas de fomento científico, um sistema informal reais. Constam 40 advogados nos processos, mas
que possibilita o diagnóstico, sem custos para o apenas três deles estão relacionados a mais da
paciente e para o médico assistente. Nesse con- metade de todos os gastos do governo com a
texto, é possível esperar que mesmo a população judicialização de medicamentos para MPS e qua-
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Medeiros M et al.

se 60% das doses adquiridas. Esses três são ad- lidade já haviam migrado de sua cidade natal à
vogados privados. época da abertura do processo.
No outro extremo da distribuição estão os 21 Dos 178 pacientes cujos serviços de saúde fo-
advogados responsáveis pelo processo de apenas ram completamente identificados, 144 (81%) re-
um paciente. Eles correspondem a mais da meta- correram a hospitais públicos. Destes, 83 (58%)
de da lista de advogados, porém estão relaciona- foram a hospitais universitários, e a maioria dos
dos a apenas 10% das quantidades adquiridas e hospitais públicos atendendo os demais pacien-
menos de 15% de todo o gasto despendido. Nesse tes estava de algum modo relacionada à pesqui-
grupo, encontram-se, com alguma frequência, sa em doenças genéticas. Naqueles hospitais pú-
defensores e procuradores públicos, embora se- blicos atendendo 10 ou mais indivíduos predo-
jam ainda minoria. Do total de 195 indivíduos, mina a situação em que um único médico res-
155 foram representados por advogados priva- ponde pela indicação do medicamento para to-
dos, 20 por defensores e procuradores públicos, dos os pacientes e não raro um único advogado
e, sobre 21 indivíduos, não há informações. Ne- é responsável pela maioria dos processos.
nhum dos defensores e procuradores públicos
defendeu mais de quatro indivíduos, mas entre
os advogados privados há pelo menos seis que Discussão
trabalharam para cinco ou mais pacientes.
Não há correlação forte entre a dispersão geo- Os medicamentos para MPS têm alto custo e seus
gráfica dos advogados e a incidência das MPS no mercados de produção e distribuição são mono-
país. Observou-se que, entre os defensores, pro- polizados por poucas empresas Os grandes vo-
curadores públicos e advogados privados condu- lumes financeiros movimentados fazem com que
zindo processos de até quatro pessoas, a judiciali- os resultados da judicialização de medicamentos
zação geralmente ocorre na mesma unidade da sejam objeto de interesse dessas empresas. Uma
Federação onde o paciente recebe tratamento. Esse interpretação dos resultados obtidos nesta pes-
quadro, porém, é diametralmente oposto no caso quisa não pode ignorar as potenciais consequên-
dos advogados privados que concentram gran- cias desses interesses.
des volumes de processos. Nestes, os processos de Há uma altíssima concentração de casos em
pacientes residindo na unidade da Federação onde poucos advogados privados. Por outro lado, não
os advogados atuam são minoria. há forte correlação entre o local de residência ou a
Existem informações sobre os serviços de saú- origem dos pacientes e o local de atuação desses
de de origem de 89% (174) dos indivíduos. No advogados concentradores. É pouco provável que
total, 53 instituições são listadas. A maior parte a contratação atomizada de advogados privados
dessas instituições trata de um ou dois indivídu- por uma população geograficamente dispersa
os. No entanto, há seis instituições tratando de gerasse um padrão distributivo desse tipo, o que
10 ou mais indivíduos, o que corresponde a 41% sugere a existência de algum tipo de rede que co-
dos pacientes com serviço de saúde conhecido. loca em contato pacientes e advogados. Não há
As instituições estão distribuídas em todo o Bra- evidência empírica suficiente para fazer qualquer
sil, mas há concentração de indivíduos sendo tra- afirmação segura sobre a organização dessa rede,
tados em serviços de saúde das metrópoles das mas considerando que o volume médio de uma
regiões Sul e Sudeste, onde se localizam centros ação ultrapassa o custo normal de um advogado
de referência universitários para a pesquisa so- privado na ordem de milhares de vezes, uma hi-
bre as MPS. pótese que merece ser cogitada é a de que essa
Para uma população em que predominam rede seria financiada pela indústria farmacêutica
crianças e jovens, observa-se migração muito ele- ou pelos distribuidores dos medicamentos.
vada, tanto em relação à cidade de origem no iní- Os indícios da existência de uma rede poten-
cio do processo judicial e à cidade de tratamento cialmente financiada por empresas interessadas
quanto em relação à naturalidade do paciente e nos resultados da judicialização são o primeiro
cidade de origem. Apenas 56 (32%) dos 177 indi- elemento que desafia a noção de que apenas as
víduos cujo processo trazia informação completa elites recorreriam a advogados privados na judi-
viviam na mesma cidade antes do tratamento com cialização. O segundo elemento é o custo relati-
os medicamentos (início do processo judicial) e vamente baixo da contratação privada de alguns
no momento do acesso ao serviço de saúde. Essa advogados. Os estudos que utilizaram o recurso
migração, porém, já havia sido iniciada: 42 (44%) à advocacia privada como indicador de classe9,10
dos 96 indivíduos com informação sobre natura- presumiram que esse custo é excessivo para as
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pessoas comuns, mas o exemplo dos convênios tritamente econômicas. Há três hipóteses para
realizados pelo Governo do Estado de São Paulo essa concentração da prescrição médica em cen-
desde 1997 mostra que isso pode não ser sempre tros públicos de pesquisa. A primeira é que essas
verdade. Diante desses dois elementos, o mais instituições são a porta de entrada para a pesqui-
razoável seria reconhecer que o recurso à advo- sa sobre inovações tecnológicas no país, em par-
cacia privada não é um indicador adequado de ticular para os medicamentos. Em consequên-
classe, ou seja, não permite corroborar ou refu- cia, são espaços privilegiados para a prescrição
tar a tese da judicialização pelas elites. de novas tecnologias em saúde. A segunda hipó-
Observam-se níveis elevados de migração en- tese é que a genética clínica para doenças genéti-
tre os pacientes, que, na sua maioria, são crianças cas raras ainda não foi regulamentada como uma
e adolescentes. Há uma concentração de pacien- subespecialidade médica no SUS, portanto, é nos
tes em poucos serviços de saúde que tratam das hospitais universitários que se concentra a assis-
MPS e estes estão, majoritariamente, localizados tência a doenças genéticas, como as MPS. Por
em metrópoles. É possível que essa migração fim, a terceira hipótese é que a indústria farma-
ocorra em função de busca por diagnósticos e cêutica é uma das principais financiadoras da
tratamento. Esse não é um tipo convencional de pesquisa em genética clínica no país, e os centros
migração e, portanto, não se deve esperar que a listados são, na sua maioria, financiados por
distribuição espacial dos migrantes nas cidades uma ou mais empresas que produzem ou distri-
de destino siga os padrões de outros tipos de mi- buem os medicamentos judicializados.
gração. Primeiro, porque é razoável aceitar que se Sejam quais forem os motivos, nos proces-
essa migração não é entendida como temporária, sos de pacientes dos hospitais mais frequentes
ao menos deve ser tratada como excepcional. Fa- predominam poucos médicos e poucos advoga-
tores como a proximidade das instituições de saúde dos, o que evidencia a formação de redes para a
ou a conveniência da coabitação com outras fa- judicialização dos medicamentos para as MPS,
mílias podem ser determinantes da localização tal como observaram outros estudos sobre judi-
espacial desses migrantes. cialização de outros medicamentos2,7,9,12,13. É pos-
Não é provável que os padrões típicos de se- sível, portanto, que a direção da causalidade seja
gregação espacial por classe nas metrópoles bra- do hospital para a judicialização, ou seja, é justa-
sileiras sejam integralmente observados nesse tipo mente porque alcança o hospital público de pes-
de migração. Logo, é questionável o procedimen- quisa que o paciente passa a integrar a rede mais
to metodológico de identificação da posição de ampla de interesses dentro da qual a judicializa-
classe desses indivíduos a partir de seu local de ção ocorre. A complexidade de motivos determi-
residência, como fizeram outros estudos9,10. Ain- nando o uso de hospitais públicos desafia a pos-
da que o problema de usar um índice sintético sibilidade de usar o pagamento pelos serviços de
agregado de pobreza, vulnerabilidade ou exclu- saúde como medida de posição social de classe
são para identificar posições mais altas na estra- do indivíduo.
tificação social fosse resolvido, restariam dúvi-
das sobre a validade da presunção de que existi-
ria uma correlação estreita entre local de residên- Conclusões
cia e classe social em uma população com um
padrão migratório muito peculiar. Neste caso tão A base argumentativa que motiva as críticas à
específico parece mais prudente assumir que o judicialização é a de que ela é conduzida por elites
local de residência não é um bom indicador de e isso ameaçaria o princípio da equidade no SUS.
nível de renda das pessoas e, portanto, não per- Esse argumento ignora o problema lógico de que
mite fazer afirmações seguras sobre o padrão as políticas universais não discriminam usuários
distributivo da judicialização de medicamentos, com base em características individuais: pobres e
em particular, e da saúde, em geral. ricos são igualmente protegidos pelo SUS. Se este
A predominância de pacientes recorrendo a fosse um sistema focalizado seria adequado en-
hospitais públicos não pode ser tomada como tender que, pelo princípio da diferença rawlsia-
um indicador de que se trata de pacientes de bai- no, o atendimento de qualquer indivíduo que não
xa renda. A forte concentração de pacientes em aquele em piores condições feriria a equidade.
alguns hospitais e o fato de esses hospitais con- Porém, para um sistema de saúde guiado por
centradores serem também instituições de pes- princípios universalistas, esse argumento é fala-
quisa em genética clínica sugerem que as razões cioso: para um julgamento da justiça de uma
para recorrer aos serviços gratuitos não são es- demanda em saúde não importa a origem de clas-
1096
Medeiros M et al.

se do indivíduo, mas sim a avaliação de quais víduos mais ricos teriam razões para preferir ser-
demandas protegem necessidades de saúde não viços públicos.
satisfeitas. A conclusão geral a que se pode chegar é a de
O objetivo deste artigo não foi discutir se a que, usando as metodologias de outros estudos
judicialização fere princípios filosóficos de justi- e os dados até o momento disponíveis sobre a
ça como equidade em uma política universalista judicialização de medicamentos para a MPS, não
de saúde, até mesmo porque a judicialização pode é possível refutar nem corroborar a tese da judi-
ser um instrumento legítimo para a promoção cialização pelas elites. Não há como dizer que a
da igualdade, mas avaliar se há evidências razoá- judicialização é uma questão de classe. O que se
veis de que seriam as elites que judicializam me- coloca é se essa conclusão pode ser extrapolada
dicamentos para as MPS no Brasil. Uma análise para a judicialização de outros medicamentos ou
da metodologia utilizada por estudos que defen- mesmo outros tipos de judicialização da saúde.
dem a tese da judicialização pelas elites e as evi- Uma extrapolação desse tipo só será segura com
dências empíricas obtidas nesta pesquisa sobre o acúmulo de evidências em outros estudos e, por
os medicamentos para as MPS indicam que os isso, qualquer generalização feita neste momento
fundamentos empíricos sobre os quais essa tese deve ser tomada com cautela. No entanto, como é
poderia se fundamentar não são seguros: razoável aceitar que os mecanismos que motivam
i. A advocacia privada não é bom indicador e possibilitam a judicialização dos medicamentos
de posição de classe. Primeiro, porque os custos para as MPS sejam compartilhados por outros
advocatícios podem estar sendo financiados por tipos de judicialização, alguma extrapolação pode
entidades interessadas nos resultados da judicia- ser feita: indicadores de natureza profissional dos
lização – empresas distribuidoras, por exemplo. advogados, local de residência e uso de serviços
Segundo, porque mesmo que o financiamento médicos públicos ou privados não são indicadores
fosse feito pelos próprios usuários, sob as cir- sólidos para sustentar teses definitivas sobre os
cunstâncias particularíssimas da busca por tra- padrões distributivos de renda do público que ju-
tamento em saúde, os custos de advocacia priva- dicializa medicamentos no Brasil.
da podem ser uma barreira para pessoas muito Mas como o que motiva a avaliação da tese
pobres, mas não necessariamente para uma gran- da judicialização pelas elites são preocupações de
de massa da população. natureza moral quanto à ameaça da judicializa-
ii. O local de residência dos pacientes não é ção ao igualitarismo em saúde, as conclusões
um bom indicador de classe. A migração em bus- deste debate devem ir além da avaliação dessa
ca de tratamento médico é um tipo muito singu- tese. Se há um problema distributivo relevante
lar de migração, por isso não se pode presumir no debate sobre judicialização, ele não parece es-
que os padrões médios de segregação espacial tar na origem de classe dos usuários que recor-
por classe típicos de metrópoles brasileiras se re- rem ao Judiciário, mas i) na composição de inte-
pliquem entre esses migrantes. O posicionamen- resses de laboratórios e empresas distribuidoras
to desses indivíduos nas cidades para garantir de medicamentos de alto custo cuja eficácia clíni-
tratamento pode ter relação com fatores não es- ca ainda está sob avaliação; ii) nas dificuldades
tritamente econômicos. do Estado em administrar a política de assistên-
iii. O uso de serviços públicos ou privados de cia farmacêutica quanto aos critérios de incor-
saúde não é um bom indicador de classe. Os tra- poração tecnológica, transparência e publicida-
tamentos de alto custo judicializados muitas ve- de dos atos; e iii) nas dificuldades do Estado em
zes estão relacionados à medicina altamente es- administrar uma política farmacêutica quando
pecializada; esta, por sua vez, é encontrada em instrumentos típicos de administração – plane-
serviços públicos de saúde dedicados à pesquisa jamento, compras em escala, controle de esto-
científica e à inovação tecnológica, como os hos- ques, chamadas de preços – não podem ser usa-
pitais universitários. Neste caso, mesmo os indi- dos em decorrência de determinações judiciais.
1097

Ciência & Saúde Coletiva, 18(4):1089-1098, 2013


Colaboradores Referências

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Agradecimentos mentos no Estado de Minas Gerais, Brasil. Rev Sau-
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3. Boy R, Schwartz IVD, Krug BC, Santana-da-Silva
O projeto foi financiado pela Organização Pan- LC, Steiner CE, Acosta AX, Ribeiro EM, Galera MF,
Americana da Saúde, Agradecemos a colabora- Leivas PGC, Braz M. Ethical issues related to the
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Artigo apresentado em 09/10/2011


Aprovado em 25 /11/2011
Versão final apresentada em 13/12/2011

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