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♪ Leona Vingativa vale mais do que um milhão ♪ 1, ela que está pelas
estradas da vida, cortando diversos ambientes festivos, mas também gravando
seus clipes desde as periferias da cidade – ou ainda circulando pelas feiras
públicas, cantando suas músicas enquanto é registrado para ser exposto na
internet. Cada passo dado pela “diva”, autointitulada “assassina e vingativa” 2,
tem sido acompanhado por investimentos na capacidade de dramatizar a vida.
Entre ser uma bicha e trava3, Leona vai afirmando em suas músicas as
potências da afirmação de localizadores que resvalem por sobre o seu corpo.
Mas, aqui não irei me deter a este momento de segmentaridade da vida – mais
a frente será apresentada os motivos pelos quais esta problemática não será
contemplada. O que interessa deste deslizar é a multiplicação das
possibilidades de afirmação e a capacidade de atravessar de forma
descentralizada ambiências – inclusive a fala aqui apresentada.
Como tratar daquilo que se experimenta justo pelo viés que só estamos
ali na experimentação quando não há o imperativo da afirmação de si? Nós, os
intelectuais precisamos sempre afirmar nosso ponto de vista como sendo o de
quem esteve lá e desse modo podemos afirmar, e, por conseguinte, tratar
aquilo como a certeza do que aconteceu e como a verdade dos fatos 6. Eu não
consigo passar ileso à tentações de refletir acerca das experimentações,
corroboro com Belchior quando ele afirma ♪ minha alucinação é suportar o dia-
a-dia, meu delírio é a experiência com coisas reais ♪ 7.
8 Deleuze e Guattari (2015) investiram nas obras e vida de Kafka para dimensionar a
capacidade da desterritorialização em uma língua, atravessá-la com outros conteúdos,
enunciações outras. Se Kafka metamorfoseia o humano em um devir-animal, há queens que
devoram um mundo em sua capacidade finita ilimitada para composição de suas personagens.
Maqui(n)agens – ou alguns direcionamentos.
Cada uma das personagens que se fazem artistas nessa cena está em
uma espécie de conexão com diversas paisagens. Circulando entre espaços
como a Ribeira, o enigma hall, a vogue ou Casanova. Mas, em casamentos,
festas de formatura, e afins. Circulam, e a própria localidade faz-se depreender
enquanto uma contraespacialidade – característica fundamental para que
possamos compreender este espaço-outro em conjuração de mundo.
10 A Haus of Bardo foi dimensionada como sendo a união de diversas drag queens, que foram
surgindo e carregaram o Bardo para a composição do “nome de guerra”. Mais à frente
retomaremos a questão da Haus of bardo.
A presença em instantes
Rapidamente aqui foi dada uma passada por obras fílmicas com o
intento de deixar registrado que estas produções possibilitam que se consiga
cartografar movimentos e conexões que são realizadas desde o cinema, mas
que ainda estão baseadas numa atmosfera queen. De toda forma, elas
precisam estar no texto ainda com mais fôlego, botando mais corpo para a
cartografia queen que é de nosso interesse tecer.
Quando Kaya chorou.