Professional Documents
Culture Documents
Recibido el 4 de mayo de 2017; revisado el 9 de mayo de 2017; aceptado el 5 de agosto de 2017; publicado el 1 de junio de 2018
88
Desarrollo del pensamiento crítico reflexivo a través de la enseñanza de la historia en Benguela
were used for this purpose. The information Buíla. Pois que os estudantes que aí se formam têm
gathered showed that the respondents point to a low manifestado dificuldades na construção do
contribution of the teaching of history to the pensamento crítico e reflexivo, retirando-lhe a
development of critical and reflective thinking. In possibilidade de análise, questionamento,
this way, new methodological strategies need to be compreensão e argumentação em relação à
adapted in order to promote skills such as: analysis, diversidade de temáticas da sociedade actual. Pelas
criticism, reflection, reasoning and understanding of suas características, achamos que a História poderia
problems in a historical setting. ser uma disciplina ideal para promover o
desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo
KEYWORDS: CRITICAL AND REFLECTIVE dos alunos, ao permitir uma análise do passado,
THINKING, TEACHING HISTORY, TEACHER relacionando-o com o presente, no sentido de
TRAINING. perspectivar o futuro e ainda pelo facto de que estes
estudantes estarem a ser formados para serem
RESUMO: profissionais do ensino da História.
O pensamento crítico e reflexivo constitui uma Na perspectiva de Barca (1998), o ensino de
característica necessária ao professor no contexto História não deve ficar restrito a mera repetição de
actual. A partir da observação e da experiência factos e datas, consideradas históricas. Deve permitir
enquanto professora do Instituto Superior de ao aluno uma análise crítica das fontes e dados
Ciências da Educação de Benguela da universidade históricos, privilegiando a participação activa dos
Katyavala Buila, constatamos que o ensino da alunos na construção do conhecimento histórico,
História lecionado no curso de Licenciatura em numa perspectiva de reflexão e de crítica.
ensino da História, contribui muito pouco para o Assim, o presente trabalho apresenta-se como
desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo, uma investigação descritiva e visa demonstrar que o
nossa preocupação agudiza-se pelo facto de ensino da história, actualmente tem contribuído
estarmos perante a formação de professores, aliada a muito pouco para o desenvolvimento do pensamento
grande necessidade de se formar profissionais crítico e reflexivo, dos estudantes em referência, o
críticos e reflexivos para o ensino da História que retira a real possibilidade que a história possui
capazes de promover a capacidade critica e reflexiva como disciplina curricular. Tal leva-nos a refletir
em seus alunos para que consigam olhar para as sobre as estratégias metodológicas que podem ser
questões sociais de forma refletida e questionada em desenvolvidas para que o ensino desta disciplina
diversos contextos sociais. O estudo consistiu na possa contribuir no desenvolvimento da capacidade
descrição dos fenómenos em causa, para a recolha de pensar e refletir tornando-os cidadãos autónomos
da informação recorremos a observação não e conscientes dos seus deveres e direitos, dando
participante e ao inquérito por questionário. A resposta à questão do exercício da cidadania e
informação recolhida demonstrou que os inqueridos enquanto profissionais da educação na área do
reconheceram o fraco contributo do ensino da ensino da história, possam desenvolver um ensino
História no desenvolvimento do pensamento crítico que produza a reflexão crítica dos seus alunos.
e reflexivo dos estudantes que ai se formam e
manifestaram a necessidade de adoção de 1.1 O que é o pensamento crítico
metodológicas e estratégias mais interativas, com As abordagens sobre o pensamento crítico de uma
vista a promoção de capacidades como: a análise, a forma geral, parecem vincular-se somente com a
crítica, a reflexão e a argumentação e compreensão filosofia, ciência das indagações. Pois, a reflexão
sobre as questões de envolvência histórica. filosófica é um movimento de volta do pensamento
sobre si mesmo.
PALAVRAS-CHAVE: Pensamento critico e No entanto, pensar criticamente não é só exigido
reflexivo, ensino da história, formação de em Filosofia, mas em todas as áreas do cognitivo,
profesores. assim como em Filosofia, em todas as ciências,
cultivar a excelência na reflexão, também o deve ser
1 INTRODUÇÃO em História, por ser o estudo do homem no tempo e
no espaço.
O presente estudo, resulta da constatação, enquanto Para Ennis (1985, p. 46), o pensamento crítico, “é
docente no curso de Licenciatura em Ensino de uma forma de pensamento racional, reflexivo,
História, do Instituto Superior de Ciências da focado no decidir aquilo em que acreditar ou fazer”.
Educação de Benguela, da Universidade Katiavala
89
Âurea Augusto Luís Wafunga, Antonio-Manuel Rodríguez-García, Arturo Fuentes Cabrera
O pensamento crítico pode ser compreendido os alunos retiram daquilo que leem e
como sendo um juízo específico baseado na reflexão percebem e que expressam através daquilo
que se faz mediante a percepção de um determinado que escrevem e dizem”. (p. 183)
fenómeno observado ou experimentado. A crítica é uma atividade do pensamento que
Halpern (1989) assume que o pensamento crítico envolve julgamentos, análises, avaliações,
assenta no uso das capacidades cognitivas que estabelecimento de relações, mediante alguns
aumentam a probabilidade de se obterem resultados padrões.
desejáveis. Assim sendo “o professor deve agir Lipman (1995) considera que:
sempre como ser humano pensante, como o pensamento crítico revela-se sobretudo na
intelectual, e não como mero executor de tarefas.” capacidade de efetuar “bons julgamentos”, ou
(Silva, 1994). Para a autora, é essa reflexão que seja, não basta ser capaz de emitir juízos, é
permite os ajustes necessários para se obter o preciso “ampliar as consequências, identificar
sucesso. O pensamento critico e reflexivo torna-se as características da definição e mostrar a
ainda muito mais necessário, se compreendermos ligação entre estas. (Lipman, 1995, p.171)
que o ensino das ciências deve estimular o O pensamento critico e reflexivo contribui de
desenvolvimento de capacidades e habilidades para forma significativa para o desenvolvimento das
uma aprendizagem seja de facto significativa. sociedades na medida em que ao aumentar a
De acordo com Chaffee (2009), pensamento capacidade de análise e de argumentação sobre as
crítico define-se como o esforço activo, intencional e questões do meio onde o cidadão está inserido e do
organizado para compreendermos o nosso mundo, mundo em geral, que permite também o
analisando cuidadosamente o nosso pensamento e o aprofundamento do conhecimento, a criação de
dos outros, de modo a clarificar e melhorar essa ideias e projectos sociais que se traduzem em uma
compreensão, introduzindo a relação com o outro na mais valia para as sociedades. Segundo Lopes
equação deste conceito. (1999), o conhecimento precisa de ser considerado
O pensamento critico envolve determinada um caminho pelo qual os homens poderão, reflectir,
capacidade de argumentação para que o individuo críticar e inserir na prática do seu quotidiano.
tenha capacidade de refletir, argumentar, criticar e é O pensamento crítico e reflexivo melhora e
sempre necessário que se conheça o fenómeno com desenvolve a educação e ainda torna os cidadãos
propriedade, ou que se tenha um conhecimento mais autónomos, com capacidade de
complexo sobre a questão a ser questionada. questionamento, reflexão, eloquência e
Nesta mesma linha, Guest (2000) define argumentação, tornando-os aptos a entender como
pensamento crítico como um pensamento identificar e evitar os vários problemas com que se
imaginativo focado no criticismo de argumentos, na deparam.
avaliação de hipóteses e explanações e na produção Para pensar criticamente é necessário estimular o
de contra argumentos. acto reflexivo, o que significa desenvolver a
Seguno Ennis, Millman (1985), o pensamento capacidade de observação, análise, crítica,
crítico pode ser subcategorizado em sete categorias, autonomia, ampliar os horizontes, tornar-se agente
designadas pelos autores por aspectos do activo nas transformações da sociedade, buscar
pensamento crítico: a indução, a dedução, o juízo de interagir com a realidade (Sordi y Bagnato, 1998).
valor, a observação, a credibilidade, as assumpções e Razão pela qual, os indivíduos que assim
o significado. procedem questionam e cruzam todo o tipo de
Razão pela qual este tipo de pensamento é informação que recebem, receando a falsidade dos
baseado nas evidências factuais e contextuais, na factos. A dúvida constitui premissa para o
lógica e envolve um grande esforço intelectual, desenvolvimento do pensamento critico, pois a
como clareza, credibilidade especificidade e principal tendência consiste em precisar as
sobretudo significância. finalidades com rigor e cientificidade. Nesta
Para além da noção puramente lógica de perspectiva os indivíduos exercem a cidadania com
argumento válido, as noções de bom argumento, conhecimento profundo amplamente criticado e
argumento forte e argumento fraco são essenciais á devidamente refletido dos fenómenos sociais do seu
prática da argumentação. contexto.
Segundo Lipman (1995):
O pensamento crítico pode produzir uma
melhoria na educação, porque aumenta a
quantidade e a qualidade do significado que
90
Desarrollo del pensamiento crítico reflexivo a través de la enseñanza de la historia en Benguela
1.2 O pensamento crítico e o ensino da Pretende-se que estes alunos tenham uma
história compreensão contextualizada do passado, baseada
No contexto actual é fundamental que se reveja nas evidências disponíveis e que desenvolvam uma
novas formas de trabalhar a disciplina de História, “orientação temporal que se traduza na
rompendo com as formas tradicionais, com interiorização de relações entre o passado
conteúdos acabados e com a memorização mecânica compreendido, o presente problematizado e o futuro
das datas e acontecimentos dando a esta disciplina o perspectivado” (Barca, 2004, p.134).
verdadeiro papel de formadora e promotora do Assim deixaríamos de pensar a história como
conhecimento social como garantia da cidadania. ciência do passado e sim como sendo o estudo
De acordo com Schmidt e Cainelli; contínuo do desenvolvimento social desde a
o professor de história pode ensinar o aluno a comunidade primitiva até a contemporaneidade, e
adquirir ferramentas de trabalho necessárias; o encontraríamos sim argumentos de razão para
saber fazer, o saber fazer bem, lançar os evocar nossos pontos de vista com relação ao
germes do histórico. Ele é responsável por desenvolvimento da reflexividade e da crítica por
ensinar o aluno a captar e a valorizar a intermédio do saber histórico.
diversidade de pontos de vista. Ao professor Segundo Lopes (1999) o conhecimento precisa
cabe ensinar o aluno a levantar problemas e a de ser considerado um caminho pelo qual os homens
reintegrá-los num conjunto mais vasto de poderão, reflectir, criticar e inserir na prática do seu
outros problemas, procurando transformar, em quotidiano.
cada aula de História, temas em Para tornar as aulas de História num espaço de
problemáticas. (2004, p. 57). produção de conhecimento histórico é necessário
O ensino da História nas escolas em geral e do que se ensine também os alunos a analisar, refletir e
ISCED-Benguela em particular é visto como a criticar. Cabrini (2004) refere que:
matérias decorativas, em que os alunos em seu papel o ensino da História baseado na análise e
passivo reproduzem mecanicamente os conteúdos, reflexão crítica dos factos, produz-se na
factos e datas repassados pelos professores com interacção professor-aluno e acontece através
métodos maioritariamente expositivos. O ensino da de uma dinâmica capaz de fazer da sala de
História proporciona aos alunos não simplesmente a aula, um espaço de produção de
repetição dos feitos históricos mas a reinterpretação conhecimento, onde a formação do educando
e a associação dos diferentes conteúdos, perpasse o nível de informação e seja capaz de
apreendendo e interpretando de acordo com a sua desenvolver habilidades, defender ideias,
estrutura de conhecimento (Barca, 2003). enriquecer a sua postura, resgatar valores e
O ensino da História deve contribuir para o atitudes democráticas, criativas, críticas e
desenvolvimento de capacidades, levando os sadias, tornando-o capaz de realizar a leitura
indivíduos a analisar, a questionar, a refletir, sobre crítica da realidade, bem como, agilizar a sua
os acontecimentos, a conhecer as dimensões de transformação.
tempo e de espaço e a estabelecer as devidas Pensar o ensino de História nesta perspectiva é
relações entre tais acontecimentos. No entanto, tal conceber a sala de aula como um lugar onde o aluno
não acontece na prática pedagógica diária. possa participar, criar, pensar, criticar, ter liberdade
Ainda assim podemos refletir sobre algumas de formular e reformular suas opiniões e conceitos,
perspectivas em relação ao ensino da História, as construindo respostas e aprofundando seu
quais colocam vários dilemas, como salienta a conhecimento, produzindo saberes com a orientação
autora acima citada a saber: Que modelo de História do professor e não somente pela transmissão,
ensinar? Que escalas de História abordar? E que formando assim sua consciência histórica, condição
temas e visões selecionar? Não pretendemos esta que fará dele um individuo activo socialmente.
entregar receita única e pronta para o ensino da Para tal, Medeiros (2008, p. 20), reforça que:
História, nem pretendemos a igualdade no ensino, É nesse sentido que propomos uma viagem
mas sim um modelo que promova o reflexiva e analítica no mundo das práticas
desenvolvimento de capacidades, habilidades e educativas do ensino de História, por
convicções que estimule os indivíduos ao percebermos sua vitalidade no campo da
questionamento e ao pensamento critico e reflexivo, produção do conhecimento, sem perder a sua
a aceitação da adversidade de opções sobre as universalidade, o seu poder formativo, a sua
temáticas em abordagem. criticidade, além da possibilidade à condução
de seres humanos concretos em momentos
91
Âurea Augusto Luís Wafunga, Antonio-Manuel Rodríguez-García, Arturo Fuentes Cabrera
92
Desarrollo del pensamiento crítico reflexivo a través de la enseñanza de la historia en Benguela
sobre os temas, relacionando-os com a realidade selecionadas têm sido trabalhadas algumas vezes ou
actual. quase sempre.
No entanto, não tem sido frequente a realização
de actividades como visitas de estudo a locais e
sítios históricos, bem como seminários
especializados para a abordagem de temáticas
relacionadas com as disciplinas ou com o curso
De uma forma geral, os estudantes inquiridos
consideraram as metodologias utilizadas no ensino
das disciplinas históricas como um pouco
adequadas, manifestado em 43,7% das respostas,
pouco adequadas, em 23,8% e nada adequadas, em
4%, ao passo que apenas 23% dos inquiridos as
consideraram adequadas e 5,6% as consideraram
como muito adequadas, tal como se apresenta no
gráfico abaixo.
Figura 2. Atividades com maior frequência no ensino da
história
No que diz respeito às estratégias de ensino mais
eficazes para o desenvolvimento do pensamento
crítico e reflexivo, a preferência dos inquiridos,
professores e estudantes, recai para as abordagens
construtivistas, seguidas, por ordem de preferência,
pelos métodos de ensino por problemas,
debates/discussões, visitas de estudo e simulações,
enquanto que os métodos expositivos são vistos
como os menos eficazes.
Figura 1. Adequação das metodologias e prácticas dos
professores para o desenvolvimento do pensamento 4 CONCLUSÕES
crítico e reflexivo dos alunos
Para desenvolvimento do pensamento crítico e A análise e interpretação dos resultados, tendo em
reflexivo nas aulas de História, selecionamos um conta os objectivos traçados para a presente
conjunto de actividades que consideramos investigação, conduziram-nos às seguintes
importantes (1. Descrever diferentes pontos de vista; conclusões:
2. Explicar um conceito por palavras próprias; 3. • O ensino da História lecionado nesta
Identificar relações entre diferentes acontecimentos Instituição de formação de professores de
e factos históricos; 4. Avaliar a credibilidade de História contribui muito pouco para a
afirmações; 5. Colocar questões para clarificar uma aquisição de capacidades que promovem o
situação; 6. Tirar conclusões a partir dos dados desenvolvimento crítico e reflexivo dos
disponíveis sobre determinado fenómeno histórico; estudantes;
7. Fundamentar as conclusões tiradas; 8. Levantar • Poucas têm sido as actividades
hipóteses; 9. Apresentar aos outros um raciocínio; desenvolvidas ao nível das aulas de História
10. Justificar aos outros um raciocínio; 11. no sentido do desenvolvimento do
Sensibilidade em aceitar as opiniões dos outros; 12. pensamento crítico e acrítico e da formação
Facilidade na comunicação; 13. Análise de de valores nos alunos;
situações; 14. Espírito de observação; 15. • O envolvimento dos alunos em actividades
Imaginação e criatividade), para verificar qual a voltadas para a formação do pensamento
frequência da sua ocorrência nas aulas. Neste ponto, crítico e reflexivo está resumido à
verifica-se que as actividades que se realizam com participação nas aulas onde são pouco
mais frequência, têm a ver com o desenvolvimento desenvolvidas as práticas e actividades por
da facilidade de comunicação, seguida da análise de nós questionadas no boletim de inquérito;
situações. A grande maioria das capacidades • Os professores e alunos envolvidos no
estudo manifestaram reconhecimento pela
importância do desenvolvimento do
93
Âurea Augusto Luís Wafunga, Antonio-Manuel Rodríguez-García, Arturo Fuentes Cabrera
5 REFERENCIAS
Barca, I. (1998). Verdade e perspectivas do passado na
explicação em História: uma visão pós-
desconstrucionista. O estudo da História, n. 3. Lisboa:
Associação de Professores de História.
Barca, I. (2003). Cognição Situada em História. In. A. Neto et al
(org). Didácticas e Metodologias de Educação -
Percursos e Desafios. Departamento de Pedagogia e
Educação. Universidade de Évora.
Cabrini, C. (2004). O Ensino de História-Revisão Urgente. São
Paulo: Brasiliense.
94