Campinas, 29 de março de 2019

SOM – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS IV

PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOM

Quando descrevemos alguém ou algum evento sempre utilizamos características que possam ser
reconhecíveis por qualquer pessoa e, buscando em sua própria memória, possa acessar, antecipar ou
mesmo visualizar essa pessoa ou coisa.

Propriedades, qualidades ou características são uma forma de conseguirmos resgatar de forma, cada
vez mais fiel, essas situações.

Basicamente, quando tratamos do fenômeno SOM, podemos utilizar 4 características para esse fim:
Timbre, Intensidade, Duração e Altura.

É importante salientar que esses textos são apresentações didáticas de como trabalhamos em sala de
aula, são ricos em comparações e reflexões visando buscar a experiência de nossos alunos. Para que
possamos lapidar uma pedra é, em primeiro lugar, necessário que tenhamos a pedra. Essa “pedra”
são nossas experiências e impressões reais.

Pensando em organizar de alguma forma essas experiências e relacioná-las com as qualidades do

SOM, imaginemos uma ordem com que percebemos esse fenômeno.
Mais uma vez, essa ordem é fruto de nossas experiências, não aparecem em livros que tratam do
fenômeno físico, são apenas comparações para resgatarmos nossa capacidade de perceber o mundo
através da audição.

1) TIMBRE

O Timbre é a qualidade do som que nos faz perceber e reconhecer sua origem, ou seja, é o que
primeiro de apresenta para nós. Quem não fica confuso ao ouvir um som e não saber de onde veio
aquele estímulo?

Qualquer ser vivo, que possua audição obviamente, tem isso como uma das maneiras de reconhecer
o ambiente e determinar se corre perigo ou não.Ao ouvir o rugido de um leão em um locar aberto
você permaneceria nesse espaço?

Essa qualidade nos faz reconhecer as vozes de dezenas de pessoas ao telefone com um simples alô
e, ao mesmo tempo, torna um comediante imitador infinitamente mais divertido pela relação
pessoa/voz ser subvertida. Quem não se diverte ouvindo uma voz saindo de uma figura totalmente
diferente da que estamos acostumados a associá-la?

Mesmo dentro do “macro fenômeno” TIMBRE podemos perceber nuances como gostar mais ou
menos de algumas vozes, dentro da classificação vozes humanas – vozes masculinas ou femininas –
vozes suaves – vozes estridentes e etc. Perceba todos os adjetivos que procuram descrever apenas
uma das qualidades.

O TIMBRE, apesar de ser a propriedade mais intuitiva e, porque não dizer, natural, é a mais
complexa de ser mensurada, sendo necessário para isso inúmeros parâmetros e processos
científicos. Por hora ficamos por aqui, o que é mais que suficiente para uma impressão inicial.
2) INTENSIDADE

INTENSIDADE é a força, a potência com que o SOM chega ao ouvinte. É medido em Decibéis
(Db) e é a propriedade que nos dá a noção de distância da fonte geradora do estímulo dentro de
determinado ambiente. Nesse caso, falamos sempre em som forte (maior intensidade) e som fraco
(menor intensidade).

Existem limites para nossa tolerância e sons muito intensos podem ser prejudiciais ao nosso
aparelho auditivo. Essa imagem apresenta exemplos práticos de nossa capacidade auditiva.

Através da intensidade, podemos perceber se um carro está perto ou distante e, além disso, podemos
perceber se temos paredes, muros, abismos, ou outros obstáculos à propagação do som.

Um exemplo clássico para o uso do som enquanto analisador de espaços é o “canto” dos morcegos.
Através da reflexão do som esse animal consegue “mapear” todo o local onde se encontra, tal qual o
nosso radar ou o sonar.

Associando Timbre e Intensidade podemos perceber quem gerou o som e qual a distância aquela
fonte sonora se encontra.
3) DURAÇÃO

Interpretemos essa propriedade como o “tempo de produção do som”, ou seja, o tempo que o som
pode ser percebido. É um fenômeno em função do TEMPO.

Desde o início da humanidade percebemos os sons como curtos ou longos, a intermitência ou ritmo
dos sons têm diversas funções para os seres vivos. Cantos de pássaros ou mesmo de cigarras
possuem clara função reprodutiva ou de sobrevivência dependendo do “ritmo” com que são
emitidas.

Sons constantes como cachoeiras, vento e chuva não são fenômenos tão comuns em diversos
ecossistemas o que permite aos seres vivos perceberem a situação ambiental em que se encontram.

Percebam que o fenômeno SOM é uma maneira particular de conhecer e reconhecer o mundo e,
cada um dos seus elementos perceptíveis possuem claras funções para os seres vivos.

4) ALTURA

A altura é a propriedade do som ser grave, médio ou agudo. É medido em ciclos por segundo, cuja
unidade é Hertz (Hz).

Os seres humanos possuem um campo auditivo que restringe a percepção do mundo, diferentes
espécies conseguem ouvir diferentes frequências, o apito para cães é um exemplo de som que o ser
humano não percebe. Ondas de rádio, aparelhos de ultrassom, frequências baixas causadas por
movimentação de placas tectônicas que antecedem terremotos ou maremotos não podem ser
percebidas por seres humanos.

Observe no quadro abaixo exemplos de outros seres vivos com diferente capacidade auditiva.

Perceba como o mundo é diferentemente percebido por diferentes espécies através de seus sentidos,
cada elemento perceptível do fenômeno SOM tem influência direta e objetiva nessa impressão.

Vivemos imersos em um mundo sonoro, ou como diz Murray Schafer, em uma Paisagem Sonora
que pode, se explorada adequadamente, ampliar nossa apreciação de mundo.

Por Elladio Jardas